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1.

PROPAGAÇÃO ELETROMAGNÉTICA, REFRAÇÃO E ÍNDICE DE REFRAÇÃO

1.1 - RAIOS ELETROMAGNÉTICOS

Quando existe emissão de energia no espaço, seja na forma de calor, som ou luz, a velocidade
com que essa energia se desloca a partir da fonte é determinada pelo meio no qual ela se desloca.
Essa transmissão da energia é chamada propagação. Para as ondas eletromagnéticas, essa energia
em propagação é composta de dois campos distintos, o elétrico e o magnético, daí essas ondas
serem chamadas eletromagnéticas (EM).

Embora tais campos não possam ser vistos, seus efeitos podem ser observados. Por exemplo,
campos elétricos existentes entre nuvens e a superfície terrestre podem causar relâmpagos.
Variações em um campo elétrico criam um campo magnético e variações em um campo magnético
permitem a uma onda eletromagnética se sustentar a medida que ela se desloca através do meio de
transmissão.

As ondas em propagação usualmente se espalham esfericamente (Fig. 1), resultando em


redução da energia por unidade de área. Uma linha desenhada perpendicularmente à frente de
ondas é chamada "raio" e muitas, mas não todas, das propriedades da propagação das ondas podem
ser estudadas através do desenho de um grande número de raios nos chamados "diagramas de
raios". A mudança na intensidade de uma onda EM com a distância depende tanto do
espalhamento quanto da absorção. Algumas vezes os raios não se espalham e, nesses casos, a
intensidade do sinal não se altera com a distância, a menos que a absorção seja importante.

Figura 1

1
1.2 - EFEITO DO MEIO SOBRE UM CAMPO ELETROMAGNÉTICO

Um sinal EM propagando-se através de um meio composto de átomos e moléculas interage


com aquele meio através de absorção, espalahamento e transmissão de energia EM. A eficiência da
interação é relacionada à quantidade de absorção do sinal. Mudanças na velocidade de propagação
devidas a essa interação resultam em curvamento da trajetória do raio, chamada refração, isto é, o
curvamento dos raios. Essa refração é o ponto de maior interesse deste capítulo.

1.3 - REFRAÇÃO DE ONDAS ELETROMAGNÉTICAS

A refração descreve a efetiva resposta de um sinal EM ao meio através do qual ele está se
propagando, ignorando-se os mecanismos físicos precisos dos processos atômicos e moleculares
envolvidos. Refração, da forma que é aqui considerada, depende do fato de que os elementos
individuais de um determinado meio como ar, gelo, água e vidro provocam espalhamento, com uma
efetiva mudança de fase da onda. Em meios que contêm cargas elétricas não-livres (por exemplo
ar, água, vidro, etc.) a onda dispersa e a onda incidente são superpostas para formar uma onda
resultante, cuja fase é ligeiramente retardada relativamente à onda incidente original. Nesses meios
a velocidade de fase é menor que a velocidade de fase no vácuo. Por outro lado, em meios que
existem cargas elétricas livres (por exemplo elétrons livres na ionosfera) a dispersão produz um
avanço na fase.

1.4 - O ÍNDICE DE REFRAÇÃO (n)

A interação do campo elétrico de uma onda EM com o meio pode ser descrita pela constante
dielétrica E. Por exemplo, no vácuo E = 1 para todas as frequências, no ar E ≈ 1 para frequências
de radar, e na água E = 8 e E = 1.77 para baixas frequências (LF) e frequências óticas
respectivamente. Note-se que a interação depende tanto do tipo de material quanto da frequência.

A velocidade de propagação é relacionada com a constante dielétrica da seguinte forma:

c
v= (1)
E

onde v = velocidade de fase no meio


c = velocidade de fase no vácuo
E = constante dielétrica

2
Neste ponto pode-se assumir que E descreve completamente o material e que é um parâmetro
físico conhecido a partir de certas propriedades do meio.

Ao invés de se lidar diretamente com a velocidade de propagação (ou fase) v, introduz-se um


novo parâmetro, o índice de refração n, onde

n≡ E

Da Eq. (1), vê-se que o índice de refração de um determinado meio depende apenas da
velocidade de propagação naquele meio:

c
n≡ E= (2)
v

Para o vácuo n = 1 para todas as frequências e para para frequências de radar (microondas) se
propagando no ar ( n ar) é muito próximo de 1 ( nar varia entre 1.0003 e 1.0008). Baseado no
valor de E para frequências óticas na água, apresentado acima, nágua = 1.33.

A figura a seguir exe mplifica que o índice de refração n depende da frequência, em um meio
de elétrons livres, a ionosfera. Os dois raios mostrados têm diferentes frequências e experimentam
diferentes índices de refração ao longo de suas trajetórias de propagação. O resultado é que um raio
não retorna à superfície da Terra porém o outro retorna e pode ser detetado na superfície.

Figura 2

3
1.5 - REFRAÇÃO NA DESCONTINUIDADE ENTRE DOIS MEIOS

A refração de raios incidentes através de uma descontinuidade de n, isto é, na interface entre


dois meios de índices de refração n1 e n2 é descrita pelos princípios da Lei de Snell:

sin θ 1 n 2
= (3)
sin θ 2 n1

onde θ é o ângulo entre a trajetória do raio e a normal à discontinuidade entre os meios 1 e 2,


como mostrado na figura a seguir:

Figura 3

Alguma reflexão também ocorre na interface, mas não é mostrada na figura.

Uma mudança de trajetória ocorre na fronteira entre dois meios nos quais a onda EM tem
velocidades de propagação diferentes. É importante notar que a onda muda de trajetória,
aproximando-se da normal no meio que possui valor de n maior. Como esperado, um material
mais denso geralmente tem um valor de n mais alto. Portanto, em virtude da densidade da
atmosfera diminuir com altitude, pode-se esperar que uma onda EM na atmosfera tenderá a se
curvar para baixo relativamente à trajetória em linha reta e de fato isto é geralmente o que ocorre.

A figura abaixo ilustra um efeito da refração bem conhecido, a ilusão da aparente curvatura de
um bastão quando imerso na água. As linhas contínuas mostram a trajetória real seguida pela luz.
As linhas pontilhadas mostram de onde a luz aparenta ter vindo, induzindo à ilusão.

4
Figura 4

Em nosso estudo, estaremos interessados em determinar a curvatura do raio relativo à Terra, e


não apenas relativamente a uma linha reta. A figura abaixo mostra a geometria dos raios
troposféricos refratados e a superfície da Terra. O que se deseja é relacionar essa geometria e outros
efeitos a determinadas situações meteorológicas.

Figura 5

1.6 - O ÂNGULO CRÍTICO

À medida que o ângulo de incidência θ do raio incidente sobre a descontinuidade de n (Fig.


3) aumenta, a fração de energia incidente que é refletida aumenta. Quando o raio incidente
apresenta um ângulo maior que o "ângulo crítico", o mesmo será totalmente refletido na

5
descontinuidade, isto é, a onda EM não se propagará através da descontinuidade. Tal ângulo crítico
ocorre apenas quando o n do meio na qual o raio se origina é maior que o n do outro meio.

Para uma situação de descontinuidade em n, o ângulo crítico pode ser calculado através do
uso da Lei de Snell. Considere a seguinte interface entre dois meios com índices de refração n1 e

n2 :

Figura 6

Da Lei de Snell,

n1 sin θ 1 = n 2 sin θ 2 (4)

Notando que n1 > n2

sin θ 1 n 2
= <1 (5)
sin θ 2 n1

O ângulo crítico de incidência, θ c, é o que causa θ 2 ser igual a 90º, pois esse será o ângulo a
partir do qual o raio será refletido de volta ao meio incidente, como mostrado na Fig. 7.

Figura 7

6
Uma vez que θ2 deve ser igual a 90º quando o ângulo incidente for crítico, obtém-se como
requisito para o ângulo crítico

sin θ c = n2 (6)
n1

o que implica

n2 )
θ c = arcsin ( (7)
n1

Na baixa atmosfera n2 n ≈ 0.9998 , uma vez que n varia de 1.0003 a 1.0008, logo Θc ≈ 88º -
1

89º. Portanto, os raios incidentes têm de ser quase paralelos à camada para que possam ser
"aprisionados" na camada.

1.7 - RELAÇÃO ENTRE O GRADIENTE DE n [ ( dn ) ] E A CURVATURA DO


dz
RAIO EM EM UM MEIO CONTÍNUO

Descontinuidades em n ocorrem na interface oceano-atmosfera. Foi visto que as ondas EM


irão ser refratadas e refletidas em uma interface daquele tipo. Na atmosfera, descontinuidades do
tipo ar-oceano não ocorrem. Ao invés disso, n varia continuamente. Como resultado a reflexão não
ocorre. Porém, a refração pode ainda ser importante. De fato, o curvamento pode ser grande o
suficiente para ser equivalente a uma "reflexão".

Considere-se agora a curvatura dos raios em um ambiente no qual n varia continuamente. A


figura a seguir ilustra a discussão abaixo, na qual é derivada a equação que relaciona o grau de
curvatura do raio e o gradiente (vertical) do índice de refração.

Figura 8

7
Considere uma onda se propagando e dois pontos na frente de onda separados por uma
distância ∆Z. O índice de refraçào nos dois pontos é:
• ao longo da trajetória inferior, n = n0
• ao longo da trajetória superior, n = n0 - ∆n

O raio na parte superior do meio tem um deslocamento maior, de ∆d, em virtude da parte
superior do meio possuir um valor menor, de ∆n, do índice de refração. Devido ao fato da onda
haver se deslocado mais ∆d na parte superior, a frente de onda se inclinou para baixo em um ângulo
identificado por τ; e pode ser mostrado que a relação entre o ângulo τ, a distância de deslocamento
d0 , e a mudança de n ao longo da interface ∆n é:

∆n
τ = d0 (8)
∆z

onde ∆z é a distância vertical entre dois pontos da frente de onda. Além disso, τ / d0 é
simplesmente a curvatura do raio, em vista do recurvamento do raio ser proporcional à distância.
Portanto, a trajetória do raio EM é um arco de círculo com raio | ∆z/ ∆n | , isto é:

1 1
raio = = (9)
τ | ∆n/ ∆z |
d0

Pode-se observar, então, que o raio EM se curva para baixo se n diminui com a altura (isto é,
dn / dz é negativo). Esse é usualmente o caso na atmosfera. Logo, por conveniência, convenciona-
se que para uma trajetória se curvando para baixo o raio de curvatura é positivo. Portanto nossa
relação entre o raio de curvatura (r) e o gradiente de índice de refração é

-1
r= (10)
dn/dz

onde dn/ dz é a aproximação diferencial para o gradiente vertical de n finito ∆n / ∆z.

É importante ressaltar que o raio de curvatura depende do gradiente do índice de refração e


não da magnitude do índice de refração, isto é, o curvamento dos raios EM depende das mudanças
na velocidade de propagação da onda e não da magnitude da velocidade. Por essa razão, os efeitos
de refração podem ser importantes na atmosfera, muito embora a velocidade de propagação na
mesma seja muito próxima daquela no vácuo.

A figura seguinte ilustra a "reflexão efetiva" que pode ocorrer quando o curvamento por
refração é importante. Na camada mostrada, onde ocorre uma forte refração, quando o ângulo
8
incidente de uma emissão radar excede um ângulo crítico, o gradiente de refração causa um
curvamento suficiente para não permitir que os raios "saiam" da camada. Esses raios são
considerados "aprisionados" ("trapped") ou canalizados. Os raios cujos ângulos de incidência são
menores que os ângulos críticos não são aprisionados ou canalizados. Essas variações nos ângulos
de incidência produzem os fenômenos que afetam radiocomunicações em frequências de rádio e
radar, nos quais recepção ou detecção, respectivamente, não são possíveis, embora os receptores ou
alvos estejam dentro da região de alcance normal. Esse fenômeno será considerado em maior
detalhe posteriormente.

Figura 9

2. INTERAÇÃO ENTRE AS ONDAS ELETROMAGNÉTICAS E A ATMOSFERA

2.1 - REFRATIVIDADE E A EQUAÇÃO DA REFRATIVIDADE

A refração através de um meio depende dos tipos de moléculas presentes e da densidade.


Para a atmosfera, a refração é principalmente afetada pelos gradientes verticais de temperatura (T) e
vapor d'água (e ). Esses gradientes são mais importantes na troposfera, isto é, nos 10-12 km
inferiores da atmosfera.
Para as ondas EM na frequência de VHF (30 MHz e 300 MHz), UHF (300 MHz a 3 GHz) e
microondas- MW (3 a 300 GHz) o índice de refração n é muito próximo a 1. É, portanto,
conveniente definir-se uma nova medida da refração baseada na diferença do valor de n em relação
ao número 1, que é chamada "refratividade" ou N, da seguinte forma:

N = (n - 1)x 106 (11)

Em virtude de n variar, tipicamente, entre 1.0003 e 1.0008 para a atmosfera, então,


normalmente N variará entre 300 e 800. Note a seguinte relação entre os gradientes de n e N

dN dn
= x 106 (12) 9
dz dz
Pode-se derivar uma expressão para a refratividade, válida para frequências entre 100 MHz e
80 GHz, a partir da equação do índice de refração (n) de Debye, para os gases.

2
K P K e K e
N = [77.6 ] - [5.6 ] + [3.75x10 5 ] 2 (13)
mb T mb T mb T

onde:
P - pressão atmosférica (total), em milibares (mb);
e - pressão parcial do vapor d'água do ar, em milibares;
T - temperatura atmosférica, em graus Kelvin (K)
Obs: T (K) = T (o C) + 273

Note que N é uma grandeza adimensional. Para os valores da frequências de UHF/VHF/MW


para os quais a equação é válida, pode-se computar a refratividade N da atmosfera com a expressão
acima, a partir do conhecimento dos valores de P, T e e. Perfis atmosféricos de P, T e e podem ser
obtidos com balões meteorológicos (radiossondas) e a partir dos mesmos, computar os perfis de
refratividade. Esses são, porém, sujeitos a erros de medição.
A típica magnitude de contribuição de cada parâmetro para o valor de N pode ser determinada
a partir dos seguintes valores típicos de P, T e e:
P = 1000 mb
T = 300 K
e = 20 mb
(valores aproximados à superfície)
para os quais se obtem N = 330 à superfície.

2.2 - GRADIENTES DE REFRATIVIDADE

Foi visto anteriormente que o aspecto importante a se considerar no estudo dos efe itos da
refração na propagação EM não é o valor absoluto da refratividade e sim seu gradiente vertical
(dN/dz). Nesta seção será estudado dN/dz para a atmosfera e sua dependência dos gradientes
atmosféricos de temperatura e umidade.
A expressão para dN /dz, onde N é um parâmetro multivariável, pode ser representada como

dN dP dT de
= C1 -C2 +C3 (14)
dz dz dz dz

onde C1 , C2 e C3 são coeficientes positivos cujos valores exatos são funções que variam lentamente
na vertical; valores típicos ao nível do mar são 0.269 / mb, 1.4 / K, e 4.5 / mb respectivamente. O

10
ponto é que a refração, que depende de dN/dz, é controlada principalmente pelos gradientes
verticais de temperatura e umidade, em virtude de dT/dz e de/dz normalmente variarem com a
altitude na troposfera muito mais rapidamente que C1 , C2 ou C3 . Quanto a dP/dz, na baixa
troposfera (até 3 km da superfície), seu valor é de aproximadamente -120 mb/km. Desta forma, a
relação para dN /dz pode ser escrita
Logo, com o uso das expressões (13) e (15), a partir do conhecimento da temperatura e
umidade atmosféricas, os valores de N e seu gradiente vertical podem ser determinados.

dN 32.4 1.4 dT 4.5 de


=- - + (15)
dz km K dz mb dz

A dependência das mudanças de refratividade a partir dos gradientes de temperatura e


umidade é ilustrada na figura a seguir, na qual são apresentados perfis de temperatura, umidade e
refratividade obtidos simultaneamente. Observe como as variações nos perfis estão estreitamente
relacionados.

Figura 10

2.3 - dN / dz PARA A ATMOSFERA PADRÃO

Muitos cálculos de refração são baseados numa determinada atmosfera "padrão", na qual é
assumido um perfil de temperatura dT / dz = - 6.5 ºK /km, com T = 15 ºC ao nível do mar; e a
umidade do ar é considerada desprezível. A atmosfera "padrão" é definida por conveniência; ela é
frequentemente utilizada nos casos em que dados atmosféricos reais não estão disponíveis. Embora
dT / dz = - 6.5 ºK / km seja um gradiente vertical de temperatura típico da atmosfera, os perfis
reais da temperatura podem diferir consideravelmente do perfil "padrão", especialmente na região
próxima à superfície. Para a atmosfera padrão, ao nível do mar, a Eq. (15) fornece dN/dz= - 40/km.
Chama-se a atenção para o fato de que dN / dz = - 40 km é válido apenas para condições

11
atmosféricas "padrão". Esse valor nos dá uma idéia da magnitude do valor de dN / dz a ser
esperada. Porém, em condições reais, valores de temperatura (T) e "umidade" (e) muito diferentes
dos estabelecidos na atmosfera padrão, podem ser obtidos. Para que seja possível utilizar as
técnicas de traçado de raios, é necessário que sejam conhecidos os valores reais de dN / dz em todos
os níveis.
Nós podemos obter o raio de curvatura de um raio, para a atmosfera padrão usando a equação

-1 - 106
r= = (16)
(dn/dz) (dN/dz)

No caso de dN / dz = - 40 / km, obtém-se para uma atmosfera padrão

r = - 10 6 /(-40/km) = 25000km

2.4 - RELAÇÃO ENTRE dN / dz E A GEOMETRIA DA PROPAGAÇÃO

Examinaremos a curvatura do raio EM relativa à superfície da Terra em termos de dN / dz,


particularmente os erros que podem surgir devido a essa curvatura. Um aspecto da curvatura do
raio é que as distâncias acima da superfície são diferentes daquelas computadas assumindo uma
linha de visada retilínea. A seguinte figura ilustra erros de determinação de posição de um alvo,
tanto em distância quanto em altitude, que ocorrem quando interpretando informações EM se um
decréscimo sistemático de n não for considerado nas interpretações.

Figura 11

12
O erro associado aos efeitos refrativos será demonstrado utilizando um exemplo ilustrativo,
no caso, um raio que é inicialmente horizontal. Nesse caso, a distância z acima da superfície, ao
longo de uma linha geometricamente retilínea é aproximada pela seguinte expressão:

2
z =d (17)
2re

Onde d = distância do ponto tangente ao ponto de interesse; e re = raio da Terra, como ilustrado
abaixo:

Figura 12

Usualmente a trajetória do raio é curvilínea, e a altura verdadeira acima da Terra será dada
pela seguinte expressão:

2
d 1 dN
z = z1 − z2 = [ + x 10- 6 ] (18)
2 r e dz

em virtude do raio de curvatura da trajetória do raio EM ser -10 -6 / ( dN / dz ). Se o radar não faz
correção para os efeitos de refração atmosférica, o erro em altitude será a diferença entre as duas
expressões acima, que corresponde a z2 na Fig. 13

13
Figura 13

Alguns radares tentam aplicar correções para a refração atmosférica. Por exemplo,
alguns radares requerem um "input" de refratividade em uma determinada altitude, o qual é
utilizado para
calcular um dN / dz médio, que é assumido como constante ao longo de toda a
atmosfera. Quando a refratividade real da atmosfera não for conhecida, alguns radares aplicam uma
correção assumindo que as condições de refração são aquelas da atmosfera "padrão", por exemplo,
eles utilizam a Eq. (18) assumindo dN / dz = - 40 / km. Para tais radares os erros em altitude
dependem da diferença entre o dN / dz padrão e o dN / dz real.

2.5 - RAIO EFETIVO PARA A ATMOSFERA "PADRÃO" ( "APROXIMAÇÃO 4/3


DO RAIO DA TERRA" )

Nos quatro quilômetros inferiores da troposfera, os valores de dN / dz para a atmosfera


"padrão" forneceram uma trajetória de raio cuja curvatura é cerca de 4 vezes o raio da Terra, isto é,
para uma atmosfera "padrão" r = 4 re . Dos resultados vistos anteriormente, a seguinte expressão
pode ser obtida para a altitude z acima da superfície da Terra na atmosfera "padrão", para um raio
inicialmente na horizontal

2
d 1 1
z = z1 - z2 = [ - ] (19)
2 re 4 re

portanto, para uma atmosfera "padrão" a altitude acima da superfície será

2
1
z= d [ ] (20)
2 4 re
3

Observe que o mesmo valor de z pode ser obtido de (17), a equação para uma linha
geometricamente retilínea, se o raio "verdadeiro" da Terra re for substituído por 4 / 3 re . É portanto
usual se interpretar a propagação na atmosfera "padrão" em termos de um raio "efetivo" da Terra de
4 / 3 r e, a fim de se determinar parâmetros tais como altitude acima da superfície.
14
Portanto, para a atmosfera "padrão" o erro em altitude devido à não consideração da refração
pode ser calculado, para um raio inicialmente na horizontal, subtraindo a altitude real (usando a Eq.

21) da altitude obtida ignorando-se a refração (usando a Eq. 17). Este erro é d2 / 8 re , isto é, o erro
percentual de altitude para este raio é 33 % na atmosfera padrão; se a refração da atmosfera em
condições reais é maior / menor que aquela da atmosfera padrão, o erro percentual em altitude
devido à não consideração da curvatura da trajetória do raio será maior / menor que 33 %. A
vantagem do emprego do raio efetivo da Terra igual a 4 /3 re em considerações sobre a geometria de
propagação é ilustrada na figura que se segue. São mostradas as trajetórias com curvatura igual a 4
re nas situações de superfície terrestre real, superfície terrestre com raio 4 / 3 re e superfície plana.
A representação de superfície "plana" é pouco utilizada pois potencialmente induz a erro na
representação de curvatura da trajetória. A representação 4 / 3 re permite que as trajetórias sejam
desenhadas como linhas retas quando as condições de propagação são "padrão"; o que simplifica o
cômputo de altitudes. A representação de superfície "real" é utilizada no programa IREPS.

Figura 14

15
2.6 - ÍNDICES DE REFRAÇÃO MODIFICADOS

Índices modificados são mais úteis que o índice N para representar duas importantes
condições de refração: condições "padrão" e condições de confinamento ( "trapping"). Para detetar
tais condições, os índices B e M, respectivamente, são mais úteis.

a) Unidades de B
Unidades B ( B-units ) são úteis para determinar onde as condições de refração são mais
próximas daquelas da atmosfera "padrão". Foi mostrado na discussão anterior que o efeito refrativo
pode ser compensado para a atmosfera "padrão", simplesmente modificando-se o raio efetivo da
Terra. A maneira mais conveniente de se representar diferenças de um dado perfil de refratividade
com relação à atmosfera "padrão" (pelo menos nas camadas mais baixas, onde a diferença do
gradiente de N em relação a um valor assumido constante é desprezível) é somar 40 unidades N (N-
units) por quilômetro a todos os valores de N. Este índice modificado (B) é definido por

B = N +(40 km-1 ).z (21)

onde N é o valor da refratividade em qualquer altitude z, em km.


O índice B, portanto, é uma consequência lógica do conceito de 4/3 do raio da Terra, devido
ao gradiente de B ser zero, para a situação onde a curvatura da trajetória na apresentação de 4 / 3 re
for zero.
Para a atmosfera "padrão", o perfil de B é comparado ao perfil de N equivalente, na figura a
seguir. Nos 2 km inferiores, B normalmente tem gradiente zero porém, em níveis mais altos, ele
apresenta um pequeno gradiente positivo.
A importância do índice B é que, quando B é aproximadamente constante com altura,
condições de refração "padrão" estão presentes. Por outro lado, mudanças em B com altitude
indicam que condições de refração "não-padrão" estão presentes.

b) Unidades M (M units)
"M-units" são mais úteis na determinação de presença ou ausência de dutos. O índice
modificado M é definido como

M = N + (157 km-1 ).z (22)

onde N é o valor da refratividade em qualquer altitude z em km. Quando o gradiente de M for zero,
o raio de curvatura iguala a curvatura da Terra. Isto é uma outra forma de dizer que quando o

16
gradiente de N for - 157 / km, a trajetória terá a mesma curvatura que a Terra. Para a atmosfera
"padrão" M aumenta com altitude. O ponto importante sobre o uso de M é que dM / dz deve ser
negativo em algum ponto do perfil para que um duto possa se formar.
Adicionalmente, plotando-se o índice M como uma função de z permite uma fácil
determinação dos limites superior e inferior de quaisquer dutos, como será mostrado adiante.

Figura 15

2.7 - CLASSIFICAÇÃO DE CONDIÇÕES DE REFRAÇÃO

Valores de referência para gradientes "padrão" e de condição de confinamento produziram


um esquema de classificação que é geralmente aceito para definir diversas condições de refração.
A tabela a seguir mostra os gradientes de N e M utilizada atualmente no IREPS e a figura
abaixo ilustra a geometria das trajetórias dos raios.

TABELA 1: Classificações do IREPS


Classificação do IREPS dN/dz (km-1 ) dM/dz (km-1 ) Distância ao horizonte
na superfície
Subrefração >0 >157 reduzida
Normal 0 a -79 79 a 157 normal
Superrefração -79 a –157 0 a 79 aumentada
Confinamento < -157 <0 muito aumentada

17
Figura 16

2.8 - CAMADAS DE CONFINAMENTO E DUTOS

A distinção entre "camada de confinamento" e "duto" deve ser claramente entendida. Uma
camada de confinamento é a região onde dN / dz < - 157 ou dM / dz < 0. Isso significa que o raio
de curvatura nesta camada se curvará para baixo relativo à superfície. Uma camada de
confinamento que não se estende até a superfície é geralmente classificada como "camada elevada".
Um duto é a região associada a uma camada de confinamento. Em um duto a energia EM é
confinada e canalizada entre os limites superior e inferior do mesmo. O limite superior do duto
("topo") é sempre coincidente com o topo da camada de confinamento. Entretanto, o limite inferior
do duto ("base") pode - e geralmente ocorre - estender-se abaixo da base da camada de
confinamento. Um duto pode ter sua base na superfície ("duto de superfície") ou acima dela (“duto
elevado”).
A figura abaixo ilustra a relação que existe entre a camada de confinamento e o duto. O
transmissor deve estar localizado dentro do duto (afastado do topo e da base) para que ocorra
"canalização" de toda a energia. Entretanto, nem todas as frequências serão confinadas no duto; as
frequências mais altas poderão ser canalizadas, porém frequências mais baixas poderão não ser
confinadas, como será descrito adiante.

Figura 17
18
2.8.1 - DETERMINAÇÃO DA ESPESSURA DO DUTO EM DIAGRAMAS
MxZ

Para determinar os limites do duto, observe a figura abaixo. O topo do duto coincide com o
topo da camada de confinamento, que é identificado pelo ponto onde a inclinação da curva muda de
negativo ( diminuição de M com altitude ) para positivo. A base é determinada desenhando-se uma
linha vertical para baixo, a partir deste ponto de inflexão, até que a mesma cruze a curva. Agora
pode ser vista a utilidade do uso do índice M. Usando-se a curva de M dessa maneira, é fácil
definir os limites do duto, ao passo que seria necessário um processo bem mais laborioso para obter
tal informação num gráfico de N.

Figura 18

O exemplo acima é para um duto elevado associado a uma camada de confinamento elevada.
A figura abaixo mostra exemplos de dutos de superfície criados a partir de camadas de
confinamento elevadas e de superfície.

Figura 19

19
É importante observar nos exemplos acima que tanto a altura quanto a intensidade de uma
camada de confinamento elevada são fatores determinantes se o duto será "de superfície" ou
"elevado".
NOTA: Regra
"O raio de curvatura da trajetória será para baixo (relativo à superfície) onde dM / dz < 0 e
para cima ( relativo à superfície ) onde dM / dz > 0”.

2.8.2 - DEPENDÊNCIA DO DUTO EM FUNÇÃO DOS GRADIENTES DE


TEMPERATURA E UMIDADE

O efeito dos gradientes de temperatura e umidade podem ser vistos reescrevendo a equação
de dN / dz, agora em termos de dM / dz. Usando M = N + 157 . z obtém-se

dM dN 157
= + (23)
dz dz km
a partir daí pode-se escrever

dM dT de
≅ 125 /km - 1.4km/K. + 4.5 / mb (24)
dz dz dz
Valores negativos de dM / dz são necessários para a formação de um duto. A Eq. (25) indica
que valores negativos de dM / dz são favorecidos por gradientes positivos de temperatura e/ou
gradientes negativos de umidade, isto é, a formação de um duto é mais provável se a temperatura
aumenta rapidamente com a altitude e/ou a umidade diminui rapidamente com a altitude.
Existem duas regiões na atmosfera onde tais gradientes são especialmente comuns, como
ilustrado na figura abaixo:
(1) acima da superfície da água, a umidade diminui com altitude tão rapidamente que um duto
de superfície está normalmente presente (chamado "duto de evaporação"), com valores típicos de
altitude de 5 - 50 m.
(2) No topo da camada limite formada pela turbulência gerada na superfície da Terra
(tipicamente 100 - 2000 m de altitude) geralmente é criada um gradiente positivo de temperatura e
acentuados gradientes negativos de umidade. Os sinais destes gradientes são tais que ambos agem
para favorecer a formação de dutos. Se o duto será formado ou não dependerá do efeito combinado
de ambos gradientes. Tais dutos são especialmente comuns sobre os oceanos, em virtude de lá ser o
efeito do gradiente de umidade, usualmente, mais importante que o efeito do gradiente de
temperatura. As "espessuras" ou "profundidades" de tais dutos e a definição se serão de "superfície"
ou “elevados”, depende tanto da intensidade dos gradientes quanto a altitude do topo da camada
limite.

20
Figura 20

Embora os dutos sejam frequentemente encontrados nas duas regiões atmosféricas descritas
acima, eles podem ocorrer em qualquer nível da troposfera, na medida que os gradientes de
temperatura e umidade sejam apropriados. O efeito de fatores meteorológicos na formação de
dutos será discutido adiante.

2.9 - RELAÇÃO ENTRE FREQUÊNCIA E POSSIBILIDADE DE


CONFINAMENTO

Os métodos de traçado de trajetórias de raios ou diagramas de raios ("ray tracing") têm sido
usados até hoje qualitativamente para determinar as características da propagação. Tais métodos
para o exame da propagação são apenas uma aproximação para descrever efeitos que são
extremamente complicados e não completamente resolvidos. Uma grande deficiência no método de
traçado de trajetória de raio é que ele é independente da frequência, ao passo que, na realidade, um
dado duto irá confinar energia EM para apenas uma determinada faixa de frequências. Em virtude
deste limite ser inferior, o valor da frequência mínima para que haja confinamento deve ser
determinado empiricamente.

2.9.1 - EQUAÇÃO PARA FREQUÊNCIA MÍNIMA COM CONFINAMENTO


EFETIVO

A seguinte fórmula, que é baseada em resultados experimentais, é utilizada para determinar a


frequência mínima que será confinada por um duto de uma dada espessura d, em metros:

H 3
f min = [3.6x10". z3 ].d - 2 (25)
m- 2

21
Note que d é a espessura do duto, não sua altitude. Os resultados deste cálculo são apenas
aproximados. A energia das frequências apenas ligeiramente abaixo de fmin será também
"relativamente" aprisionada, porém uma menor parte da energia de frequências significativamente
mais baixas que fmin será confinada.

Exemplos de frequências mínimas para espessuras de duto comuns são:


d = 400 m fmin = 45 MHz
d = 100 m fmin = 369 MHz
d = 20 m fmin = 4000 MHz (4 GHz )

É importante notar que para uma dada espessura do duto, apenas as frequências maiores que
um certo valor crítico (fmin ) serão completamente aprisionados. Dizendo de outra forma, para uma
dada frequência, os dutos devem possuir uma espessura maior que um determinado valor crítico
para que o aprisionamento pelo duto seja completamente eficaz. Portanto, quanto mais fino (ou
estreito) o duto, menor a faixa de frequências que serão completamente confinadas no mesmo.

3. O DUTO DE EVAPORAÇÃO

3.1 – INTRODUÇÃO

Sobre uma superfície líquida, um duto frequentemente se forma, sendo este muito fino ( ou
"raso" ), tendo sua base na superfície. Este duto de superfície é chamado duto de evaporação e
tem profundidade (ou espessura ) típica de 2 a 40 metros.
Próximo à superfície, o rápido decréscimo vertical de umidade relativa de 100% (na interface
ar/água) para 80 - 90 % (na camada atmosférica superficial subjacente), com o consequente
decréscimo da pressão parcial do vapor d’água, resulta num acentuado decréscimo vertical do
índice de refração. Como a refração é dependente do gradiente (taxa de variação ) do índice de
refração, o recurvamento da trajetória do raio será acentuado naquela região. Esta camada é
chamada de duto de evaporação, em virtude do decréscimo de umidade estar relacionado ao efeito
da evaporação à superfície líquida. A situação descrita acima quase sempre ocorre sobre o oceano e
é de particular importância para o uso de radares "além do horizonte" e em geral, no caso de
cobertura radar de superfície.
Já foi visto que quando o gradiente de refratividade (dM/dz) é negativo, ondas EM
propagando-se horizontalmente são "curvadas” para baixo e o recurvamento excederá a curvatura
da superfície da Terra, fazendo com que a onda seja canalizada em um duto. A discussão que se
segue relaciona-se com os perfis de M e umidade relativa mostrados na Figura 21.

22
O gradiente de M aumenta (torna-se menos negativo) com a altitude na camada próxima à
superfície de maneira que em algum nível o gradiente não mais será "forte" o suficiente para
confinar a emissão EM. Esse nível é chamado altitude do duto de evaporação e é designado pelo
símbolo z* Ele é definido pelo gradiente crítico necessário para confinamento da onda EM, isto é
quando dM/dz=0. Ondas EM se propagando abaixo de z* são canalizadas pelo duto e aquelas
acima de z* não o serão. Note que o gradiente de M na figura é menor que zero abaixo de z* e
maior que zero acima de z* .

Figura 21
A discussão sobre a relação entre frequência mínima que pode ser confinada para um duto
com determinada espessura aplica-se aqui. A frequência mínima fm , para um dado z* será obtida
através da expressão
sendo fm em Hz e z* em m

3 3
f m = (3.60x10" Hz/ m- 2 ). z*- 2 (26)

Note que o valor z* é introduzido diretamente em virtude do duto de evaporação ser sempre
de superfície, de forma que a espessura do duto será sempre igual à altitude do duto de evaporação.

3.2 - EFEITOS DO DUTO DE EVAPORAÇÃO

Examinemos os efeitos do duto de evaporação sobre frequências rádio/radar para definirmos


quais são as altitudes de duto significativas para afetarem essas frequências.
Dados observacionais indicam que típicas altitudes de duto de evaporação estão entre 10 e 20
metros, sendo a espessura média global de 13 metros. Esses valores são significativos, pois numa
frequência comum em radares de navegação, 9.6 GHz, o critério da frequência mínima requer uma
profundidade do duto ser maior de 11 m para o duto ser efetivo naquela frequência.
Por outro lado, em áreas marítimas onde os dutos sejam mais espessos, em torno de 20 m,
radares com frequências em torno de 4 GHz poderão ser afetados pela presença desse dutos. Como

23
há radares de busca com frequências em torno desse valor, é importante saber qual a probabilidade
de ocorrerem dutos de evaporação com valores que possam afetar o desempenho dos radares, em
áreas oceânicas onde se desenvolverão operações navais da MB. Para tal recorre-se a valores
históricos de observações meteorológicas, que permitem estabelecer uma climatologia dos dutos de
evaporação.

3.3 - CLIMATOLOGIA DOS DUTOS DE EVAPORAÇÃO

A discussão anterior deixou claro que dutos de evaporação com altitudes (z* ) acima de 11
metros são significativos para radares de superfície com frequências acima de 9.6 GHz e dutos com
altitudes acima de 30 metros podem afetar quase todas as frequências de operação de radares. É
importante examinar estatísticas de altitudes de duto e também suas variações, que podem ocorrer
sobre períodos que variam de horas a dias. Embora estatísticas climatológicas possam apresentar
valores bastante diferentes daqueles obtidos em situação real, tais informações são válidas para
efeito de planejamento e definição das características do cenário.
Na média, as regiões com as mais altas temperaturas da água do mar à superfície têm as
maiores altitudes de dutos, e as regiões em latitudes médias e temperaturas da água do mar à
superfície mais baixa têm as menores espessuras de duto.
Temperaturas da água do mar à superfície elevadas tendem a produzir maiores altitudes de
dutos de evaporação porque o ar imediatamente acima da superfície da água é aquecido e pode
manter (ou suportar) mais umidade (vapor d'água) na situação de umidade relativa próxima a 100%.
O aumento no vapor d'água na base do duto de evaporação faz com que o gradiente de vapor d'água
próximo à superfície seja mais negativo, criando uma camada de confinamento mais profunda.
A seguir será apresentada a climatologia de dutos de evaporação para duas áreas na costa do
Brasil, indicadas na Figura 22a.

24
Fig. 22a – Áreas para apresnetação de dados
climatológicos de dutos de evaporação. A área na
costa nordeste do Brasil será identificada com
área “NE”, e a área abrangendo a costa sul do
Brasil, Uruguai e Argentina será identificada
como área “S”.

A Fig. 22b abaixo apresenta a climatologia (frequência) de alturas de dutos de evaporação


para a área NE, para períodos médios de verão(jan/fev/mar - #1) e inverno (jun/jul/ago - #2),
abrangendo horários de dia e noite. Devido às temperatura da água do mar e do ar relativamente
altas na área, os valores de duto predominantes estão entre 16 e 18 m (16% de ocorrência). Para os
períodos de inverno a ocorrência de dutos nesta faixa de valores cai para 13.5%. Pode-se observar,
entretanto, que a frequência em que ocorrem dutos mais espessos, com valores maiores que 20 m, é
maior no inverno que no verão, ou seja, quandos as temperaturas do ar e da superfície do mar são
relativamente mais baixas.

Fig. 22b: Distribuição de frequências de alturas dutos de evaporação para a área NE, para períodos de verão (#1)
e inverno (#2).

25
Este comportamento está relacionado às condições de estabilidade da camada superficial. As
figuras 22c, 22d e 22e abaixo apresentam as frequências de ocorrência de velocidade do vento,
umidade absoluta e diferença de temperatura ar-mar, respectivamente, para a área NE.
Antes de prosseguirmos a discussão, cabem algumas informações adicionais. Inicialmente, de
forma geral, pode-se dizer que quando a temperatura do ar for maior que a temperatura da água do
mar (diferença ar-mar positiva), a atmosfera será mais estável, pois haverá uma camada de ar mais
quente/menos denso na parte superior da camada superficial que na camada inferior, dificultando os
movimentos verticais ascendentes, inibindo a mistura das propriedades ao longo da vertical.
Quando essa diferença for negativa, ou seja, quando o ar estiver mais frio que a superfície do mar, a
situação será de instabilidade, sendo mais favorável a mistura, e consequentemente, reduzindo os
gradientes verticais de refratividade.
O gradiente vertical do vento e o gradiente vertical de temperatura determinam as condições
de estabilidade da camada superficial. Um modelo simplificado dessa relação pode ser expresso
dizendo-se que, em atmosferas termodinâmicamente instáveis, gradientes verticais do vento mais
fortes próximo à superfície tendem a estabilizar a atmosfera, inibindo a propagação de turbulência
para cima, dificultando, portanto, a mistura (uniformização) das características do ar. Essa situação
favorecerá a manutenção de gradientes verticais de refratividade mais acentuados, facilitando a
formação de dutos de evaporação mais espessos. Em atmosferas termodinâmicamente estáveis,
entretanto, à medida que o gradiente vertical de vento se intensifica, existe a tendência da atmosfera
se instabilizar, favorecendo a mistura de propriedades ao longo da vertical pela ação da turbulência,
reduzindo a possibilidade de manutenção de gradientes de refratividade negativos acentuados
próximo à superfície, reduzindo a espessura, ou até mesmo imposibilitando a formação de dutos de
evaporação.
Pode-se notar, portanto, que haverá situações em que a variação da temperatura e do vento na
vertical poderão agir ambas favoravelmente para o aumento da estabilidade, aumentando a
possibilidade de formação de dutos de evaporação espessos, enquanto haverá ocasiões em que
estarão com comportamentos com tendências opostas, dificultando a formação de gradientes
verticais de refratividade negativos.

26
Fig. 22c: Distribuição de frequências de velocidades do vento para a área NE, para períodos de verão (#1) e
inverno (#2).

Voltando à análise dos gráficos, figura 22c pode-se observar que, embora os ventos
predominantes no verão, com velocidades entre 6 e 7 m/s (12 a 14 nós) ocorram a uma frequência
(19%) maior que no inverno (16.3%), há uma maior ocorrência de ventos mais fortes, com valores
maiores que 7 m/s (14 nós) no inverno que no verão.
A figura 22d mostra a distribuição de frequência s de valores de umidade absoluta para a área
NE. Pode-se notar que no período de verão predominam valores entre 19 e 21 g/m3 (44.9%), o
mesmo valor que predomina no inverno, sendo que nesse período a frequência em que ocorre é
ligeiramente maior (45.6%). Entretanto, os valores mais altos de umidade absoluta, maiores que 21
g/m3 , são bem mais frequentes no verão que no inverno. Este comportamento está em acordo com a
nossa expectitativa de serem observados valores maiores de umidade nos períodos mais quentes.

27
Fig. 22d: Distribuição de frequências de umidades absolutas para a área NE, para períodos de verão (#1) e
inverno (#2).

A figura 22e mostra a distribuição de frequências de diferenças entre as temperaturas do ar e


da superfíce do mar para a área NE. Pode-se que em ambos períodos a diferença de temperatura
predominante está entre –1 e 0 o C. A frequência no período de verão(73.2%) é ligeiramente maior
que no inverno (66.5%). Os valores mostram que em regiões equatoriais e tropicais não são
observadas grandes variações de temperatura entre o verão e o inverno.

Fig. 22e: Distribuição de frequências de diferenças de temperatura ar-mar para a área NE, para períodos de
vverão (#1) e inverno (#2).

28
Os dados apresentados indicam que os valores de dutos mais altos ocorrem mais
frequentemente no inverno que no verão na área NE, possivelmente, por serem observados ventos
mais fortes (que podem ser associados a gradientes verticais de vento mais fortes) com maior
frequência no inverno que no verão. Uma ve z que prrevalecem condições de instabilidade
termodinâmica em ambas estações, a tendência será de serem observadas condições menos instáveis
no inverno que no verão, devido aos gradientes de vento mais fortes. Assim, é mais frequente a
ocorrência de gradientes verticais de refratividade mais “fortes” no inverno que no verão, devido a
condições mais estáveis (ou menos intáveis), embora o conteúdo de umidade da atmosfera seja
maior no verão que no inverno.
As figuras 22f, 22g, 22h e 22i apresentam as frequênc ias de alturas de dutos, velocidade do
vento, umidade e diferença de temperatura ar-mar para a área S. Pode-se notar que os valores
predominanates de alturas de duto são bem menores que na área NE, sendo 10m a 12 m no verão
(13.0%) e 6m a 8m no inverno (17.9%).

Fig. 22f: Distribuição de frequências de alturas dutos de evaporação para a área S, para períodos de verão (#1)
e inverno (#2).

29
Fig. 22g: Distribuição de frequências de velocidades do vento para a área S, para períodos de verão (#1) e
inverno (#2).

Com relação à distribuição de frequências dos ventos, pode-se observar que prevalecem na
área ventos na faixa de 4 m/s a 5 m/s (8 a 10 nós) em ambas estações, sendo a frequência no inverno
de 17.6% e no inverno 18.8%. Ventos mais fortes têm uma distribuição bastante semalhante para
ambos períodos.

Fig. 22h: Distribuição de frequências de umidades absolutas para a área S, para períodos de verão (#1) e
inverno (#2).

30
Fig. 22i: Distribuição de frequências de diferenças de temperatura ar-mar para a área S, para períodos de verão
(#1) e inverno (#2).

Com relação à umidade, pode-se observar na figura 22h que durante o verão os valores
predominantes de umidade absoluta (15 a 17 g/m3 , com 20.3%) são muito maiores que no inverno
(7 a 9 g/m3 , com 31.4%). Essa diferença, caracterizando claramente a diferença entre o verão e o
inverno, mostra um comportamento bem distinto da área NE, onde as diferenças são menos
expressivas. Quanto às diferenças de temperatura ar-mar, ambos períodos mostram um
comportamento ligeiramente instável, com os valores predominantes na faixa de –1 a 0 oC, com
frequências de 55.8% no verão e 44.4% no inverno. A diferença entre os regimes entre as duas
estações não é tão clara nesse parâmetro, o que é característico de regiões marítimas.
Assim, podemos concluir que o fator preponderante para as diferenças as alturas de duto entre
o verão e o inverno é o conteúdo de vapor d’água na atmosfera, que aumenta no verão, devido às
mais altas temperaturas do ar e do mar. Entretanto, essa área, por estar em latitudes subtropicais,
apresenta valores de duto menores que na área NE.
Os dutos de evaporação também apresentam comportamentos diferentes entre os períodos do
dia e da noite.

31
Fig. 22j: Distribuição de frequências de alturas de dutos de evaporação para a área NE, para períodos diurno
(#1) e noturno (#2).

A Fig. 22j mostra que em períodos de verão, na costa NE do Brasil, os valores predominantes
de dutos de evaporação estão na faixa de 18 a 20 metros (15.0%) durante o dia, e entre 14 e 16
metros (17.7%) durante a noite. Os valores durante o dia são mais elevados devido ao efeito da
radiação solar, que aquece a superfície do mar e o a camada de ar superficial sobrejacente,
permitindo um aumento do conteúdo de vapor d’água (pressão parcial) na parte mais baixa da
camada superficial, favorecendo a formação de um aacentuado gradiente negativo de refratividade,
possibilitando a formação de dutos mais espessos.

3.4 - MODELOS PARA PREVISÃO DE ALTITUDE DO DUTO DE EVAPORAÇÃO

As observações da seção precedente indicam que a altitude do duto de evaporação é afetada


por vários fatores diferentes, particularmente próximo à costa, e um método para previsão das
altitudes do duto de evaporação deve levar em conta todos esses fatores. Deve ser notado que a
altitude do duto de evaporação não pode ser determinada por balões meteorológicos (radiossondas)
ou de medições por refratômetros porque os gradientes ocorrem sobre altitudes muito pequenas para
serem medidas pelos equipamentos citados. Ao invés disso, a altitude do duto de evaporação deve
ser determinada por outros métodos. Os modelos de previsão que existem são baseados na teoria da
"camada atmosférica de superfície ", que inclui os aspectos do vento e mistura da camada,
relacionada à estabilidade (estável ou instável), assim como diferenças de umidade entre o ar e a
superfície do mar, e as variações verticais da ve locidade do vento. Os modelos de previsão
normalmente exigem, para obtenção do valor da profundidade (ou espessura) do duto, a introdução
dos valores de umidade relativa, diferença de temperatura entre o ar e a superfície do mar,
32
velocidade do vento próximo à superfície e a temperatura da água à superfície. Estes valores são
procesados por algoritmos que reconstituem a distribuição vertical desses parâmetros. Após essa
reconstituição, os valres são introduzidos na equação do gradiente vertical de refratividade,
possibilitando a determinação da altitude do ponto onde esse gradiente é zero, definindo a espessura
do duto de evaporação. No passado, este cálculo era feito por meio de gráficos e ábacos.
Atualmente, a estimativa da espessura do duto de evaporação é feita por aplicativos processados em
computadores. O IREPS, por exemplo, possui um módulo destinado ao cálculo de duto de
evaporação. A figura 23 abaixo ilustra esse módulo.

Fig. 23 – Aspecto do módulo para cálculo do duto de evaporação do aplicativo IREPS.

4. - CAMADAS DE CONFINAMENTO ELEVADAS (CCE)

4.1 - INTRODUÇÃO

Um fenômeno significativo para a propagação na faixa de VHF/ UHF/microondas é a


existência de um acentuado gradiente de umidade e temperatura no topo da "camada limite"
adjacente à superfície, porque estes frequentemente criam uma CCE com um duto associado. Neste
capítulo será examinada a ocorrência de CCEs e os processos que levam à formação das mesmas.
As escalas (extensão horizontal) de interesse são, neste caso, muito maiores do que aquelas
consideradas quando do estudo dos dutos de evaporação. Inicialmente estaremos interessados nas
33
variações de grande escala ("escala sinótica") da estrutura vertical da temperatura e umidade,
embora características de menor escala (e.g. regiões costeiras) serão também consideradas. As
escalas "sinóticas" são aquelas representadas nos mapas meteorológicos diários ou mostradas nas
imagens de satélites meteorológicos.

4.2 - CRIAÇÃO DA CCE

Resultados anteriores indicam que a formação de uma camada de confinamento requer um


acentuado gradiente positivo de temperatura e/ou um acentuado gradiente negativo de umidade, de
forma a produzir dM/dz < 0. Tal camada de confinamento pode ser criada em qualquer lugar da
troposfera, mas sua ocorrência é comum no topo da "camada-limite". A seguir são feitas
considerações sobre os mecanismos de formação e como eles podem ser reforçados por outros
fenômenos atmosféricos.

4.2.1 - GRADIENTES CRIADOS PELA MISTURA NA "CAMADA - LIMITE"


A turbulência gerada na superfície da Terra cria uma "camada - limite", com uma região de
significativos gradientes de temperatura e umidade no topo. Isto frequentemente cria um duto cujo
topo está localizado próximo do topo da camada limite. A turbulência é criada pela superfície de
duas formas:
1) Turbulência gerada termicamente: o aquecimento da superfície da Terra aquece o ar
imediatamente em contato com a superfície, criando "bolhas" de ar quente, que diminuem a
densidade, se elevam e misturam com o ar de camadas superiores, criando portanto turbulência;
2) Turbulência gerada por vento (mecânica): o requisito do vento ser zero imediatamente acima
da superfície cria um gradiente na velocidade do vento próximo à superfície, criando portanto
turbulência.

Esta turbulência mistura o ar acima da superfície, criando uma "camada-limite" de


profundidade (ou espessura) tipicamente de 100 - 2000 metros. Quanto mais intensos o
aquecimento ou o vento, mais intensos serão a mistura e o aprofundamento da camada limite. A
mistura por processos térmicos é mais importante sobre a terra durante o dia; à noite, sobre a terra,
a camada - limite é relativamente rasa e pouco misturada. A mistura mecânica é mais importante
sobre os oceanos em virtude da superfície oceânica não poder ser intensamente aquecida e as
diferenças de temperatura de dia e de noite serem de menor importância.
O mecanismo pelo qual a mistura cria gradientes fortes no topo da camada - limite pode ser
ilustrado como se segue. A mistura pela turbulência irá criar uma camada com propriedades
aproximadamente constantes das variáveis conservativas (eg. temperatura potencial). Por exemplo,

34
se no oceano a camada superior for bem misturada ela terá temperatura constante na região de
mistura. Considerando-se a umidade na atmosfera, ela geralmente diminui com a altitude (em
virtude de ser a superfície a fonte de umidade da atmosfera), como é mostrado numa forma
idealizada na figura abaixo. A mistura na região atmosférica adjacente à superfície irá criar uma
região de umidade aproximadamente constante, como é também ilustrado na figura. Note que a
umidade média na região de mistura permanece inalterada (o vapor d'água é conservado), porém
uma região com um forte gradiente negativo de umidade é criada no topo da região de mistura, isto
é, no topo da camada de mistura. Dos resultados conhecidos anteriormente, nós sabemos que tal
gradiente de umidade negativo conduz à formação de duto.

Figura 24

Consideramos agora uma situação similar para a temperatura. A Fig. 24 representa a


atmosfera "padrão", na qual a temperatura diminui com a altitude, com dT/dz = -6.5 K/km. A
temperatura será homogene izada na região turbulenta, porém deve ser levado em conta o fato de
que o ar é compressível. Pode ser mostrado que se o ar é bem misturado, o resultado é uma região
com dT/dz = -9.8 K/km (diferentemente da água, que é incompressível, para a qual a mistura iria
produzir uma região de temperatura constante com a profundidade). Novamente, note que a
temperatura média na região de mistura permanece inalterada, porém uma região com acentuado
gradiente positivo de temperatura é criada no topo da camada-limite. Tal gradiente positivo de
temperatura conduz à formação de dutos.
Portanto, a mistura devida à turbulência na camada-limite cria gradientes de temperatura e
umidade que podem conduzir à formação de dutos no topo da camada-limite. A Fig. 24 também
mostra o perfil de refratividade M que frequentemente ocorre em camadas-limites bem misturadas.
Os gradientes discutidos acima são produzidos pelo próprio processo de mistura na camada-
limite. Adicionalmente a estes efeitos de mistura, outros fatores podem agir para acentuar (ou
atenuar) os gradientes no topo da camada-limite e são também condutores à formação de dutos.

35
Esses fatores adicionais são:
(1) Redução da temperatura à superfície;
(2) Aumento da temperatura acima da camada limite;
(3) Aumento de umidade à superfície;
(4) Redução da umidade acima da camada-limite.
Os dois primeiros fatores criam um gradiente de temperatura mais positivo no topo da
camada-limite, enquanto os dois últimos criam um gradiente de umidade mais negativo.
Alguns exemplos dessas situações são:
• Ressurgência de água fria (fator 1)
• Água à superfície, por exemplo, sobre um oceano ou lago (fator 3)
• Movimento de descida do ar (subsidência), descrito a seguir (fatores 2 e 4).

4.2.1 - GRADIENTES CRIADOS POR SUBSIDÊNCIA

O movimento vertical descendente, chamado subsidência, é um fenômeno comum que age


para produzir gradientes verticais de temperatura mais positivos e gradientes de umidade mais
negativos, favorecendo, portanto a formação de dutos. O mecanismo é ilustrado no diagrama que se
segue (Fig. 25). Os perfis iniciais (idealizados) de umidade (q) e temperatura (T) são representados
por linhas tracejadas, ilustrando o decréscimo típico de umidade e temperatura com a altitude, na
atmosfera. Quando ocorre movimento vertical descendente, ocorrerá um máximo em tal
movimento em algum ponto acima da superfície, em virtude da velocidade vertical na superfície ser
obrigatoriamente zero (o ar não pode "atravessar" a superfície). O movimento descendente de ar
reduz a umidade total que havia inicialmente (ha verá divergência na superfície) , porém a
temperatura aumenta devido ao efeito de compressibilidade. A figura mostra esse movimento com
setas dirigidas para baixo, sendo as setas com os maiores deslocamentos verticais ocorrendo onde as
velocidades verticais são maiores. O resultado final é apresentado nos perfis de temperatura e
umidade em linhas contínuas. Observe que abaixo do nível de subsidência máxima o gradiente de
umidade se tornou mais negativo do que era inicialmente e o gradiente de temperatura se tornou
mais positivo do que era inicialmente (isto é, o gradiente de temperatura é agora positivo enquanto
era inicialmente negativo). Portanto, a subsidência age para favorecer a formação de dutos, porque
ambas mudanças diminuem dM / dz. Adicionalmente, se a subsidência ocorre acima da camada-
limite (o que é o normal) os gradientes de temperatura e umidade normalmente no topo da camada-
limite serão mais acentuados, porque o ar acima da camada-limite será mais quente e seco do que se
a subsidência não houvesse ocorrido. Logo, a formação de duto será muito mais favorecida.

36
Figura 25

4.2.2 - INVERSÕES DE TEMPERATURA

Note que o aumento no gradiente de temperatura devido à subsidência pode ser grande o
suficiente para que a temperatura tenha um efetivo aumento com a altitude. Isto é chamado
inversão, em virtude da mudança de temperatura ser oposta ao decréscimo "normal" com a altitude.
A figura que se segue (Fig.26) ilustra os diferentes mecanismos através da qual as inversões podem
ser formadas. A formação de inversões é favorável a formação de dutos, porque ela possui um
gradiente de temperatura positivo.

Figura 26

37
4.2.3 - MEDIÇÃO DE GRADIENTES DE TEMPERATURA E UMIDADE

Para que se possa prever a propagação de ondas EM, a refratividade atmosférica deve ser
conhecida. Em particular, o gradiente de refratividade é responsável pelo curvamento dos raios, e
para dM/dz < 0 efeitos anômalos significantes na propagação podem ocorrer. Já foi vista a equação
que relaciona a refratividade, e portanto seu gradiente, aos valores de temperatura e umidade
observados na atmosfera. É claro que a precisão com que tal cálculo de refratividade será
executado depende da precisão nos valores de temperatura e umidade. Um erro mais sutil ocorre
relacionado com o grau de resolução dos valores medidos, isto é, o quão afastados eles estão
verticalmente. Uma radiossonda tem tipicamente uma resolução de 50 m nas medições. Se os
gradientes de umidade e temperatura ocorrerem ao longo de espessuras muito menores que a
resolução das medições, o gradiente "medido" será muito impreciso. Especificamente, o gradiente
medido será "amaciado", e portanto ele terá uma magnitude absoluta muito menor do que a real.
Por exemplo, um acentuado gradiente negativo de umidade não aparecerá nas medições tão
acentuado quanto ele realmente é.
Como citado previamento, a existência de um duto de evaporação não pode ser deduzida dos
perfis medidos por radiossondas, devido às razões citadas acima, isto é, um acentuado gradiente de
umidade à superfície ocorre ao longo de uma distância vertical muito menor do que resolução das
medições. No topo da camada-limite, gradientes de temperatura e umidade frequentemente
ocorrem ao longo de distâncias que são muito pequenas relativamente a resolução das medições,
embora não no mesmo grau com o que ocorre na superfície. O gradiente de umidade medido no
topo da camada-limite não será tão negativo quanto realmente é, nem o gradiente de temperatura
medido será tão positivo quanto ele realmente é. Como resultado, as profundidades (ou espessuras)
das camadas de confinamento estarão com um erro com tendência a apresentá- las menores do que
realmente são. Além disso, existe um erro no sentido de não se detetar uma camada de
confinamento onde ela existe. Muito pouco pode ser feito no sentido de corrigir os problemas de
resolução, além de se estar atento para o fato de que eles existem.
Medições são também sujeitas a variações temporais, isto é, a atmosfera num determinado
instante pode haver mudado em relação à que existia no momento da medição. A variabilidade
espacial deve ser também considerada, em particular a camada-limite sobre a água, que
frequentemente difere bastante da camada-limite em terra. Logo, as refratividades nas duas regiões
serão também diferentes.

38
4.3 - CONDIÇÕES DE REFRATIVIDADE EM REGIÕES FRONTAIS E SISTEMAS
EM MOVIMENTO

a) Regiões Frontais
Frentes frias e quentes idealizadas e as distribuições de "B-units" associadas são ilustradas na
figura que se segue. A única região exibindo um decréscimo de B com a altitude está adiante da
frente fria e o decréscimo é devido ao gradiente de umidade. Portanto, em regiões frontais, camadas
de confinamento elevadas com intensidade significativa não são normalmente formadas. Isto
ocorre, em parte, porque movimentos ascendentes intensos nas regiões frontais destroem as
camadas de confinamento elevadas.

FIGURA 27

b) Sistemas Meteorológicos em Movimento


O leitor já possui uma razoável visão do movimento e estrutura verticais associadas com
sistemas meteorológicos de latitude média. Muito embora ainda seja necessário compilar
estatísticas sobre os padrões de refração na escala sinótica, nós podemos inferir algumas relações
"mais prováveis". A seguir nós examinaremos as mudanças observadas em uma determinada
localidade à medida que um sistema de latitude média se desloca.
A figura a seguir ilustra as variações das camadas elevadas associadas com a passagem de um
sistema sinótico de latitude média por uma estação meteorológica nas Bermudas. São mostrados o
campo de pressão à superfície, posição das frentes e sondagens verticais (temperatura e umidade
relativa) para um período de três dias (04 a 07 / abril). A posição da estação está indicada pelo
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círculo na figura. Pode-se ver que um ciclo completo de condições (alta - frente - alta) ocorre na
estação durante os três dias. Camadas de confinamento elevadas ocorrem dentro do regime de alta
pressão, porém, não no regime frontal. Este último ocorre para um período (máximo) de 12 horas.
Note a redução da magnitude dos gradientes à medida que a região frontal se aproxima da estação.

Figura 28

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4.4 - REFRAÇÃO NA REGIÃO EQUATORIAL (REGIME DE ALÍSEOS)

As regiões de ventos alíseos são muito favoráveis à formação de dutos. Elas estão localizadas
entre as regiões de alta pressão oceânicas e a região das calmas equatoriais, e extendem-se de
aproximadamente 10o N a 30 o S.
As figuras abaixo mostram as médias das linhas de corrente no nível de 850 hPa no
Atlântico, em janeiro e julho. As regiões em que o vento tem componentes de leste caracteriza o
regime de ventos alíseos.
A zona de convergência entre os alíseos dos dois hemisférios, conhecida como ITCZ (Zona
de Convergência Intertropical), é mostrada por linhas pontilhadas. Em geral, a ITCZ migra com as
estações, estando no Hemisfério Norte (HN) no verão no HN e no Hemisfério Sul (HS) no verão no
HS.

Figura 29a
a) Inversão dos Ventos Alíseos
Em virtude dos ventos alíseos serem dirigidos para o equador, eles transportam ar na direção
de regiões de água mais quente. A circulação é de leste para oeste, em subsidência (Figs. 29a e
29b). A subsidência é associada às altas subtropicais. A camada acima da camada limite, a
inversão dos ventos alíseos, é uma região de gradientes de temperatura positivos e gradientes de

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umidade negativos, que podem levar a formação de CCE e consequentemente dutos. Acredita-se
que a inversão de ventos alíseos está presente pelo menos 75% do tempo em todas as áreas
oceânicas subtropicais.

Figura 29b

As altitudes das inversões dos ventos alíseos podem variar de cerca de 500 m na área leste
do oceano, aumentando para cerca de 1500 m na área oeste, como mostrado na Figura 30.

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Figura 30

A figura 30 mostra que a inversão dos ventos alíseos é mais baixa na parte leste dos oceanos,
tem inclinação ascendente na direção oeste e também na direção da ITCZ. Na costa, a base da
inversão está ao nível de 400 m, e nuvens se formam no ar úmido abaixo daquela altitude.
Nevoeiro e nuvens stratus e stratocumulus estão presentes a maior parte do tempo na costa da
Califórnia, por exemplo. Na direção SW a inversão tem inclinação ascendente, primeiro
rapidamente, diminuindo gradativamente. Em ambas regiões, a altitude da inversão corresponde
com o topo das nuvens que estão sendo suprimidos na inversão de temperatura.

4.5 - REFRAÇÃO EM REGIÕES COSTEIRAS

4.5.1 - Fluxo (circulação) em Regiões Costeiras


A ocorrência de CCE é bastante comum em regiões costeiras e estreitos, porque o fluxo a
partir do continente em direção ao oceano é relativamente quente e seco.

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Estes regimes de fluxo podem surgir primariamente de duas situações que se diferenciam
basicamente em suas escalas (i.e. em suas extensões horizontais)
a) Brisas terrestres e marítimas (escala local)
b) Circulações sinóticas (grande escala).

a) Brisas marítimas e terrestres (escala local)


As características associadas com as circulações locais tipo brisa marítima-terrestre são
mostradas na figura que se segue. A circulação da brisa marítima será adicionada à circulação da
escala sinótica. Tal circulação se torna mais importante quando o gradiente de pressão na escala
sinótica for fraco. Os efeitos são diurnos, porque o aquecimento diferencial

Figura 31

pela radiação solar incidente é o fator determinador (forçante) da circulação. As características da


circulação tem escalas espaciais restritas, estendendo-se a cerca de 25-75 km da linha da costa.

b) Circulações Sinóticas (grande escala)


Características associadas com a circulação de grande escala (sinótica) são mostradas na
figura abaixo. O centro de alta pressão semi-estacionário sobre o continente, que provoca a
circulação do continente para o oceano, é também causado pelas diferenças de aquecimento terra-
mar, porém numa escala maior. As monções na Ásia são um exemplo extremo deste fenômeno.

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Figura 32

Devido à escala espacial, o fluxo resultante pode ocorrer ao longo (descendente) de acidentes
topográficos, tais como vertentes de montanhas ou planaltos. Este fluxo descendente forçado causa
aquecimento adiabático do ar seco. Os efeitos dessa circulação podem se estender na direção do
mar, cerca de 100 - 300 km além daquela induzida por circulações locais.
As condições sinóticas (em claro, gradientes de fracos ao longo da linha da costa) associadas
com a circulação na escala sinótica são também favoráveis à formação de circulações na escala
local. As circulações locais usualmente reforçam (componente da terra para o oceano) ou retardam
(componente oceano - terra) os efeitos da circulação sinótica.

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