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A glamourosa vida de Cole Porter

Bom vivant, seu gosto pelo luxo foi uma constante em sua vida, permeada
também pelo glamour e pela extravagância. Suas letras e composições tinham
grande sofisticação, técnica e um estilo singular

Cole Porter nasceu em família rica, viveu a


adolescência nos anos loucos da década de 20
e alçou o posto de músico prestigiado no
glamour dos anos 30. De um lado, um artista
genial. Compôs mais de 800 canções, e pelo
menos 100 delas permanecem no panteão das
músicas eternizadas por um incipiente cinema
falado. Na vida pessoal, era um boêmio imerso
numa vida de luxo, fama e muitos prazeres,
em uma época em que a Era do Jazz abria os
salões luxuosos da Europa para festas e para
as artes. Sua vida alternava-se entre os
teclados do piano, as poltronas dos teatros, os
copos de champanhe e a fumaça dos charutos. No círculo social,
mulheres de pernas à mostras e pescoços nus exibiam belas pérolas,
homens charutavam pelos salões e discutiam arte e literatura. Era
tempo de Coco Chanel, James Joyce, Ernest Hemingway, do cubismo de
Picasso, de Greta Garbo e Fred Astaire. Homossexual, ele despertou
paixões.

Nascido em 09 de junho de 1891, numa fazenda na cidade de Peru


(Indiana, EUA), desde criança foi obrigado pela mãe a estudar música.
Rica e obsessiva, Kate Porter queria fazer do filho um astro. Tanto que o
transformou num fictício menino prodígio: falsificou a certidão de
nascimento do pequeno Porter e o transformou num exímio violinista e
pianista aos 8 anos de idade. Oito? Na verdade eram 12. Frágil e
franzino, a diferença não se fazia perceber.

Respeitando a vontade do avô, o patriarca J.O. Cole, inicia faculdade de


direito em Yale, muda-se para Harvard, mas o anseio materno
prevalece. Pede transferência para a Escola de Música. Ainda em Yale,
Cole Porter fez músicas para os times de futebol, além de compor 6
musicais e 300 canções para grupos e organizações estudantis.

Naquela época, a música americana era


dominada pelos musicais feitos para teatro.
Os discos eram raros e o cinema, mudo. O
negócio então era escrever para a Broadway
e vender partituras, já que o piano era moda
nas luxuosas festas dos salões europeus. Só
a partir da década de 50 a música de Cole
Porter sairia dos palcos e das telas de
cinema para transformar-se em música
popular na voz de famosos intérpretes.

Em 1916, Cole estreou o seu primeiro


musical montado na Broadway, See America
First, um fracasso. No ano seguinte, muda-se para Paris e em 1919
casa-se com Linda Lee Thomas, fato que transformaria para sempre a
sua vida.

Viúva de um banqueiro e oito anos mais velha, manteve com Porter


uma relação singular. Ela, traumatizada pelos abusos sofridos no
casamento, era uma mulher sem interesse por homens. Ele, um
homossexual assumido. Juntos, construíram uma vida a dois, cheia de
altos e baixos, que durou 30 anos. O casal mantinha uma vida
glamourosa, dividida entre as residências de Paris e Nova York, com
idas ao teatro, noitadas e cruzeiros pelo mundo. Entre uma badalação e
outra, Porter compunha para o teatro e para o cinema. Linda tornou-se
a verdadeira musa inspiradora do gênio, para quem ele dedicou boa
parte de suas composições. E permaneceram juntos até a morte dela,
em 1954, vítima de doenças pulmonares provocadas pelo fumo
desmedido. Linda abandonou Porter apenas por um breve período,
cansada dos romances que ele mantinha com jovens artistas nas
chamadas 'casas de encontro', muito comuns na época - fatos que, pela
harmonia de seu casamento, ela fingia ignorar.

Foi Linda a grande incentivadora do talento do marido. Em Paris, Porter


tocava em festas organizadas pela esposa, onde era ouvido por nomes
como Picasso, Nijinsky, Fitzgerald e Hemingway. E com a ajuda da
mulher, estréia em 1928 o seu primeiro grande musical de sucesso na
Broadway, Paris. Nos anos 30, permaneceu na Broadway ao lado das
grandes estrelas do teatro. Nas décadas de 40 e 50, escreveu canções
de cinema para musicais com Fred Astaire, Judy Garland, Gene Kelly,
Frank Sinatra, Grace Kelly, Rita Hayworth e outras estrelas de
Hollywood.

O sucesso dos seus musicais e as canções que criou para os filmes da


época de ouro de Hollywood tornaram-no um dos maiores nomes da
música popular americana e um dos mais conhecidos do mundo. A
produção foi vastíssima e inclui clássicos como 'Night and day', 'Beguin
the beguine' (gravado por Gal Costa), 'My heart belongs to daddy',
''Anything Goes'', 'Don't fence me in', , ''I've Got You Under My Skin'',
'Get Out Of Town' (gravado por Caetano Veloso), 'I Get a Kick Out of
You', 'Just One of Those Things', 'What Is This Thing Called Love?', 'Love
for Sale', 'I Love Paris', entre outros. Entre os musicais da Broadway,
destacam-se 'The New Yorkers' (1930), 'Gay Divorce' (1932), 'Anything
Goes' (1934), 'Jubilee' (1935), 'Kiss me Kate' (1948), entre outros.

Em 1937, um acidente afetaria a sua vida para sempre. Quebra as duas


pernas ao cair de um cavalo, o que lhe causaria dores agudas pelo resto
da vida. Nos vinte anos seguintes, o compositor foi submetido a mais de
30 cirurgias e, mesmo numa cadeira de rodas, continuou compondo. As
cirurgias não impediram que sua perna direita fosse amputada em
1958. Porter abandona, então, a vida social e torna-se um recluso. Em
depressão, pára de tocar e compor, torna-se alcóolatra e decadente.
Morre na solidão, em 15 de outubro de 1964, num hospital da
Califórnia.

Cenas de cinema

Ao som de Night and Day,Fred Astaire canta para Ginger Rogers em A


Alegre Divorciada (The Gay Divorcee, 1932).

Ao som de Easy to Love, James Stewart e Eleanor Powell cantam


passeando de mãos dadas em Nasci para Dançar (Born to Dance,
1936).

Ao som de Begin the Beguine, Astaire e Powell dançam sobre o chão


espelhado em Melodia da Broadway (Broadway Melody, 1940).

Ao som de From This Moment On, Tommy Rall, Bobby Van e Bob Fosse
dançam com Ann Miller e Carol Hainey em Dá-me um Beijo (Kiss me
Kate, 1953).

Bing Crosby canta I Love You, Samantha para Grace Kelly em Alta
Sociedade (High Society, 1956).

Frank Sinatra também canta para Grace no mesmo filme. A


música:Sensational.

Astaire canta All of You para Cyd Charisse em Meias de Seda (Silk
Stockings, 1958).

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