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Mel Weitsman
Michael Wenger
8 de Abril de 1999
Aniversário de Buda
9
10
INTRODUÇÃO
Mel Weitsman
2
O TEMPEH é uma comida originária da Indonésia, feita a partir de uma
massa de soja parcialmente cozida, parcialmente fermentada e que é
usada como ingrediente principal de várias receitas. (N.T.)
13
no ar uma maravilhosa sensação de pioneirismo. O 禅 ZEN era a
meditação sentada, as cerimônias e o trabalho. Esta combinação
fez com que a prática proporcionasse uma sensação de
integridade. Encontrávamos-nos nas montanhas construindo um
monastério apenas com nossas mãos. Sentíamos-nos
imensamente agradecidos por este lugar, por cada um de nós,
por nosso mestre e por todas as pessoas que apoiavam nosso
esforço. Também sentíamos que não só estávamos fazendo algo
por nós, mas também para os demais.
Ainda que 鈴木 老師 SUZUKI RŌSHI tenha estudado inglês
durante muitos anos no Japão, demorou vários anos até que
conseguisse se comunicar com fluência na América. Durante os
doze anos em que esteve neste país, foi dominando cada vez
melhor o idioma, ainda que freqüentemente tivesse que ficar
procurando a expressão que justamente correspondesse a seu
pensamento, até que finalmente a encontrasse. Mas inclusive
enquanto a procurava, era sempre eloqüente. Na verdade, houve
um caso em que uma pessoa que o ouviu dar uma palestra em
japonês e outra em inglês no mesmo dia, achou que a preleção
em inglês havia sido mais inovadora e convincente, talvez até
pelo fato do inglês não ser sua língua materna.
鈴 木 老 師 SUZUKI RŌSHI deu centenas de palestras.
Falando mais formalmente, uma palestra era uma espécie de
apresentação informativa, ao passo que um 提唱 TEISHŌ oferece
o próprio Dharma do mestre ou sua compreensão direta, usando
freqüentemente um 公案 KOAN ou um texto. 鈴木 老師 SUZUKI
RŌSHI raramente utilizava um texto, apesar de que com
freqüência citasse algum. As preleções de um mestre 曹洞 SŌTŌ
podem ser uma mescla na qual o mestre dá a palestra e também
expressa sua própria interpretação de determinado texto, como é
o caso de 鈴木 老 師 SUZUKI RŌSHI nesta obra. Durante a
preleção os estudantes estão sentados com as pernas cruzadas
na postura de 座禅 ZAZEN sem apoiar as costas em nada, com a
14
coluna alinhada e a mente aberta. É costume que o mestre dê
uma preleção toda a semana e às vezes até com maior
freqüência. Durante os compridos retiros, chamados
攝心 SESSHIN, 鈴木 老師 SUZUKI RŌSHI falou diariamente, e
em algumas ocasiões, mais de uma vez no mesmo dia.
鈴木 老師 SUZUKI RŌSHI pertencia a linha de transmissão
do mestre 禅 ZEN 道 元 DŌGEN (1200-1253) e se havia
comprometido a introduzir a forma de praticar de 道元 DŌGEN no
Ocidente. Ainda que recomendasse o estudo dos numerosos
textos de 道 元 DŌGEN (naquela época apenas uns poucos
haviam sido traduzidos), o que para ele era mais importante era o
espírito de 道元 DŌGEN. Da mesma forma que 道元 DŌGEN,
鈴木 老師 SUZUKI RŌSHI não considerava que o 禅 ZEN fosse
um ensinamento ou uma prática distinta do Buddhadharma3 ou
que a escola 曹洞 SŌTŌ do 禅 ZEN fosse superior ou inferior a
qualquer outra. Descreveu nossa Via como o Hīnayāna,
(o Pequeno Veículo), praticado com uma mente Mahāyanā
(o Grande Veículo).
Em meados dos anos sessenta começamos a gravar as
preleções de 鈴木 老師 SUZUKI RŌSHI. Naquela época, ele ia
visitar os pequenos grupos 禅 ZEN afiliados ao Centro Zen que
havia em Mill Valley e Los Altos. Estava decidido a converter
algumas palestras que havia dado em Los Altos na base de um
livro, para que um número maior de pessoas pudesse conhecer
seus ensinamentos. Estas preleções se converteram no material
bruto utilizado para escrever a famosa obra “Zen Mind,
3
Os termos em sânscrito foram grafados em itálico, com os sinais
diacríticos mais comuns, que ajudam a obter uma compreensão melhorada
de sua pronúncia. (N.T.)
15
Beginner’s Mind” 4 , traduzida para vários idiomas e que na
atualidade está a ponto de chegar a sua quadragésima edição
em inglês. Nestas espontâneas palestras tratou de muitos temas.
Mas fundamentalmente sua mensagem foi a de como podemos
nos desprender de nosso egocentrismo e nos estabelecer na
大心 DAISHIN ( a Grande Mente ou grande eu), como praticar
de uma maneira formal e como aplicar e encontrar nossa prática
na informalidade de nossa vida cotidiana. A parte do título “Mente
de Principiante”, refere-se à singela atitude de simplesmente
estar presente a cada momento, aceitando a realidade não dual
de cada momento com uma mente clara e aberta, procurando
não cair em opiniões dualistas nem em idéias falsas e
permanecendo aberto a qualquer possibilidade.
As palestras foram gravadas por Marian Derby, que dirigia o
grupo 禅 ZEN de Los Altos e que teve a idéia de escrever este
livro. As transcrições foram revisadas por Trudy Dixon, uma
discípula muito próxima, e Richard Baker, que sucedeu a
鈴木 老師 SUZUKI RŌSHI convertendo-se no segundo abade do
Centro 禅 ZEN. Os editores de “Mente Zen, Mente de
principiante” recolheram as partes mais interessantes e únicas
das palestras de Los Altos e as publicaram em capítulos curtos.
Cada capítulo constitui uma jóia de sabedoria.
As preleções sobre o 參同会 SANDŌKAI, apresentam, ao
contrário, um contexto dos ensinamentos totalmente distinto e
portanto emanam uma sensação muito diferente. Nesta ocasião,
鈴木 老師 SUZUKI RŌSHI dedicou-se a falar sobre um antigo
poema chinês, linha por linha, palavra por palavra, durante umas
seis semanas (de 27 de maio a 06 de julho de 1970). O
參同会 SANDŌKAI de 石頭 希遷 SEKITŌ KISEN é cantado na
liturgia do Centro 禅 ZEN e também nos monastérios japoneses
4
Editada em português como “Mente Zen, Mente de Principiante”, Editora
Palas Athena, 1994. (4ª edição – 2002) (N.T.)
16
da tradição 曹洞 SŌTŌ. 鈴木 老師 SUZUKI RŌSHI quis que o
compreendêssemos com clareza. Para ele foi uma tarefa
prazerosa. Colocou uma placa de ardósia junto a seu assento e
no decorrer das preleções foi escrevendo e explicando os
ideogramas chineses. (Para que a leitura ficasse mais amena
foram eliminadas quase todas as detalhadas explicações de
鈴木 老師 SUZUKI RŌSHI sobre cada ideograma chinês). 5 As
preleções vespertinas se davam no 禅堂 ZENDŌ. À noite fazia
tanto calor que quando nos levantávamos, o 坐蒲 ZAFU estava
empapado de suor.
鈴 木 老 師 SUZUKI RŌSHI deu no total doze preleções
sobre o 參同会 SANDŌKAI aos estudantes de Tassajara. Nesta
obra foi incluída uma preleção a mais que corresponde a que foi
dirigida a um grupo de estudantes de filosofia que foram visitar o
Centro, a qual adota uma forma de resumo ou perspectiva geral.
Também foi incluída uma pequena preleção que foi dada uma
manhã durante uma sessão de 座禅 ZAZEN.
Como estas preleções foram dadas em seqüência, foram
mais difíceis de publicar do que as de “Mente Zen, Mente de
Principiante”. A voz das preleções sobre o 參同会 SANDŌKAI
nem sempre soa como a voz de “Mente Zen, Mente de
Principiante”, em parte porque 鈴木 老師 SUZUKI RŌSHI fala
aqui sobre um texto, mas também pelo enfoque que os editores
deram ao apresentá-lo. A princípio queríamos que o texto fosse o
mais fiel possível ao original, mas a medida em que íamos
trabalhando com as preleções nos dávamos conta que às vezes
o relato textual devia ser modificado para que fosse coerente.
5
O que certamente constitui um empobrecimento da obra, e que na
medida do possível procurei desfazer nesta tradução, colocando a maioria
dos termos chineses e japoneses também em ideogramas, o que não foi
feito no original. (N.T.)
17
鈴木 老師 SUZUKI RŌSHI de vez em quando apresentava os
mesmos temas durante uma série de preleções, mas nem
sempre o fazia com o mesmo enfoque. Por isso os editores
tiveram que escolher dentre as diferentes formas em que
começou uma frase em distintas ocasiões. Às vezes tiveram que
preencher os vazios que apareciam entre frases vagas ou
expressas com pouca clareza. E com certa freqüência também
tiveram que decidir se deixavam sem correção uma frase
expressa com a forma de falar peculiar de 鈴木 老師 SUZUKI
RŌSHI ou se a corrigiam para que a frase fosse mais clara e
coerente.
鈴木 老師 SUZUKI RŌSHI também inventava suas próprias
frases para se expressar de uma forma menos dualista. Por
exemplo, podia usar a frase “As coisas tal como é” para
expressar a natureza fundamental da realidade, algo que está
além das palavras. Mas também usava a frase “As coisas tal
como são” para se referir à nossa habitual forma diferenciadora e
dualista de pensar e perceber (bom/mau, correto/incorreto). Em
“As coisas tal como é”, ao usar o singular e o plural na mesma
frase, fazia que nossa corriqueira forma de pensar se ampliasse.
Também foi inventada a palavra “independency”, que foi
utilizada para expressar a natureza dependente, e ao mesmo
independente de nossa vida. Quando em certa ocasião perguntei
a ele sobre isso e lhe disse que em inglês havia as palavras
“independent” (independente), “dependent” (dependente) e
“interdependent” (interdependente), mas que nunca havia
ouvido a palavra “independency”, ele se pôs a rir e me disse que
somos totalmente independentes e, ao mesmo tempo, totalmente
dependentes. Se alguém crê ser totalmente independente,
incorre num erro. E se crê ser totalmente dependente, também se
equivoca. Aparentemente a palavra adequada neste caso seria
“interdependent” (interdependente), mas 鈴 木 老 師 SUZUKI
RŌSHI usou “independency” para expressar esta qualidade
18
ambivalente. Disse que o segredo do 曹洞 禅 SŌTŌ ZEN era:
“Sim, mas...”
Procuramos fazer a edição de forma que a linguagem de
鈴木 老師 SUZUKI RŌSHI fosse a mais clara e fluida possível
sem modificar ou trair sua forma pessoal de se expressar. Numa
preleção 禅 ZEN - um 提唱 TEISHŌ - a presença do orador influi
poderosamente na experiência do estudante. Os editores ao
trabalhar somente com as palavras devem tentar acima de tudo
não passar por cima desta qualidade ambivalente quando ela
ocorre e não eliminá-la em favor de uma apresentação
gramaticalmente perfeita. Com freqüência, as expressões pouco
convencionais de 鈴 木 老 師 SUZUKI RŌSHI exercem mais
impacto do que se ele houvesse se expressado de forma
“correta”.6
Em vários casos conservou-se o uso que 鈴木 老師 SUZUKI
RŌSHI fazia dos pronomes masculinos. Ainda que procedesse
de uma cultura que tradicionalmente favorecia os homens, ele era
inusitado no sentido de que se esforçava muito em respeitar
igualmente a prática dos homens e das mulheres sem discriminá-
las em absoluto. Também respeitava os valores de longa tradição
e a relação que existe entre as mulheres e os homens. Ainda que
em suas preleções normalmente usasse o “ele” ao se referir a um
estudante, fazia-o assim simplesmente porque naqueles tempos
era costume, já que freqüentemente dizia que ainda que
fossemos um homem ou uma mulher, deveríamos ser totalmente
nós mesmos, e que quando cada um é o que é, o 禅 ZEN é o
禅 ZEN.
6
Esta tradução procurou manter este espírito, principalmente tentando
manter ao máximo o clima coloquial que “tempera” estas preleções. (N.T.)
19
鈴木 老師 SUZUKI RŌSHI faleceu em 04 de dezembro de
1971 de um câncer, um ano e meio depois de oferecer seus
ensinamentos sobre o 參同会 SANDŌKAI. Tinha sessenta e sete
anos. Quando disse que os mestres da tradição 曹洞 禅 SŌTŌ
ZEN davam as preleções sobre o 參同会 SANDŌKAI no ocaso de
suas vidas, devia pressentir que ia morrer proximamente.
20
石頭 希遷 SEKITŌ KISEN
e o 參同会 SANDŌKAI
7
Em chinês tradicional, 廣東. (N.T.)
8
Em japonês, 菩提達摩 BODAIDARUMA, Putidamo em chinês.
(N.T.)
21
Foi também durante este período que o 禅 ZEN ficou conhecido
por destacar a experiência direta da realidade e a prática da
meditação sentada. Mas surgiram disputas sectárias entre a
Escola 禅 ZEN do Norte, que ensinava a doutrina de uma prática
gradual e paulatina, e a Escola 禅 ZEN do Sul, que ensinava que
a obtenção da Iluminação é súbita e imediata. Cresceram os
debates acerca de qual linhagem era superior. Do ponto de vista
atual, as diferenças entre as duas escolas parecem exageradas,
já que ambas enfatizavam tanto uma realização abrupta como
uma constante cultivação, sobretudo através da meditação
sentada. Na realidade, a Escola do Norte originalmente foi muito
popular e influente, mas ao cabo de várias gerações sua
influência e identidade como escola distinta foram decaindo.
Não se sabe grande coisa da vida de 石 頭 SEKITŌ. O
primeiro evento registrado é um encontro que teve, com a idade
de doze anos, com 大鑑 慧能 DAIKAN ENŌ (em chinês, Dajian
Huineng, 638-713), o Sexto Patriarca. Quando este precoce
jovenzinho se aproximou de 慧 能 ENŌ, o mestre lhe disse
zombeteiro: “Se você se converter em meu discípulo, ficará [tão
feio] como eu”. 石頭 SEKITŌ sorriu e respondeu: “De acordo”. Ao
cabo de dois anos era um dos discípulos presentes no leito de
morte de 慧能 ENŌ.
Aparentemente, 石頭 SEKITŌ se dedicou basicamente a
praticar sozinho nos quinze anos seguintes e depois deste
período decidiu estudar com 青 原 行 思 SEIGEN GYŌSHI
(Quingyuan Xingsi, 660-740), um dos principais discípulos de
慧能 ENŌ. Depois de entabular seu primeiro diálogo com ele,
青原 SEIGEN disse de seu novo discípulo: ”No meu grupo já
tenho muitos animais de dois cornos, mas tudo o que eu
precisava era de um unicórnio”.
No ano 742, 石頭 SEKITŌ construiu uma choça sobre uma
grande saliência rochosa do Monte 衡山 Hengshan, na província
22
de 湖南 Hunan. O nome de 石頭 SEKITŌ, que significa “cabeça
de pedra”, vem de ficar sentado em 座禅 ZAZEN na saliência
rochosa. 永 平 道 元 EIHEI DŌGEN, que introduziu o
曹洞 禅 SŌTŌ ZEN no Japão cinco séculos mais tarde, escreveu
o seguinte sobre 石頭 SEKITŌ:
9
Deuses dos paraísos celestiais. (N.T.)
23
“Você logrou alcançá-lo?”, inquiriu 道悟 DŌGO.
“Eu não compreendo o Buddhadharma”, respondeu
石頭 SEKITŌ.
10
Terra Pura: 浄土 JŌDO. Nos séculos I e II d. C., a especulação
Mahāyāna desenvolveu uma cosmologia que era muito mais extensa
do que qualquer outro tema discutido nos primeiros tempos do
Budismo. Os Mahāyanistas propunham a existência de mundos sem
fim, cada um dos quais albergava Buddhas e Bodhisattvas. Estes
“territórios de Buddha” são reinos paradisíacos e cada um deles é
presidido por um Buddha, sendo o mais célebre o paraíso ocidental
conhecido por Sukhavati (極楽 GOKURAKU), a terra “feliz” ou “pura”.
Esta é a morada do Buddha Amitabha 阿弥陀仏 AMIDA-BUTSU ou
無量光仏 MURYŌKŌBUTSU. Trata-se de um paraíso onde “não há
dores físicas nem mentais, cheio de deuses e de homens que nunca
renascem exceto como Bodhisattvas.” (N.T.)
24
Falava-se na época que um monge seguiria sendo um
ignorante a não ser que visitasse o Sul do Lago, o lugar onde
vivia mestre 石頭 SEKITŌ, e o Oeste do Rio, o lugar onde vivia
mestre 馬 祖 BASO (em chinês, Mazu, 709-788). As cinco
escolas do 禅 ZEN 11 se desenvolveram a partir destes dois
11
Retornando um pouco no tempo, dentre os sucessores do Sexto
Patriarca, 南嶽 懷讓 NANGAKU EJŌ e 青原行思 SEIGEN GYŌSHI são de
especial importância para a história subseqüente do 禅 ZEN, pois a partir
de suas linhagens foram produzidas todas as posteriores tradições da
corrente chinesa, conhecidas coletivamente como “As Cinco Casas”. Estas
por sua vez são assim conhecidas:
1) 臨 濟 RINZAI (Linji), fundada por 臨 濟 義 玄 RINZAI GIGEN
(f. 866), descendente de 南嶽 懷讓 NANGAKU EJŌ; existe até
hoje.
2) 潙仰 IGYŌ (Guiyan), fundada por 潙山 靈祐 ISAN REIYU (711-
853) e seu discípulo 仰 山 慧 寂 KYŌZAN EJAKU (807-883),
também descendentes de 南嶽 懷讓 NANGAKU EJŌ. Declinou e
desapareceu após cerca de 150 anos;
3) 曹 洞 SŌTŌ (Caodong), fundada pelos descendentes de
青原 行思 SEIGEN GYŌSHI e de 石頭 希遷 SEKITŌ KISEN,
洞 山 良 价 TŌZAN RYŌKAI (807-869) e seu discípulo
曹山 本寂 SŌZAN HONJAKU (840-901). Desapareceu na China
durante a dinastia Ming (1368–1644), permanecendo ativa no
Japão até hoje;
4) 雲 門 UNMON (Yunmen), fundada por 雲 門 文 偃 UNMON
BUN’EM (864-949), também descendente de 青原 行思 SEIGEN
GYŌSHI. Depois de florescer durante séculos principalmente
entre membros da elite educada, passou por um lento processo
de decadência, desaparecendo na era Yuan (1280-1368);
5) 法眼 HŌGEN (Fayan), fundada também por um descendente de
青原 行思 SEIGEN GYŌSHI, 法眼 文益 HŌGEN MON’EKI (885-
958). Devido a tendências sincréticas, após alguns séculos
desapareceu como escola distinta, tendo sido absorvida pelas
demais.
25
grandes mestres que, em sua época, encarnaram realmente a
Via do 禅 ZEN. Ainda que não haja qualquer informação
registrada de que tenham chegado a se conhecer pessoalmente,
cada um deles enviava seus discípulos a estudar com o outro.
O seguinte exemplo mostra como se relacionavam com
藥山惟儼 YAKUSAN IGEN (em chinês, Yueshan Weiyan, 745-
828), que mais tarde se converteu num dos sucessores de
石頭 SEKITŌ. 藥山 YAKUSAN foi visitar 石頭 SEKITŌ e lhe
pediu:
“Compreendo os ensinamentos das escrituras budistas, mas
ouvi dizer que no sul [os praticantes do 禅 ZEN] se concentram
diretamente na mente humana. Percebem sua natureza e se
convertem em Buddhas. Mas não terminei de compreender. Peço
humildemente que me explique”.
石頭 SEKITŌ respondeu-lhe:
“Este método não serve e o outro tampouco adianta. Não
servem ambos e nem um só. Que tal lhe parece?”
藥山 YAKUSAN não soube o que responder.
石頭 SEKITŌ disse-lhe:
“Vá ver 馬祖 BASO.”
藥山 YAKUSAN, depois de apresentar seus respeitos a
馬祖 BASO, formulou a mesma pergunta.
馬祖 BASO respondeu-lhe:
“Às vezes consigo que “ele” arqueie as sobrancelhas e
pestaneje, e outras vezes, não. Que te parece?”
Ao ouvir estas palavras, 藥山 YAKUSAN experimentou o
Grande Despertar e se prosternou.
26
馬祖 BASO perguntou-lhe:
“Que verdade que você viu que te impulsionou a se
prosternar?”
藥山 YAKUSAN respondeu-lhe:
“Quando eu estava com 石 頭 SEKITŌ, era como um
mosquito se lançando contra um boi de ferro.”
馬祖 BASO disse-lhe:
“Já que você alcançou a Verdade, guarde-a bem dentro de ti.
Mas seu mestre é 石頭 SEKITŌ.”
27
石頭 SEKITŌ poderia ter escrito sobre ondas e partículas). O
poema, composto de quarenta e quatro versos pareados dois a
dois, segue freqüentemente a pauta de distinguir primeiro a
descontinuidade, depois a continuidade e, por último, a
complementaridade.
Um texto anterior taoista sobre o 易經 Yi Jing (I Ching) se
chamava 參同会 SANDŌKAI e o poema de 石頭 SEKITŌ faz
alusão aos temas taoistas referentes à natureza e à mudança.
Também mostra a influência da escola 華嚴 KEGON (a escola de
budismo japonês correspondente à escola chinesa Huayan, ou a
Escola do Ornamento Floral) que ensina a igualdade e a
interdependência de todas as coisas.
É evidente que para a linhagem 曹洞 禅 SŌTŌ ZEN o
參 同 会 SANDŌKAI é fundamental. O poema é cantado
diariamente nos templos da escola 曹洞 SŌTŌ de todo o mundo
e quase sempre que se celebra a cerimônia para comemorar o
aniversário da morte do fundador de um templo. Três gerações
depois de 石頭 SEKITŌ, 洞山 良价 TŌZAN RYŌKAI (em chinês
Dongshan Liangjie, 807-869), escreveu o 寶 鏡 三 昧 HOKYŌ
ZANMAI (em chinês Baojing Sanmei)12, que desenvolve idéias do
參同会 SANDŌKAI. O ensinamento dos Cinco Estágios13 também
procede do 參同会 SANDŌKAI.
13
Em japonês, 五位 GO I. Correspondem aos princípios fundamentais da
lógica 禅 ZEN, articulando os silogismos em cinco etapas sendo A o
primeiro termo, relacionado com os fenômenos (色 SHIKI), a noção de
28
obliqüidade ou de diferença; e B o segundo termo: a essência ou o vazio
(空 KŪ), a noção de retidão ou de igualdade.
Em japonês, teríamos:
I. 正中偏 SHŌ CHŪ HEN.
II. 偏中正 HEN CHŪ SHŌ.
III. 正中來 SHŌ CHŪ RAI.
IV. 兼中至 KEN CHŪ RAI.
VI. 兼中到 KEN CHŪ TŌ.
29
Gostaria de concluir este texto com o último par de versos
do 參同会 SANDŌKAI, cuja mensagem pode estar escrita no
板 HAN, a tábua de madeira com a qual se anuncia - ao ser
percutida ritmicamente - o inicio e o fim da sessão de meditação
nos templos e monastérios 禅 ZEN:
兼 KEN 中 CHŪ 到 TŌ
30
謹んで参玄さの人にもうす、
TSUTSUSHIN DE SANGEN NO HITO NI MŌSU,
光陰虚しく度ることなかれ。
KŌ IN MUNA SHIKU WATARU KOTO NAKARE.
31
Como 鈴木 老師 SUZUKI RŌSHI usava várias traduções do
參同会 SANDŌKAI disponíveis naquela época - principalmente a
de R.H. Blyth e a de Reiho Matsunaga - e também traduzia
diretamente do original em caracteres chineses, seu comentário
não corresponde a nenhuma tradução existente e nem se ajusta
por completo a qualquer uma destas enumeradas. No texto que
apresentamos a seguir foi utilizada como fonte a tradução inglesa
da 曹 洞 宗 SŌTŌ SHU (Escola SŌTŌ) Liturgy Conference
oferecida em Green Gulch Farm, em Sausalito (Califórnia) em
1997, ainda que com algumas pequenas correções. Tão pouco
encontramos um título que traduzisse perfeitamente o significado
de 參同会 SANDŌKAI. O título proposto pela 曹洞 宗 SŌTŌ SHU
Liturgy Conference é “A harmonia entre o diferente e o igual”14.
Os problemas inerentes a qualquer tradução de um texto tão
profundo recordam uma linha do 寶鏡三昧 HOKYŌ ZANMAI15: “O
significado não se acha nas palavras, mas elas encorajam àquele
que procura”.
Ainda que 鈴木 老師 SUZUKI RŌSHI não tenha feito por
completo sua própria tradução do 參同会 SANDŌKAI, em suas
14
Outras traduções possíveis:
“Harmonia entre a diferença e a igualdade”.
“Fusão da diferença e da igualdade”. (Thomas Cleary)
“Identidade do relativo e do absoluto”. (Dennis Genpo Merzel)
“Ode à identidade”. (D.T. Suzuki).
15
A citação em questão corresponde a seguinte passagem:
意不在言 來機亦赴
意言にあらざれば、來機またおもむく。
KOKORO KOTO NI ARAZAREBA, RAIKI MATA OMOMUKU.
16
Sempre que possível, os termos em japonês foram grafados em
ideogramas (漢字 KANJI) ou nos silabários auxiliares (平仮名 HIRAGANA e
片仮名 KATAKANA), seguidos da transliteração fonética ou romanização
(ローマ字 RŌMAJI) no Sistema Hepburn (ヘボン式 HEBON SHIKI), um
dos principais sistemas de romanização do japonês, desenvolvido pelo
reverendo James Curtis Hepburn para seu Japanese-English Dictionary,
editado em 1867. Este sistema foi subseqüentemente revisado e chamado
修正ヘボン式 SHŪSEI HEBON-SHIKI 修正ヘボン式. Esta versão revisada
às vezes também é chamada de 標準式 HYŌJUN-SHIKI, “estilo padrão”. A
versão original e as variantes revisadas deste sistema permanecem sendo
o mais popular método de transcrição do japonês, permitindo uma
compreensão mais exata da pronúncia do idioma. (N.T.)
17
拼 音 Pinyin significa literalmente, “colocar sons juntos”. Em chinês
geralmente se refere ao 汉 语 拼音 Hànyǔ Pīnyīn, que é o sistema de
romanização do mandarin, aprovado em 1958 e adotado a partir de 1979
33
mestres e linhagens mencionados na obra, incluímos ao final do
livro uma tabela das linhas de transmissão.
A transcrição dos caracteres do 參 同 会 SANDŌKAI em
japonês, tão habilmente realizada foi-nos brindada amavelmente
por KAZUAKI TANAHASHI. A versão chinesa do
參同会 SANDŌKAI, foi reproduzida do 大正新脩大蔵経 TAISHŌ
SHINSHŪ DAIZŌKYŌ, uma edição do cânone completo sino-
japonês publicada por 順次郎 高楠 JUNISHIRŌ TAKAKUSU e
海旭 渡部 KAIGYOKU WATANABE.18
34
35
參同会
SANDŌKAI
36
A HARMONIA ENTRE
O DIFERENTE E O IGUAL
37
A mente do grande sábio da Índia,
tem sido transmitida intimamente
de Oeste para Leste.
38
As imagens variam em qualidade e forma,
os sons podem ser prazerosos ou
desagradáveis.
39
a mesma essência,
o venerado e o vulgar se expressam
de sua própria maneira.
Na luz há obscuridade,
mas não a veja só como obscuridade.
Na obscuridade há luz,
mas não a veja só como luz.
40
Ao ouvir estas palavras, você deve
compreender seu significado;
não estabeleça suas próprias normas.
41
參同会
竺土大仙心 東西密相付
人根有利鈍 道無南北祖
霊源明皎潔 枝派暗流注
執事元是迷 契理亦非悟
門門一切境 迴互不迴互
迴而更相渉 不爾依位住
色本殊質象 聲元異樂苦
暗合上中言 明明清濁句
四大性自復 如子得其母
火熱風動搖 水濕地堅固
眼色耳音聲 鼻香舌鹹醋
42
然依一一法 依根葉分布
本末須歸宗 尊卑用其語
當明中有暗 勿以暗相遇
當暗中有明 勿以明相覩
明暗各相對 比如前後歩
萬物自有功 當言用及處
事存函蓋合 理應箭鋒哘
承言須會宗 勿自立規矩
觸目不會道 運足焉知路
進歩非近遠 迷隔山河固
謹白參玄人 光陰莫虚度
43
VERSÃO DA 曹洞宗 SŌTŌ-SHŪ EM JAPONÊS,
COM A CORRESPONDENTE
TRANSLITERAÇÃO FONÉTICA EM RŌMAJI
參同会
SANDŌKAI
竺土大仙の心、
CHIKUDO DAISEN NO SHIN,
東西密に相附す、
TŌ ZAI MITSU NI AI FUSU,
人根に利鈍あり、
NIN KON NI RIDON ARI,
道に南北の祖なし、
DŌ NI NAN BOKU NO SO NASHI,
霊源明に皓潔たり、
REI GEN MYŌ NI KŌ KETTA RI
44
支派暗に流注す、
SHIHA NA NI RUCHŪ SU,
事を執するも元これ迷い、
JI O SHŪ SURU MO MOTO KORE MAYOI,
理に契うも亦悟にあらず、
RI NI KANAU MO MATA SATORI NI ARAZU,
門門一切の境、
MON MON ISSAI NO KYŌ,
回互と不回互と、
EGO TO FU EGO TO,
回してさらに相渉る、
ESHITE SARANI AI WATARU,
しからざれば位によって住す、
SHIKARA ZAREBA KURAI NI YOTTE JŪ SU,
45
色もと質像を殊にし、
SHIKI MOTO SHITSU ZŌ O KOTONI SHI,
声もと楽苦を異にす、
SHŌ MOTO RAKKU O KOTO NI SU,
暗は上中の言に合い、
AN WA JŌ CHŪ NO KOTO NI KANAI,
明は清濁の句を分つ、
MEI WA SEI DAKU NO KU O WAKATSU,
四大の性おのずから復す、
SHIDAI NO SHŌ ONOZU KARA FUKUSU,
子の其の母を得るがごとし、
KONO SONO HAHA O URU GA GOTOSHI,
火は熱し、風は動揺、
HI WA NESSHI, KAZE WA DŌYŌ,
水は湿い、地は堅固、
MIZU WA URUOI, CHI WA KENGO,
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眼は色、耳は音声、
MANAKO WA IRO, MIMI WA ONJŌ,
鼻は香、舌は鹹酢、
HANA WA KA, SHITA WA KANSO,
しかも一一の法において、
SHIKA MO ICHI ICHI NO HŌ NI OITE,
根によって葉分布す、
NE NI YOTTE HABUNPU SU,
本末すべからく宗に帰すべし、
HON MATSU SUBE KARAKU SHŪ NI KISU BESHI,
尊卑其の語を用ゆ、
SONPI SONO GO O MOCHI YU,
明中に当って暗あり、
MEI CHŪ NI ATATTE AN ARI,
暗相をもって遇うことなかれ、
AN SŌ O MOTTE AU KOTO NAKARE,
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暗中に当って明あり、
AN CHŪ NI ATATTE MEI ARI,
明相をもって覩ることなかれ、
MEI SŌ O MOTTE MIRU KOTO NAKARE,
明暗おのおの相対して、
MEI AN ONO-ONO AITAI SHITE,
比するに前後の歩みのごとし、
HISU RUNI ZENGO NO AYUMI NO GOTOSHI,
万物おのずから功あり、
BANMOTSU ONOZUKARA KŌ ARI,
当に用と処とを言うべし、
MASANI YŌ TO SHO TO O IU BESHI,
事存すれば函蓋合し、
JI SON SUREBA KANGAI GASSHI,
理応ずれば箭鋒さそう、
RI Ō ZUREBA SENPŌ SASŌ,
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言を承てはすべからく宗を会すべし、
KOTO O UKETE WA SUBE KARAKU SHŪ O ESU BESHI,
みずから規矩を立することなかれ、
MIZUKARA KIKU O RISSURU KOTO NAKARE,
触目道を会せずんば、
SOKU MOKU DŌ O ESSE ZUNBA,
足を運ぶもいずくんぞ路を知らん、
ASHI O HAKOBU MO IZU KUN ZO MICHI O SHIRAN,
歩をすすむれば近遠にあらず、
AYUMI O SUSU MUREBA GON NON NI ARAZU,
迷て山河の固をへだつ、
MAYŌTE SEN GA NO KO O HEDATSU,
謹んで参玄さの人にもうす、
TSUTSUSHIN DE SANGEN NO HITO NI MŌSU,
光陰虚しく度ることなかれ。
KŌ IN MUNA SHIKU WATARU KOTO NAKARE.
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Como esta versão corresponde à utilizada nas
liturgias da 曹洞宗 SŌTŌ-SHŪ, está acompanhada
das marcações dos sinos que são percutidos
durante a leitura.
GATSU
KESU
KORIN
50
51
PRIMEIRA PRELEÇÃO
52
53
竺土大仙心
竺土大仙の心、
CHIKUDO DAISEN NO SHIN,
東西密相付
東西密に相附す。
TŌ ZAI MITSU NI AI FUSU.
54
numerosos discípulos do Sexto Patriarca, os mais destacados
foram 青原 行思 SEIGEN GYŌSHI e 南嶽 懷讓 NANGAKU EJŌ.
Mais tarde, o mestre 洞山 良价 TŌZAN RYŌKAI continuou a
linhagem de 青原 SEIGEN como escola 曹洞 SŌTŌ e o mestre
臨濟 義玄 RINZAI GIGEN (em chinês, Linji Yixuan), continuou a
linhagem de 南 嶽 NANGAKU como escola 臨 濟 RINZAI. As
escolas 曹洞 SŌTŌ e 臨濟 RINZAI acabaram sendo as escolas
mais influente do 禅 ZEN.
As formas de agir de 青原 SEIGEN e de 石頭 SEKITŌ foram
mais suaves que a de 南嶽 NANGAKU. No Japão a chamamos
de forma de atuar própria do irmão maior. A de 南嶽 NANGAKU é
mais parecida com a forma de agir do segundo ou terceiro filho,
que podem ser mais travessos. O irmão maior talvez não seja tão
hábil ou brilhante, mas é muito doce. Ao falar das escolas,
曹洞 SŌTŌ ou 臨濟 RINZAI, consideramos-nas deste modo. Às
vezes, o 曹洞 禅 SŌTŌ ZEN é denominado NENMITSU NO
KAFU, “um estilo muito cuidadoso e de consideração”. O método
de 青原 SEIGEN consiste em encontrar tudo quanto existe no
interior de alguém. Em realizar a grande mente que tudo inclui e
praticar de acordo com tudo isso.
Nosso esforço no 禅 ZEN se baseia em observar tudo tal
qual é. E, sem embargo, ainda que digamos que devemos fazê-lo,
não significa forçosamente que observemos tudo tal como é.
Dizemos “Aqui está meu amigo, ali está a montanha e no alto do
céu, a lua”. Mas seu amigo não é apenas seu amigo, a montanha
não é só a montanha e a lua não é só a lua. Se pensarmos “eu
estou aqui e a montanha esta ali”, estamos observando as coisas
de uma maneira dualista. Para ir a São Francisco temos que
cruzar as montanhas de Tassajara. Assim é como normalmente
compreendemos. Mas no Budismo as coisas não são observadas
assim, pois encontramos a montanha, a lua, nosso amigo ou São
Francisco em nosso interior. Aqui mesmo. Esta é a grande mente
que tudo contém.
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Analisemos agora o título 參 同 会 SANDŌKAI. 參 SAN
significa literalmente “três”, mas aqui quer dizer “fenômenos”.
同 DŌ é a identidade. Identificar uma coisa com outra é 同 DŌ.
Também se refere à unidade, ou a “um único Ser”, que aqui
significa “mente maravilhosa” ou “grande mente”. Ou seja, que se
interpreta que há um único Ser que inclui tudo e que a
multiplicidade de fenômenos está incluída nele. Ainda que
digamos “muitos seres”, estes são na realidade as numerosas
partes que compõe este único Ser que tudo inclui. Se dizemos
“muitos”, são muitos, e se dizemos “um”, é um. “Muitos” e “um”
são duas formas distintas de descrever o único Ser. 会 KAI
significa “dar a mão”. Uma sensação de amizade. Sentir que dois
amigos são uma só pessoa. Do mesmo modo, este único e
grande Ser e a multiplicidade de fenômenos são bons amigos,
porque originalmente são um só. 会 KAI é como dar a mão a
alguém, como dizer “Ola! Como Vai?” O título do poema significa
isto. O que é muitos? O que é um? E o que é a unidade do
múltiplo e do um.
Originalmente, 參同会 SANDŌKAI foi o título de um livro
taoista. 石頭 SEKITŌ pôs o mesmo título em seu poema, que
descreve o ensinamento de Buddha. Que diferença há entre os
ensinamentos taoistas e os ensinamentos budistas? Ambos
guardam muitas similitudes. Quando um budista os lê, é um texto
budista, e quando um taoista os lê, é um texto taoista. Mas na
realidade são o mesmo. Quando um budista come uma verdura,
é uma comida budista e quando um vegetariano come a mesma
classe de verdura, é uma comida vegetariana. Mas a verdura
continua sendo apenas comida.
Em nossa qualidade de budistas, não comemos uma
determinada verdura por que ela tenha alguma propriedade
nutritiva especial nem a escolhemos porque seja 陰 yin ou
陽 yang, ácida ou alcalina, mas pelo fato de que comer é
simplesmente nossa prática. Não comemos apenas para subsistir.
Como dizemos na invocação que entoamos antes das refeições:
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