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CÓSMICA
COORDENAÇÃO E SUPERVISÃO
BIBLIOTECA ROSACRUZ
ISBN - 85-317-0152-X
Dedicatória..................................................................................................9
O Homem e o Livro................................................................................... 11
Nota........................................................................................................... 20
Lista de Algumas das Obras Citadas ou Mencionadas Neste Livro........21
PARTE I
Primeiras Palavras....................................................................................35
PARTE II
Evolução e Involução.
Capítulo
1 Rumo à Autoconsciência...............................................................53
2 No Plano da Autoconsciência....................................................... 57
3 Involução.......................................................................................85
PARTE III
PARTE IV
Capítulo
PARTE V
Capítulo
1 O Crepúsculo...............................................................................293
2 Moisés.......................................................................................... 295
3 Gideão (Apelidado Jurubbaal).................................................... 299
4 Isaías............................................................................................ 301
5 O Caso de Lí R .............................................................................303
6 Sócrates........................................................................................ 309
7 Roger Bacon.................................................................................311
8 Blaise Pascal................................................................................315
9 Benedictus Spinoza.....................................................................319
10 Coronel James Gardiner..............................................................325
11 Swedenborg..................................................................................327
12 William Wordsworth...................................................................329
13 Charles G. Finney....................................................................... 331
14 Alexander Pushkin.......................... ........................................... 335
15 Ralph Waldo Emerson.................................................................337
16 Alfred Tennyson.......................................................................... 339
17 J. B. B........................................................................................... 343
18 Henry David Thoreau..................................................................345
19 J. B................................................................................................349
20 C. P ...............................................................................................351
21 O Caso de H. B. em suas Próprias Palavras................................357
22 R. P S........................................................................................... 363
23 E .T .............................................................................................. 367
24 Caso de Ramakríshna Paramahansa.......................................... 369
25 Caso de J. H. H.............................................................................373
26 T. S. R...........................................................................................375
27 W .H .W .......................................................................................377
28 Richard Jefferies.......................................................................... 379
29 Caso de C. M, C., nas Próprias Palavras Dela............................385
30 O Caso de M. C. L., nas Próprias Palavras D ele....................... 393
31 Caso de J. W. W., Principalmente nas Próprias Palavras D ele... 397
32 O Caso de J. William Lloyd, nas Próprias Palavras Dele...........409
33 Horace Traubel............................................................................. 413
34 O Caso de Paul Tyner, em Suas Próprias Palavras.................... 421
35 O Caso de C. Y. E., nas Próprias Palavras D ela........................ 429
36 O Caso de A. J. S......................................................................... 433
PARTE VI
Biblioteca Rosacruz.................................................................................457
DEDICATÓRIA DA
PRIMEIRA EDIÇÃO
8 de dezembro de 1900
Querido Maurice:
SEU PAI
Algumas vezes acontece que, na maré de livros que continuamente vêm
e vão, um deles não desaparece juntamente com seus contemporâneos e,
devido a algo que contém, ou algo que é, subsiste para uma outra geração -
ou mesmo além disso - respondendo de algum modo a alguma real
necessidade humana.
A viagem até Salt Lake durou cinco meses e lá o jovem Bucke sacou seu
pagamento acumulado de todo aquele tempo e decidiu seguir adiante com
alguns outros. Os aventureiros cruzaram as Montanhas Rochosas pelo South
Pass e logo viram que sua jornada era muito mais emocionante e perigosa,
pois os bandos errantes de índios que encontraram ressentiram-se da presença
de homens brancos e os atacaram assim que os viram. Eles tiveram de abrir
caminho lutando, de acampamento a acampamento, até ficarem reduzidos a
seus últimos cartuchos. Então, não somente sua munição havia acabado,
mas também suas provisões; assim sendo, Bucke e um companheiro viajaram
as últimas 150 milhas comendo somente farinha mexida em água quente,
até que cambalearam para um posto de comércio na montanha e desfaleceram.
Depois de descansarem ali por algum tempo, reiniciaram a viagem, cruzaram
o Grande Deserto Americano em direção ao Rio Carson e finalmente
alcançaram o Gold Canyon.
Por um ano Richard Maurice Bucke viveu como mineiro de ouro, numa
comunidade de cerca de 100 homens brancos espalhados em 1.600 milhas
quadradas de território sem leis, sem tribunais, sem igreja nem escola.
Conheceu e se tomou amigo dos irmãos Grosh e de seu sócio, chamado
Brown, que haviam descoberto as grandes jazidas de prata conhecidas mais
tarde como Comstock Lode, mas que mantinham sua descoberta em segredo
enquanto continuavam com a prospecção de mais prata. Mas um revés os
surpreendeu: Brown e um dos Grosh faleceram e o outro irmão, Allan, seguiu
com Bucke pelas montanhas, embora fosse invemo, na tentativa de alcançar
a costa. Foi uma experiência terrível; Allan Grosh morreu no caminho e
Bucke, com ambos os pés congelados, foi resgatado no último minuto por
um grupo de mineiros. O resultado foi que Bucke precisou ter um dos pés
completamente amputado e uma parte do outro e que, após um inverno inteiro
de cama, ele voltou à vida, na flor de seus 21 anos, tão gravemente mutilado
que pelos restantes 40 anos de sua vida nunca esteve livre de dores por mais
de algumas horas de cada vez.
Mas Richard Maurice Bucke era tudo menos um mero profissional. Num
dos lados de seu cérebro era um cientista objetivo, ao passo que no outro era
um homem de faculdade de imaginação altamente desenvolvida e dotado de
memória extraordinária, especialmente para poesia - de que sabia livros
inteiros de cor. Sua carreira profissional foi notável. Em 1876 foi nomeado
Superintendente do Provincial Asylum for the lnsane, recém-construído em
Hamilton, Ontário; em 1877, do London (Ontario) Hospital. Tomou-se um
dos mais destacados alienistas do continente, introduzindo muitas reformas
em procedimentos que, embora considerados na época perigosamente radicais,
são hoje corriqueiros. Em 1882 tomou-se Professor de Doenças Mentais e
Nervosas na Western University (London, Ontário). Em 1888 foi eleito
Presidente da Psychological Section da British Medicai Association e em
1890 Presidente da American Medico-Psychological Association.
Horace Traubel nos deu uma idéia do que Whitman pensava de Bucke,
como homem e como médico (Bucke tratou de Whitman profissionalmente
e, segundo o poeta acreditava, salvou-lhe a vida). “Alguém esteve aqui outro
dia e se queixou de que o Médico era rigoroso demais. O Sol também é
rigoroso; e quanto a mim - não sou rigoroso?” E: “É bonito vê-lo em seu
trabalho - como lida com pessoas difíceis de modo tão afável”; e ainda:
“Bucke é um homem que gosta de estar ocupado... é rápido na ação, lúcido,
seguro, decidido”. E comparando Bucke com Sir William Osier: “Osier
também tem suas qualidades, grandes qualidades, mas, no final das contas,
o verdadeiro homem é o Doutor Bucke. Ele está acima de todos”.
Quatro anos mais tarde, o próprio livro Consciência Cósmica foi publicado
por Messrs. Innes o f Philadelphia, numa edição limitada de 500 exemplares.
Embora Bucke tenha vivido mais db que seu amigo e ídolo, Whitman, não
viveu o suficiente para ver o sucesso de seu próprio livro; pois, numa noite
do inverno seguinte - 19 de fevereiro de 1902, para sermos exatos - depois
de voltar para casa com sua esposa, da noite que haviam passado na casa de
um amigo, Bucke foi à varanda antes de se deitar, para dar mais uma olhada
nas estrelas - que naquela noite estavam excepcionalmente brilhantes no
claro céu de inverno; escorregou num pedaço de gelo, bateu violentamente a
cabeça contra uma coluna da varanda e caiu. Quando foi erguido já estava
sem vida.
Durante seus anos de formação, quando a maioria dos homens tem sua
originalidade reprimida e suas opiniões padronizadas pelas rotinas de escola
e colégio, Bucke esteve em briga com a vida real e com isto se tomou um
tanto herege. Passou a última noite de sua vida discutindo os indícios a favor
da autoria baconiana das peças e poesias de Shakespeare, questão que
firmemente mantinha do lado heterodoxo. Era um brilhante polemista quando
estava predisposto a isto, sua espantosa memória permitindo-lhe citar páginas
inteiras de autoridades para apoiar seus pontos de vista - chega-se a dizer
que ele podia repetir de cor o livro inteiro de Walt Whitman, Leaves o f
Grass - o que não é nenhum feito medíocre.
Bucke argumentava que esses novos sentidos devem ter começado como
esporádicos, casos isolados da nova consciência em uns poucos indivíduos;
depois devem ter se espalhado gradualmente com o passar das gerações, até
que quase todas as raças civilizadas agora os possuem - embora absolutamente
não com a mesma totalidade ou ao mesmo grau. Mesmo hoje, os bosquímanos
da África e os aborígines da Austrália são totalmente desprovidos deles.
Deve-se notar que este livro está impresso em três tamanhos de letras: no
maior, a parte escrita pelo autor, bem como certas citações curtas que são
indicadas por aspas da maneira usual; os excertos de escritores que alcançaram
a Consciência Cósmica e de outros escritores a respeito deles estão impressos
em tipo de tamanho médio e neste caso não foi considerado necessário usar
aspas, pois todo assunto impresso neste tipo é indicado e os respectivos autores
são devidamente reconhecidos, cada qual com sua parte; o tipo menor é
usado para passagens paralelas e comentários; neste caso as aspas são usadas
da maneira comum.
LISTA DE ALGUMAS DAS OBRAS CITADAS
OU MENCIONADAS NESTE LIVRO
1. Anderson, A.A. Twenty Five Years in a Wagon (Vinte Cinco Anos num Vagão).
Chapman & Hall, Londres, 1888.
4. Balzac, Honoré de. A Memoir o f (Balzac, Honoré de. Uma Biografia de), por K.
P. Wormley. Robert Bros., Boston, 1892.
9. Balzac, Honoré de. The Exiles (Os Exilados). No mesmo livro com 7.
10. Bíblia. Comparada com as mais antigas autoridades e revisada. University Press,
Oxford, 1887. (Na tradução: A BÍBLIA SAGRADA, traduzida em português por
João Ferreira de Almeida - Imprensa Biblica Brasileira, 1954).
28a. Bucke, Richard Maurice. Man’s Moral Nature (A Natureza Moral do Homem).
G.P. Putnam’s Sons, Nova York, 1879.
30. Bum ouf, E. Le Lotus de la Bonne Loi (O Lótus da Boa Lei). L’Imprimerie
Nationale, Paris, 1852.
30a. Bacon, Roger E. Sa vie, ses ouvrages, ses doctrines (Sua Vida, suas Obras, suas
Doutrinas). Por Emile Charles, Hachette, Paris, 1861.
31. Butler, Alban. The Lives of Fathers, Martyrs and other Principal Saints (A Vida
de Padres, Mártires e outros Santos Principais). D. & J. Sadler, Nova York, sem
data, Volume XI.
32. Bacon, Francis. The Works of (As Obras de). Edição Popular por Spedding, Ellis
and Heath, em dois volumes. Hurd & Houghton, Nova York, 1878, Parte I do
Vol. n.
38. Bucke, Richard Maurice. Walt Whitman. David McKay, Filadélfia, 1883.
39. Boehme, Jacob, Works of (Jacob Boehme, Obras de), em quatro volumes. Com
prefácio sobre a vida do autor e figuras ilustrando seus princípios, pelo Rev.
William Law. Impresso para M. Richardson, Londres, 1764-1781.
40. The Life o f Jacob Boehme (A Vida de Jacob Boehme), paginação separada, no
Vol. I de 39.
41. Aurora, the Dayspring or Dawning o f the Day in the East (Aurora, a Alvorada
ou o Nascer do Dia no Oriente), paginação separada, no Vol. I de 39.
42. The Three Principles o f the Divine Essence (Os Três Princípios da Essência
Divina), paginação separada, no Vol. I de 39.
43. The Threefold Life o f Man (A Vida Tríplice do Homem), paginação, separada, no
Vol. H de 39.
44. Forty Questions Concerning the Soul (Quarenta Questões sobre a Alma),
paginação separada, no Vol. II de 39.
48. The Four Tables (As Quatro Mesas, paginação separada, no Vol. II de 39.
52. Blake, William. Poetical Works (Obras Poéticas). Editado por William Rossetti.
George Bell & Sons, Londres, 1891.
53. Burroughs, John. Notes on Walt Whitman as Poet and Person (Notas sobre Walt
Whitman como Poeta e Pessoa), segunda edição. J.S. Redfield, Nova York, 1871.
54. Browning, Robert. The Poetical Works o f (As Obras Poéticas de), em dezessete
volumes. Smith, Elder & Co. , Londres, 1889-1894, Vol. VI.
56. Carpenter, Edward. From Adam Is P eak to Elephanta (De Adam’s Peak a
Elephanta). Swan Sonnenschein & Co., Londres, 1892.
57. Carpenter, Edward. Civilization: Its Cause and Cure (CivilizaçSo: sua Causa e
Cura). Swan Sonnenschein & Co., Londres, 1889.
58. Charles, Emile. Roger Bacon. Sa vie, ses ouvrages, ses doctrines (Roger Bacon.
Sua vida, suas obras, suas doutrinas). Hachette, Paris, 1861.
59. Carlyle, Thomas. Heroes &c (Heróis &c). Em Complete Works (Obras Completas),
em vinte volumes. Estes & Lauriat, Boston, 1885, Vol. I.
67. Darwin, Charles. Animals and Plants under Domestication (Animais e Plantas
Adaptados à Vida Doméstica). Orange, Judd & Co., Nova York, 1868, em dois
volumes, Vol. H.
68. Dante, The New Life (A Nova Vida). Traduzido para o inglês por Charles Eliot
Norton. Houghton, Mifflin & Co., Boston e Nova York, 1892.
73.D avis, T.W. Rhys, Buddhism (Budismo). Society for Promoting Christian
Knowledge, Londres , sem data.
75. Dixon, William Hepworth. Personal History o f Lord Bacon (História Pessoal de
Lord Bacon). John Murray, Londres, 1861.
76. Ellis, Havelock. The Criminal (O Criminoso). Walter Scott, Londres, 1890.
77. Encyclopaedia Britannica, nona edição. Adam and Charles Black, Edimburgo,
1875-1889.
90. Fortnightly Review (Revista Quinzenal). Leonard Scott Publishing Co., Nova
York, julho de 1896.
91. Geiger, Lazarus. Contributions to the History o f the Development o f the Human
Race (Contribuições para a História do Desenvolvimento da Espécie Humana).
Traduzido por David Asher, Trübner & Co., Londres, 1880.
92. Galton, Francis. Hereditary Genius (Gênio Hereditário). D. Appleton & Co.,
Nova York, 1879.
93. Gibbon, Edward. Decline and Fall o f the Roman Empire (Declinio e Queda do
Império Romano), em 6 volumes. Crosby, Nichols, Lee & Co., 1860, Vol. VI.
94. Gilchrist, Alexander. Life o f William Blake (A Vida de William Blake). Macmillan
& Co., Londres e Cambridge, 1863, em dois volumes, Vol. I.
97. Hartmann, Franz. The Life and Doctrines o f Jacob Boehme (A Vida e as Doutrinas
de Jacob Boehme). Kegan Paul, Trench, Trübner & Co., Londres, 1891.
102. Irving, Washington. Life o f M ohammed (A Vida de Maomé). Bell & Daldy,
Londres, 1869.
103. In Re Walt Whitman. Editado por Literary Executors - H.L. Träubel, R.M.
Bucke and T.B. Harned. David McKay, Filadélfia, 1893.
106. James, Henry, Jr. French Poets and Novelists (Poetas e Romancistas Franceses).
Macmillan & Co., Londres, 1878.
107. Kennedy, John. Facts and Histories Illustrating the Divine Life (Fatos e Histórias
Que Ilustram a Vida Divina). The Religious Tract Society, Londres, sem data.
108. Kidd, Benjamin. Social Evolution (Evolução Social). Macmillan & Co., Londres,
1894.
112. Lewis David. Life o f St. John o f the Cross (A Vida de São João da Cruz),
prefixado para 202, abaixo.
113. Lyell, Sir Charles. The Geological Evidences o f the Antiquity ofM an (As Provas
Geológicas da Antiguidade do Homem). John Murray, Londres, 1863.
114. Lecky, W.E.H. History o f European M orals (História da Moral Européia).
Longmans, Green & Co., Londres, 1869, Vol. II.
120. Macaulay, T.B. Critical H istorical and Literary Essays (Ensaios Críticos
Históricos e Literários), em seis volumes. Hurd & Houghton, Nova York, 1875,
Vol. m.
123. Martensen, Hans Lassen. Jacob Behmen: His Life and Teaching; or Studies
on Theosophy (Jacob Behmen: Sua Vida e Seus Ensinamentos; ou Estudos
sobre Teosofia). Traduzido do dinamarquês por T. Rhys Evans. Hodder &
Stoughton, Londres, 1885.
124a. Notes and Fragments (Notas e Fragmentos). Editado pelo Dr. R.M. Bucke,
1899.
125. Nineteenth Century, The (Século Dezenove, O). Nova York, agosto de 1896.
127. Plato (Platão). Tradução de Jowett. Clarendon Press, Oxford 1875, cinco
volumes, Vol. n.
129. Pott, Mrs. Henry. The Promus, de Francis Bacon. Longmans, Green & Co.,
Londres, 1883.
130. Pott, Mrs. IIenry. Did Francis Bacon Write "Shakespeare"? (Escreveu Francis
Bacon “Shakespeare”?). Robert Banks & Sons, Londres, 1893.
132. Pink, Caleb. The Angel o f the M ental Orient (O Anjo do Oriente Mental).
William Reeves, Londres, 1895.
133. Pollock, Sir Frederick. S p inoza’s Life and Philosophy (Vida e Filosofia de
Spinoza). Duckworth & Co., Londres, 1899.
133a. Phelps, Elizabeth Stuart. The Story o f Jesus Christ (A História de Jesus Cristo).
Houghton, Mifflin & Co., Boston, 1897.
134. Romanes, George John. Mental Evolution in Man, Origin o f Human Faculty
(A Evolução Mental no Homem, A Origem da Faculdade Humana). D. Appleton
& Co., Nova York, 1889.
135. Reference H and Book o f the M edical Sciences (Manual de Referência das
Ciências Médicas). Editado por Albert H. Buck, em oito volumes. William
Wood & Co., Nova York, 1885-1889, Vol. Ü.
142. Renan, Ernest. Les Apôtres (Os Apóstolos). Michel, Levy Frères, Paris, 1866.
143. Renan, Ernest. Saint Paul (São Paulo). Michel, Levy Frères, Paris, 1869.
144. Ramsay, W.M. St. P aul the Traveler and the Roman Citizen (São Paulo, o
Viajante e o Cidadão Romano). G.P. Putnam’s Sons, Nova York, 1896.
145. Ruggles, H.J. The Plays o f Shakespeare Founded on Literary Form (As Peças
de Shakespeare Baseadas na Forma Literária) . Houghton, Mifflin & Co., Boston,
1895.
146. Sacred Books o f the East (Livros Sagrados do Oriente). Editado por F. Max
Mueller. The Clarendon Press, Oxford, em quarenta e oito volumes, 1879-
1885.
151. Part I o f Q u r’an (Parte I do Alcorão). Traduzida do árabe por E.H. Palmer,
sendo Vol. VI de 146.
153. Part II o f Qur'an (Parte II do Alcorão). Traduzida do árabe por E.H. Palmer,
sendo Vol. IX de 146.
161. Akankheyya-Sutta. Traduzido do pâli por T.W. Rhys Davids, no Vol. XI de 146.
162. Introduction to 161 (Introdução a 161). Por T.W. Rhys Davids, no Vol. XI de
146.
163. Maha Parinibbana-Sutta. Traduzido do pâli por T.W. Rhys Davids, no Vol. XI
de 146.
165. Introduction to 164 (Introdução a 164). Por H. Kern, no Vol. XXI de 146.
166. The Texts o f Taoism (Os Textos do Taoísmo). Traduzido por James Legge. Vol.
XXXIX de 146.
167. Sharpe, William. Introduction to the Songs, Poems and Sonnets o f William
Shakespeare (Introdução aos C ânticos, Poem as e Sonetos de William
Shakespeare) . Walter Scott, Londres, 1885.
168. Scott, Walter. Editado por Andrew Long, em quarenta e oito volumes. Estes &
Lauriat, Boston, 1894. Vol. n.de Waverley.
170. Stead, William Thomas. Em Review o f Reviews, número não anotado, mas
imediatamente após o falecimento de Tennyson, que ocorreu em 6 de outubro
de 1892.
170a. Spinoza. Ethics (Ética). Traduzido do latim por A.H. Stirling, segunda edição.
Macmillan & Co., Nova York 1894.
171. Sutherland, Jabez Thomas. The Bible: Its Origin, Growth and Character
(Origem, Crescimento e Caráter da Bíblia). G.P. Putnam’s Sons, Nova York,
1893.
172. Salt, H.S. Richard Jefferies: A Study (Richard Jefferies: Um Estudo). Swan
Sonnenschein & Co., Londres, 1894.
173. Sharpe, William. The D ual Image (A Imagem Dual). H.A. Copley, Londres,
1896.
174. Spedding, James. Life and Times o f Francis Bacon (Vida e Época de Francis
Bacon), em dois volumes. Houghton, Osgood & Co., Boston, 1878, Vol. I.
177. Spedding, James. Evenings with a Reviewer (Serões com um Revisor), em dois
volumes. Houghton, Mifflin & Co., 1882, Vol. I.
179. Symonds, J.A. The Study o f Dante (O Estudo de Dante). Adam & Charles
Black, Edimburgo, 1890.
182. Tennyson, Lord Alfred. A Memoir by His Son (Uma Biografia, pelo Seu Filho),
em dois volumes. Macmillan & Co., Londres, 1897, Vol. I.
183. Tennyson, Lord Alfred. Works (Obras), em dez volumes. Henry T. Thomas,
Nova York, 1893.
187. Tyner, Paul. The Living Christ (O Cristo Vivente) . Temple Publishing Co.,
Denver, Col., 1897.
188. Vaughan, Robert Alfred. Hours with the Mystics (Horas com os Místicos), sexta
edição, em dois volumes. Charles Scribner’s Sons, Nova York, 1893, Vol. I.
191. Whitman, Walt. Leaves o f Grass (Folhas de Relva). Brooklin, N.Y., 1855.
192. Whitman, Walt. Leaves o f Grass (Folhas de Relva), edição do autor. Camden,
N.J., 1876.
193. Whitman, Walt. Leaves o f Grass (Folhas de Relva), David McKay, Filadélfia,
1891-1892.
194. Whitman, Walt. Complete Prose Works (Obras Completas em Prosa). David
McKay, Filadélfia, 1892.
197. Wigston, W.F.C. Francis Bacon, Poet, Prophet and Philosopher versus Phantom
Captain Shakespeare (Francis Bacon, Poeta, Profeta e Filósofo versus Capitão
Fantasma Shakespeare). Kegan Paul, Trench, Trübner & Co., Londres, 1891.
198. Wordsworth, William. Poetical Works (Obras Poéticas), sete volumes em três.
Hurd & Houghton, Boston, 1877, Vol. H.
199a. Walden. De Henry D. Thoreau. Houghton, Osgood & Co., Boston, 1880.
202. Yepes, Juan, chamado S. João da Cruz. Life and Works (Vida e Obras), em dois
volumes; o primeiro de David Lewis (112 acima) e o segundo traduzido do
espanhol pelo mesmo. Thomas Baker, Londres, 1889-1891.
204. The D ark Night o f the Soul (A Noite Negra da Alma), no Vol. II de 202.
205. A Spiritual Canticle o f the Soul and the Bridegroom Christ (Um Cântico
Espiritual da Alma e o Cristo Noivo), no Vol. II de 202.
206. The Living Flame o f Love (A Chama Viva do Amor) , no Vol. H do 202.
PRIMEIRAS PALAVRAS
Este livro é uma tentativa de responder esta pergunta; não obstante, parece
razoável que se faça uma declaração prefaciai, em linguagem tão simples
quanto possível, de modo a por assim dizer abrir a porta para a exposição
mais elaborada a ser tentada no corpo do trabalho. Consciência Cósmica,
então, é uma consciência mais elevada do que a do ser humano comum. Esta
última é chamada Autoconsciência e é a faculdade sobre a qual repousa
toda a nossa vida - tanto subjetiva como objetiva - que não é comum a nós e
aos animais superiores, exceto a pequena parte dela que é derivada das poucas
pessoas que alcançaram a consciência mais elevada acima citada. Para tomar
claro este assunto, faz-se necessário entender que há três tipos ou graus de
consciência. (1) Consciência Simples, que é própria (digamos) da metade
superior do reino animal. Por meio desta faculdade, um cão ou um cavalo é
tão consciente das coisas ao seu redor quanto um ser humano; é também
consciente de seus próprios membros e de seu corpo e sabe que estes fazem
parte dele próprio. (2) Acima dessa Consciência Simples, que é própria do
ser humano como dos animais, o primeiro tem uma outra que é chamada
Autoconsciência. Em virtude desta faculdade, ele não só é consciente de
árvores, rochas, águas, seus braços, suas pernas e seu corpo, mas toma-se
consciente dele próprio como entidade distinta, separada do resto do universo.
Está fora de dúvida que nenhum animal pode ter consciência de si mesmo
dessa forma. Além disso, por meio da autoconsciência, o ser humano (que
sabe, assim como o animal sabe) toma-se capaz de tratar seus próprios estados
mentais como objetos de consciência. O animal está por assim dizer imerso
em sua consciência; assim como um peixe no mar; não pode, nem mesmo
em imaginação, emergir dela por um momento sequer, para percebê-la. Mas
o ser humano, em virtude da autoconsciência, pode por assim dizer sair de si
mesmo e pensar assim: “Sim, aquele pensamento que tive a respeito daquele
assunto é verdadeiro; sei que é verdadeiro e sei que sei que ele é verdadeiro”.
Tem sido perguntado ao autor deste livro: “Como você sabe que os animais
não conseguem pensar da mesma maneira?” A resposta é simples e
conclusiva: não há prova de que qualquer animal possa pensar assim, porém,
se pudesse, logo o saberíamos. Entre duas criaturas vivendo juntas, tais como
cães, cavalos e seres humanos, e cada qual autoconsciente, seria a coisa mais
simples do mundo estabelecer comunicação. Mesmo sendo as coisas como
são, diversificada como é a nossa psicologia, conseguimos, observando os
atos de um cão, entrar com toda liberdade na mente dele e ver o que ali se
passa; sabemos que o cão vê e ouve, cheira e saboreia; sabemos que ele tem
inteligência - que adapta os meios aos fins - que raciocina. Se ele fosse
autoconsciente, já o teríamos constatado há muito tempo. Não o fizemos, de
modo que está fora de dúvida que nenhum cão, cavalo, elefante ou macaco
jamais foi autoconsciente. E mais uma coisa, na autoconsciência do ser
humano repousa tudo o que é distintivamente humano em nós e a nosso
respeito. A linguagem é o objetivo de que a autoconsciência é o subjetivo.
Autoconsciência e linguagem - duas em uma, pois são duas metades da
mesma coisa - sao o sine qua non da vida social humana, dos compor
tamentos, das instituições, das atividades de todo tipo, de todas as artes úteis
e belas. Se algum animal tivesse autoconsciência, parece certo que sobre
esta faculdade mestra construiria - como o ser humano o fez - uma superes
trutura de linguagem, costumes, atividades e artes, baseados em raciocínio.
Mas nenhum animal fez isto; portanto, inferimos que nenhum animal tem
autoconsciência.
III
Ele nasceu em boa família de classe média inglesa e cresceu quase sem
instrução no que era na época uma fazenda agreste do Canadá. Quando
criança, ajudava em tarefas consoantes com sua capacidade: cuidava do gado,
de cavalos, ovelhas e porcos; apanhava lenha, trabalhava no campo de feno,
tocava bois e cavalos, procurava animais desgarrados. Suas distrações eram
tão simples como suas tarefas. Uma visita ocasional a uma pequena cidade
vizinha, jogar bola, banhar-se no riacho que corria na fazenda de seu pai,
confeccionar e fazer flutuar pequenas imitações de barcos, procurar ovos de
pássaros e flores na primavera, bem como frutas silvestres no verão e no
outono, constituíam, com seus patins e seu trenó manual no inverno, as
diversões simples que ele adorava. Ainda muito jovem lia e apreciava
intensamente os romances de Marryat, os poemas e romances de Scott e
outros livros do gênero que tratavam da natureza ao ar livre e da vida humana.
Nunca, nem mesmo quando criança, aceitou as doutrinas da Igreja Cristã;
mas, tão logo atingiu idade suficiente para refletir sobre tais temas, concebeu
que Jesus fora um homem - sem dúvida grandioso e bom, mas um homem;
que ninguém jamais seria condenado a uma pena eterna; que se existia um
Deus consciente ele era o mestre supremo e queria o bem de todos no final;
mas que, chegando ao fim esta vida visível no mundo, era duvidoso, ou mais
que duvidoso, que a identidade consciente fosse preservada. O rapaz (e mesmo
a criança) meditava tais tópicos e outros do gênero bem mais do que alguém
poderia supor, mas provavelmente não mais do que muitos outros de seus
pequenos semelhantes mortais de natureza introspectiva. Ele estava sujeito,
às vezes, a uma espécie de êxtase de curiosidade e esperança. Como numa
ocasião especial, quando tinha aproximadamente dez anos de idade, em que
desejou seriamente morrer, para que os segredos do além - desde que houvesse
esse além - lhe pudessem ser revelados. Era sujeito também a agonias de
ansiedade e terror; por exemplo quando, mais ou menos na mesma idade,
leu Fausto de Reynold e, quando estava perto do final, numa tarde ensolarada,
largou o livro completamente sem condição de continuar sua leitura e correu
para o sol a fim de se recuperar do horror que se apossara dele - evento de
que se lembra mais de cinqüenta anos depois. Sua mãe faleceu quando ele
tinha apenas alguns anos de vida e, seu pai, pouco depois. As circunstâncias
exteriores de sua vida, em alguns aspectos, tomaram-se mais infelizes do
que se pode facilmente contar. Aos dezesseis anos saiu de casa para viver ou
morrer. Durante cinco anos vagueou pela América do Norte, desde os Grandes
Lagos até o Golfo do México, desde o alto Ohio até San Francisco. Trabalhou
em fazendas, estradas de ferro, barcos a vapor e nas minas do oeste de Nevada.
Várias vezes quase sucumbiu por motivos de doença, fome, frio intenso e,
certa vez, nas barrancas do Rio Humboldt, em Utah, lutou por sua vida contra
os índios Shoshones, durante meio dia. Depois de vaguear cinco anos, aos
vinte e um voltou para o lugar onde havia passado sua infância. Uma
importância razoável em dinheiro, de sua falecida mãe, permitiu-lhe passar
alguns anos estudando e sua mente, após ter ficado inativa por tanto tempo,
absorveu idéias com extraordinária facilidade. Diplomou-se com louvor quatro
anos depois de seu retomo da costa do Pacífico. Fora do curso da faculdade,
leu com avidez muitos livros especulativos, tais comovi Origem das Espécies
(de Darwin), O Calor e Ensaios (de Tyndall), História e Ensaios e Revisões
(de Buckle), e muita poesia, especialmente aquela que lhe pareceu livre e
destemida. Nesta espécie de literatura, logo preferiu Shelley e, dentre seus
poemas, Adonais e Prometheus foram seus favoritos. Sua vida, por alguns
anos, foi um apaixonado ponto de interrogação, uma sede insaciável de
esclarecimento sobre os problemas básicos. Ao sair do colégio, continuou
sua busca com o mesmo ardor. De maneira autodidata, estudou francês para
poder ler Auguste Comte, Hugo e Renan, e alemão para poder ler Goethe,
especialmente o Fausto. Aos trinta anos descobriu Leaves o f Grass (Folhas
de Relva) e percebeu de imediato que este livro continha, em maior medida
do que qualquer outro que já lera, aquilo que por tanto tempo estivera
procurando. Leu Leaves sequiosa e mesmo apaixonadamente; durante anos,
porém, pouco proveito tirou da obra. Finalmente a luz se fez e a ele se
revelaram - talvez ao ponto em que tais coisas possam ser reveladas - pelo
menos alguns de seus significados. Então ocorreu aquilo de que o que se
escreveu até agora é prefácio.
•N.T. - Recepto: Idéia ou imagem mental formada por percepções sucessivas dos
mesmos objetos ou de objetos semelhantes, acentuando suas características
comuns.
Finalmente, após muitos milhares de gerações terem vivido e morrido,
chegou um momento em que a mente do animal que estamos considerando
alcançou o mais alto ponto possível de inteligência puramente receptiva; a
acumulação de perceptos e receptos continuou até que um cabedal maior de
impressões não pôde ser acrescentado e nenhuma elaboração ulterior destas
pôde ser efetuada no plano da inteligência receptiva. Deu-se então uma nova
mudança e os receptos superiores foram substituídos por conceptos*. A
relação entre um concepto e um recepto é algo parecida com a relação entre
a álgebra e a aritmética. Um recepto é, como já foi dito, uma imagem composta
de centenas, talvez milhares de perceptos; ele próprio é uma imagem abstraída
de muitas imagens; mas um concepto é aquela mesma imagem composta -
aquele mesmo recepto - nomeada, rotulada e, por assim dizer, dispensada.
Um concepto é em verdade nem mais nem menos que um recepto nomeado
(que recebeu um nome) - o nome, isto é, o signo (como na álgebra),
representando daí em diante a própria coisa, isto é, o recepto.
Agora está claro como o dia, para qualquer pessoa que dê o mínimo de
atenção a este assunto, que a revolução pela qual os receptos são substituídos
por conceptos aumenta a eficiência do cérebro no pensamento, tanto quanto
a introdução de máquinas aumentou a capacidade da espécie humana para
o trabalho - ou tanto quanto o uso da álgebra aumenta o poder da mente para
cálculos matemáticos. Substituir um recepto grande e canhestro por um signo
simples foi quase como substituir mercadorias reais - tais como trigo, tecidos
ou ferramentas - por lançamentos num livro razão.
Mas, como foi sugerido acima, para que um recepto possa ser substituído
por um concepto precisa receber um nome ou, em outras palavras, precisa
ser marcado com um signo que o represente, assim como uma etiqueta
representa uma bagagem ou um lançamento num livro razão representa um
lote de mercadorias; em outras palavras, a espécie que tem conceptos é também
- e necessariamente - a que tem linguagem. Além disso devemos notar que,
assim como a posse de conceptos implica a posse de linguagem, assim também
a posse de conceptos e linguagem - que são na realidade dois aspectos de
uma mesma coisa - implica a posse de autoconsciência. Tudo isto significa
que há um momento na evolução da mente em que o intelecto receptivo,
capaz somente de consciência simples, toma-se quase instantaneamente ou
de fato instantaneamente um intelecto conceptual, possuidor de linguagem e
autoconsciência.
*N.T. - Concepto: A resultante de uma operação mental generalizadora; uma imagem
mental genérica abstraída de receptos.
Quando dizemos que um indivíduo - seja um adulto de muito tempo
atrás ou uma criança atual - entrou na posse de conceptos, de linguagem e
de autoconsciência num instante, queremos naturalmente dizer que ele entrou
na posse da autoconsciência e de um ou alguns conceptos, bem como de uma
ou algumas palavras verdadeiras, instantaneamente - e não que tenha entrado
na posse de toda uma linguagem naquele curto tempo. Na história do ser
humano individual, o ponto em questão é alcançado e ultrapassado
aproximadamente na idade de três anos; na história da espécie humana, foi
alcançado e ultrapassado há várias centenas de milhares de anos.
Assim como o mundo humano tal como o vemos, com todas as suas
realizações e maneiras de ser, está baseado na autoconsciência, na consciência
cósmica estão baseadas as religiões e as filosofias superiores e o que delas
provém; e nela estará baseado, quando ela se tomar mais generalizada, um
novo mundo de que seria ocioso tentar falar hoje em dia.
Será que isso é tudo? Que é o fim? Não. Assim como a vida surgiu num
mundo sem vida; assim como a Consciência Simples veio a existir onde
antes havia mera vitalidade sem percepção; assim como a Autoconsciência,
saltando de asas abertas da Consciência Simples, esvoaçou alto sobre terra e
mar, assim também a espécie humana, que foi deste modo estabelecida,
continuando sua ascensão sem começo nem fim, dará outros passos - o
próximo está agora no ato de ser dado - e alcançará uma vida ainda mais
elevada do que qualquer outra vivenciada até aqui ou mesmo concebida.
Que fique claramente entendido que esse novo passo (para cuja explicação
este livro está sendo escrito) não é simplesmente uma expansão da autocons
ciência, mas algo tão diferente disto quanto essa expansão é diferente da
consciência simples, ou quanto esta o é da mera vitalidade destituída de
qualquer consciência, ou ainda como esta última se diferencia do mundo de
matéria inorgânica e energia que a precedeu e do qual procedeu.
NO PLANO DA AUTOCONSCIÊNCIA
Essa árvore que chamamos de vida - e sua parte superior de vida humana
e de mente humana -simplesmente cresceu como cresce qualquer outra árvore
e, além de seu tronco principal, como acima indicado, lançou muitos ramos,
como no caso de outras árvores. Será bom considerar alguns destes. Veremos
que alguns deles nascem da parte mais baixa do tronco; por exemplo a
contratilidade, ramo do qual - e como uma parte dele - surge toda ação
muscular, desde o movimento simples de uma minhoca até os movimentos
maravilhosamente coordenados e feitos, no exercício de sua arte, por um
Liszt ou um Paderewski. Um outro desses grandes ramos inferiores é o instinto
de autopreservação e (como gêmeo dele) o instinto da continuação da espécie
- a preservação da espécie. Mais acima, os sentidos especiais brotam do
tronco principal e, conforme crescem e se dividem repetidamente, tomam-
se ramos maiores e vitalmente importantes da grande árvore. De todos esses
brotos principais nascem braços menores e, destes, rebentos mais delicados.
n
O fato importante a ser notado neste ponto é que, em consonância com a
analogia da árvore aqui adotada, as numerosas faculdades de que o ser humano
é composto (encaradas do ponto de vista da dinâmica) são todas de eras
diferentes. Cada uma delas veio a existir no seu próprio tempo, isto é, quando
o organismo psíquico (a árvore) estava pronto para produzi-la. Por exemplo,
a Consciência Simples, muitos milhões de anos atrás; a Autoconsciência,
talvez há trezentos mil anos. A visão geral é extremamente antiga, mas o
sentido da cor provavelmente só existe há cerca de mil gerações. A sensibili
dade ao som, há muitos milhões de anos, enquanto o sentido musical está
agora aparecendo. A paixão ou o instinto sexual surgiu há muito tempo nas
eras geológicas - a natureza moral humana, de que o amor sexual humano é
um ramo jovem e vigoroso, não parece ter existido há muitas dezenas de
milhares de anos.
m
Para tomar mais pronta e completamente inteligível o que já foi dito e o
que resta a dizer, será conveniente entrar um pouco em detalhe quanto ao
momento e à maneira de algumas faculdades se transformarem e desenvol
verem, como amostra do trabalho divino que se tem desenrolado dentro de
nós e à nossa volta desde o alvorecer da vida neste planeta. A ciência da
psicologia humana (para ilustrar o assunto deste livro) deveria explicar o
intelecto humano, a natureza moral humana e os sentidos. Deveria fazer
uma descrição destes tais como existem hoje, de sua origem e evolução, e
deveria fazer uma previsão de seu curso futuro, seja de declínio seja de ulterior
expansão. Apenas bem poucas páginas de amostra desse trabalho podem
aqui ser apresentadas, mas primeiro daremos uma rápida olhada no intelecto.
Cavalo de Corrida
Cavalo de Carroça
Cavalo Inglês de Carroção
Equus Caballus.. . -
Cavalo Inglês de Caça
Asinus
Cavalo Árabe
2. Eohippus Mesohippus A n c h ith e riu m ........... Hemionus
Pônei de Shetland
(Eoceno) ^ (início (Mioceno) Tamanho Quagga
Tamanho de I do de carneiro Zebra
Raposa J Mioceno) Miohippus . Dauw
Veneziano
Siciliano
Italiano................... -< Calabrês
Espanhol Arcolano
Português Corso
Latim ................
Grego Francês
Sânscrito Valáquio
Zende Rético
3. ? Ariano.
Armênio
Lituano
Antigo Eslavo
Gótico
Expectando
Expectativa
r Expectar................. - i
Expectado
Expectável
Espécime Expectação
Respeito, Respeitar Expectante
Espectador ,_Expectador
Retardação
Espetáculo
Desprez-ar, -ível
Respective
Despeit-o, -ado
Espectro
Especula-r, -ção
Suspeitar, Suspicaz
Especios-o, -amente, -idade
Específico, Especificação
Latim, Specio, Ver, olhar.............
Inspe-cionar, -ção, -tor
Grego, Skeptomai, Eu olho
Espéculo
Skeptikos, Um inquiridor
Espécie
" Episkopes, Um inspetor
Circunspec-to, -ção
4. Pré-raiz - Raiz ariana, Spac. Sânscrito, Pas, Ver
Especiaria, Especieiro
Spasa, Um espião
Prospect-o, -ivo
Spashta, Manifesto
Especial, -mente, -idade
Spas, Um guardião
Auspicioso, Auspício
O.H.G., Spehan, Olhar, espionar
Espicular
Speha, Um espião Respeitável
Espião, Espionar
Aspecto
Prospecto
V^Especificar
idéia do que o intelecto humano já foi em comparação com o que é hoje; do
mesmo modo se toma evidente, num relance, que não somente a evolução
das espécies, das línguas e das palavras é rigorosamente paralela, mas que o
esquema tem provavelmente uma aplicação mais ampla, talvez universal.
Com relação à presente tese, a conclusão a ser tirada dessa comparação é
que as palavras - e portanto os elementos constituintes do intelecto que elas
representam e que chamamos de conceptos - crescem por divisão e
ramificação, conforme novas espécies se ramificam a partir das mais velhas;
e parece claro que um crescimento normal é encorajado e um desenvolvimento
excessivo e inútil é refreado pelos mesmos meios, num caso como no outro -
isto é, por seleção natural e na luta pela existência.
Geiger [91. 48] salienta que pode ser provado, por exame da linguagem,
que remotamente na vida da espécie como na época dos primitivos arianos -
talvez não mais de quinze ou vinte mil anos atrás - o ser humano só tinha
consciência, só percebia, uma cor. Isto é, não distinguia qualquer diferença
de matiz entre o azul do céu, o verde das árvores e da relva, o marrom ou o
cinza da terra e o ouro e o púrpura das nuvens no nascer e no pôr-do-sol.
Assim, Pictet [126] não encontra nomes de cores no primitivo discurso indo-
europeu. E Max Mueller [116:616] não encontra raiz sânscrita cujo
significado tenha qualquer referência a cor.
Além desta evidência, diz-se que é possível provar com base na linguagem
que um sentido como o da fragrância não existia nos primeiros tempos dos
indo-europeus. Vale a pena também mencionar a este propósito que nenhum
animal (embora muitos destes nos ultrapassem tanto no reconhecimento pelo
olfato) possui, até onde sabemos ou podemos descobrir, qualquer sentido de
fragrância e que as crianças só o adquirem depois que têm vários anos de
idade - não, certamente, por vários anos depois de terem adquirido, mais ou
menos perfeitamente, o sentido da cor; correspondendo assim, em seu
desenvolvimento mental (conforme acima indicado), à evolução da mente
humana em geral, pois o sentido da cor provavelmente veio a existir na
espécie muitos milhares de anos antes do sentido da fragrância.
VI
O ser humano, isto é, a Autoconsciência, como já foi dito, deve ter vindo
a existir cerca de trezentos mil anos atrás, quando o primeiro Alalus Homo
emitiu a primeira verdadeira palavra. No indivíduo atual, o ser humano
nasce quando a criança se toma autoconsciente - na idade média de, digamos,
três anos. Entre as raças indo-européias, não mais que cerca de um indivíduo
(denominado idiota) em mil cresce até a maturidade sem atingir a Autocons
ciência. Esta, tendo aparecido no indivíduo, só é perdida em grandes ou
raras crises - como no delírio da febre e em algumas formas de insanidade,
notavelmente na obsessão; por outro lado, a natureza moral humana não
aparece no indivíduo (em média) até, digamos, a meio caminho entre a idade
de três anos e a maturidade. Em lugar de um ou dois em mil, várias vezes o
mesmo número numa centena nascem, crescem e morrem sem uma natureza
moral. Ao invés de ser perdida em crises grandes e raras, ela é constantemente
perdida em caráter temporário. Todas estas indicações provam que a natureza
moral humana é de origem muito mais recente do que o intelecto humano e
que, se supomos que o último tenha trezentos mil anos, não podemos supor
que a primeira tenha a mesma idade.
VII
Esta afirmativa, feita assim em traços gerais, não parece à primeira vista
significar muito, mas de fato significa quase tudo; contém a chave do nosso
passado, do nosso presente e do nosso futuro, pois é a condição da natureza
moral (assim brevemente aludida) que decide por cada um de nós de momento
a momento e pela raça em geral de era em era, que espécie de lugar este
mundo em que vivemos parecerá ser - que espécie de lugar ele efetivamente
é para cada um de nós. Pois não são nossos olhos e ouvidos, nem mesmo
nossos intelectos, que julgam o mundo para nós, mas é a nossa natureza
moral que afinal estabelece o valor do que existe ao nosso redor.
vm
O período de tempo durante o qual a espécie esteve de posse de qualquer
dada faculdade pode ser mais ou menos precisamente estimado partindo-se
de várias indicações. Nos casos em que o nascimento da faculdade ocorreu
em tempos comparativamente recentes - dentro, por exemplo, dos últimos
vinte e cinco ou trinta mil anos - a filologia (como vimos) pode nos ajudar
consideravelmente a determinar a data aproximada de seu aparecimento.
Mas para faculdades comparativamente antigas, tais como o intelecto humano
ou a consciência simples, este meio necessariamente nos falha por completo.
Recorremos, então, aos seguintes testes:
2. Quanto mais tempo uma espécie tenha estado de posse de uma dada
faculdade, mais universal será essa faculdade na espécie. Esta proposição
certamente não requer prova. Toda faculdade nova tem de ocorrer primeiro
em certo indivíduo e, à medida que outros indivíduos vão alcançando o estado
de ser dele vão adquirindo-a também, até que, depois de talvez muitos
milhares de anos, tendo toda a espécie alcançado aquele mesmo estado, a
faculdade terá se tomado universal.
3. Quanto mais tempo uma espécie tenha estado de posse de uma dada
faculdade, mais firmemente estará essa faculdade fixada em cada indivíduo
da espécie que a possua. Em outras palavras: quanto mais recente é qualquer
faculdade, mais facilmente é perdida. Autoridade para esta proposição (de
que ela dificilmente carece) será citada quando ela for feita num outro
contexto. Trata-se de uma proposição quase, se não absolutamente, auto-
evidente.
* No que tange à ausência da autoconsciência nos idiotas, o exame dos internados de um grande
asilo de idiotas revelou o fato de que a faculdade estava ausente em noventa por cento. Os pacientes
examinados tinham, quase todos, acima de dez anos de idade. Naturalmente, alguns deles poderiam
alcançar a autoconsciência mais tarde. Dicionários e trabalhos sobre idiotia [101] definem um idiota
como “um ser humano destituído dos poderes mentais comuns”; mas parece que uma definição
melhor e mais precisa seria: “um ser humano no qual, tendo passado a idade usual, por conseqüência
de atavismo, a autoconsciência não foi desenvolvida” . Ao passo que a definição de imbecil seria:
“Um ser humano que, embora autoconsciente, é, por conseqüência de atavismo, em alto grau
destituído dos poderes mentais comuns”.
Deve no entanto haver muitos membros de espécies inferiores, tais como os
bosquímanos sul-africanos* e os nativos da Austrália, que nunca alcançaram essa
faculdade. Em nossa anoestralidade, a autoconsciência remonta ao primeiro homem
verdadeiro. Milhares de anos devem ter passado entre seu primeiro aparecimento
e sua universalidade, do mesmo modo que milhares de anos estão agora passando
entre os primeiros casos de consciência cósmica e sua universalidade.
Então, quantas raças humanas estão ainda vivendo na Terra, nas quais
nenhum ou poucos membros têm o que poderia ser chamado de natureza
moral humana do ponto de vista de nossa civilização? E, enquanto a
autoconsciência é perdida - não sempre, naturalmente, mas com freqüência
- na insanidade e na febre, a natureza moral está - temos de admitir - sujeita
a ausências e lapsos muito mais freqüentes e por causa bem menor.
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Em suma: como a ontogênese nada mais é que a fllogênese in petto - isto
é, como a evolução do indivíduo é necessariamente a evolução da espécie
muna forma abreviada, simplesmente porque não pode por natureza ser dife
rente (não pode seguir quaisquer outras linhas, porque não há outras linhas
a seguir) - é claro que órgãos e faculdades (ampla e genericamente falando)
têm de aparecer no indivíduo na mesma ordem em que apareceram na espécie
e, conhecida uma ordem, a outra pode ser confiavelmente presumida.
Assim, com o passar das eras, o grande tronco da árvore da vida se tornou
mais alto e, de tempos a tempos, lançou brotos que cresceram a galhos e
estes a ramos nobres que por sua vez lançaram brotos e galhos, muitos dos
quais de grande tamanho e em números imensos. Sabemos que essa árvore
não cessou de crescer; que mesmo agora, como sempre, está lançando novos
brotos e que os velhos brotos, galhos e ramos, estão em maioria aumentando
em tamanho e força. Cessará hoje esse crescimento? Não parece que sim.
Parece mais provável que outros membros e ramos, com que nem sonhamos
hoje, venham a nascer da árvore e que o tronco principal, que da mera vida
cresceu para vida sensitiva, para a consciência simples e para a autocons
ciência, há de passar para formas de vida e consciência mais altas ainda.
INVOLUÇÃO
Trazendo agora estas regras gerais para nós mesmos - para a espécie
humana - vemos que elas indicam que os órgãos e as funções que foram os
mais recentemente adquiridos serão com maior probabilidade defectivos,
ausentes, anormais, doentios. Mas é notório que no ser humano civilizado,
especialmente na raça ariana, as funções que passaram pela maior mudança
nos últimos milênios são aquelas que chamamos de mentais - esse grande
grupo de funções (sensoriais, intelectuais, morais) que dependem dos dois
grandes sistemas nervosos - o cerebrospinal e o grande simpático - e deles
advêm. Esse grande grupo de funções cresceu, expandiu-se, lançou novos
brotos e galhos e está ainda no processo de produzir novas faculdades, numa
taxa extraordinariamente maior do que qualquer outra parte do organismo
humano. Se isto é assim, então, dentro dessa grande congérie de faculdades
é inevitável que encontremos constantes falhas, omissões, defeitos e colapsos.
2. A raça cuja evolução for a mais rápida será a mais sujeita a colapso.
IV
Por analogia, então, somos levados a crer que o passo progressivo que é
o assunto deste livro também está reservado a toda a espécie - que virá um
momento em que não possuir a faculdade em questão será uma marca de
inferioridade paralela à ausência da natureza moral na atualidade. A conjetura
parece ser de que o novo sentido venha a ser cada vez mais comum e apareça
mais cedo na vida, até que, após muitas gerações, venha a aparecer em cada
indivíduo normal na puberdade ou mesmo antes; prossiga então tomando-se
ainda mais universal e aparecendo numa idade ainda mais baixa, até que,
depois de muitos milhares de gerações, manifeste-se imediatamente após a
infância em praticamente todo membro da espécie.
VI
A hipótese adotada pelo autor deste livro requer que casos de consciência
cósmica se tornem mais numerosos de era em era e não somente isto, mas
que se tornem mais perfeitos e mais evidentes. Quais são os fatos a este
respeito? Deixando de lado casos menores, como os que devem ter aparecido
e devem ter sido esquecidos às centenas nos últimos milênios, dentre aqueles
que já mencionamos pelo menos treze são tão grandes que jam ais
desaparecerão da memória humana - a saber: Gautama, Jesus, Paulo, Plotino,
Maomé, Dante, Las Casas, Juan Yepes, Francis Bacon, Jacob Behmen,
William Blake, Balzac, Walt Whitman.
Mesmo a obra e a memória daqueles que escrevem devem ter sido muitas
vezes esquecidas e devem ter morrido. Quanto a um dos maiores dentre estes
pode-se dizer que, se o grande incêndio* tivesse acontecido poucos anos
antes, talvez tivesse destruído todas as cópias do fólio de 1623 e assim para
sempre privado o mundo das peças de “Shakespeare”. A obra desses homens,
falada ou escrita, por natureza só pode ser apreciada por poucas e seletas
pessoas contemporâneas e é em quase todos os casos suscetível de ser
esquecida. Que isto é verdadeiro hoje como nos dias de Gautama, não pode
duvidar quem tenha seguido de perto a carreira de Walt Whitman. Mesmo
no caso dele, a palavra escrita teria sido quase certamente perdida se ele
tivesse falecido (como facilmente poderia ter ocorrido) de acidente ou doença
durante a guerra, embora naquela época três edições de Leaves já tivessem
sido impressas. Ele próprio não considerava sua mensagem salva de extinção
até quase o momento de seu falecimento, embora tivesse trabalhado
infatigavelmente por trinta e cinco anos para a semear.
Como diz Victor Hugo a propósito de Les Génies [Os Gênios]: “Choisir
entre ces hommes, preferer l’un a l’autre, indiquer du doigt le premier parmi
Muitos crêem hoje que Walt Whitman foi a maior força espiritual já
produzida pela espécie - o que significaria que ele é o maior caso de
consciência cósmica até hoje. Mas o balanço de opiniões seria, naturalmente,
de milhares contra um, contrários a tal asserção.
VII
VIII
* Fazer uma escolha entre esses homens, preferir um ao outro, apontar o primeiro
entre esses primeiros, isto é impossível.
Verdade ou não, cada pessoa que tem a experiência em questão acaba
crendo forçosamente em seus ensinamentos, aceitando-os tão absolutamente
como quaisquer outros ensinamentos. Isto, entretanto, não provaria que eles
fossem verdadeiros, pois o mesmo poderia ser dito das alucinações de um
demente.
IX
b. No mesmo instante ela é por assim dizer banhada numa emoção de júbilo,
convicção, triunfo, “salvação”. A última palavra não é rigorosamente corre
ta se tomada em seu sentido comum, pois o sentimento, quando plenamente
desenvolvido, não é de que um ato particular de salvação seja efetuado,
mas de que nenhuma “salvação” especial é necessária, já que o esquema
sobre o qual o mundo está construído é por si só suficiente. É desse êxtase,
muito superior a qualquer outro que pertença à vida meramente autocons
ciente, que os poetas, como tais, ocupam-se especialmente; como Gautama
em seus discursos, preservados nos Suttas; Jesus, nas Parábolas; Paulo,
nas Epístolas; Dante, no final do Purgatorio e no começo do Paradiso;
“Shakespeare”, nos Sonetos; Balzac, em Seraphita; Whitman, em Leaves;
Edward Carpenter, em Rumo à Democracia, deixando aos cantores os
prazeres e as penas, os amores e os ódios, as alegrias e as tristezas, a paz
e a guerra, a vida e a morte do homem autoconsciente; embora os poetas
possam tratar também destas coisas, mas do novo ponto de vista, conforme
está expresso em Leaves: “Jamais voltarei a mencionar o amor ou a morte
dentro de uma casa” [193: 75] - isto é, do velho ponto de vista, com as
velhas conotações.
k. Parece ao autor deste livro haver suficiente evidência de que, com a cons
ciência cósmica, - enquanto ela está efetivamente presente e perdurando
(gradualmente passando) por breve tempo - ocorre uma mudança na apa
rência da pessoa que recebe a iluminação. Essa mudança é semelhante à
que é causada na aparência de alguém por uma grande alegria, mas às
vezes (isto é, nos casos pronunciados) parece ser muito mais acentuada
do que isto. Nesses grandes casos em que a iluminação é intensa, a mudança
em questão é também intensa e pode chegar a ser uma verdadeira “transfi
guração”. Dante diz que foi “transhumanizado num Deus”. Parece haver
uma grande probabilidade de que, pudesse ele ter sido visto naquele
momento, teria apresentado o que só poderia ser chamado de “transfi
guração”. Em capítulos subseqüentes deste livro serão apresentados vários
casos em que ocorreu a mudança em questão, mais ou menos fortemente
marcada.
X
a. Nova consciência.
b. Nova faculdade.
XI
xn
“Bem”, dirá alguém, “se essas pessoas vêem, sabem e sentem tanto, por
que não vêm até nós e o expressam em linguagem clara, dando ao mundo o
benefício disso?” Eis o que a “fala” disse a Whitman: “Walt, você tem um
grande conteúdo; por que não deixá-lo vir à luz?” [193: 50], Mas ele nos
diz:
a. A luz subjetiva.
b. A elevação moral.
c. A iluminação intelectual.
d. O senso de imortalidade.
e. A perda do medo da morte.
f. A perda do senso de pecado.
g. A subitaneidade e instantaneidade do despertar.
h. O caráter anterior do homem - intelectual, moral e físico.
i. A idade da iluminação.
j. O encanto acrescentado à personalidade, de modo que homens e mulheres
são sempre (?) fortemente atraídos para a pessoa,
k. A transfiguração do indivíduo que é objeto da mudança, tal como vista
por outrem quando o sentido cósmico está efetivamente presente.
XIV
XV
Capítulo 1
GAUTAMA, O BUDA
Siddhartha Gautama nasceu de pais abastados (seu pai tendo sido mais
um grande proprietário de terras do que um rei, como se diz que tenha sido),
entre 562 e 552 a.C. Parece suficientemente certo que ele foi um caso de
Consciência Cósmica, embora, dado o caráter remoto de suá época, detalhes
de prova possam até certo ponto faltar. Casou-se muito jovem. Dez anos
após nasceu seu único filho, Rahula. Pouco depois do nascimento de Rahula,
Gautama, então com a idade de vinte e nove anos, repentinamente abandonou
seu lar para se devotar inteiramente ao estudo de religião e filosofia. Ele
parece ter sido um homem de mentalidade muito séria, que, sentindo
profundamente as aflições da espécie humana, desejou acima de tudo fazer
algo para eliminá-las ou pelo menos diminuí-las. A maneira ortodoxa de
alcançar a santidade, na época e na terra de Gautama, era pelo jejum e pela
penitência, de modo que por seis anos ele praticou extrema automortificação.
Ganhou fama extraordinária, pela qual não se interessava nem um pouco,
mas não conquistou a paz mental nem o segredo da felicidade humana por
que tanto se esforçara. Vendo que aquele caminho era vão e a nada levava,
abandonou o ascetismo e logo depois, na idade de trinta e cinco, alcançou a
iluminação sob a famosa árvore Bo.
n
Para nosso presente propósito, é importante fixarmos a idade do advento
do Sentido Cósmico - neste como em outros casos - tão precisamente quanto
possível. Uma autoridade muito recente e provavelmente boa [60] estabelece-a
como trinta e seis anos. Emest De Bunsen, em sua obra The Angel Messiah
[O Messias Anjo], diz que Buda, como Cristo, “começou a pregar aos trinta
anos. Com certeza deve ter pregado em Vaisali, pois lá cinco rapazes toma
ram-se seus discípulos e o exortaram a que continuasse com seus ensina
mentos. Ele estava com vinte e nove anos quando deixou aquele lugar;
portanto, pode muito bem ter pregado aos trinta. Ele não girou a roda da lei
(não se tomou iluminado) senão após uma meditação de seis anos sob a
árvore do conhecimento” [109: 44],
III
IV
No Maha Vagga [162: 208] está dito que “durante a primeira vigília da
noite seguinte à vitória de Gautama sobre o maléfico (a noite seguinte àquela
em que alcançou a Consciência Cósmica), ele fixou sua mente na cadeia de
causação', durante a segunda vigília, fez o mesmo e, durante a terceira,
também fez o mesmo”. Esta tradição existe entre os budistas do Norte e do
Sul e vem desde o tempo anterior à separação destas igrejas; portanto, é
provavelmente genuína e provém do próprio Gautama. Mas expressa em
linguagem clara e concisa um dos fenômenos mais fundamentais relativos
ao advento do Sentido Cósmico; muito provavelmente, “a revelação de
extraordinária grandeza” de que fala Paulo; a visão das “rodas eternas”, de
Dante; “o conhecimento que ultrapassa todos os argumentos da terra”, de
Whitman; a “iluminação interior pela qual podemos finalmente ver todas as
coisas como elas são, contemplando toda a criação - os animais, os anjos, as
plantas, as imagens de nossos amigos e todos os níveis e raças da espécie
humana - em sua verdadeira constituição e ordem”, de Edwárd Carpenter.
V
No Akankheyya-Sutta [161:210-18] são apresentadas as características
espirituais daqueles que têm o Sentido Cósmico. Ninguém que não o tivesse
poderia ter escrito a descrição que indubitavelmente procede, como se
pretende, diretamente de Gautama. Nem poderia qualquer possuidor posterior
dessa faculdade expressar mais claramente, no mesmo número de palavras,
os sinais característicos que a ela pertencem. Por exemplo, ali é dito que a
conquista do estado de Arahat (visão interior, sobrenatural - Nirvâna -
iluminação - Consciência Cósmica) “fará um homem se transformar” :
Palavras d e Gautama Passagens paralelas
VI
vn
As linhas seguintes são citadas como alusão clara ao Sentido Cósmico -
o Upanishad deveria ser lido por inteiro:
Viveu certa vez Svetaketu Aruneya “ Que, vendo, eles podem ver e não
(o neto de A runa). D isse-lhe seu pai apreender e, ouvindo, podem ouvir e não
(Uddâlaka, filho de Aruna): “Svetaketu, compreender” [15:4.12] “Não duvido que
vá à escola, pois não há ninguém que interiores tenham seus interiores e exteriores
tenham seus exteriores e que a vista tenha outra
pertença à nossa raça, querido, que, não
vista e que a audição outra audição e a voz outra
ten d o estudado (os V edas), seja, por voz” [193: 342].
assim dizer, um Brâm ane som ente pelo
nascim ento” .
Tendo iniciado seu aprendizado com um mestre quando tinha doze anos de idade,
Svetaketu voltou a seu pai aos vinte e quatro, depois de ter estudado todos os Vedas,
pretensioso, considerando-se um homem culto e austero.
Seu pai lhe disse: “Svetaketu, como você é tão presunçoso, considerando-se tão
culto e tão austero; meu caro, você já pediu a instrução pela qual ouvimos aquilo que
não pode ser ouvido, pela qual percebemos aquilo que não pode ser percebido, pela
qual conhecemos aquilo que não pode ser conhecido?” [148: 92]
VIII
IX
a. O caráter inicial de sua mente, que parece ter sido ardoroso, sério e elevado;
com efeito, o tipo de caráter que geralmente (sempre?) precede o advento
do Sentido Cósmico.
Pode haver dúvida quanto a se o Sr. Hirai, por “razão universal”, entende
“Consciência Cósmica”, mas sua intenção ao usar a expressão é a mesma.
Se ele compreende ou se vier a compreender o que é Consciência Cósmica, é
certo que dirá que Nirvâna é um nome para ela.
XI
Não há sofrimento para aquele que tenha terminado sua jornada e abandonado o
pesar, que se tenha libertado por todos os lados e lançado fora todos os grilhões.
Até os deuses invejam aquele cujos sentidos, como cavalos controlados por seu
condutor, foram dominados, aquele que está livre do orgulho e livre dos apetites.
A quele que cum pre com seu dever é (#1) «Aquele que ^ seu eSpírito, em qualquer
tolerante como a terra (*1), como o raio emergência, não acelera nem evita a
de In d ra; é com o um lago sem lam a; morte” [193: 291],
novos nascimentos não estão reservados
para ele. Seu pensam ento é sereno e “A terra, nem se retarda nem se apressa; não
serenas são sua palavra e sua ação quando retém, é bastante generosa; as verdades da terra
tenha obtido a liberdade por meio do esperam continuamente, não estão ocultas
verdadeiro conhecimento [131: 271. tampouco; são calmas, sutis, intransmissíveis
pela escrita”[193: 176],
A queles que por firmeza mental tenham se tornado isentos de m au desejo e
[sejam] bem treinados nos ensinamentos de Gautama; esses, tendo obtido o Fruto da
Quarta Senda e tendo imergido a si próprios naquela Ambrosia, receberam [prêmio?]
inestimável e estão no gozo de Nirvana. (*2) K arm a - ação ou atos da pessoa
Seu velho Karma (* 2 ) está exaurido, considerados como determinantes de seu
nenhum novo Karma está sendo produ destino após a morte e numa vida seguinte.
zido; seu coração está livre do anseio por
um a vida futura (*3); destruída a causa (*3) O homem que adquiriu o Sentido Cósmico
de sua existência e nenhum anelo nascen não deseja a vida eterna - ele a tem.
do em seu interior, esses, os sábios, são
ex tin to s com o esta lâm p ad a (R atan a (*4) Nir, “apagar”, vana, “soprando”, da raiz
Sutta). Conduz bem a si mesmo o mendi va, “soprar”, com o sufixo ana. Que
cante que conquistou [o pecado] por meio Nirvâna não pode significar extinção no sentido
da santidade, de cujos olhos o véu do erro de morte, está claro pela seguinte passagem: “E
logo ele atingiu a meta suprema do Nirvâna - a
foi removido, que é bem treinado na reli
vida superior - em prol da qual os homens se
gião; e que, livre de anelo e qualificado
afastam de todo e qualquer proveito e conforto
no co n h ecim en to , te n h a alcançado o domésticos a fim de se tomarem peregrinos sem
Nirvâna (Sammaparibbajaniya Sutta). lar; sim, essa meta suprema ele passou a conhecer
Que é então Nirvâna, que significa sim por si próprio e continua a apreender e ver face
plesmente apagar soprando - extinção a face enquanto ainda neste mundo visível.
(*4) - sendo bem claro, pelo que já foi ”[163: 110].
dito, que não se pode tratar da extinção
da alma? Trata-se da extinção da pecaminosa, cobiçosa condição da mente e do
coração, que - se não è extinta —é a causa de renovada existência individual segundo
o grande mistério do Karma .
Essa extinção deve ser acarretada pelo crescimento da condição oposta de coração
e m ente e corre paralelamente a ele; está completa quando essa condição oposta é
alcançada. Nirvâna é portanto a mesma coisa que um estado sem pecado e calmo da
m ente e, se traduzida, talvez seja melhor interpretada como “ santidade”- isto é,
santidade, no sentido budista - paz perfeita, virtude e sabedoria.