Você está na página 1de 4

INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA: INVENÇÃO E VERIFICAÇÃO

Luiz Francisco Reis1

RESUMO: Este trabalho consiste em explicar de forma simplificada o texto de Carl


Hempel sobre a Investigação Científica: Invenção e Verificação. Nele o autor explica
como realizar uma investigação científica construída por hipóteses. Hempel determinou
como hipóteses dedutivas que o raciocínio parte de afirmações gerais para concluir
alguma coisa específica e de hipóteses indutivas que parte de afirmações particulares
para uma conclusão geral. Para poder exemplificar a investigação Hempel cita alguns
casos como o da febre puerperal e o raciocínio de Torricelli entre outros.

PALAVRAS-CHAVE: Investigação Científica; Hipóteses dedutivas; Hipóteses indutivas;

1. Um exemplo de caso

Para esclarecer de forma sucinta alguns aspectos importantes da investigação


científica, consideremos os estudos de Semmelweis sobre a febre puerperal. Semmelweis
nasceu na Hungria onde realizou estudos entre 1844 a 1848 no Hospital Geral de Viena.
O trabalho sobre a febre puerperal constatou que um grande número de mulheres
contraía a doença após o parto e muitas vezes esta doença era fatal tanto para o Primeiro
Serviço da Maternidade do Hospital como para o Segundo Serviço. Semmelwies esforçou-se
para encontrar a causa e a prevenção da febre puerperal submetendo várias explicações a
verificações científicas.
Semmelweis começou por considerar várias explicações que na época eram correntes.
Abandonou algumas delas primeiramente por serem conflitantes com fatos bem estabelecidos,
e sujeitou as outras a testes específicos. Na primeira hipótese raciocinou que o alto percentual
de mortalidade era devido a condições epidêmicas.

Uma idéia amplamente aceita na época atribuía as devastações da febre


puerperal a ‘influências epidêmicas’, vagamente descritas como mudanças
“cósmico-telúrico-atmosféricas” espalhando-se sobre bairros inteiros
causando a febre nas mulheres internadas. (HEMPEL, 1974, p. 14)

1
Luiz Francisco Reis é aluno do Curso de Psicologia, disciplina Antropologia Filosófica. Professor: Alejandro
Labale. Centro de Ciências da Saúde – Universidade Regional de Blumenau - FURB
Essa idéia logo foi descartada, pois a febre não ocorria em outros lugares da cidade.
Semmelweis nota que mulheres que tinham dado à luz fora do hospital tinham incidência de
febre em menor quantidade.
Na segunda hipótese foi abordada a idéia relacionada ao excesso de gente nos
serviços. No entanto, nota-se que em uma ala do hospital o excesso de gente era maior,
consequentemente a taxa de mulheres com febre era menor. Para tanto, outras explicações
psicológicas foram também descartadas, como o caso do padre que levava o último
sacramento a uma moribunda passando por cinco enfermarias antes de alcançar o quarto da
doente. O aparecimento do padre, precedido pelo soar de uma campanhia produziria um efeito
psicológico nas pacientes. Logo, essa hipótese também não foi aceita.
Uma outra observação foi feita: a maneira como as mulheres davam à luz. No primeiro
serviço as mulheres davam à luz deitadas de costas e no segundo serviço do hospital davam à
luz deitadas de lado. Segundo Hempel, 1974 p. 15, “mesmo achando a idéia inverossímil,
decidiu, como “náufrago se agarra a uma palha”, verificar se a diferença de posição poderia
ser significante. Introduzindo o uso da posição lateral no Primeiro Serviço a mortalidade não
se alterou.”
Em 1847, Kolletschka, um colega de Semmelweis cortou o dedo com o bisturi de um
estudante que realizava uma autópsia e morreu depois de muita agonia com os mesmos
sintomas da febre puerperal. Este acidente foi a chave decisiva para a solução do problema
para Semmelweis. Ele compreendeu que “a matéria cadavérica” (microorganismos)
introduzida na corrente sanguínea de seu colega foi responsável pela doença fatal. Mais tarde
Semmelweis constatou ainda que a febre puerperal pudesse ser causada tanto por material
cadavérico como por matéria pútrida de um organismo vivo.

2. Etapas de uma hipótese e o papel da indução na investigação científica

Para se verificar uma hipótese é necessário passar pelas etapas fundamentais. Às vezes
o processo é direto, mas comumente a verificação não é tão simples e tão direta.

Às vezes, o procedimento é direto. É o que aconteceu com as conjeturas de


que as diferenças em aglomeração, dieta ou em atenção explicariam a
diferença de mortalidade entre os dois Serviços de Maternidade. Como
Semmelweis observou, elas não concordavam com os fatos imediatamente
observáveis. (HEMPEL, 1974, p. 17)
De acordo com Hempel, Semmelweis usou também um método indireto de
verificação. Perguntou a si mesmo se existia algum efeito facilmente observável que ocorra
caso seja a hipótese verdadeira? E raciocinou: Se a hipótese fosse verdadeira, então uma
mudança apropriada no procedimento do padre deveria ser acompanhada de um declínio dos
casos fatais. Verificou esta implicação por uma simples experiência e achando que ela era
falsa rejeitou a hipótese.
O raciocínio que conduziu à rejeição dessas hipóteses pode ser chamado de inferência
dedutiva, onde suas premissas são verdadeiras e deste modo a sua conclusão é infalivelmente
verdadeira. Existe também outra hipótese chamada falácia de afirmação do conseqüente, onde
sua conclusão pode ser falsa ainda que suas premissas sejam verdadeiras. Esta hipótese
dependerá dos dados colhidos pela verificação.
Outro exemplo de investigação científica aconteceu no experimento de Torricelli,
discípulo de Galileu. Sabia-se que qualquer bomba aspirante que retira água de um poço por
meio de um êmbolo móvel no interior de um cilindro não consegue elevar a água a méis de
10,5m acima da superfície livre do poço. Torricelli desenvolveu uma hipótese onde a Terra
estava envolta por um oceano de ar. Criou um experimento e verificou seu raciocínio através
de um aparelho engenhosamente simples. Outra implicação dessa hipótese foi anotada por
Pascal.
Outro método de investigação científica é a indução, ou seja, as inferências indutivas
levam premissas sobre casos particulares a uma conclusão que tem caráter de lei geral ou de
princípio. Por esse motivo, diz-se que as premissas de uma inferência indutiva implicam uma
conclusão com maior ou menor probabilidade, enquanto que as premissas de uma inferência
dedutiva implicam a conclusão com certeza.
Pode-se resumir as inferências dedutivas e as inferências indutivas da seguinte forma:

Inferência Indutiva Inferência Dedutiva


- levam de premissas sobre casos particulares - a conclusão se relaciona com as premissas
a uma conclusão que tem o caráter de lei - modus tollens;
geral ou de principio; - argumentos dedutivamente válidos;
- implicam a conclusão apenas com maior ou - as premissas implicam a conclusão com
menor probabilidade; certeza;
- parte de dados previamente coligidos para - as regras de dedução não permitem achar
chegar a princípios gerais por meio de regras uma diretriz para nossos procedimentos
mecanicamente aplicáveis; inferenciais;
- fornece critérios para a legitimidade de um - não isola um enunciado único como a
argumento; conclusão a ser tirada das novas premissas;
- as regras de indução devem ser concebidas, - não fornecem uma rotina mecânica para,
em analogia com as regras da dedução, como por exemplo, em Matemática tirar dos
cânones de validação e não propriamente de postulados teoremas significativos;
descoberta;

Para uma investigação científica ideal é necessário: a) observar e registrar todos os


fatos; b) analisar e classificar os fatos; c) derivação indutiva de generalização e d) verificação
suplementar das generalizações. Mesmo sendo considerada ideal, este tipo de investigação
nunca poderia ocorrer, pois coletar todos os fatos nunca seria possível. Os fatos ou dados
empíricos podem ser analisados e classificados de várias maneiras, onde possa se reger uma
explicação dos fenômenos correspondentes é necessária fundamentar estas hipóteses sobre
como estão esses fenômenos correlacionados, pois sem essas hipóteses a análise e a
classificação são cegas.

3. Considerações Finais

Outro fator importante a considerar é a imaginação do experimentador que pode


influenciar até noções cientificamente discutíveis.
Portanto, para se atingir o conhecimento científico através da inferência indutiva é
necessário aperfeiçoar se a hipótese se ajusta ao que fora estabelecido antes de sua formulação
e derivar novas hipóteses para submetê-las a observação e experiências apropriadas Enquanto
que os princípios da inferência dedutiva fornecem uma infinidade de conclusões validamente
dedutíveis.

Referencias

HEMPEL, Carl G. Filosofia da Ciência Natural. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1974.

Você também pode gostar