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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

Programa de Pós-Graduação em Direito


Curso de Mestrado
Área de Concentração em Ordem Jurídica Constitucional

RESUMO

TRANSACTION COSTS, INSTITUTIONS AND ECONOMIC PERFORMANCE


Douglass C. North

THE ROLE OF INSTITUTIONS IN GROWTH AND DEVELOPMENT


Daron Acemoglu, James Robinson

Lia Carolina Vasconcelos Camurça

Fortaleza – Ceará
2018
PARTE 1 - TRANSACTION COSTS, INSTITUTIONS AND ECONOMIC
PERFORMANCE – DOUGLASS C. NORTH

1. INTRODUÇÃO

Trata-se artigo para desenvolver uma estrutura para analisar a mudança institucional,
aplicando-o aos problemas de desenvolvimento econômico.

2. ARCABOUÇO ANALÍTICO

Importante para a matéria é a observação de Ronald Coase, em apontar que os


resultados neoclássicos de mercados eficientes são obtidos apenas na ausência de custos de
transação. Portanto, quando os custos de transação são significativos, as instituições
importam. Instituições e o modo como evoluem determinam a performance econômica, são
as regras do jogo na sociedade, modelando a interação humana.
Quanto mais complexa uma economia, mais indivíduos estarão engajados em
coordenar e operar esse sistema. No entanto, há mais aos custos de transação que apenas a
força de trabalho engajada. O modo como o sistema econômico é organizado determina a
distribuição de lucro, sendo de interesse dos participantes em organizar o sistema de modo
que os beneficie. Contudo, não há garantia que desta forma resultará um crescimento
econômico.
O fato de que a informação é custosa e que os indivíduos possuem diferentes
quantidades desta sobre o que está sendo transacionado é o ponto de partida para entender
como os indivíduos podem se beneficiar às custas dos outros.
Esses custos podem se dividir em diversas variáveis. A primeira delas trata do custo
em medir o valor dos atributos dos bens e serviços na transação. A segunda é sobre o
tamanho do mercado, que determina se as trocas se dão de forma pessoal ou impessoal. A
terceira variável é a execução, se esta se dá de forma eficaz e imparcial ou não. Estas três
variáveis sozinhas, sob a perspectiva da visão neoclássica de maximização de riquezas,
determinariam os custos de transação.
No entanto, defende o autor uma quarta variável: ideologia. As percepções
individuais sobre as regras do jogo afetam a sua performance. Está diretamente ligada a que
medida a medida e execução dos contratos é custosa.
Mercados eficientes são uma consequência das instituições que propiciam baixos
custos para o cumprimento dos contratos em um momento particular. As instituições,
portanto, devem não apenas propiciar medidas de baixo custo aos direitos de propriedade e
leis de falência, bem como fornecer incentivos para encorajar tomadas de decisão
descentralizadas e efetivos mercados competitivos.
Vale também a distinção entre instituições e organizações. As primeiras consistem
nas estruturas que as pessoas impõem nas tratativas entre si. São formadas para reduzir a
incerteza ao estruturar a ação humana. Organizações, por sua vez, consistem em grupos de
indivíduos engajados em certa atividade fim. Se as instituições são as regras do jogo, as
organizações são os jogadores.
Quanto a mudança institucional, os agentes da mudança são os empreendedores
políticos ou econômicos. Os meios de mudança são as oportunidades percebidas por estes.
Uma mudança institucional deliberada, portanto, resulta das demandas dos empreendedores
no contexto dos custos percebidos de alterar o arcabouço institucional. Barganha de forças
e a incidência de custos de transação não são as mesmas coisas na política e na economia,
senão não seria vantajoso para alguns grupos direcionar suas questões à arena política.
Muito da racionalidade da teoria neoclássica supõe que os agentes possuem as
informações necessárias para analisar suas alternativas corretamente e, consequentemente,
fazer escolhas para atingir seus objetivos. No entanto, este postulado não considera os
mercados imperfeitos e incompletos que caracterizam muito do mundo presente e passado,
mas também direciona o pesquisador ao que faz o mercado imperfeito: o custo de transação.
Ignorância dos eleitores, informação incompleta e prevalência de estereótipos
ideológicos como fundamento dos modelos subjetivos individuais explicam o ambiente e
direcionam o mercado político que pode adicionar e perpetuar instituições improdutivas e
suas consequentes organizações.

3. O ARCABOUÇO APLICADO

Um necessário primeiro passo seria delinear a estrutura de incentivos (oportunidades)


das políticas e economias, de forma a entender os tipos de organização que cada uma cria.
Políticas definem as regras formais e os direitos de propriedade nas economias. Uma
condição necessária de soluções em uma performance econômica melhorada é a existência
de estruturas institucionais que providenciam incentivos positivos à criação de vários meios
alternativos para a solução de problemas. A estrutura institucional ideal é uma é
adaptativamente eficiente.
O primeiro passo no desenvolvimento é obter informação sobre os contornos da
economia, de forma a ajudar identificar os custos de transação e produção, além de
identificar as instituições que baseiam esses custos. Não é apenas obter a informação, mas
processá-la corretamente, ou seja, observar a forma que atores relevantes veem problemas.
A importância da ideologia foi aprendida durante os últimos setenta anos, quando modelos
comunistas moldaram a política de metade do mundo.
As variantes atitudes quanto a certos valores tais quais honestidade, integridade e
trabalho duro, são determinantes críticos dos custos de transação em uma complexa troca
política e econômica.

4. LIÇÕES DA HISTÓRIA: O QUE APRENDEMOS?

Os padrões de dependência de trajetória que produziram relativo sucesso no mundo


ocidental e persistente falha no resto do mundo nos fornece aspectos importantes sobre o
quê funciona e o que não funciona em termos de estruturas institucionais.
O estudo dos bens comuns também é congruente com a questão. Assim como os bens
comuns, as pessoas também possuem baixo nível de exclusão, no entanto, o consumo de um
indivíduo é rival para os outros. Elinor Ostrom descobriu que há certas similaridades entre
situações em que instituições de auto governo de bens comuns se desenvolveram e foram
bem sucedidas. Ademais, estas instituições e organizações que foram bem sucedidas
possuem similaridades pelos quais se obtiveram certos princípios norte.

5. INOVAÇÃO INSTITUCIONAL: PROMESSA E PROBLEMAS

Quanto à inovação institucional, esta deve ocorrer em diferentes níveis de forma a se


obter um desenvolvimento sustentável. A mudança das instituições implica na alteração das
organizações existentes e a criação de novas organizações em que os empreendedores
acharão que vale a pena investir em atividades produtivas, de forma que diretamente ou
indiretamente alteram a estrutura institucional para criar regras produtivas e limitações
informais.
Além disso, as regras formais que determinam a eficiência da propriedade e lhe
impõe são feitas pela política e, invariavelmente, mercados políticos são imperfeitos e
marcados por ideologias e pressões de grupos, refletindo os interesses organizacionais
destes. Isto se verifica de forma mais proeminente, por exemplo, na América Latina e na
África Subsaariana.
Uma rápida mudança pode resultar em tumulto político e social, desde que as
limitações informais e as percepções ideológicos não vão simplesmente mudar de uma vez.
Nisto resta um dilema: uma lenta mudança será sabotada pelas burocracias existentes e por
grupos de interesses, de forma que as reformas serão distorcidas, dissipadas e dissolvidas.
Por todo o exposto, admitem-se certas implicações. Os custos de transação surgem
por conta dos custos em medir valores de múltiplas dimensões envolvidas na troca e por
conta dos custos em impor acordos. A informação não é somente custosa, mas também
incompleta e a imposição não é somente custosa, mas também imperfeita.
Para potencializar os ganhos da interação humana, é necessário impor as políticas
necessárias para implicas reestruturação das instituições no mundo, mas também compensar
os perdedores.
PARTE 2 – THE ROLE OF INSTITUTIONS IN GROWTH AND DEVELOPMENT
– DARON ACEMOGLU E JAMES ROBINSON

1. INTRODUÇÃO

Uma das mais importantes questões nas ciências sociais diz respeito às causas das
diferenças de desenvolvimento e crescimento econômico entre os países. Busca-se no
trabalho analisar as instituições, verificando se elas são a causa fundamental do crescimento
e desenvolvimento econômico de um país e se é possível desenvolver uma estrutura coerente
para compreender por quê e como as instituições diferem entre os países e como evoluem.

2. O QUE SÃO INSTITUIÇÕES?

Uma importante definição de instituições foi tratada por Douglass North:


“Instituições são as regras do jogo em uma sociedade ou, de modo mais formal, são as
coações humanamente concebidas que moldam a interação humana.”
A noção que incentivos importam é uma segunda natureza para os economistas. Tais
instituições, se são determinantes desses incentivos, deveriam ter um grande impacto nos
resultados econômicos. A instituições se diferenciam nas sociedades por conta de seu
método coletivo de tomada de decisões ou por conta de suas instituições econômicas.

3. O IMPACTO DAS INSTITUIÇÕES

Existe uma imensa diferença entre países na maneira em que a vida econômica e
política é organizada. Grande parte da literatura analisa a relação das instituições e a
performance econômica, no entanto, não há conclusões sobre se os países com piores
instituições são mais pobres por conta delas.
Para haver um avanço, é necessário isolar a fonte das diferenças exógenas entre
instituições, de forma a aproximar a situação em que em que um número de sociedades
supostamente idênticas terminariam com diferentes arcabouços institucionais.
Um exemplo verificado é o da colonização europeia no mundo. Esta se deu de forma
de povoamento ou extrativa. Entre estas, há uma grande diferença no desenvolvimento
institucional. Nas primeiras, verifica-se uma busca de benefícios futuros para os colonos,
uma menor taxa de mortalidade, propiciando a adaptação, e uma menor fonte de mão de obra
nativa. Nas colônias de exploração, verificou-se um aparato altamente centralizado,
oprimindo a população nativa e facilitando a retirada de recursos a curto prazo.
Dessa forma, para entender o por quê de um país ser pobre, deve-se buscar
compreender por que suas instituições são disfuncionais. Se as instituições possuem grande
efeito nas riquezas econômicas, por que algumas sociedades escolhem em manter tais
disfunções? Um problema a ser enfrentado é a diferente distribuição de ganhos entre
diferentes indivíduos e grupos sociais.

4. MODELANDO AS DIFERENÇAS INSTITUCIONAIS

Instituições econômicas são escolhas coletivas da sociedade. Por conta a diferença


entre a distribuição de renda, nem todos os indivíduos e grupos preferem o mesmo conjunto
de instituições econômicas. Isso leva à um conflito de interesses entre os grupos sobre a
escolha da estrutura institucional, sendo o poder político – de direito- um fator decisivo.
Isto não significa que o poder de fato não exerça influência, havendo uma grande
discussão sobre como a combinação dessas variáveis distribuem a escolha das instituições.
Uma importante noção é a de persistência, eis que a distribuição de recursos e de instituições
políticas possui uma mudança relativamente lenta e persistente.

5. UM SIMPLES EXEMPLO HISTÓRICO

Um exemplo marcante é o desenvolvimento dos direitos de propriedade na alta idade


média e início do período moderno. As centenárias monarquias possuíam o poder político e
o de fato, até o desenvolvimento da ideia de proteção da propriedade e limites ao poder
monárquico no século XVII. A expansão do comércio gradualmente aumentou as fortunas
dos comerciantes, dando-lhes um poder factual apto a fazer oposição às tendências
absolutistas.
O poder político é usualmente utilizado para promover mudanças institucionais ante
a preocupação não apenas com o momento presente, mas também o futuro.
Comprometimentos futuros não seriam possíveis porque decisões futuras são feitas por
aqueles que mantém este poder. O poder de fato, por sua vez, é transitório, de forma que
qualquer mudanças institucionais que se baseiem unicamente nele provavelmente serão
revertidas no futuro. Contudo, diferentemente do que se poderia pensar, uma mudança
conjunta em ambos poderem também não significa uma melhoria nas instituições, consoante
se verificará a seguir,

6. ARMADILHAS DA REFORMA

Não se deve tentar entender ou manipular instituições econômicas sem pensar sobre
as forças políticas que as criaram ou as sustentam. Uma reforma institucional direta em si
mesma é improvável de ser efetiva, devendo os esforços serem voltados para entender e
reformar as forças que mantém as instituições ruins em seu lugar. É difícil conceber uma
mudança institucional enquanto existem poderosas forças reafirmando o status quo. Tais
reformas podem não funcionar sem alterar o equilíbrio político.
Poder-se-ia pensar que uma reforma bem sucedida precisaria de mudanças tanto de
direito quanto de fato. No entanto, é demonstrado que, mesmo com ambas alteradas, pode-
se não se obter uma reforma real, eis que o equilíbrio político pode ser dependente da
trajetória.
Uma das primeiras armadilhas é reformar diretamente específicas instituições
econômicas, sem analisar outros meios, ou mesmo outros instrumentos para obter o mesmo
objetivo. Retirando um instrumento sem alterar a balança de poder na sociedade ou o
equilíbrio político básico pode simplesmente levar à reposição de um instrumento por outro.
Isto se verificou no novo clientelismo na América Latina, em que os políticos verificaram
que poderiam manipular as políticas de neoliberalismo para obter fins clientelistas, obtendo,
inclusive, fórmulas populistas.
A persistência do poder de fato também é uma armadilha, já que mudanças
unicamente nos poderes de direito podem não ser suficientes para desencadear uma mudança
no equilíbrio político e no sistema econômico. Como exemplo, há a persistência do poder
nas mãos da elite anteriormente escravocrata, mesmo após sua derrota na Guerra Civil
americana. Após o término da guerra, as mesmas elites controlaram as terras e se utilizaram
de diversos instrumentos para manter o controle sobre a força laboral.
A terceira armadilha é a lei de ferro da oligarquia. A mera substituição de uma elite
por outra provocará pouca alteração na performance econômica. Essa hipótese determina
que nunca é possível haver uma verdadeira mudança na sociedade, eis que os novos grupos
que são criados simplesmente substituem a elite pré-existente, portando-se de maneira
similar à anterior. Como exemplo está o MNR – Movimiento Nacionalista Revolucionario
– que provocou fortes mudanças na política de terras da Bolívia e introduziram o sufrágio
universal, para depois exercer uma política de partido único e clientelista. Portanto, pode
haver grande dependência de trajetória no equilíbrio político, ainda que os poderes de fato e
de direito sejam alterados.

7. REFORMA BEM SUCEDIDA

Apesar das anteriores demonstrações de dificuldades em alterar o status quo, há


exemplos de reformas bem sucedidas, entre eles o da Botswana. As fortes instituições
indígenas não se abalaram pelo colonialismo, impondo uma política de freios e contrapesos
às suas elites políticas. Botswana foi bem por conta do equilíbrio político facilitado pelas
boas instituições econômicas, assemelhando-se ao que ocorreu no século XVII na Inglaterra.

8. CONCLUSÕES

As diferentes instituições entre os países refletiu, principalmente, os resultados das


diferentes escolhas coletivas. Entender o subdesenvolvimento implica em entender porque
os países estagnam no equilíbrio político que dá origem a instituições ruins.
Há claras armadilhas em promover alterações econômicas e políticas de instituições,
sem haver possibilidade de garantir um bom caminho de desenvolvimento e crescimento.
Uma boa política de desenvolvimento apenas será possível quando se reconhecer e entender
bem as forças que regulam as instituições.

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