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Duas cabegas pensam melhor do que uma Empirismo colaborativo PAUL: As vozes me dizem coisas que me apavoram. TERAPEUTA: Que tipo de coisas as vozes lhe dizem? PAUL: Elas dizem para eu me machucar e para machucar as outras pessoas. TERAPEUTA: Vocé estaria disposto a conversar comigo sobre as vozes hoje? Talvez possamos encontrar uma forma de ajuda-lo a lidar com elas. PAUL: (Parece cauteloso.) Sim. TERAPEUTA: De quem vocé acha que sao essas vozes?” PAUL: Eu acho que sao anjos... ou deménios. TERAPEUTA: Isto significa que elas sao poderosas? PAUL: Sim, é claro. Isto é o que me assusta tanto. Eu tenho medo de que elas me forcem a fazer coisas ruins. TERAPEUTA: Vocé ja fez alguma coisa ruim até agora? PAUL: Nao tao ruins assim. TERAPEUTA: Como vocé consegue parar quando as vozes lhe dizem para fazer coisas ruins? PAUL: Eu rezo. E eu toco misica alta para nao ter que ouvir. E eu fico longe das pes- soas que eu poderia machucar. TERAPEUTA: Parece que vocé usou a sua fé e resolucéo de problemas para encontrar algumas formas de proteger a si € aos outros. PAUL: Sim. Mas eu nao sei por quanto tempo eu consigo ser mais esperto do que elas. TERAPEUTA: Talvez hoje possamos saber algo mais sobre as vozes que possa lhe ajudar. Eu tenho uma teoria de que gostaria de Ihe falar a respeito e que poderia ajudar. PAUL: O que é? ‘TERAPEUTA: Essas vozes podem ser anjos ou deménios. Ou é possivel que elas sejam pensamentos na sua cabega que lhe assustam e que na verdade nao tém muito poder. Eu acho que é importante que tentemos entender exatamente quem sao Conceitualizagao de casos colaborativa 79 ws f ° aaa de poder elas tém. Vocé acha que saber mais sobre essas_ PAUL: Sim, mas eu tenho certeza de que elas nado estao somente na minha cabega. TERAPEUTA: OK. Entdo talvez isto seja uma coisa que deverfamos testar. A terapeuta de Paul esta comegando a ajuda-lo a conceitualizar as vo- zes que ele ouve. Observe como os trés elementos no caldeirao da concei- tualizacao do caso descrito no Capitulo 2 — teoria, pesquisa e detalhes indi- viduais do cliente — est&o entrelagados de forma colaborativa neste didlogo. a, informada pela Erpenciaa! clinica e — pesquisa sobre psicose (Kingdon e sessdo avanga, a terapeuta ir4 encorajar Paul a assumir uma abordagem empirica, realizando experimentos dentro e fora da sessao para ajuda-lo a avaliar as varias teorias sobre as vozes. Neste estdgio inicial das discussdes, as conceitualizagées sao bem sim- ples: anjos/deménios ou pensamentos na cabeca de Paul. Quando a terapia avancar, essas conceitualizacées ficaraio mais elaboradas. Quando forem ex- plorados niveis mais elevados de conceitualizacdo, Paul e sua terapeuta avan- cardio de uma compreensao descritiva das vozes para uma identificagdo expla- natéria dos fatores desencadeantes, de manutengao, predisposic¢aéo e pro- tetores. Durante esse processo de conceitualizacao, a terapeuta faz perguntas e expressa interesse pelos pontos fortes de Paul. Ela ira inclui-los nas concei- tualizages e usa-los para desenvolver a resiliéncia de Paul. A maioria dos leitores com experiéncia em conceitualizagao de caso esta familiarizada até certo ponto com todas as partes do processo de conceitualizagao descrito nos pardgrafos anteriores. No entanto, mesmo terapeutas de nivel avancado em TCC frequentemente carecem de experiéncia ou de habilidade em uma ou mais dessas areas. Os terapeutas as vezes se esquecem de testar empiricamente a conceitualizagao do caso com o cliente. Os pontos fortes do cliente podem ocasionalmente ser avaliados, mas nao sao incorporados ro- tineiramente aos modelos conceituais. Como queremos que a conceitualizagao de caso sirva como um caldeirao ativo para a mudanga, achamos que é im- portante integrar teoria, pesquisa e os aspectos individuais de um caso da forma mais completa possivel durante toda a terapia. Além disso, Neste capitulo, focamo-nos em como o empirismo colaborativo funciona na pratica. Diversos exemplos de caso ilustram como ele cria uma sintese a partir dos trés elementos: teoria, pesquisa e experiéncia do cliente. 80 Willem Kuyken, Christine A. Padesky e Robert Dudley COLABORAGAO EM ACAO O re Diferente de alguns modelos de terapia ¢ em que © tera- peuta € 0 especialista que trabalha como um “paciente” que espera receber conselhos especializados, os terapeutas cognitivos estimulam relacées em que todos os participantes conteibuelt dgtialments Bata.d ° Brocesso terapéutico. le h C it 0 terapeuta contribui com a sua experiéncia educacional, pessoal « e profissional, o que idealmente inclui uma base de conhecimento empirico. Cada cliente participa com uma compreensao e uma consciéncia tinica da sua propria experiéncia pessoal e interpessoal, e também com o potencial para observar e para relatar reagoes internas e externas aos esforcos por mudanca. A colaboragao descreve o processo através do qual os pontos fortes do terapeuta e do cliente séo reunidos em beneficio do cliente. Na TCC, as rela- Ges terapéuticas colaborativas sao atingidas e mantidas por meio da discus- sao explicita, uso de um esquema colaborativo dentro da sessao terapéutica, uma alianga terapéutica positiva, a estrutura terapéutica e um equilibrio éti- mo entre alianga e estrutura durante o curso da terapia. Discussao explicita 2 Em geral, a im terapia. ‘Uma explicacdo simples e geralmente suficiente se ela for seguida pela colaboragao em acao: TERAPEUTA: (no inicio da primeira sessdo) Vamos usar alguns minutos para discutir como podemos trabalhar juntos. Eu gosto de trabalhar em conjunto, como uma equipe. Tenho algum conhecimento sobre a ajuda a pessoas com problemas de humor e preocupagées, e ja ajudei muitas delas a maneja-los melhor. Mas vocé é 0 especialista do seu préprio humor e de suas experiéncias de preocupacao. Se vocé me contar 0 que vocé experiencia e eu lhe disser 0 que sei, é provavel que con- sigamos propor um plano que podera ajuda-lo. O que lhe parece? ELLEN: OK, eu acho. TERAPEUTA: Por exemplo, hoje eu gostaria de lhe fazer algumas perguntas sobre 0 que 0 trouxe aqui e outras perguntas para saber mais sobre os seus esforcos € 0s seus pontos fortes. A medida que formos avangando, eu lhe darei infec oes sobre coisas que acho que podem lhe ajudar. ee ELLEN: Claro.

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