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J o sé T a d e u J o rge
E D I T O R A
Conselho Editorial
Presidente
E d ua rdo G u im a rã es
E sd r a s R o d r ig u e s S ilva - G u ita G r in D eb er t
J oão L u iz de C arvalho Pin t o e S ilva - L u iz C a r lo s D ías
L u iz F r a n c isc o D ías - M a r c o A u r élio C rem a sco
R ic a r d o A n t u n e s - S e d i H irano
Carlos Brandão
CD D 337
338.9
I S B N 978-85-268-0971-0 301.36
T edição, 2007
Ia reimpressão, 2014
Printed in Brazil.
Foi feito o depósito legal.
Direitos reservados à
Editora da Unicamp
Rua Caio Graco Prado, 50 - Campus Unicamp
CEP 13083-892 - Campinas - SP - Brasil
Tei./Fax: (19) 3521-7718/7728
www.editora.unicamp.br - vendas@editora.unicamp.br
I"* T">'. r.^ü-M?
Xa. I * ~ I 5_kLiÇÃO
regional. 4. Planeja-
338.9
501.36
lr*
k 337
Captar a natureza do subdesenvolvimento não é tarefa fácil:
muitas são as suas dimensões e as que são facilmente visíveis
338.9
338.9 nem sempre são as mais significativas.
301.36
( C e ls o F u r t a d o , 1974 )
“As economias subdesenvolvidas podem conhecer fases prolongadas de cresci
mento de seu produto global t p e r c a p ita , sem reduzir o grau de dependência
externa e a heterogeneidade estrutural interna, que são suas características
essenciais.”
C e ls o F u r ta d o (2002 , p. 32 ).
“Pensar com radicalidade e com especificidade não é apenas para nos re
galamos com nossas produções teóricas; isso tem uma urgência cívica e
uma urgência política, pois o efeito da negação da especificidade pode ser
devastador, pensar sem radicalidade e sem especificidade, como a própria
experiência latino-americana está mostrando...”
F r a n c is c o d e O liv e ir a (2002 , p. 95 ).
Este livro é fruto de anos de trabalho na área dos estudos sobre desen
volvim ento, território e dinâmicas regionais e urbanas. Nesse sentido,
incontáveis pessoas colaboraram para a formação das idéias aqui expostas:
professores, alunos e colegas.
Toda m inha form ação na área, desde as pesquisas na graduação, no
final dos anos 70, foi inspirada e ancorada nas obras de W ilson Cano.
Tive o privilégio de poder trabalhar com ele nos últim os anos. Além
disso, devo agradecer-lhe, neste m om ento decisivo, a leitura atenta do
texto aqui apresentado, além do prefácio do livro.
Aos bons alunos, com os quais sempre se aprende muito.
Aos colegas do Instituto de Econom ia da U n icam p que travam luta
contra o pensam ento conservador e por um Brasil m enos desigual e
mais democrático.
A m inha querida filha, Renata, pela esperança no amanhã.
A meu amor, Hipólita, pela paz e o carinho.
Sumário
A p r e se n ta çã o ....................................................................................................... 17
P r e fá c io ................................................................................................................. 23
In tr o d u ç ã o ............................................................................................................ 29
1 — O c a m p o d a e c o n o m ia p o lític a d o d e s e n v o lv im e n to :
0 em b a te co m o s “ lo c a lis m o s ” n a lite r a tu r a e n a s
p o l í t i c a s p ú b l i c a s c o n t e m p o r â n e a s ............................................................. 35
2 — As p r in c ip a is d e te r m in a ç õ e s d a d im e n s ã o
3 — A s h e te r o g e n e id a d e s e s tr u tu r a is e a c o n s tr u ç ã o d a
u n id a d e n a c io n a l: in te g r a ç ã o d o m e r c a d o n a c io n a l e a
c o n s t r u ç ã o s o c i a l d e u m a “e c o n o m i a u r b a n a c o m p l e x a ” ...................... 89
4— T r a n s f o r m a ç õ e s n o “p a d r ã o d e s o c i a b i l i d a d e ”
d o B r a s il, c r is e e s t r u t u r a l d o E s ta d o e a n a t u r e z a d o im p a s s e
5 — A r e a fir m a ç ã o d o n a c io n a l e a s p o s s ib ilid a d e s
d e e s tr a té g ia s e p o lít ic a s d e d e s e n v o lv im e n to e
s u a s e s c a l a s e s p a c i a i s .......................................................................................183
17
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO üé!
fiscal. O preço desse ajuste não foi pequeno e uma de suas conseqüências do que foi para os eu rop eu s:
mais evidentes foi o bloqueio ao crescimento da econom ia nacional. grandes nações, o movi
O modesto crescimento em meio a uma crise fiscal agónica se associa ainda favorecia p olíticas:
à crescente hegem onia das teses liberais. A aceleração do programa de Reconstruir a visão de<
desestatização foi apenas uma das marcas dessa guinada ideológica, que à escala nacional não é i
justificou a ampla desestruturação do Estado brasileiro. m ônico, que não dá conta <
O fato é que, num contexto m undial marcado por transformações Brasil, nem dá conta de \
importantes, o país optou por uma inserção passiva nos mercados mun- Tal m odelo desp erdiça:
dializados e crescentemente comandados pela financeirização da riqueza, nacional, exatamente por
com reformas profundas na ação do Estado. O Brasil acabou tendo uma nas para o pedaço mais i
resposta mais marcada pela passividade do que por políticas ativas, o que mais moderna. Mas a fatiai
causou impactos, também, na dimensão territorial. Um país continental desafio, portanto, é pror
e heterogêneo com o o Brasil não pode ser entregue apenas às decisões m áquina de desigualdade t
ditadas pelas regras do mercado, e m uito menos entrar “de cabeça” no A atuação de um mer
rentismo. Pode e deve ter um a política pública ativa de desenvolvimento, o anteriormente brasileiro.*
buscando evitar que se dessolidarize o destino do país e faça emergirem avançada e de busca de i
crescentemente velhos regionalism os e novos paroquialismos. Mas por nacional, embora possa s
que o Brasil seguiu outro rumo? e já integradas aos fluxos«
Para tentar encontrar uma resposta a essa questão é preciso identificar e de modernização, parai
o projeto hegem ônico das elites brasileiras. É um projeto que busca a à m arginalização econôi
m odernização conservadora, priorizando as partes já mais avançadas do em desemprego e aume
país. Busca ampliar a inserção com petitiva de nossos nichos dinâmicos, É bom não esquecer <
esquecendo o que considera “o resto”. Um projeto que tende a descon nova organização dos <
siderar o grave quadro de desigualdade social que o país tem. Esse é o da dinâm ica da producá
equívoco da elite brasileira achar que pode fazer do Brasil uma grande globais) e, de outro, da i
potência com o tamanho da desigualdade social que nós temos. E não os impactos regionais e i
pode. Basta ver a crise social instalada nas principais capitais do país. toa que o pensamento ¡
No Brasil, nas regiões mais ricas, as elites dominantes — que são cos nacionais, propondo o ]
mopolitas, que já se articularam, desde há muito tempo, para fora — não políticas locais.
têm como prioridade lutar contra as desigualdades, incluindo as regionais. Aprendem os a duras ]
A prioridade dessa elite é inserir cada vez mais no m undo globalizado às próprias decisões do i
as partes mais ricas e modernas do país. Essa é uma das grandes dificul ampliando fraturas her
dades do Brasil: somos uma nação de construção interrompida, como pode afirmar em relação a j
bem definiu Celso Furtado. ção e prática, apenas a i
O grande desafio em um país com o o Brasil é o de concluir a constru sem levar em conta a pr
ção da nação, num ambiente mundial que agora contesta a importância podem dar lugar a imp
dos Estados nacionais. E é muito mais difícil construir uma nação hoje trabalho em amplos se
18
APRESEN TAÇAO
í m b » de suas conseqüências do que foi para os europeus, por exemplo. Quando eles construíram suas
*da econom ia nacional. grandes nações, o m ovim ento da internacionalização do capitalismo
: áscal agónica se associa ainda favorecia políticas nacionais ativas.
i aoeieração do programa de Reconstruir a visão de que continuam importantes políticas públicas
t guinada ideológica, que à escala nacional não é tarefa fácil. Trata-se de superar o m odelo hege
! brasileiro. mônico, que não dá conta das necessidades da maioria da população do
I ■ orzado por transformações Brasil, nem dá conta de grande parte de nossas enormes potencialidades.
tpassña nos mercados mun- Tal m odelo desperdiça muitas das virtuosidades existentes no espaço
lioanceirização da riqueza, nacional, exatamente porque ele é excludente, seletivo, apropriado ape
lO Brasil acabou tendo uma nas para o pedaço mais m oderno do Brasil. E o país não é só sua porção
; por políticas ativas, o que mais moderna. Mas a fatia dita “não-m oderna” tem muito potencial. O
. Um país continental desafio, portanto, é promover uma m udança profunda, desmontando a
restregué apenas às decisões máquina de desigualdade que foi aqui instalada.
entrar “de cabeça” no A atuação de um mercado auto-regulado, num contexto desigual como
u D va de desenvolvimento, o anteriormente brasileiro, especialmente num contexto de globalização
► do país e faça emergirem avançada e de busca de inserção competitiva do país na econom ia inter
i paroquialismos. Mas por nacional, embora possa significar, para regiões e sub-regiões privilegiadas
e já integradas aos fluxos econômicos internacionais, fonte de dinamismo
u p estão é preciso identificar e de modernização, para as demais regiões e sub-regiões poderá dar lugar
. £ um projeto que busca a à marginalização econômica, com custos sociais intoleráveis, traduzidos
ípartes já mais avançadas do em desemprego e aumento dos níveis de pobreza e miséria.
: aossos nichos dinâmicos, É bom não esquecer que, no ambiente m undial contem porâneo, a
iproieto que tende a descon- nova organização dos espaços nacionais tende a resultar, de um lado,
! que o país tem. Esse é o da dinâm ica da produção regionalizada das grandes empresas (atores
r t o e r do Brasil uma grande globais) e, de outro, da resposta dos Estados nacionais para enfrentar
rsocszl que nós temos. E não os impactos regionais e localizados seletivos da globalização. N ão é à
t jrãod p ais capitais do país. toa que o pensamento neoliberal ataca com força o papel das políticas
t dominantes — que são cos- nacionais, propondo o Estado m ínim o ou supervalorizando o papel de
fc— ui&» tempo, para fora — não políticas locais.
-incluindo as regionais. Aprendem os a duras penas que a dinâm ica regional entregue apenas
: x a y uo mundo globalizado às próprias decisões do m ercado tende a exacerbar seu caráter seletivo,
. £ ntna das grandes dificul ampliando fraturas herdadas. Tende a desintegrar o país. O m esm o se
t o interrompida, como pode afirmar em relação a políticas públicas que tendem, em sua concep
ção e prática, apenas a reforçar e consolidar as forças de mercado; que,
3 t 3s ¿ í o de concluir a constru- sem levar em conta a presença de um contexto heterogêneo e desigual,
mn a sirz contesta a importância podem dar lugar a impactos negativos sobre as condições de vida e de
r-irriu_ : : nstm ir uma nação hoje trabalho em amplos segmentos da população, notadamente das regiões
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TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO •iá
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APRESENTAÇÃO
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TE R R ITÓ R IO E D ESEN VO LVIM EN TO
22
nem o localism o
»que articulem ações
>estim ula a pensar nessa Prefácio
. ñcas das mais pobres,
.d e um lado, e a tradição
i publicas, de outro, são
i desenvolvimento não tem
Só muito recénte
lo da desigualdade
: tareia nacional a realizar.
, e só depois fazê-los
¡.Negar a importância de
► fazem os liberais (que Este livro resulta da edição da tese de livre-docência de seu autor, bri
lhantemente defendida em setembro de 2003 no Instituto de Economia
n bíoco de forças sociais da U n ic a m p . Com o o próprio autor diz, ela é fruto do trabalho de vários
t anrmação de uma iden- anos em que Brandão e os demais colegas de nosso Centro de Estudos de
•o país. Fora isso, vamos Desenvolvim ento Econômico temos discutido e refletido sobre os des
tieterogeneidade interna. tinos do Brasil e, entre nossas principais preocupações, sobre a questão
*da nação brasileira regional e urbana.
i comprometido com o Não é ocioso lembrar que, entre fins da década de 1950 e início da de
i sendo indispensável a 1960, o debate sobre esse tema cresceu e ingressou na Agenda do Estado,
i nacional. A leitura do sob fortes pressões regionalistas — notadamente nordestinas — inspi
íento. rando a formulação, pela prim eira vez no país, de uma política de de
senvolvimento regional, uma das grandes obras de Celso Furtado. Essas
pressões decorriam da constatação de que a industrialização se concen
lanía Bacelar áe Araújo1 trara fortemente no Centro-Sul, principalmente em São Paulo, estado
que perfazia 50% da produção industrial do pais.
Ignoravam os que acusavam essa concentração de ser fruto da indus
trialização recente — particularm ente durante o governo JK — , e de ser
causa da debilidade da econom ia periférica — em especial a nordesti
na — , que ela tinha raízes históricas mais profundas, que antecediam
inclusive a “Crise de 1929”. Ignoravam também que, a despeito do au
mento daquela concentração, a periferia como um todo se havia benefi
ciado dessa mesma industrialização, via integração do mercado nacional.
Vindo o golpe militar, a política de desenvolvimento regional deu forte
guinada, iniciando um longo processo de deterioração das instituições
23
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO
públicas para ela criadas (a Sudene e a Sudam ) e de pulverização dos num quarto (maio de
recursos fiscais que a sustentavam. O correu que, no período, a Política fiscal e da cambial. O l
N acional de D esenvolvim ento propugnava gigantesco program a de na década anterior, com .
investimentos para alargar e aprofundar as bases de nossa industriali desse lastimável estado ã t *
zação — via II PND, o plano do Brasil potencia — , o que dem andou o O neoliberalismo
uso de grande quantidade de recursos naturais periféricos — água, terra volvim ento, e isso, iníe
e minérios — , que por sua vez exigiam amplos investimentos em infra- o conform ism o da br
estrutura, tais com o energia e transportes. majoritariamente (
Os efeitos encadeados dessas duas demandas fizeram também crescer Permanecemos, asãm .1
a produção industrial periférica — fazendo avançar as fronteiras agro e período de “planos” os i
mineral — , resultando num acelerado processo regional de urbanização. foi a manutenção de t
A desconcentração industrial que daí decorreu, entre 1970 e 1980, fez com constrangimento o r a
que a participação de São Paulo na indústria nacional de transformação dívida pública, e reformas!
perdesse cinco pontos percentuais, ao cair de 58% para 53%. Contudo, essa cararam nossas defesas*
desconcentração, que cham o de virtu o sa, não impediu que a indústria A in da mais: a debilidade I
paulista duplicasse o volum e de sua produção, nem que a da periferia entes subnacionais — 1
mais que o duplicasse. nos três entes, o gasto ]
Esse crescimento produtivo e urbano, contudo, foi desacompanhado Para atingir seus >
de políticas públicas adequadas, em termos não só de saneamento b á neoliberalismo de
sico e habitação, mas também de redistribuição de renda; reproduziu, fraquecendo-o nos váiios|
na periferia, os descalabros que se concentravam mais nas metrópoles e foi a “teoria do poder iot
grandes aglomerados urbanos. local, da cid a d e (ou d a :
Na década de 1980 sofrenam os a dura crise da dívida externa, que ou regionais. Seus ;
iniciou o debilitamento fiscal e financeiro do Estado, bem com o destruiu o propalado poder local i
sua base para a gestão de política e planejamento econôm ico, que foram form ulação e execução d ei
rapidamente substituídos pelo con ju n tu ra lism o. O resultado do decênio instrumentos básicos da 1
foi um medíocre crescimento do PIB, piora das condições sociais de todo de juros, de câmbio, do *
o país e uma perda de prioridade da questão regional na A genda do Es Entendo que, em raz
tado. O falso antídoto para o problema regional foi a crescente presença governos municipais — ,
de um a nascedoura gu erra fis c a l, que passou a patrocinar verdadeiros que objetivavam, acima*
leilões de localização de investimentos, subsidiando escandalosamente o atuando prioritariameHÉei
capital, e aceitando passivamente a piora das condições sociais da nação tivos fiscais concedidas a*
e de suas várias regiões. atendimento das der
Ainda nos debatíamos, na busca de saídas para esse doloroso processo, Constitui disparate,;
quando o país foi tom ado de assalto pelo neoliberalismo, já em fins da petitivas (ou não) são a
década de 1980, mas escancarado pelo governo C ollor a partir de 1990. espaços e não o espaço e
D epois disso, tivemos mais três períodos governam entais e estamos economias externas, qae]
24
PR E FAC IO
r> e de pulverização dos num quarto (maio de 2007), continuando a enxugar o gelo da política
e. no período, a Política fiscal e da cambial. O crescimento econôm ico tem sido tão ruim quanto
i gigantesco program a de na década anterior, com crescente aceitação, pelos aparelhos do Estado,
i de nossa industriali- desse lastimável estado de coisas.
: — , o que demandou o O neoliberalismo causou uma forte imobilidade da política de desen
► periféricos — água, terra volvimento, e isso, infelizmente, tem tido larga aceitação passiva, desde
¡ investimentos em infra- o conform ism o da burocracia e da classe política, ao deleite das elites,
majoritariamente convertidas em rentiers da dívida pública.
í fizeram também crescer Permanecemos, assim, no conjunturalismo, mascarado ao longo desse
■ as fronteiras agro e período de “planos” os mais diversos, mas o cerne da política econômica
► regional de urbanização. foi a manutenção de elevada taxa de juros, restrição interna ao crédito,
t entre 1970 e 1980, fez com constrangimento orçamentário para preservar o pagamento de juros da
m r i o n á l de transformação dívida pública, e reformas que dilapidaram o patrimônio público, escan
r j K p a r a 53%. Contudo, essa cararam nossas defesas econômicas e retiraram direitos dos trabalhadores.
1im pediu que a indústria A inda mais: a debilidade fiscal do governo federal atingiu também os
. nem que a da periferia entes subnacionais — regionais, estaduais e municipais — , constrangendo,
nos três entes, o gasto público e principalmente 0 investimento público.
,fo i desacompanhado Para atingir seus objetivos — os dos países centrais, é claro — o
1só de saneamento bá- neoliberalismo desencadeou profundo ataque ao Estado nacional, en-
de renda; reproduziu, fraquecendo-o nos vários planos de sua atuação. Uma das armas usadas
1mais nas metrópoles e foi a “teoria do poder local”, criando as falsas idéias do desenvolvimento
local, da cidade (ou da região) competitiva, emanadas de ações locais
da divida externa, que ou regionais. Seus apressados seguidores parecem não perceber que
► Estado, bem como destruiu o propalado poder local não conta com as prerrogativas necessárias à
► econôm ico, que foram formulação e execução de uma política de desenvolvimento, que são os
9. 0 resultado do decênio instrumentos básicos da política econôm ica — o comando sobre a taxa
* A s condições sociais de todo de juros, de câmbio, do crédito e da fiscalidade necessária.
► regional na Agenda do Es- Entendo que, em razão disso — e da penúria fiscal e financeira dos
l foi a crescente presença governos municipais — , proliferaram políticas de desenvolvimento urbano
¡ a patrocinar verdadeiros que objetivavam, acima de tudo, atrair investimentos, com as prefeituras
>escandalosamente o atuando prioritariamente no lado da oferta de infra-estrutura e de incen
í condições sociais da nação tivos fiscais concedidos a empresas, para atrair capitais, abandonando o
atendimento das demandas sociais mais urgentes.
cara esse doloroso processo, Constitui disparate, a nosso ver, falar em cidade competitiva. C om
| n c aeziiberalism o, já em fins da petitivas (ou não) são as atividades que se realizam em determinados
• Collor a partir de 1990. espaços e não o espaço em si. Este pode ser m elhor ou pior ofertante de
« r e s cevem am entais e estamos economias externas, que podem gerar efeitos diferentes para diferentes
25
TERRITO R IO E D ESENVOLVIM EN TO
26
P R E FA C IO
27
TE R R ITÓ R IO E D ESEN VO LVIM EN TO
Wilson Cano1
Julho de 2007
28
políticas de desenvol-
db nação e de que, diante
nento, é impossível IfltTodução
realista para nossas
Wilson Cano1
Julho de 2007
Este trabalho tenta demonstrar que a temática territorial e urbana nunca de-
vería ter abandonado o campo da economia política do desenvolvimento.
Atualmente, se, por um lado, vivem os urna nova e intensa emergência
dessa temática e a valorização da dimensão território, com o talvez nunca
tenha ocorrido nas ciências sociais, por outro, nota-se, em grande parte
da literatura especializada, a com pleta banalização das questões que,
m algrado sua natureza estrutural, histórica e dinâm ica, foram deslo
cadas para o lugar-com um do voluntarism o, cristalizando um grande
consenso, um verdadeiro “pensamento único localista”. Grande parte da
literatura aborda, e as políticas “públicas” implementam, ações orien
tadas, em parte ou no todo, por essas concepções teóricas, acolhendo
vulgaridades analíticas e simplismos ideológicos que afirmam que as
escalas interm ediárias entre “o local” e “o global” estão perdendo sen
tido. Sobretudo, assumem que pensar a escala nacional e as questões
estruturais é ser retrógrado.
Este livro, indo contra essa corrente hoje hegemônica, que parece ter
perdido totalmente o senso crítico, assevera a urgente necessidade do
resgate das determinações estruturais para se pensar a dimensão espacial
do processo de desenvolvim ento capitalista. D eve ser lida com o uma
agenda aberta e pessoal de estudos. Sintetiza a situação atual da área.
Aponta as principais posições teóricas e políticas e discute suas princi
pais insuficiências, desvios e modismos. Essas concepções negam maior
importância, entre outras questões, ao ambiente m acroeconôm ico, aos
29
TE R R ITÓ R IO E D ESEN VO LVIM EN TO 3
conflitos políticos, ao Estado, à própria estruturação das classes sociais, Mera superfície recipieme. 3*2^
à nação e ao papel do espaço nacional. A pesar de todos os
Partindo dessa análise crítica, este ensaio busca esboçar um a inter m odernas” do territorial õ e i
pretação alternativa, apresentando alguns elementos teóricos — resga de ambiente não constnnãiM
tando a história e as especificidades nacionais em situação de subde grande descoberta ci
senvolvim ento — a fim de traçar os lineam entos gerais de princípios instituições contam.
que deveríam estar contidos nas políticas públicas de prom oção do Portanto, enfrentar t z s ;
desenvolvim ento que não descurem da dim ensão espacial. sólida de produção social <
Inicialmente, no primeiro capítulo, são expostas as dezenas de teorias tante dos conflitos e cor
contemporâneas que apresentam vieses de crença no alcance de eficiência construído.
(e de eqüidade, como suposta decorrência “natural”) por parte de uma Lembrando que não i
comunidade de atores ativos, que agem por conta própria, em um conjun sobre o desenvolvim enint |
to harm onioso criado pela proximidade espacial, com amplas sinergias quatro conceitos que <
resultantes da cooperação, apropriadora de vantagens que se encontram alternativa ao novo o u a o i
(“no ar”/“na atmosfera” institucional) em seu contexto mais imediato. penso, são basilares.
É com o se a escala menor — o microespaço, o município, a cidade, ou a integração, polarização e ¡
região — necessariamente fosse a mais adequada para a ação. estruturas e d in âm icas:
Contrapondo essas interpretações, algumas com ares de fanatismo dimensão espacial.
pela autodeterminação da escala micro, procuro resgatar alguns deter Procuro apresentar a l
minantes da lógica de funcionam ento do capitalismo, defendendo que do capital a partir de suas<
existem não só essas forças endógenas, mas também fatores decisivos definindo o que chamei d e i
que são “exógenos” à localidade. Existem hierarquias. Existe poder. do capital; transita para o 1
Existe m acroeconomia. Essas e outras obviedades que são desdenhadas se no processo de conc
amplamente neste debate... (de espaços e estruturas ]
Parecem não atentar para o fato de que o sistema capitalista recorren integração; explicita a :
temente aprofunda e complexifica a divisão social do trabalho, em todas mento capitalista, env
as suas dimensões, inclusive na espacial. Ele aperfeiçoa compulsivamente da polarização; desem bocai
sua capacidade de manejar as escalas espaciais em seu benefício. É por na capacidade de decisiat.1
isso que nenhuma escala per se é melhor ou pior. Na verdade, elas ganham sintetizada no processo dei
nova significação em cada m omento histórico particular. Entendo que essas <
Existem enquadramentos e hierarquias, e os microprocessos, as micro- processo de desenvol
decisões dos atores empreendedores, não podem solapar os macroprocessos analítica profícua para os
e as macrodecisões, com o pensam e querem essas visões voluntaristas. teóricos perdem sentido, j
Podemos vislumbrar, assim, uma espécie de retorno à velha discussão se não forem apreendidas«
do mainstream regional e urbano, que acaba tendo uma visão reificada do Nesse sentido, em pí
espaço, capaz de vontade e endogenia, ao oferecer sua plataforma vantajosa, capítulo, das principais i
seu espaço-receptáculo. Uma espécie de platô que busca atrair capitais. de como o Brasil constriño a«
30
IN T R O D U Ç Ã O
31
TE R R ITÓ R IO E D ESEN VOLVIM EN TO
tal e marcado por heterogeneidades estruturais. Aponto aí os principais Nesse contexto, no carn
elementos que dão a natureza de um mercado interno integrado e com da escala nacional das pcl:
uma economia urbana bastante complexa, submetidos à estrutura política dessa empreitada, ressalta
do pacto de dom inação interna extremamente conservador. Enfatizo se ter um espaço nacion-i
com o a expansão e apropriação territoriais, a extensividade e o controle vários dinamismos, mas
da propriedade foram funcionais às equações política e econôm ica que necessidade de ter em c o r a
se estruturam no país. no Brasil.
Aponto sucintamente como se vai redefinindo, no processo histórico, Esboço, ao final, algurs
o m odo de relacionamento entre as regiões, passando por uma coerência conjunto de enfrentam era*
do mercado nacional imposta, primeiro, pelo capital mercantil, depois, o país. Apresento a dupla
pelo capital industrial. Se, por um lado, esses processos envolvem rupturas, ligada aos processos de ar
inerentes à profunda transformação material, com o estabelecimento de ranjar as coalizões conse:
fortes laços de complementaridades inter-regionais, por outro, envolvem envolve, necessariamente,
também marcantes persistências, sobretudo das formas arcaicas de dom í construindo e destruindo
nio sobre a terra e da preservação dos espaços de reprodução do capital de desenvolvimento é
mercantil em suas diferentes faces (imobiliário, comercial, transportes a correlação de forças s
urbanos e outros serviços etc.). Diversas frações desse capital passam a políticas e projetos em dr
comandar as regiões e cidades brasileiras, perpetuando o atraso estrutural As forças capitalistas
da situação de subdesenvolvimento. as escalas. Desse modo,
A constituição de densas estruturas produtivas e complexas e de va sas forças deve necess;
riadas econom ias urbanas nas cinco m acrorregiões brasileiras se deu escalas espaciais, em sua
sob decisiva ação do Estado. C om o aprofundamento da crise fiscal e Nenhum recorte e s p a c ü
financeira, essa ação, antes bastante ativa, vai perdendo legitim idade As escalas são construções j
e força de coordenação para dar unidade à diversidade regional e urbana e sociais e, desse modo,
brasileira. É o que discuto no quarto capítulo. preciso repactuar relações,
A múltipla crise que se instala no país recrudesce os velhos impasses cionalizados de concertaçãa»
e recorrências históricas de nossa reprodução social, transform ando territorializados.
o padrão de sociabilidade anteriormente erguido. É um m om ento de Essa nova direção das p c Ü
condensação histórica em que se corroem ainda mais as bases da esfera espacial e em sua pedagoga»»'
pública e se desarticulam possíveis ações construtivas da nação e do o potencial das diversidade»!
espaço nacional. vilização multicultural5
O conjunturalism o e a supremacia da m acroeconom ia da riqueza
mercantil e financeira serão frutos desse estado de coisas e virão sancionar
o arco de alianças conservadoras que dom inam a vida nacional.
Esse conjunto de forças desarticulativas se expressa na profunda
crise federativa brasileira e na guerra dos lugares e das escalas que se
instala.
32
IN T R O D U Ç Ã O
33
Capítulo i
1 .1 I N T R O D U Ç Ã O
35
TERRITÓ R IO E D ESENVOLVIM EN TO O CAM PO
Se, por um lado, houve a revalorização do território, do que se con a política, os conflitos- ¿s
vencionou chamar de “geografia econômica” 1 e da dimensão espacial do e o espaço nacional. N¿ -rsa
processo de desenvolvimento, por outro, ocorreu a completa banalização assim, todas as escalas.
das questões que, malgrado sua natureza estrutural, histórica e dinâmica, Nos últimos anos.
foram deslocadas para o lugar-comum do voluntarismo, cristalizando ciências sociais. A conce
um grande consenso, um verdadeiro “pensamento único localista”. Quase invadiu o debate sobre o
toda a literatura aborda, e as políticas “públicas” implementam, ações em e no mundo.
algum a medida orientadas, em parte ou no todo, por essa concepção Recentemente, o debale*
teórica e analítica. oriundas da chamada ‘ e
Negligenciando cabalmente as questões estruturais do país e as m ar a partir dos artigos se
cantes especificidades de suas regiões, essa agenda se impôs de form a endogeneização do p r o s
avassaladora na academia e nos governos estaduais e m unicipais (e nas les autores p rocu ram )
diversas m odalidades de políticas federais: sociais, industriais, agrí capital humano, com o
colas etc.). taxas de crescimento entro*
Entendo que o enfrentamento dessa visão, hoje hegemônica, passa As intervenções d e !
ria pela reflexão crítica e pela discussão de propostas alternativas e pelo em um verdadeiro “re
tratam ento adequado da articulação de todas as escalas geográficas. regional, sobretudo no ¡
Nenhuma escala per se é boa ou ruim. É preciso discutir a espacialidade reconhecer as contribuãcãcs!
dos problemas e implementar políticas levando em consideração a escala do desenvolvimento, a i
específica desses problemas, mas em um contexto em que esteja presente para as complement
um projeto nacional de desenvolvimento. Penso que, ao contrário daque seria preciso criticá-la. js
las visões, as escalas “intermediárias”ganham novo sentido e importância de suas idéias, ou seja, jm
nessa fase do capitalismo. formalismo”, o que teria <
Procuro apresentar, neste capítulo, um mapeamento das principais fosse reconhecida pelas ]
vertentes desse pensamento, realizando a crítica ao enorme conjunto da Krugman destaca o papd *
literatura que sugere que estaríamos vivendo a possibilidade de consolidar timentos são maiores qoe«
um novo padrão de desenvolvimento, construído totalmente no âmbito externas. Nesse contexto.*
local, dependente apenas da força de vontade dos agentes empreendedores entre retornos crescentes.*
que m obilizariam as potências endógenas de qualquer localidade. res produtivos. Criticando*
Pretendo demonstrar as insuficiências, desvios e consequências nefastas Krugm an ressalta queeiasi
da aplicação mecânica desse modismo, que ressalta os microprocessos e as do auto-reforço endógeno.I
microdecisões, na verdade defendendo uma agenda que nega cabalmente i dado ambiente. Assim, e lr i
i Os temas clássicos desse campo disciplinar voltaram à pauta de discussão (embora de forma Uma forma interessante de ssaãa
viesada e simplificada, conforme procurarei demonstrar) após algumas décadas de ostracis entre as teorias que aí
mo: os determinantes da localização, concentração geográfica; o papel da aglomeração, da intrínseca divergência nos f i
proximidade e das especializações produtivas; o fosso entre as porções de território dinâmicas Para uma síntese dessas:
e as estagnadas ou decadentes etc. Herrera (2000).
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O C A M P O D A E C O N O M IA P O L ÍT IC A D O D E SE N V O L V IM E N TO
t territorio, do que se con- a política, os conflitos, as classes sociais, o papel da ação estatal, a nação
- e da dimensão espacial do e o espaço nacional. Na verdade, nega todas as questões estruturais e,
i a completa banalização assim, todas as escalas existentes entre o local e o global.
, histórica e dinámica, Nos últimos anos, ocorreu o retorno do território aos debates das
>anfcintarismo, cristalizando ciências sociais. A concepção de que a escala local tem poder ilimitado
i único localista”. Quase invadiu o debate sobre o desenvolvimento urbano e regional, no Brasil
'im plem entam , ações em e no mundo.
i todo, por essa concepção Recentemente, o debate regional foi hegemonizado pelas interpretações
oriundas da chamada “nova teoria do crescimento endógeno”, elaboradas
is do país e as mar- a partir dos artigos seminais de Romer (1986) e Lucas (1988). Buscando a
i acenda se impôs de forma endogeneização do progresso técnico no m odelo de Solow (1956), aque
aãuais e municipais (e nas les autores procuram ressaltar o papel dos investimentos em P & D e em
: sociais, industriais, agrí- capital humano, com o explicação da não-tendência à convergência2nas
taxas de crescimento entre espaços diferenciados.3
. hoje hegemônica, passa- As intervenções de Krugman (1991 e 1995) nesse debate resultaram
i propostas alternativas e pelo em um verdadeiro “renascimento” do debate do crescimento econôm ico
is as escalas geográficas. regional, sobretudo no seio do mainstream. Segundo ele, seria necessário
i discutir a espacialidade reconhecer as contribuições importantes aportadas pela “antiga” teoria
>em consideração a escala do desenvolvimento, a qual teria adequadamente cham ado a atenção
>em que esteja presente para as complementaridades estratégicas e as economias externas, mas
»que, ao contrário daque- seria preciso criticá-la, pois tal teoria teria fracassado na m odelização
:novo sentido e importância de suas idéias, ou seja, por não ter superado suas profundas “falhas de
formalismo”, o que teria determinado que essa formulação teórica não
i mapeamento das principais fosse reconhecida pelas principais escolas contemporâneas de economia.
len E ka ao enorme conjunto da Krugman destaca o papel da hipótese de que os retornos sociais dos inves
i a possibilidade de consolidar timentos são maiores que os retornos privados, por causa das economias
nodo totalmente no âmbito externas. Nesse contexto, ele pretende analisar a “interação em três vias”
: «ãos agentes empreendedores entre retornos crescentes, custos de transportes e o m ovimento dos fato
► de qualquer localidade. res produtivos. Criticando as teorias tradicionais da econom ia regional,
¡ e conseqüências nefastas Krugman ressalta que elas não apresentaram os mecanismos dinâmicos
sressalta os microprocessos e as do auto-reforço endógeno, form ado pelas externalidades presentes em
■ jtsstda que nega cabalmente dado ambiente. Assim, ele sugere o esforço teórico de incorporação, nos
rr_ ü i= discussão (embora de forma 2 Uma forma interessante de realizar um balanço da literatura seria definir uma contraposição
mes algumas décadas de ostracis- entre as teorias que asseveram uma tendência à convergência versus outra que destaca a
çríica;: : papel da aglomeração, da intrínseca divergência nos processos de criação e apropriação de renda e riqueza.
lí rcrcões de território dinâmicas 3 Para uma síntese dessas teorias, consultar Mattos (1998); Bueno (1998), Gadelha (1998) e
Herrera (2000).
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TERRITÓ R IO E D ESENVOLVIM EN TO O C A M P O DA Z :
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O C A M P O D A E C O N O M IA P O L ÍT IC A D O D ESEN V O LV IM EN TO
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TE R R ITO R IO E D ESENVOLVIM EN TO O C A M P O Da í -Ci
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TERRITÓ R IO E D ESENVOLVIM EN TO O C A M P O DA i * ií
D esenvolvim en A busca de soluções de form a com par no se insistirá nunca <
Vázquez Barquero
to local e n d ó tilhada conduz ao “desenvolvim ento en las estrategias y orga
(1993 e 1999)
geno dógeno” .
empresas como a Ias :
Governança
Boa governança alcançada através de empresas flexibles e
Banco Mundial construção de ambiente previsível, trans
local
parente e com accountability.
de la economía, y un 1
modelos de la produccwc 1
Circuito alternativo de produção, d istri
E conom ia s o li
Coraggio (1994)
buição e consumo de bens dos “setores
radicalmente falsa.
Singer (2002)
dária e popular populares urbanos” ou “unidades domés
ticas de trabalhadores” .
As listas intermináwÕM
É preciso avaliar os dilemas da ação co m undo clean, pouco cc
Teoria dos jogos letiva que se travam no am biente local
Bates (1988) convivendo próxima
e ação coletiva para capacitar-se para 0 exercício de co
Ostrom (1990)
localizada operação para 0 mútuo proveito, estabe siñcado, rígido, politizad& i
lecendo compromissos confiáveis.
Ressaltou-se em vários^
Menu disponível de “experiências que
deram certo” , que pode ser acionado em
proximidades, procurandM
Best practices Banco Mundial qualquer tempo e espaço, a fim de sele territorializados seriam 4
cionar uma ação que possa ser replicada
com êxito no âmbito local. tiva específica. Buscou-sej
o processo de aprend
coletivo, vantagens essas |
Há um enorme paradoxo subjacente à maioria dessas formulações
exercício de criatividade ed
teóricas. O u bem o espaço local é um m ero nó entrelaçado em um a
Caberia salientar que, da 1
imensa rede (i.e., um quase anônim o ponto a mais, submisso em um
esses trabalhos muitas ’
conjunto gigantesco, funcional à determ inação instrum ental de uma
dimensão de identidade cà
totalidade onipresente), ou bem aparece com o um recorte singular, do
dado milieu, exageram ;
tado de vantagens idiossincráticas e únicas, capaz de autopropulsão,
uníssonos, naquela p i m » <
identidade e autonomia. O ra o local se apresenta com o “entidade do
ações de construção de t
futuro”, à mercê de uma razão instrumental avassaladora, ora se cai no
letivos com alta sinergia.!
anacronism o de proclamar o ressurgim ento de um agrupamento co
42
O C A M P O D A E C O N O M IA P O L ÍT IC A D O D ESEN V O LV IM EN TO
e sotuções de forma compar- no se insistirá nunca demasiado sobre la idea de que la transformación de
u a m a u z ao “desenvolvimento en- las estrategias y organizaciones concierne tanto, e incluso más, a las grandes
empresas como a las pequeñas. La oposición entre un mundo de pequeñas
ijp s e r r õ n ç s alcançada através de empresas flexibles e innovadoras, suporte principal de la territorialización
: de ambiente previsível, trans
a r a n : accountabiHty.
de la economía, y un universo rígido de grandes empresas atrapadas en los
modelos de la producción en serie, e indiferentes a los territorios, me parece
líÉterr.a ívo de produção, distri-
i * sansumo de bens dos “setores
radicalmente falsa.
i jib a r o s ’ ou “unidades domés-
E iaeatnadores'.
As listas intermináveis de vantagens relativas locais contrapõem um
r a o i s r os dilemas da ação co- mundo deán, pouco conflituoso, diversificado, de indivíduos talentosos,
: vavam no ambiente local
r-s e para o exercício de co convivendo próximamente etc., e um mundo dark, pouco solidário, mas-
r a o mútuo proveito, estabe-
sificado, rígido, politizado, de classes sociais antagônicas, etc.
i'SaRoromissos confiáveis.
Ressaltou-se em vários desses estudos o papel das aglomerações e das
rvre; de “experiências que
easrxf. que pode ser acionado em proximidades, procurando analisar de que forma os complexos produtivos
r s r o c e espaço, a fim de sele- territorializados seriam capazes de germ inar densidade social coopera
k ação que possa ser replicada
c *nc ámbito local. tiva específica. Buscou-se perceber, em várias dessas análises específicas,
o processo de aprendizagem e de aquisições diferenciais em acúmulo
coletivo, vantagens essas possibilitadas pela proxim idade física e pelo
a lesio n a dessas formulações
exercício de criatividade e de geração e apropriação de “sinergias coletivas”.
■ ero rsó entrelaçado em urna
Caberia salientar que, da mesma forma que na literatura internacional
i p nnm- í mais, submisso em um
esses trabalhos muitas vezes resvalaram por apresentar uma tamanha
instrum ental de urna
dimensão de identidade e de “tendência combinatoria” dos atores de um
a r e m t recorte singular, do
dado milieu, exageram ao perceber uma harm onia de interesses, quase
cas. capaz de autopropulsão,
uníssonos, naquela porção do território. Os locais que desenvolveram
1 . se ¡Erresí-ta como “entidade do
ações de construção de competitividade, com base em m ovimentos co
■ nana. avassaladora, ora se cai no
letivos com alta sinergia, seriam exemplos a serem seguidos por regiões
ç m it r :.: ce um agrupamento co
43
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO ocam po da i:: -
e cidades que desejassem replicar tais experiências, procurando copiar Divisão social do íh íJ b '
sua lista de “fatos estilizados” e trajetórias de microdecisões, e acordos
16. Equidade
tácitos que deram certo.
17. Justiça ambiental (in:&-a=
Esquemáticamente, pode-se afirmar que boa parte dessa copiosa litera
tura, em certa medida, se filia a uma interpretação orientada por algumas 18. Pouca capacidade de
(posto que o centro de aaosãs
das categorias, conceitos e noções listados à direita do quadro abaixo. núcleo dominante e nãc é ~í—
mas concentrado)
1. Sociedade 1. Comunidade
44
O C A M P O D A E C O N O M IA P O L ÍT IC A D O D ESEN V O LV IM EN TO
E -JTr¡wrps-c.£
................................... 4 Essa nova perspectiva de construir estratégias (analíticas e políticas) multiescalares está
brilhantemente defendida em Vainer (2002 e 2006).
45
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO ocam po i : tí
tindo a lógica da ação coletiva que resulta “no sentido do bem comum”, ações de melhoria do a.~m
a depender de fatores do ambiente institucional, com o o contexto cívico, o setor privado. Há c e r
cultural e da tradição política dos atores de determinada localidade, es cas públicas, a depende:
truturados em torno da confiança e da solidariedade, que geram o éxito deveria a ação pública a
ou não das instituições comunitárias. espontaneidade ou o e s è i
Uma parte da literatura localista chega a afirmar que não há, nessa Posto o perfil virtuoso
nova fase do capitalismo, maiores necessidades de se ter a propriedade dos passaria a depender da
m eios de produção. As mudanças tecnológicas e organizacionais teriam coletiva” e das vontades e
possibilitado tal poder de governança entre empreendedores e agentes tenham construído uma
inovativos, que logram dar coerência a iniciativas que “estão no ar”, isto dade microeconômica-b»
é, alguns agentes visionários conseguem aglutinar competências disper nos” e “macroeconômicos'
sas e promover a federação da produção de produtores independentes. monetárias, financeiras
Tudo passa a ser uma questão de empreendedorismos e vontades. Aos Assim, tomando
trabalhadores, restaria tornar-se patrões, “donos de seu próprio negócio”, acima, é possível destruir
ou buscar qualificação para melhorar sua empregabilidade. localizada. Um bom
Tal literatura, e o discurso que se vai propagando em todo o mundo, concorrência e de
exalta o papel das forças espontâneas e/ou acicatáveis, ou seja, a capacidade fundado em uma coi
do local de fundar e coordenar ações cooperativas e reflexões coletivas, tomando qualquer
baseadas nas relações de reciprocidade entre os membros da comunidade atomistas. Uma ins
local. Aponta o papel dos recursos tangíveis (suporte infra-estrutural, teoriza a com plexidade
crédito etc.), mas coloca a ênfase nos intangíveis (“expressos” em regras força, o poder e a coaçã
e convenções sociais), que são ativados, m obilizados e dirigidos para nantes5 e coloca a êníase
virtuosos arranjos societários-produtivos. Os vínculos e interdepen constitutivas do efeito dr<
dências mercantis e não-m ercantis geram com petências contextuáis, a interdependência
singulares àquele espaço. Desenvolvem -se em determinado lugar, não querem “reduzir ao
deliberadamente, por “erro histórico” muitas vezes, “redes cognitivas”, que estão para além d e k s s
conhecim entos tácitos contextuáis e trocas comunicacionais informais rência, compatível com
(por meio de ágeis canais de fruição de informações) que asseguram o e de pressões sobre as
ambiente virtuoso de cooperação. De acordo com Krugman (1991), graças
às “fascinantes questões que emergem quando as empresas devem tomar Estas competições.
decisões locacionais interdependentes”. são de natureza agressiva. <
O Estado pouco teria o que fazer nesse contexto de “aprendizagem o seu rival, luta contra á e i
vações, o investimento;
coletiva” e “atmosfera sociopolítica”, em que os atores se congregam e se
aproximam de forma cooperativa. A ação pública deve prover externali-
dades positivas, desobstruir entraves m icroeconôm icos e institucionais, 5 P e r r o u x a n a lis a i m p o r
c o n tra tu a l e p o d e r d e -¿ a »
deve regular e, sobretudo, desregular, a fim de garantir o marco jurídico
d e d o m in a ç ã o , d e p r e s a ç u - i
e o sistema normativo, atuando sobre as falhas de mercado. Além dessas lit e r a t u r a t r a d i c i o n a l
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O C A M P O D A E C O N O M IA P O L ÍT IC A DO D ESEN V O LV IM EN TO
sentido do bem comum”, ações de melhoria do ambiente institucional, deve articular parcerias com
com o o contexto cívico, o setor privado. Há controvérsias na literatura sobre o caráter das políti
■<éi J¡r*n minada localidade, es- cas públicas, a depender da origem dos processos sociais sobre os quais
e, que geram o éxito deveria a ação pública atuar, ou seja, se tais processos teriam por base a
espontaneidade ou o esforço institucional consciente, deliberado.
i a afirmar que não há, nessa Posto o perfil virtuoso desse “tecido socioprodutivo” localizado, tudo
í se ter a propriedade dos passaria a depender da força comunitária da cooperação, da “eficiência
• e organizacionais teriam coletiva” e das vontades e fatores endógenos ao entorno territorial que
: empreendedores e agentes tenham construído uma atmosfera sinérgica. Se tudo depende da virtuosi
; que “estão no ar”, isto dade microeconômica, há pouco ou nenhum papel para os fatores “exóge-
•competências disper- nos” e “macroeconômicos”. Câmbio, juros, fisco, relação salarial, questões
: produtores independentes, monetárias, financeiras etc. parecem ser questões “fora do lugar”.
ios e vontades. Aos Assim, tomando qualquer elemento que se encontra à esquerda no quadro
>de seu próprio negócio”, acima, é possível destruir os argumentos da regulação exageradamente
tcmpregabilidade. localizada. Um bom exemplo seria lançar mão de uma boa concepção de
i em todo o mundo, concorrência e de estruturas de mercado (e não de um mundo encantado
, ou seja, a capacidade fundado em uma constelação de empreendimentos de pequeno porte),
i e reflexões coletivas, tomando qualquer referência teórica não baseada em decisões racionais
s membros da comunidade atomistas. Uma insuspeita, com o a de Perroux (1964), por exemplo, que
«soporte infra-estrutural, teoriza a com plexidade do ambiente institucional regional, discute a
¡ (‘ expressos” em regras força, o poder e a coação exercidos pelas unidades oligopólicas dom i
ados e dirigidos para nantes5 e coloca a ênfase nos processos d e “dissimetria e irreversibilidade
. O s vínculos e interdepen- constitutivas do efeito de dom inação que estão em oposição lógica com
t com petências contextuáis, a interdependência recíproca e universal”. Critica os pesquisadores que
determinado lugar, não querem “reduzir ao mercado e regimes de mercado formas de relações
; vezes, “redes cognitivas”, que estão para além deles” e apresenta uma boa concepção da concor
i comnnicacionais informais rência, compatível com a visão marxiana, com o um processo coercitivo
tãmarmações) que asseguram o e de pressões sobre as unidades de decisão capitalistas:
( c a c Kragm an (1991), graças
í ¿s empresas devem tomar Estas competições coletivas, assim como a concorrência entre as empresas,
são de natureza agressiva. O melhor, 0 mais forte pretende levar a melhor sobre
c c ie ito de “aprendizagem o seu rival, luta contra ele no âmbito dum conjunto onde se propagam as ino
vações, o investimento adicional e o produto adicional. Esta propagação não é
■ ar :s ¿cores se congregam e se
rrnmicE deve prover externali-
” e :c 1 ; m icos e institucionais, 5 P e r r o u x a n a lis a im p o r t a n t e s e le m e n to s d o e fe ito d e d o m in a ç ã o d a u n id a d e e m p r e s a r ia l ( fo r ç a
c o n tr a tu a l e p o d e r d e n e g o c ia ç ã o ; d im e n s õ e s e n a tu r e z a d a a tiv id a d e ) , a fir m a n d o q u e fa to s
B ine ce o m i t i r 0 marco jurídico
d e d o m in a ç ã o , d e p r e s tíg io , d e a u to r id a d e , d e in flu ê n c ia s ã o g e r a lm e n te n e g lig e n c ia d o s p e la
k m vm m mercado. Além dessas lite r a tu r a tr a d ic io n a l.
47
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO O C A M P O Da Z I irii
espontánea, uniforme ou mecânica; os seus progressos e resultados dimanam localizadas e, por vezes- ce :
do conflito dos projetos concebidos por agentes desiguais. [...] é o contrário do processo de “seleçãc
do desenvolvimento espontâneo dos eventos económicos e da espontánea As regiões se transrcc
transformação das estruturas; os programas estabelecidos por grandes uni ambiente ameno” para
dades, desejosos de ganhar à custa umas das outras, não podem realizar-se
ticulação com a própria :
simultaneamente, e acima deles tem de intervir uma arbitragem.
envolve geralmente 1
é, torneios locacionais,«
Seria preciso uma boa abordagem de estruturas de m ercado (Tava
[...] enquanto vários gi
res, 1974) que pensasse os problemas de acumulação oligopólica, ainda
qualquer benefício da <
mais em estruturas de economias “semi-industrializadas”, e não apenas
a subsidiar custos de i
repetisse, a todo momento, que se trataria agora de um a acum ulação
mentos. E stabelece-se:
flexível de capitais sem escala e porte. Ora, qualquer “sistema produtivo”,
interm inável contenda 1
que se monte em qualquer escala, estará envolvido em um ambiente de
ofertas tributárias, de 1
articulação oligopólica, sob dom inância do capital financeiro, e subme
ses (a grande empresa» ¿1
tido a um a dinâm ica intersetorial específica, com andada, em últim a
vitorioso da guerra entrei
instância, por gigantescos blocos de capital e sujeito a barreiras à entrada
É interessante notar 4
nos setores-chave, a economias de escalas, à subutilização de capacidade
ofertantes de platafor
ociosa etc.
plantas industriais, e
Os estudos localistas avaliam as vantagens aglomerativas e de pro
pólicos/industriais, <
xim idade com o fontes de conhecim ento e aprendizagem , enraizadas
trás e para frente (q u e ;
naquele território singular, criando, com suas investigações, listas ad hoc
gerariam enorme
dos ativos, capacitações, normas, rotinas e hábitos, todos devidamente
próximos aos complexos!
region-specific. Muitos desses trabalhos negligenciam que há hierarquias
les autores localistas,;
inter-regionais, e o comando maior desses processos, geralmente, está
ultrapassada.
fora do espaço sob análise.
Contraditória posãçãaM
Apesar de todos os esquemas de transmissão, dos “saberes” codificados
localista apresenta o ;
e dos processos de extração e de apropriação de externalidades positivas
como situação irreví
do entorno e da vizinhança, exaltados nessa literatura, o exame de diver
poder quase ilim itado — i
sas experiências vai mostrar que, mesmo com a integração das cadeias
atividades “terciárias”, <
produtivas e um “programa de acumulação comum”, muitas vezes não
cundário, seria coisa do]
se logrou fortalecer as economias locais e regionais, em que progridem
dos serviços não enc
áreas restritas, simples focos de prosperidade, engendrando soluções
nar a proliferação da 1
parciais para aquela região.
aquela fundada n a s :
Além disso, segundo a literatura, nesse ambiente portador do “novo
paisagens criadas
desenvolvimento”, o esforço cívico e o engajamento solidário-associati-
metrópoles ou as regiões 1
vista passam ao largo de um Estado que se apresenta apenas com o um
locus do terciário av;
voyeur das vontades de produzir vantagens comparativas e sinergias
explícita, de que o ter
48
O C A M P O D A E C O N O M IA P O L ÍT IC A D O D E SE N V O L V IM E N TO
í e resultados dimanam localizadas e, por vezes, de alguma rede de filantropia para os excluídos
l áesigaais. [...] é o contrário do processo de “seleção natural”.
i emmòraicos e da espontánea As regiões se transformam em ofertantes de plataforma e de “meio
MaEaeeãeodos por grandes uni-
am biente ameno” para atrair investim entos, não im portando sua ar
s. não podem realizar-se
ticulação com a própria hinterlândia ou outras porções do país. “Isto
larbitragem.
envolve geralmente guerras fiscais competitivas entre vários lugares, isto
é, torneios locacionais, especialmente orientados para atrair novas plantas
r e i n a r a s de mercado (Tava-
[...] enquanto vários grupos da vizinhança se encontram excluídos de
io oligopólica, ainda
qualquer benefício da operação” (Scott, 2001, p. 15). A ação pública passa
zadas”, e não apenas
a subsidiar custos de implantação e operação dos grandes em preendi
de uma acumulação
mentos. Estabelece-se um verdadeiro certame de localização, em uma
“sistema produtivo”,
interminável contenda por estabelecer posição m áxim a na gradação de
■ em um ambiente de
ofertas tributárias, de terras e infra-estruturas etc. O receptor das benes
i'^apfaí financeiro, e subme-
ses (a grande empresa) é quem determ ina o final do torneio e define o
, com andada, em últim a
vitorioso da guerra entre lugares.
l e n i e t o a barreiras à entrada
É interessante notar que, no m om en to das disputas entre vários
in É ctilíza çã o de capacidade
ofertantes de plataform a locacional, geralmente se deseja atrair grandes
plantas industriais, em uma paradoxal nostalgia com parques oligo-
• asJomerativas e de pro-
pólicos/industriais, dotados de potentes relações inter-industriais para
i e aprendizagem , enraizadas
trás e para frente (que atrairíam diversificadas empresas fornecedoras,
t investigações, listas ad hoc
gerariam enorm e núm ero de empregos diretos e indiretos etc.), mais
s é lla te o s , todos devidamente
próxim os aos complexos territoriais manufatureiros que, segundo aque
i que há hierarquias
les autores localistas, seriam próprios de uma etapa fordista totalmente
. processos, geralmente, está
ultrapassada.
Contraditória posição oportunista, pois todo o tem po a literatura
.dos “saberes” codificados
localista apresenta o m undo da econom ia (e sociedade) pós-industrial
fde extern alidades positivas
com o situação irreversível, que teria criado amplas possibilidades — com
rSaeratura, o exame de diver-
poder quase ilim itado — de geração e reprodução de novas ou velhas
iidmr í integração das cadeias
atividades “terciárias”, em que a atividade industrial, isto é, do setor se
rum” muitas vezes não
cundário, seria coisa do passado, enquanto a capacidade auto-expansiva
iJBgpcais, em que progridem
dos serviços não encontraria limites. C om o exemplo, caberia m encio
=- engendrando soluções
nar a proliferação da literatura sobre o desenvolvimento, que vai desde
aquela fundada nas infinitas possibilidades do ecoturismo (mesmo em
ente portador do “novo
paisagens criadas artificialm ente) até a convicção de que as grandes
::o solidário-associati-
metrópoles ou as regiões mais desenvolvidas de qualquer país seriam o
rsenta apenas com o um
locus do terciário avançado. Muitas vezes há uma crença, subjacente ou
: reparativas e sinergias
explícita, de que o terciário pode ser facilmente replicável, em qualquer
49
TE R R ITÓ R IO E D ESEN VO LVIM EN TO O CAM PO
lugar, dependendo da vontade do poder público, mas sobretudo da O certo é que a ca p izc
iniciativa privada local. internos à localidade.
Segundo grande parte das teorias do desenvolvimento local, é com o é bastante questionável,
se o poder, a propriedade etc. estivessem sendo paulatinamente diluídos voluntaristas deve pani:
nessa etapa do capitalismo, tornando-se dispersos na atmosfera sinérgica gime social de produção — <
das eficiências coletivas e solidárias de um determinado local “que deu últimas conseqüências z
certo”.6 divisão social do traban» i
Talvez a falha mais grave, em última instância, da literatura up-to- e escalas espaciais.
date sobre desenvolvim ento local e regional seja que ela negligencia É preciso resgatar os i
totalmente a questão fundam ental da hegem onia e do poder político. acum ulação do capital ]
Alternativamente, e sob inspiração gramsciana, devemos pesquisar os aperfeiçoa seus inst
processos assimétricos em que um agente privilegiado (os centros de m aterial em seu favor,
decisão) detém o poder de ditar, (re)desenhar, delimitar e negar dom ínio e compulsiva. Portanto.*
de ação e raio de manobra de outrem. em cada um de seus j
O poder não é disseminado, obviamente. Existe uma coesão orgânica Os bons autores i
extralocalizada, que não é abalada pelas iniciativas empreendedoras ou teria com o apagar os \
pela atmosfera de progresso. Mas a visão da endogenia exagerada, não Não se pode negligencia
reconhecendo essa complexidade social, deposita na vontade dos atores pesquisadas sob a ótica*
sociais de um determ inado recorte territorial todos os requisitos de dando-se recorrentec
superação do subdesenvolvimento. reconstruir escalas, tanto;
Aniquilam -se nessas abordagens localistas todas as possibilidades
de tratam ento adequado das heterogeneidades estruturais dos países
subdesenvolvidos. Tais países vivem situações de extrem a assim etria 1.3 TR A N SFO R M A ÇÕ ES i
50
O C A M P O DA E C O N O M IA P O L ÍT IC A D O D E S E N V O L V IM E N T O
51
T E R R ITÓ R IO E D ESEN VO LVIM EN TO o cam po da z :: .*1
e/ou aprimorou o uso que o capitalismo sempre fez das escalas espaciais? riqueza são altamente
Q ue papel desempenham, nesse novo contexto, o local, a região, o espaço busca e seleção por poziD í 1
nacional? Assim, uma ampla agenda de pesquisas se abre na atualidade, de apropriação privada à e :
im pondo uma espécie de “retematização” das com plexas articulações mais fácil. C ristalizam -se:
entre desenvolvimento e território. enquanto fluxos e fix o s ¡
Em escala global, a exacerbação do desenvolvimento desigual nas di propagação não-seqü
versas nações e blocos de nações tem levado a crescentes diagnósticos e de valorização do capitai. <
intervenções públicas compensatórias do processo reconcentrador. A cele estrutural inerente a esse ¡
ridade e a dimensão das revitalizações, desvalorizações de capitais e lugares, arranjo espacial da re
“desindustrializações”, relocalizações regionais etc. são impressionantes. passada — “espaço
Surgem novas interdependências, vínculos mercantis e não-mercantis, que posicionam “ruge
setoriais e territoriais, que redefinem circuitos produtivos regionais/locais e vezes encontramos, por*
(re)criam novos usos das heterogeneidades espaciais pelo capital. Há novas que não estão sendo b e s 1
hierarquizações e enquadramentos, atualizam-se e desatualizam-se fluxos (Harvey, 1982). Temos a 1
de mercadorias e redes de poder com grande rapidez. herança e inércia. O u :
Torna-se ainda mais impositivo estudar a natureza áas hierarquias que obstaculizam a i
(impostas em variadas escalas) de geração e apropriação de riqueza. através do prolonga
Observadores menos atentos sugerem 0 fim das escalas intermediárias sentido em buscar qu
entre o local e o global. O certo é que 0 sistema capitalista aperfeiçoou geografia”. O movimento*
seus instrumentos, inclusive 0 manejo mais ágil das escalas e a capacidade hom ogeneizadora de i
de utilização do espaço construído. das formas, das est
A s m udanças tecnológicas e organizacionais e os im perativos da soem limitar e dirigir j
globalização têm apresentado novos requisitos locacionais, reafirmam-se m ovim ento contínuo.]
e negam-se externalidades locais e regionais, desconstroem -se regiões. nunca se completa ]
Tendências e contratendências medem suas respectivas forças. Muitas ainda Por um lado, o
não tiveram o tempo e a circunstância adequados para sua efetivação. nessa fase atual superior*
O início do enfrentam ento de tão com plexas questões passa pelo atividades induzidas d ei
levantam ento m ín im o das poderosas contradições inculcadas nesse se p or redes intercon
objeto, que encontram manifestação em vários m ovim entos paradoxais Autores q u estion am :
que, grosso modo, poderiam ser sintetizados naquele apresentado por dissolução das regiões,a*
H arvey (1989, p. 267): “Quanto menos importantes as barreiras espaciais, com o “espaço totalVí
tanto maior a sensibilidade do capital às variações do lugar dentro do existiría a possibilidade*
espaço e tanto m aior o incentivo para que os lugares se diferenciem de ção do espaço e inva
maneiras atrativas ao capital”. do espaço pelo tempo’ *1
É inconteste que o m ovim ento da acum ulação de capital se processa, Por outro lado, ao i
em sua expressão espacial, de form a mutável, parcial, diversa, irregular engendra um espaço i
e com alta seletividade. As manifestações no espaço da valorização e da em geral, mas também ]
52
O C A M P O D A E C O N O M IA P O L ÍT IC A D O D E SE N V O L V IM E N TO
í f a das escalas espaciais? riqueza são altamente discriminatórias. Existe, assim, um processo de
»local, a região, o espaço busca e seleção por pontos do espaço que ofereçam m aior capacidade
í se abre na atualidade, de apropriação privada de rendimentos e onde “valorizar o valor” seja
»com plexas articulações mais fácil. Cristalizam -se no espaço estruturas que “se m aterializam ”
enquanto fluxos e fixos diversos (Santos, 1985), reveladores de um a
ato desigual ñas di- propagação não-seqüencial, de uma interm itência espacial no processo
i oescentes diagnósticos e de valorização do capital. Cabe notar que existe um a cum ulatividade
► reconcentrador. A cele- estrutural inerente a esse processo que irá determinar uma fixidez do
i de capitais e lugares, arranjo espacial da reprodução da vida social. O peso da experiência
¡ele. são impressionantes, passada — “espaço construído” — afirma cicatrizes, sinais e vestígios
ntis e não-mercantis, que posicionam “rugosidades” (Santos, 1985) no (e do) espaço. Muitas
ros regionais/locais e vezes encontramos, por exemplo, capitais fixos e infra-estruturas ociosas
i pelo capital. Há novas que não estão sendo bem utilizados e que precisam ser desvalorizados
re desatualizam-se fluxos (Harvey, 1982). Temos a história e a geografia contando, também, com o
herança e inércia. O u seja, legados e “resíduos” nos pontos do espaço
ra matureza das hierarquias que obstaculizan! a fluidez e a m obilidade, constituindo formas fixadas
¡apropriação de riqueza. através do prolongamento do passado no presente. Nesse contexto, não há
ufas escalas intermediárias sentido em buscar qualquer desses fenômenos “fora da história” e “fora da
: capitalista aperfeiçoou geografia”. O movimento da acumulação de capital, sobretudo em sua face
Idas escalas e a capacidade hom ogeneizadora de relações, vai procurar suplantar essa durabilidade
das formas, das estruturas, das relações e dos processos preexistentes que
e os im perativos da soem limitar e dirigir as transformações em curso requeridas por aquele
flocacionais, reafirmam-se movimento contínuo. Esse é um processo conflitivo e contraditório, que
. desconstroem-se regiões. nunca se completa plenamente e “de uma vez por todas...”
; forças. Muitas ainda Por um lado, o capital ganhou grande m obilidade e flexibilidade
. para sua efetivação. nessa fase atual superior de mundialização, em que “o capital flui e suas
questões passa pelo atividades induzidas de produção/gerenciamento/distribuição espalham-
ções inculcadas nesse se p or redes interconectadas de geom etria variável” (Castells, 1996).
; movimentos paradoxais Autores questionam se estariam ocorrendo a desterritorialização e a
; naquele apresentado por dissolução das regiões, a derrota das especificidades, até se confundirem
; as barreiras espaciais, com o “espaço total/mundial” (uma única plataforma homogênea). Se
r*ac3acões do lugar dentro do existiría a possibilidade concreta de um momento superior d e “suplanta-
jbsares se diferenciem de ção do espaço e invalidação do tempo” (Castells, 1996) ou d e “aniquilação
do espaço pelo tempo” (Harvey, 1989).
de capital se processa, Por outro lado, ao m esm o tempo, a natureza desigual da acumulação
ie e i P' ^ rircial, diversa, irregular engendra um espaço múltiplo. “O capital não somente produz o espaço
ws: ti : í-rp;co da valorização e da em geral, mas também produz as reais escalas espaciais que dão ao de-
53
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO ocam po da i ::
senvolvim ento desigual a sua coerência” (Smith, 1988, p. 19). As manifes tencial endógeno de en fren a» !
tações dos processos de produção, de consumo, de distribuição, de troca cum prir a “agenda estraresnad
(circulação) são marcadamente diferenciadas espacialmente. competitiva” (Com paña 1035
À m edida que as fronteiras territoriais são redesenhadas (apagadas, Nesse contexto, apreserona
segundo alguns), várias hipóteses são levantadas procurando dar resposta nativa a essas visões hesezaàe
à contradição de que, mesmo com o capital universalizado, se acentuam os
particularismos localistas. A visão liberal-conservadora, representada por
Ohmae (1996), discute a “disfuncionalidade” do Estado-nação em face do
movimento globalizante e abarcador do capital. Considera que o recorte
nacional conformaria unidade não-natural para o borderless world. A escala
eficiente — local/regional — veria constantemente seus contornos serem rati
ficados pelo mercado (seria uma verdadeira e natural “unidade de negocios”)
e possuiría capacidade de justificar infra-estrutura (redes de comunicações,
transportes e serviços profissionais de qualidade), comprovando a eficácia
das ações no âmbito do que ele denomina de Estados-região.
Realmente, assiste-se atualmente ao crescente poder de veto, de blo
queio e de burla de grupos nitidamente demarcados territorialmente, com
numerosos movimentos exprimindo demandas com expressões regiona
listas, bem com o à propagação de ondas de separatismos, fragilizando as
ações dos Estados nacionais e desintegrando pactos federativos. C om o
aprofundamento da crise, diversos grupos de pressão regionais procuram
vocalizar suas demandas, e o regionalism o nada mais é que a expressão
política desses grupos, que buscam construir sua identidade no recorte
territorial, m obilizando-se para o enfrentamento com outras unidades
e escalas espaciais no Estado. A coesão é criada simbolicamente, com a
elite local articulando o discurso “em prol dos interesses legítimos da
região”. Os donos do poder local instrum entalizam-se contra os valores
universais e reacendem toda sorte de particularismos.
Deve-se ainda notar que, em seu esforço ideológico irrealizável de negar
a política (restringindo ao máximo o espaço do público e expandindo o
espaço do privado) e a utilidade de qualquer ente regulador externo ao mer
cado, os (neo)liberais apóiam toda e qualquer ação que possa significar um
solapamento das bases do Estado, fomentando todo tipo de localismos.
Explicita-se aqui o ápice da visão dual: ou o m undo se estrutura em
redes poderosas centradas em grandes empresas transnacionais ou em
tecidos localizados de pequenas empresas. Em um ambiente fragmen-
tador, reforçam-se as lógicas autónomas que crêem na força de seu p o
54
O C A M P O D A E C O N O M IA P O L ÍT IC A D O D E S E N V O L V IM E N T O
. 1988, p. 19). As manifes- tencial endógeno de enfrentamento das forças da globalização, bastando
ude distribuição, de troca cum prir a “agenda estratégica com a qual possam assegurar a inserção
i especialmente. competitiva” (Com pans, 2005).
1redesenhadas (apagadas, Nesse contexto, apresentaremos a seguir um esboço de interpretação alter
i procurando dar resposta nativa a essas visões hegemônicas que listamos neste primeiro capítulo.
ado , se acentuam os
ara, representada por
1Estado-nação em face do
. Considera que o recorte
10 borderless world. A escala
rsens contornos serem rati-
'unidade de negocios”)
Hiedes de comunicações,
comprovando a eficácia
rEstados-região.
: poder de veto, de blo-
»territorialmente, com
i a m expressões regiona-
smos, fragilizando as
>pactos federativos. C om o
rpressão regionais procuram
i mais é que a expressão
a identidade no recorte
to com outras unidades
simbólicamente, com a
1áo s interesses legítimos da
-se contra os valores
insm os.
»ÉdB0h3s k o irrealizável de negar
õo publico e expandindo o
se regulador externo ao mer-
■ i c i o que possa significar um
toco tipo de localismos.
; mundo se estrutura em
s a ic tis is transnacionais ou em
“ C-v - m t n ambiente fragmen-
£ rrée o na força de seu p o
55
C a pítu lo 2
2.1 I N T R O D U Ç Ã O
2.2 IN S U F IC IÊ N C IA S T E Ó R IC A S D A S A N Á L IS E S
“e s p a c ia l iz a d a s ” D O S P R O C E S S O S E C O N Ô M IC O S
57
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO a s p r ix c ^ .-- : : ;— ¿ a
Nesse contexto, diante da impossível eqüidade, a eficiencia decisoria dos agrícola em gradient
agentes quanto à localização contornaria esses obstáculos advindos das nen (1826); a delcrm :r.rca:
indivisibilidades, efeitos de escala e problemas colocados pela insuficiente operará com menores rz
m obilidade dos fatores de produção e pela distância física entre bens, de transporte, de Alfred."
pessoas e mercados. O u seja, tudo se transform aria em uma questão de hierarquizadas de lc
distribuição locacional, em um ambiente não construído, mas dado “natu conform ação h e x a g o n a l,
ralmente”, inerte, isto é, conformado pelas forças mercantis, sendo apenas a partir da busca por
o receptor dessas decisões individuais. Conform e apontado mais à frente, etc. Essas abordagens k
esse m odelo teórico possui nítido caráter aistórico, aescalar (aplicável submetidas à sistema
tanto a um país quanto a uma cidade etc.). Não há contexto institucional o que deu origem ao qoej
e nem ambiente construído por forças sociais e políticas. da ciência regional
Seguindo essa concepção estática, positivista e utilitarista, a ciência regio Baseadas no ind
nal procura analisar as causas da ineficiência alocativa de recursos escassos e maximizadoras, dadas s
no espaço, posto que “a economia regional é a economia da imobilidade suposto de que, com a *
regional (espacial) de recursos [...] A existência de recursos escassos, sua hom ogênea, contínua e ]
distribuição desigual no espaço e sua mobilidade imperfeita dão origem a eficiência nos desk
ao problema econôm ico regional, cujas várias manifestações a economia de transportes.2A 1
regional tenta investigar”. Nesse contexto, essa área do conhecimento assim tamento, de vantagem ]
se define: “Estudo, do ponto de vista econômico, da diferenciação e inter- bens e infra-estruturas, j
relação de áreas num universo de recursos desigualmente distribuídos realizaria suas escolhas]
e imperfeitamente móveis” (Dubey, 1964, p. 26). Dadas as imperfeições seriam atos indiferentes à i
na mobilidade dos fatores de produção, seria necessário que o sujeito econômica envolve agocai
atom izado realizasse racionalm ente uma escolha locacional ótima. A ser disponível, um rect
ordenação dos agentes e das atividades no espaço se daria com regula A o cabo do processo,:
ridade e racionalidade, se garantida a devida mobilidade dos recursos e pessoas e dos objetos’ 4
dos fatores de produção. Permitido seu livre funcionamento, o mercado Em um espaço-
ajustaria e equilibraria a distribuição dos bens e fatores no espaço, após plano geométrico, c
um balanço entre forças concentradoras e forças dispersivas. se-iam certas atividades <
Na busca por pesquisar as racionalidades e as regularidades presen apresentaria uma escala c
tes nos processos de localização das atividades econômicas, tivemos as repartida regularmente 3
contribuições que conform aram o campo de estudos denom inado de empresas se repartiríam 1
ciência regional, destacando-se, de início, a “escola alemã”: a localização e buscando a pros
gráfico exige esforço» recursos e tempo. Esse custo exprime-se de várias maneiras: custo de 2 “O fator primordial n o * :
transporte das mercadorias, custo de comunicação da informação, custo de deslocamento das variação regular com í .
pessoas, etc. [...] os custos impostos pela distância não são apenas custos diretos. Ultrapassar Weber como Isard ir
o atrito do espaço exige tempo” (Polèse, 1998, p. 56). Neste contexto de tom ada de decisões de transporte, a qual e 5
“espaço-temporais” coloca-se a questão do custo de oportunidade, da renúncia de se“utilizar Mesmo nos modelos de 1
o tempo em outra opção”. de transporte desem peds* * j
58
A S P R IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N SÃ O E SPA C IA L
.«eficiência decisoria dos agrícola em gradientes (anéis concêntricos de produção), de Von Thü-
► obstáculos advindos das nen (1826); a determinação da localização industrial ótima, aquela que
tooiocados pela insuficiente operará com menores custos de produção e incorrerá em m enor custo
t A stán cia física entre bens, de transporte, de A lfred Weber (1909); a análise da formação das redes
i em uma questão de hierarquizadas de localidades centrais, de W alter Christaller (1933); a
taamstruído, mas dado “natu- conform ação hexagonal do sistem a econôm ico urbano, estruturada
i mercantis, sendo apenas a partir da busca por m axim ização de lucro, de August Lõsch (1940)
: apontado mais à frente, etc. Essas abordagens locacionais, objeto de análise dos alemães, foram
’ « S o n c o , aescalar (aplicável submetidas à sistematização neoclássica realizada por Walter Isard (1956),
□ f i o h á contexto institucional o que deu origem ao que se poderia considerar a “escola anglo-saxônica”
i e políticas. da ciência regional.
leiülitarista, a ciência regio- Baseadas no individualismo m etodológico e nas escolhas racionais
lde recursos escassos e m aximizadoras, dadas as restrições, essas abordagens partem do pres
: a econom ia da imobilidade suposto de que, com a dotação de recursos inscrita em uma superfície
i de recursos escassos, sua homogênea, contínua e plana, se realizam os cálculos que regulariam
: imperfeita dão origem a eficiência nos deslocamentos dos agentes, m edida através dos custos
í manifestações a economia de transportes.2A unidade decisoria usuária de “uso do solo”, de assen
t do conhecimento assim tamento, de vantagens locacionais e de proxim idade e acessibilidade a
, da diferenciação e inter- bens e infra-estruturas, segundo seus gostos e preferências individuais,
; desigualmente distribuídos realizaria suas escolhas por espaço/localização. Produzir e consum ir não
»fLa6\ Dadas as imperfeições seriam atos indiferentes à sua localização e ,“a rigor, qualquer transação
lnecessário que o sujeito econômica envolve agora um custo para superar a distância, ou que, para
i escolha locacional ótima. A ser disponível, um recurso deve ser antes acessível” (Smolka, 1984, p. 771).
t espaço se daria com regula- Ao cabo do processo, afirma-se uma distribuição final racionalizada “das
i mobilidade dos recursos e pessoas e dos objetos”, otimamente disposta no espaço geográfico.
í funcionamento, o mercado Em um espaço-plataforma homogêneo, dotado de contigüidade, um
iftess e fatores no espaço, após plano geométrico, cristalizar-se-iam as aglomerações humanas e agrupar-
mc i s c a s dispersivas. se-iam certas atividades econômicas. Cada bem ou serviço produzido
; e as regularidades presen- apresentaria uma escala ótima de produção, correspondente a uma demanda
econômicas, tivemos as repartida regularmente por esse “m ercado territorial” hom ogêneo. “As
áe estudos denom inado de empresas se repartiríam regularmente no espaço fugindo da concorrência
l‘escola alemã”: a localização e buscando a proximidade dos clientes” (Benko, 1995, p. 52). Em tal am-
=arruü±-~e ¿e várias maneiras: custo de 2 “O fator prim ordial nos modelos locacionais é o custo de transporte, que, por apresentar
jc EãtrraciD. custo de deslocamento das variação regular com a distância, presta-se m elhor a generalizações. Assim é que tanto
Cií. ç e a custos diretos. Ultrapassar Weber como Isard iniciam seus modelos pela determinação da localização de m ínim o custo
irTi : : - . : ± x z o de tomada de decisões de transporte, a qual é tomada como um paradigma para a consideração de outros fatores.
: :.?ie. da renúncia de se"utilizar Mesmo nos modelos de Thünen e Lõsch, este mais preocupado com o lado da receita, o custo
de transporte desempenha o papel fundamental” (Azzoni, 1982, p. 25).
59
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO a s p r ix c :?.-. :
60
A S P R IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N SÃ O E S P A C IA L
61
T E R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO a s p r ix c :; : .r~s
terior) e “não-básicas” (de suporte às atividades exportadoras).3 O local estim ação do nível
deverá reagir positivamente ao impulso inicial possibilitado pelo setor da renda líquida regíccaL ;
exportador e suscitar um conjunto de reações em cadeia, dinamizadoras renda e tentativas de ¿ n
de atividades não-básicas urbanas (endógenas), o que possibilitará o padrões de comércio ir
crescimento urbano-regional. e da arrecadação de i
tornou saliente. Tamben® 1
de drenagem de renda e i
2.3 A L G U M A S V IA S A L T E R N A T IV A S D O D E B A T E R E G IO N A L E U R B A N O nante sobre as outras.
Muitas contribuições. <
Seria importante discutir brevemente algumas trajetórias teóricas que se lineadas, inform ando i
desenvolveram alternativamente às concepções mais tradicionais apre redução das disparidades!
sentadas até aqui. Talvez se pudesse isolar uma via de corte “keynesiano”, compensatórios de 1
que procurou analisar os m ecanismos de determ inação e m edição das sobretudo em cap ital;
rendas regionais e propor ações estatais de planejamento regional. Nos anos 50 e 60,01
Segundo Carlos de Mattos (1998), com essa via, predom inante no no recebeu influência 1
período 1930-1975, “ganhou terreno a convicção de que seria factível 0 das teorias do desenv
exercício de uma espécie de engenharia social”, através de ações planeja posição muitas vezes 1
das, sob inspiração teórica de keynesianos e “pós-keynesianos” (Harrod, escala regional. Assim. 1
Domar, Kaldor etc.), que ressaltavam que o livre jogo do mercado gera mente ou para reafirmar!
desem prego e acentua as desigualdades econôm icas e tinham com o vim ento segundo o <
pressupostos teóricos a concorrência imperfeita, os rendimentos cres lações de R ostow (1959I.I
centes, as externalidades e a tendência à divergência. Nesse contexto, “o influência das teorias <Joi
Estado deveria recorrer a políticas discriminadas territorialmente no que dade de um trátam eos»4
diz respeito a incentivos e desincentivos fiscais e financeiros, subsídios, superar os obstáculos i
tarifas e preços diferenciais, controles, ação de empresas públicas, etc.” influência tenha partido!
(Mattos, 1998, p. 19). processo de desenvo
Raúl Prebisch (1974, p. 404) reconheceu que os pesquisadores latino- M yrdal (1957), com sua!
americanos propagaram uma “concepção macroeconômica da planificação, segundo Furtado (1966,1
sem chegar ao regional e sub-regional que daria um conteúdo concreto
a nossa tarefa”. Seria preciso avançar as análises e se “concentrar na es-
“Alguns autores, como >
tratificação regional”. a necessidade de con dcñr a
Sob inspiração keynesiana, importantes questões foram analisadas, tentando entender a i
regional (Argawala e 5
e avançou-se na operacionalização de alguns conceitos-chave, com o natureza e composição da a
das condições de de
3 “De maneira geral, o início do processo de desenvolvimento de uma região faz-se através da Tais páginas são ex
exportação de algum recurso natural prévio ou de alguma atividade primária. [...] Somente as lações de Furtado e de todas
regiões que possuírem recursos naturais, em quantidade economicamente aproveitável e na Perroux, ele afirma que*
qualidade requerida, serão capazes, em princípio, de atender à demanda externa” (Schwartzman, das estruturas, na ide
1975, P- 52)- categorias de decisões e as i
62
A S PR IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N SÃ O E S P A C IA L
&exportadoras).3 O local estim ação do nivel interno de produção, relações de troca, evolução
1possibilitado pelo setor da renda líquida regional, avaliação dos multiplicadores de emprego e
i cadeia, dinamizadoras renda e tentativas de avaliar o balanço inter-regional de pagamentos e os
, o que possibilitará o padrões de comércio interestadual. O papel das despesas governamentais
e da arrecadação de impostos e do desempenho das finanças públicas se
tornou saliente. Também se avançou em pesquisas acerca dos problemas
de drenagem de renda e apropriação de recursos de uma região dom i
ilI C I O N A l E URBANO
nante sobre as outras.
Muitas contribuições, de cunho em inentemente prático, foram de
»trajetórias teóricas que se
lineadas, inform ando propostas de políticas públicas que buscassem a
i mais tradicionais apre-
redução das disparidades regionais de renda, assentadas em mecanismos
i Tía de corte “keynesiano”,
compensatórios de transferência de renda e gastos públicos estratégicos,
: ¿esm n in ação e m edição das
sobretudo em capital social básico.
¡ffaaaeiamento regional.
Nos anos 50 e 60, o debate sobre 0 desenvolvimento regional e urba
. via, predom inante no
no recebeu influência direta de todas as correntes principais das cham a
ção de que seria factível o
das teorias do desenvolvimento econôm ico. Ou seja, ocorre uma trans
)através de ações planeja-
posição muitas vezes direta do debate internacional e nacional para a
*gos-keynesianos” (Harrod,
escala regional. Assim, tivemos as vertentes que partiam — seja critica
► firre iogo do m ercado gera
mente ou para reafirmar o caráter seqüencial do processo de desenvol
>económ icas e tinham com o
vim ento segundo o etapismo, também na escala regional — das form u
, os rendimentos eres-
lações de R ostow (1959). Tam bém o debate urbano-regional sofreu
id a . Nesse contexto, “o
influência das teorias do crescimento equilibrado, colocando a necessi
i territorialmente no que
dade de um tratamento “em diversas frentes” com sincronia, a fim de
; e financeiros, subsídios, superar os obstáculos ao desenvolvimento regional.4 Mas talvez a maior
' «ãe empresas públicas, etc.”
influência tenha partido das form ulações de Hirschm an (1958), vendo o
processo de desenvolvimento com o uma cadeia de desequilíbrios, e de
: os pesquisadores latino- M yrdal (1957), com sua teoria da causação circular acumulativa. Am bos,
aõmica da planificação, segundo Furtado (1966, pp. 90-92)5 — além de Perroux (1964) — , realizaram
rábria um conteúdo concreto
- e se “concentrar na es-
4 “Alguns autores, como Nurske, Rosenstein-Rodan, Lewis e Scitovsky, discutiram, nos anos 6o,
a necessidade de conduzir as economias a um desenvolvimento equilibrado entre as regiões,
Çjestões foram analisadas, tentando entender a dinâmica que leva à superação do processo de subdesenvolvimento
regional (Argawala e Singh, 1969). Salientavam a relevância da disponibilidade de capital, da
conceitos-chave, com o natureza e composição da população e da escassez de poupança interna, para a determinação
das condições de desenvolvimento” (Kon, 1998, p. 28).
m¡f - ü h ¿e una região faz-se através da 5 Tais páginas são extremamente reveladoras da influência decisiva dos três autores nas formu
: irrr-jiice primária. [...] Somente as lações de Furtado e de toda a C epa l . Após sintetizar as contribuições de Myrdal, Hirschman e
cxxüe eu::-omicamente aproveitável e na Perroux, ele afirma que “o estudo do desenvolvimento tende a concentrar-se na caracterização
- . r i i±—anda externa” (Schwartzman, das estruturas, na identificação dos agentes significativos e nas interações entre determinadas
categorias de decisões e as estruturas. Estas condicionam o processo de irradiação e a eficácia
63
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LV IM EN TO a s p r in c ip a l ; : : ..3
o estudo das macrodecisões, asseverando que, com “as cadeias de reações não-conservadoras, a r c
provocadas por decisões autônomas, será possível identificar fatores que procurando analisar os :
aumentam ou reduzem sua capacidade de reação”. A s reações em cadeia, em torno desse ambienu
dependentes do nível de desenvolvim ento das forças produtivas e da poderá ser mais visto .
complexidade da estrutura produtiva, provocam efeitos de arrasto (ba- institucional e m oldura 3
ckwará linkages) e efeitos de propulsão (forward linkages). A articulação Conhecendo grande *
de tais efeitos criaria os impulsos transformadores do processo estrutu tigação, inspirada em '
ral de desenvolvimento. A riqueza desses três autores, captada devida do espaço e do ambiente*
mente nas form ulações de inspiração cepalina, que trataram as questões Estado e capital em soa i
das heterogeneidades estruturais das econom ias periféricas, reside na contribuições aportadas|
perspectiva avançada do tratamento analítico dessas macrodecisões por com o da sociologia 1
um agente privilegiado6 — o Estado ou outra “unidade dominante” (a empreitada, as formu
grande empresa, por exemplo) — , em um contexto ou ambiente macro autores: Henri LefebvreJ
econômico resultante da interação de uma pluralidade de decisões cruciais. Doreen Massey, José j
Seria o Estado o agente privilegiado para avaliar e realizar a síntese das Soja, entre outros.
inúmeras cadeias de reações provocadas pelas múltiplas decisões. H enri Lefebvre (ig
Nos estudos latino-americanos, “entre a influência da Regional Science tendimento das formas*
e a da Cepal, felizmente esta última prevaleceu” (Cano, 1981, p. 18), e vários da luta política pelo *
estudos regionais e urbanos foram elaborados, buscando afastamento redenção da classe 1
dos m odelos e teorias abstratas e analisando a diversidade de situação libertadora, posto q u e a i
das cidades e regiões, a partir de suas raízes históricas e culturais e dife poder posta na soc
renciadas estruturas produtivas. M anuel Castells (i
Cabe ressaltar, ainda, as contribuições teóricas de extração marxista, complexas entre o modo*
que buscaram analisar as complexas relações entre a estrutura e a dinâ dos meios de consumo*
m ica do m odo de produção capitalista e sua organização espacial. Pelo realiza a discussão do ]
prism a do m ovim ento da acumulação de capital, examinaram a organi produção e reprodução*
zação espacial com o manifestação e “reflexo” das relações de produção David Harvey (1973JJ
e da luta de classes. O u seja, buscaram realizar a análise das relações todo um campo de 1
complexas entre o m odo de produção e sua form a espacial decorrente.7 também da análise das 1
A concepção teórica e metodológica que perpassa todas as formulações ele coloca ênfase nas j
entre este e o trabalho. J
no espaço e no tempo das decisões, como vimos ao analisar os efeitos de arrasto e propulsão, do Estado, da dor
mas ao mesmo tem po são por elas determinados” (Furtado, 1966, p. 92). timento.
6 Seria importante reter esse ponto, do papel das macrodecisões, segundo essa corrente teórica,
para realizar o contraponto com o que se poderia chamar de microdecisões das abordagens
Alain Lipietz (1977!,
localistas discutidas neste livro. rias tradicionais, que,*
7 “Os objetivos da obra marxista eram [...] revelar os processos pelos quais o ambiente urbano irá propor um plano de|
assumira sua forma presente e explicar as características da distribuição espacial desigual e
as crises sociais associadas a ela” (Gottdiener, 1985, p. 78). estudo da estruturação*
64
A S P R IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N S Ã O E SPA C IA L
‘ as cadeias de reações não-conservadoras, a partir daí, é a de que o espaço é uma produção social,
[ identificar fatores que procurando analisar os conflitos que se estruturam e as lutas que se travam
A s reações em cadeia, em torno desse ambiente construído socialmente. Nenhum recorte espacial
; torças produtivas e da poderá ser mais visto com o passivo, m ero receptáculo e sem contexto
t efeitos de arrasto (ba- institucional e m oldura histórica.
l bikages). A articulação Conhecendo grande desenvolvimento a partir dos anos 70, a inves
; do processo estrutu- tigação, inspirada em M arx, acerca da produção e reprodução social
► autores, captada devida- do espaço e do ambiente construído, colocou a ênfase na relação entre
„que trataram as questões Estado e capital em sua intervenção sobre o espaço. Diversas foram as
; periféricas, reside na contribuições aportadas pela geografia radical, crítica e m arxista, assim
»dessas macroáecisões por com o da sociologia urbana e da econom ia política. Cabe destacar, nessa
a ‘ unidade dominante” (a empreitada, as formulações, por vezes conflitantes entre si, dos seguintes
»ou ambiente macro- autores: Henri Lefebvre, M anuel Castells, David Harvey, A lain Lipietz,
de decisões cruciais, Doreen Massey, José Luis Coraggio, M ilton Santos, Neil Smith, Edward
re realizar a síntese das Soja, entre outros.
¡ múltiplas decisões. Henri Lefebvre (1970,1972) forneceu importantes insights para o en
i da Regional Science tendimento das formas de produção do espaço e sua perspectiva engajada
' (Cano, 1981, p. 18), e vários da luta política pelo direito à cidade (locus da diversidade e da potencial
.buscando afastamento redenção da classe trabalhadora). O espaço é o local geográfico da ação
>a diversidade de situação libertadora, posto que a configuração espacial refletiria a hierarquia de
icas e culturais e dife- poder posta na sociedade, que deveria ser enfrentada.
M anuel Castells (1972), em A questão urbana, aponta as relações
; de extração marxista, complexas entre o m odo de produção e a form a espacial. Discute o papel
sentre a estrutura e a dinâ- dos m eios de consum o coletivo para a reprodução da força de trabalho,
t organização espacial. Pelo realiza a discussão do Estado e dos m ovim entos sociais urbanos sobre a
, examinaram a organi- produção e reprodução social do espaço.
'd a s relações de produção David Harvey (1973) apresenta importante contribuição teórica e abre
d z a r a análise das relações todo um cam po de discussões sobre o ambiente construído. Partindo
í íjr m a espacial decorrente.7 também da análise das relações entre processos sociais e form a espacial,
r jE f u s s s todas as formulações ele coloca ênfase nas lutas que se travam entre as frações do capital e
entre este e 0 trabalho. Sua agenda avançará para a elucidação do papel
■ :s efeiios de arrasto e propulsão, do Estado, da dom inância do capital financeiro e do processo de inves
1"ferccarc. 1966. p. 92). timento.
ões. jesundo essa corrente teórica,
Alain Lipietz (1977), após realizar importante resgate crítico das teo
■ ce — crodecisões das abordagens
rias tradicionais, que, segundo ele, têm uma visão empirista do espaço,
¿: s - ¿ o s quais o ambiente urbano irá propor um plano de pesquisa que tem por base o que ele chama de
ia ¿Lscribuição espacial desigual e
estudo da estruturação do espaço pelos m odos de produção, que, para
65
T E R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO as P R iN : .~ 3
Lipietz, não existe em estado puro, mas com o um “complexo de m odos forma, o acalorado d e ó - ü :
de produção”, “sob a dom inação de um deles”. Assim, Lipietz confere às território etc. revelou- se.
regiões o status de form ação social específica, tendo sido muito criticado Todas as tentativas fie 1
por essa limitação. Sua discussão dos circuitos de ramo é seminal, no por base princípios dec
sentido de destacar a diferenciação setorial da produção capitalista. m as teóricos com pre
M uitas outras contribuições importantes foram trazidas ao debate, universal, apesar de <
não cabendo aqui o mapeamento m inucioso das posições teórico-m e- das diversidades regio
todológicas de seus participantes. Apenas para citar outros importantes intento, mesmo que 1
enfoques, caberia m ostrar algumas incursões nessa problemática. José interdisciplinar quando 1
Luis Coraggio (1988), procurando desvendar a espacialidade dos fenô
menos de ordem social, discutiu as relações entre as estruturas sociais
e as formas espaciais, criticando as concepções conservadoras da “ques 2.4 A IM P O S S IB IL ID A D E l
tão espacial”. A n n M arkusen (1980) descarta a possibilidade de um a D E S E N V O L V IM E N T O 1
66
A S P R IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N SÃ O ESPA C IA L
“complexo de m odos forma, o acalorado debate em torno dos conceitos de espaço, região, lugar,
t". Assim , Lipietz confere às território etc. revelou-se, ao fim e ao cabo, pouco conclusivo.
i sido muito criticado Todas as tentativas de estabelecim ento de teorias abstratas, tendo
. de ramo é seminal, no por base princípios dotados de validez geral, procurando elaborar esque
M i produção capitalista. m as teóricos com pretensão de dar conta dos processos de caráter
► f m m trazidas ao debate, universal, apesar de contribuírem para chamar a atenção para a problemática
; posições teórico-m e- das diversidades regionais e urbanas, se m ostraram fracassadas em seu
t citar outros importantes intento, mesmo que tenham reconhecido a necessidade de uma abordagem
; nessa problemática. José interdisciplinar quando se trata de questões regionais e urbanas.
t espacialidade dos fenó-
n re as estruturas sociais
(conservadoras da'ques- 2.4 A IM P O S S IB IL ID A D E D E U M A T E O R IA G E R A L D O
. a possibilidade de urna D E S E N V O L V IM E N T O R E G IO N A L E U R B A N O
67
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO a s p r in
É preciso pensar as regiões e os urbanos com o loci de reprodução so podem desempenhar a|
cial específicos, investigar sua decorrente inserção em uma divisão inter análise concreta do p a r a a B
regional do trabalho, ou seja, analisar a produção de espaços concretos,
captando suas determinações históricas particulares, ou, com o afirmou
Oliveira (1987, p. 9), procurar recorrentemente “alcançar-se a saturação 2.5 N O SSA PROPOSTA 2® j
histórica do concreto, isto é, apanhar a m ultiplicidade de determinações D O PR O CESSO DE D £ S
68
A S P R IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N S Ã O E SPA C IA L
»iod de reprodução so podem desempenhar um papel explicativo’. É preciso, em cada caso, na
t a n uma divisão inter- análise concreta do particular, encontrar seu caráter universal”.
»d e espaços concretos,
, ou, com o afirmou
“akançar-se a saturação 2.5 N O S S A P R O P O S T A D E A N Á L IS E D A D IM E N S Ã O E S P A C IA L
; de determinações D O P R O C E S S O D E D E S E N V O L V IM E N T O C A P IT A L IS T A
»e a produção coetánea
Vim os que é necessário investigar os contornos histórico-institucionais
‘ abstrações cientificistas” concretos em que se processa a execução das leis imanentes e das deter
■ o espaço e o tempo de m inações mais abstratas. Essas determinações não podem ser utilizadas
¡ — nem em “histori- sem mediações, fora das seqüências do real-concreto que têm vigência
; caso a caso. Não há histórica peculiar. É preciso construir e hierarquizar as determinações
. isto é, o entendimento necessárias. Neste trabalho, proponho que a divisão social do trabalho
ato não pode pres- deva ser a categoria explicativa básica da investigação da dimensão es
; sociais possuem pacial do desenvolvimento, posto que permeia todos os seus processos,
.posto que históricas. em todas as escalas.
ia política, que “até Expressão do estágio atingido pelo desenvolvimento das forças pro
determ inidade dessa dutivas, essa categoria m ediadora é a adequada para se estudarem as
(bñlóricas, e não possuem heterogeneidades, hierarquias e especializações intra e inter qualquer
tdos limites destas”. Esse escala (regional, nacional, internacional). Capaz de revelar as m edia
Ljvfc. «fuando esclarece que ções e as formas concretas em que se processa e manifesta a reprodução
social no espaço, expressa a constituição socioprodutiva interna e suas
i afeita ao desenvolvi- possibilidades (e a efetividade) de inserção no contexto maior, isto é, sua
tde divisão do trabalho que posição em um a relação hierárquica superior.
: diferenciação econômica Sob o regim e capitalista de produção, a divisão social do trabalho
rlHÍ*tam esse espaço. Mas se o se aprofunda e sofistica recorrentemente, as articulações entre espaços
>teórica, esta formulação diferenciais se processam de forma regular e ordenada9 — em bora com
b processo eminentemente natureza desigual, complexa e de form a combinada e sujeita a um pro
aente ancorar-se numa cesso de evolução hierárquica — , submetidas a leis, centros de controle
rqp*í a elaboração teórica sobre
e padrões diversificados e específicos de inserção.
ide'ssss condições históricas.
Nesse contexto, este trabalho se insere no campo da economia política
do desenvolvimento, que entendo, por sua natureza, não pode negligen
e n seus devidos termos a
ciar a dimensão espacial dos processos de reprodução da vida social e é
i ¿a dialética materialista não
o âmbito analítico adequado para o tratamento das questões atinentes à
dinâm ica urbano-regional capitalista.
t a n a i t ;::sr.ÍTénda existentes têm peso na
■ .txtiEnsmr --noricidade de evolucionismo” 9 “A divisão do trabalho na sociedade é a base histórica da diferenciação espacial de níveis de
condições de desenvolvimento” (Smith, 1988, p. 152).
69
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LV IM EN TO ASPRiv::--. : s
Não sendo uma construção teórico-abstrata, mas um mapeamento das assuma como consi::_"-x *
determinações fundamentais e dos elementos-chave para a pesquisa da e sociais. Vejamos um n a
dimensão espacial do processo de desenvolvimento capitalista, propõe-se
aqui que a devida análise crítica do m ovim ento desigual da acumulação Processos,
dimensões,
de capital no espaço requer a verificação articulada dos processos de * —
forças
hom ogeneização, de integração, de polarização e de hegem onia nos
recortes territoriais. Entende-se que esses conceitos hoje precisam ser as c c n ã ç íi
Características
reatualizados, pois foram concebidos e utilizados em realidades bastante capia 1
diversas da apresentada pelo novo m omento do processo de mundiali-
c a p ta a 9
zação do capital. de s jg g t f N
O desenvolvimento capitalista é intrinsecamente marcado por rup Determinações
nações mm
turas, conflitos, desequilíbrios e assimetrias, e apresenta uma peculiar ple& a ÉM É
espacialidade de sua riqueza, sob a form a de mercadorias, que requer geras
70
A S P R IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N S Ã O E SPA C IA L
som mapeamento das assuma como constitutiva a dimensão espacial dos processos econômicos
: para a pesquisa da e sociais. Vejamos um quadro sintético, que será detalhado a seguir:
>capitalista, propõe-se
► desigual da acumulação Processos,
dimensões, Homogeneização Integração Polarização Hegemonia
dos processos de
forças
i e de hegem onia nos H o m o g e n e iz a Enlace de e s Sistem a de in
Dom inação e
tos hoje precisam ser as condições de paços e estru fluência basea
Características i r reve rs 1b i 1i -
re p ro d u ç ã o do tu ra s p ro d u ti do no consenti
► em realidades bastante dade
capital vas mento ativo
► processo de mundiali- 0 m ovim ento do
c a p ita l a p a rtir Natureza
de suas determ i d e s ig u a l e
C orre la çã o de
ste marcado por rup- Determinações
n a çõ es c o n c e i Processo Con c o m b in a d a
forças sociais e
tu a is m ais sim corrência do p ro ce sso
. e apresenta uma peculiar políticas
ples, abstratas e de d e senvol
idorias, que requer gerais vimento
71
T E R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO as pszv ::;- :
Proponho que toda a ênfase da análise espacial recaia no processo A forma gradativa f zs
de hom ogeneização de relações, isto é, de equalização, com o tendência, põe o valor regendo - rr
requerida pelo capital de relações de produção mais apropriadas a seu único comum em u n
m ovimento unificado de valorização, ou seja, de condições “mais iguali O capital precisa ò e :
tárias” para sua reprodução ampliada. Certam ente, o capital não requer em geral, com o r
e não engendra qualquer igualação de níveis de desenvolvim ento do de trabalho, nece
conjunto das forças produtivas. Realizar a separação de características sobstruído, em que j
comuns (topográficas, climáticas etc.) de uma determinada porção ter todos os âmbitos]
ritorial (para contrapô-las a dessemelhanças extrafronteira sob análise) circunscrições ter
pouco permite avançar na análise da dim ensão espacial do processo de Esse processo]
desenvolvimento. Focalizar identidades regionais, buscando m ostrar a acumulação capitalistas
harm onização e a coesão comunitárias e igualitárias de um espaço visto lização da m ercadorâ.4
com o contínuo e forçando a construção de uma personalidade própria regime social que leva ¡
e fundada em idiossincrasias localizadas, serve perfeitam ente para a processo homoge
construção de uma pauta de reivindicações regionalistas, mas atrapalha quer espaço, de seus ]
a investigação crítica da dinâmica concreta de um determ inado recorte em incorporar massas]
territorial. Em outras palavras, a homogeneização não deve ser associada entes à órbita de seu i
a nenhuma idéia de afinidades ou de solidariedade de uma “comunidade” societárias; à busca des
particular, mas ao m ovim ento unlversalizante do capital, arrebatando à destruição de 1
m esm o os espaços mais remotos a um único dom ínio. Apenas nesse gerar atritos e fricçõesa
sentido o capital é hom ogeneizador e abarcador. esfera unificada dei
Esse movimento universalizante e homogeneizador deriva do próprio igualdade das regras) s
caráter progressista do capital. Pertence ao m omento lógico das deter busca a equivalência <
minações conceituais e mais abstratas do capital. Assim, esse processo lugar. Nesse sentido,*
de hom ogeneização está posto teoricamente a partir das determinações ao lugar da valor
mais simples, do capital em geral, sem que se ponha a pluralidade dos lação do espaço pek» I
capitais, a concorrência. É o capital im pondo suas determinações mais m obilidade e fler
gerais e imanentes, buscando a constituição dos equivalentes gerais, o capital, que tem o 1
dando unidade à diversidade de relações existentes. ciações dos lugares.
O capital busca valorizar-se sem confinamentos regionais/espaciais. É preciso muito <
Generalizando suas relações, procura im por e tornar com um sua lógica, capitalismo, porque <
circulando seus valores, símbolos e inform ações supra-regionalmente, Na verdade, esse ]
gestando em seu cosm opolitism o um espaço e um m ercado uno. Em e recria estruturas
O manifesto comunista, M arx e Engels (1848, p. 97) afirmam: “O capital Certam ente o de
necessita estabelecer-se em toda parte, explorar em toda parte, criar vín tiva de “nivelamento* e t
culos em toda parte [...]”. Essas são determinações de natureza genética as porções do territorio.^
do capital sob o aspecto de relação social. do valor, de um m odos
72
A S PR IN C IPA IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N SÃ O ESPA C IA L
73
TE R R ITÓ R IO E D ESEN VOLVIM EN TO as pr :n - :'"t
10 É em O m a n ife s to c o m u n is ta que Marx e Engels realizam profunda análise do caráter disrup- 11 Alguns autores (com o;
tivo do capitalismo, da força propagadora (e “homogeneizadora”) que submete to d o s os seus apenas essa dim ensão:
elementos à lógica da mercantilização máxima. remeteríam, necessaiia
74
A S P R IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S DA D IM E N SÃ O ESPA C IA L
ic i " caráter disrup- 11 Alguns autores (como Lefebvre) enfatizaram que Marx teria privilegiado em suas análises
út ~ e:e todos os seus apenas essa dimensão homogeneizadora, pouco se atendo às “variações geográficas, que
remeteríam, necessariamente, à discussão da diferença” (Lencioni, 1999, p. 163).
75
T E R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO a s p r i s :^ -.. ras
76
A S P R IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S DA D IM E N SÃ O E SPA C IA L
i aderentes, forçando-as
A s frações do capital, em sua luta por reprodução, criam anteparos
; produtivas regionais.
para lhe reservar espaços privilegiados de acumulação.
ía concorrência inter-
Assim , se a concorrência, com o natureza interna do capital, “agrega
■ expostos à pluralidade
conteúdos e dá formas às leis imanentes (natureza interna do capital e
>.lüa esteira da incorporação,
seu m ovimento)” (Braga, 2000, p. 169), eu acrescentaria que ela, enquanto
ataridades regionais,
pugna entre a pluralidade dos capitais e suas frações, também agrega
í potencialidades quanto das
conteúdo e dá form a às escalas espaciais, ao procurar segmentar frações
ta densidade econômica de
do espaço, proclam ando-os com o o território particular de certa fração
l de multiplicação,
particular de capital.
i capacidade de articula-
A face incorporativa do processo de integração deriva justamente
¡ e a densidade dos
dessa natureza da concorrência enquanto
ros fluxos, o movimento
Ipradfativo.
universal concreto, que como tal categoria traz em si a pluralidade de capi
t percepção desse processo é
tais [...] a lei fundamental da concorrência é que os capitais individuais
>do capitalismo numa
põem-se como gerais: “a ação recíproca dos capitais como entidades indi
io nas “novas terras” : viduais se converte precisamente no pôr-se dos mesmos como gerais e na
iscas já estabelecidas que supressão da independência aparente [...]”. O que está em destaque é justa
ae -¡riras relações capitalistas mente como o influxo de uns capitais individuais sobre os outros baseia-se
Mh im rcca c>desenvolvimento em em que todos têm que comportar-se como capital (em geral) (Braga 2000,
n 1 ¡ctc-i-.<sd zmento em extensão”. pp. 159-60).
77
T E R R ITÓ R IO E D ESEN VO LVIM EN TO a s p r in :::- ■ :...a
Com a integração ocorre a supressão da independência e da autonomia vidualizadas, não tem rom
dos lugares que serão acionados por tal processo, submetendo todos às uma coerência imposu ac
mesmas leis coercitivas. eficaz na matéria, e pe~» ■
Outro aspecto importante desse processo é que desvalorizações de distância (Braudel, 19-9-. r.
capital também são impostas a alguns capitais, pois “a mesma lei que
compele o capital a uma valorização progressiva acaba im pondo a ne Essa coerência ir
cessidade de sua desvalorização periódica” (Belluzzo, 1975, p. 106). Ao mercados encontra di
ampliar a massa de novos capitais, 0 próprio processo de acumulação concorrência interc
determina simultaneamente a depreciação periódica do capital existente, de complementaridade i
pois, conform e esclarece M arx (1857-1858), nos Grundrisse, “a autovalo- geralmente constituíam ]
rização do capital se torna mais difícil na m edida em que o capital já processo em que os *
esteja valorizado”. do enredados a partir *
O processo de integração promove, assim, uma destruição criadora superiores de acumc
(até mesmo no sentido de desconectar, desintegrar e desvalorizar capitais Assim , constata-se 1
e seus espaços), porém com sentido claro, im pondo uma coerência às mente logra, na longa*
formas e frações mais avançadas de capital. um único espaço na
À m edida que se disseminam as vinculações mercantis e se acelera tenha a ver com a 1
o concerto de uma divisão inter-regional do trabalho, torna-se cada vez M uito pelo contrário,ai
mais evidente o contraste com a fase pré-integração. Nesse m om ento do fosso no nível de .
pretérito, vigora uma verdadeira constelação de núcleos isolados, com regiões, im pondo a .
relações m ercantis rarefeitas, com pondo um verdadeiro m osaico de de desenvolvimento 1
“regiões” dispersas. Nesses espaços, dada a precariedade das comunicações que ganha foros de
inter-regionais, os segredos — base de sustentação do capital m er Estado. Isso só acontece*
cantil — são preservados e utilizados na constituição e na manutenção integrada, diversificada*
de canais especiais para a obtenção de privilégios e benesses no poder zado uma divisão intern
público. A ruptura do isolamento inter-regional acelera as tem porali m odo irrecorrível, de 1
dades dos diversos espaços integrados. C oncord o com Faria (2000), e explicita, os desce
que assevera que “a m aior circulação de mercadorias não só permitia transformação nos 1
romper com as lim itações da duração do ciclo produtivo local, como, eloqüente, as hetera
pelo aumento concom itante do fluxo de inform ações, proporcionava regionais”), as forças 1
um a m aior velocidade aos processos sociais e políticos, acelerando o para a reivindicação d ej
próprio curso da história”. A partir da cor
Tornar os espaços conexos não é uma tarefa que ocorre com natu quer experiência de <
78
A S P R IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N SÃ O E SPA C IA L
i e da autonomia vidualizadas, não tem portanto nada de espontâneo. O mercado nacional foi
i.submetendo todos às uma coerência imposta ao mesmo tempo pela vontade política, nem sempre
eficaz na matéria, e pelas tensões capitalistas do comércio externo e à longa
■ desvalorizações de distância (Braudel, 1979, p. 255).
. pots "a mesma lei que
i acaba im pondo a ne- Essa coerência imposta para construir e articular socialm ente os
■ 1975. p. 106). A o mercados encontra diversos obstáculos que se antepõem ao avanço da
tp n e e s s o de acumulação concorrência intercapitais locais/regionais e ao estabelecimento de laços
id o capital existente, de complementaridade inter-regionais. A ação das forças da integração
tG nnu¿m se,“a autovalo- geralmente constitui um longo, contraditório, heterogêneo e conflituoso
em que o capital já processo em que os espaços regionais circunscritos e capsulares vão sen
do enredados a partir daquele(s) espaço(s) em que prevalecem formas
í destruição criadora superiores de acum ulação e de reprodução econômica.
re desvalorizar capitais Assim , constata-se que a dinâm ica da acum ulação de capital geral
uma coerência às mente logra, na longa duração, integrar a econom ia nacional, form ando
um único espaço nacional de valorização, em bora esse processo pouco
■ mercantis e se acelera tenha a ver com a dim inuição das especificidades intra e inter-regionais.
iMBÉnfiio, tom a-se cada vez M uito pelo contrário, a integração põe em toda sua inteireza a questão
Nesse m omento do fosso no nível de desenvolvim ento das forças produtivas entre as
i r núcleos isolados, com regiões, im pondo a conscientização da natureza desigual do processo
1 verdadeiro m osaico de de desenvolvim ento capitalista e explicitando um a “questão regional”,
: das comunicações que ganha foros de problem ática concreta a ser enfrentada no e pelo
Io do capital m er Estado. Isso só acontece quando se consolida uma econom ia nacional
lo e na manutenção integrada, diversificada e complexa (que tenha estabelecido e cristali
; e benesses no poder zado uma divisão inter-regional do trabalho). Assim , a constituição, de
acelera as tem porali m odo irrecorrível, de um “m ercado interno” não nega, antes reafirma
c e — 1 riitdm com Faria (2000), e explicita, os descompassos, assimetrias e disritm ias da dinâm ica de
t e a t a d o r ia s não só permitia transform ação nos diferenciados espaços regionais, expondo, de form a
► c ü fe produtivo local, como, eloqüente, as heterogeneidades estruturais inter-regionais (“desequilíbrios
í «■¡Dcrnacões, proporcionava regionais”), as forças desintegradoras, e criando uma densidade social
e políticos, acelerando o para a reivindicação de políticas compensatórias.
A partir da consolidação desse processo, torna-se impossível qual
ít í c c e ocorre com natu- quer experiência de engendrar-se, no âmbito de uma única região, uma
m atriz produtiva densa e integrada, isto é, regionalm ente “completa”.
Inescapavelmente, resta a cada região desprender-se de qualquer “in
': : írjrando juntas econo- genuidade” de buscar autonom ia econôm ica (Cano, 1981) e, portanto,
vezes fortemente indi inserir-se especializada e complementarmente em elos específicos das
79
T E R R ITO R IO E D ESEN VO LV IM EN TO as prin •_ ;-r
80
A S P R IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N S Ã O E S P A C IA L
i nacional”, que se Urna vez realizada a integração, a natureza e a dinâm ica da potência
desse “núcleo central da acumulação” devem ser analisadas, e deve-se
respacos diferenciados perquirir sobre seu papel polarizados
► desenvolvimento das
2.5.3 O processo de polarização: hierarquias e a natureza desigual
í espaços periféricos.
e combinada do processo de desenvolvimento capitalista
Iacaba sucumbindo, de
provenientes do
A terceira dimensão que deve estar presente em qualquer abordagem
ram seu locus de
que não descure dos aspectos espaciais da acum ulação de capital é a
ido, desse modo,
da polarização. Esta deriva da própria natureza desigual e combinada
m al no m omento
do desenvolvim ento capitalista. Se o processo de integração nos dá
»no “quadro nacional”
uma idéia de enquadramento, o de polarização nos dá de hierarquia.
► afeem os” a cada região
O desenvolvim ento das forças produtivas gera polaridades, “cam pos
de forças”, desigualmente distribuídas no espaço, centralidades, ou seja,
' m ercado nacional, as
estruturas de dom inação fundadas na assimetria e na irreversibilidade,
i d e levar adiante qual-
que ainda serão reforçadas pela inércia dos investimentos em capital fixo
i lil— in nlr Com o añrma
concentrados naquela área central, m arcada por forças aglomerativas e
“acionadas” a partir do
apropriando-se de economias de escala, de proxim idade e de m eios de
i tão-som ente se integrar
consum o coletivo presentes nos espaços construídos nos núcleos ur
>da acumulação, sub-
banos centrais do processo de desenvolvimento. Apesar de contemplar
i comandada por aquele
a necessária interdependência entre distintas áreas, essa atração pelos
► cão de capital, que
pontos nodais se funda na heterogeneidade, na hierarquia e no exercício
de cada região do
unilateral do poder e da potência do “centro” sobre algum tipo de “peri
“articulação possível”
feria”. Centros posicionados em hierarquias superiores terão tendência
t«£ños de destruição nas
a serem dotados de estruturas complexas de serviços, infra-estruturas,
► emitidos pelo núcleo da
centros de armazenagem, comercialização, consumo, gestão, controle e
► unidades expansivas de
poder político e cultural. Assim, suas forças concentradoras têm potência
itodo o território nacional
difícil de ser revertida ou contrabalançada.
icial), conformando
O estudo da polarização pode esclarecer o potencial diferenciado de
i e diversificada, que
espaços particulares, averiguando as complementaridades e as hierarquias
► geográfico nacional.
subjacentes ao processo. Analisar o alcance e a esfera de influência do
NHEfce as regiões, e a relação
pólo, detectar as interdependências das atividades e decisões dos agen
Transform am -se,
tes econôm icos, mapear a atuação de um arranjo de forças central, dos
com a implantação e
núcleos de mais alto nível (pólos de onde emanam decisões cruciais) e a
. anm -em entarm ente ao polo.
repercussão em seus complementos periféricos, que são tributários, são
tarefas-chave para estruturar o cam po tem ático dos estudos regionais
m m zrr it nEETãáo do mercado nacional,
¡■ 1 i. :i:cé rrocorcionar efeitos tanto e urbanos. O que deve ser retido da im portância do estudo dessa força
81
T E R R ITO R IO E D ESEN VO LV IM EN TO A S l>., ••
82
A S PR IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N SÃ O E SPA C IA L
“novas geografias”, Além disso, os estudos dos padrões de desenvolvimento regional de
.rearranjando as forças veríam incorporar um quarto e último elemento fundante das relações
regionais. M uda o intra e entre espaços e escalas geográficas: a hegemonia. Inicialmente,
. M udam os núcleos di- cabe a advertência de que considero esse componente da análise com o
i especies de atratividade e o “objeto term inal” da econom ia política da espacialidade da riqueza
t e a ãs de maior ou menor capitalista. É nesse âmbito que se deve esclarecer com o a questão das
diversidades regionais se apresenta inescapavelmente com o uma questão
¿s. influência exercida de de Estado, expressando-se com o um a “questão regional”.
entre as regiões domi- A equação política e a correlação de forças presentes em determinada
rn a d o rapidamente, na nação revelam marcantes cortes regionais/locais. Nossa hipótese, a ser
:«c uma série de instru mais bem desenvolvida nos próxim os capítulos, é a de que a chave para
i d permitiu avançar em sua analisar as questões regionais e urbanas/rurais no caso concreto do Brasil
3»:uinzacão não precisa e não se encontra na hegemonia política do bloco de poder das diversas frações
Ü u s - ir motriz, efeitos de filtra- do capital mercantil (especulativo, usurário/bancário, im obiliário etc.),
■ rme m m iada, com o ocorreu responsáveis por nosso atraso político, produtivo e social.
83
T E R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO as ? ? j v -
84
A S P R IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N S Ã O ESPA C IA L
. quero apreender os É preciso investigar que forças sociais comandam o aparato de direção,
io detém o poder analisando o sistema estruturado de alianças de classe com capacidade
de ação e raio de de “dar um a base social necessária ao Estado”, partindo do estudo do
processo de conquista, realização e manutenção da hegemonia. Segundo
Gruppi (1978, p. 4), “a hegem onia é concebida com o direção e dom inio
, trata-se, pois, de e, portanto, com o conquista, através da persuasão, do consenso, mas
í esferas da vida social também com o força para reprim ir as classes adversárias”.13
tío ativo [...] de A hegem onia forja um bloco histórico, que pode compreender varia
tp d a classe dominante, dos blocos políticos. Assim , o bloco histórico é conform ado por urna
i ao mesmo tempo real
“aliança de classes de longa duração” com capacitação política de dar
coesão e unidade a forças heterogêneas, m itigando/contornando suas
contradições. Esse conjunto de forças sociopolíticas assimétricas luta
rd e enquadramento e
para ter capacidade de ser portador, de traçar um projeto, de dar univer
, e ser o portador do
salidade a seus interesses específicos, coesionando os “subprojetos” das
pera ter capacidade de
diversas frações de classe. Essa coalizão precisa construir sentido, legi
; regulação e de admi-
timar seu p oder14 e estender seus elos por todas as instituições e pelo
. De montar novo
tecido social.
i nina certa correlação
A hegem onia cum pre uma função regulatória das contradições pre
ré preciso pers-
sentes nas diversas frações do bloco no p oder15 e tem de estabelecer
'cottsentim ento” para o
um a capacidade de ocultação de conflitos e fissões, de form ar deter
■ adeterminado ‘ projeto
m inada “concepção de mundo”, forjando e cristalizando um a relação de
riñ o sa, a afirmação, como
forças que determ ina os lim ites e condiciona as ações dos subalternos.
i reprodutiva, de
Estes, se por desagregação e falta de coesão, são deserdados de proprie
r— os subordinados)
dade e cidadania, se tornam incapazes de encarnar e serem portadores
; o "conjunto nacional”,
de um projeto e de “dar uma expressão centralizada às suas aspirações
.O ser hegem ônico ne-
e necessidades”.
ter preeminéncia,
A falta de cidadania e politização eterniza classes com pouca iden
► processo para ter força
tidade, com pouca “consciência de classe”, que, segundo Oliveira (1987,
■a determ inada unidade
p. 11), seria antes a “consciência recíproca das classes e entre elas [...] E
>nacional imaginária”,
este m ovimento de re-conhecimento é, sem dúvida, o espaço da política”.
ios.
«desempenhar a função
13 “A hegemonia se realiza enquanto descobre mediações, ligações com outras forças sociais,
; prestigio, intim ida- enquanto encontra vínculos tam bém culturais e faz valer no campo cultural as próprias
K K cões conjugação entre posições” Gruppi (1978, p. 63).
14 “Bloco Histórico serve como um conceito adequado para a avaliação do grau de solidez da
► perscasrro, entre potência e
dominação de um a classe”. Sua duração depende da “capacidade de ordenar os modos de
produção e reprodução material e simbólica da sociedade” (Bocayuva e Veiga, 1992, p. 46).
15 “A Hegemonia atua como princípio de unificação dos grupos dominantes e, ao mesmo tempo,
como princípio de disfarce do domínio de classe” (Belligni, 1986, p. 581).
85
TE R R ITÓ R IO E D ESEN VO LVIM EN TO as : IS
86
AS PR IN C IPA IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N SÃ O E SPA C IA L
M ienocrática, as classes Nos próximos capítulos, procuro analisar a natureza específica do pacto
, de organização e de dominação social férreo entre os donos da terra, o Estado e os donos
; e de encontrar do dinheiro, soldado no Brasil por suas elites. Entendo que a abordagem
em uma vontade da dimensão territorial do processo de (sub)desenvolvimento terá que
ultrapassar as investigações apenas da estrutura produtiva “espaciali-
tacM ído se trabalhadas zada”, avançando no estudo das fortunas pessoais, grupos econôm icos,
; qoestões do caráter famílias empresariais e empresas específicas, com cortes setoriais e ur
da cidadania e banos da análise, se se pretende penetrar no desvendamento da lógica
id o perceber sua mercantil de valorização e estruturação política. É preciso pesquisar as
i colocadas por Maria relações entre o Estado e a recomposição das condições da valorização
das frações do pacto e sua eterna rearrumação do bloco oligárquico no
poder. Essa agenda se torna mais urgente para o período mais recente,
zr. porque ela abrange sobretudo após o esgotamento do padrão histórico de acumulação, a
i económica e social das partir da década de 1980.
eses. Mas a dificuldade O avanço dos estudos territoriais em um tal terreno perm itiría ilu
, dasses populares é o minar questões candentes com o o esgarçamento dos pactos federativos,
o uso de fundos públicos na reprodução das elites e fortunas regionais, a
estrutura, as contradições e fissuras no bloco de poder, bem com o trazer
p olíticas postas
elementos explicativos das dificuldades imensas em cimentar pactuações
-mercantilista, tendo
legitimadoras em países continentais e desiguais com o o Brasil.
i orgánica na falta de
Por fim, caberia ressaltar que a abordagem territorial crítica só tem
: diversa dos sujeitos/
sentido se indagar as causas da perpetuação das “estruturas de dom ina
lento, as massas
ção: de renda, de propriedade, de controle político, de acesso ao Estado,
"objeto dos eventos
etc.” (Cano, 1998b, p. 310). O u seja, é somente a partir da inserção das
io política dos de
questões territoriais no contexto da reprodução social que se poderíam
u iccrodução de um certo
desvendar as causas mais profundas das heterogeneidades estruturais
idas, sistemáticas
que se manifestam espacialmente na produção da riqueza capitalista.
Báo se trata apenas de
Nesse sentido, talvez os conceitos aqui abordados possam contribuir
t qoe se constituíram e
para m elhor apreensão da natureza desse processo de desenvolvimento
. a n um ambiente de desigual, excludente e segregador.
em tom o do resgate
¿ ja n se entender a dimensão
:< c ir z z ¿ o demonstrar que
tendo e à natureza
■ tenm:cL_u„ em todo e qualquer
87
C a pítu lo 3
3.1 IN T R O D U Ç Ã O
Este capítulo, partindo da ênfase que deve ser dada à dim ensão conti
nental do Brasil, procura mapear as marcas históricas mais profundas
de suas heterogeneidades estruturais (produtivas, sociais e regionais) e
a força dos processos de formação, integração e consolidação do mercado
nacional em seus diferentes aspectos e m omentos históricos. Discute a
form ação urbano-regional brasileira, procurando demonstrar o peso de
nosso legado histórico na configuração espacial do desenvolvim ento
capitalista no Brasil. Traça um breve perfil da dim ensão territorial do
desenvolvimento capitalista no Brasil, marcado por inércias, rupturas,
conflitos, desequilíbrios e assimetrias e por um complexo processo de
desenvolvimento desigual dos espaços regionais, procurando, na medida
do possível, apresentar uma agenda para a pesquisa histórico-concreta
daqueles p rin cípios teórico-m etod ológ icos discutidos no capítulo
anterior.
O intuito é demonstrar a historicidade desse objeto, alinhavando os
processos determ inados pela ação social de sujeitos concretos, esbo
çando as principais m ediações históricas necessárias para o estudo da
dimensão espacial do processo de desenvolvimento capitalista no Brasil,
que, conform e afirmamos no capítulo 2, só pode ser plenamente reali
zado a partir de categorias próprias da divisão do trabalho social e que
possuem intrínseca natureza não-universalizável, não-abstrata, produto
de condições históricas. Em suma, são processos com validez datada,
89
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO
conform ando estruturas que estão impossibilitadas de ser plenamente importante m ercad:
apreendidas por qualquer pretensa teoria (“abstrata”) do desenvolvimento. cional”, dinâmica e 5*
É bom lembrar que tal posicionamento analítico deve valer para qualquer para depois a c o r s r :
escala: internacional, nacional, regional ou local. Em que pesem 25:
O ponto de partida aqui defendido é que qualquer análise da reali neidade lingüística e :
dade regional e urbana brasileira deve estar atenta aos fatores de conti desintegração e dispe
nuidade, inércia e rigidez das desigualdades sociais e económicas pre Tais forças serão«
sentes no país e à persistência de assimetrias estruturais entre as diversas (no sentido traba
regiões e classes sociais, fruto de determ inações históricas de longa e p or decisões
duração e de outras, mais recentes, que se sobrepõem às mais remotas. com precisão os ’
Abordam -se aqui, mesmo que em traços largos, processos seculares que a adoção do sistema 1
legarão uma “fisionom ia territorial” peculiar ao país, ressaltando duas de ocupação e :
características congênitas: a dimensão continental e as forças (mercantil relativamente poteMea
e política) que contra-arrestarão o vigor centrífugo e dispersivo presente (e articular) um esa
“geneticamente” no país. É fundamental no estudo da dinâm ica da eco características bást
nom ia e sociedade brasileiras ter com o ponto de partida as heranças Querem os de
deixadas por uma história complexa de ação de forças dispersivas, pró de ocupação do 1
prias de um país continental, e as dificuldades e o potencial para a efe que engendroui j
tiva construção da unidade e da integração nacional de seu m ercado renda e riqueza e d e i
interno e da estruturação de certo pacto federativo. cidadania dos <
A vastidão do território e o pouco interesse inicial por sua efetiva
ocupação determ inaram o estabelecim ento de habitantes, certas ati A heterogeneidadri
vidades econôm icas e algum as vias de com unicação apenas na costa interno de ac ume
tempo e nas formas de<
litorânea, exigência momentânea da natureza de uma colonização inicial
a tendência à con
meramente protetora e que só posteriorm ente se tornou exploratória.
brutal da mão-de-oinai
Nesse contexto histórico peculiar, o país será “cicatrizado” pelas especifi
cidades históricas de ter construído instituições de âmbito nacional com
Entendemos qara
enormes descontinuidades, defasagens, contradições e hiatos temporais;
to do “cap italism o;
de ter demarcado um território nacional, depois “arrumado” população
tureza de nosso
para esse imenso espaço; em seguida, de ter erigido um Estado nacional
brutal da terra, da 1
e, só depois, estabelecido um mercado de trabalho nacional (primeiro
a coalizão de podei. 1
escravista,1depois capitalista); e, muitas décadas depois, de ter articulado
e se reproduz, 1
um mercado nacional e, em cim a dessa potencialidade de articular tão
para frente, recc
valorização que
i Pode-se extrair de Florestan Fernandes (1976) a interessante idéia de que o escravismo foi
nossa primeira construção institucional que merecería o adjetivo de nacional, dada sua “in concentração ge
fluência construtiva homogeneizadora [...] se inserindo entre os pré-requisitos para a eclosão capacidade de int
capitalista modernizadora”.
90
AS H E T E R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS
. de ser plenamente importante m ercado interno, de montar urna máquina capitalista “na
í do desenvolvimento. cional”, dinâmica e de crescimento “artificial”, enquanto deixava (sempre)
: valer para qualquer para depois a construção da nação.
Em que pesem as facilidades possibilitadas pela unicidade e hom oge
er análise da reali- neidade lingüística e religiosa, “forças centrífugas” irão conspirar para a
i aos fatores de conti- desintegração e dispersão das heterogêneas porções territoriais da colônia.
e económ icas pre- Tais forças serão contrariadas por uma potente força de homogeneização
; entre as diversas (no sentido trabalhado no capítulo 2) e de integração “geoeconômica”
; históricas de longa e p or decisões m arcantem ente “geopolíticas”. M oraes (2000) destaca
às mais remotas, com precisão os vários em preendimentos com fins geopolíticos, desde
^processos seculares que a adoção do sistema de capitanias até o aldeamento, com claro sentido
i pois, ressaltando duas de ocupação e segurança da posse territorial. Nossa ênfase será posta na
Le as forças (mercantil relativamente potente acum ulação mercantil interna que vai desenhar
>e dispersivo presente (e articular) um espaço nacional de valorização do capital, que terá como
i da dinám ica da eco- características básicas ser largo, heterogêneo e complexo.
i de partida as heranças Q uerem os destacar neste capítulo a m arca principal desse processo
; larcas dispersivas, pro de ocupação do território e de construção da nação: o pacto de poder
l e o potencial para a efe- que engendrou/perenizou as estruturas altamente concentradoras de
l e x i o o a l de seu mercado renda e riqueza e de im pedim ento do acesso à propriedade e à plena
cidadania dos direitos sociais, políticos e civis.
: inicial por sua efetiva
; habitantes, certas ati- A heterogeneidade social explica-se sobretudo pela conquista do espaço
áo apenas na costa interno de acumulação, em condições de dominação que vão se alterando no
tempo e nas formas de ocupação do território, mas que sempre confirmaram
¡am a colonização inicial
a tendência à concentração crescente da renda e da riqueza e à exploração
: se tom ou exploratoria.
brutal da mão-de-obra (Tavares, 1999, p. 455).
C icatrizado” pelas especifi-
i de ámbito nacional com
Entendemos que a análise da dim ensão espacial do desenvolvim en
, e hiatos temporais;
to do “capitalism o selvagem” brasileiro ajuda a lançar luz sobre a na
'‘arrumado” população
tureza de nosso padrão histórico de crescim ento, com concentração
i um Estado nacional
brutal da terra, da riqueza, da renda e do poder. O u seja, demonstra que
so nacional (primeiro
a coalizão de poder, o “bloco histórico” que dom ina o país, se alimenta
sdepois, de ter articulado
e se reproduz, também, da extensividade, do caráter itinerante, da fuga
¿dade de articular tão
para frente, recorrentem ente se reproduzindo em busca de fontes de
valorização que utilizam a dim ensão continental e a dialética da alta
¿e que o escravismo foi
f ie nacional, dada sua “in-
concentração geográfica e, ao mesm o tempo, altíssima “capilaridade” e
í TTí-requisitos para a eclosão capacidade de interiorização e “saída para dentro” que o capitalism o
91
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO ÜH
brasileiro aprendeu a utilizar, constituindo cadeias produtivas longas e Tais processes uzn
complexas. internas, com ín cin sM
Dada a natureza da colonização exploratória que se processou no Bra e superadas pela lo p
sil, a anexação econôm ica de áreas remotas se tornava crítica e custosa. distintos graus e
Os agentes da colonização apenas circunstancialmente tiveram interesses cantil presentes a .
maiores em adentrar e utilizar a riqueza da diversidade regional brasileira. dilatação, fusão, s
A força do localism o inerente aos fundamentos da civilização brasilei dos m ercados re
ra, erigida a partir de uma sociedade híbrida, oriunda de um complexo trabalho.
cultural agrário, patriarcal, escravocrata e monocultor, cristalizava uma A afirmação <
semi-autonomia que freava a propagação dos mores civilizatórios.1 Dessa e unidade, se dara3
forma, os sucessivos ciclos de produção dos gêneros coloniais cristaliza imposta pelas m « 3
ram no território uma verdadeira constelação de núcleos regionais, em de comando d a ;
que vigoravam rarefeitas relações mercantis entre si. nacional brasileiro.
Recentemente, a historiografia brasileira m uito tem avançado na
análise da complexidade de nossa experiência de construir a unidade da
diversidade nacional, tendo como ponto de partida múltiplos processos 3.2 A LARGA D l
92
A S H E TE R O G E N E ID A D E S E ST R U T U R A IS
¡ produtivas longas e Tais processos unificadores não se darão sem múltiplas contradições
internas, com íntim as estruturas locais/regionais que serão invadidas
í se processou no Bra- e superadas pela lógica m aior que passa a subm eter e coordenar os
crítica e custosa,
l distintos graus e ritm os das valorizações da riqueza m aterial e m er
¡tiveram interesses cantil presentes em cada espaço. Prevalecerá a ló gica capitalista da
¡ regional brasileira, dilatação, fusão, superposição e, posteriorm ente, articulação/superação
i civilização brasilei- dos m ercados regionais no concerto de um a divisão inter-regional do
. de um complexo trabalho.
ur, cristalizava uma A afirmação desses processos, de form a plena, orgânica, com conexão
icivilizatórios.2Dessa e unidade, se dará apenas no final do século XIX, a partir da coerência
i coloniais cristaliza- imposta pelas mais avançadas relações capitalistas presentes no centro
¡ án d eos regionais, em de com ando da acum ulação (São Paulo), que se processa no espaço
:sL nacional brasileiro.
tem avançado na
¡ construir a unidade da
t múltiplos processos 3.2 A L A R G A D IM E N S Ã O T E R R IT O R IA L : D A H E R A N Ç A C O L O N IA L À
C O N S T IT U IÇ Ã O D E U M A E C O N O M IA E X P O R T A D O R A C A P IT A L IS T A
Lználise do movimento
ide de Todos os principais intérpretes clássicos que abordaram a construção
da nação ressaltaram as múltiplas correntes pioneiras e as trajetórias
i ciclo, não um retorno geográficas, que apresentaram a marca da desconexão e da intermiténcia.
¡ lie dá significado: a luta Em um país de dimensões continentais, desde o período da ocupação
i por suporte o aprofunda- colonial, a própria integração física encontrava inúmeros limites. A luta
i da economia colonial por romper esses bloqueios, inclusive físicos, à articulação m ercantil e a
eñfeemalizou a acumulação busca por construir um espaço uno de valorização do capital mercantil
(hom ogeneização) será tarefa árdua e demorada.
C apistrano de Abreu (1928, p. 221), em seus Capítulos de historia
. pela lógica colonial, a colonial (1500-1800), irá constatar que
atividades pro-
urbanos e rurais com observando-se a distribuição geográfica dos povoadores notavam-se duas
correntes fáceis de distinguir. A corrente espontânea do povoamento tendia
à continuidade e procurava e preferia a Oeste, ao Norte e ao Sul. A corrente
3que mostra sua preocu- voluntária, determinada por ação governativa, ambição de territórios ou van
í roe provinham, por sua vez,
es mais férteis, se não mais tagens estratégicas, aparecia salteada e desconexa, e começando da periferia
¡¡¿ores de além-mar [...] As procurava rumos opostos. Nas terras auríferas a ocorrência irregular dos
i mêssí via fluvial, constituíram,
minérios trouxe primitivamente a desconexão dos núcleos [...].
zx£T. O autor assinala que
icos pela rapidez maior na
93
TERRITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO
94
AS H E TE R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS
auidades geográ- O mesmo autor ressalta dois fatos marcantes nesse momento: o papel
>formas mercantis da “pecuária hom ogeneizadora e a irrelevância de São Paulo”.
tpelo territorio, com A dispersão geográfica, cravada pelas diversas experiências de produção,
; mosaico de econo- orientada ao exterior, fincava núcleos, que retinham algum excedente, mas
io em processos que não se estruturavam com “densidão capitalista”, nem se articulavam
íd ed ín io dos diversos entre si, embora tenham “plantado” alguns núcleos urbanos.5
ida fronteira móvel e Em 1720, o país possuía apenas 12 cidades: Belém, São Luís, Oeiras,
João Pessoa, Olinda, Salvador, Mariana, Cabo Frio, Rio de Janeiro, São
i de tomada de posse Paulo, Goiás e Cuiabá (Azevedo, 1956).
Alguns núcleos No início do século X IX tinha mais de dois milhões de habitantes
i simplicidade material vivendo na faixa litorânea (de um total de 3,5 milhões). Conform e Becker
e Egler (1993, p. 52),
-militares”, algumas
; para vilas e cidades. na “marinha” (litoral) estava a “civilização”, as plantations açucareiras, as
»Grande do Norte a São cidades, os portos. No “sertão”, uma sociedade rude e um povoamento rare-
ar, Rio de Janeiro, feito e disperso, que dificultava qualquer controle, uma nebulosa de estabe
.37 vilas foram cria- lecimentos isolados que se disseminavam por uma área de mais de dois
im ndações de São Luís, milhões de km2.
i prim eira, mas tímida,
■ <kz Am azonia. Em 1730, Em grande parte do interior brasileiro a atividade de criação de gado
. 10 mil; Recife, 7 mil era um a espécie de patamar m ínim o de presença do hom em e da ativi
i tinham cerca de 2 a 3 dade econômica. A pecuária desempenhou papel fundamental na exten-
sividade e pulverização da acum ulação de capitais mercantis interiori
zados, na cristalização e preservação de grandes latifúndios, na ocupação
ate da orla atlántica dos sertões e na fixação de contingentes populacionais marginalizados,
»XVIII demonstra, de ma- seja pelas atividades agrícolas exportadoras, seja pelos núcleos de subsis
► pwoamento da Chapada tência em crise. Cabe destacar algumas especificidades dessa atividade.
1pastoril no sertão do A reprodução autônoma da pecuária, regida por suas próprias leis, com
inneaor escala, a influência certa independência perante os ciclos econôm icos, pois “dotada de ca
riüEÍkzr levada a efeito no racterística própria de acum ulação natural’ (no sentido de que o ‘capitál
físico’, principal da pecuária — o gado — é produzido dentro do próprio
setor, independente das condições de m ercado)” (Cano, 1975, p. 95). Ao
infiltrar-se pelo hinterlaná, entalhava diversas rotas interioranas, que
constituíam elem ento pioneiro de contato entre os diversos espaços
7-án do poder longín-
regionais do país. “Eram as correntes de gado que mais concorriam , sob
•s^sram da orla litorânea
i, tr o c a b a , Itu, Jundiaí, 5 Milton Santos (1994b, p. 120) diz tratar-se “mais de um processo de geração de cidades do
que de um processo de urbanização”.
95
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO
O movimento dos tropeiros pelo país desempenhou papel importante “feitorar a riqueza 1
de penetração e a melhor articulação mercantil entre áreas ainda pouco (realizado “com zeioe]
circuitos internos mercantis independentes da metrópole, destaca as prin- outro lado, a im itação4
baseada no tratam eato
6 Conforme Cano (2002, p. 119), a pecuária “podia reproduzir-se [...] ocupando novos espaços
vazios ou os já ocupados pela pequena agricultura de subsistência, que, por sua vez, também 7 Abreu (1996, p. 154* 1
era empurrada mais adiante, ou então era incorporada pela pecuária, passando os pequenos xadrez no Brasil c
produtores a viver sob o manto protetor do latifundiário, como agregados ou moradores de no planejamento de 1
condição”. de planos urbanos ai
96
A S H E T E R O G E N E ID A D E S E ST R U T U R A IS
iu papel importante “feitorar a riqueza fácil e ao alcance da mão”) vis-à-vis o padrão ibérico
I catre áreas ainda pouco (realizado “com zelo e previdência” e preocupado com a constituição de
núcleos estáveis e interiorizados).7 O estilo de arranjo espacial das cidades
ole, destaca as prin- outro lado, a imitação dos modelos internacionais de ação planejadora
baseada no tratamento higienista e “engenharista” de m elhoramento do
97
T E R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO
meio urbano parece indicar a insuficiência das interpretações das cidades A partir de i f :
brasileñas com o “obras do acaso”, o que é típico de um pretenso padrão m ercantis são de
lusitano de urbanidade. potencializa eleme
Apesar de sua complexidade, é preciso ter clareza dos limites estrutu constituir um espacz
rais que o urbano colonial apresenta. Sobretudo sua baixa diferenciação articuladora de
social e diversificação produtiva, resultado de uma restrita divisão social nítida expressão
do trabalho e de uma lim itada subordinação do cam po pela cidade. Em circulação mercantil .1
sua tese doutorai, Furtado (2001, p. 166) defende que “o desenvolvimento A o emancipar-se.*
da vida urbana se fará no Brasil à sombra do domínio patriarcal. Este tem dade. Assim,afoi
prim azia econôm ica, administrativa e religiosa. O núcleo urbano dele com o controle —
depende para tudo” [...] “O centro urbano, por si mesmo, nada repre são — sobre seus
senta. Sua população, constituída de pequenos artesãos, de comerciantes do o Estado na<
a retalho e de pequenos agricultores das proxim idades, se anula diante após as fraturas no
do prestígio econôm ico e social do grande senhor dom inial”. [...] “Entre da unidade nacionaL
os extremos da escala social flutua um a massa amorfa desligada da vida horizontal do
econôm ica da Nação”. Essa massa de deserdados sobrevivia amparada irá perm itir que se
na econom ia natural do complexo rural então existente. O que M arx gumas regiões, nas
cham ou de “o fundam ental de toda a divisão do trabalho desenvolvida e ção simples e não
processada através da troca de mercadorias” — a separação entre campo sociais. O Estado
e cidade — não havia encontrado condições materiais e políticas para se legitim ando-se o
desenvolver. A contradição entre campo e cidade não havia sido resolvida preocupação
pela subordinação do prim eiro à “polaridade” urbana. continental e
Em síntese, grandes unidades produtoras (agrícola, m ineradora e ex- riorização, cor
trativista), rígida ordem escravocrata e senhorial, altíssima concentração da fragmentação e*
de renda, riqueza e poder, orientação para o exterior, são características tal construñ a ¡
“m onótonas” dos três prim eiros séculos da econ om ia colonial, que D urante o
muito pouco se transformarão com a criação de um Estado nacional. com o um alerta e ¡
Nesse contexto de incipiente divisão social do trabalho e de não-opo- contra a unidade 1
sição dialética entre campo e cidade, 0 “caudilhismo” local prevalecerá, ção, sob um Estado*
em botando as possibilidades de constituição de uma sociedade menos
autoritária, o que legará com o herança formas atrasadas (que se pereni-
ao mandonísmo !
zam) de convivência social.8 colaboração entre t
autônomos fechara *
8 “Instituído o regime municipal como divisão política territorial, continuou a supremacia do de coletividade” <i
domínio, que fará do município seu simples valet. Com efeito, o município brasileiro é uma Para os desdob
divisão territorial mais ou menos arbitrária [...] Neste país, o domínio patriarcal perduraria Fernandes (1974. p.-
como célula da sociedade. O município será uma expressão meramente exterior. Muitas vezes de modo rápido, e
o senhor dominial achará conveniente fazer sentir a sua força na sede do município” [...] “A a Reino e à mo
inexistência de interesses comuns que liguem os domínios semi-autônomos e a tendência reforço da preserarae*
98
AS H E TE R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS
>das cidades A partir de 1808 muitas das circunscrições para o avanço das bases
i pretenso padrão m ercantis são desm anteladas.9 A crescente m ercantilização interna
potencializa elementos contraditórios que indicam a premência em se
id os limites estrutu- constituir um espaço econômico nacional. A retenção interna de excedentes,
ifcaixa diferenciação articuladora de interesses antagônicos ao poder metropolitano, tem urna
i divisão social nítida expressão espacial, pois se acha ancorada fundamentalmente na
>pela cidade. Em circulação mercantil nordestina e centro-sulina da colônia.
‘o desenvolvimento A o emancipar-se, em 1822, o país necessitou articular sua frágil uni
► patriarcal. Este tem dade. Assim, a formação do Estado nacional deveria manifestar-se também
L© n d e o urbano dele com o controle — com algum grau de centralização, soberania e repres
3, nada repre são — sobre seus diversos espaços regionais. Sem rupturas, é constituí
nde comerciantes do o Estado nacional, que articulará as elites oligárquicas regionais e,
, se anula diante após as fraturas no período regencial, criam -se m ecanismos de garantia
rdmniniaT. [...] “Entre da unidade nacional. “São lançadas as bases do permanente travejamento
idesligada da vida horizontal do Estado brasileiro. A pactuação horizontal interoligárquica
¡ « hrevivia amparada irá perm itir que se com bine o dinam ism o das forças produtivas em al
e. O que M arx gumas regiões, nas quais emergem novos atores sociais, com a reprodu
i desenvolvida e ção simples e não dinâm ica da periferia, conservando os velhos atores
i entre campo sociais. O Estado nacional irá articular-se para a construção do futuro,
¡e políticas para se legitim ando-se com o m antenedor do atraso” (Lessa, 2001, p. 264). A
► havia sido resolvida preocupação recorrente com a unidade e integridade de um território
continental e insular requeria que se promovessem a conquista e a inte-
. mineradora e ex- riorização, construindo as vias de penetração necessárias ao rompimento
1a concentração da fragmentação e do isolacionism o da nascente nação. Era fundam en
. são características tal construir a soldagem de interesses específicos e dispersos.
colonial, que Durante o período regencial, as sublevações provinciais serviram
Estado nacional. com o um alerta e se constituíram no prim eiro abalo que conspirava
iln ÍM ¡h o e de não-opo- contra a unidade (nacional e territorial) que se encontrava em constru
' local prevalecerá, ção, sob um Estado que ainda se compunha. Assim, entre 1831 e 1848,
i sociedade menos
. (que se pereni-
ao mandonismo resultante da herança escravista dificultam qualquer entendimento ou
colaboração entre os senhores patriarcais. Por outro lado, esse isolamento de grupos semi-
autônomos fechará 0 caminho à formação de uma mentalidade política e de uma consciência
a supremacía do de coletividade” (Furtado, 2001, p. 169).
m m z r i o brasileiro é urna 9 Para os desdobramentos da presente tese é importante reter os ensinamentos de Florestan
h.-1 mimi-n: parriarcal perduraria Fernandes (1974, p. 7), ao discutir “como 0 ‘senhor colonial’ se converte, pura e simplesmente e
erre srerior. Muitas vezes de modo rápido, em ‘senhor’, graças à transferência da Corte, à abertura dos portos, à elevação
kcl .-eo: ¿ r municipio” [...] “A a Reino e à modernização acelerada que esses processos desencadearam, com o profundo
;* !=m--jiT-ruizios e a tendência reforço da presença e da influência transmetropolitanas da Inglaterra”.
99
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO
cerca de duas dezenas de revoltas, com grande expressão política, se se dará a luta co~c:-:
espalharam por todas as regiões do país. Tiveram m aior vulto as seguin zação das diversas fn
tes: Cabanagem , no Pará (1835-1840); Sabinada, na Bahia (1837-1838); m omento posterior a t ]
Balaiada, no Maranhão (1838-1841); Farroupilha, no Rio Grande do Sul A instauração õ e ;
(1835-1845) e Praieira, em Pernambuco (1848). A ssim ,“em seu processo dos esquemas de r;
de formação, o Estado brasileiro também teve que enfrentar fortes re do país. Ponho à
sistências à concentração de poderes (jurídicos, militares e sobretudo ele condensa ele
fiscais) no centro político”. Logrará potente força centralizadora, a partir caráter conservador*
do Rio de Janeiro, durante as décadas de 1850 e 1860, porém “a crise do desvendado por 1
Estado Imperial torna-se endêm ica a partir da década de 1870. Ela pode burguesa no Brasil
ser sumarizada com o a confluência explosiva entre as demandas cres em que o autor *
centes das diferentes econom ias regionais (com o início do processo de na tentativa de ■
emancipação) e o estrangulamento das finanças públicas, im posto pelo controle do exc
peso dos compromissos da dívida” (Costa, 2000, p. 197). burguesas colocadas]
As forças centrífugas eram fortes. Em contrapartida, mudanças de na heteronômicos 1
tureza qualitativa nos esquemas de funcionamento da economia nacional e proteção, pro
estavam-se afirmando, cabendo destaque à potente homogeneização (no A apropriação*
sentido discutido no capítulo anterior), que embora enfrentando grandes zada, porém sej
obstáculos, lograva iniciar a construção de um mercado específicamente desenvolvim ento <
capitalista no Brasil.10 de situações (r
A s forças da hom ogeneização, ou seja, do com bate/superação às Essa apropr
antigas formas de relações de trabalho, aos laços de dependência e favo e de form a cer
res pessoais, o combate à violência e à coerção extra-econôm icas, im pu constituirão a s :
nham sua lógica, p rom oven do a subm issão das arcaicas form as de ambos em processa*
produção — m odos pretéritos de organizar o trabalho coletivo etc. — às Sobretudo a p ó s;
determ inações das relações capitalistas de produção e da expansão e cional para a <
propagação das relações mercantis. com o sedes do <
Nesse m om ento decisivo é avançada a constituição de um a esfera
“A Independência i
unificada de valorização do capital que, malgrado variados em pecilhos,11
colonial foi con
engendra a arena e fixa os parâmetros (a igualdade das regras) sob os quais o seu substrato i
de uma sociedade i
Tal retenção é ]
10 João Antônio de Paula (2001, p. 5) afirma que“a Lei de Terras, de 1850, é coetánea de dois outros “Vai ser nas cidadã a
instrumentos legais, o Código Comercial e a Lei Eusébio de Queiroz, que aboliu o tráfico de circulação int<
escravos, que significaram, em conjunto, a emergência, no Brasil, do processo de constituição evidentemente, a i
do mercado específicamente capitalista. Isto é, a transformação da terra e da força de trabalho controlando a j
em mercadorias”. Essa transformação se mantém inconclusa, é bom ressaltar, durante muito nal de mercadooaa” •
tempo. que “a mudança ç
11 Cabe salientar, por exemplo, que a taxação entre as províncias só será abolida várias décadas mercantil-cidade, *
depois (Cano, 1981). o latifúndio í
ÍOO
A S H E T E R O G E N E ID A D E S E ST R U T U R A IS
o p r e s s ã o política, se se dará a luta concorrencial. Em suma, são criados os loci para a organi
■ vulto as seguin- zação das diversas frações regionalizadas de capital, que se enfrentarão no
i Bahia (1837-1838); m omento posterior do processo de integração do mercado nacional.
>Rio Grande do Sul A instauração de espaço e sociedade nacionais significa organização
‘ em seu processo dos esquemas de reprodução produtiva, social e política desde dentro
enfrentar fortes re- do país. Ponho ênfase nesse m omento de um passado longínquo, pois
■ flíMn e sobretudo ele condensa elementos históricos fundamentais para que se entenda o
idora, a partir caráter conservador e oportunista de nossas elites,12que foi brilhantemente
, porém “a crise do desvendado por Florestan no primoroso segundo capítulo de A revolução
de 1870. Ela pode burguesa no Brasil (“Implicações Sócio-econôm icas da Independência”),
as demandas cres- em que o autor destaca os elementos de preservação e m udança postos
io do processo de na tentativa de constituição de centros de decisão internalizados de
pÉM kas, imposto pelo controle do excedente. É urna im portante reflexão das contradições
P- *97)- burguesas colocadas pela luta de alguns para romper com os “caracteres
mudanças de na- heteronôm icos herdados” e buscar construir a escala nacional de controle
economia nacional e proteção, procurando ter poder de regulação sobre seu destino.
homogeneização (no A apropriação de excedente vai ganhando natureza e escala nacionali
enfrentando grandes zada, porém se processa com níveis e ritmos marcadamente desiguais de
específicamente desenvolvim ento das forças produtivas materiais, com a com binação
de situações (regionais, produtivas, sociais) bastante diversas.
ate/superação às Essa apropriação e retenção de excedente13 ocorre crescentemente
dependência e favo- e de form a centralizada nos principais núcleos urbanos do país, que
conômicas, impu- constituirão as sedes privilegiadas tanto do mercado com o do Estado,
. arcaicas form as de ambos em processo de construção e estruturação.
: coletivo etc. — às Sobretudo após a passagem da econom ia m ercantil-escravista na
e da expansão e cional para a econom ia exportadora capitalista, as cidades se afirmarão
com o sedes do controle burocrático e do controle do capital mercantil,14
lo de urna esfera
12 “A Independência foi naturalmente solapada como processo revolucionário [...] O estatuto
vaciados em pecilhos,11
colonial foi condenado e superado como estado jurídico-político. O mesmo não sucedeu com
das regras) sob os quais o seu substrato material, social e moral, que iria perpetuar-se e servir de suporte à construção
de uma sociedade nacional” (Fernandes, 1974, p. 33).
13 Tal retenção é parcial, em razão das importações e da presença dos capitais estrangeiros.
£ coetánea de dois outros 14 “Vai ser nas cidades que se localizarão tanto os aparelhos que fazem a ligação da produção com
jonsE-a. que aboliu o tráfico de circulação internacional de mercadorias quanto os aparelhos de Estado, que têm nas cidades,
- ñc processo de constituição evidentemente, a sua sede privilegiada” [...] “as cidades são a sede do capital comercial, que,
xz -srra e da força de trabalho controlando a produção agroexportadora, fazem a ligação desta com a circulação internacio
; i c e ressaltar, durante muito nal de mercadorias” (Oliveira, 1982, p. 37). Também Ronaldo M. Santos (1985, p. 161) assevera
que “a mudança qualitativa básica pode ser expressa, em termos internos, no binômio capital
»; sera abolida várias décadas mercantil-cidade, que pelo feto de intermediar as relações entre os novos agentes extern os e
o latifúndio escravista, será o posto de controle desse novo comando”.
10 1
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO
10 2
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103
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO
EÉ
Esse contraponto é decisivo, também, no sentido de que o Brasil co território nacional ¿e ¡
nheceu poucas situações concretas tanto de um quanto de outro. Apenas os impedim ento?:
a situação da econom ia paulista poderia ser considerada rigorosamente potente acumulacãc
de m aturidade de um complexo regional. O u seja, sua única form a aca de valorização, j
bada no interior do espaço nacional, que poderia constituir-se na matriz m ateriais a partir ã
das forças produtivas capitalistas mais modernas que se desenvolveram C an o (1981, p. yxz
no Brasil.
antes de 1930, a <
Esse “conjunto económ ico integrado” tem sua estrutura e dinám ica
havia tido uma ]
duplam ente determ inadas pela form a e natureza do engate de cada
xaram uma herança;
complexo com o exterior e pelo m odo singular com o o capital invade,
estrutura da pr
conecta e atravessa as diferentes localidades e atividades produtivas regio
pobreza absoluta e :
nalizadas. Nesse processo, gera nexos mais duradouros entre seus vários
componentes e agentes, constituindo, portanto, o contraponto justamente
Nesse contexto. 3
dos diversos enclaves, vazios econôm icos e núcleos de subsistência.
ças de natureza 1
O processo histórico de configuração regional e urbana no Brasil se
cumpre ressaltar o ]
deu com uma grande dispersão de população e de atividades econômicas
constituiu o prii
espalhadas pelo vasto território nacional. Não resta dúvida, nesse con
uma incipiente
texto, de que enormes desigualdades e diversidades regionais e urbanas
contingentes
se plasmaram antes do período de industrialização, tendo determinações
Núcleos
históricas antigas e profundas, e legaram um fardo histórico monumental.
ancorados em uma ¿
O isolamento, a extensividade e a fragmentação regional foram um pe
espalharam-se pek> t
sado legado histórico que perdurou em um processo secular. Sem maior
tis tiveram vigêi
organicidade, as diversas porções regionais ficaram confinadas territorial
áe subsistência,
mente, adstritas ao âmbito dos mercados locais restritos. A penetração
econômicos, zonas,}
em todos os rincões possíveis à “absorção do processo de acumulação”,
a conviver histor
com a reiteração e renovação das fronteiras de valorização das diversas
articuladamente 1
frações de capital, sempre foi acrescida em seu processo de eterna “ho-
chamados “cor
rizontalização”. A urbanização brasileira é também fruto desse processo.
Dentre as <
Consolida-se um a rede urbana diversificada e com plexa, constituída
noção, uma irá <
“pela articulação de redes urbanas regionais estruturadas originalm en
das relações sociais*
te por processos econôm icos particulares, de âmbito regional. [...] Sua
com o a do 1 i 11111 »a»l
articulação em uma rede urbana nacional ocorreu concomitantemente
Nordeste etc.) e 1
à integração do mercado nacional” (Gonçalves, 1998, p. 1).
mando e à sobre
No que se refere à extensão e densidade do mercado, os obstáculos
foram enormes: a referência não pôde ser o m ercado regionalizado,
16 “Desde o coração ide 3
por falta de propriedade, renda e riqueza distribuídas de form a mais interior, com os i
equânime. O processo de hom ogeneização dos mores capitalistas pelo à margem dos nego
104
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► de que o Brasil co- territorio nacional se acelerará no último quartel do século XIX, porém
► de outro. Apenas os impedimentos materiais a vencer serão enormes. Urna relativam ente
t rigorosamente potente acum ulação m ercantil interna vai desenhar um espaço nacional
i única form a aca- de valorização, revolucionarizando a reprodução de suas próprias bases
-se na m atriz m ateriais a p artir de seu núcleo m ais dinám ico. C om o dem onstrou
; se desenvolveram C ano (1981, p. 312),
antes de 1930, a economia nacional não era integrada e cada uma de suas regiões
estrutura e dinâmica
havia tido uma história e uma trajetória econômica específicas, que lhe dei
do engate de cada
xaram uma herança cultural, demográfica e econômica — notadamente a da
■ o o capital invade,
estrutura da propriedade e da renda — demarcadora de diferentes graus de
produtivas regio-
pobreza absoluta e relativa e de diferentes estruturas produtivas.
entre seus vários
mto justamente
Nesse contexto, não se poderia fazer tábula rasa das marcantes diferen
de subsistência,
ças de natureza entre os “complexos regionais”. Dessa forma, por exemplo,
e urbana no Brasil se
cumpre ressaltar o papel desempenhado pela economia mineratória, que
íes económicas
constituiu o primeiro ensaio de articulação inter-regional,16 estabelecendo
dúvida, nesse con-
uma incipiente divisão territorial do trabalho no Brasil, interiorizando
regionais e urbanas
contingentes populacionais e disseminando inúmeros núcleos urbanos.
tendo determinações
Núcleos insulares e orientados por singulares oligarquias regionais,
irisaórico monumental.
ancorados em uma commodity com certa inserção no mercado mundial,
■ eywnal foram um pe-
espalharam-se pelo extenso território nacional. Rarefeitas relações mercan
secular. Sem maior
tis tiveram vigência nesses pontos dispersos. Alguns núcleos de economias
confinadas territorial-
de subsistência, semi-enclaves, um vasto hinterland pecuário, “vazios”
■ stritos. A penetração
econômicos, zonas, fronteiras e frentes pioneiras de expansão passaram
de acumulação”,
a conviver historicamente com econom ias regionais que estruturavam
o das diversas
articuladamente seu conjunto de relações e interesses, estabelecendo os
^faocesso de eterna “ho-
chamados “complexos regionais” (Cano, 1975).
firuto desse processo,
Dentre as diversas experiências que poderiam ser enquadradas nessa
com plexa, constituída
noção, uma irá despontar, a de São Paulo, por apresentar mais avança
originalmen-
das relações sociais de produção (ao contrário de outras experiências,
regional. [...] Sua
com o a do aviamento amazônico, em 1870-1912, a do extremo Sul, a do
oncomitantemente
Nordeste etc.) e uma conjunção virtuosa de fatores que a alçará ao co
P- l).
mando e à sobredeterminação de sua economia sobre as demais “estruturas
•mercado, os obstáculos
do regionalizado,
16 “Desde o coração de Minas Gerais, já começara a ocupação extensiva do nosso vasto território
c iia s de form a mais interior, com os negócios de gado e muarés, o primeiro movimento de integração nacional,
b» m ires capitalistas pelo à margem dos negócios metropolitanos” (Tavares, 1999, p. 450).
105
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO tS
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107
TE R R ITO R IO E D ESENVOLVIM EN TO na
IO8
A S H E TE R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS
18 “É possível ver nas diferenças entre as leis de terras do Brasil e as dos Estados Unidos a ossa-
cae e somente se dá, por- tura básica de constituição dos mercados internos destes países, isto é, a diferença entre um
—~arâ-, social de dominação, mercado interno amplo e consistente, como o caso americano, e um mercado interno restrito
:òaaculizam e bloqueiam e excludente, realidade permanente no Brasil, resultando daí diferenças tanto no referente
m iirsrii relações de produção. A à constituição da nação, isto é, grau de integração social e capacidade do Estado de garantir
r a ç caminho até a dissolução direitos sociais básicos, e deste modo algum grau de coesão nacional, quanto diferenças em
• ser reproduzida, e por essa relação ao tônus dos capitalismos que vão se implantar nos dois países. Dito de outro modo,
íes locais e sua substituição o tamanho e a consistência do mercado interno estão diretamente relacionados à capacidade
de coesão nacional e desenvolvimento da vida econômica” (Paula, 2001, p. 5).
109
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO i-a
acabará por consolidar não apenas urna potente divisão intra-regional a extensão ca reces
do trabalho no âmbito da econom ia paulista, com o tam bém im porá prim eira década .se
uma incipiente, porém crescente, divisão inter-regional do trabalho na mil na terceira, chi
econom ia brasileira. alcançaria 32.478 t x t
Tal processo de extroversão se ampliará definitivamente à medida Também o avaraa»!
que a resolução da contradição café-indústria é superada pelo processo rado no período. A s ¡
de industrialização. utilidade pública
À m edida que eclodia e se generalizava a m ercantilização interna Outras fontes ene
do país, tornava-se cada vez mais patente a inadequação do sistema espaço, dado o uso 1
de transportes. Era necessário que as m ercadorias circulassem com pública surgem 1
m aior desenvoltura, mas a intensificação dessa m obilidade exigia que Entretanto, a <
se procedesse a um esforço de redução dos custos de transporte, que se telefone), estradas <iei
aumentasse a rapidez e a regularidade das entregas e que a capacidade “ilhas de infra-e
de transporte se avolumasse. C o m o advento das estradas de ferro, o exemplos, m esm o ;
crescim ento econôm ico poderia “interiorizar-se”, afastando-se mais e avançava celerei
mais do litoral e dos portos do Rio e de Santos. Dessa maneira, a ferrovia era uma clara 1
contribuiu para estender a fronteira agrícola, criando e ligando, com seu 28.613 km de <
traçado, pontos de produção agropecuária. A ferrovia concorria, também, detinha 7.522 km , Sã»l
para a centralização mercantil em pontos discretos do espaço. A o passar de Janeiro, 2.553 km .4
“preferencialmente” pelas grandes propriedades e pelas localidades onde de 70% da m alh a.'
estavam instalados os maiores comerciantes, exercia sobre estes pressão em todas as unic
para que se tornassem pólos mercantis. O m ovim ento de propagação a Em 1930, das 1.211 ¡
partir desses focos e a concomitante repercussão sobre as outras órbitas térmicas e 11 mistas
(não-mercantis) foram bastante lentos, embora significativos e contínuos. (319); SP (166); RS (ti
A construção de ferrovias faz parte da própria gênese do processo de
constituição do mercado nacional, perm itindo a absorção das m ercado
rias mais elaboradas que vinham dos núcleos urbanos mais avançados
e viabilizando o escoamento dos bens agropecuários das outras regiões. 18*
A melhoria das condições do traslado das mercadorias induz à maior
especialização produtiva de diversas áreas geográficas, possibilitando uma
1905
crescente complementaridade entre suas estruturas produtivas. Assim,
o papel do aperfeiçoam ento das com unicações entre diferentes áreas 19W
110
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:c á e se assentavam os 778.802
1930
m rç u ic a , predominante
Fonte: Ferraz F2 (1981)
r":s das múltiplas trans-
111
TERRITÓ R IO E D ESEN VO LVIM EN TO n
Da mesma forma, malgrado o marcante avanço geográfico dessas redes As densidades ec :tna^
de comunicações, transporte e energia, sua extensão não seguia qualquer e marcantes assim --------
“racionalidade estratégica”, direcionando-se ao sabor da rentabilidade 1920 uma situação
privada, de disputas políticas e do poder local. A pulverização de esforços nas regiões que tinham
e inversões gerou diversas sub-redes regionais de infra-estrutura, sem coe m ica até m eados ¿k? m
rência e coordenação nacionais. Era preciso romper a carência de capital constituíram verõaãeí
social básico para que se possibilitasse à periferia absorver padrões mais m om ento em que
avançados de produção e de circulação de mercadorias por meio de mer Em termos de pi
cadorias. Entretanto, a passagem dos fluxos uniformizados/exogeneizados São Paulo detinha
para os fluxos diversificados/endogeneizados, que conformam um mercado 22%. O núcleo
nacional, ainda teria que enfrentar inúmeros obstáculos. A direção geo altíssimas de cr<
gráfica do capital social articula-se com a densidade econômica e com o Em 1900, enquanto
potencial produtivo de cada ponto no espaço e deve ser congruente com possuía 240 mil.
as hierarquias de centros urbanos e das sub-redes regionais de cidades. concentrava um
Cano (1981) nos dá o sentido19 m aior da form ação e integração do tinha 74 cidades,
m ercado nacional desde a consolidação da econom ia cafeeira (1850) até mais de 30 milhões ^
a “crise de 1929”. Será durante a década de 1920 que a periferia nacional, e boa parte ad
além da vinculação específica com o mercado externo de sua respectiva de baixa produi
pauta produtiva, necessitará “funcionar com o uma econom ia com ple
mentar ao ‘pólo’ ”. Brasil -1 9 2 0 -
N a década de 1920, estão am adurecendo as pré-condições para a
classe (em t
ruptura do padrão de acum ulação do capital: circulação mais ampliada
20-50
de mercadorias, diversificação produtiva, complexidade social, com 0 sur
gimento de novas frações de classe, de um “novo urbano” etc. Conjunção 50-100
de fatores que irão balançar e solapar os fundamentos da vida material 100-500
das diversas regiões, m udando suas fisionomias internas. Am pliam -se e
500-2.00C
diversificam-se as funções urbanas, com a aceleração da divisão do tra
Fonte: Faria (1976)
balho. Transformações de uma “década de transição” que foram m agis
tralmente examinadas por Sérgio Buarque de Holanda (1936, p. 105), que
enfatiza o papel da urbanização m inando as tradições: “No Brasil, onde No período ¡
imperou, desde tempos remotos, o tipo prim itivo da família patriarcal, da “crise de 1929*
o desenvolvimento da urbanização ia acarretar um desequilíbrio social, tato as estruturas 1
cujos efeitos permanecem vivos ainda hoje”.19 estava posta a *
propriedade de
continental espaço 1
19 Tomado aqui conforme Caio Prado Jr., para expressar a forma de se apreender “na sua evolu
ção, no conjunto dos fatos e acontecimentos essenciais”, como o processo “se forma de uma
linha mestra e ininterrupta de acontecimentos que se sucedem em ordem rigorosa, e dirigi 20 Quando o mercado j
da sempre numa determinada orientação” (1942, p. 19). indústria nacional
112
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• a s desequilibrio social, tato as estruturas produtivas e mercantis de cada espaço regional. Não
estava posta a questão do enfrentamento entre as diversas “unidades de
propriedade de riqueza” (capitais) localizadas nos diversos pontos do
continental espaço regionalizado brasileiro. Diversos e potentes obstáculos
■ ztt se apreender “na sua evolu-
: rrocesso “se forma de urna
e n i— ordem rigorosa, e dirigi- 20 Quando o mercado nacional se torna “cativo”, podendo ser capturado pela produção da
indústria nacional (Cano, 1981).
113
TERRITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO
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idas possibilidades “ R E S T R IN G ID A ” E A I N T E G R A Ç Ã O V I A C O M E R C IO D E M E R C A D O R IA S
' frac, ¿e desenvolvimento 21 Chega um momento em que a capacidade de acumulação da economia paulista "reclama” o
- í-s.-í mercados locais alargamento do mercado; essa “contradição só pode ser resolvida por um processo de conquista
de ‘mercados exteriores’. Tais mercados, obviamente, estariam representados pelas demais
115
T E R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO
econom ia de São Paulo sobre as outras regiões, “im prim indo-lhes, em mutuam ente suas =c:c
grande medida, uma relação comercial de centro-periferia” ’ (Cano, 1975, seu perspicaz a r t e ; ;
p. 15). Assim, a capacidade de expansão e extroversão da econom ia pau regionais [processa-»;
lista, buscando espaços de valorização renovados para seu imenso p o a um esquema únicc aei
tencial de acumulação de capital, unificou o m ercado nacional. re-as num processo de 1
Consolidado o processo de formação e integração do mercado nacio e à reacom odação d s s c
nal, as economias regionais periféricas foram impedidas de levar à frente Após 1930, o avaDO»|
qualquer projeto de replicar a trajetória da econom ia paulista. Restava donada. Deveria 1
integrar-se complementarmente à econom ia do pólo dinâm ico da acu duplo condiciona
mulação, subm etendo-se e enquadrando-se à hierarquia com andada do um processo m añ i
p or aquele centro do processo de decisões atinentes ao processo de p. 256), a “periferia*
acumulação de capital que ditaria o ritmo e a natureza da incorporação ou seja, “aquelas i
de cada região no ranking nacional, vetando o que não fosse aquela “ar com esse quadro* A ]
ticulação possível” em cada momento, e, eventualmente, gerando efeitos de São Paulo pa
de destruição naquelas regiões que ousassem enfrentar os requerimentos seja, as economias ]
fixados pelo núcleo da acumulação de capital do país. subordinação, em i
Esse processo de entrelaçamento de mercados dispersos e sua con nia e sendo imp
sistência e direcionamento teve sua natureza desvendada por Braudel, industrialização.
quando ele discute a coerência imposta a partir do “espaço hegemônico” e Até a recupera
dinam izador do processo de integração dos mercados internos. Quando bloqueios ao 1
se acelera o processo integrativo, acirra-se a concorrência inter-regio- economias región
nal, e os mercados, dom inados em sua m aioria por capitais mercantis
locais, passam a se expor à pluralidade das formas superiores de capitais No plano político,]
foráneos. Na esteira da incorporação, promovida pelo “desenvolvimento representassem os j
para dentro” do país, multiplicam-se as interdependências e as comple- e, não raro, repre
mentaridades regionais. No plano económico,]
integração pree
Cabe destacar que as unidades produtivas paulistas foram consolidan
“soma” de regiões <
do porte adequado para operar em escala nacional, enquanto os capitais
periféricos possuíam escala proporcional a seus restritos mercados loca
Se, por um lado, <
lizados. Em tal contexto, a acumulação capitalista ampliada se processou
em preender um
com grande concentração espacial. M axim ova (1974, p. 395) nos diz que a
avançar na órbita ]
integração capitalista se assenta em bases objetivas, isto é, nas exigências
nal, as “oligarquias 3
das forças produtivas, e “alarga as capacidades dos mercados, m odifica
m ica cíclica’ com
a estrutura econôm ica geral e setorial e tende a aproximar e adaptar
central” (Tavares, 1
regiões e sua conquista seria acelerada à medida que o processo de formação do mercado periferia não se i
nacional pudesse ser implementado por melhores meios de comunicação e de transporte”
(Cano, 1975, p. 218).
116
A S H E TE R O G E N E ID A D E S E ST R U T U R A IS
l"S«prnnindo-lhes, em m utuam ente suas econom ias”. O u, com o afirm ou Ignácio Rangel em
'(C ano, 1975, seu perspicaz artigo de 1968, “o problema da integração das economias
id a econom ia pau- regionais [processa-se...] no sentido de incorporá-las mais estreitamente
seu imenso po- a um esquema único de divisão nacional do trabalho”. Dessa forma, inse-
1nacional. re-as num processo de recondicionamento, forçando-as à convergência
»cio mercado nació- e à reacom odação das estruturas produtivas regionais.
i de levar à frente Após 1930, o avanço produtivo periférico passaria a ter natureza condi
i paulista. Restava cionada. Deveria buscar complementação, “passando a se submeter a um
1dinâm ico da acu duplo condicionamento, do exterior e da economia paulista [...] impedin
ña com andada do um processo mais aberto de desenvolvimento”. Segundo Cano (1975,
ao processo de p. 256), a “periferia” não lograria mais ativar sua potências autônomas,
t da incorporação ou seja, “aquelas inerentes à sua própria força endógena — para romper
1fosse aquela “ar- com esse quadro”. A partir daí as estruturas produtivas localizadas fora
, gerando efeitos de São Paulo passariam a ser acionadas pelas decisões desse centro. Ou
ros requerimentos seja, as economias periféricas eram reflexas, com crescentes vínculos de
subordinação, em relação ao núcleo da acumulação, perdendo endoge-
sdispersos e sua con- nia e sendo impossibilitadas de engendrar um processo autônomo de
ada por Braudel, industrialização.
■“fespaço hegemônico” e Até a recuperação da “crise de 1929”, persistiam inúmeros e potentes
¡internos. Quando bloqueios ao estabelecimento de laços de complementaridade entre as
ência inter-regio- econom ias regionais:
■ capitais mercantis
Esrçjeriores de capitais No plano político, inexistiam frações nacionais da classe dominante, que
ip eio “desenvolvimento representassem os principais setores da economia; tais frações eram regionais
acias e as comple- e, não raro, representavam múltiplos interesses, às vezes conflitantes entre si.
No plano econômico, o quadro não era distinto. Salvo as pequenas “linhas”de
integração preexistentes entre algumas regiões do país, este era mais uma
í foram consolidan -
“soma” de regiões econômicas distintas (Cano, 1981, p. 176).
. enquanto os capitais
Restritos mercados loca-
Se, por um lado, os capitais mercantis regionais não tinham força para
taczpliada se processou
em preender um processo vigoroso de diversificação de atividades e
-?- 395)nos diz que a
avançar na órbita produtiva, por outro, com o sempre, na história nacio
isto é, nas exigências
nal, as “oligarquias regionais contrabalançaram a sua decadência econô
(á cs cerca d o s, m odifica
m ica cíclica’ com um m aior peso político relativo junto ao governo
rroximar e adaptar
central” (Tavares, 1999, p. 456). Os capitais mercantis hegem ônicos na
às formação do mercado
periferia não se dispuseram a empreender sua m etam orfose em capital
nirricação e de transporte”
117
TE R R ITÓ R IO E D ESEN VOLVIM EN TO
22 Conforme Tavares (1999, p. 453), esses capitais preservam seu “caráter rentista e patrimonialista 24 “A dilatação da 1
que a expansão mercantil agrária e mais tarde urbano-industrial mantém como característica renda e do poder, 1 t
fundamental da nossa burguesia nacional” mas também de p o»
23 Cano (1997, p. 248) assevera que “o empresariado industrial da época tinha muito mais um nialismo, submissão:
caráter econômico mercantil do que industrial propriamente dito. Com o passar dos anos, 25 Segundo Ignacio I
a indústria leve amadureceu e a introdução de ramos mais complexos implicava aumento e instituições que t
diversificação de interesses especificamente industriais que, cada vez mais, colidiam com o teria que importare
caráter liberal do comércio em geral”. com medidas (
118
A S H E TE R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS
de alta lucra- A busca e o abandono de terras virgens foi uma constante em nosso
>econômica será sus- processo de apropriação territorial, tendo algumas determinações espe
. cristalizando urna cíficas em diferentes momentos de nossa história. Furtado destacou o
smo local que irá caráter predatório desse m ovimento e sua funcionalidade para a repro
territoriais; de dução, sem maiores conflitos, das estruturas sociais do atraso econôm ico
>e de representação e do conservadorism o político.
A apropriação contínua de porções territoriais em (re)estruturação
>de integração do nas áreas das frentes de expansão permitia ganhos extraordinários, apesar
¡*1930-1955) engendra dos baixos rendimentos físicos da terra em seu eterno deslocamento de
e. Entretanto, o fronteira.24
ação das contra- D o m omento de “desenvolvimento para fora” para o de consolidação
>constituiu espaço da complementaridade inter-regional interna ao espaço nacional de acu
; e o rural se con- mulação, haveriam de transcorrer processos conflitivos de longa duração
¡ãm diários e agrários. e de enfrentar diversos obstáculos, a fim de romper as “barreiras à livre
. posto que ambos m ovim entação econôm ica entre as regiões” (Cano, 1981, p. 177). Seria
re de apropriação necessário avançar e modernizar estruturas viárias, sistemas de comercia
lização, suspender impostos interestaduais etc. Tudo isso foi possibilitado
► dos diversos capitais por ampla e sistemática ação estatal de alcance nacional.25
1afirma: É preciso relembrar os entraves que o legado histórico perverso (es
trutura concentrada de propriedade e de renda, débeis relações capita
ipacs. aumentar as despe-
listas de produção etc.) colocava às suas diversas regiões, sobretudo às
i, o que nem sempre
periféricas, impedindo a formação “mais natural” de espaços de produção
utilizados ofereciam
manufatureira “regionalizados”. Por isso, o país tinha pouco mais do que
► jvetuzo com o desgaste
alguns eixos, “ilhas” ou “linhas” de integração. Mesmo a necessária gene
auto sobravam terras
ralização dos intercâmbios entre espaços regionais, com circulação mais
tdb ’ regócio” [...] ir suces-
. u e tipo extensivo de ampliada de mercadorias, próprias desse momento de articulação comer
t¿ser vista à perpetuação cial, isto é, sem mudanças mais profundas nas bases produtivas e nos
processos de produção desses espaços, encontrou inúmeros empecilhos
estruturais.
119
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO
i im a g in a r desconcen- como as margens de lucro na periferia tendem a ser baixas, suas empresas não
, de tal forma a am- renovam equipamentos e instalações, com o que perdem competitividade e
: ocorreu na economia baixam ainda mais aquelas margens. Em decorrência, os capitais “sobrantes”
i de imigrantes em podem mudar para compartimentos mais modernos — quando têm “fôlego”
; o contrário: não se fez suficiente, dentro da própria região, ou se dirigem para fora, em busca da es
: bloqueado, mesmo peculação ou de aplicações imobiliárias (Cano, 1981, p. 186).
(expressivos de mão-de-
nte concentrado da A análise da dimensão espacial do capitalismo no Brasil deve avançar
: de população em no estudo das específicas condições de operação das economias periféricas,
i industrial. Em função
com distintas capacidades de diferenciar suas bases produtivas, sujeitas aos
ra algumas áreas e o
ditames das formas de capital que estivessem operando em escala supra-
lente, aos circuitos
regional, a partir da econom ia paulista. M uito ainda deve ser pesquisado
lem ais pobres do país;
para se realizar um balanço histórico, em cada unidade da federação, dos
ia (Negri, 1994,
efeitos de estímulo, inibição/bloqueio e destruição sobre suas respectivas
estruturas produtivas, ao longo do período 1930-1970.
Apesar do papel estabilizador (Furtado, 1959) que o “crescim ento
1envolvia acirrar a
voltado para dentro” possibilita, com a relativa internalização do ciclo
¡ só podiam insta-
econôm ico no espaço nacional, a im posição de coerência ao mercado
¡ materiais não muito
interno nacional não ocorria sem tensões. M algrado o novo arco de
ente não na esfera
alianças, as novas formas de regulação econôm ica e os compromissos
ios mais ao ámbito
sociais articulados, as frações dos capitais e as forças políticas eram
NÉr processo de produção.
extremamente desiguais, dando form a e conteúdo a uma ação estatal
ido a acumulação
extremamente contraditória e abrangente, que se beneficia do tamanho
; sociais de produção
: a ão representava um do território e da já complexa econom ia, a fim de sancionar a “fuga para
frente”, inclusive em sua expressão territorial.
í produtiva adicional,
O reiterado crescimento hacia adentro era paradoxal, no sentido de
que era “fácil” (facultado “espontaneamente” pelo tamanho dos mercados)
tis inter-regionais,
e bloqueado, complexo e contraditório, ao mesmo tempo. Por um lado,
da, representava
integrativo gera
a expansão das fronteiras econômicas, periodicamente fechadas e reabertas,
t p s z r efeitos de estímulo,
pelos negócios da produção e exportação do agribusiness e da exploração de
Cano, 1981). Embora
recursos naturais, mantém-se ao longo de toda a história econômica brasileira.
25 bases econômicas
Assim, a ocupação capitalista de várias regiões do país amplia a dimensão
de “círculo vicioso”
“nacional” da acumulação de capital (Tavares, 1999, p. 456).
2. dadas as condições
podendo aprisionar
Entretanto, essa ocupação se deu de form a desigual e combinada, no
rd2. pois
sentido de ter sua natureza determ inada por
121
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO "1
diferentes partes que encontram-se em graus distintos de evolução, cada urna o Oeste” do goverr_
das quais contendo profundas contradições internas. [...] O capitalismo apenas acerca da necessar^
gradualmente domina a desigualdade que herdou, torna-a evidente e a modifica uma série de o b ' e n s ¡
empregando seus próprios métodos e marchando em seus próprios caminhos. so oficial, essa quescã©3
[...] Somente a combinação destas duas tendências fundamentais, centrípeta como necessidade àei
e centrífuga, nivelação e desigualdade, ambas conseqüências da natureza do
Vargas (s.d., p. 28-1
capitalismo, nos explica o vivo entrelaçamento do processo histórico (Trotsky,
o rum o ao Oeste _ j
1930, p. 25).
nosso território e 1
com as fronteiras;
Ignácio Rangel (2000, pp. 181-84) nos ensina que
A ocupação de 3
também desse 1
ao mesmo tempo que pugnava — com o apoio das massas progressistas do
as econom ias 1
povo — pela consolidação das barreiras externas, delimitadoras do espaço
pela estreiteza e 05 i
econômico no qual se desenvolvería 0 capitalismo industrial brasileiro, a
burguesia industrial pugnava pela supressão gradual das barreiras internas, acordo com o Cens» 4
que compartimentavam o mercado nacional de fatores e de produtos [diri tinham mais de 1001
gindo suas forças política e econômica] contra o complexo de interesses os m unicípios com 1
pré-capitalistas que tendia a dividir o mercado nacional numa constelação de núcleos no país 1
mercados regionais [...]. recursos de monta 1
nadas na rede 1
Assim, “a unificação do mercado interno, ao soldar, num único mer avanço da indu
cado nacional, a constelação de mercados regionais e estaduais, ampliava Cardozo (200313
a escala dos possíveis projetos substituidores de importações”. tributário no period»!
A periferia abrirá seus mercados regionais, estabelecendo uma ex de m aior poder para 1
pressiva vinculação mercantil com o pólo. A Guanabara “m odernizou” e rios e se endividar.!
diversificou sua especialização em serviços comerciais e financeiros. Minas de coordenação,;
Gerais ampliou sua articulação com o pólo e especializou-se na oferta crédito, pela criação 3
de bens intermediários. As frentes avançadas do “capitalismo paulista”, regional, sempre»
algumas frações territoriais de Minas, Paraná, Goiás e Mato Grosso (do im posto pelo jogo 1
Sul), se ataram decididamente a São Paulo. Promoveu-se a colonização A presença atha 3
do Paraná entre 1930 e 1950. Assim, essas economias “adjacentes” a São instituições criadas]
Paulo sofreram os impactos mais imediatos do avanço da infra-estrutura
de transportes e comunicações e da força da conexão efetiva, mais direta, 26 Vargas (s.d.), ain.-b i
do intercâmbio reiterado de mercadorias. econômica do nosso i
mos fazendo a estn
Um continental hinterland — o Centro-Oeste, a região Norte e o interior marítima, mas abn
nordestino — se encontrava bastante “dessintonizado” dessa expansão. glória da geração «
o sentido dos ¡
Cabe destaque, nesse momento, às preocupações com a “Marcha para
27 Getúlio Vargas disse, t
nacionais para que 7
122
AS H E TE R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS
revolução, cada uma o Oeste” do governo Vargas,26 que posicionaram importantes questões
í O capitalismo apenas acerca da necessária incorporação daquela vasta área. Impregnada de
i evidente e a modifica uma série de objetivos económ icos e estratégicos, no ámbito do discur
t próprios caminhos, so oficial, essa questão estava posta, sobretudo durante o Estado Novo,
aentais, centrípeta como necessidade de integração nacional e de deslocamento da fronteira.
i da natureza do
Vargas (s.d., p. 284) afirmava que “o verdadeiro sentido da brasilidade é
»histórico (Trotsky,
o rum o ao Oeste [...] a fim de suprimirmos os vácuos dem ográficos do
nosso territorio e fazermos com que as fronteiras econômicas coincidam
com as fronteiras políticas”.
A ocupação de áreas distantes e a expansão interiorizada foram marcas
também desse período de articulação comercial inter-regional, embora
as progressistas do
as econom ias urbanas das diversas regiões ainda estivessem bloqueadas
iddhnitadoras do espaço
pela estreiteza e os limites do padrão de acum ulação então vigente. De
>mdustrial brasileiro, a
! das barreiras internas, acordo com o Censo de 1950, das 1.890 cidades brasileiras, apenas 11
i e de produtos [diri- tinham mais de 100 mil habitantes. Se caracterizarmos com o urbanos
4ero de interesses os m unicípios com mais de 20 mil habitantes, então teríamos apenas 96
l n n m a constelação de núcleos no país naquele momento. O em preendimento urbano requeria
recursos de monta para m elhor aparelhar as cidades mais bem posicio
nadas na rede urbana, preparando-as para os desafios que o processo de
r, num único mer- avanço da industrialização colocava para todo o país.
[ e estaduais, ampliava Cardozo (2003) discute o m ovimento de descentralização do sistema
íãB fxntações”. tributário no período 1946-1963, em que estados e m unicípios gozaram
totab elecen d o uma ex- de m aior poder para manipular alíquotas, manter orçamentos deficitá
“m odernizou” e rios e se endividar. Por outro lado, o nível federal manteve seu poder
í e financeiros. Minas de coordenação, amparado pela reestruturação do sistema de m oeda e
zou-se na oferta crédito, pela criação de bancos de fomento e políticas de desenvolvimento
“capitalismo paulista”, regional, sempre concedendo e retirando poder, num equilíbrio delicado
; e Mato Grosso (do imposto pelo jogo federativo.
-se a colonização A presença ativa do Estado, operando através do amplo conjunto de
“adjacentes” a São instituições criadas pelos governos Vargas,27 malgrado a instabilidade de
acó da infra-estrutura
‘ efetiva, mais direta, 26 Vargas (s.d.), ainda durante seu primeiro governo, afirmava: “O problema da ocupação
econômica do nosso território é um postulado da própria criação do Estado Nacional. Esta
mos fazendo a estruturação dos núcleos básicos do nosso crescimento, não apenas da faixa
ü o Norte e o interior marítima, mas abrangendo a totalidade do país. E essa obra, que há de ser o maior título de
¿o” dessa expansão. glória da geração atual, porque significa unir e entrelaçar as forças vivas da Nação, retomou
0 sentido dos paralelos e retomou o lema bandeirante da marcha para o Oeste”.
g«¡5 : a “M archa para
27 Getúlio Vargas disse, em 1938, que “a grande tarefa do momento é a mobilização dos capitais
nacionais para que tomem um caráter dinâmico na conquista das regiões atrasadas [...] ampliar
123
TE R R ITÓ R IO E D ESEN VOLVIM EN TO
suas forças políticas de sustentação e a fraqueza congênita da m onopoli- eram precarias: aps:
zação dos capitais nacionais, logrou a arbitragem sistemática das normas Tinham, naquele —>m
e do dinheiro e a articulação de decisões públicas e privadas de inversão em sua m aioria as
que promoveram avanços significativos no aparelho produtivo nacional, redes de co m u n ica
bem com o em seu suporte infra-estrutural. Nesse contexto, logrou-se serviços de telégras» e l
dar unidade e consolidar um sistema econôm ico nacional, desenhando a baixa qualidade 1
escala supra-regional coerente, contando com a consistência do vínculo O aparelho de 1
nacional unitário, determinado pela lógica do capital mercantil. de Getúlio Vargas. *
Assim , nesse período da integração do m ercado nacional, as con nacional de ação. A s 1
veniências m ais im ediatas da valorização do capital de com ércio de perdem muito de 1
mercadorias se impõem . Nesse m omento de articulação mercantil dos logrando m i
mercados, afirmam-se novos fluxos, pautas e circuitos (em intensidade Em síntese, segí
e natureza) de com ércio inter-regional que acabam pondo em xeque da natureza e da t
o anterior padrão de transporte e com unicações do país. A rede de mercado nacional 1
infra-estrutura herdada do período anterior se mostrava incompatível - do período dei
com um a econom ia que diversificava rapidamente sua produção. Era década de 1950, a in
obstáculo a um m aior intercâm bio de m ercadorias entre as diversas inter-regional, a <
economias regionais. através do comércios
articulação mere
A carência de meios de transporte que integrassem as regiões constituía cado de mercado
natural barreira à competição inter-regional. Essas maiores distâncias — prin - do período d r 1
cipalmente para as localidades mais interiorizadas — e os maiores custos de dustrialização
transporte permitiram a instalação e o funcionamento de grande número “via acumulação d ei
de indústrias servindo a mercados mais regionalizados. [...] Essa produção os determinantes d a a
periférica ficaria momentaneamente a salvo, desde que o "mercado desse para
transplante do capfcri|
todos”, ou seja, desde que a indústria sediada no pólo não estivesse funcion
(prom ovendo a i
ando com grande capacidade ociosa e que, por várias razões, não estivesse
drão de dom inação 4
ampliando fortemente sua capacidade produtiva (Cano, 1981, p. 184).
no país.
Em um contexto <
O desenvolvimento de uma infra-estrutura mais adequada, ao longo
de crescimento, 1
desse período de “ industrialização restringida”, veio trazer um novo p o
Sul, pode-se procedera
der vinculador inter-regional. Desde o final da década de 1920 vinham
interesses repres
aumentando as preocupações com as rodovias. Jardineiras e carros de
e da integração de 1
passeio crescem em seu trânsito. Apesar disso, as condições das estradas
dimensões cont
124
AS H E TE R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS
ida monopoli- eram precárias: apenas 0,5% tinham pavimentação, por exemplo, em 1942.
ica das normas Tinham, naquele momento, estado de conservação deplorável, entregues
sprivadas de inversão em sua m aioria às adm inistrações m unicipais e estaduais. Quanto às
► produtivo nacional, redes de com unicação, avançaram um pouco, em bora contando com
; contexto, logrou-se serviços de telégrafo e telefone em áreas restritas do país e dispondo de
1, desenhando a baixa qualidade técnica e operacional (Brandão, 1996).
icia do vínculo O aparelho de Estado vai ser redesenhado desde 0 primeiro governo
[mercantil, de Getúlio Vargas, com a geração de uma institucionalidade com âmbito
nacional, as con nacional de ação. As principais frações regionais da classe dominante
de com ércio de perdem muito de seu poder de vocalização de interesses, com o Estado
io mercantil dos logrando minimamente “nacionalizar” várias “questões regionais”.
; (em intensidade Em síntese, segundo W ilson Cano (1981), é fundamental a distinção
i pondo em xeque da natureza e da dinâmica diferenciadas dos processos de integração do
, d o país. A rede de mercado nacional nos dois m omentos aqui reproduzidos:
ava incompatível - do período de recuperação da “crise de 1929” à segunda metade da
: soa produção. Era década de 1950, a industrialização se encontrava restringida, e a articulação
i entre as diversas inter-regional, a conquista e o alargamento dos mercados se processaram
através do com ércio de mercadorias (integração através de uma potente
articulação mercantil entre as regiões, ou seja, “via dom inação do m er
i as regiões constituía cado de mercadorias”);
► distâncias — prin- - do período de 1956-1962 em diante, sob as determinações da in
-e os maiores custos de dustrialização pesada, a integração do mercado nacional se processou
i de grande número “via acumulação de capital”, em um contexto em que “estabeleceram-se
Essa produção os determinantes da acum ulação à escala nacional” e se procedeu ao
te ''mercado desse para transplante do capital produtivo, entre as regiões, na direção da periferia
i estivesse funcion-
(promovendo a integração produtiva), transformando totalmente o “pa
; razões, não estivesse
drão de dom inação do mercado nacional” e as relações centro-periferia
1981, p. 184).
no país.
Em um contexto de modernização conservadora e de taxas milagrosas
; adequada, ao longo
de crescimento, embora com alta concentração geográfica no Centro-
Id trazer um novo po-
Sul, pode-se proceder a uma exitosa “fuga para frente”, sancionando os
tüecada de 1920 vinham
interesses representativos do atraso estrutural, a partir do alargamento
ferdineixas e carros de
e da integração de um mercado interno complexo, típico de um país de
iz&zicões das estradas
dimensões continentais, agora sob o dom ínio do capital industrial.
125
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO
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las áreas. Com o avanço da industrialização pesada, a periferia nacional Esse abranger^ Z2
é “reinventada” para o capital do centro hegem ônico, transformando quação nas bases r r a
totalmente o “padrão de dominação do mercado nacionaT. Agora ele se consolidou a mc
processa via acumulação de capital. “O pólo conduz a forma e o ritmo da cadeias mercantis. :
acumulação” (Cano, 1981). Amplificam-se os fluxos de capital produtivo e complexos agror
as relações centro-periferia ganham novas natureza e dinâmica. Frações um mercado i
de capital, com diferentes poderes de valorização, expansão económ ico- continentais — , í
geográfica e vocalização política se disseminaram e se defrontaram em subsidiado, pela qcasei
todo o territorio nacional, orientadas, em sua maioria, pela sinalização A acelerada i
direta ou indireta da ação pública, conform ando uma econom ia urbana no-industrial inédita]
m oderna, alterando profundam ente os processos de trabalho e erigindo massas, trazendo ^
uma estrutura produtiva densa, integrada, complexa e diversificada, que de consumo e de j
se localiza em diferentes parcelas do espaço geográfico nacional. São Paulo renos
Os problemas e contradições no funcionam ento da econom ia eram pacto federativo e i
resolvidos pragmáticamente quando com eles se se defrontasse. No que e o avanço das ]
diz respeito à questão da desigualdade regional, esta ganhou espaço na Também no <
agenda pública, em um m omento em que a concentração produtiva se mática agrária a j
aprofundava: a participação relativa de São Paulo passa de 48,9%, em 1949, (1993, P -14):
para 55,6%, em 1959, na produção industrial nacional, ampliando ainda
mais a parcela da riqueza nacional reunida e absorvida pela econom ia A alta concer
da Grande São Paulo. das relações de I
O espaço continental lograva m ultiplicar oportunidades lucrativas como os foreiros,!
vida dos empregados 1
de negócios latentes, muitos altamente subsidiados pelo Estado. Desse
uma questão agram 1
modo, para avançar em tão extenso e profundo projeto de industrializa
processo de conc
ção, percorreram -se as linhas de m enor resistência, evitando-se tensões
com flexibilidade. A ampla onda expansiva se encarregava de dissolver
O novo padrão]
maiores fricções horizontais (intercapitalistas) e verticais (entre as classes
zação do Sistema!
sociais). As novas fronteiras abertas de valorização das diversas frações
da agricultura, í
do capital eram amplas, mesmo para as regiões mais atrasadas. “Assim,
ceu pressão nas 1
o capital industrial majoritariamente originado do pólo [pôde] conviver
massivos movi
‘pacificamente’ na periferia nacional com 0 capital mercantil, pois havia
A rapidez das 1
espaço’ institucionalm ente chancelado pelo Estado e suficiente para
desencadeou um
ambos” (Cano 1981, p. 247). A criação de novos ramos produtivos, a di
tropolização e 1
versificação social e geográfica do país de grande porte e a nova natureza
urbano-industrüd t
da integração produtiva do mercado nacional (com alto saldo de efeitos
processo de rede
de estímulo sobre a periferia) legitimavam as ações públicas.
leiras: “antes espaçmt
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com sua individualidade, agora, partes de um único sistema de produção progresso e mame:
situados no interior de uma hierarquia”, como bem sintetizou Guimarães pitai mercantil cczz
Neto (1989). No novo ambiente de relações à base do capital produtivo: “A lação [...] O dommji
indústria, que neste período consolida seu padrão de indústria pesada, e regional capturaría:-
o m ovim ento cíclico da economia, que em determinados momentos p o comercialização e o i .
dos ao mercado in:
tencializa as condições objetivas que são capazes de redefinir as relações
se no segmento ur
entre os diversos espaços nacionais” [...] [determinam que] [...]
comercial e em sua :
seja como o prindpáb
tal acumulação tenda a ocorrer num ritmo que pouco tem a ver com os inter
parte dos imóveis:
esses imediatos e os limites estreitos do potencial de acumulação da região
mascarado como,
que se constitui o destino das transferências de capital produtivo. Este capital,
ativos industriais oca
como relação de produção que é, traz consigo uma teia de vínculos e exigências
industrialização
que tende a se generalizar no contexto onde se dá sua reprodução ampliada
ticulações financeira* 1
(Guimarães Neto, 1989, pp. 11-18, grifo nosso).
(Cano, 1981, pp. 1 4 5 i
I3O
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¡sistema de produção progresso e mantém o atraso [...] Na maior parte da periferia nacional, o ca
tizou Guimarães pital mercantil continuou a comandar a maior fração do processo de acumu
ttmpital produtivo: “A lação [...] O domínio deste manteve-se sobre a maior parte da agricultura
:industria pesada, e regional capturando-lhe grande parte do excedente: no financiamento, na
os momentos po- comercialização e na distribuição dos produtos tradicionais, tanto os destina
rredefinir as relações dos ao mercado interno como os exportáveis. Algumas frações desdobraram-
¡ que] [...] se no segmento urbano da economia: seja na expansão da tradicional rede
comercial e em sua modernização (o supermercado, o shopping center, etc.),
seja como o principal responsável pela produção e comercialização da maior
i a ver com os inter-
parte dos imóveis residenciais construídos nas últimas décadas, seja, ainda,
: acumulação da região
mascarado como capital industrial, pelo controle da propriedade dos principais
IfKodutivo. Este capital,
ativos industriais ou agroindustriais. Esse capital mercantil, chegada a era da
i Tinados e exigências
industrialização pesada, não tinha porte quantitativo nem contava com ar
; reprodução ampliada
ticulações financeiras regionais suficientes que permitissem o “grande salto”
(Cano, 1981, pp. 245 e segs.).29
29 Nas páginas 245 a 249, Cano (1981) desvenda a natureza, a lógica de ação e as estratégias das
frações do capital, que mantém sob seu poder amplos espaços econômicos. São elites que
ali penetrasse de praticam, através de arcaicos instrumentos políticos, o mandonismo local (projetando-o à
t —ocemizando-as [...] escala nacional e sobre os aparelhos de Estado, nos três niveis de poder federativo), impedindo
o avanço social, econômico e político de suas regiões e de todo o Brasil. Esclarece que “são os
ináciurial em tais regiões, representantes do capital mercantil — e de seus aliados mais diretos, o latifúndio improdutivo e
Ecrl- aue obstaculiza o a especulação urbana — os mais arraigados inimigos da transformação e da modernização”.
131
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO
fundiárias rural e urbana. Esse m omento demonstrará o auge da capaci dos espaços de rem *
dade reprodutiva, poderiam os dizer vegetativa, do urbano interiorizado acumulação do:
e extensivo, mas também da consolidação dos espaços m etropolitanos travestidos ou não àt
complexos. Sobretudo o período de transição entre as décadas 1960-1970 urbanização levaàc í
revelará como o processo de urbanização é muito mais do que suas di espaços regionais e a
mensões demográficas, territoriais e econômicas revelam. Ele representa impossível entender 01
diferenciação social, transformações nos padrões culturais e nos hábitos de ocupação lito:
de consum o e estilos de vida, mudanças nos valores políticos e éticos, sem compreendei
criação de novos atores sociais, diversificação produtiva etc. núcleos urbanos t
A econom ia e a sociedade brasileiras sofreram transformações es sem entendermos a.:
truturais (econômicas, sociais, políticas, demográficas etc.) com a m u 1975), que freqi
dança do padrão de acum ulação desse período de coerência im posta da economia, a<
pela integração produtiva do mercado nacional. Conheceram -se taxas padrão relativ
elevadas de crescimento econôm ico, em ciclos bastante peculiares, uma Em tal ambiente,
mobilidade social e espacial bastante alta e um acelerado processo de solidaram um p:
urbanização. Nesse contexto de rápidas, extensas e profundas mudanças paradoxal, por
das ordens econômica, política e social, erigiu-se e consolidou-se uma um lado, desen
complexa sociedade urbano-industrial que, segundo Faria (1991), seria pop ulacionais em
marcada pelas especificidades de ser “pobre, de consumo, heterogênea centros regionais e
e desigual e erguida na periferia pobre do sistema capitalista, crescen e ao mesm o tempos
temente desigual”. núcleos por todo o
As grandes mutações no processo de urbanização brasileira só podem tante contraditório
ser analisadas, assim entendo, quando referidas e iluminadas pelos marcos relação cam po
estruturais da consolidação e desenvolvimento de nossa experiência tar Esse contexto de:
dia e periférica de expansão capitalista (Mello, 1975), em seu movimento um quadro de
cíclico de acumulação. A análise desse período aqui em tela exige que se “milagrosas” de
retenham os traços mais marcantes e específicos de nosso processo de nal e espacial) e por
desenvolvimento capitalista, guardadas devidamente as singularidades de manas e de grandes
nossa dimensão continental, marcada por profundas heterogeneidades (Pacheco, 1992). Fnr
estruturais (produtivas, sociais e regionais) (Pinto, 1976; Tavares, 1981). O ficaram os traços de
processo de urbanização só pode ser investigado no quadro das (pesadas) estruturas de do:
heranças regionais e urbanas de enormes disparidades das experiências
concretas das diversas áreas do país-continente; no quadro da não-resolução
permitiria ilu m in a r j
da questão agrária30 e no quadro da preservação/ampliação/renovação urbanos etc.
31 Nesse sentido, não t
30 Entendo que um tema extremamente relevante, porém ainda não pesquisado, para a discussão O nosso índice n a i.»
das especificidades da urbanização brasileira é o caráter de não-exacerbação da contradição consolidação de i
campo-cidade no país, inerente ao processo de desenvolvimento capitalista. Essa discussão um padrão lognonm di
132
A S H E TE R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS
Lo auge da cap a d dos espaços de reprodução econôm icos e políticos e dos horizontes de
lo interiorizado acum ulação dos capitais mercantis (periféricos ou não, mais ou menos
; m etropolitanos travestidos ou não de m odernos). Torna-se evidente, no processo de
(décadas 1960-1970 urbanização levado a cabo no Brasil, o “peso da historia” nos diversos
; do que suas di- espaços regionais e nas diferentes conjunturas históricas. Assim , seria
1. Ele representa impossível entender o sistema urbano brasileiro sem o resgate do processo
; e nos hábitos de ocupação litorânea, que implantou grandes cidades por toda a costa;
. políticos e éticos, sem compreender as peculiaridades de nosso padrão de urbanização com
tete. núcleos urbanos (conformando um sistema dispersivo e difuso de cidade);
1transformações es- sem entendermos a instalação dos diversos “complexos regionais” (Cano,
; etc.) com a mu- 1975). que freqüentemente deslocava o “eixo dinâm ico” (Furtado, 1959)
: coerência imposta da economia, acabando por cristalizar no espaço geográfico nacional um
LGonheceram-se taxas padrão relativamente descentralizado do sistema urbano.
: peculiares, urna Em tal ambiente, os processos dinâm icos até aqui levantados con
(acelerado processo de solidaram um processo de urbanização que poderia ser cham ado de
idas mudanças paradoxal, por apresentar urna dupla característica (Faria, 1991) :31 de
te consolidou-se urna um lado, desenvolvem os urna grande concentração de contingentes
>Faria (1991), seria pop ulacionais em algum as poucas e grandes m etrópoles (e alguns
10, heterogénea centros regionais e sub-regionais de decisiva im portância); por outro,
1capitalista, crescen- e ao m esm o tem po, expandim os urna grande quantidade de pequenos
núcleos por todo o territorio nacional, conform ando um quadro bas
► brasileira só podem tante contraditório e dinâm ico de divisão territorial do trabalho e de
; pelos marcos relação cam po-cidade.
i experiência tar- Esse contexto de rápidas e profundas transformações se processa em
„em seu movimento um quadro de contramarchas: por um lado, a convivência com taxas
le m te la exige que se “milagrosas” de crescimento, mobilidade estrutural (social, intergeracio-
: nosso processo de nal e espacial) e por urna lógica “ incorporativa” de grandes massas h u
:as singularidades de manas e de grandes porções do territorio nacional, bastante potente
¡ heterogeneidades (Pacheco, 1992). Por outro, preservaram-se, recriaram-se e até se ampli
U976; Tavares, 1981). O ficaram os traços de atraso estrutural, exclusão social e de afirmação de
► acadro das (pesadas) estruturas de dominação arcaicas (de renda, da propriedade, de domina-
; das experiências
ro da não-resolução
permitiria iluminar, pensamos, questões como a débil delimitação entre interesses rurais e
1 inplíação/renovação urbanos etc.
31 Nesse sentido, não tivemos o padrão primate city que vários estudiosos urbanos nos imputavam.
; i«sr^L5¿áo, para a discussão O nosso índice rank size de primazia urbana não se mostrou muito elevado, demonstrando a
ai.vrbação da contradição consolidação de um sistema de cidades razoavelmente equilibrado, mais bem retratado por
ciztialísta. Essa discussão um padrão lognormal de distribuição.
133
TERRITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO
ção política, de acesso ao Estado etc.) (Cano, 1981). M as, sobretudo, Chegamos, assr:
m anteve-se sem resolução a dramática questão agrária. sociedade urbanc--
Sem sedimentação na terra e na propriedade e sem direitos sociais, tura social e base
parcela expressiva da população m igrou, expulsa da terra e/ou em busca diversificaram, ■
de novas oportunidades.32 Deslocaram -se para as cidades 8 milhões de o que verem os.
pessoas na década de 1950,14 milhões na de 1960 e 17 milhões na de 1970. porções periféricas e
Algum as trajetórias geográficas desses m ovimentos poderíam ser des
tacadas: desde os anos 50, as saídas do N orte do Paraná, na direção de
Goiás e Mato Grosso do Sul; a partir dos 60, para o Norte de Mato G ros 3.6 O P R O C E S S O DE
so, para Rondônia, Am azonas, Sul do Pará, Sul do M aranhão etc. Várias 1985): N A BUSCA
políticas, desde o prim eiro ano do regime m ilitar de 1964, promoveram P E R IF E R IA É
M as, sobretudo, Chegamos, assim, no início dos anos 70, com a consolidação de uma
sociedade urbano-industrial de massas, com interesses difusos e estru
i direitos sociais, tura social e base material complexas. As bases de operação do capital se
•erra e/ou em busca diversificaram, não 0 núcleo orgânico de comando de sua acumulação. E
8 m ilhões de o que veremos a seguir, quando discuto a natureza do acionamento das
Milhões na de 1970. porções periféricas e da relação centro-periferia no período 1970-1985.
poderíam ser des-
, na direção de
te de Mato Gros- 3.6 O P R O C E S S O D E D E S C O N C E N T R A Ç Ã O IN D U S T R IA L R E G IO N A L (197O-
M aranhão etc. Várias 1985): N A B U S C A P O R N O V O S H O R IZ O N T E S D E A C U M U L A Ç Ã O , A
1964, promoveram P E R IF E R IA É A C IO N A D A E SE T O R N A M A IS C O M P L E X A E U R B A N IZ A D A
e retenção popula-
; frentes de ex- C om o é sabido, o processo histórico de desenvolvim ento econôm ico
brasileiro foi caracterizado no período que vai da década de 1930 até apro
políticas públicas ximadamente 1970 por intenso processo de concentração econôm ica na
que ficavam à região Sudeste, principalmente em São Paulo.33 O ano de 1970 apresentou
no mercado de o auge da concentração industrial. O Sudeste, naquele ano, respondia por
"explosiva” porque 81% da produção industrial do país, sendo que São Paulo detinha 58% do
de “50 anos de total nacional. Outro dado ilustra a situação de região mais dinâmica do
amortecedores país concentradora não apenas da produção industrial, mas também da
o, conheceu-se agrícola e terciária: em 1970, o Sudeste contribuía com dois terços do PIB
n ob ilid ad e social e brasileiro, sendo que São Paulo contribuía com 40% (Cano, 1981).
as fronteiras agríco- Durante a década de 1970, esse quadro de grande concentração in
Nesse contexto, dustrial com eçou a mudar, afirmando-se o processo de desconcentração
1960), M aranhão econôm ica para o interior de São Paulo e para as dem ais regiões do
pais (1970-1990) são país. Ocorreu a perda de im portância da Região Metropolitana de São
: advindas do não- Paulo, e a “interiorização da indústria paulista” foi bastante expressiva.
¿jontas com o atraso A participação da Grande São Paulo no V T I (Valor de Transformação
pela preservação Industrial) estadual caiu de 74,7% para 56,6% no período 1970-1985, e
também no urbano) o interior aumentou a sua participação no V T I nacional de 14,6% para
privilegiados para 22,5% entre 1975 e 1985.34Essa desconcentração para o interior do estado,
33 Cabe ressaltar que “este processo de concentração reforçou as antigas reivindicações por
maior equidade regional e federativa, as quais foram mais bem organizadas e institucionali
i d o da mobilidade ter- zadas a partir do final da década de 50, do que resultaria, na década seguinte, a implantação
r s s h as nos sistemas de permanente de políticas de desenvolvimento regional” (Cano, 1981, p. 306).
e o esforço explícito 34 É bom lembrar aqui o alerta de Cano (1998b, p. 316) de que “a crise dos anos 80 parece ter
afetado mais a economia de São Paulo, aumentando a desconcentração muito mais pelas
135
T E R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO
embora se tenha dado de forma mais ou menos generalizada no territorio A ação estala.. ¿
paulista, acabou privilegiando principalm ente as regiões de Campinas, cendo in fra -e s trin
São José dos Cam pos, Ribeirão Preto, Sorocaba e Santos. estatais e, antes
Várias pesquisas do N esur -IE -U n icam p (Cano, 1988 e 1992), desde PND, voltado para í ¡
a década de 1980, analisaram em detalhes as diversas dimensões e diná de capital, que
micas que favoreceram esse processo de desenvolvimento interiorizado:
a expansão agropecuária moderna com intensificação de vínculos mercan tendeu a privilegiar
tis e produtivos com os complexos agroindustriais de processamento ou portáveis — com
com escalas adequa
industrialização de cana-de-açúcar, soja, café, laranja, carne etc.; os im
mineração, papd e .
pactos da política governam ental do Proálcool, a partir de 1975, com
Este movimento:
fortes efeitos indutores na produção agrícola e nos efeitos para trás das
Oeste (agribusitiess.
relações com a indústria setorial de bens de capital; as políticas estaduais
(Pacheco, 1998, pp_-
de descentralização e as ações locais para a disputa de investimentos
industriais em seus distritos; a expansão e diversificação produtiva em
Em suma, a s .
vários setores, tais com o quím ico e m etal-m ecânico, têxtil, produtos
rência à reprodução 1
elétricos e de comunicações, aeronáutico, eletrônicos etc.; a implantação
dos efeitos de t
de vários centros de pesquisas; o avanço de sua econom ia urbana,
políticas regionais t
capaz de garantir os suportes, as conexões intersetoriais e outras com
setor público; a i
plexas interdependências que o padrão de produção m ais m oderno
negativas da a lta .
exige; o porte e a densidade de seus mercados consum idor e de trabalho;
Metropolitana de S3ol
externalidades positivas diversas proporcionadas pelo adensamento de
funda nas estrutnn
seu sistema de cidades etc. Esses e outros fatores determinaram que a
deslocamento da 1
participação relativa do interior paulista no total da produção industrial
a expansão d o s;
nacional saltasse de 14,7% para 19,8% entre 1970 e 1980.
rios e agroindu
Enquanto a área metropolitana de São Paulo passava a aumentar as
produtivas regionais 1
chamadas deseconomias de aglomeração, apresentando grande elevação do
com suas “espe
preço dos aluguéis, das terras, dos salários relativos e também da pressão
desconcentração i
sindical, outras áreas, além do interior paulista, começaram a se tornar
Nesse processo,*]
mais atrativas (Azzoni, 1986), induzidas e acicatadas por investimentos,
nacional, ampliando]
incentivos e coordenação estatais. Conheceu-se também no período o
(densifica-se a
alargamento da fronteira agrícola e mineral, possibilitando o crescimento
avança em algumas í
das regiões mais bem dotadas para receber essas atividades (Diniz, 1993).
de produtos sen
Cabe destaque para a ocupação das porções a Oeste e Norte do país.
e para fora.
A s diversas ]
dutivas regionais, !
quedas mais altas da produção paulista do que por ‘maiores altas’ na produção periférica, população e <
constituindo, talvez, uma desconcentração mais de caráter ‘estatístico’”.
136
AS H ETE R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS
137
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO
138
AS H E TE R O G E N E ID A D E S E ST R U T U R A IS
139
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO
que evidenciam a natureza marcantemente de capital mercantil desse setor, Segundo C ano -1992.
em que os horizontes de sua valorização e as formas da concorrência são urbanização, antes
condicionadas por sua capacidade de influência política (nos três níveis níveis da verdadeira ‘a
de governo, no legislativo e no judiciário) e de suas relações de poder e Conform e se pode*
“grau de intimidade” com o aparelho de Estado. população urbana 1*
O período autoritário e de tratamento tecnocrático da questão nacio a.a., entre 1950-1960.]
nal, em geral, e das questões urbanas e regionais, em particular, serviu 4,44% a.a., entre 15
apenas para agravar tal quadro já caótico e para soldar os interesses
mercantis mais arcaicos em torno da expansão urbana; tal esquema ex
pansivo urbano representará papel decisivo no “pacto de compromisso”
das oligarquias regionais. ano
140
A S H E T E R O G E N E ID A D E S E ST R U T U R A IS
atil desse setor, Segundo C ano (1992), esses fatores determ inaram que o processo de
i concorrência são urbanização, antes “suportável” (no período 1930-1960), chegasse aos
i (nos três níveis níveis da verdadeira “arrebentação urbana”.
uriações de poder e Conform e se pode observar na tabela abaixo, a taxa de crescimento da
população urbana passou de 3,8% a.a., no período 1940-1950, para 5,32%
► da questão nacio- a.a„ entre 1950-1960, para 5,15% a.a., no período 1960-1970, e chegou a
l particular, serviu 4,44% a.a., entre 1970-1980.
t soldar os interesses
; tal esquema ex- População total, urbana e rural
► de compromisso” Brasil (1940-1991)
141
TERRITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO
36 “A ocupação do solo obedece a uma estrutura informal de poder: a lei de mercado precede a 37 Colocando, “na ordemá
lei/norma jurídica. Esta é aplicada de forma arbitrária. A ilegalidade é tolerada porque é válvu dos processos de i
la de escape para um mercado fundiário altamente especulativo” (Maricato, 2001, p. 83). na década de 1960,1
142
A S H E TE R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS
ica dos espaços um certo padrão de divisão interurbana do trabalho vem ocorrendo no Brasil,
t laces (imobiliário, levando a uma diferenciação funcional das cidades no interior do sistema
i foram responsáveis urbano. Esse padrão de divisão interurbana do trabalho reflete, fundamental
te pela periferização mente, em estruturas ocupacionais marcadamente diferentes entre as várias
cidades brasileiras, nem sempre relacionadas ao tamanho da cidade e sim à
' pelo espaço ur-
posição e função das diversas cidades no sistema urbano.
i a “segregação
»e bem -dotados de
Nesse contexto, os estudos da rede urbana brasileira se apresentam
¡ ou menos gene-
com o importante escala espacial e prism a analítico a se explorar melhor.
anados pelas altas
É fundamental, nessas investigações, avançar no entendimento do grau
► período 1970-1980;
de aderência e articulação dos “subsistemas regionais de cidades” com a
(4,10%); Sudeste
estrutura produtiva de cada região.
A expansão extensiva e intensiva da fronteira agrícola e m ineral se
► metropolitana vão co-
acelerou e, ao lado de outros fatores desconcentradores, determinou, ao
“beneficiadas” pela
longo do período 1970-1985, a montagem de vários sistemas localizados
í com crescentes níveis
de produção e beneficiamento de commodities e a estruturação de espaços
í e disseminaram-se,
urbano-regionais de certo porte. Alguns elos importantes das cadeias
,.onefitos e contradições
produtivas e subsistemas regionais de produção processadores de bens
cassas, em um a “na-
exportáveis, com razoável grau de maturidade técnica, também se expan
jcada e inconclusa)
diram nas porções periféricas da continental economia brasileira. Foram
ie mercado precede a 37 Colocando,“na ordem do dia”, como marco fundamental para a investigação das especificidades
; : C.erada porque é válvu- dos processos de urbanização latino-americano e brasileiro, o retorno às questões colocadas,
■ Mein1-: -lt_cara 2001, p. 83). na década de 1960, por Quijano (1968); Nun (1969) e Cardoso (1971).
143
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO
criados ou reforçados esparsos pontos com alguma capacitação, embora, Em geral, tai5 :
geralmente, com fraca articulação e complementaridade entre si. parados por um¿
Parte do debate sobre a questão regional brasileira no período acabou crediticios, pelos í«
orientado por form ulações ortodoxas, com o o debate sobre reversão da tório nacional, .
polarização, e se ateve à discussão da distribuição geográfica dos pesos na logística de <
relativos dos PIBs regionais ou de distribuição regional da renda e do regionais foram re
emprego. Penso que, muito mais do que discutir localização de plantas internacional,
industriais, atividades terciárias e inversões agropecuárias, importa estar herdado do antigo :
atento à natureza da sofisticação da divisão social do trabalho, em seu A s indústrias <ãe 1
corte inter-regional, buscando decifrar suas manifestações regionalizadas, produtores de cc
sobretudo nas economias urbanas complexas, centrais ou periféricas, e as rios, siderurgia ¡..
diferentes frações sociais e coalizões políticas regionais que se beneficia matéria-prima, c
ram das transformações processadas em seu território e da diferenciada semi-enclavadas •
sensibilidade local à crise e às políticas econômicas. e Espírito Santo 1-
No decênio entre meados das décadas de 1970 e 1980, acelera-se a perda Na agroindústriauí
de poder orgânico e sistêmico do Estado brasileiro. Este perde poder de o Centro-Oeste, ¡
coordenar, de orientar e prom over frentes de expansão periféricas ou complexos de grãOM
mesmo “dentro do núcleo central”. Nesse sentido, ao final da década de O crescimento da ¡
1970, vai-se erodindo paulatinamente uma das principais características em novos sistemas i
que marcaram a integração nacional e a construção do urbano moderno regiões brasileiras i
em todo o território nacional: o processo das decisões de inversão era tudo os infra-e
amparado por ampla capacidade de coordenação das decisões públicas agropecuária coi
e privadas. os capitais mercantis
C om a perda de capacidade orgânica e sistêmica do Estado brasileiro, processo de
grande parte do acionamento da periferia se deu seguindo os cam inhos A década de r
de m enor resistência, convergindo para o processamento e/ou indus da diversidade
trialização de commodities minerais, minerometalúrgicas, siderúrgicas, nossa herança r<
agrícolas e agroindustriais. Sua com petitividade esteve ancorada em mente comple:
econom ias de escala e em energia, m ão-de-obra e recursos naturais ba sob amparo do Estadk
ratos, ou seja, em vantagens competitivas espúrias, altamente favorecidas N um país com o a
e amparadas por incentivos fiscais e apoiadas em políticas de atração de dim ensão territorial
investim entos a qualquer custo, m uitas vezes com débeis requisitos inter-regional, a
de integração intersetorial. verdadeiro vácuo
O m aior espraiamento de alguns ram os wage goods se encontrou regional e urbano, aOeBi
constrangido pelo padrão de alta concentração na distribuição de renda
do país e na estreiteza dos mercados internos periféricos, exceção para 38 Segundo Diniz ¡aocs. ] sj9ÉI
(grãos e pecuária de
suas áreas metropolitanas e algumas cidades de porte médio. laranja, horti cultera.
A S H E TE R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS
145
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO
4 .1 IN T R O D U Ç Ã O
146
e social se agravou. C a p ít u l o 4
de”, estancan-
' Ao mesmo tempo, Transformações no “padrão de sociabilidade” do Brasil,
i, encerrando o crise estrutural do Estado e a natureza do impasse na
veremos no pró-
construção da nação: algumas especulações (1985-2003)
t
i
4.1 INTRODUÇÃO
147
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO t r a n í? :;
1 Essas contribuições vão desde os artigos de Belluzzo na revista S e n h o r , no início dos anos 8o,
até o recente trabalho de Mello e Nováis (1998). Constata-se que “havia um valor universal 4.2 D E T E R M IN A Ç Õ E S
que era comum a todos, a construção da Nação e da Civilização Brasileira, que supunham a T R A N SF O R M A D
industrialização e a modernização da sociedade” (Mello, 1992, p. 64).
2 “O nacionalismo, como ideologia do consenso nacional, e o populismo, como prática política
do pseudodistributivismo, eram os alicerces dessa construção, ao mesmo tempo em que Existe hoje vasta e
encobriam o divórcio estabelecido entre a idéia de nação e a de cidadania” (Martins, 1993). O mudanças estruturais
professor Carlos Lessa vem-nos oferecendo nos últimos anos reflexões interessantes sobre
a auto-estima brasileira. Lessa (1998) apresenta dois ótimos exemplos de que éramos por
tadores de uma “vontade nacional poderosa” que mobilizava a nação: a luta pelo petróleo e 3 Mello resgatou essa
a construção de Brasília, que estava fundada em “uma concepção mágica de nacionalidade, 4 Entre tantos bons
fundada no território” [e em suas riquezas latentes, no caso do petróleo]. Chesnais (1994).
I48
T R A N SF O R M A Ç Õ E S N O “ PA D R Ã O D E S O C IA B IL ID A D E ” D O BR A SIL
ide dos atores, e ganham novas formas e canais de expressão. O poder de resistência e os
r-se acerca da novos recursos dos contendores consagram o poder do lobby de vetar
propostas alheias com o estratégia dos vários atores, desaguando no
i econom ia capita- impasse e no barbarismo sem direção. A serialidade dos diversos proje
: de massas, com tos individuais — impossível de qualquer totalização em um locus pu-
por dinam ism o, blicizado — , a fragmentação da realidade e o estilhaçamento das esferas
► de anom ia social, da vida se aceleram sem peias, carentes de valores universais que reali
te período neoli- zem uma soldagem m ínim a legitimadora de um sentido e uma direção
■ econôm ico, para a “civilização brasileira”, obstruindo qualquer ação no sentido de
ia u is veloz máquina articular consensualmente maiorias em torno de qualquer “projeto na
l estrutura social e, cional”.
t social do planeta, É nesse quadro de decom posição, num a espécie de contram ão da
i s d o fundamentais nossa história pregressa de “procissão de milagres”3 — em que nossa
das mudanças no reprodução social foi “sendo tocada” em um ambiente de dinam ism o
omento d a“contra- econôm ico — , que as grandes questões nacionais devem ser enfrenta
t das duas últimas das agora, numa espécie de processamento de todo o passado, que se
tem conseguido condensa na conjuntura.
roprivativism o dos O Estado desempenhou papel decisivo durante o longo processo de
(coletiva. O espaço construção da nação. Nas décadas de 1980 e 1990, acirrou-se uma crise
ente hobbesiana m últipla, em várias dimensões: econôm ica (sem crescim ento), social
ío federalismo e (esgarçamento e sem direção de propósitos coletivos) e política (sem
de uma parcela soberania). Consolida-se a total desarticulação do Estado, im potente
l~Recentemente, para organizar, coordenar e regular ações construtivas e romper a inércia,
¡ desem penhado pelo aprisionado na armadilha financeira.
Analisaremos a seguir o ambiente mais geral, internacional e interno,
as bases da esfera que determinou 0 esgotamento do padrão de acumulação e de desen
i, se amplificam volvimento.
149
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO T R A X S r -- - . '!'w
as diversas dimensões desse processo: “regime de acum ulação” finan- Não obstante a i
ceirizado, “reestruturação produtiva” e organizacional, precarização das na segunda metade
relações de trabalho, exclusão social, regional5 etc. constitutivos de ave-sãc ;
Torna-se necessário apenas lembrar que algumas determinações inter produtiva. As reforma* 9
nacionais6 impuseram, a partir dos choques do petróleo e dos juros dos doras, conduzindo i
últimos meses do ano de 1979 e da retomada da hegem onia americana, do sistema financeiro 3
pesado ônus sobre a economia e sociedade brasileiras, quebrando aquela O maciço inflirre *
trajetória de crescimento que analisamos no capítulo anterior e rebatendo strategy revela a (e e 3
diretamente na capacidade do Estado de realizar o seu papel histórico, do sistema financeiro 1
que vinha desempenhando, sobretudo a partir dos anos 30. captação, mobilizaçãou
É como se retornássemos à “realidade dos fatos” de nossas vulnerabi prazos, nas condições ca
lidades estruturais. Revelaram-se os bloqueios determinados por nossa rebatendo no Estado.
experiência de montagem da máquina capitalista sem seus três principais Por não se er
motores que impulsionam as forças produtivas de uma economia nacional: requerida, o governo 3
0 aparelho financeiro (supridor de crédito de longo prazo, estruturador de a recorrer ao mercado i
um padrão de financiamento virtuoso), o aparelho fiscal (não-regressivo financeiros externo* 1
e com carga impositiva adequada e mecanismos antievasão de tributos) e financeiro locaL.
0 aparelho de aprendizagem científica e tecnológica (gerador, absorvedor de recursos no <
e adaptador de inovações). financiamento dor
Cabe aqui relembrar que o exame dos m ecanism os centrais de fi O aríete era a <
nanciam ento dos setores públicos e privados vigentes é revelador da recursos oriundos d o i
natureza de nosso padrão de financiamento: de nosso frágil esquema considerados <
de provisão de crédito, assentado em um non sistem, vale dizer, no diversos projetos j
pragmatismo de soluções via engates recorrentes nos fluxos financeiros Assim, a estatização <
externos, espelhando o caráter atrofiado e, em certo sentido, ad hoc de A partir da crise da<
nossa forma de financiamento. de financiamento <
trajetória histórica de*
5 Mais à frente, analiso os desdobramentos da “nova partilha dos lugares eleitos” que esse “novo de recursos ao <
imperialismo” impõe.
ao crescimento p orj
6 É bom frisar com Carneiro (2002, p. 28) que “são as conjunturas históricas específicas que
determinam a hierarquia dos fatores externos e internos como elementos de obstáculo ou vim ento da m oeda i
estímulo ao crescimento”. Esse jogo complexo de determinações endógenas e exógenas se “atrofia da base pr
torna exacerbado, posto que “a economia brasileira não pode ser caracterizada como integral
mente reflexa ou dependente e tampouco como inteiramente autônoma. A dependência e a estruturais aos raios*
autonomia, e mais ainda os seus graus, se alternam ao longo dos vários momentos históricos, econôm ica nacionaLt
atuando como fator limitante ou estimulante do crescimento. Em resumo, nossa economia é
suficientemente grande e complexa para retirar parte de seu dinamismo de fatores puramente
o esgotamento do j
endógenos, sobretudo da dimensão do seu mercado interno e da correspondente complexidade articuladores do ¡
das relações econômicas. Ao mesmo tempo, não se constitui como uma unidade capaz de
Toda essa cor
engendrar ciclos próprios de inovação tecnológica, tampouco constrói uma base financeira
doméstica capaz de financiar adequadamente o investimento”. o exercício de p o l
I5O
T R A N S F O R M A Ç Õ E S N O “ P A D R Ã O D E S O C IA B IL ID A D E ” DO B R A SIL
151
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO 5
TRAN .- : .- .. I
O Estado abrigou e absorveu compromissos e incapacitou-se para finan- cum pridor de suü
ciá-los (Cruz, 1994). e esterilizador CCi iSü
A divida pública foi rolada em grande parte “pelo setor privado através da frugalidade : se '
de suas aplicações em títulos públicos indexados. Desde os anos 1980, e se ajustou; agora. ^
as grandes empresas privadas, com a reestruturação de suas posições de seu patrim ônio
ativas e passivas, realizada ao longo da década e apesar da brutal onda de atividades e funções*.
fusões, aquisições etc., promoveram um ajuste defensivo e se tornaram aberta, moderna e .
mais “leves” e “flexíveis” para responder conjunturalmente aos sinais do Mas a real historia*
curtíssim o prazo e, buscando assegurar a defesa de sua rentabilidade, brasileiro é a de um 3
escapando de ampliar a capacidade produtiva instalada, preservaram desenvolvimento«
uma extraordinária liquidez, não se comprometendo com imobilizações cias, na crise que se ]
significativas, não contratando crédito e, portanto, avessas à geração de papel de m obilizadar*
riqueza nova, convertidas em rentistas, ancoradas que estão na mera tudo, socializadordef
preservação patrimonial. m ica e investidor <
arcou com todo o <
O paradoxo da situação é que o Estado acumulou um crescente estoque de “década perdida” I
dívida para cumprir com o serviço da dívida externa e para socializar o ônus
tornando-se refém <
do ajuste do setor privado, enquanto este último, por sua vez, passou a financiar
sistêmica, regulador* e t
o Estado via operações de mercado aberto. Esse circuito passou a representar
O u seja, os
o mecanismo de manutenção do valor da riqueza privada acumulada e que
setor público devem 1
deixou de ser canalizada para investimentos produtivos (Baer, 1993, p. 40).
crítica das condições 1
não podem fica r;
Sem disponibilidade de m ecanismos adequados de financiamento,
Contraditória
tendo que operar em um horizonte temporal mais largo, para ampliar
as empresas estatais 1
a capacidade produtiva em setores-chave e constrangido a sancionar o
curto prazo e postas 1
enriquecimento de uma miríade de setores abrigados em seu seio, o Esta
turáis, geradoras de <
do brasileiro aprofunda sua crise estrutural de financiamento do Estado.
mentos e, segundo®*
M esmo nesse contexto crítico, foi obrigado a absorver o ônus do ajuste
plem entação de
do setor privado, que acabou suportado pelo setor público.
manifesta no hiato d e i
O governo oferta um amplo espectro de linhas seletivas de crédito e
dexação de preços e 1
expande os subsídios e outros favores, procurando dar guarida à pulve
Também não puderamI
rização de interesses imperantes. Refletindo o m alogro na m onopoliza-
Desse modo, o 1
ção de seu capital, o país se enredou na cilada do sobreendividamento
m indo o papel de ]
baseado em juros flutuantes.
por aniquilar sua t
H á m ais de duas décadas estam os viven do m om ento de enorm e
Desde o início d a 4
hostilidade em relação ao Estado. Grassa o discurso da ineficiência do
seus portfolios com 1
Estado paquidérmico — sustentado pelo sóbrio e modesto contribuinte,
da estrangeira e 1
152
T R A N SF O R M A Ç Õ E S N O “ PA D R Ã O DE S O C IA B IL ID A D E ” D O B R A SIL
tou-se para finan- cum pridor de suas obrigações com o fisco — e do setor público, sugador
e esterilizador dos esforços do “mundo privado” (reino da eficiência e
»setor privado através da frugalidade) que se “sacrificou e se purgou” com a crise dos anos 80
. Desde os anos 1980, e se ajustou; agora, proclama-se que o Estado faça sua parte e abra mão
>de suas posições de seu patrim ônio público, para concentrar-se em suas “verdadeiras
rda brutal onda de atividades e funções”, suprindo falhas de mercado em um a econom ia
ro e se tornaram aberta, m oderna e competitiva.
ate aos sinais do Mas a real história da desorganização fiscal-financeira do setor público
1de sua rentabilidade, brasileiro é a de um Estado bancador em últim a instância do padrão de
liaflalada, preservaram desenvolvimento capitalista no país, que levou às derradeiras conseqüên-
>com imobilizações cias, na crise que se prolonga desde o final dos anos 70, seu histórico
kavessas à geração de papel de m obilizador de recursos, transferidor de fundos e, acim a de
, que estão na m era tudo, socializador de perdas; além de agente da regulação m acroeconô
m ica e investidor direto, term inou por se tornar o mutuário final que
arcou com todo o ônus e os riscos do ajustamento do setor privado na
1 crescente estoque de “década perdida”. Colapsa totalmente sua capacidade de gasto e iniciativa,
ic paia socializar o ônus tornando-se refém do setor privado líquido e imobilizado em sua ação
itcz , passou a financiar
sistêmica, reguladora e estruturante.
>passou a representar
O u seja, os determinantes do estrangulamento fiscal-fmanceiro do
aferrada acumulada e que
setor público devem ser examinados no contexto mais amplo da situação
1 Baer, 1993, p. 40).
crítica das condições gerais de financiamento da econom ia brasileira e
não podem ficar adstritos à discussão de uma mera “crise fiscal”.
de financiamento,
Contraditoriamente e em prejuízo das tarefas que se lhes propunham,
; largo, para ampliar
as empresas estatais foram usadas com o instrum entos de política de
jdo a sancionar 0
curto prazo e postas no centro dos manejos m acroeconôm icos conjun
¡ em seu seio, o Esta-
turais, geradoras de divisas para cobrir os déficits do balanço de paga
aciamento do Estado.
mentos e, segundo 0 discurso oficial, os veículos privilegiados da com-
Kjrver o ônus do ajuste
plem entação de nossa “insuficiente poupança interna” — deficiência
■ público.
manifesta no hiato de recursos reais. As estatais são obrigadas à subin-
; seletivas de crédito e
dexação de preços e tarifas, aniquilando suas receitas operacionais.
dar guarida à pulve-
Também não puderam tomar empréstimos internamente...
HHEÚogro na m onopoliza
Desse modo, o Estado enfeixa em suas mãos os compromissos, assu
rá: sobreendividamento
m indo o papel de protetor dos riscos cambiais e de juros, o que acabará
por aniquilar sua capacidade de iniciativa.
—. rm enio de enorm e
Desde o início da década de 1980, os agentes privados recompõem
crso da ineficiência do
seus portfolios com rapidez, livrando-se das dívidas contraídas em m oe
jc í ~ : desto contribuinte,
da estrangeira e tornando-se aplicadores no circuito financeiro (o que
153
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO T R A N .v :
pode ser constatado, por exemplo, no aum ento de suas receitas não- Teceram-se ress
operacionais). importações” qn= -
A ótima performance das transações correntes, capitaneada pelos vul ficiente, avesso a : :c
tosos saldos comerciais (sob controle do setor privado), presentes a partir ponderável parti czra
de 1984 com a orientação export drive, vai explicitar os descompassos e tura comercial, ha
assimetrias entre o agente credor — as empresas privadas exportadoras, O que é intere
geradoras e portadoras da moeda forte — e o agente devedor par excelence, nalização da ecou
o Estado, que compulsoriamente deve captar e remeter dólares. o mesmo bloco ]
A dívida m obiliária, de expediente de financiamento do setor p ú pretérita. Sem
blico e instrumento regulatório monetário-financeiro, foi-se tornando principais decisões t
elemento de desarranjo financeiro do Estado, exaurindo sua capacidade falta de sustentação!
de arbitragem. Nessa medida, o Estado recorre ao endividamento m obi Segundo o Ie d í í j
liário, não como fonte de financiamento público, mas tão-somente como industrial. Tal 1
instrumento da luta diária pela esterilização dos dólares e pela cobertura medíocre deser
de sua dívida interna. Também paralisado politicamente para alargar a da produção ine
exação e acumular receitas tributárias e obter receitas operacionais do econom ia brasileiraca
setor produtivo estatal, o poder público vê comprometidas assim todas
as formas originárias de financiamento estatal e de recomposição de sua
capacidade de gasto. As empresas estatais, o Banco Central e as autorida
des monetárias se tornaram compromitentes, resguardando e acolhendo
as obrigações externas do setor privado. Estes, por vezes, resistiram,
intim idando o rollover das obrigações da dívida, forçando o Estado a
praticar taxas proibitivas de juros, a fim de gerar atratividade a seus títulos
públicos. Nesse contexto, as autoridades monetárias acabam-se tornando
reféns de seu estoque de dívida. O Estado, completamente desarticulado,
perde poder de coordenação e de sinalização estruturante.
A partir dos anos 90, afirma-se a opção neoliberal no país, que se
consolida nos oito anos do governo FHC. Seguindo as “sugestões” do
conhecido Consenso de W ashington, avança-se na desregulamentação
dos mercados (incluindo 0 financeiro doméstico, o de trabalho, com pe
sados cortes nos direitos antes assegurados, e o de produção e consumo).
“Reforma-se” 0 Estado, privatizando os serviços de utilidade pública, o
setor produtivo estatal e os sistemas nacionais de infra-estrutura, abdi
cando totalmente de políticas “direcionadoras” dos setores produtivos. Sem qualqueri
Consolida-se a liberação da conta de capitais e a abertura comercial. Há nomia brasileira ta z ã i
nos discursos forte crença em que, com liberalização cambial, ingressaria dos agentes ecor
“poupança ex tern a ” n o s p a tam a re s n e ce ssário s. mento sendo ot
154
TRAN SFO RM AÇÕ ES NO PA D R A O DE S O C IA B IL ID A D E D O BR ASIL
rurra-estrutura, abdi-
r#cs setores produtivos, Sem qualquer soberania ou princípio de mínima autoproteção, a eco
ijcerrura comercial. Há nomia brasileira jaz à mercê das restrições externas e das suscetibilidades
k; cambial, ingressaria dos agentes econôm icos globais, tendo suas trajetórias breves de cresci
mento sendo obstadas pelos reflexos das expectativas pessimistas criadas
155
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO T R A N i? :
nas crises internacionais do México, da Ásia, da Rússia, da Argentina. Ou vale lembrar que
esbarra internamente na falta de coordenação e de investimentos, como de US$ 7 bilhões- >:<:
na crise de energia em 2001. que incentivem í
Acirram -se as vulnerabilidades estruturais em múltiplas e entrela de eletrônicos e tr
çadas esferas (m onetário-ñnanceira, comercial, produtiva, científica e em componentes
tecnológica etc.).7 ao ano. Aquele em
No campo monetário, a necessidade de gerar divisas para fazer frente modo, esse mesmo
aos passivos acumulados e desequilibrios das contas externas leva à afli Assim, o que se
ção pela subida dos juros reais, travando as oportunidades de geração “desadensamento'
de riqueza nova no mercado nacional.8Na esfera fiscal, a inflexibilidade mercantilizadas <:
à queda dos juros acelera o crescimento da divida pública mobiliária e destaque para as de
requer serviços da divida que neutralizam todos os esforços de superávit de capital e quím ica.
fiscal prim ário e de arrecadação. O “acúm ulo de desequilibrios — o exportações.11 Na
déficit externo transformado em fragilidade financeira interna do setor minerais, miner
público — e a precariedade da ‘inserção emergente’ lançaram periodica justamente os s a n e s
mente a economia na crise monetária” (Belluzzo e Almeida, 2002, p. 386).9 economias de escala,
Temos todas as outras políticas se subordinando (e se anulando10) à mas que não <
política de estabilização monetária. É preciso analisara
A armadilha cambial e financeira exacerba a fragilidade externa. A ciai segundo os e k s
abertura comercial, a sobrevalorização cambial e das taxas reais de juros industrial do país —
escorchantes pressionaram o custo de uso do capital, desfavoreceram a por região.1
produção destinada à exportação. Justamente quando a substituição de Mais do que uma"
importações e o bom desempenho das exportações seriam fundamentais sas foi na verdade
para dim inuir nossa vulnerabilidade externa. Apenas como exemplos, com estratégias de
tenha tam b ém ;
As importações
7 “Vulnerabilidade determinada pelo passivo externo de curto prazo e por déficits estruturais
e crônicos” (Gonçalves, 2001, p. 252). que era justificado
8 “O cambio valorizado e a queda nos níveis de proteção efetiva exasperaram o déficit da balança
comercial e em conta corrente, enquanto a entrada de capitais determinou o crescimento
da dívida pública, emitida para esterilizar os efeitos monetários do ingresso ‘excessivo’ de “Nos anos 90, a t t t i t » -
dinheiro estrangeiro. Subindo ainda mais os já elevados spreads exigidos pelos investidores câmbio, produziu 1
estrangeiros para adquirir e manter em carteira ativos em moeda fraca” (Belluzzo, 2001, p. 2). de exportação. Ao
9 “A administração de uma política monetária autônoma depende do modo pelo qual cada caiu para a 28* posacãe
país está inserido no sistema financeiro internacional. No caso do Brasil, um país periférico e Irlanda, Áustria, T í
cronicamente endividado no exterior, o padrão monetário não é sustentado como padrão de Deixo para o [ u i í i í m
avaliação da Riqueza. O crescimento do produto e da renda é periodicamente interrompido micas da estrutura 5
por crises monetárias, e as formas de acumulação de riqueza sofrem mutações profundas e Contudo, “o aum erw 1
muitas vezes perversas” (Tavares, 2002). proporcional ao
10 “ [...] condenados ao manejo discricionário dos orçamentos públicos para neutralizar conse- processo de intei
qüências negativas de decisões equivocadas no campo do câmbio e do juro, sem que se criem forma, em uma t
graus de liberdade para financiar programas [...]” (Dain, 1999, p. 197). resultados ma~
156
T R A N SF O R M A Ç Õ E S N O “ PA D R Ã O DE S O C IA B IL ID A D E ” D O BR A SIL
, da Argentina. Ou vale lembrar que o déficit comercial na indústria quím ica em 2001 foi
lentos, com o de US$ 7 bilhões, sofrendo diretamente com a falta de políticas públicas
que incentivem a substituição da importação desses produtos. O setor
i Múltiplas e entrela- de eletrônicos e telecom unicações apresenta situação similar. O déficit
va, científica e em componentes semicondutores tem sido de cerca de US$ 2 bilhões
ao ano. Aquele em software e serviços de inform ática apresenta, grosso
i para fazer frente modo, esse mesmo valor anual.
ta te m a s leva à afli- Assim, o que se constatou foi a elevação do grau de abertura e de
ides de geração “desadensamento” de várias cadeias e linhas de produção, que foram re-
, a inflexibilidade mercantilizadas (substituindo fornecedores locais por importação), com
ifa b lic a mobiliária e destaque para as de telecomunicações, informática, eletroeletrônicos, bens
rços de superávit de capital e química, passando-se a im portar m aciçam ente e reduzir as
i desequilíbrios — o exportações.11 Na verdade, ocorreu uma reespecialização em commodities
sintem a do setor minerais, minerometalúrgicas, siderúrgicas, agrícolas e agroindustriais,
letançaram periodica- justamente os setores (com baixa elasticidade da demanda) sensíveis às
,2002, p. 386).9 economias de escala, energia, m ão-de-obra e recursos naturais baratos,
>|c se anulando10) à mas que não dispensaram incentivos fiscais e outras benesses públicas.
É preciso analisar a sensibilidade a esses processos — bastante diferen
ide externa. A cial segundo os elos das cadeias produtivas que conform am a estrutura
ía r a s reais de juros industrial do país — nos cortes: por categoria de uso, por propriedade,
. desfavoreceram a por região.12
1a substituição de Mais do que uma “reestruturação produtiva”, o que tivemos nas empre
lfundamentais sas foi na verdade um a enorme racionalização organizacional defensiva,
. como exemplos, com estratégias de proteção contra desvalorização de sua riqueza, embora
tenha também aumentado sua eficiência com petitiva.13
As importações cresceram a taxas muito superiores às exportações, o
1 s ç»r déficits estruturais
que era justificado pelos gestores da política econôm ica com o condição
1 o déficit da balança
1 â e a m m o u o crescimento
; i c izgresso ‘excessivo’ de 11 “Nos anos 90, a redução tarifária, com quase cinco anos de sobrevalorização da taxa de
lãpàos pelos investidores câmbio, produziu uma intensa abertura às importações, mas em nada se avançou em termos
a j a n ” Beüuzzo, 2001,p. 2). de exportação. Ao contrário, houve retrocesso: de 17a exportador mundial em 1985, o país
: ic modo pelo qual cada caiu para a 28aposição em 1999, ficando atrás de países pequenos como Cingapura, Malásia,
1 3fcBÊL um país periférico e Irlanda, Áustria, Tailândia e até mesmo da Indonésia” (Coutinho, 2001).
t SBBSttado como padrão de 12 Deixo para o próximo capítulo uma análise mais detalhada das mudanças e diferentes dinâ
i-t»— ente interrompido micas da estrutura produtiva brasileira em seu recorte regional.
l mutações profundas e 13 Contudo, “o aumento da competitividade não se traduziu em incremento das exportações
proporcional ao aumento das importações e ao aumento do passivo externo da economia. O
rara neutralizar conse- processo de internacionalização [‘introvertido’ e sem geração de greenfield] resultou, dessa
; í 3.: mro. sem que se criem forma, em uma estrutura produtiva microeconomicamente mais eficiente, mas geradora de
resultados macroeconômicos insatisfatórios [...]” (Sarti e Laplane, 2002,p.. 91,grifo nosso).
157
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO T R A X 5 ? :i.i_ r -
ra. A acelerada saltou de US$ 163 bilhões para US$ 328 bilhões. O capital integralizado
«cambial deteriora- por não-residentes em serviços passou de 31% para 64%.
; importados e a Cabe lembrar que a entrada do capital estrangeiro no setor financeiro
s. Entre outros não cum priu a propalada meta de redução do custo — e de elevação do
,de nossos déficits. montante — dos empréstimos.
I subordinada, Apenas no período 1991-1997 foram realizadas 515 transações de fu-
alização produ- sões/aquisições;14 54% dessas empresas foram transferidas para o capital
í serviços, sobretudo estrangeiro.
?patrim ônio público Essa abrangente transnacionalização da economia tornou ainda mais
. contas externas, intensa agrande complexidade existente no Brasil das relações entrefirmas,
ade produtiva estruturas de mercado, padrões de concorrência, patrimônio empresarial e
i divisas, mas, pior, fortunas pessoais. As pesquisas (setoriais e regionais) precisam desvendar
f origem. Ocorreu esse amálgama entre formas atrasadas e modernas de capital e as estraté
ição adequada gias empresariais diversas que foram levadas a cabo para a preservação
i diferentes redes), de riqueza patrimonial. M iranda e Tavares (1999) apontam caminhos
le política nessas interessantes nesse sentido, demonstrando que os grupos nacionais, sem
ado de agências estratégias de conglomeração, sempre constituíram relações de “solidarie
; empresariais. dade entre finanças e indústria, porém do tipo rentista-patrimonialista15
1p or um a coalizão [...]. Qfundingpara. novas escalas que os investimentos requeriam surgia
. sob o comando ou de lucros acumulados ou de financiamento por bancos públicos ou de
prim azes do endividamento externo”. Assim , mesm o com as vantagens do tamanho
«publico, com as pri- do m ercado interno, não se cam inha para a constituição de formas mais
i capturar as agências conglomeradas de capital, que busquem a conquista de novos mercados,
interna e externamente, e gerem riqueza nova que avance em trajetórias
. em grande parte, produtivas de m aior valor agregado e conteúdo tecnológico.
ação e/ou fusão/ Pelo contrário, nos últimos anos os grupos nacionais estreitaram ainda
. internacionali- seu leque de operações, sancionando a regressão produtiva e acentuando
sua especialização em commodities agrícolas e industriais. “Dentre os 30
\í 1995, foram ven- maiores grupos brasileiros, 13 tinham em 1998 seus core-business prin ci
*e petroquímico. pais em commodities.16 Ademais, grupos de origem e principal atuação
. especializada-
e. isto é, serviços de 14 Vide Miranda e Martins (2000) e Marcelo Cano (2002).
serar retorno mais 15 “As razões da constituição e da dinâmica dos grupos econômicos brasileiros devem ser bus
cadas, fundamentalmente, nos diferentes tipos de reação às restrições financeiras externa e
cpcT i.ização nem para interna que, ao longo deste século, influenciaram as transformações do modelo de desenvol
■ rrom over políticas vimento escolhido, sobretudo as limitações periodicamente colocadas pela necessidade de
financiamento do balanço de pagamentos” (Miranda e Tavares, 1999, p. 328, grifo nosso).
napital estrangeiro,
16 “Klabin, Ripasa, Sadia, Perdigão, Gerdau, Belgo-Mineira, CSN, Usiminas, Acesita, Votorantim,
kcet ¿e não-residentes Suzano, Hering, Villares” (Miranda e Tavares, 1999, p. 341).
159
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO T R A N 55 : .7
D uráveis e seus
fornecedores
4.3 M U D A N Ç A S N A S E S T R U T U R A S P R O D U T IV A S R E G IO N A IS
E A U M E N T O D A S D IV E R S ID A D E S IN T E R -R E G I O N A I S
Tradicionais
Os setores produtivos no Brasil foram, na década de 1990, alta e abrupta
mente expostos à competição internacional, em um contexto de grandes
transformações tecnológicas e organizacionais. Essa exposição foi ainda
mais explícita em razão das decisões de desmontar os principais ins
Difusores de pro
trumentos de que o Estado dispunha para promover uma coordenação gresso técnico
mais sistemática e orgânica sobre os diversos segmentos do aparelho
produtivo nacional.
Fonte: Ferraz et aJ. <19
Nesse contexto, é preciso discutir os aspectos qualitativos dos investi
mentos realizados na década de 1990, que parecem ter aprofundado ainda
as marcas, próprias de situações de subdesenvolvimento, de estruturas Grau de din
17 “Como, por exemplo, Mariani, Odebrecht, Vicunha, Ultra, Ipiranga, entre outros” (Miranda
e Tavares, 1999, p. 341).
l 60
T R A N SF O R M A Ç Õ E S N O “ P A D R Ã O D E S O C IA B IL ID A D E ” D O BR A SIL
ma produção de bens • Bens de capital sob encom enda e seus com po
nentes
com poucas perspec- • Bens interm ediários
Pouco dinâm icos/com petitivos
• Commodities: química/petroquím ica, celulose/pa-
(competitividade potencialm en
pel, m etalurgia de não-ferrosos (alum ínio) e m ate
as seguintes clas- te alta; predom ina a em presa
riais de construção/produtos de minerais não-metá-
nacional)
licos (cimento, vidro etc.)
• Componentes de bens finais de consumo durável:
autopeças (inclui borracha e pneumáticos)
l6l
TERRITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO
Em sua
Grau de dinamismo Setores (“categoria de uso” dos bens)
grande parte de szz
• Bens de capital seriados e seus componentes
de processamento cr
• Bens finais de consumo não-durável: têxteis, cal
çados, confecções etc. agrícolas e p ecu a ro i.
Pouco dinâmicos/não com petiti • Bens intermediários
vos (sem competitividade inter • Componentes de bens finais de consumo durável:
e alumínio (basic
nacional; predomina a empresa eletrônicos etc. petroquímica, 1
nacional) • Matérias-primas de bens finais de consumo não-
durável: fármacos e outras especialidades químicas de laranja, carnes <
(para produtos de higiene/beleza, defensivos/ferti- locacional é ori
lizantes etc.)
com custos e <
Fonte: La Croix (2001)
processos, não*
possui capacidade
O grupo de setores difusores de progresso técnico foi penalizado
Quanto ao mercado'
duramente pelas políticas neoliberais. Os dados mais recentes revelam
ao tamanho do
tendência à reconcentração das plantas de maior conteúdo tecnológico
em poder aquisitiro
e complexidade (máquinas-ferramenta, automação industrial, telecom u
o país apresenta boa
nicações, informática, eletrônica, fármacos, biotecnologia etc.) na região
nos produtos poaco
mais desenvolvida do país. Com o as principais transformações científicas,
produtivas n o :
tecnológicas e inovacionais tendem a se concentrar nesse bloco, por onde
ciação produtivas,
mais se difundem as tecnologias de base eletrônica e os principais insti
competitiva vai
tutos de pesquisa tendem a estar localizados no pólo mais dinâm ico da
setores, que se
acumulação de capital no Brasil, provavelmente essa ampliação da rede de
fontes de recursos
relações existentes nessa área implicará futura maior concentração nesse
maturações do II,
espaço geográfico de maior dinamismo. Esse novo “bloco m otriz” tende
termos de mont
a ser exigente também de outras externalidades, tais com o m ão-de-obra
O grupo prodotar
especializada, ambiente científico etc., que se encontram geralmente nas
ro, vestuário e I
porções mais desenvolvidas do território nacional.
baixa elaboração e
Os segmentos de bens de capital foram duramente penalizados, per
em direção a áreas
dendo ainda mais capacidade competitiva, devido à longa crise a que foi
Ocorreu, dessa 1
submetida a econom ia brasileira e à falta de políticas de coordenação
criação de plantas i
162
T R A N SF O R M A Ç Õ E S N O P A D R A O DE SO C IA B IL ID A D E D O BR ASIL
163
TERRITÓR IO E D ESEN VOLVIM EN TO T R A N 77 I I
São setores que sofreram vários m ovim entos cíclicos conjunturais em ambiente ¿e b¿
durante a década de 1990: abertura comercial destrutiva; incentivo do pelos dados de cccr;'
miniboom do Real; m ovimentos cambiais etc. Mas estruturalmente se Cabe aqui uin¿
encontram constrangidos pelo padrão de alta concentração na distribui fiscal e à exacerbacã:
ção de renda do país e na estreiteza dos mercados internos periféricos, rante as reformas de
exceção para alguns pólos com porte e complexidade urbana. O correu a de 1988. C om o besn
atração de novos investimentos ou o deslocamento de algumas indústrias gestão fiscal d e v e .
produtoras de bens de consumo não-duráveis, sobretudo para o N or e bem distribuir os
deste (têxtil, confecções, calçados, alimentos, bebidas). Essas indústrias tributárias,!
talvez ainda tenham algum raio para ocupar sua capacidade produtiva, entre as esferas de
a depender do ambiente m acroeconôm ico (que acaba ditando o ritmo Essas tarefas se
de expansão do mercado interno), e pode-se assistir ao arrefecimento do desiguais, com o o 1
crescimento dessas indústrias e à dim inuição da marcha da desconcen- e dos encargos que
tração regional do emprego e da renda, a depender também da política ções entre regiões e
comercial praticada. concorrentes parece
Os estudos regionais e urbanos muito ainda terão que avançar no ferências comp
balanço, para o período recente, dos resultados da sensibilidade dife Entretanto, cabe
rencial das regiões à crise, à política m acroeconôm ica, à deterioração centralizador pós-*
da infra-estrutura econômica, à abertura comercial, aos determinantes atribuições para zs
m icroeconôm icos (sobretudo à “reestruturação produtiva” e organiza menos generalizadas»,
cional) etc. É preciso avaliar, em pesquisas minuciosas regionalizadas, para responder ã
como esses processos impactaram e o que representaram em termos de receitas e armar
desmontagem e penalização seletiva, regional e setorialmente. O acúmulo de
Assim , em uma econom ia “sem crescimento”, a dim ensão espacial respeito às tensões "
desses processos deve captar os impactos dos vários constrangimentos. transferência ou
C om o pouco se teve em termos de geração de capacidade produtiva frágil pacto fed
nova (celulose, agroindústrias etc.), os estudos acabam sendo um balanço ria conduziram a
das destruições de riqueza. As análises foram prejudicadas pela falta de Se o processo de
informações, com diversos trabalhos procurando contornar tal restrição coerência e soldar ¡
com a utilização de dados com o os da R a is /Caged , buscando medir os trajetória foi int
processos de mudança das posições relativas das economias estaduais e seriamente co
macrorregionais pelo emprego formal do mercado organizado de traba processo de re~
lho. Com toda sorte de precarizações, terceirização e outras mudanças
profundas dos mercados de trabalho, as conclusões que se extraíram
18 “Parece razoável j
dessas pesquisas, no sentido de afirmarem que estaria ocorrendo um cioeconômicos, í
164
T R A N SF O R M A Ç Õ E S N O “ PA D R Ã O DE S O C IA B IL ID A D E ” D O B R A SIL
t
3s conjunturais em ambiente de baixo crescimento etc. pouco é passível de ser captado
ii incentivo do pelos dados de ocupação formal da força de trabalho.
I
[ estruturalmente se i Cabe aqui uma breve nota acerca dos problemas atinentes à gestão
cão na distribui fiscal e à exacerbação da crise federativa. O sistema foi estruturado du
mos periféricos, rante as reformas de 1965-1967 e depois m odificado pela Constituição
íarbana. O correu a de 1988. C om o bem aponta Prado (2003), em sistemas federativos, a
caígumas indústrias gestão fiscal deve cumprir, além das clássicas funções de bem tributar
io para o Nor- e bem distribuir os recursos, três tarefas: distribuição de competências
bJLEssas indústrias tributárias, transferências intergovernamentais e atribuição de encargos
ddade produtiva, entre as esferas de governo.
i ditando o ritmo Essas tarefas se tornam mais com plexas em países continentais e
► arrefecimento do desiguais, com o o Brasil, requerendo redistribuição da receita tributária
i da desconcen- e dos encargos que leve em consideração a enorm e assimetria de situa
rtambém da política ções entre regiões e cidades.18 Em tais países, o m odelo de competências
concorrentes parece adequado e há a necessidade de ponderáveis trans
>que avançar no ferências compensatórias.
i sensibilidade dife- Entretanto, cabe lembrar que, m esm o o prim eiro m ovim ento des-
à deterioração centralizador pós-1988, a ampliação e transferência de im postos e de
, 3)05 determinantes atribuições para as escalas subnacionais, encontrou situações, mais ou
e organiza- menos generalizadas, de baixas capacidades técnica, de gestão e financeira
regionalizadas, para responder à descentralização de competências e distribuição das
i em termos de receitas e armar estratégias próprias de médio e longo prazos.
aente. O acúm ulo de distorções do sistema m ontado (sobretudo no que diz
t dim ensão espacial respeito às tensões intergovernamentais, cujas relações se processam via
► constrangimentos. transferência ou endividamento), o agravamento dos antagonismos do
ade produtiva frágil pacto federativo e o não-desenlace da discussão da reforma tributá
lsendo um balanço ria conduziram a uma situação crítica no decorrer da década de 1990.
; pela falta de Se o processo de descentralização tinha problemas, não logrando dar
■ tal restrição coerência e soldar a diversidade regional da econom ia brasileira, sua
¡.leseando medir os trajetória foi interrompida, e a autonomia das decisões estaduais ficou
ias estaduais e seriamente comprometida, sobretudo a partir dos desdobramentos do
rapizado de traba- processo de renegociação das dívidas estaduais, que tiveram impacto
..xctras mudanças
que se extraíram
18 “Parece razoável propor que quanto mais homogêneo for o espaço nacional em termos so
ocorrendo um cioeconómicos, maior o escopo para ampliar as autonomias orçamentárias subnacionais sem
conflito com as referidas políticas de âmbito nacional. A extensão do argumento indicaria a
xzzt prejudicadas. A
conveniência de sistemas fiscais mais centralizados em federações marcadas por desigualdades
Lcustrial, ocorrido elevadas” (Prado, 2003, p. 19).
165
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO TRAÃ
l66
T R A N SF O R M A Ç Õ E S N O “ PA D R Ã O DE S O C IA B IL ID A D E ” D O BR A SIL
is e se enfra- B I L I Z A D O E A S O C IE D A D E F R A G M E N T A D A
do território
Para hierarquizar algumas determinações que nos conduziram aos impas
■ quadro crítico, a ses nacionais que hoje nos afligem, é fundam ental lembrar alguns ele
: decisão, ao com- m entos de nosso legado histórico. Passado com plexo com o procuro
estratégicas lembrar neste trabalho, em que delimitamos um território nacional, “ar
(2001) mostrou rum amos” população nacional para o imenso espaço, erigimos um Es
¡destacaram como tado nacional, estabelecemos um mercado de trabalho nacional (primeiro
escravista, depois capitalista), articulamos um mercado nacional, m on
tamos um a m áquina capitalista “nacional”, dinâmica e de crescimento
fiscal proposta pela *
>da receita tributária “artificial”, e caminhávamos para a construção de uma nação. Correndo-
r-„-Tpa.-ãn e partilha do se sempre o risco de ser rotulado de catastrofista, o cenário mais provável
Bijfek reconcentração fiscal
e ca receita federal [E que se coloca atualmente parece ser o de desconstrução: da nação incon
í alocação)],como pelas clusa, da indústria nacional perdendo elos de importantes cadeias pro
■ subnacionais. Não
L.n r v i' o volume e a forma dutivas, do mercado nacional (cada vez mais desarticulado, na medida
ru i Carta Constitucional, em que se formam dispersivos “enclaves de m odernidade” voltados ao
•r c c ç p . 19).
exterior), do mercado de trabalho já totalmente precarizado e desarti
i capacidade regula-
. rofitica monetária. A culado, do Estado nacional desmantelado e deslegitimizado, do pacto
cs acima do que seria federalista esgarçado. O território, apesar dos discursos separatistas e do
■íes débitos e a alavanca-
! í mancos estaduais [...] desbragado regionalismo, parece que continuará intacto...
amce iscai definido nos Defrontam o-nos, assim, com uma “crise estrutural do Estado brasi
num rrisioneiros de uma
leiro [...] de tal natureza que põe recorrentemente em risco o tradicional
167
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO iraní -- :■
21 “Vivida num ambiente urbano e metropolitano que erodiu velhas instituições e antigas redes Foi a “interiorizaça» i
de solidariedade, a crise fragmenta, particulariza, estilhaça a sociabilidade capitalista, a indi- acumulação merczsEfca
vidualização privada perde todos [os] seus freios, a violência instala-se e, com ela, a barbárie
1 999)-
social” (Mello, 1984, p. 16).
l68
T R A N SF O R M A Ç Õ E S N O “ PA D R Ã O DE S O C IA B IL ID A D E ” D O B R ASIL
rente a uma Reprodução social “dos de cima”, de natureza bifronte. Por um lado,
fcftocessos acelerados contando com cúpulas políticas territoriais que são sedimentadas na
: a ruptura dos terra, possuindo apego patrimonialista orgânico com a terra-propriedade,
i, alargando os praticantes da “agricultura itinerante” (Furtado, 1974, e Cano, 2002), da
apropriação privada do território, “sem moldura de regulação das lutas das
um processo oligarquias regionais” (Tavares, 1999). Por outro, contando com cúpulas
que m oeu os do poder cosmopolitas, ligadas ao império e ao dinheiro.
ios por um lon- Ambas as frações da elite desenvolveram capacidades pretensamente
sem renovação infinitas de reinventar permanentemente novos espaços de acumulação
l A lógica do proveito (especializados na fuga para frente, territorial e rentista) e de reinventar
í anim as de convívio, o dinheiro, buscando renovadas “fronteiras” de valorização22e impedindo
i valores do passado a luta de classes aberta, o que cristaliza uma marcha interrompida, tanto
do ponto de vista do desenvolvimento das forças produtivas modernas
Iediscricionária com quanto do ponto de vista dos direitos sociais (Tavares, 1999).
i amt “os de cima”. A grande pesquisa a ser realizada quanto ao período pós-1994 é como
em seu papel de ganham com a regressão e a desestruturação produtiva e também ques
i função de encam- tionar até que ponto mantêm as duas velhas cláusulas do pacto básico
t as sinalizações de dominação interna (Lessa e Dain, 1980). Aquela que garantiu a opção
I fo d e n d o ainda mais preferencial pelas órbitas produtivas e aquela que assegurou rentabilidade
horizontal, igual ou m aior do que a órbita industrial.
Tam bém é fundam ental avançar nos estudos sobre a reprodução
: da nova ordem social “dos de baixo”. Penso que tal reprodução passa, necessariamente,
' do Estado. [Há] por duas questões: a da m obilidade estrutural (espacial e social) e a da
T
: sem liberdades m arginalidade, a natureza de eternos desgarrados da terra-produção
>e de permitir (sem -terra e m arginalizados dos circuitos m odernos da econom ia).
Mfistmtas alternativas Portanto, com o afirma Tavares (1999), não conform ando classes subal
► s i a exacerbação do ternas “mais homogêneas e sedimentadas”.
Em síntese, esquemáticamente diría que a análise das múltiplas di
mensões (espacial, produtiva, política etc) do subdesenvolvimento bra
cais importante das sileiro passa necessariamente por inseri-la no contexto mais estrutural
desvendou e expôs do processo de reprodução social. É preciso entender com o as classes se
"_\:ões e antigas redes 22 Foi a “interiorização do desenvolvimento que lhe permitiu, de novo, a sua forma favorita de
LCide capitalista, a indi- acumulação mercantil: apropriação de terras e acumulação patrimonial-rentista” (Tavares,
; í . com ela, a barbárie 1999).
169
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO tr av s" :;
estruturaram e com o se reproduzem; penso que ocorrem, grosso modo, que restritos, de ^
segundo os seguintes planos de análise: político-social paree
dos custos de repr:
Cúpulas do poder territoriais/m ercantis uma lógica da cocer
Reprodução social dos “de cima” e do alargamento :
Cúpulas do poder cosmopolitas/
financeiras das diversas frações.
M obilidade estrutural (intergeracional e lógica in c o r p ó r a te . 1
espacial) até os anos 80
Reprodução social dos “de baixo” e, em algum sentido. ¡
Marginalidade social crescente nenhuma m arca d e :
É certo que p a n zfa |
Vejamos a questão da mobilidade. É inquestionável que, malgrado seu alguma distância nas <
caráter excludente, o violento processo de transformações capitalistas
certo que as coné
impulsionou a criação de oportunidades, incorporando a maior parte
corrido foi marcante. 1
da população em ondas de mobilidade intergeracional. Dessa forma, o
em bora a origem 5
Brasil conheceu uma experiência de rápidas e profundas mutações em
sivo. Tivem os a :
sua pirámide social.23 A conform ação de nossa estrutura social gerou
médios de renda e 1
uma sociedade com alto patamar de “fluidez”, em que o deslocamento
ocupacional, ao lado do deslocam ento geográfico, foi bem -sucedido movimento foi <
na geração de prestígio, qualificação e renda, ou, mais específicamente, Pastare e V a lle :
proporcionou um conjunto de expectativas de promoção individual e m ovimentos de longM
das famílias. A “procissão de milagres” garantia o sonho de ascensão so até duas posições, f
cial: o ritmo de crescimento por volta de 10% a.a. assegurava o mínim o na mesma posição i
de laços de solidariedade, a legitimação ao eterno discurso nacional do de menor renda.
“crescimento do bolo” e a continuidade do tratamento da questão social Discutam os br
como decorrente da futura expansão econômica. metida a reprodução 1
A assimetria de oportunidades, temperada por fortes expectativas Aquela incor
de ascensão, m arcou as aspirações sociais de várias gerações. Massas
ma, se deu sem a i
populacionais imensas buscaram novos lugares geográficos (prom oven
m odernos e sem o 1
do uma das maiores mobilidades espaciais do mundo, uma verdadeira
cidadania in c o n d n s a j
transumância) e novos loci de status social.
desclassificados.^ Q bs
O u seja, engendrou-se uma criativa construção social e política que
das massas no mere
arquitetou uma estrutura “incorporativa”, que abriu horizontes, mesmo
atividades tradicionais,^
campo. Nesse contestai
23 “A transformação acelerada em direção a uma estrutura social mais complexa e profunda
mente desigual envolveu um processo de mobilidade social fortemente ascendente [...] tratou-
se de um processo de mobilidade associado basicamente ao estancamento das oportunidades
de trabalho no campo e à abertura de crescentes e novas oportunidades de investimentos, de
negócios e de trabalho pela transformação e dinâmica expansão das atividades econômicas, 24 Souza (1982, p. 14
do espaço urbano e do próprio Estado [...] nessa transformação foram recriadas distâncias estruturais”), pois *
enormes de renda, educação, propriedade, consumo, etc. entre as camadas sociais renovadas uniforme, con sin -vc- 3
(Henrique, 1999, p. 85). a classificacão e o ;
I7O
T R A N S F O R M A Ç Õ E S N O “ p A D R Ã O D E S O C IA B IL ID A D E ” D O BR ASIL
*
ii
■ ■ nem,grosso modo, que restritos, de uma reprodução intersticial para “todos”. Essa equação
político-social parece que acabou p or cum prir um papel de redução
dos custos de reprodução da força de trabalho. O que tinha vigência era
— ■ ■ iu ii ¡ais/mercantis uma lógica da cooptação pelo mercado, da incorporação pelo consumo
■cosmopolitas/ e do alargamento das fronteiras da valorização para o m áxim o possível
das diversas frações heterogêneas (mesmo as marginais) de capital. É a
» ñntergeracional e lógica incorporativa, geradora de redes de “solidariedade” econôm ica
b 3G
e, em algum sentido, política (que paradoxalmente foi construída sem
lo e s c e n te nenhuma marca de solidariedade social).
É certo que parcela ponderável da sociedade brasileira percorreu
Iqae,malgrado seu alguma distância nas décadas anteriores a 1980. Entretanto, também é
es capitalistas
certo que as condições iniciais eram baixíssimas; assim, o caminho per
a maior parte
corrido foi marcante. Alguns romperam a barreira do trabalho manual,
Dessa forma, o
embora a origem social e o acesso dos pais à educação continuasse deci
mutações em
sivo. Tivem os a massificação de algumas ocupações típicas dos estratos
social gerou
m édios de renda e prestígio. Porém, com o advertiu Pastore (1979), esse
■ e o deslocamento
fo i bem -sucedido m ovimento foi desigual e limitado.
específicamente, Pastore e Valle Silva (2000) confirmam, com dados de 1996, que os
o individual e movimentos de longa extensão são raros, concentrando-se no máximo
de ascensão so- até duas posições. Pela Pn ad 1996, há sinais de permanência de filhos
iva o mínim o na mesma posição dos pais (im obilidade), sobretudo para os estratos
mKscotso nacional do de menor renda.
Io da questão social Discutam os brevemente a questão da marginalidade a que está sub
metida a reprodução social de parcela majoritária dos “de baixo”.
Sirtes expectativas Aquela incorporação de alguns estratos sociais, que discutim os aci
s gerações. Massas ma, se deu sem a integração das massas aos circuitos de produtividade
qp a ã cos (promoven-
m odernos e sem o desenvolvim ento dos direitos individuais e com
uma verdadeira
cidadania inconclusa, form ando assim um a cam ada de deserdados e
desclassificados.24 O u seja, sem a capacidade adequada de absorção
>social e política que
das massas no mercado “m oderno” de trabalho, tanto das inseridas nas
k ãcrizontes, mesmo
atividades tradicionais, precárias e informais, quanto das expulsas do
campo. Nesse contexto,
cziplexa e profunda-
scendente [...] tratou-
:: das oportunidades
¡iisees de investimentos, de
eródades econômicas, 24 Souza (1982, p. 14) prefere falar de desclassificados (“não-inserção motivada por dados
r n n recriadas distâncias estruturais”), pois “marginalização pode fazer pensar em algo que se separa de um todo
n —Adas sociais renovadas uniforme, constituído, no caso, pela sociedade. Já desclassificação sugere a exterioridade ante
a classificação e o distanciamento em face de um todo heterogêneo e diversificado”.
171
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO
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T R A N SF O R M A Ç Õ E S NO “ PA D R Ã O DE S O C IA B IL ID A D E ” D O BR A SIL
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TE R R ITÓ R IO E D ESEN VO LVIM EN TO T R A S *.- : _•
têm direitos, nem obrigações. Soma-se a isso o fato de que essas contratações tudes da concorrência
sonegam receitas ao Estado, restringindo o fundo público da seguridade social, órbitas n ão-m ãu sn E S
além de limitar a implementação de outras políticas sociais. acomodava variad:*
diversificada e ’
Em um contexto em que as oportunidades ocupacionais minguaram, frações subordinaria*
em que se tem não a geração, mas a destruição de postos de trabalho (so com a imposição áe
bretudo os estáveis e seguros), em que, quando surgem as ocupações, são amparava e p r o te g a ,
precárias e mal remuneradas, cresce ainda mais a sempre enorme massa crediticios.
de não-cidadãos, destituídos de dignidade, segurança, proteção e status. Nessa “estratega’ t
Submetidos ao infraconsumo, mesmo das necessidades mais básicas. flitantes, não coube 4
Por outro lado, uma m inoria que goza de direitos civis plenos foi fiscal e de ciência e
submetida, com o nos ensina Celso Furtado, à imposição e difusão de construções
padrões de “vida m oderna” e de aspirações de consum o estandardi equação política
zado.26 Tal grupo encontrou uma econom ia urbana em expansão e uma O Estado se
fronteira agrícola fluida, em que seus diversificados interesses puderam e eficiência, mas:
ser contemplados. a articulação do j
engendrou, por vezes
amparou resistências
4.5 o “ desafio à síntese ”27 dos diversos e heterogêneos de com petitividade,:
“mundos ” “ dos de baixo ” e “ dos de cim a ” temente o câmbio,
Sancionou um
O processo de industrialização no Brasil logrou contemplar diversificados o loteamento/a
interesses (setoriais, regionais, das frações do capital). Nossa economia procurando escapar à
continental, com sua decorrente vocação para introversão, pois dotada M esm o com a ,
de ponderável mercado interno, pôde seguir, com certa passividade, os integrada e div<
caminhos de menor resistência de uma pragmática estratégia de acres- canismos de defesa,
centamento de elos antes ausentes da cadeia produtiva. Tal política de o sucateamento (r
preenchimento de lacunas, completando progressivamente nosso parque empresas promov
industrial, amparava e contem plava m últiplos interesses, contornava e um “enxugamento*
conflitos, ao não submeter e expor esse aparelho industrial às vicissi- empresas lograram
da economia, prot
26 “A crescente influência da economia norte-americana, impulsionando uma cultura de massas anos 80. Na década d e
dotada de meios extraordinários de difusão, opera como fator de desestabilização do quadro destruição de
cultural fundado na dicotomía povo-elite. Com o avanço da urbanização, a presença do povo
torna-se mais visível, fazendo-se mais difícil escamotear sua criatividade cultural” (Furtado, país e para a regressão
1 9 9 9 , P- 6 5 ). mercados interna
27 Expressão utilizada por Maria da Conceição Tavares (2001, p. 7) quando afirma que “o Brasil Decisões n a c io m »
atual é um desafio à síntese. A heterogeneidade estrutural brasileira aumentou de tal maneira
que qualquer esquema interpretativo é necessariamente um a simplificação”. nom ia brasileira
T R A N SF O R M A Ç Õ E S N O P A D R A O D E S O C IA B IL ID A D E D O B R A SIL
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TERRITÓ R IO E D ESEN VO LVIM EN TO tk a t ;;
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ios e externos a por seleção de produtos em todos os ramos [...]” (Tavares, 1994, p. 19), o
t imensos. É preciso, que determina que nossa reestruturação seja marcada por grande com
»de excludéncia plexidade e largo horizonte temporal. O u seja, a maturidade industrial
“ijP Revolução Indus- consolidada exige m odernização e im possibilita o desm antelam ento
i pelo novo padrão amplo, semelhante ao ocorrido no Chile e na Argentina. O sucesso de
spoderiam ter sido nossa anterior diversificação industrial engendrou uma complexidade
; somos uma nação de interesses que dificilmente poderíam ser anulados por um processo
Ecom balida economia desindustrializante mais generalizado. C om o Fiori (1992, p. 12),
, de tecnologia
cremos que as dificuldades brasileiras têm a ver não com a fraqueza ou fragi
¡centráis o desafio lidade de sua economia, senão ao contrário, resultam do fato de que o Brasil
>k v o u a respostas tenha completado sua industrialização pesada que logra avançar a partir de
seus padrões pretéritos de financiamento e proteção, mas tampouco se ajusta
m enorme esforço
passivamente às mudanças ocorridas no contexto internacional [...] na m e
¡ de regulação e
dida em que não possui complementaridades decisivas com qualquer bloco
re matérias-primas,
comercial regional.
c. — , cujo eixo foi
. comparativas
Essas citações continuam atuais, embora 0 processo de abertura e ou
. a desvalorização
tras políticas neoliberais tenham causado grande destruição na estrutura
; tecnológicas,
produtiva sediada no Brasil, fragilizando ainda mais os já estruturalmente
¡portfolios, amal-
deficientes centros internos de decisão.
ses burgueses.
Segundo Lessa (1998), pudemos detectar, em uma grande parcela de
► e recentralização
nossas elites, nesses tempos neoliberais, um certo sentimento de arre
í ínteroligopólicas
pendimento pelos êxitos da nossa industrialização,“ou seja, quem estava
e dos Estados
certa era a República Velha, cujo m odelo respeitava a divisão de trabalho
ditada pelo m ercado internacional. De lá para cá, segundo essa visão,
■ daro que entre os
nossa trajetória foi um imenso erro”. Outros “mais modernos” asseveram
: de levar à frente as
que 0 país poderia, graças ao tamanho e heterogeneidade, transformar-se
“■ ibas de excelência”
em uma grande fronteira de serviços, constituindo sistemas terciários
>há dez anos, que a
complexos nos principais eixos de crescimento do território nacional.
í produtivo instalado
Passado (?) esse ambiente de contram ão da via de construção de
■ che de “ramos in-
identidade nacional, o Estado, profundamente debilitado no exercício
rser obrigatoriamente
de seu poder de regulação, gasto e coordenação, tem pela frente agora
o desafio de capitanear um processo de brutais transformações — legi
á c íe s —srcantis. Mostrou- timadas politicamente, por certo — no arcabouço da gestão econôm ica
. Ot a r ^ ü r ampliadamente o
(financiamento público, privado e externo, comércio exterior etc.), bem
i-n a rria i ra rtir de revoluções
ia : i: c .~ im , neste século, os com o nos padrões de distribuição da renda e do bem-estar social.
177
TERRITO R IO E D ESENVOLVIM EN TO tela n ; ; ;
178
T R A N SF O R M A Ç Õ E S N O “ PA D R Ã O DE S O C IA B IL ID A D E ” D O BR A SIL
179
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO tr av ;? : -
30 Seria preciso que indagássemos, em diversas áreas e temas das ciências sociais, se, por exemplo, A gravidade maior*
não exageramos nas determinações da “industrialização da agricultura”, não incorremos numa que obrigue a um 1
sobredeterminação da industrialização para explicar os processos de urbanização, os processos
de desenvolvimento regional, na configuração do mercado de trabalho, na determinação
desestruturação d e .
dos salários etc. a substituição de ¡
180
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twtrdadeira massa de industriais. Não desvendam os sua lógica de valorização fundada nos
:goza de direitos lucros extraordinários diferenciais ancorados na “esfera da circulação” e
que tiveram sempre uma articulação genética com o Estado. Os circuitos
“■ essoscitar” e refor- se interpenetram, mesclando os circuitos especulativo, imobiliário, comer
em o”, agora sob cial e “bancário’Vusurário, determinados por sua dupla face mercantil e
eu urna historia financeira, requerendo recorrentemente algum privilégio público. Assim,
s, gestados que as pesquisas precisam investigar como se dá a valorização da pluralida
>político-estrutural de das diversas e heterogêneas frações, com diversos portes, nos diversos
ral em direção setores, nas diversas regiões e nos diversos urbanos brasileiros.
'rep ro d u ção de C om o bem sintetiza Tavares (1995, p. vi):
term inar-se no
modo, diversas O Brasil, apesar de sua língua e território unificados e sua cultura antro-
(mercantil pouco pofágica e de possuir um Estado Nacional classicamente interventor, ainda não
é uma Nação moderna. Nunca se submeteu ao teste das verdadeiras nações
i o país é que um capitalistas: aquelas em que a mercadoria e os direitos se contrapuseram por
lutas sociais e políticas com a participação de grandes massas onde o mercado e
* pela órbita in-
os direitos sociais foram conquistados duramente e sem falsos consensos. A falta
i natureza da valori-
de aceitação do conflito político interno como meio de resolver os dissensos e
r sobrevivem econó-
a falsa consciência das elites que sempre foram incapazes de racionalizar o Bem
I singular de órbitas
Comum a partir de interesses gerais em confronto, levou sempre à privatização
Ipassam sempre pela
do Estado, que, por sua vez, nunca se testou como verdadeiramente nacional,
li como alicerce do nos séculos XIX e XX, até por falta de confronto externo real.
,, pela manutenção
i pela ação estatal
Afirma-se a esterilização dos fundos públicos que davam guarida aos
e* articulação entre a
inúmeros interesses dissonantes, restando agora o patrim ônio público a
imadas, que, pela
ser totalmente leiloado. Leiloam-se também diversos atores, espaços de
(político uma fração
valorização e regiões. Sinaliza-se hoje com uma liquidação de atores e
ade-chave para
interesses capitalistas que no passado apareciam com o estratégicos no
'as órbitas subordi-
contexto do pacto pretérito da chamada “era Vargas” (v. g., o setor de bens
! são sob o ponto de de capital sob encomenda), com a colocação em seu lugar de uma “nova
. entendemos que
elite” mercantil-usurária-im obiliária, proprietária das grandes cadeias
'segredos” e idiossin-
de comercialização, dos meios de com unicação de massa e de parte do
e circuitos não-
parque mineroindustrial e agroindustrial.
lzt viciáis, se, por exemplo, A gravidade maior do problema é que diante de uma (esperada) crise cambial
tl . " lo incorremos numa que obrigue a um constrangimento forte de importações, a reversibilidade da
x¿= ¿nização, os processos
desestruturação de cadeias produtivas internas passa a ser problemática após
£ n c i j : : - na determinação
a substituição de produtos nacionais por importações, dado que a experiência
181
TERRITÓ R IO E D ESEN VOLVIM EN TO
182
iproprio empresario já C apítulo 5
i do tecido social,
ição pactada de
kfobiicizando as pug- Conforme discutido no início deste livro, as questões estruturais apontadas
tpara as lutas sociais, nos demais capítulos foram negligenciadas ou totalmente abandonadas
pelas correntes teóricas hegemônicas hoje no m undo e no Brasil.
► im itações do cres Para não repetir tudo o que foi dito no capítulo 1, poderia sintetizar
os excluídos; com dizendo que tais análises têm, de forma subentendida, uma idéia de que
. versus políticas estaríamos vivendo em uma comunidade, não em sociedade; que, em
icista de “falta de decorrência, esse conjunto social não é cindido em classes e interesses
cpossibilitar a inserção políticos complexos (daí discutirem apenas atores sociais); que vivem os
(alternativas concretas processos de destruição das escalas intermediárias e o m undo estaria
té proteção, com radi- confirmando a tendência bipolar das escalas espaciais — apenas “o lo
za, poder e acesso cal” e “o global”. Nessa visão, altamente consensuada hoje, só restaria a
. para as políticas opção de políticas de desenvolvimento de natureza “m onoescalar”, isto
é, só tendo o local com o ponto de partida (e de chegada?), comunitário,
solidário, em ambiente de alta sinergia associativa do seu “capital social”.
A partir dessa escala, poderia acionar-se (e conectar-se) a rede dos fluxos
globalizados.
Nesse contexto, no presente capítulo discutiremos a questão da ne
cessidade, para a análise da dimensão espacial do subdesenvolvimento,
de se tratar teórica, analítica e politicamente a questão das escalas, reafir
m ando a importância das escalas intermediárias (“o local” e “o global”),
sobretudo do papel basilar da escala nacional.
Apontaremos algumas especificidades da escala nacional, de dimensão
continental e marcada por heterogeneidades estruturais (produtivas, sociais,
183
TERRITÓR IO E D ESENVOLVIM EN TO A R E A FIR V .-. : ■
regionais, políticas e culturais), procurando apreender suas determ ina C om a d efin icl:
ções, seus papéis e suas potencialidades na implementação de políticas criação de riqueza r c ,r& a
de desenvolvimento. tiva ou a m an uten ci:
econom ia m ede o
da aplicação de czp
5.1 A M E D IA Ç Ã O D O N A C IO N A L Com a definição dal
na opção te c n o lo g ía a
Fica patente hoje a necessidade da reconstrução, teórica e política, de distributiva intema’
nossa reprodução social e material em bases nacionais, ou melhor, a re com a produção, o a
construção da própria escala nacional, atingida duramente por políticas complexidade em t
antinacionais e antipopulares há décadas. Desdobramentos ii
o mercado de con
5.1.1 A escala nacional como construção histórica, social, política e econômica de importante cc
As definições do 1
O desenho da escala nacional como construto histórico, sociopolítico serão decisivas p a ia a i
e econôm ico requer 0 controle sobre os preços fundamentais da econo A capacidade de t
mia, sobre os instrumentos de regulação, sobre o sistema de normas e as classes sociais e<
instituições etc. Significa espaço minimamente refratário, circunscrito vas para constituir!
e protegido, através de suas fronteiras.1 orientam os inve
A manipulação dos instrumentos formadores dos preços econômicos, Estado e a capac
do câmbio, dos juros e dos salários é condição prim ária para m oldar o é totalmente ade
recorte nacional, balizando os cálculos econômicos dos agentes localizados momento histórico l
naquele limite geográfico, vis-à-vis aos “residentes no exterior”. Elemento-sintese a
Com a definição da taxa de câmbio modula-se a gradação dos pre espaço restrito, a 1
ços relativos, erigindo um a fronteira econôm ica entre as transações junto de decisões ¡
que geram e as que despendem divisas. Tal preço básico da econom ia ser “suficienteme
inform a os ganhos com a exportação e o valor dos importados, entre relativos e a operaçâ»<
outras funções. Alm eida, 2002, p. 30M
As decisões de política econôm ica quanto à entrada de capitais, às mo que se im põe é 1
remessas de lucros, aos esquemas de proteção (subsídios, barreiras alfan certa coerência, na 1
degárias, licenças, quotas, outras “novas” barreiras técnicas, ecológicas essencial. Essa 1
etc.) são definições importantes sobre a escala nacional que se deseja de assimetrias ir
construir. desse poder sobre a si
de avaliação geral da 1
1 Por vezes, há verdadeira confusão no debate sobre o tema. É preciso ter claro que espaço
nacional não é sinônimo de mercado interno “fechado” (cativo, “pouco poroso”), mas de ar 2 Por exemplo, em i
ticulação orgânica entre mercado interno e mercado externo, sob a égide do primeiro. Todo seguramente um t
capitalismo historicamente cresceu para dentro e para fora, simultaneamente. importância”.
I84
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E A S P O SSIB IL ID A D E S D E E STR A TEG IA S
185
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO A R E A F IrJ'L- I -
com o regime m onetário-financeiro mundial, hierarquizado pela moeda espaços territorial; cul
conversível.3 Nos espaços nacionais subdesenvolvidos, na ausência da de independência ¿z:
conversibilidade, exercerá função importante para determinar os graus
de autonomia que o autocontrole de divisas escassas permitir. Torna-se impr
Essa delimitação econômica construída pela manipulação dessas variáveis cados mundiais esc*
cria os principais marcos para a definição da base territorial nacionalizada, plano nacional dos ¿
condição material da (re)produção social. legal-institucionais
Entretanto, outras circunscrições serão decisivas para fixar o recorte construções ind
da escala nacional. Para além do dom ínio econôm ico sobre aquela esca Os direitos de j
la, outros fatores atinentes aos arranjos sociais, políticos e culturais nas legislações t
imprimirão algum grau de unicidade de propósitos a esse recorte. A lgu Por paradoxal <
ma comunhão de destino e alguma vontade compartilhada em relação importância n o ‘
ao futuro (Balakrishnan, 2000) são necessárias ao delineamento e cir- namento legal e do
cunscrição de qualquer escala “geográfica”. Assim, o nacional é espaço nacional. O aparato
de poder e arena privilegiada de constituição, enfrentamento e concer- “confinamento” da
tação de interesses, de alinham ento político m ínim o, para além das (obviamente que a
clivagens de frações de classe e interesses. A apreensão dessas múltiplas bilização” e/ou -
dimensões da questão desemboca, e é sintetizada e expressa, na questão A construção da
do pacto federativo que se arma nesse recorte nacional. Esse contrato se exercer controle,
sociopolítico dá coesão e sanciona a unidade nacional no interior de tralizar as deter
dado território. Retornarei a essa questão ao final deste capítulo. desenfreada, fis
Segundo Coutinho (2003a, p. 2), etc. O poder n a c k n ri
lizadas de acesso s
os Estados nacionais correspondem a configurações sociais, estruturas empre de enriquecimento
sariais, sistemas industrial-tecnológicos, bases de recursos naturais, geografia, Envolve ne
poder militar e grau de centralização específicos e têm de lidar com a inter- rano, circunscrição e
secção do arcabouço legal-institucional nacional com o funcionamento dos arranjos sociais,]
mercados mundiais [...] Embora tenha ocorrido a desnacionalização de vários ação, buscando
componentes da institucionalidade legal dos Estados nacionais, reduzindo-lhes
D eve aglutinar
o raio de manobra para operar políticas de regulação [...] a maior parte do
a solidariedade de '
aparato institucional dos Estados nacionais não foi ainda afetada por essa onda
de m odular s u a '
homogeneizadora, preservando-se uma ampla reserva de poder exclusivo nos
as pressões do centto
constituir e aperte
3 Como exemplo, poderiamos dizer que “o uso da âncora é um gesto de abdicação da soberania la nacional, ra
monetária. Há uma renúncia clara à prerrogativa de utilizar as políticas monetária, cambial
e fiscal como instrumentos de desenvolvimento. A defesa do valor externo da moeda — por subnacionais. D ecerto
meio da ancoragem numa divisa estrangeira — se torna o objetivo central da política ao qual perspectiva d a !
todos os demais devem se subordinar” (Belluzzo e Almeida, 2002, pp. 20-21).
1998, p. 63).
186
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E A S P O SSIB IL ID A D E S DE ESTR A TEG IA S
ido pela moeda espaços territoriais [que, porém,] precisam reforçar as suas condições objetivas
, na ausência da de independência ante esses mercados.
(determinar os graus
; permitir. Torna-se imprescindível o entendimento de que “a vigência dos mer
i dessas variáveis cados mundiais está assegurada pela inscrição e pelo reconhecimento no
al nacionalizada, plano nacional dos direitos capitalistas, ainda que esteja revestida de formas
legal-institucionais específicas. [...] Sistema mundial e Estados nacionais são
í para fixar o recorte construções indissociáveis, e não instâncias essencialmente antagônicas”.
>sobre aquela esca- Os direitos de propriedade são e continuarão sendo registrados e amparados
, políticos e culturais nas legislações específicas das instituições localizadas na escala nacional.
ta esse recorte. Algu- Por paradoxal que possa parecer, crescentem ente vem ganhando
íada em relação importância no “capitalismo desregulado” a discussão do papel do orde
>delineamento e cir- namento legal e do ambiente jurídico na definição do recorte da escala
, o nacional é espaço nacional. O aparato de regulação e a capacidade de “governança” que o
atamento e concer- “confinamento” da escala nacional permite nunca foram tão discutidos
10, para além das (obviamente que a maior parte desses debatedores propugna pela“flexi-
i dessas múltiplas bilização” e/ou desaparecimento dessas “normas impeditivas”).
re expressa, na questão A construção da escala nacional envolve a criação de dom ínio, de
íal. Esse contrato se exercer controle, moderar, disciplinar, e deve submeter e buscar neu
íal no interior de tralizar as determinações destrutivas e predatórias da mercantilização
I deste capítulo. desenfreada, fiscalizar, monitorar, regular, conter forças desagregadoras
etc. O poder nacional deve defender a criação de oportunidades interna
lizadas de acesso a bens e serviços e coordenar a abertura de horizontes
, estruturas empre- de enriquecimento nas fronteiras internas.
36naturais, geografia, Envolve necessariamente autonomia de decisão, de comando sobe
lde lidar com a inter- rano, circunscrição e geração de “centros internos de poder”. Engendra
lo funcionamento dos arranjos sociais, políticos e econômicos que imprimem unicidade na(da)
ionalização de vários ação, buscando superar clivagens regionais, culturais etc.
anais, reduzindo-lhes Deve aglutinar forças, articular a com plem entaridade produtiva e
a maior parte do
a solidariedade de interesses cruciais e desenvolver capacidade m ínim a
lafetada por essa onda
de m odular sua inserção externa, acum ulando potência para enfrentar
¿e poder exclusivo nos
as pressões do centro hegemônico. Deve, nesse embate, crescentemente
constituir e aperfeiçoar m ecanism os e instituições regulatórias à esca
e: ¿e abdicação da soberania la nacional, ram ificadas de form a descentralizada para as instâncias
epivilcas monetária, cambial
3bj: c externo da moeda — por subnacionais. D ecerto “a vitória da perspectiva da não-nação’ sobre a
: central da política ao qual perspectiva da Nação im põe uma dura luta política” (Benjamin et al„
re. rp. 20-21).
1998, p. 63).
187
TERRITÓ R IO E D ESENVOLVIM EN TO A r e a f :?3_-. .
Nesse contexto, torna-se fundamental resgatar, nesse debate com as Por fim, é b c — .-enmm
“forças da não-nação”, as contribuições de List (1841) sobre “sistemas eco processa na escala
nômicos nacionais de forças produtivas”, para que possamos demonstrar que nesse espaçe
que as economias nacionais não desapareceram e não se transformaram renda e da riqueza í esa
em meros “mercados” (mais ou menos emergentes ou não). Em seguida, ' - n »
O recorte nacional envolve necessariamente algum nível de autode dimensão co n tm eraL
terminação e autonomia, através da “internação dos centros dinâm icos”
de decisão, como sempre ensinou Furtado, que possibilite algum grau de 5- O nacional d¿
capacidade de disciplinar minimamente os circuitos, os fluxos e os m o
vim entos rápidos e voláteis de capitais especulativos. Portanto, envolve A extensão t
proteção e controle4 sobre os mecanismos “auto-reguladores” das forças m ultissetoriais e
mercantis. (produtivos e fin ara
O nacional não é plataform a hospedeira de plantas ou um m ero horizontal, extensrcn
espaço recipiente de atividades econômicas e capitais, com o quer nos de possibilidades dei
convencer o discurso liberal-conservador, que procurou vencer as sal excedente. O próprio 1
vaguardas e defesas da unidade nacional, propondo apenas sua substi las de produção. O j
tuição pela criação de ambiente sedutor dos investimentos. Segundo esse escala e escopo que a]
discurso, disciplina, só do Estado; resguardo, apenas da “boa conduta” podendo m inorar j
m acroeconôm ica e da redução das falhas de mercado para um ambiente desequilíbrios em *
m icroeconôm ico saudável. Quanto mais porosas as fronteiras nacionais, Acredito que ]
segundo esse “pensamento único”, m elhor seria. plexas articulações t
A lé m de ser espaço de acum ulação sob condições institucionais próprias naturezas *
dadas, a escala nacional é historicamente fixada e politicamente criada continental e he
e legitimada, ao resguardar, amparar e abrigar agentes “territorializa- de escala e escopoL 1
dos’Vlocalizados que são submetidos a normas, regras e parâmetros que escalas tecnopr
estabelecem um contraponto (também espacial), uma dualização entre diferentes escalas <
os agentes e interesses locais versus “os externos”. lidade, colocando e i
Lembrar tal conjunto de questões torna-se hoje obrigatório no debate “cruzamentos”.
nacional e internacional, posto que há uma crença, quase generalizada, O Brasil, c o m :
de que se poderia exercer controle e m odular as “variáveis” responsáveis urbana de m assas,;
pelo processo de desenvolvimento em qualquer escala, sobretudo nas econômicos, bases *
menores. Esse pensamento tem uma convicção de que, quanto menor a diversidade gcográficaui
escala de ação, mais eficaz ela será.4 de renda. Sua fuga ]
tal) recorrentem esari
la e complexidade,!
4 Lessa (1998, p. 219) apresenta detalhada discussão sobre o papel do controle e da “necessidade
de articular-se com uma macrounidade política, que regule as interdependências”. Furtado ocupados. E nsejam «
(1966), no mesmo sentido, analisa o papel de controle e coação das macrodecisões v is -à - v is
sua força justamente!
às microdecisões.
188
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E AS PO S SIB IL ID A D E S DE E STR A TEG IA S
: debate com as Por fim, é bom lembrar que a discussão do desenvolvimento que se
(sobre “sistemas eco- processa na escala nacional deve estar atenta aos caracteres distintivos
ios demonstrar que nesse espaço definem sua estrutura de propriedade, a distribuição da
► se transformaram renda e da riqueza, a estrutura de consumo de suas classes sociais etc.
inão). Em seguida, discuto possíveis implicações de a escala nacional ter
i nível de autode- dimensão continental.
tcentros dinámicos”
: algum grau de 5.1.2 O nacional de dimensão continental: porte e complexidade
, os fluxos e os mo-
. Púrtanto, envolve A extensão territorial dos mercados propicia diversificadas aplicações
lores” das forças m ultissetoriais e m ultirregionais de capital. A valorização dos ativos
(produtivos e financeiros) encontra diversas oportunidades na conquista
(plantas ou um m ero horizontal, extensiva de novos mercados, com um vasto leque regional
, com o quer nos de possibilidades de reprodução ampliada e de realização dinâm ica do
¡>u vencer as sal- excedente. O próprio tamanho do mercado pode perm itir ampliar esca
*apenas sua substi- las de produção. O porte dele potencializa a apropriação de ganhos de
tos. Segundo esse escala e escopo que a própria variedade geográfica dos mercados propicia,
189
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO a r ía ;
tunidades de inversão variada, inerentes aos bloqueios e estrangulamen 5.1.2.1 Economia arnsuí
tos desse processo, heterogeneidades produtivas e espaciais, acabam por estrutu'j. ~ i
e hetero;-:-^r, ¿ a a r 1
propiciar uma m ultiplicidade de aplicações de capital em diversificados
ativos.
Lembro aqm m
A própria idéia de especialização regional no Brasil torna-se pouco
do, com enorme
rigorosa, pois a diversidade produtiva está presente no continental país,
maior com plexión
criando oportunidades e fronteiras e horizontes de expansão capazes de
em uma economía
animar as inversões privadas, dadas pela própria form a de articulação
(e de proposta de pt
regional do m ercado interno. Explora complementaridades colocadas
diversidade social e t
pelas oportunidades desconcentradas do patrim ônio ambiental, mineral
utilizadas com o a ¡
e de qualidade de terras. Os efeitos articulados e as economias de rela
A teoria ecc
ção e de diversificação foram sempre decisivos para a extensividade de
todas as deter
nosso padrão de acum ulação.5 O crescimento “espontâneo”, “vegetativo”,
urbana complexa, i
“natural” do mercado de consumo urbano (e mesmo o rural moderno)
dispensado à firma 1
cum priu função importante. Efeitos induzidos pelo comportamento da
com pouca ou >
demanda corrente da rede urbana dispersa, e sua transmissão inter-re-
visão do u rb an o«
gional, sustentaram um mercado urbano em expansão vegetativa, com
dades e pessoas,;
demanda variada e reprodução ampliada por seu próprio porte.
firma, talvez tenha 1
Diversos grupos empresariais podem operar multiplantas no territó
no sentido de 1
rio nacional, com pondo diversas estratégias em localizações específicas,
minuciosas ]
orientadas por mercados regionais de consumo particulares, logísticas
Os estudos lo g ra ra m
privilegiadas, por acesso especial a fontes de matérias-primas, mão-de-
conjunto de ativos er
obra qualificada ou áreas de baixos salários e classe trabalhadora com
os padrões de <
baixa organização político-sindical etc.
de incerteza. Em ¡
Considero fundamental discutir esses efeitos multiplicadores e ace
principais do “m oda 1
leradores da dimensão continental da econom ia brasileira. É possível
Porém, quanto a o '
avançar no debate da facilidade da rotação do capital que o tamanho e a
de funcionam ento <
diversidade dos mercados propiciam. Com cadeias, redes mercantis e cir
Continuando <
cuitos produtivos longos, que o tamanho do mercado sempre garantiu,
mia urbana p o u c o ;
assegurou-se o dinamismo “horizontal” de vários setores e sancionaram-se
econom ia in d u strial t
circuitos de valorização da riqueza de várias formas e conteúdos.
foram importante». !
desvendaram o ;
na econom ia, de
e regionais pelo
5 O funcionamento da máquina capitalista de crescimento algo “artificial” teve um de seus
fundamentos na extensividade da acumulação sempre em busca de fronteiras geográficas
resultou que a
ou econômicas desta “civilização predatória de desenvolvimento não sustentável” (Furtado, interpretativos.
1992a).
190
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E AS P O SSIB IL ID A D E S DE E STR A TEG IA S
191
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO á r e a ?:;:. - :
A cidade com o form a de organização socioprodutiva pouco foi estu mas não tem, v r -; -re
dada. Os autores do mainstream se concentraram no que eles chamam de trabalho e de ¿ci
de fundamentos econôm icos da cidade, sobretudo discutindo as razões economia. Assim. :
do surgimento dos processos aglomerativos e de sua cumulatividade. Ou o espaço de lutas r*:
seja, com eçam perguntando-se sobre a origem do fato urbano; passam aos m eios de couszomm
a estudar as vantagens e custos de aglomerar-se, e daí deriva a pergunta o espaço dos fluxo» 1
“qual o tamanho ótim o de uma cidade?”, e desembocam na discussão do cumpre papel de
urbano com o cam po de disputa das forças centrípetas e centrífugas. A espaço da “unidade«
partir daí, realizam um eterno balanço e tentativa de m edição das eco pp. 117-19) afirma»
nomias e deseconomias externas que essa form a aglomerada de pessoas
e atividades proporciona. C om o tempo, diria, grande parte da “fronteira” para compreender a 1
da “ciência urbana e regional” foi-se deslocando da teoria da produção enção aos estudos 3
(discussão de eficiência que o tamanho ótimo da cidade possibilitaria) a real significação da .
para o campo das m edições dos níveis de bem-estar social que o espaço A circulação dos ]
uma total expressão^
urbano propicia.
passou a ser um daáo i
Conform e deve ter ficado esclarecido no capítulo 2, existe total im
economia. Houve.:
possibilidade de uma teoria, com alto nível de abstração, do crescimento
urbano é a eronomâT
urbano, mas seria conveniente lembrar alguns dos mecanismos de que
o espaço urbano dispõe em sua reprodução. Essa breve nota cumpre
O espaço urinam.*
aqui 0 papel de ressaltar determinações que são reforçadas em espaços
câmbio e 0 consuma, 1
nacionais de dimensão continental, como o brasileiro.
produtivo e do >
O item da agenda de estudos e reflexões aqui lembrado não aban
e de rotação.
dona 0 inerente enfoque multidisciplinar que deve presidir as pesquisas
Perroux (1964, jli
urbanas, mas assevera a hipótese de que, na literatura existente, faltam
que, nos
determ inações e m ediações importantes. D iria que “faltam nas duas
vias” : do econôm ico para 0 urbano e do urbano para o econômico. A
complexos ge
econom ia urbana tradicional é mais um estudo sobre custos de loca efeitos de intei
lização do que sobre geração de produto, renda e emprego. Faltam es aos contatos hnmumo J
tudos dos impactos, por exemplo, de políticas m acroeconômicas sobre sumidores de <
diferentes espaços urbanos. Faltam análises sobre os desdobramentos e necessidades c o k t ñ w l
as implicações, sobre a rede urbana, por exemplo, da passagem de uma dos negócios vem í
m acroeconom ia do emprego e da renda para uma m acroeconom ia da há tipos de produfea»«
riqueza patrim onial e financeira das econom ias urbanas complexas. e eventualmente]
Essa passagem ocorreu no Brasil, mas ainda não foram estudados seus qualificados, quadro»i
impactos urbanos/regionais.
A cidade é a sede e o ambiente da reprodução das classes, da atividade Utilizando 1
produção, distribuição, troca e consumo. A trai massas populacionais, economia urbana i
192
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E A S P O SSIB IL ID A D E S DE ESTR A TÉG IA S
i pouco foi estu- mas não tem, geralmente, capacidade suficiente de geração de postos
>que eles chamam de trabalho e de absorção dessas pessoas nos circuitos m odernos da
ícutindo as razões economia. Assim, o urbano é também locus da geração de demandas e
icnmulatividade. Ou o espaço de lutas políticas dos estratos sociais que reivindicam acesso
ifetio urbano; passam aos meios de consumo coletivo e inserção no mercado de trabalho. E
í deriva a pergunta o espaço dos fluxos emanados de diversas frações do capital. Também
t na discussão do cumpre papel de acelerar tais fluxos e agiliza o ritmo desse verdadeiro
. e centrífugas. A espaço da “unidade do diverso”, que é o urbano. M ilton Santos (1994c,
: medição das eco- pp. 117-19) afirma que
erada de pessoas
rparte da “fronteira” para compreender a economia de um país, é necessário dar uma enorme at
i teoria da produção enção aos estudos urbanos e buscar a metodologia mais adequada para captar
6cidade possibilitaria) a real significação da cidade, da rede de cidades, do território e da Nação [...]
rsocial que o espaço A circulação dos produtos, das mercadorias, dos homens e das idéias ganhou
uma total expressão, dentro do processo global de produção, que a urbanização
passou a ser um dado fundamental na compreensão do funcionamento da
' 2, existe total im-
economia. Houve, mesmo, um geógrafo, Roger Lee, a afirmar que “o sistema
, do crescimento
urbano é a economia”.
i Mecanismos de que
i breve nota cumpre
O espaço urbano, como ambiente construído para a produção, 0 inter
adas em espaços
câmbio e o consumo, pode encurtar os ciclos do capital-dinheiro, do capital
produtivo e do capital-mercadoria, aumentando suas taxas de circulação
i lembrado não aban-
e de rotação.
í presidir as pesquisas
Perroux (1964, p. 174) também apresenta posição semelhante e afirma
: existente, faltam
que, nos
“faltam nas duas
lo econômico. A
complexos geograficamente concentrados e em crescimento, registram-se
► sobre custos de lóca efeitos de intensificação das atividades econômicas devido à proximidade e
l e emprego. Faltam es- aos contatos humanos. A concentração industrial urbana cria tipos de con
sconômicas sobre sumidores de consumo diversificado e progressivo [...] surgem e encadeiam-se
í desdobramentos e necessidades coletivas (alojamento, transportes, serviços públicos). Ao lucro
t ¿2. passagem de uma dos negócios vêm sobrepor-se rendas de localização. Na ordem da produção,
lacroeconom ia da há tipos de produtos que se formam, inter-influenciam, criam as suas tradições
zrbanas complexas, e eventualmente participam num espírito coletivo: empresários, trabalhadores
firam estudados seus qualificados, quadros industriais.
193
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO a r e a ?:?j _-: -i
194
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¡ vezes, justificar criam oportunidades diversas para múltiplas frações de classe. Múltiplas
adrar oportuni- demandas intersetoriais e complementaridades produtivas possibilitam
>de apropriação, ou o que Aníbal Pinto (1976, p. 49) denom inou de “avanço não uniforme,
ecapacidades ocultas, mas manifesto através do surgimento de focos ou ‘setores líderes’ que
¡ambiente urbano arrastam’ os demais”.
sempregadoras de Cum priu papel decisivo nesse processo o Estado, que m ontou gran
rponderável, para des sistemas nacionais de capital social básico (energia, transportes,
sta form a um armazenamento e telecomunicações), que tinham grande coordenação
: de criação de e sinergia entre si, cum prindo papel importante no direcionamento dos
i e combinações, núcleos, pólos e hinterlands que a rede urbana foi tomando. A o mesmo
Igrau de autonomia tempo em que engendrava, nesse processo, efeitos cumulativos, determi
, a densidade e a nava certa rigidez para futuros m ovimentos da acumulação de capital ao
Loxno demonstrado longo dessa rede. A rede de infra-estrutura contribui para cristalizar no
i social. espaço certa inércia da rede urbana, sobretudo em um país gigantesco
r: a economia que ainda possui áreas de baixa ocupação populacional.
urbana como Considero ser consensual no debate urbano-regional brasileiro que
a tradicional escala macrorregional, das cinco grandes regiões, foi per
t que se vão desen- dendo sentido analítico, nas últimas décadas. É preciso trabalhar com
ão territorial do novos “recortes escalares”.
: de destruição Para avançar nos estudos da dimensão espacial de nosso subdesen
¡.segmentos inteiros volvim ento, afirmaria que o urbano é uma escala específica (também
ada corrente da contendo outras escalas intra-urbanas), sendo a rede urbana outra.
t lu d á is da cadeia de Especialmente em um país continental, o estudo não conservador da
c u b a n o s que perpas- estrutura e dinâmica de sua rede urbana é decisivo para que se entendam
i mais de cinco mil a reprodução social e as diferentes escalas espaciais em que se processa
f u b -red es regionais. o desenvolvimento de suas forças produtivas. Ressaltamos aqui o dina
■ s continental que mism o intrínseco aos processos que se desenrolam em um ambiente de
s regionais e urbanos diversidade urbana. Uma rede de cidades com diversos tamanhos e tipos,
, demográficas, submetida a diferentes lógicas que variam por classe de tamanho, no
tempo e no espaço, conduz a que as decisões de inversão, individuais e
io sobre os es- agregadas, se tornem múltiplas, tendo a dispersão espacial e diferenciação
ser ocupados, de produtiva possibilitado estratégias de valorização múltiplas.
>* c por ampliação, e Quando essa multiplicidade urbana vem associada, como no Brasil,
a uma diversidade econôm ica e social enorme, várias determinações são
* >uas características colocadas para o processo de desenvolvimento.
•i ros-^ores a enveredarem País com estrutura produtiva diferenciada e densa que, poderia afir
rae parte da atividade
mar-se, logrou tardiamente a convergência com os padrões técnicos e
195
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO A rea ? :? , -
196
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E A S P O S SIB IL ID A D E S D E ESTR A TEG IA S
ação Industrial, do Sudeste era acom panhado paralelamente pelo crescimento das re
i tempo, o Brasil é giões menos dinámicas. Entretanto, esse crescimento regional, bastante
i estrangeiras e pela generalizado, era subordinado, pois complementar, ao de São Paulo, não
s, conformando sendo possível à periferia alcançar a mesma complexidade em termos de
: serem aglutinados, dinâm ica intersetorial que a indústria paulista alcançou.
„social e territorial A partir desse período anterior de “complementaridade expansiva”,
vigente até meados da década de 1980, tivemos inconsistentes surtos loca
io oligopólicas lizados de crescimento em algumas regiões e em alguns setores produtivos,
i « b a ñ a complexa, ampliando ainda mais as heterogeneidades e assincronias nas decisões de
: possibilidades de investimento. Há hoje disritmias e descompassos entre decisões públicas
das estruturas e privadas de inversão. Esse é um constrangimento fundamental, pois
: proporcional da in- antes o Estado impunha sinalização, coordenava, regulava e procurava
i podem abrir possi- dar sintonia a essas decisões. Isso implicou enorme perda de capacida
■ dos avanços das de de coordenação por parte do Estado e de indução do investimento
les de “coexis- privado. A inda mais, “o trânsito de uma atividade dominada pelo Estado
>mútuo das ri- para o controle do setor privado tem determinado uma variedade muito
i da capacidade grande de situações em razão da natureza da atividade, da estrutura da
propriedade e da concorrência, o que tem significado uma dispersão das
¡ económ icos e performances que acentua o caráter assincrônico do investimento nos
(«sistêmica perante vários segmentos da economia” (Carneiro, 2002, p. 356). Acrescentaria
tou-se, no p e n que esse grande leque de desempenhos diversificados apresenta também
osas (presentes nítido corte regional e por sub-redes urbanas regionais.
i e m odernizariam No entanto, o quadro de mudanças na divisão inter-regional do tra
balho, que é permanente, por sua natureza intrínseca, não poderia mudar
(capítulos anteriores, a natureza estrutural das articulações entre 0 núcleo central da acum u
ip u s que passou por lação de capital do país (São Paulo) e o resto da econom ia nacional. O
1praticou grande processo em curso não rom peu os elos antes existentes entre o centro e a
nial que logrou periferia nacionais. Apesar do crescimento m edíocre e desarticulado dos
io e expansão anos recentes, a dinâm ica regional brasileira se mantém sob o comando
► a soldagem das da econom ia paulista, com a persistência de relações centro-periferia.
i encnplementar idade Permaneceu uma divisão inter-regional do trabalho a partir do núcleo da
czpital do país (São acumulação de capital no país, que concentra os segmentos mais im por
racáo articuladora”7 tantes e estratégicos da estrutura produtiva nacional e, particularmente,
rento industrial os setores industriais mais m odernos dos grupos de bens de consumo
es - ¿o crescer imprimía
: crescimento aos seus mulação fosse concentradora, em seus resultados concretos, articulava, entretanto, também
:*:rr a dinâmica de acu o crescimento regional” (Cano, 1991, p. 313).
197
TERRITÓ R IO E D ESEN VOLVIM EN TO A rea .-:?
198
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E AS P O SSIB IL ID A D E S D E E S TR A TE G IA S
199
TERRITO R IO E D ESENVOLVIM ENTO a rea ? :j _
200
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E A S P O S SIB IL ID A D E S D E ESTR A TEG IA S
ilerá que enfrentar, tirado à força, destruindo privilégios. Assim, realizar a gestão de projeto
i essas coalizões desenvolvimentista significa, em qualquer escala, “m exer com caixas de
as estruturas vespas”, “colocar o dedo nas feridas”, não tampar feridas ou “usar anal
r, em patrimonio gésicos”, mas tensionar permanentemente. É distorcer a correlação de
¡ forcas do atraso forças, im portunar diuturnamente as estruturas e coalizões tradicionais
de dominação e reprodução do poder. É exercer em todas as esferas de
poder uma pressão tão potente quanto aquela das forças que perenizam
o subdesenvolvimento.
I E C O N O M IC O É nesse sentido que se deve pensar o processo de desenvolvimento
e não no sentido de que se segue em uma trajetória “natural” rum o ao
; conservadoras “Prim eiro M undo”, idéia que grassou no Brasil em todos os governos da
rolvimento não década de 1990.
t agravar (tendo alta
[intervenção pode- Temos a prova definitiva de que o desenvolvimento econômico — a idéia
; e discursivas de que os povos pobres podem algum dia desfrutar das formas de vida dos
ação crítica que atuais povos ricos — é simplesmente irrealizável. Sabemos agora de forma
i adequado sen- irrefutável que as economias da periferia nunca serão desenvolvidas, no sen
tido de similares às economias que formam o atual centro do sistema capi
ir, se está falando
talista [...] Cabe, portanto, afirmar que a idéia de desenvolvimento econômico
i publicas em duas
é um simples mito (Furtado, 1974, p. 79).
201
A REA
TERRITO R IO E D ESENVOLVIM EN TO
em uma situação em que alguns poucos “nichos decisorios” estão inter da divisão social c : r
as escalas espa;
nalizados e a maioria sob controle externo, e em que há o progressivo
estreitamento dos horizontes temporais (e da legitimidade) para as ações relações, processe* t
volvim ento é uma malformação estrutural com grande capacidade de forças hegemônicas. _
persistência, cum ulatividade e reprodução. É uma situação de atraso força coercitiva oe
tradicionais de dom inação. C onstruir o verdadeiro cam inho para o uma determinada
der seu leque de oportunidades, requer o enfrentam ento em várias tes que trava a ]
É nesse sentido que ganhar espaço de atuação e comando, com maior internacional O a
produtiva etc. brasileiras.9 É preciso entender com o as forças conserva maiores potenc
Desgraçadamente, tal visão vai totalmente contra a corrente teórica e verdaderam ente,
localistas (apresentadas no primeiro capítulo), que grassam hoje nos am construção de <
bientes intelectuais e políticos, trazem uma visão de uma endogenia local à cidade, à região e ã
exagerada, não reconhecendo essa complexidade social. Tais abordagens alianças conser
s” estão inter- da divisão social do trabalho no capitalismo (que flui e se impõe em todas
há o progressivo as escalas espaciais), realizando o enquadramento e hierarquização de
■ ) para as ações relações, processos e estruturas, a partir dos núcleos centrais de poder e
de decisão. Conform e vim os, o real poder de iniciativa, de “endogenia de
o, o subdesen- desenvolvimento”, é limitadíssimo. Distorcer determinada correlação de
capacidade de forças hegemônicas, posta em determinado tempo-espaço, é enfrentar a
atuação de atraso força coercitiva de determinado “bloco histórico” com enorme direção
suas estruturas persuasiva cultural-ideológica sobre o conjunto, exercida no interior de
cam inho para o urna determinada aliança.
construir e esten- No caso do Brasil, tal aliança é marcada por um pacto férreo das eli
ento em várias tes que trava a perspectiva de avanço material e civilizatório e bloqueia
, que se traduza os processos de inclusão social e construção de cidadania. Constranger
,eem apropria- e estorvar as principais cláusulas desse pacto é tarefa que pode e deve
ser travada no local, nos espaços regionais, em âmbito nacional e até
ndo, com maior internacional. O u seja, para tal enfrentamento não há escala espacial
riamente tratar boa ou ruim . Todas têm instrum entos e ações distintos e devem ser
, social, cultural, assim manejadas. É essa perspectiva, aqui chamada transescalar, com
m forças conserva- maiores potencialidades do que a mera ação multiescalar, que discuto
' e regional “dos de mais à frente.
■ »
OW TLa . Apenas ao ir desmontando as forças do atraso estrutural é que se pode,
acorrente teórica e verdadeiramente, falar em inclusão social. Alcançar, envolver e abarcar
As interpretações a massa social majoritária da população em um processo consistente de
i hoje nos am- construção de cidadania envolve arrancar politicamente, “à força”, o direito
i endogenia local à cidade, à região e à nação. Essas e outras “escalas” estão entregues às
.Tais abordagens alianças conservadoras aludidas. Por isso, muitas políticas de inclusão,
; um determinado de caráter caritativo e paternalista, acabam tendo o efeito de reforçar tal
envolvimento, pacto interno de dominação.
é preciso analisar os O debate deve ser realizado com consciência das lim itações do cres
os centros de de- cimento econôm ico para, automaticamente, incluir os excluídos; com
e negar dominio de uma boa crítica à visão dicotôm ica política econôm ica versus políticas
careza da potência sociais e não deve resvalar para uma discussão econom icista de “falta de
dinamismo” para gerar emprego e renda,10a fim de possibilitar a inserção
orgânica dos excluídos, mas deveria partir das alternativas concretas de
zc s u b d e s e n v o lv im e n to ,
: i r r i o r i z a ç ã o à s a tis -
10 F lo r e s ta n F e r n a n d e s (19 6 8 , p . 16 2 ) d e ix a c la r o q u e “ m e s m o u m a e s fe r a e s tr a té g ic a , c o m o a d o
. ¿ p re s e rv a ç ã o d e sta c r e s c im e n to e c o n ô m ic o , n ã o p o s s u i p o d e r p a r a a lte r a r a s d e m a is e s fe r a s , se a in te r v e n ç ã o
:M l: : : ¿ r r i t ó r i o n a c i o n a l ” a s s u m i r u m c a r á t e r c o n c e n t r a d o e u n i l a t e r a l ”.
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO A REA
construção de cidadania, dignidade, segurança e proteção, com radica- Essa é a granee oxea^
lidade democrática. histórico de am ru ¿
A grande questão é se perguntar: O que pode significar a persistên e a refundaçãc
cia secular de uma sociedade cindida entre uma grande maioria que se anos de atraso esen
localiza subordinadamente na sociedade, configurando uma verdadeira burocráticos.
massa de não-cidadãos e uma pequena minoria privilegiada que goza da Nunca as dive
prerrogativa de acesso a direitos civis e garantias sociais plenos? urbanas e rurais
Uma resposta a essa questão fundamental nos é dada por Florestan com o desequilibrios, a
Fernandes (1968, p. 163). Torna-se impossível para a construção de uma nôm ica imposta ao »
sociedade nacional manter parcela tão expressiva da população jazen cuja lógica ap on to:
do condenada a perm anecer à m argem dos processos de integração da criatividade Tios a
social, Nesse contexto, c I
envolvam um
banidos de suas estruturas de poder. Nenhuma sociedade nacional pode existir, requerer o resgate a
sobreviver e ao mesmo tempo construir um destino nacional em tais bases. A pativas, pedagógicas c j
destruição de estamentos e grupos sociais privilegiados constitui o primeiro Tais desafios, <
requisito estrutural e dinâmico da constituição de uma sociedade nacional.
rados por teorias a
Onde esta condição histórica não chega ou não pode concretizar-se histori
e realizar o eterno 1
camente, também não surge uma ação e, muito menos, uma Nação que possa
isto é, o que é noto
apoiar-se num “querer coletivo” para determinar, por seus próprios meios, sua
que o capitalismo, a
posição e grau de autonomia entre as demais sociedades nacionais do mesmo
apurou seus
círculo civilizatório. Sob este aspecto, a democratização da renda, do prestígio
social e do poder aparece como uma necessidade nacional. É que ela — e heterogeneidades e ¡
somente ela — pode dar origem e lastro a um “querer coletivo” fundado em e geográficas”
um consenso democrático, isto é, capaz de alimentar imagens do “destino pacidade de ser m
nacional” que possam ser aceitas e defendidas por todos, por possuírem o regionais e lo ca is«
mesmo significado e a mesma importância para todos [...] Portanto, desde que sem constrangíma
se veja o desenvolvimento como “problema nacional”, o diagnóstico e a atuação que, quem quer qnej
prática implicam “querer coletivo” polarizado nacionalmente. aperfeiçoe sua a
Nesse contextos
temáticas e devem j
5.3 O D E S E N V O L V IM E N T O E SUAS E S C A L A S : D E S A F IO S
P A R A A IM P L E M E N T A Ç Ã O D E P O L ÍT IC A S
escalares. É ne
nova ação, ror
O grande desafio da proposta multiescalar é aprender a tratar dialetica- entre “o económ ico'
mente as heterogeneidades estruturais (produtivas, sociais e regionais) versus “cidadania” d
de um país continental, periférico e subdesenvolvido, com o o Brasil, a É preciso romper*
fim de fazer operar essa sua imensa diversidade e criatividade no sentido mais pobre”, a fim dei
do avanço social, político e produtivo. de renda. As políticas ]
204
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E A S P O S SIB IL ID A D E S D E ESTR A TEG IA S
, com radica- Essa é a grande questão que deve atormentar nos neste m omento
histórico de amplas possibilidades de iniciar a reconstrução nacional
: a persistén- e a refim dação da nação em novas bases, negando e enfrentando 500
: maioria que se anos de atraso estrutural e ação deletéria de nossas elites e seus quadros
► am a verdadeira burocráticos.
ada que goza da Nunca as diversidades produtivas, sociais, culturais, espaciais (regionais,
; plenos? urbanas e rurais) foram usadas no sentido positivo. Foram tratadas sempre
téaóa. por Florestan com o desequilíbrios, assimetrias e problemas. A equação político-eco
■ construção de urna nôm ica imposta ao país pelo pacto de dom inação oligárquico das elites,
i população jazen- cuja lógica aponto muito sintéticamente neste texto, travou o exercício
; de integração da criatividade “dos de baixo”, procurando im pedir sua politização.
Nesse contexto, é fundam ental construir táticas e estratégias que
envolvam um processo delicado de aprendizado conflituoso, que irá
anal pode existir, requerer o resgate da lógica do projeto e das ações planejadas, partici
í em tais bases. A pativas, pedagógicas e politizadas.
sconstitui o primeiro Tais desafios, dados seu vulto e complexidade, devem estar bem ampa
lsociedade nacional,
rados por teorias críticas. A análise deve buscar determinações profundas
cc — crctizar-se histori-
e realizar o eterno balanço entre ruptura e continuidades históricas,
t Nação que possa
isto é, o que é novo e o que é recorrência no m omento atual. O certo é
i próprios meios, sua
que o capitalismo, com o sempre o fez, nos últimos anos aperfeiçoou e
s«acionais do mesmo
apurou seus instrumentos de ação, aprendeu ainda mais a m obilizar as
renda, do prestígio
. É que ela — e heterogeneidades e as diversificadas “forças sociais, históricas, culturais
rooietivo” fundado em e geográficas” dispersas, dando-lhes a sua coerência. Aprim orou sua ca
rn a g e n s do “destino pacidade de ser multi ou transescalar, isto é, utilizar as escalas nacional,
. por possuírem o regionais e locais em seu próprio benefício, isto é, o do ganho rápido e
Portanto, desde que sem constrangimentos “escalares”. Se o sistema esmerou sua ação, é preciso
jstico e a atuação que, quem quer que procure controlá-lo e transformá-lo, faça o mesmo:
aperfeiçoe sua capacidade de promover ações também multiescalares.
Nesse contexto, as ações políticas devem ser mais ágeis, potentes, sis
temáticas e devem ser empreendidas simultaneamente em várias direções
escalares. É necessário capacidade de aprendizagem para engendrar essa
nova ação, rompendo as visões compartimentadas e as falsas dicotomias:
• 3. tratar dialetica- entre “o econôm ico” versus “o político” versus “o social”; entre “produção”
>:ciais e regionais) versus “cidadania” etc.
r õ : . como o Brasil, a É preciso romper com a nova m oda das políticas sociais de “caça ao
cdade no sentido mais pobre”, a fim de focalizá-lo melhor para contemplar sua insuficiência
de renda. As políticas públicas devem ser universalidadoras de cidadania
205
TERRITOR IO E D ESEN VOLVIM EN TO A R E A FIR M A :
206
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E A S PO S SIB IL ID A D E S DE ESTR A TEG IA S
207
TERRITOR IO E DESENVOLVIM EN TO A r e a jij :-. -
208
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E A S PO S SIB IL ID A D E S D E E S TR A TE G IA S
io, amplamente
Em suma, “a contractualização das políticas públicas introduz no pro
. objetivando a tão
cesso decisorio a necessidade de articulação entre esses diferentes centros
. e equidade. Há
¡cabe aos municipios não hierarquizados de decisão, seja para definir em conjunto os objetivos
e as estratégias prioritárias para a região, seja para implementar as ações
ade de assegurar
previstas, inclusive o seu financiamento” (Jaccoud, 2001, pp. 12-13).
ijBSto balanceamento
Tais experiências procuram contornar as graves disfunções acarre
, U m exemplo
tadas pelas com petências superpostas, procurando dar transparência
ação de aterros
ao conflito de interesses,13 buscando m aior coesão e solidariedade no
sentido do desenvolvimento regional.
¡éxito em aumentar
Vão sendo construídos, assim, politicamente, reforços nas relações
ra ações isoladas dos
de horizontalidade (na m esm a escala) e de verticalidade (nas escalas
ido para aumen-
abaixo e acima daquela em que se implementa a política). Explicitam-se
>níveis de governo
as relações de oposição/contradição/complementaridade presentes em
das conjuntas que
determ inado território, podendo assegurar novo patamar de convívio
. de competência
de escalas, níveis e esferas, lançando m ão de variados instrum entos,
politizando as relações, construindo cidadania e buscando combater as
i c necessária, mesm o
coalizões conservadoras, que procuram preservar seus privilégios naquela
interm unicipais
escala restrita sob seu domínio.
os problem as do
Romper com as forças desarticuladoras e os pactos de dom inação
, como tem sido
interna e estabelecer estímulos à identidade/diversidade/diferenciação
i « tre m a carência de
é tarefa longa e difícil, que deve, em seu percurso, ser pedagógica, pro
rbadas.
curando orientar as classes subalternas a lutar pela publicização do Es
. É preciso enfren -
tado, repolitizando as administrações públicas, para, através de decidida
>e ¿as esferas de poder
pactuação federativa, republicanizar o Brasil.
209
TE R R ITÓ R IO E D ESEN VOLVIM EN TO A R I A ? : .- - . •
e cruzam entos realizados), para realizar sua síntese em uma política têm avançado bascaiat i
de desenvolvimento que alargue os horizontes de possibilidades e seja visão “uniescalar’ rã » j
inclusiva socialmente. neo e continental pa
Conform e já afirmamos, políticas multiescalares podem apreender certo nível d e ;
dialeticamente as heterogeneidades estruturais de nossa nação subdesen do mundo. Destaco <
volvida, resgatando a força da diversidade e criatividade, historicamente da administração dial
atingidas pelas elites conservadoras e, mais recentemente, pelos vários coesão do espaço <
anos de neoliberalismo. construído a escala 1
Essa tentativa de construção de uma alternativa que maneje bem as gerou nova re
escalas tem sido trabalhada por alguns autores. Carlos Vainer14 lançou qual a escala em *
o debate dessa perspectiva teórica e analítica no Brasil. Swyngedouw cíficas etc. A :
(1997) analisou vários eventos que ocorrem em uma escala e têm im nas lutas políticas ;
plicações e conseqüências em outras. Muitas vezes, independentemente Social Mundial, i
de qual é o sítio em que ocorre um evento, seus efeitos são sentidos em esquerda em escalai
diferentes níveis escalares. Esse autor contribuiu também para definir de políticas de
que as escalas são produzidas e não dadas. Sustenta que “a escala não mais completa d e i
está ontologicamente dada, nem constitui um território geograficamente a antiguerra fiscal i
definível a priori”. São configurações “cujos conteúdos e relações são ções, com grande i
fluidos, contestados e perpetuamente transgredidos”. “Scale becomes the nacionais, de
arena and moment, both discursively and materially, where sociospatial Em síntese, 1
pow er relations are constested and com prom ises are negotiated and que, reunindo
regulated.” Escala, assim, é, simultaneamente, resultado e conseqüência de estratégias de *
210
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E A S P O S SIB IL ID A D E S DE E S TR A TE G IA S
211
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO A r e a ? :j: .-
Em um país onde não se processou “o desenvolvim ento de forças do benefício ----—.n. jua
produtivas m odernas, nem desenvolvim ento de direitos sociais”, que e com c o n tr a p ír r o i m ri
terra, à educação e ao trabalho, um a das prim eiras m anifestações dessa senvolvim ento >:o:«ea
desconstrução nacional se revela no esgarçamento do pacto federativo, resgatar a p o tén cü T ia
desorganizando as articulações já frágeis entre o poder central e os lham os as heterc*eeara
poderes locais/regionais. N esse contexto, reafirm a-se a necessidade uma idéia equivocará*,
e a urgência de se resgatar a perspectiva de se pensarem verdadeira a nossa desigualõaãe m
mente as heterogeneidades estruturais (produtivas, sociais e espaciais) todas essas a ssim e a o n
de países com o o Brasil, em processo de desconstrução nacional e de um país continemaü wm
esgarçam ento de seu já historicam ente frágil pacto federativo. Para
se pensar o fortalecim ento da federação, é preciso encarar a questão
com plexa de que, no caso brasileiro, “um dos fatores constitutivos da
organização federal de nosso Estado é, tam bém , um a am eaça à sua
existência” (Affonso, 2000, p. 132), ou seja, a diversidade regional e a
m arginalização de uma imensa m aioria da população, quando se trans
form am em assim etria extrema, podem desem bocar em processos de
fratura, inclusive federativa.
Nesse sentido, para se pensar a repactuação federativa e a construção
de um patam ar m ínim o de homogeneidade social, com o pré-requisi
tos de um reerguim ento da escala nacional de desenvolvim ento, será
preciso utilizar as pulsões virtuosas de tam anhas assimetrias, mas de
positiva criatividade e diversidade que a econom ia e sociedade brasi
leiras possuem .
Certam ente as questões da m oradia, transporte, educação, saúde,
segurança alimentar, entre outras, devem avançar do mero atendimento
aos interesses materiais mais imediatos à construção de cidadania, ainda
mais quando estão inseridas em um a estrutura urbana heterogênea,
pobre, patrim onialista e predatória com o a brasileira, em que a cidade
acabou tornando-se “agente de reprodução de desigualdades”. O tecido
urbano nacional está cindido entre a parcela da cidade onde vigem os
estatutos legais, rica e com infra-estrutura, e a ilegal, pobre e precária.
A tarefa é inserir parcela crescente desse tecido social e urbano na ci
dadania plena, construindo a justiça social, garantindo 0 acesso a bens
e serviços públicos, que seja educativa, isto é, que sua im plem entação
represente um m om ento pedagógico da política pública de proteção
social. O u seja, as ações, para além da provisão de necessidades básicas,
212
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E A S P O SSIB IL ID A D E S DE ESTR A TEG IA S
a e a construção
com o pré-requisi-
desenvolvim ento, será
assimetrias, mas de
e sociedade brasi-
. educação, saúde,
áo mero atendimento
de cidadania, ainda
m bana heterogênea,
, em que a cidade
Idades”. O tecido
¿¡¿ade onde vigem os
-gíL pobre e precária,
social e urbano na ci-
“ do o acesso a bens
ia implementação
rublica de proteção
necessidades básicas,
213
Epílogo
215
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO
1
ciplinaridade deve ser fundante do debate territorial. É preciso alargar o dom ínio e coe rei:- re
ângulo de visão, tendo radicalidade e buscando as especificidades, mas hegemônicos impõem
sem praticar a crítica paralisante. Envolve, em
Promover políticas de desenvolvimento significa distorcer a correlação tituição e a repro
de forças políticas em benefício da maioria. Discutí como na escala nacional preciso apreender ís
é preciso combater a heteronomia e buscar construir centros internos de diversos cortes
decisão. Em países como o Brasil, é necessário reconstruir a própria escala dos grupos econò:
nacional, ou melhor, as escalas intermediárias entre o local e o global, posto dos capitais e as for
que as políticas neoliberais (e as estratégias discursivas de seus defensores) regionais e urbana»
são destruidoras dessas escalas. As heterogeneidades e vulnerabilidades estru Com o o subdesoM Êi
turais exacerbaram sobremaneira nos últimos anos e o pacto de dominação ja ensinavam os g
interno se enrijeceu e revelou ainda mais seu caráter histórico. dificilmente rev<
É nesse sentido que propus, ao longo deste trabalho, que entender a trapostas por forças ]
dimensão territorial do processo de desenvolvimento passa necessaria final deste livro, ■
mente pelo entendimento da natureza da hegem onia do bloco de poder dupla frente: aqueia i
das diversas frações capitalistas, discutindo com o as elites territoriais- processos.
mercantis e as cosmopolitas têm conduta que trava a cidadania, a cria Muito há que se *
tividade cultural e os direitos, a fim de manter seus privilégios. Com o hegemonias d o ;
W ilson Cano já nos ensina, há décadas, o poder das lógicas arcaicas dos ção, participação, 3
polim órficos capitais mercantis (especulativas, usurárias, imobiliárias nova hegemonia, a j
etc.), na m aioria das vezes, paradoxalmente harm onizadas com as dos de dom inação
“capitais m odernos”, é o grande responsável pelo nosso atraso estrutural nas menores...
político, regional, produtivo e social.
Considero que espaço urbano é o locus privilegiado para essa inves
tigação. Em uma sociedade subdesenvolvida, com o a brasileira, desigual
e amplamente urbanizada, com poderosas forças simultâneas de interio-
rização e metropolização, o estudo do “urbano complexo” em um espaço
nacional continental, com o ambiente construído para a produção, o
intercâmbio e o consumo, ou melhor, o sítio da reprodução das classes
sociais, é decisivo para elucidar a dimensão espacial do subdesenvolvi
m ento brasileiro.
Entender a especificidade de “um urbano” e de “um regional” é se
perguntar pela capacidade de decisão internalizada naquele determinado
recorte espacial. A dimensão espacial envolve necessariamente o estudo
do grau de internalização dos centros de comando e decisão; a análise
da natureza das hierarquias (impostas em diversas escalas) de geração e
apropriação de riqueza material; e a pesquisa da capacidade de direção,
216
EP ÍL O G O
. É preciso alargar o dom ínio e coerção, de erigir o “consentim ento ativo” que os centros
sespecificidades, mas hegemônicos impõem aos espaços subordinados.
Envolve, em suma, analisar a form a histórica que tomaram a cons
i distorcer a correlação tituição e a reprodução das classes sociais em sua expressão espacial. É
>na escala nacional preciso apreender as formas de reprodução da riqueza, estudando em
• centros internos de diversos cortes (mais criativos do que os usuais): das fortunas pessoais,
■ a própria escala dos grupos econômicos etc., procurando desvendar a lógica de valorização
»local e o global, posto dos capitais e as formas de estruturação do poder político nos espaços
>de seus defensores) regionais e urbanos brasileiros.
bilidades estru- Com o o subdesenvolvimento, sob o aspecto de malformação estrutural,
► pacto de dominação já ensinavam os grandes mestres, é altamente persistente, cumulativo e
rhistórico. dificilmente reversível, suas forças vivas e poderosas precisam ser con
lo, que entender a trapostas por forças políticas, táticas e estratégias potentes. Lembrei, ao
► passa necessaria- final deste livro, com o construir o desenvolvim ento requer ações em
ldo bloco de poder dupla frente: aquela que constrói alguns processos e aquela que desmonta
>as elites territoriais- processos.
i a cidadania, a cria- M uito há que se desconstruir: as coalizões predatórias da nação e as
■ privilégios. Com o hegemonias do atraso estrutural. Muito há que se construir: m obiliza
ilógicas arcaicas dos ção, participação, politização etc. Cidadania, enfim. Em suma, construir
»«s*rarias, imobiliárias nova hegemonia, a partir do desmonte contínuo do pacto conservador
idas com as dos de dominação interna, presente em qualquer escala espacial, inclusive
>atraso estrutural nas menores...
I * ¿e ‘ um regional” é se
i naquele determinado
iamente o estudo
e decisão; a análise
scalas) de geração e
raridade de direção,
217
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