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recente ressurreição da temática

territorial não ficou circunscrita


apenas aos ambientes académicos,
mas seus principios teóricos e ideológicos
passaram a informar práticas e interven­
ções discursivas e de ação pública. Infeliz­
mente, de forma paralela à reassunção de
sua merecida posição teórica e política,
muitas “questões socioespaciais” vêm sen­
do banalizadas e reduzidas. O territorio
passa a ser como que o grande regulador
de relações, dotado da propriedade de
sintetizar e encarnar projetos sociais e po­
líticos. Ou seja, personifica-se, fetichiza-se
e reifica-se o territorio. À ação pública ca-
beria apenas animá-lo e sensibilizá-lo,
construindo ou fortalecendo confiança e
consensos duradouros.
Ao contrário, neste livro, entende-se que é
preciso aquilatar os limites e possibilida­
des da escala local. Se há forças endógenas
que podem e devem ser acionadas, por ou­
tro lado é preciso não negligenciar a real
existência de hierarquias, poderes, macroe­
conomia, macroprocessos e decisões es­
tratégicas que se encontram, muitas vezes,
em outras escalas, exógenas à localidade.
Este livro procura mapear e analisar criti­
camente as novas abordagens do desen­
volvimento territorial, apontando suas dis­
torções e potencialidades. Discute como
algumas delas padecem de um tratamento
teórico e analítico “uniescalar”, como se
existisse uma escala espacial a ser privile­
giada, melhor per se, resvalando muitas
vezes para localismos e endogenismos exa­
gerados. Procura resgatar algumas ques­
tões do debate estrutural e das determina­
ções do processo de desenvolvimento,
apontando alguns elementos para uma in­
terpretação alternativa (sob o prisma de
múltiplas escalas espaciais) para países
subdesenvolvidos como o Brasil.
Territorio e desenvolvimento
TERRITORIO
As múltiplas

U n iv e r sid a d e E sta d ua l de C a m pin a s

Reitor
J o sé T a d e u J o rge

Coordenador Geral da Universidade


A lvaro P en te a d o C ró sta

E D I T O R A

Conselho Editorial
Presidente
E d ua rdo G u im a rã es
E sd r a s R o d r ig u e s S ilva - G u ita G r in D eb er t
J oão L u iz de C arvalho Pin t o e S ilva - L u iz C a r lo s D ías
L u iz F r a n c isc o D ías - M a r c o A u r élio C rem a sco
R ic a r d o A n t u n e s - S e d i H irano
Carlos Brandão

TERRITORIO & DESENVOLVIMENTO


As múltiplas escalas entre o local e o global
F I C H A C A T A L O G R Á F I C A E L A B O R A D A P ELO
SISTE M A DE B IB LIO T E C A S DA U N IC A M P
D IR E T O R IA DE T R A T A M E N T O DA IN F O R M A Ç Ã O

B733t Brandão, Carlos Antonio.


Territorio e desenvolvimento: as múltiplas escalas entre o local e o global / Carlos Brandão.
- 22 ed. - Campinas, S P : Editora da Unicamp, 2012.

1. Territorialidade humana. 2. Economia regional. 3. Planejamento regional. 4. Planeja­


mento urbano. I. Título.

CD D 337
338.9
I S B N 978-85-268-0971-0 301.36

Indices para catálogo sistemático

1. Territorialidade humana 337


2. Economia regional 338.9
3. Planejamento regional 338.9
4. Planejamento urbano 301.36

Copyright © by Carlos Brandão


Copyright © 2007 by Editora da Unicamp

T edição, 2007
Ia reimpressão, 2014

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Xa. I * ~ I 5_kLiÇÃO

¡■ B aitJ'.:=nnc i íic l t :■ ¿ o b a lC a r l o s Brandão.

regional. 4. Planeja-

338.9
501.36
lr*
k 337
Captar a natureza do subdesenvolvimento não é tarefa fácil:
muitas são as suas dimensões e as que são facilmente visíveis
338.9
338.9 nem sempre são as mais significativas.
301.36
( C e ls o F u r t a d o , 1974 )
“As economias subdesenvolvidas podem conhecer fases prolongadas de cresci­
mento de seu produto global t p e r c a p ita , sem reduzir o grau de dependência
externa e a heterogeneidade estrutural interna, que são suas características
essenciais.”
C e ls o F u r ta d o (2002 , p. 32 ).

“A miséria, a pobreza e o sofrimento social não são ‘privilégios’ da periferia


[...] têm suas raízes não só na política nacional de desenvolvimento que, em
que pese o avanço material conquistado, a incorporação dos trabalhadores e
a ampliação da classe média, piora o nível da distribuição nacional e regional
da renda. Parte importante da miséria regional deve ser procurada no âmago
e na história da própria região. Na herança regional de suas economias expor­
tadoras, na marginalização do povo, por suas elites, na estrutura concentrada
de propriedade e, notadamente, nas representações políticas das regiões mais
atrasadas junto ao Congresso Nacional, em geral de extremo conservadorismo.
[...] A industrialização, por si só, traria progresso, mas diante do conservado­
rismo das elites nacionais, jamais traria a justiça social e o aprofundamento
da democracia [...] essas elites na verdade tentaram adiar o enfrentamento
da crise social, postergando a reforma agrária e as políticas efetivamente
redistributivas — o que fazem até hoje.”
W ils o n C a n o ( 1998 b, p. 9 ).

“No Brasil a lógica espontânea do mercado é a da regressão econômica, da


decadência social e da barbárie política. É preciso, portanto, que a regulação
pública dos conflitos e a negociação política de um projeto de sociedade
contenham os particularismos e canalizem as energias para a construção do
futuro. [...] Não há razão para otimismos. O otimismo neste momento tão
dramático da vida nacional, serve apenas aos conservadores...”
J o ã o M a n o e l C a r d o s o d e M e llo (1992 , p. 67 ).
“No que tange à grande burguesia nacional clássica, foi a interiorização do de­
senvolvimento que lhe permitiu, de novo, a sua forma favorita de acumulação
mercantil: apropriação de terras e acumulação patrimonial-rentista.”
M a r ia d a C o n c e iç ã o T a v a res ( 1999 , p. 463 ).

“A rejeição ao nacional entre as elites cosmopolitas é a mais profunda desde o


processo de industrialização. Atingiu, de forma devastadora, os sentimentos de
pertinência à mesma comunidade de destino, suscitando processos subjetivos
de diferenciação e desidentificação em relação aos outros’, ou seja, à massa de
pobres e miseráveis que ‘infesta o país. Essa desidentificação vem assumindo
cada vez mais as feições de um individualismo agressivo e anti-republicano.
Uma espécie de caricatura do americanismo.”
L u is G o n z a g a d e M e llo B e llu z z o (2002 a, p. 23 ).

“O pacto horizontal entre múltiplas forças e capitais economicamente hete­


rogêneos, mas politicamente eqüipotentes, acaba empurrando para a frente o
Estado como agente propulsor de um crescimento e de uma industrialização
que, paradoxalmente, protegeu e permitiu a sobrevivência de frações e órbitas
financeiras e mercantis especulativas, assim como de frações industriais e
agrárias de baixa produtividade.”
J o sé L u is F io r i (1988 , p. 28 ).
“A democratização da renda, do prestigio social e do poder aparece como urna
necessidade nacional. É que ela — e somente ela — pode dar origem e lastro
a um ‘querer coletivo’ fundado em um consenso democrático, isto é, capaz de
alimentar imagens do ‘destino nacional’ que possam ser aceitas e defendidas
por todos, por possuírem o mesmo significado e a mesma importancia para
todos. [...] Portanto, desde que se veja o desenvolvimento como ‘problema
nacional’, o diagnóstico e a atuação prática implicam querer coletivo’ pola­
rizado nacionalmente.”
F lo r e s ta n F e r n a n d e s ( 1968 , p. 174 ).

“Pensar com radicalidade e com especificidade não é apenas para nos re­
galamos com nossas produções teóricas; isso tem uma urgência cívica e
uma urgência política, pois o efeito da negação da especificidade pode ser
devastador, pensar sem radicalidade e sem especificidade, como a própria
experiência latino-americana está mostrando...”
F r a n c is c o d e O liv e ir a (2002 , p. 95 ).

“É preciso pensar e agir no Brasil heterogêneo e diversificado, tratar como


positivo, como potencialidade (e não como problema) a crescente diferen­
ciação das diversas porções do país.”
T â n ia B a c e la r d e A r a ú jo (2000 , p. 127 ).
Agradecimentos

Este livro é fruto de anos de trabalho na área dos estudos sobre desen­
volvim ento, território e dinâmicas regionais e urbanas. Nesse sentido,
incontáveis pessoas colaboraram para a formação das idéias aqui expostas:
professores, alunos e colegas.
Toda m inha form ação na área, desde as pesquisas na graduação, no
final dos anos 70, foi inspirada e ancorada nas obras de W ilson Cano.
Tive o privilégio de poder trabalhar com ele nos últim os anos. Além
disso, devo agradecer-lhe, neste m om ento decisivo, a leitura atenta do
texto aqui apresentado, além do prefácio do livro.
Aos bons alunos, com os quais sempre se aprende muito.
Aos colegas do Instituto de Econom ia da U n icam p que travam luta
contra o pensam ento conservador e por um Brasil m enos desigual e
mais democrático.
A m inha querida filha, Renata, pela esperança no amanhã.
A meu amor, Hipólita, pela paz e o carinho.
Sumário

A p r e se n ta çã o ....................................................................................................... 17

P r e fá c io ................................................................................................................. 23

In tr o d u ç ã o ............................................................................................................ 29

1 — O c a m p o d a e c o n o m ia p o lític a d o d e s e n v o lv im e n to :

0 em b a te co m o s “ lo c a lis m o s ” n a lite r a tu r a e n a s

p o l í t i c a s p ú b l i c a s c o n t e m p o r â n e a s ............................................................. 35

2 — As p r in c ip a is d e te r m in a ç õ e s d a d im e n s ã o

e s p a c ia l d o d e s e n v o lv im e n to c a p ita lis ta .................................................. 57

3 — A s h e te r o g e n e id a d e s e s tr u tu r a is e a c o n s tr u ç ã o d a

u n id a d e n a c io n a l: in te g r a ç ã o d o m e r c a d o n a c io n a l e a

c o n s t r u ç ã o s o c i a l d e u m a “e c o n o m i a u r b a n a c o m p l e x a ” ...................... 89

4— T r a n s f o r m a ç õ e s n o “p a d r ã o d e s o c i a b i l i d a d e ”

d o B r a s il, c r is e e s t r u t u r a l d o E s ta d o e a n a t u r e z a d o im p a s s e

n a c o n s t r u ç ã o d a n a ç ã o : a l g u m a s e s p e c u l a ç õ e s ( 1985 - 2003 ) .............. 147

5 — A r e a fir m a ç ã o d o n a c io n a l e a s p o s s ib ilid a d e s

d e e s tr a té g ia s e p o lít ic a s d e d e s e n v o lv im e n to e

s u a s e s c a l a s e s p a c i a i s .......................................................................................183

E p ílo g o .................................................................................................................... 215

B ib lio g r a fia 219


Apresentação

A partir dos anos 70 do século X X , os agentes econôm icos, à escala


mundial, passaram a ter grande dificuldade para acum ular na esfera
produtiva; daí a tendência a buscar valorizar seu capital e ampliar seu
patrim onio na esfera financeira da economia. A acumulação passa a ser
crescentemente rentista. Nesse tempo, consolidaram-se, à escala global,
duas hegem onias: do ponto de vista da dinâm ica da econom ia, a h e­
gem onia do rentismo; do ponto de vista ideológico, a hegem onia do
neoliberalismo. Urna combina com a outra.
O Brasil resistiu, bem ou mal, ao rentismo e ao neoliberalismo nos
anos 1980, mas capitulou nos anos 1990. Escapou bem dos dois choques
do petróleo, mas sucumbiu ao choque dos juros dado pelo Federal Re­
serve, que, no Brasil, bateu de frente no ente governo, levando a urna
crise fiscal que continua aguda até hoje. Nos anos 1990, já com razoável
déficit fiscal e, sem conseguir dom ar a hiperinflação, o país aplica um
m odelo de estabilização, através do Plano Real, que o insere, com força,
na lógica do rentismo mundial. A política monetária, em especial a de
juros, ao lado da política fiscal, pretende garantir o controle da inflação,
ao mesmo tempo em que prioriza o pagamento da divida pública. C om
taxas de juros muito elevadas, privilegiando os aplicadores — pessoas e
empresas superavitárias, que podem , portanto, comprar títulos do gover­
no — , monta-se urna lógica que até consegue segurar a corrida dos preços,
mas que gera um déficit grande ñas contas externas (fruto de urna p olí­
tica de câmbio fixo) e que aumenta significativamente o desequilibrio

17
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO üé!

fiscal. O preço desse ajuste não foi pequeno e uma de suas conseqüências do que foi para os eu rop eu s:
mais evidentes foi o bloqueio ao crescimento da econom ia nacional. grandes nações, o movi
O modesto crescimento em meio a uma crise fiscal agónica se associa ainda favorecia p olíticas:
à crescente hegem onia das teses liberais. A aceleração do programa de Reconstruir a visão de<
desestatização foi apenas uma das marcas dessa guinada ideológica, que à escala nacional não é i
justificou a ampla desestruturação do Estado brasileiro. m ônico, que não dá conta <
O fato é que, num contexto m undial marcado por transformações Brasil, nem dá conta de \
importantes, o país optou por uma inserção passiva nos mercados mun- Tal m odelo desp erdiça:
dializados e crescentemente comandados pela financeirização da riqueza, nacional, exatamente por
com reformas profundas na ação do Estado. O Brasil acabou tendo uma nas para o pedaço mais i
resposta mais marcada pela passividade do que por políticas ativas, o que mais moderna. Mas a fatiai
causou impactos, também, na dimensão territorial. Um país continental desafio, portanto, é pror
e heterogêneo com o o Brasil não pode ser entregue apenas às decisões m áquina de desigualdade t
ditadas pelas regras do mercado, e m uito menos entrar “de cabeça” no A atuação de um mer
rentismo. Pode e deve ter um a política pública ativa de desenvolvimento, o anteriormente brasileiro.*
buscando evitar que se dessolidarize o destino do país e faça emergirem avançada e de busca de i
crescentemente velhos regionalism os e novos paroquialismos. Mas por nacional, embora possa s
que o Brasil seguiu outro rumo? e já integradas aos fluxos«
Para tentar encontrar uma resposta a essa questão é preciso identificar e de modernização, parai
o projeto hegem ônico das elites brasileiras. É um projeto que busca a à m arginalização econôi
m odernização conservadora, priorizando as partes já mais avançadas do em desemprego e aume
país. Busca ampliar a inserção com petitiva de nossos nichos dinâmicos, É bom não esquecer <
esquecendo o que considera “o resto”. Um projeto que tende a descon­ nova organização dos <
siderar o grave quadro de desigualdade social que o país tem. Esse é o da dinâm ica da producá
equívoco da elite brasileira achar que pode fazer do Brasil uma grande globais) e, de outro, da i
potência com o tamanho da desigualdade social que nós temos. E não os impactos regionais e i
pode. Basta ver a crise social instalada nas principais capitais do país. toa que o pensamento ¡
No Brasil, nas regiões mais ricas, as elites dominantes — que são cos­ nacionais, propondo o ]
mopolitas, que já se articularam, desde há muito tempo, para fora — não políticas locais.
têm como prioridade lutar contra as desigualdades, incluindo as regionais. Aprendem os a duras ]
A prioridade dessa elite é inserir cada vez mais no m undo globalizado às próprias decisões do i
as partes mais ricas e modernas do país. Essa é uma das grandes dificul­ ampliando fraturas her
dades do Brasil: somos uma nação de construção interrompida, como pode afirmar em relação a j
bem definiu Celso Furtado. ção e prática, apenas a i
O grande desafio em um país com o o Brasil é o de concluir a constru­ sem levar em conta a pr
ção da nação, num ambiente mundial que agora contesta a importância podem dar lugar a imp
dos Estados nacionais. E é muito mais difícil construir uma nação hoje trabalho em amplos se

18
APRESEN TAÇAO

í m b » de suas conseqüências do que foi para os europeus, por exemplo. Quando eles construíram suas
*da econom ia nacional. grandes nações, o m ovim ento da internacionalização do capitalismo
: áscal agónica se associa ainda favorecia políticas nacionais ativas.
i aoeieração do programa de Reconstruir a visão de que continuam importantes políticas públicas
t guinada ideológica, que à escala nacional não é tarefa fácil. Trata-se de superar o m odelo hege­
! brasileiro. mônico, que não dá conta das necessidades da maioria da população do
I ■ orzado por transformações Brasil, nem dá conta de grande parte de nossas enormes potencialidades.
tpassña nos mercados mun- Tal m odelo desperdiça muitas das virtuosidades existentes no espaço
lioanceirização da riqueza, nacional, exatamente porque ele é excludente, seletivo, apropriado ape­
lO Brasil acabou tendo uma nas para o pedaço mais m oderno do Brasil. E o país não é só sua porção
; por políticas ativas, o que mais moderna. Mas a fatia dita “não-m oderna” tem muito potencial. O
. Um país continental desafio, portanto, é promover uma m udança profunda, desmontando a
restregué apenas às decisões máquina de desigualdade que foi aqui instalada.
entrar “de cabeça” no A atuação de um mercado auto-regulado, num contexto desigual como
u D va de desenvolvimento, o anteriormente brasileiro, especialmente num contexto de globalização
► do país e faça emergirem avançada e de busca de inserção competitiva do país na econom ia inter­
i paroquialismos. Mas por nacional, embora possa significar, para regiões e sub-regiões privilegiadas
e já integradas aos fluxos econômicos internacionais, fonte de dinamismo
u p estão é preciso identificar e de modernização, para as demais regiões e sub-regiões poderá dar lugar
. £ um projeto que busca a à marginalização econômica, com custos sociais intoleráveis, traduzidos
ípartes já mais avançadas do em desemprego e aumento dos níveis de pobreza e miséria.
: aossos nichos dinâmicos, É bom não esquecer que, no ambiente m undial contem porâneo, a
iproieto que tende a descon- nova organização dos espaços nacionais tende a resultar, de um lado,
! que o país tem. Esse é o da dinâm ica da produção regionalizada das grandes empresas (atores
r t o e r do Brasil uma grande globais) e, de outro, da resposta dos Estados nacionais para enfrentar
rsocszl que nós temos. E não os impactos regionais e localizados seletivos da globalização. N ão é à
t jrãod p ais capitais do país. toa que o pensamento neoliberal ataca com força o papel das políticas
t dominantes — que são cos- nacionais, propondo o Estado m ínim o ou supervalorizando o papel de
fc— ui&» tempo, para fora — não políticas locais.
-incluindo as regionais. Aprendem os a duras penas que a dinâm ica regional entregue apenas
: x a y uo mundo globalizado às próprias decisões do m ercado tende a exacerbar seu caráter seletivo,
. £ ntna das grandes dificul­ ampliando fraturas herdadas. Tende a desintegrar o país. O m esm o se
t o interrompida, como pode afirmar em relação a políticas públicas que tendem, em sua concep­
ção e prática, apenas a reforçar e consolidar as forças de mercado; que,
3 t 3s ¿ í o de concluir a constru- sem levar em conta a presença de um contexto heterogêneo e desigual,
mn a sirz contesta a importância podem dar lugar a impactos negativos sobre as condições de vida e de
r-irriu_ : : nstm ir uma nação hoje trabalho em amplos segmentos da população, notadamente das regiões

19
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO •iá

e sub-regiões mais atrasadas, tradicionais e de m enor capacidade de A leitura de Brandão s c s c *


com petição e inserção competitiva na econom ia internacional. continental e magnific
Nesse contexto, vem em boa hora este livro de Carlos Brandão, que, de inserção submissa à 1
entre outras questões, analisa a literatura especializada sobre o desen­ e até em processo de
volvim ento e discute, especialmente, os limites e as possibilidades das m arcado p o r enorm es
iniciativas tomadas, apenas na escala local. Realiza uma reflexão profun­ políticas nacionais? Cabe 1
da sobre a possibilidade de se promoverem mudanças estruturais e de aproveita para estimular,;
se enfrentarem certos desafios na escala local, em um país de tradição de desenvolvimento end
centralizadora e m arcado por enorm es desigualdades sociais e inter- fazem aflorar e que limites a
regionais com o o Brasil. Mas o principal alerta«
A discussão no plano teórico-conceitual dessa questão foi feita por escala mais importante e 1
Brandão com uma lúcida visão crítica em face de uma tendência apolo­ com o a brasileira e a int
gética que se desenvolveu no país e no m undo nos anos 1990.0 combate plexos, diversificados e <
aqui apresentado a esse quase-modismo e aos excessos do que ele chamou em múltiplas escalas. Tr
de “pensamento único localista” contém im portantes elementos para dimensão da questão das a
reflexão. O que ele faz é tentar resgatar as determinações estruturais da num bom caminho.
dimensão espacial do processo de desenvolvimento capitalista. Entre o C om o ele, penso quei
que considera “insuficiências e desvios”, ressalta a desconsideração, pelos tinuam existindo desafios i
neoliberais e pelos ufanistas do localismo, do poder dos determinantes também em outras escalas.I
do ambiente m acroeconôm ico, ao mesm o tempo em que considera que mapa do território brasii
eles m inim izam os conflitos políticos, o peso da estruturação das classes todas as regiões do p a ís..
sociais e, especialmente, o papel das políticas nacionais. Ele cobra também, truturais.
dos defensores de um localism o acrítico, a análise das especificidades É preciso pensar e agira
nacionais em situação de subdesenvolvimento, pelo que questiona as diversificado. É im p o r ta re i
comparações simplistas entre experiências internacionais desenvolvidas (e não com o problem a);
em países com história e inserção completamente diferentes na ordem macrorregiões do país. N a l
capitalista. Lembra que vem das entranhas do capitalismo, de suas leis cionais, portanto, vale a ¡
estruturais, a tendência que ele apresenta de se desenvolver de forma imenso país: sua magnificad
desigual e de, recorrentemente, aprofundar e tornar complexa a divisão tencialidades latentes a :
social do trabalho, em todas as suas dimensões, inclusive a espacial. E material pobre há uma 1
aponta a capacidade das grandes corporações transnacionais capitalistas para dinamizar a econor
de manejar as escalas espaciais em seu benefício (e não no das socie­ e a potente variedade br
dades locais). de uma visão respeitosa, <
Brandão defende, corretamente, que nenhuma escala é pior ou melhor postas que vêm de baixo ]
per se. Elas ganham m aior ou m enor significação em cada m omento em escala nacional. Isso é l
histórico particular. Ele revela, assim, muitos dos limites que serão en­ exagerado, que pode int
contrados nas experiências brasileiras de desenvolvimento local. pondo ações nacionais. N » l

20
APRESENTAÇÃO

t m enor capacidade de A leitura de Brandão suscita algumas perguntas importantes. Um país


i internacional. continental e magnificamente diverso como o Brasil, com longa história
► de Carlos Brandão, que, de inserção submissa à ordem m undial capitalista, ainda em form ação
n lyi i i ili i' ni i sobre o desen- e até em processo de ocupação de muitos de seus espaços territoriais,
i e as possibilidades das m arcado por enorm es desigualdades regionais, p od e prescindir de
nuna reflexão profun- políticas nacionais? Cabe m ergulhar no m odism o localista? Brandão
t a n d a n ça s estruturais e de aproveita para estimular, ainda, a reflexão sobre o papel das iniciativas
. nm país de tradição de desenvolvimento endógeno, perguntando que potencialidades elas
ies sociais e inter­ fazem aflorar e que limites apresentam?
Mas 0 principal alerta de Brandão neste livro é o de que não há uma
essa questão foi feita por escala mais importante e muito menos uma única. A análise de realidades
de am a tendência apolo- com o a brasileira e a intervenção das políticas públicas em países com ­
■ os anos 1990.0 combate plexos, diversificados e desiguais como o nosso necessitam de abordagem
do que ele chamou em múltiplas escalas. Trabalhando em múltiplas escalas e identificando a
ttes elementos para dimensão da questão das desigualdades inter e intra-regionais se estaria
ações estruturais da num bom caminho.
capitalista. Entre 0 Com o ele, penso que no Brasil atual, na escala m acrorregional, con­
a desconsideração, pelos tinuam existindo desafios importantes, mas é preciso tratar as questões
poder dos determinantes também em outras escalas. Um zoom mais aprofundado e refinado no
çk >em que considera que mapa do território brasileiro perm itirá descobrir desafios regionais em
■ da.estruturação das classes todas as regiões do país. A lguns mais conjunturais, outros mais es­
,. Ele cobra também, truturais.
anahse das especificidades É preciso pensar e agir em múltiplas escalas no Brasil heterogêneo e
pelo que questiona as diversificado. É importante tratar com o positivo, com o potencialidade
ionais desenvolvidas (e não como problema) a crescente diferenciação interna das diversas
diferentes na ordem macrorregiões do país. Na hora de buscar soluções aos problemas na­
do capitalismo, de suas leis cionais, portanto, vale a pena trabalhar um grande potencial desse
de se desenvolver de form a imenso país: sua magnífica diversidade regional. Em cada lugar há p o ­
exornar complexa a divisão tencialidades latentes a serem apoiadas. M esm o em regiões de base
inclusive a espacial. E material pobre há uma riqueza cultural enorme. O Estado pode intervir
transnacionais capitalistas para dinamizar a econom ia dos territórios sem agredir suas identidades
fcftrarñcio (e não no das socie- e a potente variedade brasileira, que salta aos olhos nos mapas, partindo
de uma visão respeitosa, em face de tal diversidade, estimulando pro­
■ escala é pior ou melhor postas que vêm de baixo para cima, mas articulando-as num a política
c ítelo em cada m om ento em escala nacional. Isso é fundamental. É fundamental evitar o localismo
■ munis ¿es lim ites que serão en- exagerado, que pode intensificar muitos desajustes sociais no país, pro­
hur i™ c~ r'.vim en lo local. pondo ações nacionais. No Brasil continental, heterogêneo, diverso e

21
TE R R ITÓ R IO E D ESEN VO LVIM EN TO

desigual, não servem nem as soluções centralizadas nem o localism o


atomizante. Temos que construir políticas nacionais que articulem ações
descentralizadas. A reflexão de Brandão nos estimula a pensar nessa
direção.
A enorme distância que separa as áreas mais ricas das mais pobres,
no Brasil, ou seja, o tamanho do hiato a reduzir, de um lado, e a tradição
do tratamento unicamente setorial das políticas públicas, de outro, são
desafios a enfrentar. A dimensão espacial do desenvolvimento não tem
conseguido penetrar as estratégias governamentais. Só muito recente­
mente há esforços nessa direção. Inserir a dim ensão da desigualdade
regional nas políticas federais é uma grande tarefa nacional a realizar.
Construir coletivamente critérios gerais nacionais e só depois fazê-los
operar descentralizadamente. Esse é o caminho. Negar a importância de
políticas nacionais num país com o o nosso, com o fazem os liberais (que Este livro resulta da
supervalorizam o localism o), é um equívoco. lhantemente defendida
A possibilidade de construir coesão de um bloco de forças sociais da U n i c a m p . C om o o
extremamente heterogêneas está vinculada à afirmação de uma iden­ anos em que Brandão e
tidade nacional. Só essa idéia é capaz de juntar o país. Fora isso, vamos Desenvolvim ento Eo
despedaçar-nos, com o resultado da crescente heterogeneidade interna. tinos do Brasil e, entre
Entendo que ainda é possível retomar a construção da nação brasileira regional e urbana.
com base numa abordagem de desenvolvimento com prom etido com o Não é ocioso lembrar
resgate e a afirmação da cidadania. Mas continua sendo indispensável a 1960, o debate sobre esse
presença ativa e articuladora do Estado na cena nacional. A leitura do sob fortes pressões
livro de Brandão consolidou em m im esse entendimento. rando a formulação, p á *
senvolvimento regional»
pressões decorriam da
Tânia Bacelar de Araújo1i trara fortemente no
que perfazia 50% da
Ignoravam os que
trialização recente —
causa da debilidade da
na — , que ela tinha
inclusive a “Crise de 1929
m ento daquela con
ciado dessa mesma
Vindo O golpe m ilitara
i Professora da Universidade Federal de Pernambuco. guinada, iniciando mra

22
nem o localism o
»que articulem ações
>estim ula a pensar nessa Prefácio
. ñcas das mais pobres,
.d e um lado, e a tradição
i publicas, de outro, são
i desenvolvimento não tem
Só muito recénte­
lo da desigualdade
: tareia nacional a realizar.
, e só depois fazê-los
¡.Negar a importância de
► fazem os liberais (que Este livro resulta da edição da tese de livre-docência de seu autor, bri­
lhantemente defendida em setembro de 2003 no Instituto de Economia
n bíoco de forças sociais da U n ic a m p . Com o o próprio autor diz, ela é fruto do trabalho de vários
t anrmação de uma iden- anos em que Brandão e os demais colegas de nosso Centro de Estudos de
•o país. Fora isso, vamos Desenvolvim ento Econômico temos discutido e refletido sobre os des­
tieterogeneidade interna. tinos do Brasil e, entre nossas principais preocupações, sobre a questão
*da nação brasileira regional e urbana.
i comprometido com o Não é ocioso lembrar que, entre fins da década de 1950 e início da de
i sendo indispensável a 1960, o debate sobre esse tema cresceu e ingressou na Agenda do Estado,
i nacional. A leitura do sob fortes pressões regionalistas — notadamente nordestinas — inspi­
íento. rando a formulação, pela prim eira vez no país, de uma política de de­
senvolvimento regional, uma das grandes obras de Celso Furtado. Essas
pressões decorriam da constatação de que a industrialização se concen­
lanía Bacelar áe Araújo1 trara fortemente no Centro-Sul, principalmente em São Paulo, estado
que perfazia 50% da produção industrial do pais.
Ignoravam os que acusavam essa concentração de ser fruto da indus­
trialização recente — particularm ente durante o governo JK — , e de ser
causa da debilidade da econom ia periférica — em especial a nordesti­
na — , que ela tinha raízes históricas mais profundas, que antecediam
inclusive a “Crise de 1929”. Ignoravam também que, a despeito do au­
mento daquela concentração, a periferia como um todo se havia benefi­
ciado dessa mesma industrialização, via integração do mercado nacional.
Vindo o golpe militar, a política de desenvolvimento regional deu forte
guinada, iniciando um longo processo de deterioração das instituições

23
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO

públicas para ela criadas (a Sudene e a Sudam ) e de pulverização dos num quarto (maio de
recursos fiscais que a sustentavam. O correu que, no período, a Política fiscal e da cambial. O l
N acional de D esenvolvim ento propugnava gigantesco program a de na década anterior, com .
investimentos para alargar e aprofundar as bases de nossa industriali­ desse lastimável estado ã t *
zação — via II PND, o plano do Brasil potencia — , o que dem andou o O neoliberalismo
uso de grande quantidade de recursos naturais periféricos — água, terra volvim ento, e isso, iníe
e minérios — , que por sua vez exigiam amplos investimentos em infra- o conform ism o da br
estrutura, tais com o energia e transportes. majoritariamente (
Os efeitos encadeados dessas duas demandas fizeram também crescer Permanecemos, asãm .1
a produção industrial periférica — fazendo avançar as fronteiras agro e período de “planos” os i
mineral — , resultando num acelerado processo regional de urbanização. foi a manutenção de t
A desconcentração industrial que daí decorreu, entre 1970 e 1980, fez com constrangimento o r a
que a participação de São Paulo na indústria nacional de transformação dívida pública, e reformas!
perdesse cinco pontos percentuais, ao cair de 58% para 53%. Contudo, essa cararam nossas defesas*
desconcentração, que cham o de virtu o sa, não impediu que a indústria A in da mais: a debilidade I
paulista duplicasse o volum e de sua produção, nem que a da periferia entes subnacionais — 1
mais que o duplicasse. nos três entes, o gasto ]
Esse crescimento produtivo e urbano, contudo, foi desacompanhado Para atingir seus >
de políticas públicas adequadas, em termos não só de saneamento b á­ neoliberalismo de
sico e habitação, mas também de redistribuição de renda; reproduziu, fraquecendo-o nos váiios|
na periferia, os descalabros que se concentravam mais nas metrópoles e foi a “teoria do poder iot
grandes aglomerados urbanos. local, da cid a d e (ou d a :

Na década de 1980 sofrenam os a dura crise da dívida externa, que ou regionais. Seus ;
iniciou o debilitamento fiscal e financeiro do Estado, bem com o destruiu o propalado poder local i
sua base para a gestão de política e planejamento econôm ico, que foram form ulação e execução d ei
rapidamente substituídos pelo con ju n tu ra lism o. O resultado do decênio instrumentos básicos da 1
foi um medíocre crescimento do PIB, piora das condições sociais de todo de juros, de câmbio, do *
o país e uma perda de prioridade da questão regional na A genda do Es­ Entendo que, em raz
tado. O falso antídoto para o problema regional foi a crescente presença governos municipais — ,
de um a nascedoura gu erra fis c a l, que passou a patrocinar verdadeiros que objetivavam, acima*
leilões de localização de investimentos, subsidiando escandalosamente o atuando prioritariameHÉei
capital, e aceitando passivamente a piora das condições sociais da nação tivos fiscais concedidas a*
e de suas várias regiões. atendimento das der
Ainda nos debatíamos, na busca de saídas para esse doloroso processo, Constitui disparate,;
quando o país foi tom ado de assalto pelo neoliberalismo, já em fins da petitivas (ou não) são a
década de 1980, mas escancarado pelo governo C ollor a partir de 1990. espaços e não o espaço e
D epois disso, tivemos mais três períodos governam entais e estamos economias externas, qae]

24
PR E FAC IO

r> e de pulverização dos num quarto (maio de 2007), continuando a enxugar o gelo da política
e. no período, a Política fiscal e da cambial. O crescimento econôm ico tem sido tão ruim quanto
i gigantesco program a de na década anterior, com crescente aceitação, pelos aparelhos do Estado,
i de nossa industriali- desse lastimável estado de coisas.
: — , o que demandou o O neoliberalismo causou uma forte imobilidade da política de desen­
► periféricos — água, terra volvimento, e isso, infelizmente, tem tido larga aceitação passiva, desde
¡ investimentos em infra- o conform ism o da burocracia e da classe política, ao deleite das elites,
majoritariamente convertidas em rentiers da dívida pública.
í fizeram também crescer Permanecemos, assim, no conjunturalismo, mascarado ao longo desse
■ as fronteiras agro e período de “planos” os mais diversos, mas o cerne da política econômica
► regional de urbanização. foi a manutenção de elevada taxa de juros, restrição interna ao crédito,
t entre 1970 e 1980, fez com constrangimento orçamentário para preservar o pagamento de juros da
m r i o n á l de transformação dívida pública, e reformas que dilapidaram o patrimônio público, escan­
r j K p a r a 53%. Contudo, essa cararam nossas defesas econômicas e retiraram direitos dos trabalhadores.
1im pediu que a indústria A inda mais: a debilidade fiscal do governo federal atingiu também os
. nem que a da periferia entes subnacionais — regionais, estaduais e municipais — , constrangendo,
nos três entes, o gasto público e principalmente 0 investimento público.
,fo i desacompanhado Para atingir seus objetivos — os dos países centrais, é claro — o
1só de saneamento bá- neoliberalismo desencadeou profundo ataque ao Estado nacional, en-
de renda; reproduziu, fraquecendo-o nos vários planos de sua atuação. Uma das armas usadas
1mais nas metrópoles e foi a “teoria do poder local”, criando as falsas idéias do desenvolvimento
local, da cidade (ou da região) competitiva, emanadas de ações locais
da divida externa, que ou regionais. Seus apressados seguidores parecem não perceber que
► Estado, bem como destruiu o propalado poder local não conta com as prerrogativas necessárias à
► econôm ico, que foram formulação e execução de uma política de desenvolvimento, que são os
9. 0 resultado do decênio instrumentos básicos da política econôm ica — o comando sobre a taxa
* A s condições sociais de todo de juros, de câmbio, do crédito e da fiscalidade necessária.
► regional na Agenda do Es- Entendo que, em razão disso — e da penúria fiscal e financeira dos
l foi a crescente presença governos municipais — , proliferaram políticas de desenvolvimento urbano
¡ a patrocinar verdadeiros que objetivavam, acima de tudo, atrair investimentos, com as prefeituras
>escandalosamente o atuando prioritariamente no lado da oferta de infra-estrutura e de incen­
í condições sociais da nação tivos fiscais concedidos a empresas, para atrair capitais, abandonando o
atendimento das demandas sociais mais urgentes.
cara esse doloroso processo, Constitui disparate, a nosso ver, falar em cidade competitiva. C om ­
| n c aeziiberalism o, já em fins da petitivas (ou não) são as atividades que se realizam em determinados
• Collor a partir de 1990. espaços e não o espaço em si. Este pode ser m elhor ou pior ofertante de
« r e s cevem am entais e estamos economias externas, que podem gerar efeitos diferentes para diferentes

25
TERRITO R IO E D ESENVOLVIM EN TO

atividades. O u onde a ação pública pode alterar o cálculo do custo de i- o do processo de -n


localização, através do corrosivo processo de guerra fiscal. Afinal, por que capital em geral, eme í
a fronteira norte do M éxico — onde está a maioria de suas indústrias fronteira de alguns esM
maquiladoras — deixou de ser tão “competitiva” frente às novas e (mais) do movimento d e :
competitivas zonas especiais da China? ii- o do processo de
Para que não paire dúvida sobre nossas críticas a esse tipo de visão, estimulado e im poá? j
deixamos explícito aqui que não ignoramos que, em termos locais (mesmo e que nos permite-:
no âmbito municipal), a organização da sociedade — governo e sociedade é empregado o te:_n> ‘
civil — pode e deve atuar dentro de suas competências e possibilidades, iii- o processo de polzr
para resolver um sem-número de problemas de ámbito local, mas não decorrente d o s :
substituir o Estado na formulação de políticas de desenvolvimento que e combinada do i
transcendam esse espaço restrito e que tenham nexos com os objetivos iv- o processo de hegi
nacionais de uma política de desenvolvimento. capital se con fron ta*
Da mesma forma, o discurso e a literatura recente sobre arranjos pro­ num bloco de p o d a .
dutivos locais deixa transparecer que, diante da orfandade da política de
desenvolvimento regional, não resta outra ação mais profícua e fecunda N o terceiro capítulo,
do que agir sobre esses aglomerados produtivos. Claro que é boa a ação desde a herança regional i
que possa melhorar, em termos técnicos, econôm icos e principalmente etapas fundamentais da i
sociais, as condições em que operam tais aglomerados, em quaisquer recente, em que o ente
regiões do país, morm ente nas menos industrializadas. se tornou mais complexo e i
É nesse sentido que o livro de Brandão caminha, alargando e apro­ O quarto capítulo se <
fundando o horizonte teórico para essa discussão, desenvolvida ao longo de reflexão a longa crise <
de cinco precisos capítulos. suas principais deter
No prim eiro, realiza notável esforço de síntese de algumas das n o­ e o agravamento da crise i
vas “teorias” do desenvolvim ento, especialm ente das que se referem às O último capítulo, nnm4
novas dim ensões da espacialidade e da tem poralidade decorrentes das dades da escala nacionaL -
grandes transform ações da econom ia internacional, m ostrando vários isso montar um quadro dei
mitos e banalizações contidos no debate atual. tação de uma política i
O capítulo dois trata das principais determinações da espacialidade ser desenhadas as políticas i
com o uma das dim ensões do desenvolvim ento do sistema capitalista
Oxalá possamos vohat. j
de produção. Nele o autor mostra as insuficiências teóricas da análise
ar diferente do exalado pdoj
regional e urbana, afirmando a impossibilidade de uma Teoria Geral do
e que tem causado enorme *
Desenvolvimento Regional e Urbano. Apresenta então uma proposta teórica
que dim inuiu sobremodo i
para a análise da espacialidade, calcada no exame das transformações
não dizer, também d a 1
estruturais desencadeadas pelo processo histórico e pela concorrência
atualmente com o m e ra .
capitalista.
de planos igualmente ¡
Para tanto, utiliza quatro conceitos fundamentais:

26
P R E FA C IO

■ o cálculo do custo de i- o do processo de homogeneização das condições reprodutivas do


i fiscal. Afinal, por que capital em geral, que elimina algumas das principais diferenças na
de suas indústrias fronteira de alguns espaços, preparando-os para uma certa lógica
'frente às novas e (mais) do m ovimento de uniform ização do processo de valorização;
ii- o do processo de integração de espaços territoriais econômicos,
leas a esse tipo de visão, estimulado e imposto pela concorrência da pluralidade dos capitais,
aa termos locais (mesmo e que nos permite, por exemplo, criticar o sentido vulgar com que
; — governo e sociedade é empregado o termo “globalização”;
ias e possibilidades, iii- o processo de polarização, síntese da hierarquização dos espaços,
; âmbito local, mas não decorrente dos m ecanismos ativos da natureza espacial desigual
¡ de desenvolvimento que e combinada do desenvolvimento capitalista;
t nexos com os objetivos iv- o processo de hegemonia, através do qual as diferentes frações do
capital se confrontam e acom odam para atender seus interesses,
i recente sobre arranjos pro- num bloco de poder.
edbiacíandade da política de
► mais profícua e fecunda N o terceiro capítulo, percorre longo percurso histórico brasileiro,
. Claro que é boa a ação desde a herança regional colonial à industrialização, passando pelas
icos e principalmente etapas fundamentais da integração do m ercado nacional, até o período
i aglom erados, em quaisquer recente, em que o entendimento do problema regional e urbano nacionais
adas. se tornou mais complexo e difícil.
>c — ñutía, alargando e apro- O quarto capítulo se detém nas duas últimas décadas, tendo como base
. desenvolvida ao longo de reflexão a longa crise que desde então estamos sofrendo, examinando
suas principais determinações externas e internas, enfatizando os impasses
■ de algumas das no- e o agravamento da crise social e dos desequilíbrios regionais.
rdas que se referem às
O último capítulo, num esforço de síntese, tenta apontar as especifici­
idade decorrentes das
dades da escala nacional, vis-à-vis às escalas regionais e locais, para com
>nal, m ostrando vários
isso montar um quadro de interação entre elas que possibilite a reabili­
tação de uma política nacional de desenvolvimento, sob a qual possam
ções da espacialidade
ser desenhadas as políticas necessárias às escalas subnacionais.
do sistema capitalista
Oxalá possamos voltar, nos mais breves e possíveis dias, a respirar um
teias teóricas da análise
ar diferente do exalado pelo pensamento único, produto do neoliberalismo,
; de uma Teoria Geral do
e que tem causado enorme embotamento intelectual e político no país,
crtão uma proposta teórica
que dim inuiu sobremodo nosso sentimento de nacionalidade e, por que
ac exame das transformações
não dizer, também da verdadeira regionalidade, esta, aliás, submergida
u se:rico e pela concorrência
atualmente com o mera abstração de inócuos exercícios de formulação
de planos igualmente abstratos.
K T :r,-/.~ f-rais:

27
TE R R ITÓ R IO E D ESEN VO LVIM EN TO

Os contemporâneos formuladores de supostas políticas de desenvol­


vimento regional parecem ter-se esquecido da nação e de que, diante
da ausência de um projeto nacional de desenvolvimento, é impossível
um diagnóstico e uma política de desenvolvimento realista para nossas
regiões.

Wilson Cano1
Julho de 2007

Este trabalho tenta de


veria ter abandonado o <
Atualmente, se, por 1
dessa temática e a 1
tenha ocorrido nas c iô
da literatura especia
m algrado sua natureza <
cadas para o lugar-cona
consenso, um verdadeiro*
literatura aborda, e as ]
tadas, em parte ou no 1
vulgaridades analíticas 1
escalas interm ediárias <
tido. Sobretudo, a s s u m a i
estruturais é ser retrogradai j
Este livro, indo contrai
perdido totalmente o ;
resgate das determinaçôesi
do processo de deser
agenda aberta e pessoal <
Aponta as principais ]
pais insuficiências, de
importância, entre outras 4
1 Professor titular do Instituto de Economia da U n ic a m p .

28
políticas de desenvol-
db nação e de que, diante
nento, é impossível IfltTodução
realista para nossas

Wilson Cano1
Julho de 2007

Este trabalho tenta demonstrar que a temática territorial e urbana nunca de-
vería ter abandonado o campo da economia política do desenvolvimento.
Atualmente, se, por um lado, vivem os urna nova e intensa emergência
dessa temática e a valorização da dimensão território, com o talvez nunca
tenha ocorrido nas ciências sociais, por outro, nota-se, em grande parte
da literatura especializada, a com pleta banalização das questões que,
m algrado sua natureza estrutural, histórica e dinâm ica, foram deslo­
cadas para o lugar-com um do voluntarism o, cristalizando um grande
consenso, um verdadeiro “pensamento único localista”. Grande parte da
literatura aborda, e as políticas “públicas” implementam, ações orien­
tadas, em parte ou no todo, por essas concepções teóricas, acolhendo
vulgaridades analíticas e simplismos ideológicos que afirmam que as
escalas interm ediárias entre “o local” e “o global” estão perdendo sen­
tido. Sobretudo, assumem que pensar a escala nacional e as questões
estruturais é ser retrógrado.
Este livro, indo contra essa corrente hoje hegemônica, que parece ter
perdido totalmente o senso crítico, assevera a urgente necessidade do
resgate das determinações estruturais para se pensar a dimensão espacial
do processo de desenvolvim ento capitalista. D eve ser lida com o uma
agenda aberta e pessoal de estudos. Sintetiza a situação atual da área.
Aponta as principais posições teóricas e políticas e discute suas princi­
pais insuficiências, desvios e modismos. Essas concepções negam maior
importância, entre outras questões, ao ambiente m acroeconôm ico, aos

29
TE R R ITÓ R IO E D ESEN VO LVIM EN TO 3

conflitos políticos, ao Estado, à própria estruturação das classes sociais, Mera superfície recipieme. 3*2^
à nação e ao papel do espaço nacional. A pesar de todos os
Partindo dessa análise crítica, este ensaio busca esboçar um a inter­ m odernas” do territorial õ e i
pretação alternativa, apresentando alguns elementos teóricos — resga­ de ambiente não constnnãiM
tando a história e as especificidades nacionais em situação de subde­ grande descoberta ci
senvolvim ento — a fim de traçar os lineam entos gerais de princípios instituições contam.
que deveríam estar contidos nas políticas públicas de prom oção do Portanto, enfrentar t z s ;
desenvolvim ento que não descurem da dim ensão espacial. sólida de produção social <
Inicialmente, no primeiro capítulo, são expostas as dezenas de teorias tante dos conflitos e cor
contemporâneas que apresentam vieses de crença no alcance de eficiência construído.
(e de eqüidade, como suposta decorrência “natural”) por parte de uma Lembrando que não i

comunidade de atores ativos, que agem por conta própria, em um conjun­ sobre o desenvolvim enint |
to harm onioso criado pela proximidade espacial, com amplas sinergias quatro conceitos que <
resultantes da cooperação, apropriadora de vantagens que se encontram alternativa ao novo o u a o i
(“no ar”/“na atmosfera” institucional) em seu contexto mais imediato. penso, são basilares.
É com o se a escala menor — o microespaço, o município, a cidade, ou a integração, polarização e ¡
região — necessariamente fosse a mais adequada para a ação. estruturas e d in âm icas:
Contrapondo essas interpretações, algumas com ares de fanatismo dimensão espacial.
pela autodeterminação da escala micro, procuro resgatar alguns deter­ Procuro apresentar a l
minantes da lógica de funcionam ento do capitalismo, defendendo que do capital a partir de suas<
existem não só essas forças endógenas, mas também fatores decisivos definindo o que chamei d e i
que são “exógenos” à localidade. Existem hierarquias. Existe poder. do capital; transita para o 1
Existe m acroeconomia. Essas e outras obviedades que são desdenhadas se no processo de conc
amplamente neste debate... (de espaços e estruturas ]
Parecem não atentar para o fato de que o sistema capitalista recorren­ integração; explicita a :
temente aprofunda e complexifica a divisão social do trabalho, em todas mento capitalista, env
as suas dimensões, inclusive na espacial. Ele aperfeiçoa compulsivamente da polarização; desem bocai
sua capacidade de manejar as escalas espaciais em seu benefício. É por na capacidade de decisiat.1
isso que nenhuma escala per se é melhor ou pior. Na verdade, elas ganham sintetizada no processo dei
nova significação em cada m omento histórico particular. Entendo que essas <
Existem enquadramentos e hierarquias, e os microprocessos, as micro- processo de desenvol
decisões dos atores empreendedores, não podem solapar os macroprocessos analítica profícua para os
e as macrodecisões, com o pensam e querem essas visões voluntaristas. teóricos perdem sentido, j
Podemos vislumbrar, assim, uma espécie de retorno à velha discussão se não forem apreendidas«
do mainstream regional e urbano, que acaba tendo uma visão reificada do Nesse sentido, em pí
espaço, capaz de vontade e endogenia, ao oferecer sua plataforma vantajosa, capítulo, das principais i
seu espaço-receptáculo. Uma espécie de platô que busca atrair capitais. de como o Brasil constriño a«

30
IN T R O D U Ç Ã O

i das classes sociais, Mera superfície recipiente, de embarque e desembarque de capitais/coisas.


Apesar de todos os m alabarism os analíticos praticados pelas “teorias
»la s c a esboçar uma inter­ modernas” do territorial, do regional e do urbano, jaz ainda uma visão
ros teóricos — resga- de ambiente não construído socialmente. Embora afirmem, com ares de
f em situação de sub de - grande descoberta científica, que a história conta, a geografia conta, as
gerais de princípios instituições contam.
; pabticas de prom oção do Portanto, enfrentar tais interpretações envolve partir de uma visão
• espacial. sólida de produção social do espaço, historicamente determinado, resul­
i as dezenas de teorias tante dos conflitos e consensos que se estruturam em torno do ambiente
to o alcance de eficiência construído.
V a n n H por parte de uma Lembrando que não tem sentido a form ulação de teorias abstratas
■ az própria, em um conjun- sobre o desenvolvim ento, p rocuro apontar, no segundo capítulo, os
, com amplas sinergias quatro conceitos que entendo essenciais para se conceber um a visão
naaiagens que se encontram alternativa ao novo ou ao velho mainstream. São mediações teóricas que,
e contexto mais imediato. penso, são basilares. D iscuto com o os processos de homogeneização,
>municipio, a cidade, ou a integração, polarização e hegemonia são essenciais para a análise das
i para a ação. estruturas e dinâm icas sociais, historicam ente determ inadas, em sua
com ares de fanatismo dimensão espacial.
' resgatar alguns deter- Procuro apresentar a trajetória analítica que arranca do movimento
t capitalismo, defendendo que do capital a partir de suas determinações mais simples, abstratas e gerais,
► am bém fatores decisivos definindo o que chamei de homogeneização das condições reprodutivas
. hierarquias. Existe poder. do capital; transita para o nível da pluralidade dos capitais enfrentándo­
¡que são desdenhadas se no processo de concorrência, que determina a articulação e o enlace
(de espaços e estruturas produtivas) próprio da coerência imposta pela
MasCema capitalista recorren- integração; explicita a natureza desigual e com binada do desenvolvi­
Esoõal do trabalho, em todas mento capitalista, envolvendo dom inação e irreversibilidade, próprias
í aperfeiçoa
compulsivamente da polarização; desem boca na questão term inal do poder diferencial
• em seu benefício. É por na capacidade de decisão, fruto de uma correlação de forças que está
ijie c . Na verdade, elas ganham sintetizada no processo de hegemonia.
>particular. Entendo que essas quatro forças m oldam a dim ensão espacial do
i,e as microprocessos, as micro- processo de desenvolvim ento capitalista e podem oferecer u m a via
: solapar os macroprocessos analítica profícua para os estudos territoriais. Porém esses princípios
: essas visões voluntaristas. teóricos perdem sentido, se não estiverem m ergulhados no real, isto é,
ce retom o à velha discussão se não forem apreendidos em sua realidade histórico-concreta.
-¿o uma visão reificada do Nesse sentido, empreendo um esforço de breve síntese, no terceiro
■ nerecer rua plataforma vantajosa, capítulo, das principais mediações históricas necessárias ao entendimento
► ir: mu:: uue busca atrair capitais. de com o o Brasil construiu a unidade nacional de um território continen-

31
TE R R ITÓ R IO E D ESEN VOLVIM EN TO

tal e marcado por heterogeneidades estruturais. Aponto aí os principais Nesse contexto, no carn
elementos que dão a natureza de um mercado interno integrado e com da escala nacional das pcl:
uma economia urbana bastante complexa, submetidos à estrutura política dessa empreitada, ressalta
do pacto de dom inação interna extremamente conservador. Enfatizo se ter um espaço nacion-i
com o a expansão e apropriação territoriais, a extensividade e o controle vários dinamismos, mas
da propriedade foram funcionais às equações política e econôm ica que necessidade de ter em c o r a
se estruturam no país. no Brasil.
Aponto sucintamente como se vai redefinindo, no processo histórico, Esboço, ao final, algurs
o m odo de relacionamento entre as regiões, passando por uma coerência conjunto de enfrentam era*
do mercado nacional imposta, primeiro, pelo capital mercantil, depois, o país. Apresento a dupla
pelo capital industrial. Se, por um lado, esses processos envolvem rupturas, ligada aos processos de ar
inerentes à profunda transformação material, com o estabelecimento de ranjar as coalizões conse:
fortes laços de complementaridades inter-regionais, por outro, envolvem envolve, necessariamente,
também marcantes persistências, sobretudo das formas arcaicas de dom í­ construindo e destruindo
nio sobre a terra e da preservação dos espaços de reprodução do capital de desenvolvimento é
mercantil em suas diferentes faces (imobiliário, comercial, transportes a correlação de forças s
urbanos e outros serviços etc.). Diversas frações desse capital passam a políticas e projetos em dr
comandar as regiões e cidades brasileiras, perpetuando o atraso estrutural As forças capitalistas
da situação de subdesenvolvimento. as escalas. Desse modo,
A constituição de densas estruturas produtivas e complexas e de va­ sas forças deve necess;
riadas econom ias urbanas nas cinco m acrorregiões brasileiras se deu escalas espaciais, em sua
sob decisiva ação do Estado. C om o aprofundamento da crise fiscal e Nenhum recorte e s p a c ü
financeira, essa ação, antes bastante ativa, vai perdendo legitim idade As escalas são construções j
e força de coordenação para dar unidade à diversidade regional e urbana e sociais e, desse modo,
brasileira. É o que discuto no quarto capítulo. preciso repactuar relações,
A múltipla crise que se instala no país recrudesce os velhos impasses cionalizados de concertaçãa»
e recorrências históricas de nossa reprodução social, transform ando territorializados.
o padrão de sociabilidade anteriormente erguido. É um m om ento de Essa nova direção das p c Ü
condensação histórica em que se corroem ainda mais as bases da esfera espacial e em sua pedagoga»»'
pública e se desarticulam possíveis ações construtivas da nação e do o potencial das diversidade»!
espaço nacional. vilização multicultural5
O conjunturalism o e a supremacia da m acroeconom ia da riqueza
mercantil e financeira serão frutos desse estado de coisas e virão sancionar
o arco de alianças conservadoras que dom inam a vida nacional.
Esse conjunto de forças desarticulativas se expressa na profunda
crise federativa brasileira e na guerra dos lugares e das escalas que se
instala.

32
IN T R O D U Ç Ã O

.Aponto aí os principais Nesse contexto, no capítulo 5, discuto a necessidade da reconstrução


>imtemo integrado e com da escala nacional das políticas de desenvolvimento. O ponto de partida
; à estrutura política dessa empreitada, ressalto, deveria ser o reconhecim ento da natureza de
: conservador. Enfatizo se ter um espaço nacional continental. Esse grande porte proporciona
lesÉmsividade e o controle vários dinamismos, mas também constrangimentos. Também ressalto a
t política e econôm ica que necessidade de ter em conta os diversos urbanos complexos existentes
no Brasil.
çno processo histórico, Esboço, ao final, alguns contornos mais gerais do que deveria ser o
io por uma coerência conjunto de enfrentamentos às forças do atraso estrutural que paralisam
i capital mercantil, depois, o país. Apresento a dupla face do processo de desenvolvimento: aquela
; envolvem rupturas, ligada aos processos de arranjar projetos e aquela, mais difícil, de desar­
«com o estabelecimento de ranjar as coalizões conservadoras. Formular projetos de desenvolvimento
,p o r outro, envolvem envolve, necessariamente, trabalhar nessas duas frentes simultâneas,
sformas arcaicas de domí- construindo e destruindo consensos e arranjos políticos, pois o processo
tde reprodução do capital de desenvolvimento é intrinsecamente marcado por tensões. Distorcer
, comercial, transportes a correlação de forças sociais e políticas conservadoras requer manejar
i desse capital passam a políticas e projetos em diversas escalas espaciais.
ndo o atraso estrutural As forças capitalistas têm inerente capacidade de manejar bem todas
as escalas. Desse modo, qualquer política de controle ou regulação des­
i e complexas e de va- sas forças deve necessariamente utilizar, de forma adequada, as diversas
jões brasileiras se deu escalas espaciais, em sua luta diuturna.
íento da crise fiscal e Nenhum recorte espacial é natural, como querem os conservadores.
,¥aí perdendo legitim idade As escalas são construções históricas, econôm icas, culturais, políticas
tdKicersidade regional e urbana e sociais e, desse modo, devem ser vistas na formulação de políticas. É
preciso repactuar relações, reconstruir espaços públicos e canais institu­
(■ Ecnadesce os velhos impasses cionalizados de concertação de interesses e estabelecer contratos sociais
social, transform ando territorializados.
i enguido. É um m om ento de Essa nova direção das políticas de desenvolvimento, em sua dimensão
raiada mais as bases da esfera espacial e em sua pedagogia, democrática e politizadora, deve resgatar
•construtivas da nação e do o potencial das diversidades (sociais, regionais, produtivas etc.) da “ci­
vilização multicultural” brasileira.
• xsacroeconom ia da riqueza
! de coisas e virão sancionar
iza a vida nacional,
se expressa na profunda
m s dezares e das escalas que se

33
Capítulo i

O campo da economia política do desenvolvimento:


o embate com os localismos” na literatura e ñas

políticas públicas contemporáneas

1 .1 I N T R O D U Ç Ã O

A crescente internacionalização dos circuitos econômicos, financeiros


e tecnológicos do capital mundializado, de um m odo geral, debilita os
centros nacionais de decisão e comando sobre os destinos de qualquer
espaço nacional. No caso específico dos países continentais, desiguais e com
marcantes heterogeneidades estruturais (produtivas, sociais, regionais),
como o Brasil, essa situação se revela ainda mais dramática, ensejando
um processo de agudização das marcas do subdesenvolvimento desigual,
excludente e segregador.
Nesse contexto, grande parte da literatura internacional contem po­
rânea, adotada de form a m ecânica e indiscrim inada no país — e que
inform a parcela m ajoritária das ações públicas em âmbito subnacio-
nal — , proclama que bastaria cum prir as “exigências” da globalização,
desse novo im perialism o da “partilha dos lugares eleitos”, ajustando-
se, adaptando-se e subm etendo-se a essa inexorável “fatalidade”, para
tornar-se um espaço receptivo e conquistador da confiança dos agentes
econôm icos mais poderosos. N egando com pletam ente a natureza das
hierarquias (im postas em variadas escalas) de geração e apropriação
de riqueza, segundo esse “pensam ento único” que invade o debate do
desenvolvim ento territorial, regional, urbano e local na atualidade,
teria ocorrido o fim das escalas intermediárias (e das mediações) entre
o local e o global.

35
TERRITÓ R IO E D ESENVOLVIM EN TO O CAM PO

Se, por um lado, houve a revalorização do território, do que se con­ a política, os conflitos- ¿s
vencionou chamar de “geografia econômica” 1 e da dimensão espacial do e o espaço nacional. N¿ -rsa
processo de desenvolvimento, por outro, ocorreu a completa banalização assim, todas as escalas.
das questões que, malgrado sua natureza estrutural, histórica e dinâmica, Nos últimos anos.
foram deslocadas para o lugar-comum do voluntarismo, cristalizando ciências sociais. A conce
um grande consenso, um verdadeiro “pensamento único localista”. Quase invadiu o debate sobre o
toda a literatura aborda, e as políticas “públicas” implementam, ações em e no mundo.
algum a medida orientadas, em parte ou no todo, por essa concepção Recentemente, o debale*
teórica e analítica. oriundas da chamada ‘ e
Negligenciando cabalmente as questões estruturais do país e as m ar­ a partir dos artigos se
cantes especificidades de suas regiões, essa agenda se impôs de form a endogeneização do p r o s
avassaladora na academia e nos governos estaduais e m unicipais (e nas les autores p rocu ram )
diversas m odalidades de políticas federais: sociais, industriais, agrí­ capital humano, com o
colas etc.). taxas de crescimento entro*
Entendo que o enfrentamento dessa visão, hoje hegemônica, passa­ As intervenções d e !
ria pela reflexão crítica e pela discussão de propostas alternativas e pelo em um verdadeiro “re
tratam ento adequado da articulação de todas as escalas geográficas. regional, sobretudo no ¡
Nenhuma escala per se é boa ou ruim. É preciso discutir a espacialidade reconhecer as contribuãcãcs!
dos problemas e implementar políticas levando em consideração a escala do desenvolvimento, a i
específica desses problemas, mas em um contexto em que esteja presente para as complement
um projeto nacional de desenvolvimento. Penso que, ao contrário daque­ seria preciso criticá-la. js
las visões, as escalas “intermediárias”ganham novo sentido e importância de suas idéias, ou seja, jm
nessa fase do capitalismo. formalismo”, o que teria <
Procuro apresentar, neste capítulo, um mapeamento das principais fosse reconhecida pelas ]
vertentes desse pensamento, realizando a crítica ao enorme conjunto da Krugman destaca o papd *
literatura que sugere que estaríamos vivendo a possibilidade de consolidar timentos são maiores qoe«
um novo padrão de desenvolvimento, construído totalmente no âmbito externas. Nesse contexto.*
local, dependente apenas da força de vontade dos agentes empreendedores entre retornos crescentes.*
que m obilizariam as potências endógenas de qualquer localidade. res produtivos. Criticando*
Pretendo demonstrar as insuficiências, desvios e consequências nefastas Krugm an ressalta queeiasi
da aplicação mecânica desse modismo, que ressalta os microprocessos e as do auto-reforço endógeno.I
microdecisões, na verdade defendendo uma agenda que nega cabalmente i dado ambiente. Assim, e lr i

i Os temas clássicos desse campo disciplinar voltaram à pauta de discussão (embora de forma Uma forma interessante de ssaãa
viesada e simplificada, conforme procurarei demonstrar) após algumas décadas de ostracis­ entre as teorias que aí
mo: os determinantes da localização, concentração geográfica; o papel da aglomeração, da intrínseca divergência nos f i
proximidade e das especializações produtivas; o fosso entre as porções de território dinâmicas Para uma síntese dessas:
e as estagnadas ou decadentes etc. Herrera (2000).

36
O C A M P O D A E C O N O M IA P O L ÍT IC A D O D E SE N V O L V IM E N TO

t territorio, do que se con- a política, os conflitos, as classes sociais, o papel da ação estatal, a nação
- e da dimensão espacial do e o espaço nacional. Na verdade, nega todas as questões estruturais e,
i a completa banalização assim, todas as escalas existentes entre o local e o global.
, histórica e dinámica, Nos últimos anos, ocorreu o retorno do território aos debates das
>anfcintarismo, cristalizando ciências sociais. A concepção de que a escala local tem poder ilimitado
i único localista”. Quase invadiu o debate sobre o desenvolvimento urbano e regional, no Brasil
'im plem entam , ações em e no mundo.
i todo, por essa concepção Recentemente, o debate regional foi hegemonizado pelas interpretações
oriundas da chamada “nova teoria do crescimento endógeno”, elaboradas
is do país e as mar- a partir dos artigos seminais de Romer (1986) e Lucas (1988). Buscando a
i acenda se impôs de forma endogeneização do progresso técnico no m odelo de Solow (1956), aque­
aãuais e municipais (e nas les autores procuram ressaltar o papel dos investimentos em P & D e em
: sociais, industriais, agrí- capital humano, com o explicação da não-tendência à convergência2nas
taxas de crescimento entre espaços diferenciados.3
. hoje hegemônica, passa- As intervenções de Krugman (1991 e 1995) nesse debate resultaram
i propostas alternativas e pelo em um verdadeiro “renascimento” do debate do crescimento econôm ico
is as escalas geográficas. regional, sobretudo no seio do mainstream. Segundo ele, seria necessário
i discutir a espacialidade reconhecer as contribuições importantes aportadas pela “antiga” teoria
>em consideração a escala do desenvolvimento, a qual teria adequadamente cham ado a atenção
>em que esteja presente para as complementaridades estratégicas e as economias externas, mas
»que, ao contrário daque- seria preciso criticá-la, pois tal teoria teria fracassado na m odelização
:novo sentido e importância de suas idéias, ou seja, por não ter superado suas profundas “falhas de
formalismo”, o que teria determinado que essa formulação teórica não
i mapeamento das principais fosse reconhecida pelas principais escolas contemporâneas de economia.
len E ka ao enorme conjunto da Krugman destaca o papel da hipótese de que os retornos sociais dos inves­
i a possibilidade de consolidar timentos são maiores que os retornos privados, por causa das economias
nodo totalmente no âmbito externas. Nesse contexto, ele pretende analisar a “interação em três vias”
: «ãos agentes empreendedores entre retornos crescentes, custos de transportes e o m ovimento dos fato­
► de qualquer localidade. res produtivos. Criticando as teorias tradicionais da econom ia regional,
¡ e conseqüências nefastas Krugman ressalta que elas não apresentaram os mecanismos dinâmicos
sressalta os microprocessos e as do auto-reforço endógeno, form ado pelas externalidades presentes em
■ jtsstda que nega cabalmente dado ambiente. Assim, ele sugere o esforço teórico de incorporação, nos

rr_ ü i= discussão (embora de forma 2 Uma forma interessante de realizar um balanço da literatura seria definir uma contraposição
mes algumas décadas de ostracis- entre as teorias que asseveram uma tendência à convergência versus outra que destaca a
çríica;: : papel da aglomeração, da intrínseca divergência nos processos de criação e apropriação de renda e riqueza.
lí rcrcões de território dinâmicas 3 Para uma síntese dessas teorias, consultar Mattos (1998); Bueno (1998), Gadelha (1998) e
Herrera (2000).

37
TERRITÓ R IO E D ESENVOLVIM EN TO O C A M P O DA Z :

m odelos econômicos, da existência de rendimentos crescentes em um Nesse contexto, “o 1: : a - poj


ambiente de concorrência imperfeita. lidade do capital às varlic:*
Por fim, é bom ressaltar que os pesquisadores dessa “nova teoria” “especial”, propaganda--õ:
admitem a intervenção do Estado para contrabalançar as posições de vidade, eficiência, am erj;
“equilíbrio subótimo”, resultantes das “falhas de mercado”, mas, sobretudo, m odernidade. Essa luxa õ a s l
para engendrar um ambiente favorável, estimulante dos investimentos região ou da cidade” co c: z 1
privados, como, por exemplo, por meio de maiores gastos em educação investimentos, melhorando*
ou esforços de aperfeiçoamento regulatório, ou qualquer despesa públi­ custos tributários, log
ca que seja “produtiva”, no sentido de desobstruidora e restauradora de tem conduzido a um ]
condições adequadas à m aior produtividade dos fatores, aperfeiçoando finanças locais e em b o tai* i
o ambiente institucional e possibilitando a dim inuição dos “custos de do desenvolvimento.
transação” na operação do sistema econôm ico. O espaço local e r e g k s a il
Com base nesse ressurgimento teórico, passou-se a propagandear as auto-impulso. Segundo *
“vantagens inerentes” da escala menor. âmbito urbano-regional j
É mais que a empresa, caiai
sinergias deste; é mais qoe *
1.2 L O C A L IS M O S , M IT O S E B A N A L IZ A Ç O E S N O globalização e menos capaz*
D E B A T E S O B R E O D E S E N V O L V IM E N T O econômico-sociais privadas*
parte dessa produção
Nos últimos anos, a concepção de que a escala local tem poder ilim ita­ determinado território 1
do invadiu o debate sobre o desenvolvimento territorial, no Brasil e no volvimento socioeconó*
mundo. casos e, dessa forma, acafes]
Muitas das diversas abordagens de clusters, sistemas locais de inovação, à regulação local. E sses;
incubadoras, distritos industriais etc. possuem tal viés. A banalização de as redes de com prom isso*
definições com o “capital social”, redes, “econom ia solidária e popular”; o propósitos e lealdade <
abuso na detecção de toda sorte de “empreendedorismos”, voluntariados, consorciada.
talentos pessoais e coletivos, m icroiniciativas,'com unidades solidárias”; Poder-se-iam listar <
a crença em que os formatos institucionais ideais para a prom oção do atualidade a defesa
desenvolvimento necessariamente passam por parcerias “público-privadas”, ou subjacente, em v a ria d ssi
baseadas no poder de “governança” das cooperativas, agências, consórcios, exaustivo talvez fosse i
comitês etc., criaram uma cortina de fum aça nas abordagens do tema. ficada, lembraria a ei
Essa“endogenia exagerada” das localidades crê piamente na capacidade (que poderíam ser de
das vontades e iniciativas dos atores de uma comunidade empreendedora ser fundidas, pois a 1
e solidária, que tem controle sobre seu destino e procura promover sua vertentes):
governança virtuosa lugareña. Classes sociais, oligopólios, hegemonia etc.
seriam componentes, forças e características de um passado totalmente
superado, ou a ser superado.

38
O C A M P O D A E C O N O M IA P O L ÍT IC A D O D ESEN V O LV IM EN TO

os crescentes em um Nesse contexto, “o local pode tudo” e, diante da crescente “sensibi­


lidade do capital às variações do lugar”, bastaria mostrar-se diferente e
dessa “nova teoria” “especial”, propagandeando suas vantagens comparativas de com petiti­
«■ ■ crabalançar as posições de vidade, eficiência, amenidades etc., para ter garantida sua inserção na
J e mercado”, mas, sobretudo, m odernidade. Essa luta dos lugares para realizar a m elhor “venda da
ate dos investimentos região ou da cidade”, com a busca desenfreada de atratividade a novos
maiores gastos em educação investimentos, melhorando o “clim a local dos negocios”, subsidiando os
ou qualquer despesa públi- custos tributários, logísticos, fundiários e salariais dos empreendimentos,
idora e restauradora de tem conduzido a um preocupante comprometimento, a longo prazo, das
Jos fatores, aperfeiçoando finanças locais e embotado o debate das verdadeiras questões estruturais
i dim inuição dos “custos de do desenvolvimento.
O espaço local e regional tudo poderia, dependendo de sua vontade de
passou-se a propagandear as auto-impulso. Segundo essa posição, que atualmente domina o debate, “o
âmbito urbano-regional seria hoje o marco natural da atividade econômica.
É mais que a empresa, cada vez mais dependente de seus entornos e das
sinergias deste; é mais que o Estado-Nação, desbordado pelos processos de
5D globalização e menos capaz de articular-se com a diversidade dos atores
econômico-sociais privados” (Borja e Castells, 1997, p. 250). Uma grande
parte dessa produção intelectual exagera na capacidade endógena de
local tem poder ilimita - determinado território para engendrar um processo virtuoso de desen­
territorial, no Brasil e no volvimento socioeconómico, replicar as características exitosas de outros
casos e, dessa forma, acaba por subestimar os enormes limites colocados
-sistemas locais de inovação, à regulação local. Esses autores exaltam os sistemas de colaboração e
tal viés. A banalização de as redes de com prom isso armadas no local, com grande unidade de
i solidária e popular”; o propósitos e lealdade entre os agentes inseridos em um a coletividade
iorism os”, voluntariados, consorciada.
comunidades solidárias”; Poder-se-iam listar dezenas de vertentes teóricas que assumem na
ideais para a promoção do atualidade a defesa irrestrita da escala local, de form a mais declarada
porparcerias“público-privadas” ou subjacente, em variados aspectos e dim ensões. Um levantamento
ras, agências, consorcios, exaustivo talvez fosse tarefa interminável; porém, de uma form a simpli­
nas abordagens do tema, ficada, lembraria a existência e a influência de pelo menos as seguintes
i crê piamente na capacidade (que poderíam ser desdobradas em muitas outras ou algumas poderíam
rl l H ¿Ir , nunidade empreendedora ser fundidas, pois a literatura recente tem feito convergir muitas dessas
? e procura promover sua vertentes):
egopólios, hegemonia etc.
s~ cu.; ¿e um passado totalmente

39
TE R R ITO R IO E D ESENVOLVIM EN TO O C A M P O Da í -Ci

Vertente teórica/ Principais autores e ... .... . Vertente teórica/ Principas h MI


Eixo de analise e ideia-força analítica
analítica obra seminal

S ub stitu ição da produção em sé rie e R e g iõ e s com o


“Acumulação fle­
Piore e Sabei (1984) em massa fordista pela especialização a tiv o s re la c io S ie rre - - 2 * 1
xível”
,lexíveL nais
Conjunto “m arshalliano de pequenas e
Modelo dos dis­ Brusco (1982) m edias em presas, de base sem i-arte-
tritos industriais Becattini (1987) sanal, que convive em urna atm osfera
italianos Bagnasco (1988) sin é rg ica de cooperação, co n fian ça e Nova econom ia
Norfr - a m
reciprocidade. institucional

Scott e Storper (1986) Learning Regions, em que o tecido socio-


E s c o la c a lifo r- Scott (1988)
niana S to r p e r e W a lk e r e potencializa processos endógenos di­
(1989) nâmicos de aprendizagem coletiva.
Ohmas 2 1
C o n s tru ç ã o de C onstrução deliberada de co m p e titivi­
vantagens com ­ dade e vantagens relativas locais. Toma
Porter (1990)
petitivas em ám­ por b&stí u sou dictifianle dt? qüaliu
bito localizado mentos.

No novo modo de produção do “informa- Pós-fordismo re- Lipiecz 1 9 |


cionalism o” , com seus fluxos globais de guiaciomsta B e m e e _ p ¡2
Sociedade
(e economia) Castells (1996) “geometria variável” , a busca por identi-
em rede dade local ganha significado tanto quanto
estar conectado à rede.

A geografia conta e, dependendo do ba- M ilia u innova Aydaac ~9H


Nova geo gra fia lanço entre as forças centrífugas e cen- eur
Krugman (1991)
econômica trípetas, estruturar-se-ão arranjos espa-
ciais mais aglomerativos ou não.
C lnsters ou o ii -

Reconhecendo a existência de rendimen- tr o s a r r a n jo s Schricz


tos crescentes e econom ias de escala, produtivos locais Porter
colocam as taxas de crescim ento como com e fic iê n c ia
determ inadas pelo comportamento e pe- coletiva
Ias decisões adotadas endógenam ente
Teoria do c re s ­
Romer (1986 e 1990) pelos participantes do mercado e por po- D us __ Desen-
c im e n to e n d ó ­
Lucas (1988 e 1990) líticas públicas que amenizem as “falhas v o lv im e n to Lo-
geno Pnuc S m l
de m ercado” e possam m elhorar o am- c a | in te g r a d o
biente institucional e endógeno do local. Sustentável
Mais recentemente, destacam o papel da

de individual e nível educacional).

As regiões têm a tendência a convergir


Sala-I-M artin (1990) Borjê e C
Convergência de para a m esm a ta xa de crescim ento e “ Planos estraté-
Barro e Sala-I-M artin (1997;
renda m esm os níveis de renda pe r capita, a gicos locais”
(1995)
longo prazo.

Vantaqens do acúm ulo de confiança e ...................................


solidariedade e o papel virtuoso da tra­
Capital social Putnam (1993)
dição da comunidade cívica, buscando o
sentido do “bem comum” .

40
O C A M P O D A E C O N O M IA P O L ÍT IC A D O D ESEN V O LV IM EN TO

Vertente teórica/ P rin c ip a is a u to re s e


U se e id é ia-fo rça E ixo de a n á lise e id é ia-fo rça
a n a lítica o b ra sem inal

produção em série e Retroalimentação relacionai entre tecno­


R e g iõ e s com o
ifcrcS sía pela especialização logias, organizações e territórios, desta­
a tiv o s r e la c io ­ Storper (1997)
cando 0 papel das convenções, coorde­
nais
nação e racionalidade.
¡ IsraarsraMiano' de pequenas e
>a mc rà sas. de base sem i-arte- Dependendo da instrum entalidade ins­
¡ BorVive em uma atmosfera titucional, podem-se construir contextos
. a e cooperação, confiança e Nova econom ia localizados que amenizam divergências,
North (1990)
institucional instabilidades e incertezas, através de
normas, costumes e regras que regulam
p fta ^ c r s . em que o tecido socio- 0 comportamento dos agentes.
: entorno territorial, promove
>processos endógenos di- Com 0 fim dos Estados-nação, que eram
i aprendizagem coletiva. “ recortes não-naturais” , e graças às van­
Estados-região Ohmae (1990 e 1996) tagens da fragm entação, afirm ar-se-ão
sjettberada de com petitivi- os âm bitos “naturais” das regiões e lo­
! relativas locais. Toma calidades.
r s ssl. ‘diamante" de quatro ele-
Rede de com prom issos, coerências e
contratos sociais locais, através de certo
Pós-fordismo re- Lipietz (1985)
b c de produção do “informa- modo de regulação localizado, condizen­
gulacionista Benko e Lipietz (1992)
, corr. seus fluxos globais de te com 0 regim e de acum ulação mais
ra ra ve T . a busca por identi- geral.
t gam a significado tanto quanto
; à rede. Meio tecnocientífico virtuoso construído
e sustentado por um “bloco social” loca­
M ilíe u in nova -
m a e. dependendo do ba- Aydalot (1986) lizado em ambiente coletivo de aprendi­
teur
i torças centrífugas e cen- zado apto a m obilizar conhecim ento e
. e M rjçjra r-se -ã o arranjos espa- recursos.
>a o o n e ra tiv o s ou não.
C lusters ou ou­
j a existência de rendimen- t r o s a r r a n jo s V ínculos e interdependências geradas
Schmitz (1997)
e econom ias de escala, produtivos locais pela concentração espacial/setorial de
Porter (1998)
■ s x a s de crescim ento como com e fic iê n c ia empresas.
í peto comportamento e pe- coletiva
í p i õ p ^ saetadas endógenam ente
Ativism o local a fim de cria r uma “os­
Bj s r t c p ê r tes do mercado e por po- D l is— D esen­ mose perfeita” entre comunidade local e
35 que amenizem as “falhas vo lvim e n to Lo­ as empresas, com a construção de um
' s possam m elhorar o am- P nud (Banco Mundial)
c a l In te g ra d o “homogêneo sistema de valores” , tendo
í'■s s fitjc o c a ! e endógeno do local. Sustentável por base a eficiência e a sustentabilidade
e. destacam o papel da ambiental.
: ac capital humano (habilida-
s ifvel educacional). S eria uma “grande operação com uni-
cacional, um processo de m obilização” ,
a tendência a convergir com 0 fim não declarado de tratar a cida­
z mes- a taxa de crescim ento e “ Planos estraté­ B o rja e C a s te lls
de ou região como uma mercadoria, do­
'•¡•íe s de renda pe r capita , a gicos locais” (1997)
tada de boa imagem, sím bolo ou marca,
a ser “bem vendida" no mercado mundial,
isto é, ter alta atratividade de capitais.
a r acúmulo de confiança e
« B ia ^ e c a r e s a papel virtuoso da tra-
jj « r s ; s z z ¡ ~ l t cade cívica, buscando o
r — zz r : ~ e — comum” .

41
TERRITÓ R IO E D ESENVOLVIM EN TO O C A M P O DA i * ií

Vertente teórica/ P rin c ip a is a u to re s e


munitário e solidário, t- id s ià i
E ixo de a n á lise e id é ia-fo rça
anairtlca o b ra sem inal relações mercantis foraiD
Aglomerações urbanas (com pelo menos em que parece não h¿'* s:
1 milhão de habitantes) aptas a terem co­ sujeito, ora sujeito sem i
nectividade com os fluxos econôm icos
Cidades-região Scott et ai. (1999) mundializados, sendo dotadas dos requi­ Boa parte dessa lite
sitos para se transformar em plataformas de descrições que saúdanu i
competitivas e atores políticos decisivos
na disputa pelos mercados globais. da centralização, da cor

M etrópoles que estão no topo da rede


e [a vitória] de uma utocsKJ
C id a d e s m un­
urbana mundial e que concentram 0 ter­ pela diversidade e, em
Sassen (1991) ciário avançado, grandes corporações,
diais
centros de tecnologia, cultura e ciência aponta Veltz (1996, p. 13 -
etc.

D esenvolvim en­ A busca de soluções de form a com par­ no se insistirá nunca <
Vázquez Barquero
to local e n d ó ­ tilhada conduz ao “desenvolvim ento en­ las estrategias y orga
(1993 e 1999)
geno dógeno” .
empresas como a Ias :
Governança
Boa governança alcançada através de empresas flexibles e
Banco Mundial construção de ambiente previsível, trans­
local
parente e com accountability.
de la economía, y un 1
modelos de la produccwc 1
Circuito alternativo de produção, d istri­
E conom ia s o li­
Coraggio (1994)
buição e consumo de bens dos “setores
radicalmente falsa.
Singer (2002)
dária e popular populares urbanos” ou “unidades domés­
ticas de trabalhadores” .
As listas intermináwÕM
É preciso avaliar os dilemas da ação co­ m undo clean, pouco cc
Teoria dos jogos letiva que se travam no am biente local
Bates (1988) convivendo próxima
e ação coletiva para capacitar-se para 0 exercício de co­
Ostrom (1990)
localizada operação para 0 mútuo proveito, estabe­ siñcado, rígido, politizad& i
lecendo compromissos confiáveis.
Ressaltou-se em vários^
Menu disponível de “experiências que
deram certo” , que pode ser acionado em
proximidades, procurandM
Best practices Banco Mundial qualquer tempo e espaço, a fim de sele­ territorializados seriam 4
cionar uma ação que possa ser replicada
com êxito no âmbito local. tiva específica. Buscou-sej
o processo de aprend
coletivo, vantagens essas |
Há um enorme paradoxo subjacente à maioria dessas formulações
exercício de criatividade ed
teóricas. O u bem o espaço local é um m ero nó entrelaçado em um a
Caberia salientar que, da 1
imensa rede (i.e., um quase anônim o ponto a mais, submisso em um
esses trabalhos muitas ’
conjunto gigantesco, funcional à determ inação instrum ental de uma
dimensão de identidade cà
totalidade onipresente), ou bem aparece com o um recorte singular, do­
dado milieu, exageram ;
tado de vantagens idiossincráticas e únicas, capaz de autopropulsão,
uníssonos, naquela p i m » <
identidade e autonomia. O ra o local se apresenta com o “entidade do
ações de construção de t
futuro”, à mercê de uma razão instrumental avassaladora, ora se cai no
letivos com alta sinergia.!
anacronism o de proclamar o ressurgim ento de um agrupamento co ­

42
O C A M P O D A E C O N O M IA P O L ÍT IC A D O D ESEN V O LV IM EN TO

munitário e solidário, baseado em relações de reciprocidade, em que as


s e id é ia-fo rça
relações mercantis foram subordinadas pelo consenso cívico e cidadão,
>jrb a n a s (com pelo menos em que parece não haver lugar para conflitos. O ra há estrutura sem
tüBBBsntes) aptas a terem co- sujeito, ora sujeito sem estrutura.
¡ 33rr os fluxos econôm icos
. sendo dotadas dos requi­ Boa parte dessa literatura acaba sendo pouco mais do que uma relação
s a * fransíDnnar em plataformas
de descrições que saúdam, segundo A m in e Robins (1994, p. 79), o “fim
í s acores políticos decisivos
lasos mercados globais. da centralização, da concentração, da massificação e da estandardização
; qce estão no topo da rede
e [a vitória] de uma utopia antifordista, caracterizada pela flexibilidade,
5 que concentram o ter- pela diversidade e, em term os espaciais, pelo localism o”. C om o bem
grandes corporações,
í Jecnotogia, cultura e ciência aponta Veltz (1996, p. 13),

e sotuções de forma compar- no se insistirá nunca demasiado sobre la idea de que la transformación de
u a m a u z ao “desenvolvimento en- las estrategias y organizaciones concierne tanto, e incluso más, a las grandes
empresas como a las pequeñas. La oposición entre un mundo de pequeñas
ijp s e r r õ n ç s alcançada através de empresas flexibles e innovadoras, suporte principal de la territorialización
: de ambiente previsível, trans­
a r a n : accountabiHty.
de la economía, y un universo rígido de grandes empresas atrapadas en los
modelos de la producción en serie, e indiferentes a los territorios, me parece
líÉterr.a ívo de produção, distri-
i * sansumo de bens dos “setores
radicalmente falsa.
i jib a r o s ’ ou “unidades domés-
E iaeatnadores'.
As listas intermináveis de vantagens relativas locais contrapõem um
r a o i s r os dilemas da ação co- mundo deán, pouco conflituoso, diversificado, de indivíduos talentosos,
: vavam no ambiente local
r-s e para o exercício de co­ convivendo próximamente etc., e um mundo dark, pouco solidário, mas-
r a o mútuo proveito, estabe-
sificado, rígido, politizado, de classes sociais antagônicas, etc.
i'SaRoromissos confiáveis.
Ressaltou-se em vários desses estudos o papel das aglomerações e das
rvre; de “experiências que
easrxf. que pode ser acionado em proximidades, procurando analisar de que forma os complexos produtivos
r s r o c e espaço, a fim de sele- territorializados seriam capazes de germ inar densidade social coopera­
k ação que possa ser replicada
c *nc ámbito local. tiva específica. Buscou-se perceber, em várias dessas análises específicas,
o processo de aprendizagem e de aquisições diferenciais em acúmulo
coletivo, vantagens essas possibilitadas pela proxim idade física e pelo
a lesio n a dessas formulações
exercício de criatividade e de geração e apropriação de “sinergias coletivas”.
■ ero rsó entrelaçado em urna
Caberia salientar que, da mesma forma que na literatura internacional
i p nnm- í mais, submisso em um
esses trabalhos muitas vezes resvalaram por apresentar uma tamanha
instrum ental de urna
dimensão de identidade e de “tendência combinatoria” dos atores de um
a r e m t recorte singular, do­
dado milieu, exageram ao perceber uma harm onia de interesses, quase
cas. capaz de autopropulsão,
uníssonos, naquela porção do território. Os locais que desenvolveram
1 . se ¡Erresí-ta como “entidade do
ações de construção de competitividade, com base em m ovimentos co­
■ nana. avassaladora, ora se cai no
letivos com alta sinergia, seriam exemplos a serem seguidos por regiões
ç m it r :.: ce um agrupamento co ­

43
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO ocam po da i:: -

e cidades que desejassem replicar tais experiências, procurando copiar Divisão social do íh íJ b '
sua lista de “fatos estilizados” e trajetórias de microdecisões, e acordos
16. Equidade
tácitos que deram certo.
17. Justiça ambiental (in:&-a=
Esquemáticamente, pode-se afirmar que boa parte dessa copiosa litera­
tura, em certa medida, se filia a uma interpretação orientada por algumas 18. Pouca capacidade de
(posto que o centro de aaosãs
das categorias, conceitos e noções listados à direita do quadro abaixo. núcleo dominante e nãc é ~í—
mas concentrado)

Divisão social do trabalho Desenvolvimento local/endógeno 19. Ética

1. Sociedade 1. Comunidade

2. Classes sociais 2. Atores, agentes, talentos humanos


O grande desafio, inlgBçé
e de gestão política) 1
3. “Capital social” ; “Capital cultural”; “Capi­
3. Capital (e suas frações) x Trabalho tegorias colocadas à esc
tal sinérgico” ; “Capital humano”
dessa visão, hoje heg<
4. “Agenciamento de habilidades” e capa­
4. Propriedade dos meios de produção
cidade de “federar a produção” ternativas e pelo trai
5. Relações mercantis 5. Relações de reciprocidade
geográficas.4 A o final
discussão de políticas
6. “Capital humano” ; recursos humanos e
6. “Mundo do trabalho" As abordagens da moda
sua empregabilidade
dade, retomando ao coi
7. Estado 7. Mercado
e não classes sociais, que
8. “ Iniciativa privada” e “parcerias público-
8. Ação pública
privadas”
dos valores da auto-ii
que por interesses de
9. Coerção da concorrência/rivalidades
9. Cooperação construídos, [...] não são
intercapitalistas
estão em processo de
10. Fatores “exógenos” e “m acroeconô­
m icos” são fundam entais e determ inan­ de resistência comunaF
10. Fatores endógenos e “microeconômi-
tes (câmbio, juros, fisco, regulação do
cos” do ambiente sinérgico são determ i­ sustenta uma posição de i
mercado de trabalho; papel das questões
nantes
monetárias, financeiras, dos fundos públi­ criticada, teria ocorrido a
cos etc.)
relevante, substituída p d a
11. Padrões concorrenciais, mesmo que
11. Micro e pequenas empresas e empre­ de personalidade distiníâwfc
em última instância, comandados por oli­
sas em rede Abandonando q u alq ier
gopólios
sociais, esses autores
12. Economia terciária e “dos serviços” ,
12. Estruturas produtivas pós-industrial, pós-fordista e de acum u­ pela “comunidade cinca* d
lação flexível
social, a partir do trabalha
13. Poder; hegemonia 13. Atmosfera procuram trabalhar a
14. “Bloco histórico" 14. “ Espírito empreendedor” qualidade da vida cívica

15. Divergência, hiversidade, assimetrias 15. Convergência


4 Essa nova perspectiva à e ;
brilhantemente defendió* s

44
O C A M P O D A E C O N O M IA P O L ÍT IC A D O D ESEN V O LV IM EN TO

, procurando copiar Divisão social do trabalho Desenvolvimento local/endógeno


r*Bcrodecisões, e acordos
16. Equidade 16. Eficiência

17. Justiça ambiental (Intergeracional) 17. Sustentabilidade


i parte dessa copiosa litera-
► orientada por algumas 18. Pouca capacidade de regulação local
(posto que 0 centro de decisão está no
ldo quadro abaixo. núcleo dom inante e não é disseminado,
18. Governança local
mas concentrado)

i local/endógeno 19. Ética 19. Estética

i. agentes. talentos humanos


O grande desafio, julgo, é realizar a crítica a essas posições (teóricas
e de gestão política) localistas, sendo orientado analíticamente pelas ca­
■-“Capital cultural”; “Capi-
. “C apital humano” tegorias colocadas à esquerda no quadro. Entendo que o enfrentamento
dessa visão, hoje hegemônica, passaria pela discussão de propostas al­
i de habilidades” e capa-
r a produção” ternativas e pelo tratamento adequado da articulação de todas as escalas
geográficas.4 A o final deste trabalho, procuro alinhavar uma pauta de
¡ rec*>rocidade
discussão de políticas nesse sentido.
T; recursos humanos e
As abordagens da moda têm abandonado a perspectiva crítica da socie­
dade, retornando ao conceito de comunidade, constituída por atores e agentes,
e não classes sociais, que orientariam suas ações pelo compartilhamento
Eisrvaâa” e 'parcerias público-
dos valores da auto-identidade e do pertencimento a comunas, mais do
que por interesses de classe. Estaríamos diante de sujeitos que “se e quando
construídos, [...] não são mais formados com base em sociedades civis, que
estão em processo de desintegração, mas sim com o um prolongamento
de resistência comunal” (Castells, 1996, p. 28). Segundo esse autor, que
isn o o ge n o s e “microeconómi-
: sinérgico são determ i- sustenta uma posição de resto aceita por grande parte da literatura aqui
criticada, teria ocorrido a dissolução da sociedade com o sistema social
relevante, substituída pela identidade construída em torno da consciência
t '« 3eaüer>as empresas e empre- de personalidade distintiva, própria de determinada comunidade.
Abandonando qualquer perspectiva de existência de luta de classes
sociais, esses autores colocam toda a ênfase nas relações estabelecidas
i&Táãria e “dos serviços",
r® . oos-fordista e de acumu- pela “comunidade cívica”, destacadas nas abordagens do papel do capital
social, a partir do trabalho seminal de Putnam (1993). As pesquisas que
procuram trabalhar a questão do desempenho institucional e o papel da
"E a cn tc e r-o '= e id e d o r” qualidade da vida cívica das comunidades têm-se multiplicado, discu-

E -JTr¡wrps-c.£
................................... 4 Essa nova perspectiva de construir estratégias (analíticas e políticas) multiescalares está
brilhantemente defendida em Vainer (2002 e 2006).

45
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO ocam po i : tí

tindo a lógica da ação coletiva que resulta “no sentido do bem comum”, ações de melhoria do a.~m
a depender de fatores do ambiente institucional, com o o contexto cívico, o setor privado. Há c e r ­
cultural e da tradição política dos atores de determinada localidade, es­ cas públicas, a depende:
truturados em torno da confiança e da solidariedade, que geram o éxito deveria a ação pública a
ou não das instituições comunitárias. espontaneidade ou o e s è i
Uma parte da literatura localista chega a afirmar que não há, nessa Posto o perfil virtuoso
nova fase do capitalismo, maiores necessidades de se ter a propriedade dos passaria a depender da
m eios de produção. As mudanças tecnológicas e organizacionais teriam coletiva” e das vontades e
possibilitado tal poder de governança entre empreendedores e agentes tenham construído uma
inovativos, que logram dar coerência a iniciativas que “estão no ar”, isto dade microeconômica-b»
é, alguns agentes visionários conseguem aglutinar competências disper­ nos” e “macroeconômicos'
sas e promover a federação da produção de produtores independentes. monetárias, financeiras
Tudo passa a ser uma questão de empreendedorismos e vontades. Aos Assim, tomando
trabalhadores, restaria tornar-se patrões, “donos de seu próprio negócio”, acima, é possível destruir
ou buscar qualificação para melhorar sua empregabilidade. localizada. Um bom
Tal literatura, e o discurso que se vai propagando em todo o mundo, concorrência e de
exalta o papel das forças espontâneas e/ou acicatáveis, ou seja, a capacidade fundado em uma coi
do local de fundar e coordenar ações cooperativas e reflexões coletivas, tomando qualquer
baseadas nas relações de reciprocidade entre os membros da comunidade atomistas. Uma ins
local. Aponta o papel dos recursos tangíveis (suporte infra-estrutural, teoriza a com plexidade
crédito etc.), mas coloca a ênfase nos intangíveis (“expressos” em regras força, o poder e a coaçã
e convenções sociais), que são ativados, m obilizados e dirigidos para nantes5 e coloca a êníase
virtuosos arranjos societários-produtivos. Os vínculos e interdepen­ constitutivas do efeito dr<
dências mercantis e não-m ercantis geram com petências contextuáis, a interdependência
singulares àquele espaço. Desenvolvem -se em determinado lugar, não querem “reduzir ao
deliberadamente, por “erro histórico” muitas vezes, “redes cognitivas”, que estão para além d e k s s
conhecim entos tácitos contextuáis e trocas comunicacionais informais rência, compatível com
(por meio de ágeis canais de fruição de informações) que asseguram o e de pressões sobre as
ambiente virtuoso de cooperação. De acordo com Krugman (1991), graças
às “fascinantes questões que emergem quando as empresas devem tomar Estas competições.
decisões locacionais interdependentes”. são de natureza agressiva. <
O Estado pouco teria o que fazer nesse contexto de “aprendizagem o seu rival, luta contra á e i
vações, o investimento;
coletiva” e “atmosfera sociopolítica”, em que os atores se congregam e se
aproximam de forma cooperativa. A ação pública deve prover externali-
dades positivas, desobstruir entraves m icroeconôm icos e institucionais, 5 P e r r o u x a n a lis a i m p o r
c o n tra tu a l e p o d e r d e -¿ a »
deve regular e, sobretudo, desregular, a fim de garantir o marco jurídico
d e d o m in a ç ã o , d e p r e s a ç u - i
e o sistema normativo, atuando sobre as falhas de mercado. Além dessas lit e r a t u r a t r a d i c i o n a l

46
O C A M P O D A E C O N O M IA P O L ÍT IC A DO D ESEN V O LV IM EN TO

sentido do bem comum”, ações de melhoria do ambiente institucional, deve articular parcerias com
com o o contexto cívico, o setor privado. Há controvérsias na literatura sobre o caráter das políti­
■<éi J¡r*n minada localidade, es- cas públicas, a depender da origem dos processos sociais sobre os quais
e, que geram o éxito deveria a ação pública atuar, ou seja, se tais processos teriam por base a
espontaneidade ou o esforço institucional consciente, deliberado.
i a afirmar que não há, nessa Posto o perfil virtuoso desse “tecido socioprodutivo” localizado, tudo
í se ter a propriedade dos passaria a depender da força comunitária da cooperação, da “eficiência
• e organizacionais teriam coletiva” e das vontades e fatores endógenos ao entorno territorial que
: empreendedores e agentes tenham construído uma atmosfera sinérgica. Se tudo depende da virtuosi­
; que “estão no ar”, isto dade microeconômica, há pouco ou nenhum papel para os fatores “exóge-
•competências disper- nos” e “macroeconômicos”. Câmbio, juros, fisco, relação salarial, questões
: produtores independentes, monetárias, financeiras etc. parecem ser questões “fora do lugar”.
ios e vontades. Aos Assim, tomando qualquer elemento que se encontra à esquerda no quadro
>de seu próprio negócio”, acima, é possível destruir os argumentos da regulação exageradamente
tcmpregabilidade. localizada. Um bom exemplo seria lançar mão de uma boa concepção de
i em todo o mundo, concorrência e de estruturas de mercado (e não de um mundo encantado
, ou seja, a capacidade fundado em uma constelação de empreendimentos de pequeno porte),
i e reflexões coletivas, tomando qualquer referência teórica não baseada em decisões racionais
s membros da comunidade atomistas. Uma insuspeita, com o a de Perroux (1964), por exemplo, que
«soporte infra-estrutural, teoriza a com plexidade do ambiente institucional regional, discute a
¡ (‘ expressos” em regras força, o poder e a coação exercidos pelas unidades oligopólicas dom i­
ados e dirigidos para nantes5 e coloca a ênfase nos processos d e “dissimetria e irreversibilidade
. O s vínculos e interdepen- constitutivas do efeito de dom inação que estão em oposição lógica com
t com petências contextuáis, a interdependência recíproca e universal”. Critica os pesquisadores que
determinado lugar, não querem “reduzir ao mercado e regimes de mercado formas de relações
; vezes, “redes cognitivas”, que estão para além deles” e apresenta uma boa concepção da concor­
i comnnicacionais informais rência, compatível com a visão marxiana, com o um processo coercitivo
tãmarmações) que asseguram o e de pressões sobre as unidades de decisão capitalistas:
( c a c Kragm an (1991), graças
í ¿s empresas devem tomar Estas competições coletivas, assim como a concorrência entre as empresas,
são de natureza agressiva. O melhor, 0 mais forte pretende levar a melhor sobre
c c ie ito de “aprendizagem o seu rival, luta contra ele no âmbito dum conjunto onde se propagam as ino­
vações, o investimento adicional e o produto adicional. Esta propagação não é
■ ar :s ¿cores se congregam e se
rrnmicE deve prover externali-
” e :c 1 ; m icos e institucionais, 5 P e r r o u x a n a lis a im p o r t a n t e s e le m e n to s d o e fe ito d e d o m in a ç ã o d a u n id a d e e m p r e s a r ia l ( fo r ç a
c o n tr a tu a l e p o d e r d e n e g o c ia ç ã o ; d im e n s õ e s e n a tu r e z a d a a tiv id a d e ) , a fir m a n d o q u e fa to s
B ine ce o m i t i r 0 marco jurídico
d e d o m in a ç ã o , d e p r e s tíg io , d e a u to r id a d e , d e in flu ê n c ia s ã o g e r a lm e n te n e g lig e n c ia d o s p e la
k m vm m mercado. Além dessas lite r a tu r a tr a d ic io n a l.

47
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO O C A M P O Da Z I irii

espontánea, uniforme ou mecânica; os seus progressos e resultados dimanam localizadas e, por vezes- ce :
do conflito dos projetos concebidos por agentes desiguais. [...] é o contrário do processo de “seleçãc
do desenvolvimento espontâneo dos eventos económicos e da espontánea As regiões se transrcc
transformação das estruturas; os programas estabelecidos por grandes uni­ ambiente ameno” para
dades, desejosos de ganhar à custa umas das outras, não podem realizar-se
ticulação com a própria :
simultaneamente, e acima deles tem de intervir uma arbitragem.
envolve geralmente 1
é, torneios locacionais,«
Seria preciso uma boa abordagem de estruturas de m ercado (Tava­
[...] enquanto vários gi
res, 1974) que pensasse os problemas de acumulação oligopólica, ainda
qualquer benefício da <
mais em estruturas de economias “semi-industrializadas”, e não apenas
a subsidiar custos de i
repetisse, a todo momento, que se trataria agora de um a acum ulação
mentos. E stabelece-se:
flexível de capitais sem escala e porte. Ora, qualquer “sistema produtivo”,
interm inável contenda 1
que se monte em qualquer escala, estará envolvido em um ambiente de
ofertas tributárias, de 1
articulação oligopólica, sob dom inância do capital financeiro, e subme­
ses (a grande empresa» ¿1
tido a um a dinâm ica intersetorial específica, com andada, em últim a
vitorioso da guerra entrei
instância, por gigantescos blocos de capital e sujeito a barreiras à entrada
É interessante notar 4
nos setores-chave, a economias de escalas, à subutilização de capacidade
ofertantes de platafor
ociosa etc.
plantas industriais, e
Os estudos localistas avaliam as vantagens aglomerativas e de pro­
pólicos/industriais, <
xim idade com o fontes de conhecim ento e aprendizagem , enraizadas
trás e para frente (q u e ;
naquele território singular, criando, com suas investigações, listas ad hoc
gerariam enorme
dos ativos, capacitações, normas, rotinas e hábitos, todos devidamente
próximos aos complexos!
region-specific. Muitos desses trabalhos negligenciam que há hierarquias
les autores localistas,;
inter-regionais, e o comando maior desses processos, geralmente, está
ultrapassada.
fora do espaço sob análise.
Contraditória posãçãaM
Apesar de todos os esquemas de transmissão, dos “saberes” codificados
localista apresenta o ;
e dos processos de extração e de apropriação de externalidades positivas
como situação irreví
do entorno e da vizinhança, exaltados nessa literatura, o exame de diver­
poder quase ilim itado — i
sas experiências vai mostrar que, mesmo com a integração das cadeias
atividades “terciárias”, <
produtivas e um “programa de acumulação comum”, muitas vezes não
cundário, seria coisa do]
se logrou fortalecer as economias locais e regionais, em que progridem
dos serviços não enc
áreas restritas, simples focos de prosperidade, engendrando soluções
nar a proliferação da 1
parciais para aquela região.
aquela fundada n a s :
Além disso, segundo a literatura, nesse ambiente portador do “novo
paisagens criadas
desenvolvimento”, o esforço cívico e o engajamento solidário-associati-
metrópoles ou as regiões 1
vista passam ao largo de um Estado que se apresenta apenas com o um
locus do terciário av;
voyeur das vontades de produzir vantagens comparativas e sinergias
explícita, de que o ter

48
O C A M P O D A E C O N O M IA P O L ÍT IC A D O D E SE N V O L V IM E N TO

í e resultados dimanam localizadas e, por vezes, de alguma rede de filantropia para os excluídos
l áesigaais. [...] é o contrário do processo de “seleção natural”.
i emmòraicos e da espontánea As regiões se transformam em ofertantes de plataforma e de “meio
MaEaeeãeodos por grandes uni-
am biente ameno” para atrair investim entos, não im portando sua ar­
s. não podem realizar-se
ticulação com a própria hinterlândia ou outras porções do país. “Isto
larbitragem.
envolve geralmente guerras fiscais competitivas entre vários lugares, isto
é, torneios locacionais, especialmente orientados para atrair novas plantas
r e i n a r a s de mercado (Tava-
[...] enquanto vários grupos da vizinhança se encontram excluídos de
io oligopólica, ainda
qualquer benefício da operação” (Scott, 2001, p. 15). A ação pública passa
zadas”, e não apenas
a subsidiar custos de implantação e operação dos grandes em preendi­
de uma acumulação
mentos. Estabelece-se um verdadeiro certame de localização, em uma
“sistema produtivo”,
interminável contenda por estabelecer posição m áxim a na gradação de
■ em um ambiente de
ofertas tributárias, de terras e infra-estruturas etc. O receptor das benes­
i'^apfaí financeiro, e subme-
ses (a grande empresa) é quem determ ina o final do torneio e define o
, com andada, em últim a
vitorioso da guerra entre lugares.
l e n i e t o a barreiras à entrada
É interessante notar que, no m om en to das disputas entre vários
in É ctilíza çã o de capacidade
ofertantes de plataform a locacional, geralmente se deseja atrair grandes
plantas industriais, em uma paradoxal nostalgia com parques oligo-
• asJomerativas e de pro-
pólicos/industriais, dotados de potentes relações inter-industriais para
i e aprendizagem , enraizadas
trás e para frente (que atrairíam diversificadas empresas fornecedoras,
t investigações, listas ad hoc
gerariam enorm e núm ero de empregos diretos e indiretos etc.), mais
s é lla te o s , todos devidamente
próxim os aos complexos territoriais manufatureiros que, segundo aque­
i que há hierarquias
les autores localistas, seriam próprios de uma etapa fordista totalmente
. processos, geralmente, está
ultrapassada.
Contraditória posição oportunista, pois todo o tem po a literatura
.dos “saberes” codificados
localista apresenta o m undo da econom ia (e sociedade) pós-industrial
fde extern alidades positivas
com o situação irreversível, que teria criado amplas possibilidades — com
rSaeratura, o exame de diver-
poder quase ilim itado — de geração e reprodução de novas ou velhas
iidmr í integração das cadeias
atividades “terciárias”, em que a atividade industrial, isto é, do setor se­
rum” muitas vezes não
cundário, seria coisa do passado, enquanto a capacidade auto-expansiva
iJBgpcais, em que progridem
dos serviços não encontraria limites. C om o exemplo, caberia m encio­
=- engendrando soluções
nar a proliferação da literatura sobre o desenvolvimento, que vai desde
aquela fundada nas infinitas possibilidades do ecoturismo (mesmo em
ente portador do “novo
paisagens criadas artificialm ente) até a convicção de que as grandes
::o solidário-associati-
metrópoles ou as regiões mais desenvolvidas de qualquer país seriam o
rsenta apenas com o um
locus do terciário avançado. Muitas vezes há uma crença, subjacente ou
: reparativas e sinergias
explícita, de que o terciário pode ser facilmente replicável, em qualquer

49
TE R R ITÓ R IO E D ESEN VO LVIM EN TO O CAM PO

lugar, dependendo da vontade do poder público, mas sobretudo da O certo é que a ca p izc
iniciativa privada local. internos à localidade.
Segundo grande parte das teorias do desenvolvimento local, é com o é bastante questionável,
se o poder, a propriedade etc. estivessem sendo paulatinamente diluídos voluntaristas deve pani:
nessa etapa do capitalismo, tornando-se dispersos na atmosfera sinérgica gime social de produção — <
das eficiências coletivas e solidárias de um determinado local “que deu últimas conseqüências z
certo”.6 divisão social do traban» i
Talvez a falha mais grave, em última instância, da literatura up-to- e escalas espaciais.
date sobre desenvolvim ento local e regional seja que ela negligencia É preciso resgatar os i
totalmente a questão fundam ental da hegem onia e do poder político. acum ulação do capital ]
Alternativamente, e sob inspiração gramsciana, devemos pesquisar os aperfeiçoa seus inst
processos assimétricos em que um agente privilegiado (os centros de m aterial em seu favor,
decisão) detém o poder de ditar, (re)desenhar, delimitar e negar dom ínio e compulsiva. Portanto.*
de ação e raio de manobra de outrem. em cada um de seus j
O poder não é disseminado, obviamente. Existe uma coesão orgânica Os bons autores i
extralocalizada, que não é abalada pelas iniciativas empreendedoras ou teria com o apagar os \
pela atmosfera de progresso. Mas a visão da endogenia exagerada, não Não se pode negligencia
reconhecendo essa complexidade social, deposita na vontade dos atores pesquisadas sob a ótica*
sociais de um determ inado recorte territorial todos os requisitos de dando-se recorrentec
superação do subdesenvolvimento. reconstruir escalas, tanto;
Aniquilam -se nessas abordagens localistas todas as possibilidades
de tratam ento adequado das heterogeneidades estruturais dos países
subdesenvolvidos. Tais países vivem situações de extrem a assim etria 1.3 TR A N SFO R M A ÇÕ ES i

entre suas porções territoriais, correndo riscos de desem bocar em pro­ D E S E N V O L V IM E N T O *

cessos de fratura, inclusive federativa. Nesse sentido, é preciso pensar D IM E N S Ã O E S P A C IA IS *

a repactuação federativa e a construção de um patam ar m ín im o de


hom ogeneidade social, com o pré-requisitos de um verdadeiro processo As profundas transfor
de desenvolvimento nacional. espacialidades da riqueza*
Mas a abordagem endogenista apresenta as amplas possibilidades apresentam uma série de *
de desenvolvim ento, baseado apenas na vontade de autonom ia e de das densas e rápidas i
autocontrole de decisões cruciais. Seria suficiente praticar a adequada Essas transformações i
austeridade e disciplina fiscal e ter capacidade gerenciadora e promotora lidade e o conseqüente :
do desenvolvimento. im põem uma a gen d a ;
devem fazer parte do *
e das metam orfoses d o ;
dim ensão espacial. O .
6 A l g u n s a u t o r e s p a s s a r a m a u s a r a e x p r e s s ã o d e q u e a c o m p e t i t i v i d a d e , a e f i c i ê n c i a e t c . “e s t a r i a m
n o a r ” n e s s e s a m b ie n te s v ir tu o s o s .
intrigantes questões: a ;

50
O C A M P O DA E C O N O M IA P O L ÍT IC A D O D E S E N V O L V IM E N T O

, m as sobretudo da O certo é que a capacidade de ter centros de controle e de decisão


internos à localidade, tendo p or base a própria dinâm ica endógena,
lento local, é com o é bastante questionável. Qualquer embate com essas visões ingênuas e
► paulatinamente diluidos voluntaristas deve partir das determ inações mais profundas de um re­
í na atmosfera sinérgica gime social de produção — capitalismo — que necessariamente leva às
tdeterm inado lo ca l“que deu últimas conseqüências a m ercantilização e a penetração recorrente da
divisão social do trabalho em todas as possíveis dimensões temporais
, da literatura up-to- e escalas espaciais.
seja. que ela negligencia É preciso resgatar os determinantes maiores da lógica capitalista de
e do poder político. acum ulação do capital para se entender que o sistema, recorrentemente,
, devemos pesquisar os aperfeiçoa seus instrumentos de ação, m obiliza a diversidade social e
rprivilegiado (os centros de m aterial em seu favor, ou seja, em ben efício da valorização autóm ata
^delimitar e negar dominio e compulsiva. Portanto, engendra processos multiescalares, o tempo todo,
em cada um de seus m ovimentos.
suma coesão orgânica Os bons autores reconhecem que “a hiperm obilidade do capital não
i empreendedoras ou teria como apagar os nexos espaciais da produção” (Markusen, 1995, p. 9).
»enia exagerada, não Não se pode negligenciar a necessidade de trabalhar relações de classe,
m a vontade dos atores pesquisadas sob a ótica que revela a divisão social do trabalho aprofun-
todos os requisitos de dando-se recorrentemente em todas as escalas. Nesse contexto, é preciso
reconstruir escalas, tanto analítica quanto concretamente.
. todas as possibilidades
estruturais dos países
de extrem a assimetria 1-3 TRANSFORMAÇÕES RECENTES NO PADRÃO DE
as de desem bocar em p re­ DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA E SUAS REPERCUSSÕES NA
sentido, é preciso pensar DIMENSÃO ESPACIAL: OS DESAFIOS ATUAIS DA ANÁLISE
>é t nm patam ar m ín im o de
(de um verdadeiro processo As profundas transformações que se estão operando nas temporalidades e
espacialidades da riqueza capitalista em escala mundial, neste momento,
. as amplas possibilidades apresentam uma série de desafios para a análise da expressão espacial
t TOtaade de autonom ia e de das densas e rápidas mudanças sociais em curso.
trn d rv n te praticar a adequada Essas transformações verificadas no novo quadro m undial da atua­
: aerenciadora e promotora lidade e o conseqüente redesenho da geografia econôm ica m undial
im põem uma agenda ampla e complexa de importantes questões que
devem fazer parte do debate acerca do estatuto, hoje, do recorte regional
e das metam orfoses do m ovim ento da acum ulação de capital em sua
dim ensão espacial. O grande desafio é, então, procurar responder às
a eficiência etc. “estariam
intrigantes questões: a atual onda de mundialização do capital subverteu

51
T E R R ITÓ R IO E D ESEN VO LVIM EN TO o cam po da z :: .*1

e/ou aprimorou o uso que o capitalismo sempre fez das escalas espaciais? riqueza são altamente
Q ue papel desempenham, nesse novo contexto, o local, a região, o espaço busca e seleção por poziD í 1
nacional? Assim, uma ampla agenda de pesquisas se abre na atualidade, de apropriação privada à e :
im pondo uma espécie de “retematização” das com plexas articulações mais fácil. C ristalizam -se:
entre desenvolvimento e território. enquanto fluxos e fix o s ¡
Em escala global, a exacerbação do desenvolvimento desigual nas di­ propagação não-seqü
versas nações e blocos de nações tem levado a crescentes diagnósticos e de valorização do capitai. <
intervenções públicas compensatórias do processo reconcentrador. A cele­ estrutural inerente a esse ¡
ridade e a dimensão das revitalizações, desvalorizações de capitais e lugares, arranjo espacial da re
“desindustrializações”, relocalizações regionais etc. são impressionantes. passada — “espaço
Surgem novas interdependências, vínculos mercantis e não-mercantis, que posicionam “ruge
setoriais e territoriais, que redefinem circuitos produtivos regionais/locais e vezes encontramos, por*
(re)criam novos usos das heterogeneidades espaciais pelo capital. Há novas que não estão sendo b e s 1
hierarquizações e enquadramentos, atualizam-se e desatualizam-se fluxos (Harvey, 1982). Temos a 1
de mercadorias e redes de poder com grande rapidez. herança e inércia. O u :
Torna-se ainda mais impositivo estudar a natureza áas hierarquias que obstaculizam a i
(impostas em variadas escalas) de geração e apropriação de riqueza. através do prolonga
Observadores menos atentos sugerem 0 fim das escalas intermediárias sentido em buscar qu
entre o local e o global. O certo é que 0 sistema capitalista aperfeiçoou geografia”. O movimento*
seus instrumentos, inclusive 0 manejo mais ágil das escalas e a capacidade hom ogeneizadora de i
de utilização do espaço construído. das formas, das est
A s m udanças tecnológicas e organizacionais e os im perativos da soem limitar e dirigir j
globalização têm apresentado novos requisitos locacionais, reafirmam-se m ovim ento contínuo.]
e negam-se externalidades locais e regionais, desconstroem -se regiões. nunca se completa ]
Tendências e contratendências medem suas respectivas forças. Muitas ainda Por um lado, o
não tiveram o tempo e a circunstância adequados para sua efetivação. nessa fase atual superior*
O início do enfrentam ento de tão com plexas questões passa pelo atividades induzidas d ei
levantam ento m ín im o das poderosas contradições inculcadas nesse se p or redes intercon
objeto, que encontram manifestação em vários m ovim entos paradoxais Autores q u estion am :
que, grosso modo, poderiam ser sintetizados naquele apresentado por dissolução das regiões,a*
H arvey (1989, p. 267): “Quanto menos importantes as barreiras espaciais, com o “espaço totalVí
tanto maior a sensibilidade do capital às variações do lugar dentro do existiría a possibilidade*
espaço e tanto m aior o incentivo para que os lugares se diferenciem de ção do espaço e inva
maneiras atrativas ao capital”. do espaço pelo tempo’ *1
É inconteste que o m ovim ento da acum ulação de capital se processa, Por outro lado, ao i
em sua expressão espacial, de form a mutável, parcial, diversa, irregular engendra um espaço i
e com alta seletividade. As manifestações no espaço da valorização e da em geral, mas também ]

52
O C A M P O D A E C O N O M IA P O L ÍT IC A D O D E SE N V O L V IM E N TO

í f a das escalas espaciais? riqueza são altamente discriminatórias. Existe, assim, um processo de
»local, a região, o espaço busca e seleção por pontos do espaço que ofereçam m aior capacidade
í se abre na atualidade, de apropriação privada de rendimentos e onde “valorizar o valor” seja
»com plexas articulações mais fácil. Cristalizam -se no espaço estruturas que “se m aterializam ”
enquanto fluxos e fixos diversos (Santos, 1985), reveladores de um a
ato desigual ñas di- propagação não-seqüencial, de uma interm itência espacial no processo
i oescentes diagnósticos e de valorização do capital. Cabe notar que existe um a cum ulatividade
► reconcentrador. A cele- estrutural inerente a esse processo que irá determinar uma fixidez do
i de capitais e lugares, arranjo espacial da reprodução da vida social. O peso da experiência
¡ele. são impressionantes, passada — “espaço construído” — afirma cicatrizes, sinais e vestígios
ntis e não-mercantis, que posicionam “rugosidades” (Santos, 1985) no (e do) espaço. Muitas
ros regionais/locais e vezes encontramos, por exemplo, capitais fixos e infra-estruturas ociosas
i pelo capital. Há novas que não estão sendo bem utilizados e que precisam ser desvalorizados
re desatualizam-se fluxos (Harvey, 1982). Temos a história e a geografia contando, também, com o
herança e inércia. O u seja, legados e “resíduos” nos pontos do espaço
ra matureza das hierarquias que obstaculizan! a fluidez e a m obilidade, constituindo formas fixadas
¡apropriação de riqueza. através do prolongamento do passado no presente. Nesse contexto, não há
ufas escalas intermediárias sentido em buscar qualquer desses fenômenos “fora da história” e “fora da
: capitalista aperfeiçoou geografia”. O movimento da acumulação de capital, sobretudo em sua face
Idas escalas e a capacidade hom ogeneizadora de relações, vai procurar suplantar essa durabilidade
das formas, das estruturas, das relações e dos processos preexistentes que
e os im perativos da soem limitar e dirigir as transformações em curso requeridas por aquele
flocacionais, reafirmam-se movimento contínuo. Esse é um processo conflitivo e contraditório, que
. desconstroem-se regiões. nunca se completa plenamente e “de uma vez por todas...”
; forças. Muitas ainda Por um lado, o capital ganhou grande m obilidade e flexibilidade
. para sua efetivação. nessa fase atual superior de mundialização, em que “o capital flui e suas
questões passa pelo atividades induzidas de produção/gerenciamento/distribuição espalham-
ções inculcadas nesse se p or redes interconectadas de geom etria variável” (Castells, 1996).
; movimentos paradoxais Autores questionam se estariam ocorrendo a desterritorialização e a
; naquele apresentado por dissolução das regiões, a derrota das especificidades, até se confundirem
; as barreiras espaciais, com o “espaço total/mundial” (uma única plataforma homogênea). Se
r*ac3acões do lugar dentro do existiría a possibilidade concreta de um momento superior d e “suplanta-
jbsares se diferenciem de ção do espaço e invalidação do tempo” (Castells, 1996) ou d e “aniquilação
do espaço pelo tempo” (Harvey, 1989).
de capital se processa, Por outro lado, ao m esm o tempo, a natureza desigual da acumulação
ie e i P' ^ rircial, diversa, irregular engendra um espaço múltiplo. “O capital não somente produz o espaço
ws: ti : í-rp;co da valorização e da em geral, mas também produz as reais escalas espaciais que dão ao de-

53
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO ocam po da i ::

senvolvim ento desigual a sua coerência” (Smith, 1988, p. 19). As manifes­ tencial endógeno de en fren a» !
tações dos processos de produção, de consumo, de distribuição, de troca cum prir a “agenda estraresnad
(circulação) são marcadamente diferenciadas espacialmente. competitiva” (Com paña 1035
À m edida que as fronteiras territoriais são redesenhadas (apagadas, Nesse contexto, apreserona
segundo alguns), várias hipóteses são levantadas procurando dar resposta nativa a essas visões hesezaàe
à contradição de que, mesmo com o capital universalizado, se acentuam os
particularismos localistas. A visão liberal-conservadora, representada por
Ohmae (1996), discute a “disfuncionalidade” do Estado-nação em face do
movimento globalizante e abarcador do capital. Considera que o recorte
nacional conformaria unidade não-natural para o borderless world. A escala
eficiente — local/regional — veria constantemente seus contornos serem rati­
ficados pelo mercado (seria uma verdadeira e natural “unidade de negocios”)
e possuiría capacidade de justificar infra-estrutura (redes de comunicações,
transportes e serviços profissionais de qualidade), comprovando a eficácia
das ações no âmbito do que ele denomina de Estados-região.
Realmente, assiste-se atualmente ao crescente poder de veto, de blo­
queio e de burla de grupos nitidamente demarcados territorialmente, com
numerosos movimentos exprimindo demandas com expressões regiona­
listas, bem com o à propagação de ondas de separatismos, fragilizando as
ações dos Estados nacionais e desintegrando pactos federativos. C om o
aprofundamento da crise, diversos grupos de pressão regionais procuram
vocalizar suas demandas, e o regionalism o nada mais é que a expressão
política desses grupos, que buscam construir sua identidade no recorte
territorial, m obilizando-se para o enfrentamento com outras unidades
e escalas espaciais no Estado. A coesão é criada simbolicamente, com a
elite local articulando o discurso “em prol dos interesses legítimos da
região”. Os donos do poder local instrum entalizam-se contra os valores
universais e reacendem toda sorte de particularismos.
Deve-se ainda notar que, em seu esforço ideológico irrealizável de negar
a política (restringindo ao máximo o espaço do público e expandindo o
espaço do privado) e a utilidade de qualquer ente regulador externo ao mer­
cado, os (neo)liberais apóiam toda e qualquer ação que possa significar um
solapamento das bases do Estado, fomentando todo tipo de localismos.
Explicita-se aqui o ápice da visão dual: ou o m undo se estrutura em
redes poderosas centradas em grandes empresas transnacionais ou em
tecidos localizados de pequenas empresas. Em um ambiente fragmen-
tador, reforçam-se as lógicas autónomas que crêem na força de seu p o ­

54
O C A M P O D A E C O N O M IA P O L ÍT IC A D O D E S E N V O L V IM E N T O

. 1988, p. 19). As manifes- tencial endógeno de enfrentamento das forças da globalização, bastando
ude distribuição, de troca cum prir a “agenda estratégica com a qual possam assegurar a inserção
i especialmente. competitiva” (Com pans, 2005).
1redesenhadas (apagadas, Nesse contexto, apresentaremos a seguir um esboço de interpretação alter­
i procurando dar resposta nativa a essas visões hegemônicas que listamos neste primeiro capítulo.
ado , se acentuam os
ara, representada por
1Estado-nação em face do
. Considera que o recorte
10 borderless world. A escala
rsens contornos serem rati-
'unidade de negocios”)
Hiedes de comunicações,
comprovando a eficácia
rEstados-região.
: poder de veto, de blo-
»territorialmente, com
i a m expressões regiona-
smos, fragilizando as
>pactos federativos. C om o
rpressão regionais procuram
i mais é que a expressão
a identidade no recorte
to com outras unidades
simbólicamente, com a
1áo s interesses legítimos da
-se contra os valores
insm os.
»ÉdB0h3s k o irrealizável de negar
õo publico e expandindo o
se regulador externo ao mer-
■ i c i o que possa significar um
toco tipo de localismos.
; mundo se estrutura em
s a ic tis is transnacionais ou em
“ C-v - m t n ambiente fragmen-
£ rrée o na força de seu p o ­

55
C a pítu lo 2

As principais determinações da dimensão


espacial do desenvolvimento capitalista

2.1 I N T R O D U Ç Ã O

O presente capítulo procura estabelecer e discutir o lugar teórico das prin­


cipais determ inações que explicariam o caráter desigual do processo de
desenvolvimento capitalista e busca demonstrar a necessidade de avançar
na teorização e na hierarquização dos determinantes que conform am e
m oldam a dim ensão espacial desse processo de transformação social.
Após uma breve análise crítica das abordagens tradicionais, procu­
ra-se apontar alguns elementos teóricos que deveríam fazer parte das
análises que se pretendam realizadas no cam po da econom ia política do
desenvolvimento, com o é o caso deste livro.

2.2 IN S U F IC IÊ N C IA S T E Ó R IC A S D A S A N Á L IS E S
“e s p a c ia l iz a d a s ” D O S P R O C E S S O S E C O N Ô M IC O S

As análises do mainstream da chamada ciência econôm ica regional e


urbana partem da constatação da desigualdade na distribuição espa­
cial dos fatores de produção e das atividades. Posta essa diferenciação
inicial na dotação de recursos, os autores procuram demonstrar que a
racionalidade dos agentes — ao tomarem decisões otimizadoras perante
essas irregularidades — acabará vencendo essas “fricções espaciais”.1

1 Tais fricções ou “custos de interação espacial” refletiríam o “conjunto de custos econômicos


impostos pela distância pois “vencer a distância que separa dois pontos do espaço geo-

57
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO a s p r ix c ^ .-- : : ;— ¿ a

Nesse contexto, diante da impossível eqüidade, a eficiencia decisoria dos agrícola em gradient
agentes quanto à localização contornaria esses obstáculos advindos das nen (1826); a delcrm :r.rca:
indivisibilidades, efeitos de escala e problemas colocados pela insuficiente operará com menores rz
m obilidade dos fatores de produção e pela distância física entre bens, de transporte, de Alfred."
pessoas e mercados. O u seja, tudo se transform aria em uma questão de hierarquizadas de lc
distribuição locacional, em um ambiente não construído, mas dado “natu­ conform ação h e x a g o n a l,
ralmente”, inerte, isto é, conformado pelas forças mercantis, sendo apenas a partir da busca por
o receptor dessas decisões individuais. Conform e apontado mais à frente, etc. Essas abordagens k
esse m odelo teórico possui nítido caráter aistórico, aescalar (aplicável submetidas à sistema
tanto a um país quanto a uma cidade etc.). Não há contexto institucional o que deu origem ao qoej
e nem ambiente construído por forças sociais e políticas. da ciência regional
Seguindo essa concepção estática, positivista e utilitarista, a ciência regio­ Baseadas no ind
nal procura analisar as causas da ineficiência alocativa de recursos escassos e maximizadoras, dadas s
no espaço, posto que “a economia regional é a economia da imobilidade suposto de que, com a *
regional (espacial) de recursos [...] A existência de recursos escassos, sua hom ogênea, contínua e ]
distribuição desigual no espaço e sua mobilidade imperfeita dão origem a eficiência nos desk
ao problema econôm ico regional, cujas várias manifestações a economia de transportes.2A 1
regional tenta investigar”. Nesse contexto, essa área do conhecimento assim tamento, de vantagem ]
se define: “Estudo, do ponto de vista econômico, da diferenciação e inter- bens e infra-estruturas, j
relação de áreas num universo de recursos desigualmente distribuídos realizaria suas escolhas]
e imperfeitamente móveis” (Dubey, 1964, p. 26). Dadas as imperfeições seriam atos indiferentes à i
na mobilidade dos fatores de produção, seria necessário que o sujeito econômica envolve agocai
atom izado realizasse racionalm ente uma escolha locacional ótima. A ser disponível, um rect
ordenação dos agentes e das atividades no espaço se daria com regula­ A o cabo do processo,:
ridade e racionalidade, se garantida a devida mobilidade dos recursos e pessoas e dos objetos’ 4
dos fatores de produção. Permitido seu livre funcionamento, o mercado Em um espaço-
ajustaria e equilibraria a distribuição dos bens e fatores no espaço, após plano geométrico, c
um balanço entre forças concentradoras e forças dispersivas. se-iam certas atividades <
Na busca por pesquisar as racionalidades e as regularidades presen­ apresentaria uma escala c
tes nos processos de localização das atividades econômicas, tivemos as repartida regularmente 3
contribuições que conform aram o campo de estudos denom inado de empresas se repartiríam 1
ciência regional, destacando-se, de início, a “escola alemã”: a localização e buscando a pros

gráfico exige esforço» recursos e tempo. Esse custo exprime-se de várias maneiras: custo de 2 “O fator primordial n o * :
transporte das mercadorias, custo de comunicação da informação, custo de deslocamento das variação regular com í .
pessoas, etc. [...] os custos impostos pela distância não são apenas custos diretos. Ultrapassar Weber como Isard ir
o atrito do espaço exige tempo” (Polèse, 1998, p. 56). Neste contexto de tom ada de decisões de transporte, a qual e 5
“espaço-temporais” coloca-se a questão do custo de oportunidade, da renúncia de se“utilizar Mesmo nos modelos de 1
o tempo em outra opção”. de transporte desem peds* * j

58
A S P R IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N SÃ O E SPA C IA L

.«eficiência decisoria dos agrícola em gradientes (anéis concêntricos de produção), de Von Thü-
► obstáculos advindos das nen (1826); a determinação da localização industrial ótima, aquela que
tooiocados pela insuficiente operará com menores custos de produção e incorrerá em m enor custo
t A stán cia física entre bens, de transporte, de A lfred Weber (1909); a análise da formação das redes
i em uma questão de hierarquizadas de localidades centrais, de W alter Christaller (1933); a
taamstruído, mas dado “natu- conform ação hexagonal do sistem a econôm ico urbano, estruturada
i mercantis, sendo apenas a partir da busca por m axim ização de lucro, de August Lõsch (1940)
: apontado mais à frente, etc. Essas abordagens locacionais, objeto de análise dos alemães, foram
’ « S o n c o , aescalar (aplicável submetidas à sistematização neoclássica realizada por Walter Isard (1956),
□ f i o h á contexto institucional o que deu origem ao que se poderia considerar a “escola anglo-saxônica”
i e políticas. da ciência regional.
leiülitarista, a ciência regio- Baseadas no individualismo m etodológico e nas escolhas racionais
lde recursos escassos e m aximizadoras, dadas as restrições, essas abordagens partem do pres­
: a econom ia da imobilidade suposto de que, com a dotação de recursos inscrita em uma superfície
i de recursos escassos, sua homogênea, contínua e plana, se realizam os cálculos que regulariam
: imperfeita dão origem a eficiência nos deslocamentos dos agentes, m edida através dos custos
í manifestações a economia de transportes.2A unidade decisoria usuária de “uso do solo”, de assen­
t do conhecimento assim tamento, de vantagens locacionais e de proxim idade e acessibilidade a
, da diferenciação e inter- bens e infra-estruturas, segundo seus gostos e preferências individuais,
; desigualmente distribuídos realizaria suas escolhas por espaço/localização. Produzir e consum ir não
»fLa6\ Dadas as imperfeições seriam atos indiferentes à sua localização e ,“a rigor, qualquer transação
lnecessário que o sujeito econômica envolve agora um custo para superar a distância, ou que, para
i escolha locacional ótima. A ser disponível, um recurso deve ser antes acessível” (Smolka, 1984, p. 771).
t espaço se daria com regula- Ao cabo do processo, afirma-se uma distribuição final racionalizada “das
i mobilidade dos recursos e pessoas e dos objetos”, otimamente disposta no espaço geográfico.
í funcionamento, o mercado Em um espaço-plataforma homogêneo, dotado de contigüidade, um
iftess e fatores no espaço, após plano geométrico, cristalizar-se-iam as aglomerações humanas e agrupar-
mc i s c a s dispersivas. se-iam certas atividades econômicas. Cada bem ou serviço produzido
; e as regularidades presen- apresentaria uma escala ótima de produção, correspondente a uma demanda
econômicas, tivemos as repartida regularmente por esse “m ercado territorial” hom ogêneo. “As
áe estudos denom inado de empresas se repartiríam regularmente no espaço fugindo da concorrência
l‘escola alemã”: a localização e buscando a proximidade dos clientes” (Benko, 1995, p. 52). Em tal am-

=arruü±-~e ¿e várias maneiras: custo de 2 “O fator prim ordial nos modelos locacionais é o custo de transporte, que, por apresentar
jc EãtrraciD. custo de deslocamento das variação regular com a distância, presta-se m elhor a generalizações. Assim é que tanto
Cií. ç e a custos diretos. Ultrapassar Weber como Isard iniciam seus modelos pela determinação da localização de m ínim o custo
irTi : : - . : ± x z o de tomada de decisões de transporte, a qual é tomada como um paradigma para a consideração de outros fatores.
: :.?ie. da renúncia de se"utilizar Mesmo nos modelos de Thünen e Lõsch, este mais preocupado com o lado da receita, o custo
de transporte desempenha o papel fundamental” (Azzoni, 1982, p. 25).

59
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO a s p r ix c :?.-. :

biente, não se podem, naturalmente, operar rendimentos crescentes ou de pontos ordenados àt


externalidades, que criariam fricções e imperfeições à livre “competição Nesse sentido, a discussã;
espacial” dos agentes. tornou parâm etro furv
Tendo por base o individualism o m etodológico, a região tem um produzir e consum ir sã?
status similar ao da firma na teoria neoclássica. Segundo essa teoria, a a articulação física e :
firma (ou a região) seria uma unidade que toma decisões autônomas, distância do mercado
realizando a mais racional e eficiente combinação de fatores. Mas isso à de centros urbanos. Ha
primeira vista. Uma visão mais profunda facilmente teria que reconhecer distribuição das cidades,
que essas entidades nada decidem, não têm poder, são passivas e meros com o pontos com aha
instrumentos das forças de mercado, que promoveríam o ajustamento com a classificação dos
harm onioso, superando as fricções existentes nesses planos estáticos desaglomerativos, os
(que seriam as regiões). de concentração/de
As regiões são, nessas construções teóricas, meros receptáculos neutros, cando-se uma teoria da
sítios sem textura ou entorno. Um platô ou espaço-reflexo, inerte, segundo influências das econ
essa concepção empirista do espaço-plataforma. O espaço é plenamente mias de localização. A
identificado à distância. Esse é seu principal atributo. A s superfícies do balanço dessas foiças
pouco importam. Os espaços são meros recipientes, segundo Lipietz. A terciárias e sua cap
racionalidade é preservada ao demonstrar-se que, no balanço entre de- relevo. Quanto à questão
seconomias aglomerativas (desvantagens e custos da alta concentração concepção funcionalísta
metropolitana, por exemplo) e economias externas, proporcionadas pela ecologia urbana de
densa aglomeração de atividades e pessoas, os benefícios são bastante com as teorias mais
compensadores em relação aos custos. Portanto, o tamanho ótim o seria D iniz (2000, p. 2)
o resultado da posição equilibrada dessa balança. americana” (Isard) e ‘
Apesar da estreiteza metodológica, importantes perguntas são form u­
ladas acerca da dimensão espacial dos processos de desenvolvimento por vários temas ou categorias
aqueles e outros autores clássicos, em certo sentido de forma marginal, processos de localização,
ou seja, constituindo-se em uma agenda ampla, mas periférica ao mains- cam-se as análises do ¡
tream das ciências sociais, que em sua m aioria é aespacial. Os temas e qualificação do trabalho,:
as questões analisadas são variados. Seguindo, muitas vezes, trajetórias pólos de desenvolvime
da base exportadora, das
teóricas pouco convergentes ou mesmo integráveis, acabaram, porém,
e dos retornos crescentes.
contribuindo para estruturar uma problemática específica.
Vejamos algumas teses. A origem do processo que dá início ao cres­
Caberia salientar:
cim ento econôm ico regional é, geralmente, a dotação, inicial e relativa,
North, tivemos os 1
de recursos naturais e fatores produtivos. Existe uma tendência inerente
assevera que os espaços
a se agruparem, aglomerarem e concentrarem as pessoas e as atividades
e seu processo de <
econôm icas, e sua distribuição geográfica segue um padrão assimétrico.
de exportação, dividindo
A distribuição espacializada das estruturas econôm icas se dá a partir

60
A S P R IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N SÃ O E S P A C IA L

r n r fím e n to s crescentes ou de pontos ordenados de produção e zonas de m ercado de consum o.


. à livre “competição Nesse sentido, a discussão do tamanho do m ercado e das distâncias se
tornou parâm etro fundam ental da análise. A s escolhas de lugar para
ico , a região tem um produzir e consum ir são complexas. A interdependência econôm ica e
. Segundo essa teoria, a a articulação física e funcional são elementos a serem pesquisados. A
decisões autônomas, distância do m ercado hierarquiza o território, estruturando-o em rede
>de fatores. Mas isso à de centros urbanos. Há uma enorme diversidade de porte e na form a de
te teria que reconhecer distribuição das cidades. Alguns núcleos urbanos e regionais emergem
i poder, são passivas e meros com o pontos com alta centralidade. Procura-se avançar uma tipologia,
: prom overíam o ajustamento com a classificação dos fatores locacionais: os fatores aglomerativos e
. nesses planos estáticos desaglomerativos, os efeitos de atração e repulsão. Analisa-se o processo
de concentração/desconcentração espacial dos fatores e atividades, bus­
; receptáculos neutros, cando-se uma teoria da localização (sobretudo industrial). Avaliam-se as
-reflexo, inerte, segundo influências das economias de escala, economias de urbanização e econo­
. O espaço é plenamente mias de localização. A configuração regional e urbana seria a resultante
atributo. A s superfícies do balanço dessas forças e efeitos. As análises centradas nas atividades
i i n j pienfes, segundo Lipietz. A terciárias e sua capacidade de “estruturação espacial” também ganham
: que, no balanço entre dé­ relevo. Quanto à questão específicamente urbana, caberia m encionar a
s e castos da alta concentração concepção funcionalista de cidade como “organismo social” da escola da
, proporcionadas pela ecologia urbana de Chicago, que acabou seguindo uma via de diálogo
, os benefícios são bastante com as teorias mais conservadoras do debate regional.
, o tamanho ótimo seria D iniz (2000, p. 2) divide as abordagens regionais clássicas em “escola
americana” (Isard) e “escola francesa” (Perroux), mostrando que, nelas,
perguntas são formu-
de desenvolvimento por vários temas ou categorias analíticas foram considerados na explicação dos
sentido de form a marginal, processos de localização, concentração e desenvolvimento regional. Desta­
mas periférica ao mains- cam-se as análises do papel dos custos de transporte, da renda da terra, da
é aespacial. O s temas e qualificação do trabalho, das áreas de mercado, da centralidade urbana, dos
pólos de desenvolvimento e do processo de polarização, da empresa motriz,
muitas vezes, trajetórias
da base exportadora, das relações de insumo-produto, das economias externas
íK s r ã v e is , acabaram, porém,
e dos retornos crescentes.
específica.
ppccesso que dá início ao cres-
Caberia salientar ainda que, a partir do artigo seminal de Douglas C.
i dotação, inicial e relativa,
N orth, tivem os os desenvolvimentos da teoria da base exportação, que
sce uma tendência inerente
assevera que os espaços urbanos ou regionais têm sua base econôm ica
as pessoas e as atividades
e seu processo de crescimento induzido e orientado por sua capacidade
üfa-i ^r-r_e um padrão assimétrico,
de exportação, dividindo suas atividades em “básicas” (de venda ao ex-
tem ru econômicas se dá a partir

61
T E R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO a s p r ix c :; : .r~s

terior) e “não-básicas” (de suporte às atividades exportadoras).3 O local estim ação do nível
deverá reagir positivamente ao impulso inicial possibilitado pelo setor da renda líquida regíccaL ;
exportador e suscitar um conjunto de reações em cadeia, dinamizadoras renda e tentativas de ¿ n
de atividades não-básicas urbanas (endógenas), o que possibilitará o padrões de comércio ir
crescimento urbano-regional. e da arrecadação de i
tornou saliente. Tamben® 1
de drenagem de renda e i
2.3 A L G U M A S V IA S A L T E R N A T IV A S D O D E B A T E R E G IO N A L E U R B A N O nante sobre as outras.
Muitas contribuições. <
Seria importante discutir brevemente algumas trajetórias teóricas que se lineadas, inform ando i
desenvolveram alternativamente às concepções mais tradicionais apre­ redução das disparidades!
sentadas até aqui. Talvez se pudesse isolar uma via de corte “keynesiano”, compensatórios de 1
que procurou analisar os m ecanismos de determ inação e m edição das sobretudo em cap ital;
rendas regionais e propor ações estatais de planejamento regional. Nos anos 50 e 60,01
Segundo Carlos de Mattos (1998), com essa via, predom inante no no recebeu influência 1
período 1930-1975, “ganhou terreno a convicção de que seria factível 0 das teorias do desenv
exercício de uma espécie de engenharia social”, através de ações planeja­ posição muitas vezes 1
das, sob inspiração teórica de keynesianos e “pós-keynesianos” (Harrod, escala regional. Assim. 1
Domar, Kaldor etc.), que ressaltavam que o livre jogo do mercado gera mente ou para reafirmar!
desem prego e acentua as desigualdades econôm icas e tinham com o vim ento segundo o <
pressupostos teóricos a concorrência imperfeita, os rendimentos cres­ lações de R ostow (1959I.I
centes, as externalidades e a tendência à divergência. Nesse contexto, “o influência das teorias <Joi
Estado deveria recorrer a políticas discriminadas territorialmente no que dade de um trátam eos»4
diz respeito a incentivos e desincentivos fiscais e financeiros, subsídios, superar os obstáculos i
tarifas e preços diferenciais, controles, ação de empresas públicas, etc.” influência tenha partido!
(Mattos, 1998, p. 19). processo de desenvo
Raúl Prebisch (1974, p. 404) reconheceu que os pesquisadores latino- M yrdal (1957), com sua!
americanos propagaram uma “concepção macroeconômica da planificação, segundo Furtado (1966,1
sem chegar ao regional e sub-regional que daria um conteúdo concreto
a nossa tarefa”. Seria preciso avançar as análises e se “concentrar na es-
“Alguns autores, como >
tratificação regional”. a necessidade de con dcñr a
Sob inspiração keynesiana, importantes questões foram analisadas, tentando entender a i
regional (Argawala e 5
e avançou-se na operacionalização de alguns conceitos-chave, com o natureza e composição da a
das condições de de
3 “De maneira geral, o início do processo de desenvolvimento de uma região faz-se através da Tais páginas são ex
exportação de algum recurso natural prévio ou de alguma atividade primária. [...] Somente as lações de Furtado e de todas
regiões que possuírem recursos naturais, em quantidade economicamente aproveitável e na Perroux, ele afirma que*
qualidade requerida, serão capazes, em princípio, de atender à demanda externa” (Schwartzman, das estruturas, na ide
1975, P- 52)- categorias de decisões e as i

62
A S PR IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N SÃ O E S P A C IA L

&exportadoras).3 O local estim ação do nivel interno de produção, relações de troca, evolução
1possibilitado pelo setor da renda líquida regional, avaliação dos multiplicadores de emprego e
i cadeia, dinamizadoras renda e tentativas de avaliar o balanço inter-regional de pagamentos e os
, o que possibilitará o padrões de comércio interestadual. O papel das despesas governamentais
e da arrecadação de impostos e do desempenho das finanças públicas se
tornou saliente. Também se avançou em pesquisas acerca dos problemas
de drenagem de renda e apropriação de recursos de uma região dom i­
ilI C I O N A l E URBANO
nante sobre as outras.
Muitas contribuições, de cunho em inentemente prático, foram de­
»trajetórias teóricas que se
lineadas, inform ando propostas de políticas públicas que buscassem a
i mais tradicionais apre-
redução das disparidades regionais de renda, assentadas em mecanismos
i Tía de corte “keynesiano”,
compensatórios de transferência de renda e gastos públicos estratégicos,
: ¿esm n in ação e m edição das
sobretudo em capital social básico.
¡ffaaaeiamento regional.
Nos anos 50 e 60, o debate sobre 0 desenvolvimento regional e urba­
. via, predom inante no
no recebeu influência direta de todas as correntes principais das cham a­
ção de que seria factível o
das teorias do desenvolvimento econôm ico. Ou seja, ocorre uma trans­
)através de ações planeja-
posição muitas vezes direta do debate internacional e nacional para a
*gos-keynesianos” (Harrod,
escala regional. Assim, tivemos as vertentes que partiam — seja critica­
► firre iogo do m ercado gera
mente ou para reafirmar o caráter seqüencial do processo de desenvol­
>económ icas e tinham com o
vim ento segundo o etapismo, também na escala regional — das form u­
, os rendimentos eres-
lações de R ostow (1959). Tam bém o debate urbano-regional sofreu
id a . Nesse contexto, “o
influência das teorias do crescimento equilibrado, colocando a necessi­
i territorialmente no que
dade de um tratamento “em diversas frentes” com sincronia, a fim de
; e financeiros, subsídios, superar os obstáculos ao desenvolvimento regional.4 Mas talvez a maior
' «ãe empresas públicas, etc.”
influência tenha partido das form ulações de Hirschm an (1958), vendo o
processo de desenvolvimento com o uma cadeia de desequilíbrios, e de
: os pesquisadores latino- M yrdal (1957), com sua teoria da causação circular acumulativa. Am bos,
aõmica da planificação, segundo Furtado (1966, pp. 90-92)5 — além de Perroux (1964) — , realizaram
rábria um conteúdo concreto
- e se “concentrar na es-
4 “Alguns autores, como Nurske, Rosenstein-Rodan, Lewis e Scitovsky, discutiram, nos anos 6o,
a necessidade de conduzir as economias a um desenvolvimento equilibrado entre as regiões,
Çjestões foram analisadas, tentando entender a dinâmica que leva à superação do processo de subdesenvolvimento
regional (Argawala e Singh, 1969). Salientavam a relevância da disponibilidade de capital, da
conceitos-chave, com o natureza e composição da população e da escassez de poupança interna, para a determinação
das condições de desenvolvimento” (Kon, 1998, p. 28).
m¡f - ü h ¿e una região faz-se através da 5 Tais páginas são extremamente reveladoras da influência decisiva dos três autores nas formu­
: irrr-jiice primária. [...] Somente as lações de Furtado e de toda a C epa l . Após sintetizar as contribuições de Myrdal, Hirschman e
cxxüe eu::-omicamente aproveitável e na Perroux, ele afirma que “o estudo do desenvolvimento tende a concentrar-se na caracterização
- . r i i±—anda externa” (Schwartzman, das estruturas, na identificação dos agentes significativos e nas interações entre determinadas
categorias de decisões e as estruturas. Estas condicionam o processo de irradiação e a eficácia

63
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LV IM EN TO a s p r in c ip a l ; : : ..3

o estudo das macrodecisões, asseverando que, com “as cadeias de reações não-conservadoras, a r c
provocadas por decisões autônomas, será possível identificar fatores que procurando analisar os :
aumentam ou reduzem sua capacidade de reação”. A s reações em cadeia, em torno desse ambienu
dependentes do nível de desenvolvim ento das forças produtivas e da poderá ser mais visto .
complexidade da estrutura produtiva, provocam efeitos de arrasto (ba- institucional e m oldura 3
ckwará linkages) e efeitos de propulsão (forward linkages). A articulação Conhecendo grande *
de tais efeitos criaria os impulsos transformadores do processo estrutu­ tigação, inspirada em '
ral de desenvolvimento. A riqueza desses três autores, captada devida­ do espaço e do ambiente*
mente nas form ulações de inspiração cepalina, que trataram as questões Estado e capital em soa i
das heterogeneidades estruturais das econom ias periféricas, reside na contribuições aportadas|
perspectiva avançada do tratamento analítico dessas macrodecisões por com o da sociologia 1
um agente privilegiado6 — o Estado ou outra “unidade dominante” (a empreitada, as formu
grande empresa, por exemplo) — , em um contexto ou ambiente macro­ autores: Henri LefebvreJ
econômico resultante da interação de uma pluralidade de decisões cruciais. Doreen Massey, José j
Seria o Estado o agente privilegiado para avaliar e realizar a síntese das Soja, entre outros.
inúmeras cadeias de reações provocadas pelas múltiplas decisões. H enri Lefebvre (ig
Nos estudos latino-americanos, “entre a influência da Regional Science tendimento das formas*
e a da Cepal, felizmente esta última prevaleceu” (Cano, 1981, p. 18), e vários da luta política pelo *
estudos regionais e urbanos foram elaborados, buscando afastamento redenção da classe 1
dos m odelos e teorias abstratas e analisando a diversidade de situação libertadora, posto q u e a i
das cidades e regiões, a partir de suas raízes históricas e culturais e dife­ poder posta na soc
renciadas estruturas produtivas. M anuel Castells (i
Cabe ressaltar, ainda, as contribuições teóricas de extração marxista, complexas entre o modo*
que buscaram analisar as complexas relações entre a estrutura e a dinâ­ dos meios de consumo*
m ica do m odo de produção capitalista e sua organização espacial. Pelo realiza a discussão do ]
prism a do m ovim ento da acumulação de capital, examinaram a organi­ produção e reprodução*
zação espacial com o manifestação e “reflexo” das relações de produção David Harvey (1973JJ
e da luta de classes. O u seja, buscaram realizar a análise das relações todo um campo de 1
complexas entre o m odo de produção e sua form a espacial decorrente.7 também da análise das 1
A concepção teórica e metodológica que perpassa todas as formulações ele coloca ênfase nas j
entre este e o trabalho. J
no espaço e no tempo das decisões, como vimos ao analisar os efeitos de arrasto e propulsão, do Estado, da dor
mas ao mesmo tem po são por elas determinados” (Furtado, 1966, p. 92). timento.
6 Seria importante reter esse ponto, do papel das macrodecisões, segundo essa corrente teórica,
para realizar o contraponto com o que se poderia chamar de microdecisões das abordagens
Alain Lipietz (1977!,
localistas discutidas neste livro. rias tradicionais, que,*
7 “Os objetivos da obra marxista eram [...] revelar os processos pelos quais o ambiente urbano irá propor um plano de|
assumira sua forma presente e explicar as características da distribuição espacial desigual e
as crises sociais associadas a ela” (Gottdiener, 1985, p. 78). estudo da estruturação*

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A S P R IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N S Ã O E SPA C IA L

‘ as cadeias de reações não-conservadoras, a partir daí, é a de que o espaço é uma produção social,
[ identificar fatores que procurando analisar os conflitos que se estruturam e as lutas que se travam
A s reações em cadeia, em torno desse ambiente construído socialmente. Nenhum recorte espacial
; torças produtivas e da poderá ser mais visto com o passivo, m ero receptáculo e sem contexto
t efeitos de arrasto (ba- institucional e m oldura histórica.
l bikages). A articulação Conhecendo grande desenvolvimento a partir dos anos 70, a inves­
; do processo estrutu- tigação, inspirada em M arx, acerca da produção e reprodução social
► autores, captada devida- do espaço e do ambiente construído, colocou a ênfase na relação entre
„que trataram as questões Estado e capital em sua intervenção sobre o espaço. Diversas foram as
; periféricas, reside na contribuições aportadas pela geografia radical, crítica e m arxista, assim
»dessas macroáecisões por com o da sociologia urbana e da econom ia política. Cabe destacar, nessa
a ‘ unidade dominante” (a empreitada, as formulações, por vezes conflitantes entre si, dos seguintes
»ou ambiente macro- autores: Henri Lefebvre, M anuel Castells, David Harvey, A lain Lipietz,
de decisões cruciais, Doreen Massey, José Luis Coraggio, M ilton Santos, Neil Smith, Edward
re realizar a síntese das Soja, entre outros.
¡ múltiplas decisões. Henri Lefebvre (1970,1972) forneceu importantes insights para o en­
i da Regional Science tendimento das formas de produção do espaço e sua perspectiva engajada
' (Cano, 1981, p. 18), e vários da luta política pelo direito à cidade (locus da diversidade e da potencial
.buscando afastamento redenção da classe trabalhadora). O espaço é o local geográfico da ação
>a diversidade de situação libertadora, posto que a configuração espacial refletiria a hierarquia de
icas e culturais e dife- poder posta na sociedade, que deveria ser enfrentada.
M anuel Castells (1972), em A questão urbana, aponta as relações
; de extração marxista, complexas entre o m odo de produção e a form a espacial. Discute o papel
sentre a estrutura e a dinâ- dos m eios de consum o coletivo para a reprodução da força de trabalho,
t organização espacial. Pelo realiza a discussão do Estado e dos m ovim entos sociais urbanos sobre a
, examinaram a organi- produção e reprodução social do espaço.
'd a s relações de produção David Harvey (1973) apresenta importante contribuição teórica e abre
d z a r a análise das relações todo um cam po de discussões sobre o ambiente construído. Partindo
í íjr m a espacial decorrente.7 também da análise das relações entre processos sociais e form a espacial,
r jE f u s s s todas as formulações ele coloca ênfase nas lutas que se travam entre as frações do capital e
entre este e 0 trabalho. Sua agenda avançará para a elucidação do papel
■ :s efeiios de arrasto e propulsão, do Estado, da dom inância do capital financeiro e do processo de inves­
1"ferccarc. 1966. p. 92). timento.
ões. jesundo essa corrente teórica,
Alain Lipietz (1977), após realizar importante resgate crítico das teo­
■ ce — crodecisões das abordagens
rias tradicionais, que, segundo ele, têm uma visão empirista do espaço,
¿: s - ¿ o s quais o ambiente urbano irá propor um plano de pesquisa que tem por base o que ele chama de
ia ¿Lscribuição espacial desigual e
estudo da estruturação do espaço pelos m odos de produção, que, para

65
T E R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO as P R iN : .~ 3

Lipietz, não existe em estado puro, mas com o um “complexo de m odos forma, o acalorado d e ó - ü :
de produção”, “sob a dom inação de um deles”. Assim, Lipietz confere às território etc. revelou- se.
regiões o status de form ação social específica, tendo sido muito criticado Todas as tentativas fie 1
por essa limitação. Sua discussão dos circuitos de ramo é seminal, no por base princípios dec
sentido de destacar a diferenciação setorial da produção capitalista. m as teóricos com pre
M uitas outras contribuições importantes foram trazidas ao debate, universal, apesar de <
não cabendo aqui o mapeamento m inucioso das posições teórico-m e- das diversidades regio
todológicas de seus participantes. Apenas para citar outros importantes intento, mesmo que 1
enfoques, caberia m ostrar algumas incursões nessa problemática. José interdisciplinar quando 1
Luis Coraggio (1988), procurando desvendar a espacialidade dos fenô­
menos de ordem social, discutiu as relações entre as estruturas sociais
e as formas espaciais, criticando as concepções conservadoras da “ques­ 2.4 A IM P O S S IB IL ID A D E l
tão espacial”. A n n M arkusen (1980) descarta a possibilidade de um a D E S E N V O L V IM E N T O 1

conceituação m arxista de região, afirmando que seria mais apropriado


discutir-se “regionalism o” com o organização de lutas políticas referidas As tentativas de for
a determinado espaço. Milton Santos (1978), que concebe o espaço como e urbanos acabaram* ¡
totalidade e com o instância social, discute com o as heranças (rugosi­ Fernandes, “ou sac
dades) podem jogar papel ativo na atual divisão territorial do trabalho. preciso m ergulhar no t
Mais recentemente, Santos (1994) dirigiu suas pesquisas para o papel do manifestações concretas*
m eio técnico-científico inform acional na estruturação do espaço. Neil do processo de de
Smith (1988), inspirado pelo conceito de desenvolvim ento desigual e A impossibilidade de \
combinado, procura discutir com o esse processo é inerente à geografia impossibilidade do t
específica do capitalismo, fruto de suas também inerentes contradições e diz respeito ao processo*
de sua tendência sim ultânea à diferenciação e à “igualização dos níveis produção só podem <
e condições da produção”. Trata-se de estruturas. <
M uito dessa contribuição esbarrou em um a concepção estreita de determinados.
“capital em geral”, não se discutindo sua pluralidade e suas frações. Parte N o entanto, é
substancial das form ulações colocou a ênfase nos conflitos capital versus (desse objeto “urba
trabalho, negligenciando a relação contraditória capital versus capital. do caso). O grande <
Tampouco se avançou além de uma periodização, por vezes mecanicista, recorrentemente de
estabelecendo-se relações diretas entre fases comercial, concorrencial, nem “singularidades i
monopolista, entre outras, e a correspondente configuração de espaços
“Mudam freq ü en tem aaei
regionais e urbanos. Visões conspiratórias do uso do espaço para controle
relações continuem seaím
social estiveram presentes. reprodução. É im possi«tíí
É preciso destacar também que parcela significativa desses esforços só pode existir enquanao i
nos nas ciências sociais- i
teóricos se esterilizou em tentativas inócuas de definir região, ou seja, combinam com os re
ter à disposição um a teoria clara de delimitação de regiões. Da mesma zação da vida social i

66
A S P R IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N SÃ O ESPA C IA L

“complexo de m odos forma, o acalorado debate em torno dos conceitos de espaço, região, lugar,
t". Assim , Lipietz confere às território etc. revelou-se, ao fim e ao cabo, pouco conclusivo.
i sido muito criticado Todas as tentativas de estabelecim ento de teorias abstratas, tendo
. de ramo é seminal, no por base princípios dotados de validez geral, procurando elaborar esque­
M i produção capitalista. m as teóricos com pretensão de dar conta dos processos de caráter
► f m m trazidas ao debate, universal, apesar de contribuírem para chamar a atenção para a problemática
; posições teórico-m e- das diversidades regionais e urbanas, se m ostraram fracassadas em seu
t citar outros importantes intento, mesmo que tenham reconhecido a necessidade de uma abordagem
; nessa problemática. José interdisciplinar quando se trata de questões regionais e urbanas.
t espacialidade dos fenó-
n re as estruturas sociais
(conservadoras da'ques- 2.4 A IM P O S S IB IL ID A D E D E U M A T E O R IA G E R A L D O

. a possibilidade de urna D E S E N V O L V IM E N T O R E G IO N A L E U R B A N O

■ e seria mais apropriado


i d e hitas políticas referidas A s tentativas de form ulações abstratas acerca dos fenôm enos regionais
rconcebe o espaço com o e urbanos acabaram , para utilizar um a expressão feliz de Florestan
as heranças (rugosi- Fernandes, “ou sacrificando os fatos à teoria ou a teoria aos fatos”. É
i territorial do trabalho, preciso m ergulhar no concreto e no histórico para captar e apreender as
(pesquisas para o papel do manifestações concretas dos fenômenos inerentes à dim ensão espacial
l estruturação do espaço. Neil do processo de desenvolvimento capitalista em cada situação específica.
rdesenvolví mento desigual e A impossibilidade de tal teoria do desenvolvimento acabada deriva da
i é inerente à geografia impossibilidade do estabelecimento de leis de validade universal no que
i inerentes contradições e diz respeito ao processo de desenvolvimento. As leis de m ovim ento e re­
l e a “igualização dos níveis produção só podem ser apreendidas em sua realidade histórico-concreta.
Trata-se de estruturas, dinâmicas, relações e processos historicamente
concepção estreita de determinados.
: e suas frações. Parte N o entanto, é fundam ental a clara distinção entre historicidade
»conflitos capital versus (desse objeto "urbano-regional” concreto) e historicism o (absolutização
capital versus capital. do caso). O grande desafio é reter as determ inações gerais e procurar
. por vezes mecanicista, recorrentemente decifrar as “situações reais”. Nem capitalismos idênticos
■ comercial, concorrencial, nem “singularidades irredutíveis” (M azzucchelli, 1983, p. 11).8
configuração de espaços
8 “Mudam freqüentemente as regras do jogo entre os atores e as estruturas, ainda que certas
íñ r eso do espaço para controle
reiações continuem sendo constitutivas e perm itam com preender as ieis de movimento e
reprodução. É impossível falar em capitalismo sem falar nos‘capitalismos’. Aliás, este conceito
só pode existir enquanto unidade das diferenças. Os tempos e os espaços não são newtonia-
r ü c a tiv a desses esforços
nos nas ciências sociais. São criados pela ação humana coletiva e quase nunca as intenções
:e definir região, ou seja, combinam com os resultados da ação. E é isso que condena esta forma dominante de organi­
1: de regiões. D a mesma zação da vida social m oderna à transformação incessante e contraditória. O passado, a ação

67
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO a s p r in

É preciso pensar as regiões e os urbanos com o loci de reprodução so­ podem desempenhar a|
cial específicos, investigar sua decorrente inserção em uma divisão inter­ análise concreta do p a r a a B
regional do trabalho, ou seja, analisar a produção de espaços concretos,
captando suas determinações históricas particulares, ou, com o afirmou
Oliveira (1987, p. 9), procurar recorrentemente “alcançar-se a saturação 2.5 N O SSA PROPOSTA 2® j
histórica do concreto, isto é, apanhar a m ultiplicidade de determinações D O PR O CESSO DE D £ S

que fazem o concreto”, buscando “a transformação e a produção coetánea


das classes”. Vim os que é necessário»
É preciso ter cuidado para não cair nem em “abstrações cientificistas” concretos em que se peno
(Barbosa de Oliveira, 1985) — ou seja, entender o espaço e o tempo de m inações mais abs
form a apartada da ação social de sujeitos concretos — nem e m “histori- sem m ediações, fora <
cismos”, que não avançam além dos meros estudos caso a caso. Não há histórica peculiar. £ ]
sentido em estabelecer leis gerais de movimento, isto é, o entendimento necessárias. Neste 1
da dimensão espacial do processo de desenvolvimento não pode pres­ deva ser a categoria <
cindir, em nenhum momento, da história. A s categorias sociais possuem pacial do desenvob
uma natureza intrínsecamente não-universalizável, posto que históricas. em todas as escalas.
M arx (1859, p. 17) afirma, acerca do método da economia política, que “até Expressão do <
as categorias mais abstratas [...] são, contudo, na determinidade dessa dutivas, essa categoria 1
abstração, igualmente produto de condições históricas, e não possuem heterogeneidades, i
plena validez senão para essas condições e dentro dos limites destas”. Esse escala (regional, na
princípio é discutido por Pacheco (1996, p. 32), quando esclarece que ções e as formas c o e
social no espaço, 1
a discussão sobre regiões é desde logo uma problemática afeita ao desenvolvi­ possibilidades (e a <
mento do capitalismo e à conformação de padrões de divisão do trabalho que posição em tuna r e b ç i» l
se diferenciam espacialmente, com a conseqüente diferenciação econômica Sob o regim e 1
do espaço e, portanto, também dos sujeitos que habitam esse espaço. Mas se o se aprofunda e sofisõm 1
entendimento deste processo exige uma formulação teórica, esta formulação diferenciais se pro
não se confunde com leis gerais. Trata-se de um processo eminentemente natureza desigual, <
histórico-genético [...]. Isto não significa obrigatoriamente ancorar-se numa
cesso de evolução 1
proposta historicista, mas significa reconhecer que a elaboração teórica sobre
e padrões diversific
este processo não tem como fugir da fixação de suas condições históricas.
Nesse contexto, <
do desenvolvimento,*
Alain Lipietz (1977, p. 13) também colocou em seus devidos termos a
ciar a dimensão espaãriá
questão quando afirmou que “as grandes leis’ da dialética materialista não
o âmbito analítico:
dinâm ica urbano-r
hum ana coletiva cristalizada nas instituições e formas de convivência existentes têm peso na
configuração das práticas do presente. É preciso distinguir historicidade de evolucionismo” 9 “A divisão do trabalho a
(Belluzzo, 2002, p. 437). condições de de

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A S P R IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N S Ã O E SPA C IA L

»iod de reprodução so­ podem desempenhar um papel explicativo’. É preciso, em cada caso, na
t a n uma divisão inter- análise concreta do particular, encontrar seu caráter universal”.
»d e espaços concretos,
, ou, com o afirmou
“akançar-se a saturação 2.5 N O S S A P R O P O S T A D E A N Á L IS E D A D IM E N S Ã O E S P A C IA L

; de determinações D O P R O C E S S O D E D E S E N V O L V IM E N T O C A P IT A L IS T A

»e a produção coetánea
Vim os que é necessário investigar os contornos histórico-institucionais
‘ abstrações cientificistas” concretos em que se processa a execução das leis imanentes e das deter­
■ o espaço e o tempo de m inações mais abstratas. Essas determinações não podem ser utilizadas
¡ — nem em “histori- sem mediações, fora das seqüências do real-concreto que têm vigência
; caso a caso. Não há histórica peculiar. É preciso construir e hierarquizar as determinações
. isto é, o entendimento necessárias. Neste trabalho, proponho que a divisão social do trabalho
ato não pode pres- deva ser a categoria explicativa básica da investigação da dimensão es­
; sociais possuem pacial do desenvolvimento, posto que permeia todos os seus processos,
.posto que históricas. em todas as escalas.
ia política, que “até Expressão do estágio atingido pelo desenvolvimento das forças pro­
determ inidade dessa dutivas, essa categoria m ediadora é a adequada para se estudarem as
(bñlóricas, e não possuem heterogeneidades, hierarquias e especializações intra e inter qualquer
tdos limites destas”. Esse escala (regional, nacional, internacional). Capaz de revelar as m edia­
Ljvfc. «fuando esclarece que ções e as formas concretas em que se processa e manifesta a reprodução
social no espaço, expressa a constituição socioprodutiva interna e suas
i afeita ao desenvolvi- possibilidades (e a efetividade) de inserção no contexto maior, isto é, sua
tde divisão do trabalho que posição em um a relação hierárquica superior.
: diferenciação econômica Sob o regim e capitalista de produção, a divisão social do trabalho
rlHÍ*tam esse espaço. Mas se o se aprofunda e sofistica recorrentemente, as articulações entre espaços
>teórica, esta formulação diferenciais se processam de forma regular e ordenada9 — em bora com
b processo eminentemente natureza desigual, complexa e de form a combinada e sujeita a um pro­
aente ancorar-se numa cesso de evolução hierárquica — , submetidas a leis, centros de controle
rqp*í a elaboração teórica sobre
e padrões diversificados e específicos de inserção.
ide'ssss condições históricas.
Nesse contexto, este trabalho se insere no campo da economia política
do desenvolvimento, que entendo, por sua natureza, não pode negligen­
e n seus devidos termos a
ciar a dimensão espacial dos processos de reprodução da vida social e é
i ¿a dialética materialista não
o âmbito analítico adequado para o tratamento das questões atinentes à
dinâm ica urbano-regional capitalista.
t a n a i t ;::sr.ÍTénda existentes têm peso na
■ .txtiEnsmr --noricidade de evolucionismo” 9 “A divisão do trabalho na sociedade é a base histórica da diferenciação espacial de níveis de
condições de desenvolvimento” (Smith, 1988, p. 152).

69
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LV IM EN TO ASPRiv::--. : s

Não sendo uma construção teórico-abstrata, mas um mapeamento das assuma como consi::_"-x *
determinações fundamentais e dos elementos-chave para a pesquisa da e sociais. Vejamos um n a
dimensão espacial do processo de desenvolvimento capitalista, propõe-se
aqui que a devida análise crítica do m ovim ento desigual da acumulação Processos,
dimensões,
de capital no espaço requer a verificação articulada dos processos de * —
forças
hom ogeneização, de integração, de polarização e de hegem onia nos
recortes territoriais. Entende-se que esses conceitos hoje precisam ser as c c n ã ç íi
Características
reatualizados, pois foram concebidos e utilizados em realidades bastante capia 1
diversas da apresentada pelo novo m omento do processo de mundiali-
c a p ta a 9
zação do capital. de s jg g t f N
O desenvolvimento capitalista é intrinsecamente marcado por rup­ Determinações
nações mm
turas, conflitos, desequilíbrios e assimetrias, e apresenta uma peculiar ple& a ÉM É
espacialidade de sua riqueza, sob a form a de mercadorias, que requer geras

instrumentos analíticos e conceituais bastante precisos para seu estudo.


Ser Capea
Posso dizer que todas as correntes do pensamento social que procuraram
abordar o desenvolvimento desigual dos espaços regionais apresentaram
alguma proposição teórica acerca dessas quatro dimensões, processos e Espaça
forças. Entendo que esses conceitos de homogeneização, de polarização, Resultados para 2 M M
çãc de M 0 Ü
de integração e de hegem onia hoje exigem reatualização, pois foram
concebidos e utilizados em realidades bastante diversas da apresentada
pelo novo m omento de m undialização do capital.
2.5.1 O processo de h a
O utro alerta importante é que aqueles quatro conceitos devem ser partir de suas 1
formulados em planos teóricos distintos, fruto que são de determinações
muito diversas. Estando posicionados em âmbitos diferentes de análise, De início, é prerâo
não são deriváveis dos mesmos elementos, e a passagem de um para outro afasta completamente^
envolve necessariamente inúmeras mediações teóricas que estão por ser ciência regional. On
construídas. Vários exemplos dos equívocos cometidos no estudo da rela­ idéia de otimização,
ção entre tais conceitos podem ser encontrados em diversas passagens dos com o de critérios de
especialistas da área. Assim, Boudeville (1973) afirma que “a ausência de por exem plo, irá
homogeneidade é a medida da ausência de integração”; Lipietz (1977, p. 150) (isto é, m aior ou
diz que “a homogeneidade é constitutiva da polarização (sem articulação dos estudos regionais
não há polarização) e reciprocamente sem campo de forças sociais não delim itar fronteiras
há senão unidade formal do espaço considerado”; e Aydalot (1976), por trar que esse processo
sua vez, ensina que “o que define um espaço não pode ser um critério de fronteiras territoriais»
homogeneidade, senão pelo contrário, um critério de complexidade”. básicas universais
Procuro demonstrar como os conceitos propostos neste livro p ode­ universais, abrindo
ríam constituir-se em elemento fundante de uma perspectiva crítica que capitalista mais ampfa.

70
A S P R IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N S Ã O E SPA C IA L

som mapeamento das assuma como constitutiva a dimensão espacial dos processos econômicos
: para a pesquisa da e sociais. Vejamos um quadro sintético, que será detalhado a seguir:
>capitalista, propõe-se
► desigual da acumulação Processos,
dimensões, Homogeneização Integração Polarização Hegemonia
dos processos de
forças
i e de hegem onia nos H o m o g e n e iz a Enlace de e s­ Sistem a de in­
Dom inação e
tos hoje precisam ser as condições de paços e estru­ fluência basea­
Características i r reve rs 1b i 1i -
re p ro d u ç ã o do tu ra s p ro d u ti­ do no consenti­
► em realidades bastante dade
capital vas mento ativo
► processo de mundiali- 0 m ovim ento do
c a p ita l a p a rtir Natureza
de suas determ i­ d e s ig u a l e
C orre la çã o de
ste marcado por rup- Determinações
n a çõ es c o n c e i­ Processo Con­ c o m b in a d a
forças sociais e
tu a is m ais sim ­ corrência do p ro ce sso
. e apresenta uma peculiar políticas
ples, abstratas e de d e senvol­
idorias, que requer gerais vimento

rpaecisos para seu estudo. Pluralidade dos


Ser Capital em geral Hierarquias Poder político
»social que procuraram capitais

i regionais apresentaram Pugna das di­


versas frações
Miimensões, processos e Espaço unificado do c a p ita l no S is te m a de
Poder desigual
Resultados para a v a lo riz a ­ c o n c e r to de relações cen­
ação, de polarização, de decisão
ção do capital u m a d iv is ã o tro-periferia
i « atualização, pois foram so cia l do tra ­
balho
; diversas da apresentada

2.5.2 O processo de homogeneização: 0 movimento “uniformizador” do capital a


>conceitos devem ser partir de suas determinações conceituais mais simples, abstratas e gerais
; são de determinações
$ diferentes de análise, De início, é preciso deixar claro que a abordagem aqui proposta se
■ passagem de um para outro afasta com pletam ente da discussão de espaço hom ogêneo da cham ada
Heorkas que estão por ser ciência regional. O u seja, esse conceito deve ser isolado de qualquer
dos no estudo da rela­ idéia de otimização, de convergência ou de eqüipotência “espacial”, bem
tem diversas passagens dos com o de critérios de sem elhança e de contigüidade. Boudeville (1973),
5, aãima que “a ausência de por exem plo, irá tratar a hom ogeneização com o “m edida dos fatos
; Lipietz (1977, p. 150) (isto é, m aior ou m enor uniform idade)”, e já se tornou um a tradição
pesErização (sem articulação dos estudos regionais a utilização desse conceito com o critério para
zarrv* de forças sociais não delim itar fronteiras regionais. O sentido aqui proposto procura m os­
: e Aydalot (1976), por trar que esse processo não delim ita “regiões”, mas sobretudo “desfaz”
n ie rod e ser um critério de fronteiras territoriais, transborda lim ites, buscando criar condições
•e s t .o d e complexidade”. básicas universais para o valor se valorizar em term os absolutos e
K r c :‘ r - : ~ ' ícos neste livro pode universais, abrindo horizontes e dispondo espaços para a valorização
■ Br ü m r erspectiva crítica que capitalista mais ampla.

71
T E R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO as pszv ::;- :

Proponho que toda a ênfase da análise espacial recaia no processo A forma gradativa f zs
de hom ogeneização de relações, isto é, de equalização, com o tendência, põe o valor regendo - rr
requerida pelo capital de relações de produção mais apropriadas a seu único comum em u n
m ovimento unificado de valorização, ou seja, de condições “mais iguali­ O capital precisa ò e :
tárias” para sua reprodução ampliada. Certam ente, o capital não requer em geral, com o r
e não engendra qualquer igualação de níveis de desenvolvim ento do de trabalho, nece
conjunto das forças produtivas. Realizar a separação de características sobstruído, em que j
comuns (topográficas, climáticas etc.) de uma determinada porção ter­ todos os âmbitos]
ritorial (para contrapô-las a dessemelhanças extrafronteira sob análise) circunscrições ter
pouco permite avançar na análise da dim ensão espacial do processo de Esse processo]
desenvolvimento. Focalizar identidades regionais, buscando m ostrar a acumulação capitalistas
harm onização e a coesão comunitárias e igualitárias de um espaço visto lização da m ercadorâ.4
com o contínuo e forçando a construção de uma personalidade própria regime social que leva ¡
e fundada em idiossincrasias localizadas, serve perfeitam ente para a processo homoge
construção de uma pauta de reivindicações regionalistas, mas atrapalha quer espaço, de seus ]
a investigação crítica da dinâmica concreta de um determ inado recorte em incorporar massas]
territorial. Em outras palavras, a homogeneização não deve ser associada entes à órbita de seu i
a nenhuma idéia de afinidades ou de solidariedade de uma “comunidade” societárias; à busca des
particular, mas ao m ovim ento unlversalizante do capital, arrebatando à destruição de 1
m esm o os espaços mais remotos a um único dom ínio. Apenas nesse gerar atritos e fricçõesa
sentido o capital é hom ogeneizador e abarcador. esfera unificada dei
Esse movimento universalizante e homogeneizador deriva do próprio igualdade das regras) s
caráter progressista do capital. Pertence ao m omento lógico das deter­ busca a equivalência <
minações conceituais e mais abstratas do capital. Assim, esse processo lugar. Nesse sentido,*
de hom ogeneização está posto teoricamente a partir das determinações ao lugar da valor
mais simples, do capital em geral, sem que se ponha a pluralidade dos lação do espaço pek» I
capitais, a concorrência. É o capital im pondo suas determinações mais m obilidade e fler
gerais e imanentes, buscando a constituição dos equivalentes gerais, o capital, que tem o 1
dando unidade à diversidade de relações existentes. ciações dos lugares.
O capital busca valorizar-se sem confinamentos regionais/espaciais. É preciso muito <
Generalizando suas relações, procura im por e tornar com um sua lógica, capitalismo, porque <
circulando seus valores, símbolos e inform ações supra-regionalmente, Na verdade, esse ]
gestando em seu cosm opolitism o um espaço e um m ercado uno. Em e recria estruturas
O manifesto comunista, M arx e Engels (1848, p. 97) afirmam: “O capital Certam ente o de
necessita estabelecer-se em toda parte, explorar em toda parte, criar vín ­ tiva de “nivelamento* e t
culos em toda parte [...]”. Essas são determinações de natureza genética as porções do territorio.^
do capital sob o aspecto de relação social. do valor, de um m odos

72
A S PR IN C IPA IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N SÃ O ESPA C IA L

. recaia no processo A forma gradativa e contínua da multiplicação dos atos de intercâmbio


lo, com o tendência, põe o valor regendo a produção social. Engendra um “sistema referencial”
apropriadas a seu único comum em um espaço universal.
l i e condições “mais iguali- O capital precisa de condições adequadas para se afirmar como capital
, o capital não requer em geral, com o universal concreto, que comanda todo o processo social
. d e desenvolvim ento do de trabalho, necessitando de um espaço unificado, hom ogeneizado e de­
io de características sobstruido, em que possa exercer seu controle unlversalizante, invadindo
i determ inada porção ter- todos os âmbitos possíveis de sociabilidade, extravasando sua lógica sem
E dtrabon teira sob análise) circunscrições territoriais.
► espacial do processo de Esse processo hom ogeneizador deve ser encarado através do vetor da
, buscando mostrar a acumulação capitalista de busca da valorização unificada e da universa­
¡ de um espaço visto lização da mercadoria. O u seja, da própria definição de capitalismo como
i personalidade própria regime social que leva a m ercantilização às últimas conseqüências. O
e perfeitam ente para a processo hom ogeneizador é atinente à imposição pelo capital, em qual­
frg jn n a lista s, mas atrapalha quer espaço, de seus pressupostos imanentes; à capacidade do capital
: n n determ inado recorte em incorporar massas humanas à sua dinâmica; à atração de todos os
>não deve ser associada entes à órbita de seu mercado; à subordinação a si de todas as unidades
í de uma “comunidade” societárias; à busca de construção de um espaço uno de acumulação e
■ do capital, arrebatando à destruição de quaisquer barreiras espaciais e temporais que possam
■ dom in io. Apenas nesse gerar atritos e fricções a seu m ovim ento geral. A luta do capital por uma
esfera unificada de valorização engendra a arena e fixa os parâmetros (a
ior deriva do próprio igualdade das regras) sob os quais se dará a luta concorrencial. O capital
*BBomento lógico das deter- busca a equivalência de suas condições reprodutivas em todo e qualquer
^■ , »1 Assim, esse processo lugar. Nesse sentido, deve ser entendida a indiferença do capital quanto
rapartir das determinações ao lugar da valorização. Assim, são próprias de seu m ovimento a aniqui-
í se ponha a pluralidade dos lação do espaço pelo tempo, a força dissolvente de relações arcaicas e a
t m as determinações mais mobilidade e flexibilidade espaciais. Contraditoriam ente, esse ser “cego”,
■ dos equivalentes gerais, o capital, que tem o centro em si mesmo, dá grande atenção às diferen­
teoseentes. ciações dos lugares.
atos regionais/espaciais. É preciso muito cuidado no tratamento dessa dimensão “espacial” do
re tim a r comum sua lógica, capitalismo, porque ela não tem nada de niveladora de desigualdades.
supra-regionalmente, Na verdade, esse processo hom ogeneizador (de relações mercantis) cria
e um mercado uno. Em e recria estruturas heterogêneas e desigualdades em seu m ovim ento.
foJUi.. 97) afirmam: “O capital Certam ente o desenvolvimento capitalista não é uma dinâm ica evolu­
üicxT s n toda parte, criar vin ­ tiva de “nivelamento” e de propagação de progresso técnico por todas
ares de natureza genética as porções do território. O que ele difunde é a lógica da multiplicação
do valor, de um m odo continuamente renovado em busca do enrique-

73
TE R R ITÓ R IO E D ESEN VOLVIM EN TO as pr :n - :'"t

cimento absoluto, realizando recorrentemente a ruptura do isolamento, mercadorias e, portar:.:,


atravessando todas as fronteiras, arrefecendo barreiras e proteções er­ a forma desenvolvíc¿ cu
guidas por relações arcaicas.10 Borrando limites e :
Sujeitando todos os recortes do território que interessem à sua de­ tendo tudo à m ercan
terminação, o capital funde os espaços circunscritos, apropriando-se de gando horizontes à ¡
terra, trabalho e dinheiro, transform ando-os em mercadoria, segundo para que as deter
Polanyi (1980). Em sua trajetória de busca de riqueza abstrata, utiliza posto que “o capital e :
cegamente todos os entes em todas as escalas, segundo esse objetivo observação de que o can
último de ganho privado, reproduzindo a segregação, as assimetrias e as condições de explor
descontinuidades, acirrando a competição e aprofundando a desigualdade ciabilidade imposta peiai
entre pessoas e lugares. pelo avanço da divisão j
M azzucchelli (1983, p. 15) descreve o capital como valor progressivo, jeito e, a partir da <
discute o desenvolvimento das formas, partindo geneticamente da for­ espaços diversos.
ma “valor”, para entender com o o dinheiro se converte em capital e as É preciso ficar dane*
determinações mercantis, em determinações capitalistas; a lei do valor, dim inuição das dite
em lei de valorização. Ao cabo desse processo, o dinheiro se converte em sociais de produção. 1
sujeito de um processo cuja finalidade é o próprio processo. Passa a ser a recriadas no bojo d o ;
“valorização do valor a lei que passará a regular o movimento da produ­ crescentemente, vi
ção social”, ou seja, “são as determinações da valorização que passarão a de capital, presentes:
regular, a subordinar as transformações materiais do processo produtivo”. forças produtivas tenha a
É um movimento autocentrado que culmina com a constituição das forças inexoravelmente uma. *
produtivas adequadas ao capital. A homogeneização assegura a autode­ tanto, uma p o te n te ;
terminação do capital, ou seja, a partir dessa universalização de relações respeito, pois, a esse j
capitalistas,“a acumulação de capital não encontrará mais entraves externos’ concorrenciais, que í
à sua expansão, e seus limites passarão a ser dados unicamente pela própria do capital e que define*
relação do capital consigo mesmo” (Mazzucchelli, 1983, p. 19), passando a a “coerção imposta’ do]
estar submetido somente à sua própria dinâmica interna. O capital invade
progressivamente espaços e mercados diversos, destruindo formas pretéritas 2.5.2 O processo de frete
processo de co,
de produção, não requerendo mais formas de coerção extra-econômica e
violência econômica. A o afirmar suas bases técnicas adequadas, garante
O âmbito da analise*
a reiteração de “suas condições de existências; a reprodução ampliada do
deve abranger a dinái
capital, [...] a recriação e ampliação dos mercados através do próprio m e­
im positiva que irá
canismo expansivo da acumulação”. Segundo Mazzucchelli (1983, p. 22),“o
homogeneização. Após <
capital, enquanto valor progressivo, generaliza e transforma a produção de

10 É em O m a n ife s to c o m u n is ta que Marx e Engels realizam profunda análise do caráter disrup- 11 Alguns autores (com o;
tivo do capitalismo, da força propagadora (e “homogeneizadora”) que submete to d o s os seus apenas essa dim ensão:
elementos à lógica da mercantilização máxima. remeteríam, necessaiia

74
A S P R IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S DA D IM E N SÃ O ESPA C IA L

id o isolamento, mercadorias e, portanto, a produção de valores. Neste sentido, ele constitui


; e proteções er- a forma desenvolvida da produção mercantil”.
Borrando limites e fronteiras, subordinando formas pretéritas, subme­
t i f r e s s e m à sua de- tendo tudo à mercantilização desimpedida, rompendo isolamentos e alar­
, apropriando-se de gando horizontes à acumulação, estrutura-se tuna pulsão unlversalizante
i f u : adoria, segundo para que as determinações mais profundas se realizem de m odo pleno,
abstrata, utiliza posto que “o capital é um nivelador’; esta generalização é provocada pela
esse objetivo observação de que o capital exige em cada esfera da produção igualdade nas
► assimetrias e as condições de exploração do trabalho” (Smith, 1988, p. 152). Afirma-se a so­
>a desigualdade ciabilidade imposta pela mercantilização, pela generalização das trocas e
pelo avanço da divisão social do trabalho. O capital se impondo como su­
iTalor progressivo, jeito e, a partir da compulsão deste em acumular progressivamente, invade
lente da for­ espaços diversos.
em capital e as É preciso ficar claro que homogeneização/unificação não significa
a lei do valor, dim inuição das diferenciações; falamos de hom ogeneização nas formas
*se converte em sociais de produção. O u seja, estruturas heterogêneas são criadas e
a. Passa a ser a recriadas no bojo do m ovim ento hom ogeneizador e serão enlaçadas e,
ento da produ- crescentemente, vinculadas a partir da dominância de formas superiores
>que passarão a de capital, presentes nas áreas em que o nível de desenvolvimento das
i processo produtivo”. forças produtivas tenha alcançado dim ensão suficiente para requerer
iição das forças inexoravelmente uma divisão social do trabalho supra-regional e, por­
i assegura a autode- tanto, um a potente articulação inter-regional. A hom ogeneização diz
ão de relações respeito, pois, a esse processo de construção dos loci e das regras das lutas
sentraves externos’ concorrenciais, que busca engendrar um espaço unificado de valorização
ate pela própria do capital e que define os espaços de mercado nos quais se desenvolverá
Pp. 19), passando a a “coerção imposta” do processo de integração.11
.O capital invade
»ibrmas pretéritas 2.5.2 0 processo de integração: a coerência imposta pelo
processo de concorrência intercapitalista
1extra-económica e
>adequadas, garante
O âmbito da análise em que se procura reconceituar a integração
1 v a n ampliada do
deve abranger a dinâmica coercitiva da concorrência com o seletividade
i JEszres do próprio me-
im positiva que irá operar naqueles espaços e horizontes abertos pela
beiíi i.1983, p. 22),“o
homogeneização. Após esta última ter “limpado 0 terreno”, ao “nivelar”1
: a produção de

ic i " caráter disrup- 11 Alguns autores (como Lefebvre) enfatizaram que Marx teria privilegiado em suas análises
út ~ e:e todos os seus apenas essa dimensão homogeneizadora, pouco se atendo às “variações geográficas, que
remeteríam, necessariamente, à discussão da diferença” (Lencioni, 1999, p. 163).

75
T E R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO a s p r i s :^ -.. ras

as condições reprodutivas ambientais e ao construir as arenas para a O processo integrafcv:


valorização desim pedida de obstáculos extra-económ icos (tarefas do na acumulação d e .
processo homogeneizador), a pugna entre as diversas unidades de riqueza Esse aprofund ar~ena>^
poderá ocorrer nos construtos sociais denominados “mercados” (tarefa processo de concor
realizada por m eio de processo integrador). O u seja, diversamente da leis coativas im p ostas.
concepção neoliberal presente, por exemplo, na concepção vulgar de O cam po teórico da p
globalização, a integração é um processo de enfrentam entos em um contornos concretas a |
ambiente nada idílico, determ inada que é, em últim a instância, pela concorrencial im p õ e ;
concorrência, necessariamente marcada por rupturas, transformações, produtiva intersetoiial <
conquistas e tentativas de preservação de espaços e horizontes renovados partir daí. Esse pr
para a reprodução ampliada do capital. e a estruturação d e «
A integração é sempre um processo continuo e de difícil reversão,
que exerce influência complexa e contraditória sobre as regiões aderen- de um lado o capitais
tes, que serão engolfadas em adaptações recíprocas, com intensidades e para realizar-se enqnai
naturezas diversas, destacando-se, evidentemente, a potência do vetor segmentar este espaço i
“centro dinámico” => “periferia”, embora nunca possa ser encarada como finem as regras do jogo a

unidirecional. 1993. p. 155)-

Dessa forma, ela recondiciona as economias aderentes, forçando-as


As frações do >
à convergência e à reacom odação das estruturas produtivas regionais.
para lhe reservar 1
Q uando se acelera o processo interativo, acirra-se a concorrência inter­
Assim, se a cor
regional. Os m ercados regionais passam a ser expostos à pluralidade
conteúdos e dá forr o » i
das formas superiores de capitais foráneos. Na esteira da incorporação,
seu movimento)” (I
multiplicam-se as interdependências e as complementaridades regionais,
pugna entre a plc
que podem acarretar o aumento tanto das potencialidades quanto das
conteúdo e dá form ais
vulnerabilidades regionais. Metamorfoseia-se a densidade econôm ica de
do espaço, proc
pontos seletivos no espaço: sua capacidade diferencial de m ultiplicação,
particular de capitaL
de reprodução e de geração de valor e riqueza; sua capacidade de articula­
A face incorpor
ção inter-regional; o grau e a natureza das vinculações e a densidade dos
dessa natureza da 1
circuitos “produtivos”. M udam e diversificam-se os fluxos, o m ovim ento
de seus eixos de circulação e seu potencial produtivo.
universal concreto, qne*
Um autor clássico que apresenta uma boa percepção desse processo é
tais [...] a lei fund
Lênin (1899, p. 353), que diferencia o desenvolvimento do capitalismo numa
põem-se como gerais: "aa
parte do país do desenvolvim ento do capitalism o nas “novas terras” : viduais se converte 1
“No primeiro, o que temos são relações capitalistas já estabelecidas que supressão da indep
se desenvolvem; no segundo, a formação de novas relações capitalistas mente como 0 influxo *
num novo território. O prim eiro processo implica o desenvolvimento em em que todos têm que i
profundidade do capitalismo, o segundo, o desenvolvimento em extensão”. pp. 159-60).

76
A S P R IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S DA D IM E N SÃ O E SPA C IA L

as arenas para a O processo integrativo visaria à geração de maior profundidade e extensão


sínicos (tarefas do na acumulação de capital.
>unidades de riqueza Esse aprofundamento e alargamento são exigências reiteradas pelo
“mercados” (tarefa processo de concorrência, que im põe a todo e qualquer capitalista “as
. O * seia, diversamente da leis coativas impostas desde fora”, obriga-o à acumulação progressiva.
. concepção vulgar de O campo teórico da problemática regional e urbana com eça a ganhar
; entrentam entos em um contornos concretos a partir desses enlaces e engates que a coerção
r a últim a instância, pela concorrencial im põe a todos os capitais e suas frações. Um a dinâm ica
'raptaras, transformações, produtiva intersetorial e inter-regional se afigura mais nitidam ente a
se horizontes renovados partir daí. Esse processo coercitivo contribui para o desenho de fronteiras
e a estruturação de escalas. Paradoxalmente,
i e de difícil reversão,
i sobre as regiões aderen- de um lado o capitalismo busca ampliar ao máximo o espaço econômico
, com intensidades e para realizar-se enquanto valor que se valoriza, de outro a concorrência visa
, a potência do vetor segmentar este espaço em territórios econômicos onde frações de capital de­
finem as regras do jogo através de mecanismos políticos e econômicos (Egler,
ipossa ser encarada como
1993, P-155)-

i aderentes, forçando-as
A s frações do capital, em sua luta por reprodução, criam anteparos
; produtivas regionais.
para lhe reservar espaços privilegiados de acumulação.
ía concorrência inter-
Assim , se a concorrência, com o natureza interna do capital, “agrega
■ expostos à pluralidade
conteúdos e dá formas às leis imanentes (natureza interna do capital e
>.lüa esteira da incorporação,
seu m ovimento)” (Braga, 2000, p. 169), eu acrescentaria que ela, enquanto
ataridades regionais,
pugna entre a pluralidade dos capitais e suas frações, também agrega
í potencialidades quanto das
conteúdo e dá form a às escalas espaciais, ao procurar segmentar frações
ta densidade econômica de
do espaço, proclam ando-os com o o território particular de certa fração
l de multiplicação,
particular de capital.
i capacidade de articula-
A face incorporativa do processo de integração deriva justamente
¡ e a densidade dos
dessa natureza da concorrência enquanto
ros fluxos, o movimento
Ipradfativo.
universal concreto, que como tal categoria traz em si a pluralidade de capi­
t percepção desse processo é
tais [...] a lei fundamental da concorrência é que os capitais individuais
>do capitalismo numa
põem-se como gerais: “a ação recíproca dos capitais como entidades indi­
io nas “novas terras” : viduais se converte precisamente no pôr-se dos mesmos como gerais e na
iscas já estabelecidas que supressão da independência aparente [...]”. O que está em destaque é justa­
ae -¡riras relações capitalistas mente como o influxo de uns capitais individuais sobre os outros baseia-se
Mh im rcca c>desenvolvimento em em que todos têm que comportar-se como capital (em geral) (Braga 2000,
n 1 ¡ctc-i-.<sd zmento em extensão”. pp. 159-60).

77
T E R R ITÓ R IO E D ESEN VO LVIM EN TO a s p r in :::- ■ :...a

Com a integração ocorre a supressão da independência e da autonomia vidualizadas, não tem rom
dos lugares que serão acionados por tal processo, submetendo todos às uma coerência imposu ac
mesmas leis coercitivas. eficaz na matéria, e pe~» ■
Outro aspecto importante desse processo é que desvalorizações de distância (Braudel, 19-9-. r.
capital também são impostas a alguns capitais, pois “a mesma lei que
compele o capital a uma valorização progressiva acaba im pondo a ne­ Essa coerência ir
cessidade de sua desvalorização periódica” (Belluzzo, 1975, p. 106). Ao mercados encontra di
ampliar a massa de novos capitais, 0 próprio processo de acumulação concorrência interc
determina simultaneamente a depreciação periódica do capital existente, de complementaridade i
pois, conform e esclarece M arx (1857-1858), nos Grundrisse, “a autovalo- geralmente constituíam ]
rização do capital se torna mais difícil na m edida em que o capital já processo em que os *
esteja valorizado”. do enredados a partir *
O processo de integração promove, assim, uma destruição criadora superiores de acumc
(até mesmo no sentido de desconectar, desintegrar e desvalorizar capitais Assim , constata-se 1
e seus espaços), porém com sentido claro, im pondo uma coerência às mente logra, na longa*
formas e frações mais avançadas de capital. um único espaço na
À m edida que se disseminam as vinculações mercantis e se acelera tenha a ver com a 1
o concerto de uma divisão inter-regional do trabalho, torna-se cada vez M uito pelo contrário,ai
mais evidente o contraste com a fase pré-integração. Nesse m om ento do fosso no nível de .
pretérito, vigora uma verdadeira constelação de núcleos isolados, com regiões, im pondo a .
relações m ercantis rarefeitas, com pondo um verdadeiro m osaico de de desenvolvimento 1
“regiões” dispersas. Nesses espaços, dada a precariedade das comunicações que ganha foros de
inter-regionais, os segredos — base de sustentação do capital m er­ Estado. Isso só acontece*
cantil — são preservados e utilizados na constituição e na manutenção integrada, diversificada*
de canais especiais para a obtenção de privilégios e benesses no poder zado uma divisão intern
público. A ruptura do isolamento inter-regional acelera as tem porali­ m odo irrecorrível, de 1

dades dos diversos espaços integrados. C oncord o com Faria (2000), e explicita, os desce
que assevera que “a m aior circulação de mercadorias não só permitia transformação nos 1
romper com as lim itações da duração do ciclo produtivo local, como, eloqüente, as hetera
pelo aumento concom itante do fluxo de inform ações, proporcionava regionais”), as forças 1
um a m aior velocidade aos processos sociais e políticos, acelerando o para a reivindicação d ej
próprio curso da história”. A partir da cor
Tornar os espaços conexos não é uma tarefa que ocorre com natu­ quer experiência de <

ralidade. m atriz produtiva densa *


Inescapavelmente, resta *
Passar do mercado regional ao mercado nacional costurando juntas econo­ genuidade” de b u sca r«
mias de raio bastante curto, quase autônomas e muitas vezes fortemente indi­ inserir-se especializada e i

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A S P R IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N SÃ O E SPA C IA L

i e da autonomia vidualizadas, não tem portanto nada de espontâneo. O mercado nacional foi
i.submetendo todos às uma coerência imposta ao mesmo tempo pela vontade política, nem sempre
eficaz na matéria, e pelas tensões capitalistas do comércio externo e à longa
■ desvalorizações de distância (Braudel, 1979, p. 255).
. pots "a mesma lei que
i acaba im pondo a ne- Essa coerência imposta para construir e articular socialm ente os
■ 1975. p. 106). A o mercados encontra diversos obstáculos que se antepõem ao avanço da
tp n e e s s o de acumulação concorrência intercapitais locais/regionais e ao estabelecimento de laços
id o capital existente, de complementaridade inter-regionais. A ação das forças da integração
tG nnu¿m se,“a autovalo- geralmente constitui um longo, contraditório, heterogêneo e conflituoso
em que o capital já processo em que os espaços regionais circunscritos e capsulares vão sen­
do enredados a partir daquele(s) espaço(s) em que prevalecem formas
í destruição criadora superiores de acum ulação e de reprodução econômica.
re desvalorizar capitais Assim , constata-se que a dinâm ica da acum ulação de capital geral­
uma coerência às mente logra, na longa duração, integrar a econom ia nacional, form ando
um único espaço nacional de valorização, em bora esse processo pouco
■ mercantis e se acelera tenha a ver com a dim inuição das especificidades intra e inter-regionais.
iMBÉnfiio, tom a-se cada vez M uito pelo contrário, a integração põe em toda sua inteireza a questão
Nesse m omento do fosso no nível de desenvolvim ento das forças produtivas entre as
i r núcleos isolados, com regiões, im pondo a conscientização da natureza desigual do processo
1 verdadeiro m osaico de de desenvolvim ento capitalista e explicitando um a “questão regional”,
: das comunicações que ganha foros de problem ática concreta a ser enfrentada no e pelo
Io do capital m er­ Estado. Isso só acontece quando se consolida uma econom ia nacional
lo e na manutenção integrada, diversificada e complexa (que tenha estabelecido e cristali­
; e benesses no poder zado uma divisão inter-regional do trabalho). Assim , a constituição, de
acelera as tem porali­ m odo irrecorrível, de um “m ercado interno” não nega, antes reafirma
c e — 1 riitdm com Faria (2000), e explicita, os descompassos, assimetrias e disritm ias da dinâm ica de
t e a t a d o r ia s não só permitia transform ação nos diferenciados espaços regionais, expondo, de form a
► c ü fe produtivo local, como, eloqüente, as heterogeneidades estruturais inter-regionais (“desequilíbrios
í «■¡Dcrnacões, proporcionava regionais”), as forças desintegradoras, e criando uma densidade social
e políticos, acelerando o para a reivindicação de políticas compensatórias.
A partir da consolidação desse processo, torna-se impossível qual­
ít í c c e ocorre com natu- quer experiência de engendrar-se, no âmbito de uma única região, uma
m atriz produtiva densa e integrada, isto é, regionalm ente “completa”.
Inescapavelmente, resta a cada região desprender-se de qualquer “in ­
': : írjrando juntas econo- genuidade” de buscar autonom ia econôm ica (Cano, 1981) e, portanto,
vezes fortemente indi­ inserir-se especializada e complementarmente em elos específicos das

79
T E R R ITO R IO E D ESEN VO LV IM EN TO as prin •_ ;-r

cadeias produtivas constitutivas da “m atriz produtiva nacional”, que se Um a vez realizada a -


encontra espacializada por todo o territorio doméstico. desse “núcleo central à t ¡
Note-se que a natureza daquele entrelaçamento de espaços diferenciados perquirir sobre seu p s w s |
é bastante distinta, segundo o grau alcançado pelo desenvolvimento das
forças produtivas, tanto no “centro” como nos diversos espaços periféricos. 2.5.3 O processo de pÃsr.
e combinada do r-
Cada espaço constitutivo da diversidade regional acaba sucumbindo, de
form a singular, ao enquadramento e à hierarquização provenientes do
A terceira dimensão ^
espaço regional hegemônico. Todas as regiões encontraram seu locus de
que não descure dos .
vinculação na equação produtiva nacional, comprometendo, desse modo,
da polarização. Esta
sua autonomia econôm ica. A im pactação intra-regional no m om ento
do desenvolvim ento
do (e posteriorm ente ao) engate de cada região no “quadro nacional”
uma idéia de enç
é (des)estruturante, uma vez que os “espaços internos” a cada região
O d esen volvim en to.
metabolizarão, de m aneira distinta, esse processo.
de forças”, desiguali
C onsolidadas a form ação e a integração do m ercado nacional, as
estruturas de dor
econom ias regionais periféricas são impedidas de levar adiante qual­
que ainda serão rete
quer projeto de “repetir os passos” da região dominante. Com o afirma
concentrados naqoeiai
Cano (1998b), as regiões periféricas passam a ser “acionadas” a partir do
apropriando-se de 1
comando da econom ia do centro. Então, resta tão-somente se integrar
consum o coletivo
complementarmente à econom ia do pólo dinâm ico da acumulação, sub­
baños centrais do ]
metendo-se e enquadrando-se a uma hierarquia comandada por aquele
a necessária interd
centro do processo de decisões atinentes à acumulação de capital, que
pontos nodais se fundai
passa a ditar o ritmo e a natureza da incorporação de cada região do
unilateral do poder e da]
ranking nacional, vetando 0 que não fosse aquela “articulação possível”
feria”. Centros posi
em cada m omento e eventualmente gerando efeitos de destruição nas
a serem dotados de i
regiões que ousassem enfrentar os requerimentos emitidos pelo núcleo da
centros de arma
acumulação de capital.12 Os diversos capitais, como unidades expansivas de
poder político e <
valorização, se disseminam e se defrontam em todo 0 território nacional
difícil de ser revertida i
(espaço agora homogeneizado para o jogo concorrencial), conformando
O estudo da pc
uma estrutura produtiva densa, integrada, complexa e diversificada, que
espaços particulares,,
se localiza em diferentes parcelas do espaço geográfico nacional.
subjacentes ao processaJ
Am plificam -se e adensam-se os fluxos entre as regiões, e a relação
pólo, detectar as inti
cen tro -p eriferia ganha nova dinâm ica e natureza. Transform am -se,
tes econôm icos, mapeara
também, as pautas de com ercialização regional, com a implantação e
núcleos de mais alto j
a diversificação da indústria da periferia, complementarmente ao pólo.
repercussão em seo s,
tarefas-chave para 1
12 Wilson Cano (1981) discutiu em detalhe o caso brasileiro de integração do mercado nacional,
inclusive alertando para o fato de que o processo integrador pode proporcionar efeitos tanto e urbanos. O que d erc 1
de estimulo como de inibição/bloqueio e destruição.

80
A S P R IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N S Ã O E S P A C IA L

i nacional”, que se Urna vez realizada a integração, a natureza e a dinâm ica da potência
desse “núcleo central da acumulação” devem ser analisadas, e deve-se
respacos diferenciados perquirir sobre seu papel polarizados
► desenvolvimento das
2.5.3 O processo de polarização: hierarquias e a natureza desigual
í espaços periféricos.
e combinada do processo de desenvolvimento capitalista
Iacaba sucumbindo, de
provenientes do
A terceira dimensão que deve estar presente em qualquer abordagem
ram seu locus de
que não descure dos aspectos espaciais da acum ulação de capital é a
ido, desse modo,
da polarização. Esta deriva da própria natureza desigual e combinada
m al no m omento
do desenvolvim ento capitalista. Se o processo de integração nos dá
»no “quadro nacional”
uma idéia de enquadramento, o de polarização nos dá de hierarquia.
► afeem os” a cada região
O desenvolvim ento das forças produtivas gera polaridades, “cam pos
de forças”, desigualmente distribuídas no espaço, centralidades, ou seja,
' m ercado nacional, as
estruturas de dom inação fundadas na assimetria e na irreversibilidade,
i d e levar adiante qual-
que ainda serão reforçadas pela inércia dos investimentos em capital fixo
i lil— in nlr Com o añrma
concentrados naquela área central, m arcada por forças aglomerativas e
“acionadas” a partir do
apropriando-se de economias de escala, de proxim idade e de m eios de
i tão-som ente se integrar
consum o coletivo presentes nos espaços construídos nos núcleos ur­
>da acumulação, sub-
banos centrais do processo de desenvolvimento. Apesar de contemplar
i comandada por aquele
a necessária interdependência entre distintas áreas, essa atração pelos
► cão de capital, que
pontos nodais se funda na heterogeneidade, na hierarquia e no exercício
de cada região do
unilateral do poder e da potência do “centro” sobre algum tipo de “peri­
“articulação possível”
feria”. Centros posicionados em hierarquias superiores terão tendência
t«£ños de destruição nas
a serem dotados de estruturas complexas de serviços, infra-estruturas,
► emitidos pelo núcleo da
centros de armazenagem, comercialização, consumo, gestão, controle e
► unidades expansivas de
poder político e cultural. Assim, suas forças concentradoras têm potência
itodo o território nacional
difícil de ser revertida ou contrabalançada.
icial), conformando
O estudo da polarização pode esclarecer o potencial diferenciado de
i e diversificada, que
espaços particulares, averiguando as complementaridades e as hierarquias
► geográfico nacional.
subjacentes ao processo. Analisar o alcance e a esfera de influência do
NHEfce as regiões, e a relação
pólo, detectar as interdependências das atividades e decisões dos agen­
Transform am -se,
tes econôm icos, mapear a atuação de um arranjo de forças central, dos
com a implantação e
núcleos de mais alto nível (pólos de onde emanam decisões cruciais) e a
. anm -em entarm ente ao polo.
repercussão em seus complementos periféricos, que são tributários, são
tarefas-chave para estruturar o cam po tem ático dos estudos regionais
m m zrr it nEETãáo do mercado nacional,
¡■ 1 i. :i:cé rrocorcionar efeitos tanto e urbanos. O que deve ser retido da im portância do estudo dessa força

81
T E R R ITO R IO E D ESEN VO LV IM EN TO A S l>., ••

polarizadora é a existência de um a força de interação entre os nós (cen­ no passado, de alg:


tros com autonomia de decisão) em torno dos quais gravitam espaços pesquisa regional e
“satelitizados”, com baixo poder autônomo e endógeno de decisão. com plexo de local:
O s mais diversos estudiosos da temática urbano-regional apresen­ de fluxos (origens 1
taram contribuições pertinentes às forças polarizadoras, ressaltando as a importante e cada v e n
características de cumulatividade, de crescimento não balanceado e não de investimentos anxáaa
generalizado, ou seja, o caráter de transmissão bloqueada, próprio do cres­ sentido e a natureza 1
cim ento econôm ico. Boudeville (1973) fala da polarização como medida grandes corporações e *
dos processos (com m aior ou m enor interdependência e hierarquia). As periféricas. O u seia. e » j
idéias clássicas associadas a esse conceito, tais com o irradiação mercantil do grande capital qnej
com satélites gravitando em torno de alguns nós centrais, m edida pela tir do centro. Em
intensidade dos fluxos, sempre estiveram presentes no debate. Furió (1996, centrípetas que per
p. 79) expressa bem esse conjunto de contribuições quando discute que A discussão da ¡
“os fluxos não se distribuem aleatoriamente, nem com intensidades uni­ impõe a discussão da i
formes [...] os fluxos mais importantes tendem a orientar-se na direção do conjunto de ele
e desde alguns centros dom inantes”. Em outras palavras.:
Em âmbito mais geral, a polarização deriva dos processos de concen­ de autonomia da rem
tração e centralização do capital e de seus desdobramentos no espaço, para questionar o
em bora entre um e outro inúm eras m ediações sejam requeridas. N a nacional.
verdade, ela é decorrente da heterogeneidade estrutural e da própria cu­
m ulatividade e das forças aglomerativas presentes no espaço geográfico 2.5.4 O processo de hept
capitalista.
O capitalismo continuamente desenha e redesenha “novas geografias”, A lém disso, os *
produzindo novas escalas, novos pontos nodais, rearranjando as forças veriam incorporar 1
da polarização, da heterogeneidade e da dom inação regionais. M uda o intra e entre espaço* e t
padrão de articulação da diversidade regional. M udam os núcleos di­ cabe a advertência de 4
nâm icos de com ando que exercem diferentes espécies de atratividade e o “objeto term inaT <
dom inação e geram estratégicos pontos, eixos e nós de m aior ou m enor capitalista. É n e sse;
potência reprodutiva e capacidade de apropriação. diversidades regior
Atualmente, encontram os um novo caráter da influência exercida de de Estado, expres
alguns pontos do espaço sobre outros: as relações entre as regiões dom i­ A equação política <
nantes e as regiões subordinadas têm-se transform ado rapidamente, na nação revelam ma
medida em que o sistema capitalista aperfeiçoou um a série de instru­ mais bem desenvolvida!
mentos técnicos, organizacionais etc. que lhe perm itiu avançar em sua analisar as questões i
seletividade geográfica. Assim , a noção de polarização não precisa e não se encontra na hege
deve ser associada a conceitos do tipo indústria m otriz, efeitos de filtra- do capital mercantil 1
ção etc. e nem estar sempre necessariamente vinculada, com o ocorreu responsáveis por nossai

82
A S PR IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N SÃ O E SPA C IA L

>entre os nós (cen- no passado, de alguma forma, à variável “distância”. Crescentemente, a


: gravitam espaços pesquisa regional e urbana deve encerrar um mapeamento exaustivo e
10 de decisão, complexo de localizações, de m ovimentos, de redes (direção e sentido),
-regional apresen- de fluxos (origens e destinos) e de nós (entrelaçamentos). Nesse sentido,
aras, ressaltando as a importante e cada vez mais freqüente pesquisa da matriz espacializada
► não balanceado e não de investimentos ajuda a entender uma parte do processo, mas perde o
a, próprio do cres- sentido e a natureza da dom inância exercida pelos controlling cores das
tgmfari/açâo com o medida grandes corporações e das grandes fortunas sobre o desempenho das áreas
hña e hierarquia). As periféricas. O u seja, é o poder de controle progressivo dos headquarters
i irradiação mercantil do grande capital que possibilita “ondas desconcentracionistas” a par­
► centrais, m edida pela tir do centro. Em outras palavras, são a potência e a eficácia das forças
íno debate. Furió (1996, centrípetas que permitem a ação das forças centrífugas.
1quando discute que A discussão da gravitação, a partir de alguns poucos pontos focais,
icom intensidades uni- impõe a discussão da capacidade e do poder de decisão diferencial acerca
12 orientar-se na direção do conjunto de elementos que dão sustentação à acumulação de capital.
Em outras palavras, há que analisar, a partir do core do sistema, o grau
rdbs processos de concen- de autonomia da reprodução de suas formas dominantes de valorização,
aentos no espaço, para questionar o potencial de gestão e ordenamento sobre o conjunto
sejam requeridas. Na nacional.
ttstnaural e da própria cu-
; n o espaço geográfico 2.5.4 O processo de hegemonia: coerção e “consentimento ativo”

“novas geografias”, Além disso, os estudos dos padrões de desenvolvimento regional de­
.rearranjando as forças veríam incorporar um quarto e último elemento fundante das relações
regionais. M uda o intra e entre espaços e escalas geográficas: a hegemonia. Inicialmente,
. M udam os núcleos di- cabe a advertência de que considero esse componente da análise com o
i especies de atratividade e o “objeto term inal” da econom ia política da espacialidade da riqueza
t e a ãs de maior ou menor capitalista. É nesse âmbito que se deve esclarecer com o a questão das
diversidades regionais se apresenta inescapavelmente com o uma questão
¿s. influência exercida de de Estado, expressando-se com o um a “questão regional”.
entre as regiões domi- A equação política e a correlação de forças presentes em determinada
rn a d o rapidamente, na nação revelam marcantes cortes regionais/locais. Nossa hipótese, a ser
:«c uma série de instru­ mais bem desenvolvida nos próxim os capítulos, é a de que a chave para
i d permitiu avançar em sua analisar as questões regionais e urbanas/rurais no caso concreto do Brasil
3»:uinzacão não precisa e não se encontra na hegemonia política do bloco de poder das diversas frações
Ü u s - ir motriz, efeitos de filtra- do capital mercantil (especulativo, usurário/bancário, im obiliário etc.),
■ rme m m iada, com o ocorreu responsáveis por nosso atraso político, produtivo e social.

83
T E R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO as ? ? j v -

C om esse conceito de inspiração gram sciana, quero apreender os É preciso in v e stiu


processos assim étricos em que um agente privilegiado detém o poder analisando o sistema
de ditar, (re)desenhar, delim itar e negar dom ínio de ação e raio de de “dar uma base soe
m anobra de outrem. processo de conquisa
Gruppi (1978, p. 4 - **
Trata-se de práticas, costumes, normas morais, culturas, trata-se, pois, de e, portanto, com o
um sistema de influência que se exerce sobre todas as esferas da vida social também com o força
[...] A hegemonia suporia, para seu pleno êxito, um consentimento ativo [...] de A hegemonia lora
um modo de vida, de um “etos” sem dúvida concebido pela classe dominante,
dos blocos políticos,
mas para o conjunto do corpo social; daí sua pretensão ao mesmo tempo real
“aliança de classes de
e ilusória de universalidade (Lojkine, 1997, p. 22).
coesão e unidade a
contradições. Esse
Assim, o poder hegem ônico deverá ter poder de enquadramento e
para ter capacidade
hierarquização de relações, processos e estruturas, e ser o portador do
salidade a seus
novo (por exemplo, o dom inio tecnológico). Deverá ter capacidade de
diversas frações de
iniciativa, de “endogenia de desenvolvimento”, de regulação e de adm i­
tim ar seu poder J e
nistração dos limites e possibilidades de si e dos outros. D e montar novo
tecido social.
bloco de poder para vencer a heteronomia. Dada urna certa correlação
A hegem onia
de forças, considerada em determinado tem po-espaço, é preciso pers-
sentes nas diversas
crutar a força coercitiva, os níveis e graus de “consentim ento” para o
uma capacidade de
dom ínio e exercício de direção que consolide um determ inado “projeto
m in ad a“concepção
de incorporação de todos” em sua órbita. Dessa forma, a afirmação, como
forças que determ ina
núcleo hegemônico, pressupõe algum grau de autonomia reprodutiva, de
Estes, se por de
capacidade inovativa (em contraponto aos “outros” — os subordinados)
dade e cidadania, s e '
e de direção persuasiva cultural-ideológica sobre o “conjunto nacional”,
de um projeto e de'
exercida no interior de uma determinada aliança. O ser hegem ônico ne­
e necessidades”.
cessita ser minimamente “dono de seu próprio destino”, ter preeminência,
A falta de ci
supremacia e capacidade de ser o condutor do processo para ter força
tidade, com pouca"
suficiente para propor, articular e sustentar uma determinada unidade
p. 11), seria antes a"
e aliança e administrar e centralizar uma “coesão nacional imaginária”,
este movimento de
que se exerce sobre determinados grupos subordinados.
A fim de ter poder legitimado necessário para desempenhar a função
13 “A hegemonia se i
de “guia legítim o”, é preciso desenvolver m odos de prestígio, intim ida­ enquanto encontra i
ção e coerção, realizando um jogo de contraposições/conjugação entre posições” Gruppi <19-*.
14 “Bloco Histórico 5
força e legitim idade, entre o coativo e o persuasivo, entre potência e dominação de uma
direção, submissão e consenso. produção e reproducás
15 “A Hegemonia atua c
como princípio de ■■

84
A S P R IN C IP A IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N S Ã O ESPA C IA L

. quero apreender os É preciso investigar que forças sociais comandam o aparato de direção,
io detém o poder analisando o sistema estruturado de alianças de classe com capacidade
de ação e raio de de “dar um a base social necessária ao Estado”, partindo do estudo do
processo de conquista, realização e manutenção da hegemonia. Segundo
Gruppi (1978, p. 4), “a hegem onia é concebida com o direção e dom inio
, trata-se, pois, de e, portanto, com o conquista, através da persuasão, do consenso, mas
í esferas da vida social também com o força para reprim ir as classes adversárias”.13
tío ativo [...] de A hegem onia forja um bloco histórico, que pode compreender varia­
tp d a classe dominante, dos blocos políticos. Assim , o bloco histórico é conform ado por urna
i ao mesmo tempo real
“aliança de classes de longa duração” com capacitação política de dar
coesão e unidade a forças heterogêneas, m itigando/contornando suas
contradições. Esse conjunto de forças sociopolíticas assimétricas luta
rd e enquadramento e
para ter capacidade de ser portador, de traçar um projeto, de dar univer­
, e ser o portador do
salidade a seus interesses específicos, coesionando os “subprojetos” das
pera ter capacidade de
diversas frações de classe. Essa coalizão precisa construir sentido, legi­
; regulação e de admi-
timar seu p oder14 e estender seus elos por todas as instituições e pelo
. De montar novo
tecido social.
i nina certa correlação
A hegem onia cum pre uma função regulatória das contradições pre­
ré preciso pers-
sentes nas diversas frações do bloco no p oder15 e tem de estabelecer
'cottsentim ento” para o
um a capacidade de ocultação de conflitos e fissões, de form ar deter­
■ adeterminado ‘ projeto
m inada “concepção de mundo”, forjando e cristalizando um a relação de
riñ o sa, a afirmação, como
forças que determ ina os lim ites e condiciona as ações dos subalternos.
i reprodutiva, de
Estes, se por desagregação e falta de coesão, são deserdados de proprie­
r— os subordinados)
dade e cidadania, se tornam incapazes de encarnar e serem portadores
; o "conjunto nacional”,
de um projeto e de “dar uma expressão centralizada às suas aspirações
.O ser hegem ônico ne-
e necessidades”.
ter preeminéncia,
A falta de cidadania e politização eterniza classes com pouca iden­
► processo para ter força
tidade, com pouca “consciência de classe”, que, segundo Oliveira (1987,
■a determ inada unidade
p. 11), seria antes a “consciência recíproca das classes e entre elas [...] E
>nacional imaginária”,
este m ovimento de re-conhecimento é, sem dúvida, o espaço da política”.
ios.
«desempenhar a função
13 “A hegemonia se realiza enquanto descobre mediações, ligações com outras forças sociais,
; prestigio, intim ida- enquanto encontra vínculos tam bém culturais e faz valer no campo cultural as próprias
K K cões conjugação entre posições” Gruppi (1978, p. 63).
14 “Bloco Histórico serve como um conceito adequado para a avaliação do grau de solidez da
► perscasrro, entre potência e
dominação de um a classe”. Sua duração depende da “capacidade de ordenar os modos de
produção e reprodução material e simbólica da sociedade” (Bocayuva e Veiga, 1992, p. 46).
15 “A Hegemonia atua como princípio de unificação dos grupos dominantes e, ao mesmo tempo,
como princípio de disfarce do domínio de classe” (Belligni, 1986, p. 581).

85
TE R R ITÓ R IO E D ESEN VO LVIM EN TO as : IS

C om poucos espaços legítimos de participação democrática, as classes Nos próximos c¿r


subordinadas encontram dificuldades de aglutinação, de organização e de dominação soei-,
de tom ada de posição, de concertação de seus interesses e de encontrar do dinheiro, soldad : ru.
canais que dêem vazão a suas reivindicações e engendrem uma vontade da dimensão territoraál
coletiva sólida. ultrapassar as inv
Tais questões com plexas som ente ganham sentido se trabalhadas zada”, avançando no sd
para casos concretos. Neste livro aponto algumas questões do caráter famílias empresaria» e
histórico dos constrangim entos postos à construção da cidadania e baños da análise, se se |
dos direitos, no Brasil, pelo bloco no poder, procurando perceber sua mercantil de valoi
dimensão espacial. Estamos orientados pelas pistas colocadas por Maria relações entre o Estad»*
da Conceição Tavares (2001, p. 10), que afirma que das frações do pacto e
poder. Essa agenda * 1
a luta de classes no Brasil é portanto um tema difícil de tratar, porque ela abrange sobretudo após o esgp
vários problemas mal resolvidos desde a constituição econômica e social das partir da década de 19I
classes até o “espaço” territorial epolítico do conflito de classes. Mas a dificuldade O avanço dos
fundamental do ponto de vista do avanço da luta das classes populares é 0 m inar questões
caráter heterogêneo das classes subordinadas (grifo nosso). o uso de fundos pi
estrutura, as con
Torna-se d ifícil tensionar a correlação de forças políticas postas
elementos explicaíríwadl
no bloco então no poder, de natureza oligárquico-mercantilista, tendo
legitimadoras em
“camadas baixas” difusas, deserdadas e com fratura orgânica na falta de
Por fim, cabería n
propriedade e de direitos. De maneira totalmente diversa dos sujeitos/
sentido se indagar as
protagonistas da elite, na situação de subdesenvolvimento, as massas
ção: de renda, de
subalternas, recorrentemente se tornando apenas “objeto dos eventos
etc.” (Cano, 1998b, p. p
históricos”. Nesse contexto de apatia e desorganização política dos de
questões territoriais a »
baixo, uma massa informe, torna-se cristalizada a reprodução de um certo
desvendar as causas m
tipo de dominação interna, com desigualdades estruturadas, sistemáticas
que se manifestam rap
e reprodutíveis de poder. Deve ficar claro que não se trata apenas de
Nesse sentido, tahnnr m
privilégios, mas da própria form a estrutural em que se constituíram e
para m elhor a p re e n s »
reproduziram as classes na situação de hegem onia em um ambiente de
desigual, excludente e a
atraso estrutural e subdesenvolvimento.
Este livro procura estabelecer uma argumentação em torno do resgate
da discussão da reprodução das classes sociais para se entender a dimensão
territorial do processo de desenvolvimento, procurando demonstrar que
essa é uma problemática atinente à existência, ao conteúdo e à natureza
de centro de decisão e de direção versus heteronomia, em todo e qualquer
recorte espacial a que se proceda.

86
AS PR IN C IPA IS D E T E R M IN A Ç Õ E S D A D IM E N SÃ O E SPA C IA L

M ienocrática, as classes Nos próximos capítulos, procuro analisar a natureza específica do pacto
, de organização e de dominação social férreo entre os donos da terra, o Estado e os donos
; e de encontrar do dinheiro, soldado no Brasil por suas elites. Entendo que a abordagem
em uma vontade da dimensão territorial do processo de (sub)desenvolvimento terá que
ultrapassar as investigações apenas da estrutura produtiva “espaciali-
tacM ído se trabalhadas zada”, avançando no estudo das fortunas pessoais, grupos econôm icos,
; qoestões do caráter famílias empresariais e empresas específicas, com cortes setoriais e ur­
da cidadania e banos da análise, se se pretende penetrar no desvendamento da lógica
id o perceber sua mercantil de valorização e estruturação política. É preciso pesquisar as
i colocadas por Maria relações entre o Estado e a recomposição das condições da valorização
das frações do pacto e sua eterna rearrumação do bloco oligárquico no
poder. Essa agenda se torna mais urgente para o período mais recente,
zr. porque ela abrange sobretudo após o esgotamento do padrão histórico de acumulação, a
i económica e social das partir da década de 1980.
eses. Mas a dificuldade O avanço dos estudos territoriais em um tal terreno perm itiría ilu ­
, dasses populares é o minar questões candentes com o o esgarçamento dos pactos federativos,
o uso de fundos públicos na reprodução das elites e fortunas regionais, a
estrutura, as contradições e fissuras no bloco de poder, bem com o trazer
p olíticas postas
elementos explicativos das dificuldades imensas em cimentar pactuações
-mercantilista, tendo
legitimadoras em países continentais e desiguais com o o Brasil.
i orgánica na falta de
Por fim, caberia ressaltar que a abordagem territorial crítica só tem
: diversa dos sujeitos/
sentido se indagar as causas da perpetuação das “estruturas de dom ina­
lento, as massas
ção: de renda, de propriedade, de controle político, de acesso ao Estado,
"objeto dos eventos
etc.” (Cano, 1998b, p. 310). O u seja, é somente a partir da inserção das
io política dos de
questões territoriais no contexto da reprodução social que se poderíam
u iccrodução de um certo
desvendar as causas mais profundas das heterogeneidades estruturais
idas, sistemáticas
que se manifestam espacialmente na produção da riqueza capitalista.
Báo se trata apenas de
Nesse sentido, talvez os conceitos aqui abordados possam contribuir
t qoe se constituíram e
para m elhor apreensão da natureza desse processo de desenvolvimento
. a n um ambiente de desigual, excludente e segregador.

em tom o do resgate
¿ ja n se entender a dimensão
:< c ir z z ¿ o demonstrar que
tendo e à natureza
■ tenm:cL_u„ em todo e qualquer

87
C a pítu lo 3

As heterogeneidades estruturais e a construção da


unidade nacional: integração do mercado nacional e a
construção social de uma “economia urbana complexa”

3.1 IN T R O D U Ç Ã O

Este capítulo, partindo da ênfase que deve ser dada à dim ensão conti­
nental do Brasil, procura mapear as marcas históricas mais profundas
de suas heterogeneidades estruturais (produtivas, sociais e regionais) e
a força dos processos de formação, integração e consolidação do mercado
nacional em seus diferentes aspectos e m omentos históricos. Discute a
form ação urbano-regional brasileira, procurando demonstrar o peso de
nosso legado histórico na configuração espacial do desenvolvim ento
capitalista no Brasil. Traça um breve perfil da dim ensão territorial do
desenvolvimento capitalista no Brasil, marcado por inércias, rupturas,
conflitos, desequilíbrios e assimetrias e por um complexo processo de
desenvolvimento desigual dos espaços regionais, procurando, na medida
do possível, apresentar uma agenda para a pesquisa histórico-concreta
daqueles p rin cípios teórico-m etod ológ icos discutidos no capítulo
anterior.
O intuito é demonstrar a historicidade desse objeto, alinhavando os
processos determ inados pela ação social de sujeitos concretos, esbo­
çando as principais m ediações históricas necessárias para o estudo da
dimensão espacial do processo de desenvolvimento capitalista no Brasil,
que, conform e afirmamos no capítulo 2, só pode ser plenamente reali­
zado a partir de categorias próprias da divisão do trabalho social e que
possuem intrínseca natureza não-universalizável, não-abstrata, produto
de condições históricas. Em suma, são processos com validez datada,

89
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO

conform ando estruturas que estão impossibilitadas de ser plenamente importante m ercad:
apreendidas por qualquer pretensa teoria (“abstrata”) do desenvolvimento. cional”, dinâmica e 5*
É bom lembrar que tal posicionamento analítico deve valer para qualquer para depois a c o r s r :
escala: internacional, nacional, regional ou local. Em que pesem 25:
O ponto de partida aqui defendido é que qualquer análise da reali­ neidade lingüística e :
dade regional e urbana brasileira deve estar atenta aos fatores de conti­ desintegração e dispe
nuidade, inércia e rigidez das desigualdades sociais e económicas pre­ Tais forças serão«
sentes no país e à persistência de assimetrias estruturais entre as diversas (no sentido traba
regiões e classes sociais, fruto de determ inações históricas de longa e p or decisões
duração e de outras, mais recentes, que se sobrepõem às mais remotas. com precisão os ’
Abordam -se aqui, mesmo que em traços largos, processos seculares que a adoção do sistema 1
legarão uma “fisionom ia territorial” peculiar ao país, ressaltando duas de ocupação e :
características congênitas: a dimensão continental e as forças (mercantil relativamente poteMea
e política) que contra-arrestarão o vigor centrífugo e dispersivo presente (e articular) um esa
“geneticamente” no país. É fundamental no estudo da dinâm ica da eco­ características bást
nom ia e sociedade brasileiras ter com o ponto de partida as heranças Querem os de
deixadas por uma história complexa de ação de forças dispersivas, pró­ de ocupação do 1
prias de um país continental, e as dificuldades e o potencial para a efe­ que engendroui j
tiva construção da unidade e da integração nacional de seu m ercado renda e riqueza e d e i
interno e da estruturação de certo pacto federativo. cidadania dos <
A vastidão do território e o pouco interesse inicial por sua efetiva
ocupação determ inaram o estabelecim ento de habitantes, certas ati­ A heterogeneidadri
vidades econôm icas e algum as vias de com unicação apenas na costa interno de ac ume
tempo e nas formas de<
litorânea, exigência momentânea da natureza de uma colonização inicial
a tendência à con
meramente protetora e que só posteriorm ente se tornou exploratória.
brutal da mão-de-oinai
Nesse contexto histórico peculiar, o país será “cicatrizado” pelas especifi­
cidades históricas de ter construído instituições de âmbito nacional com
Entendemos qara
enormes descontinuidades, defasagens, contradições e hiatos temporais;
to do “cap italism o;
de ter demarcado um território nacional, depois “arrumado” população
tureza de nosso
para esse imenso espaço; em seguida, de ter erigido um Estado nacional
brutal da terra, da 1
e, só depois, estabelecido um mercado de trabalho nacional (primeiro
a coalizão de podei. 1
escravista,1depois capitalista); e, muitas décadas depois, de ter articulado
e se reproduz, 1
um mercado nacional e, em cim a dessa potencialidade de articular tão
para frente, recc
valorização que
i Pode-se extrair de Florestan Fernandes (1976) a interessante idéia de que o escravismo foi
nossa primeira construção institucional que merecería o adjetivo de nacional, dada sua “in­ concentração ge
fluência construtiva homogeneizadora [...] se inserindo entre os pré-requisitos para a eclosão capacidade de int
capitalista modernizadora”.

90
AS H E T E R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS

. de ser plenamente importante m ercado interno, de montar urna máquina capitalista “na­
í do desenvolvimento. cional”, dinâmica e de crescimento “artificial”, enquanto deixava (sempre)
: valer para qualquer para depois a construção da nação.
Em que pesem as facilidades possibilitadas pela unicidade e hom oge­
er análise da reali- neidade lingüística e religiosa, “forças centrífugas” irão conspirar para a
i aos fatores de conti- desintegração e dispersão das heterogêneas porções territoriais da colônia.
e económ icas pre- Tais forças serão contrariadas por uma potente força de homogeneização
; entre as diversas (no sentido trabalhado no capítulo 2) e de integração “geoeconômica”
; históricas de longa e p or decisões m arcantem ente “geopolíticas”. M oraes (2000) destaca
às mais remotas, com precisão os vários em preendimentos com fins geopolíticos, desde
^processos seculares que a adoção do sistema de capitanias até o aldeamento, com claro sentido
i pois, ressaltando duas de ocupação e segurança da posse territorial. Nossa ênfase será posta na
Le as forças (mercantil relativamente potente acum ulação mercantil interna que vai desenhar
>e dispersivo presente (e articular) um espaço nacional de valorização do capital, que terá como
i da dinám ica da eco- características básicas ser largo, heterogêneo e complexo.
i de partida as heranças Q uerem os destacar neste capítulo a m arca principal desse processo
; larcas dispersivas, pro­ de ocupação do território e de construção da nação: o pacto de poder
l e o potencial para a efe- que engendrou/perenizou as estruturas altamente concentradoras de
l e x i o o a l de seu mercado renda e riqueza e de im pedim ento do acesso à propriedade e à plena
cidadania dos direitos sociais, políticos e civis.
: inicial por sua efetiva
; habitantes, certas ati- A heterogeneidade social explica-se sobretudo pela conquista do espaço
áo apenas na costa interno de acumulação, em condições de dominação que vão se alterando no
tempo e nas formas de ocupação do território, mas que sempre confirmaram
¡am a colonização inicial
a tendência à concentração crescente da renda e da riqueza e à exploração
: se tom ou exploratoria.
brutal da mão-de-obra (Tavares, 1999, p. 455).
C icatrizado” pelas especifi-
i de ámbito nacional com
Entendemos que a análise da dim ensão espacial do desenvolvim en­
, e hiatos temporais;
to do “capitalism o selvagem” brasileiro ajuda a lançar luz sobre a na­
'‘arrumado” população
tureza de nosso padrão histórico de crescim ento, com concentração
i um Estado nacional
brutal da terra, da riqueza, da renda e do poder. O u seja, demonstra que
so nacional (primeiro
a coalizão de poder, o “bloco histórico” que dom ina o país, se alimenta
sdepois, de ter articulado
e se reproduz, também, da extensividade, do caráter itinerante, da fuga
¿dade de articular tão
para frente, recorrentem ente se reproduzindo em busca de fontes de
valorização que utilizam a dim ensão continental e a dialética da alta
¿e que o escravismo foi
f ie nacional, dada sua “in-
concentração geográfica e, ao mesm o tempo, altíssima “capilaridade” e
í TTí-requisitos para a eclosão capacidade de interiorização e “saída para dentro” que o capitalism o

91
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO ÜH

brasileiro aprendeu a utilizar, constituindo cadeias produtivas longas e Tais processes uzn
complexas. internas, com ín cin sM
Dada a natureza da colonização exploratória que se processou no Bra­ e superadas pela lo p
sil, a anexação econôm ica de áreas remotas se tornava crítica e custosa. distintos graus e
Os agentes da colonização apenas circunstancialmente tiveram interesses cantil presentes a .
maiores em adentrar e utilizar a riqueza da diversidade regional brasileira. dilatação, fusão, s
A força do localism o inerente aos fundamentos da civilização brasilei­ dos m ercados re
ra, erigida a partir de uma sociedade híbrida, oriunda de um complexo trabalho.
cultural agrário, patriarcal, escravocrata e monocultor, cristalizava uma A afirmação <
semi-autonomia que freava a propagação dos mores civilizatórios.1 Dessa e unidade, se dara3
forma, os sucessivos ciclos de produção dos gêneros coloniais cristaliza­ imposta pelas m « 3
ram no território uma verdadeira constelação de núcleos regionais, em de comando d a ;
que vigoravam rarefeitas relações mercantis entre si. nacional brasileiro.
Recentemente, a historiografia brasileira m uito tem avançado na
análise da complexidade de nossa experiência de construir a unidade da
diversidade nacional, tendo como ponto de partida múltiplos processos 3.2 A LARGA D l

internos com grande heterogeneidade local/regional. C O N S T IT U IÇ Ã O 1


Ronaldo Marcos dos Santos (1985, p. 4), em sua análise do movimento
interno da econom ia colonial, irá apontar a possibilidade de Todos os principais i
da nação ressah»aaB|
apreensão desse movimento que nos permite ver, a cada ciclo, não um retorno geográficas, que 3
à estaca zero anterior, mas o processo cumulativo que lhe dá significado: a luta Em um país de 1
pela existência do capital mercantil nacional que tem por suporte o aprofunda­ colonial, a própria i
mento da divisão social do trabalho em meio à estreiteza da economia colonial por romper esses 1
[...] procurando lançar luz sobre a forma como se internalizou a acumulação busca por constnn ri
dos proventos do lucro colonial. (homogeneização) ¡
C apistrano d e .
M esm o subm etida aos em pecilhos postos pela lógica colonial, a colonial (1500-1800).*
extensividade do am plo território logrou m ultiplicar atividades pro­
dutivas importantes, que estabeleceram núcleos urbanos e rurais com observando-se a <
complexidade. 2 correntes fáceis de 1
à continuidade e 1
2 Buarque de Holanda (1936, pp. 42-94) apresenta várias passagens em que mostra sua preocu­
voluntária, deter
pação com a precariedade das comunicações: “Falta de recursos que provinham, por sua vez,
da falta de comunicações fáceis ou rápidas dos centros produtores mais férteis, se não mais tagens estratégicas,;
extensos, situados no planalto, com os grandes mercados consumidores de além-mar [...] As procurava rumos <
facilidades de comunicações por via marítima e, à falta desta por via fluvial, constituiram,
minérios trouxe 1
pode-se dizer que o fundamento do esforço colonizador de Portugal”. O autor assinala que
“a abreviação e o incremento dos negócios [poderíam ser] favorecidos pela rapidez maior na
circulação de notícias”.

92
A S H E TE R O G E N E ID A D E S E ST R U T U R A IS

¡ produtivas longas e Tais processos unificadores não se darão sem múltiplas contradições
internas, com íntim as estruturas locais/regionais que serão invadidas
í se processou no Bra- e superadas pela lógica m aior que passa a subm eter e coordenar os
crítica e custosa,
l distintos graus e ritm os das valorizações da riqueza m aterial e m er­
¡tiveram interesses cantil presentes em cada espaço. Prevalecerá a ló gica capitalista da
¡ regional brasileira, dilatação, fusão, superposição e, posteriorm ente, articulação/superação
i civilização brasilei- dos m ercados regionais no concerto de um a divisão inter-regional do
. de um complexo trabalho.
ur, cristalizava uma A afirmação desses processos, de form a plena, orgânica, com conexão
icivilizatórios.2Dessa e unidade, se dará apenas no final do século XIX, a partir da coerência
i coloniais cristaliza- imposta pelas mais avançadas relações capitalistas presentes no centro
¡ án d eos regionais, em de com ando da acum ulação (São Paulo), que se processa no espaço
:sL nacional brasileiro.
tem avançado na
¡ construir a unidade da
t múltiplos processos 3.2 A L A R G A D IM E N S Ã O T E R R IT O R IA L : D A H E R A N Ç A C O L O N IA L À
C O N S T IT U IÇ Ã O D E U M A E C O N O M IA E X P O R T A D O R A C A P IT A L IS T A

Lználise do movimento
ide de Todos os principais intérpretes clássicos que abordaram a construção
da nação ressaltaram as múltiplas correntes pioneiras e as trajetórias
i ciclo, não um retorno geográficas, que apresentaram a marca da desconexão e da intermiténcia.
¡ lie dá significado: a luta Em um país de dimensões continentais, desde o período da ocupação
i por suporte o aprofunda- colonial, a própria integração física encontrava inúmeros limites. A luta
i da economia colonial por romper esses bloqueios, inclusive físicos, à articulação m ercantil e a
eñfeemalizou a acumulação busca por construir um espaço uno de valorização do capital mercantil
(hom ogeneização) será tarefa árdua e demorada.
C apistrano de Abreu (1928, p. 221), em seus Capítulos de historia
. pela lógica colonial, a colonial (1500-1800), irá constatar que
atividades pro-
urbanos e rurais com observando-se a distribuição geográfica dos povoadores notavam-se duas
correntes fáceis de distinguir. A corrente espontânea do povoamento tendia
à continuidade e procurava e preferia a Oeste, ao Norte e ao Sul. A corrente
3que mostra sua preocu- voluntária, determinada por ação governativa, ambição de territórios ou van­
í roe provinham, por sua vez,
es mais férteis, se não mais tagens estratégicas, aparecia salteada e desconexa, e começando da periferia
¡¡¿ores de além-mar [...] As procurava rumos opostos. Nas terras auríferas a ocorrência irregular dos
i mêssí via fluvial, constituíram,
minérios trouxe primitivamente a desconexão dos núcleos [...].
zx£T. O autor assinala que
icos pela rapidez maior na

93
TERRITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO

A imensidão territorial apresentava enormes descontinuidades geográ­ O mesmo auic:


ficas, impermeáveis ao avanço do progresso material. As formas mercantis da “pecuária h o n c£
um pouco mais sólidas se encontravam intervaladas pelo território, com A dispersão gecç:
pouca continuidade, conexão e contato entre si. Esse m osaico de econo­ orientada ao extence
mias locais e regionais fragmentadas foi sendo cristalizado em processos que não se f
de longa duração associados ao nascimento, auge e declínio dos diversos entre si, embora 1
m ovimentos cíclicos regionalizados, com a marca da fronteira móvel e Em 1720, o pais
da apropriação territorial contínua. João Pessoa, Olinòa.
A fixação e defesa das fronteiras e o processo de tomada de posse Paulo, Goiás e Curaba
territorial foram acontecim entos lentos e com plexos.3 Alguns núcleos N o início do
urbanos, ou melhor, “bases extra-rurais”, dada sua simplicidade material vivendo na faixa
e funcional, vão surgindo. e Egler (1993, p.52^
Consolidam-se, pouco a pouco, feitorias “marítimo-militares”, algumas
avançando para aldeias e povoados, mas poucas para vilas e cidades. na “marinha” (litoraí*
Existiam 14 vilas ao final do século X V I (do Rio Grande do Norte a São cidades, os portos. N o*
Paulo), porém apenas quatro se destacavam: Salvador, Rio de Janeiro, feito e disperso, que
Olinda e São Vicente. De natureza isolada e esparsa, 37 vilas foram cria­ lecimentos isolados
das no período seiscentista,4 cabendo salientar as fundações de São Luís, milhões de km-.
Cabo Frio e Belém. No século X V III ocorreu a prim eira, mas tímida,
“interiorização” com a ocupação do Planalto e da Am azônia. Em 1730, Em grande parte
Salvador possuía 28 m il habitantes; Rio de Janeiro, 10 mil; Recife, 7 m il era uma espécie de
e Belém, 4 mil. São Luís, Olinda e a Vila de Santos tinham cerca de 2 a 3 dade econômica. A
m il habitantes. Segundo A zevedo (1956, p. 34), sividade e pulver
zados, na crista
a obra da urbanização conseguiu libertar-se definitivamente da orla atlântica dos sertões e n a 4
[...] A análise do mapa das vilas e cidades do século XVIII demonstra, de ma­ seja pelas atividades:
neira evidente, a penetração do bandeirantismo, o povoamento da Chapada tência em crise. Cabe
Diamantina e do vale do rio São Francisco, a expansão pastoril no sertão do A reprodução ar
Nordeste, a obra dos missionários na Amazônia e, em menor escala, a influência certa independência
do chamado “ciclo muar” e da conquista de caráter militar levada a efeito no racterística própria
Extremo Sul. físico’, principal d a ;
setor, independente
infiltrar-se pelo
constituíam elem ento
3 Milton Santos (1994b, p. 17) afirma: “A cidade era bem mais uma emanação do poder longín­
quo, uma vontade de marcar presença em um país distante”. regionais do país.'
4 “As vilas que podemos considerar ‘bocas de sertão’ e que mais se afastaram da orla litorânea
situavam-se na porção meridional do Planalto Atlântico (Curitiba, Sorocaba, Itu, Jundiaí, 5 Milton Santos (19MÉL
Guaratinguetá)” (Azevedo, 1956, p. 29). que de um processo i

94
AS H E TE R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS

auidades geográ- O mesmo autor ressalta dois fatos marcantes nesse momento: o papel
>formas mercantis da “pecuária hom ogeneizadora e a irrelevância de São Paulo”.
tpelo territorio, com A dispersão geográfica, cravada pelas diversas experiências de produção,
; mosaico de econo- orientada ao exterior, fincava núcleos, que retinham algum excedente, mas
io em processos que não se estruturavam com “densidão capitalista”, nem se articulavam
íd ed ín io dos diversos entre si, embora tenham “plantado” alguns núcleos urbanos.5
ida fronteira móvel e Em 1720, o país possuía apenas 12 cidades: Belém, São Luís, Oeiras,
João Pessoa, Olinda, Salvador, Mariana, Cabo Frio, Rio de Janeiro, São
i de tomada de posse Paulo, Goiás e Cuiabá (Azevedo, 1956).
Alguns núcleos No início do século X IX tinha mais de dois milhões de habitantes
i simplicidade material vivendo na faixa litorânea (de um total de 3,5 milhões). Conform e Becker
e Egler (1993, p. 52),
-militares”, algumas
; para vilas e cidades. na “marinha” (litoral) estava a “civilização”, as plantations açucareiras, as
»Grande do Norte a São cidades, os portos. No “sertão”, uma sociedade rude e um povoamento rare-
ar, Rio de Janeiro, feito e disperso, que dificultava qualquer controle, uma nebulosa de estabe­
.37 vilas foram cria- lecimentos isolados que se disseminavam por uma área de mais de dois
im ndações de São Luís, milhões de km2.
i prim eira, mas tímida,
■ <kz Am azonia. Em 1730, Em grande parte do interior brasileiro a atividade de criação de gado
. 10 mil; Recife, 7 mil era um a espécie de patamar m ínim o de presença do hom em e da ativi­
i tinham cerca de 2 a 3 dade econômica. A pecuária desempenhou papel fundamental na exten-
sividade e pulverização da acum ulação de capitais mercantis interiori­
zados, na cristalização e preservação de grandes latifúndios, na ocupação
ate da orla atlántica dos sertões e na fixação de contingentes populacionais marginalizados,
»XVIII demonstra, de ma- seja pelas atividades agrícolas exportadoras, seja pelos núcleos de subsis­
► pwoamento da Chapada tência em crise. Cabe destacar algumas especificidades dessa atividade.
1pastoril no sertão do A reprodução autônoma da pecuária, regida por suas próprias leis, com
inneaor escala, a influência certa independência perante os ciclos econôm icos, pois “dotada de ca­
riüEÍkzr levada a efeito no racterística própria de acum ulação natural’ (no sentido de que o ‘capitál
físico’, principal da pecuária — o gado — é produzido dentro do próprio
setor, independente das condições de m ercado)” (Cano, 1975, p. 95). Ao
infiltrar-se pelo hinterlaná, entalhava diversas rotas interioranas, que
constituíam elem ento pioneiro de contato entre os diversos espaços
7-án do poder longín-
regionais do país. “Eram as correntes de gado que mais concorriam , sob
•s^sram da orla litorânea
i, tr o c a b a , Itu, Jundiaí, 5 Milton Santos (1994b, p. 120) diz tratar-se “mais de um processo de geração de cidades do
que de um processo de urbanização”.

95
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO

o ponto de vista económico, para a permanência de comunicações interio­ cipais correntes ¿e


res entre vastas regiões do País” (Simonsen, 1937, p. 379). Também O li­ bolsões populario-;-*: 1
veira Lima (1911, p. 113) assevera que essa é nossa atividade “mais pacífica aguardente flu m ic e rsti
e menos aleatória”, levada a cabo por uma “população muito espalhada, acabam contribuindo
que a industria pastoril reteve nos campos de pastagem”, ressaltando que nos entroncamentos;
esses são habitantes “altivos, por se bastarem a si próprios”. base de operações pa
A pecuária desempenhou papel fundamental e pioneiro na congênita O autor salienta:
itinerância e extensividade da acumulação mercantil que se vai desenhando para a constituição <
no Brasil. Em razão de sua im portância fundamental na construção da A discussão sobre afl
unidade nacional de um espaço geográfico continental, reproduziremos articulação de s e u s «
aqui uma extensa citação de Celso Furtado (1959), por esta representar grande polêm ica, a
uma perfeita síntese daquelas especificidades dessa atividade e de seu ou "racionalizado” í
papel, conforme conceituado no capítulo 2,“homogeneizador” (sobretudo Buarque de H olanda I
de um nível m ínim o de “reprodução simples” mercantil e unificadora de um a “vida inter
padrões fundiários perversos e excludentes, de amplas massas humanas A literatura t
e dos círculos de poder, propriedade e riqueza).6 reza e as funções d e i
(Abreu, 1996), não 01
A ocupação da terra era extensiva, e até certo ponto itinerante. O regime trole do território,]
de águas e as distâncias dos mercados exigiam periódicos deslocamentos da a complexidade de ¡
população animal, sendo insignificante a fração das terras ocupadas de forma cam po-cidade no ]
permanente. As inversões fora do estoque de gado eram mínimas, pois a den­ abastecimento d oi
sidade econômica do sistema em seu conjunto era baixíssima. Por outro lado,
ao debate acerca do 1
a forma mesma como se realiza a acumulação de capital dentro da economia
relações mercantis ]
criatória induzia a uma permanente expansão — sempre que houvesse terras a
mínimo, controversa!
ocupar — independentemente das condições da procura. A essas características
de Sérgio Buarque d e i
se deve que a economia criatória se haja transformado num fator fundamental
de penetração e ocupação do interior brasileiro. de planejam ento ■
(sob o aspecto de 1

O movimento dos tropeiros pelo país desempenhou papel importante “feitorar a riqueza 1

de penetração e a melhor articulação mercantil entre áreas ainda pouco (realizado “com zeioe]

exploradas (Lenharo, 1979). núcleos estáveis ei

Ronaldo M . Santos (1985, p. 99), ao ressaltar o desenvolvimento de brasileiras seguiu 1

circuitos internos mercantis independentes da metrópole, destaca as prin- outro lado, a im itação4
baseada no tratam eato

6 Conforme Cano (2002, p. 119), a pecuária “podia reproduzir-se [...] ocupando novos espaços
vazios ou os já ocupados pela pequena agricultura de subsistência, que, por sua vez, também 7 Abreu (1996, p. 154* 1
era empurrada mais adiante, ou então era incorporada pela pecuária, passando os pequenos xadrez no Brasil c
produtores a viver sob o manto protetor do latifundiário, como agregados ou moradores de no planejamento de 1
condição”. de planos urbanos ai

96
A S H E T E R O G E N E ID A D E S E ST R U T U R A IS

icações interio- cipais correntes de mercadorias que passarão a colocar em contato os


379). Também Oli- bolsões populacionais: o tráfico negreiro, a produção baiana de fumo, a
ade “mais pacífica aguardente fluminense, o circuito bovino das boiadas e muarés etc. Todos
1muito espalhada, acabam contribuindo para a formação de urna “trama de circuitos tendo
”, ressaltando que nos entroncamentos as cidades, que serviam como sede, ponto de apoio e
iproprios”. base de operações para o capital mercantil interno” (Santos, 1985, p. 141).
le p o n e ir o na congênita O autor salienta também que a escassez estrutural de gêneros foi a base
l^ne se vai desenhando para a constituição desses circuitos.
l na construção da A discussão sobre a natureza e o ritmo da ocupação territorial e da
1, reproduziremos articulação de seus circuitos económ icos internos foi sempre sujeita a
|L p o r esta representar grande polémica, até mesm o sobre seu caráter, mais ou menos frouxo
. atividade e de seu ou "racionalizado”, ao sabor de “atitude tateante e perdulária”, com o diz
ador” (sobretudo Buarque de Holanda (1936), em que os centros urbanos apresentavam
atil e unificadora de uma “vida intermitente”, com o diz Azevedo (1956).
; massas humanas A literatura especializada recente tem repensado a dimensão, a natu­
reza e as funções de nosso urbano-regional desde o período colonial
(Abreu, 1996), não 0 considerando apenas com o centros locais de con­
1itinerante. O regime trole do território, pouco dotados de dinamismo. Mostra, por outro lado,
; deslocamentos da a complexidade de muitos espaços urbanos e regionais e das relações
! ocupadas de forma cam po-cidade no período colonial e imperial. Estudos sobre a rede de
1mínimas, pois a den­
abastecimento do vasto mercado interno têm trazido grande contribuição
la. Por outro lado,
ao debate acerca do papel importante, ou não, da “hom ogeneização” de
l dentro da economia
relações mercantis pelo país. Importantes estudos demonstraram a, no
rque houvesse térras a
mínimo, controversa via de interpretação que derivou das contribuições
.A essas características
de Sérgio Buarque de Holanda (1936) a respeito da aleatoriedade e falta
»amn fator fundamental
de planejam ento em que se deu a im plantação de cidades no Brasil
(sob o aspecto de bases territoriais “passageiras” que apenas buscavam

iu papel importante “feitorar a riqueza fácil e ao alcance da mão”) vis-à-vis o padrão ibérico
I catre áreas ainda pouco (realizado “com zelo e previdência” e preocupado com a constituição de
núcleos estáveis e interiorizados).7 O estilo de arranjo espacial das cidades

o desenvolvimento de brasileiras seguiu determinações próprias e, até mesmo, regionais. Por

ole, destaca as prin- outro lado, a imitação dos modelos internacionais de ação planejadora
baseada no tratamento higienista e “engenharista” de m elhoramento do

.." ¿capando novos espaços


cae. por sua vez, também 7 Abreu (1996, p. 154) assevera que “A pouca expressividade que teve o modelo em tabuleiro de
l t s t £í _-lí. passando os pequenos xadrez no Brasil colonial não pode ser vista como ausência de rigor, de método ou de previdência
n m c icrssados ou moradores de no planejamento de núcleos urbanos. E muito menos como desleixo. A simples comparação
de planos urbanos não diz muita coisa sobre o processo histórico de urbanização brasileiro”.

97
T E R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO

meio urbano parece indicar a insuficiência das interpretações das cidades A partir de i f :
brasileñas com o “obras do acaso”, o que é típico de um pretenso padrão m ercantis são de
lusitano de urbanidade. potencializa eleme
Apesar de sua complexidade, é preciso ter clareza dos limites estrutu­ constituir um espacz
rais que o urbano colonial apresenta. Sobretudo sua baixa diferenciação articuladora de
social e diversificação produtiva, resultado de uma restrita divisão social nítida expressão
do trabalho e de uma lim itada subordinação do cam po pela cidade. Em circulação mercantil .1
sua tese doutorai, Furtado (2001, p. 166) defende que “o desenvolvimento A o emancipar-se.*
da vida urbana se fará no Brasil à sombra do domínio patriarcal. Este tem dade. Assim,afoi
prim azia econôm ica, administrativa e religiosa. O núcleo urbano dele com o controle —
depende para tudo” [...] “O centro urbano, por si mesmo, nada repre­ são — sobre seus
senta. Sua população, constituída de pequenos artesãos, de comerciantes do o Estado na<
a retalho e de pequenos agricultores das proxim idades, se anula diante após as fraturas no
do prestígio econôm ico e social do grande senhor dom inial”. [...] “Entre da unidade nacionaL
os extremos da escala social flutua um a massa amorfa desligada da vida horizontal do
econôm ica da Nação”. Essa massa de deserdados sobrevivia amparada irá perm itir que se
na econom ia natural do complexo rural então existente. O que M arx gumas regiões, nas
cham ou de “o fundam ental de toda a divisão do trabalho desenvolvida e ção simples e não
processada através da troca de mercadorias” — a separação entre campo sociais. O Estado
e cidade — não havia encontrado condições materiais e políticas para se legitim ando-se o
desenvolver. A contradição entre campo e cidade não havia sido resolvida preocupação
pela subordinação do prim eiro à “polaridade” urbana. continental e
Em síntese, grandes unidades produtoras (agrícola, m ineradora e ex- riorização, cor
trativista), rígida ordem escravocrata e senhorial, altíssima concentração da fragmentação e*
de renda, riqueza e poder, orientação para o exterior, são características tal construñ a ¡
“m onótonas” dos três prim eiros séculos da econ om ia colonial, que D urante o
muito pouco se transformarão com a criação de um Estado nacional. com o um alerta e ¡
Nesse contexto de incipiente divisão social do trabalho e de não-opo- contra a unidade 1
sição dialética entre campo e cidade, 0 “caudilhismo” local prevalecerá, ção, sob um Estado*
em botando as possibilidades de constituição de uma sociedade menos
autoritária, o que legará com o herança formas atrasadas (que se pereni-
ao mandonísmo !
zam) de convivência social.8 colaboração entre t
autônomos fechara *
8 “Instituído o regime municipal como divisão política territorial, continuou a supremacia do de coletividade” <i
domínio, que fará do município seu simples valet. Com efeito, o município brasileiro é uma Para os desdob
divisão territorial mais ou menos arbitrária [...] Neste país, o domínio patriarcal perduraria Fernandes (1974. p.-
como célula da sociedade. O município será uma expressão meramente exterior. Muitas vezes de modo rápido, e
o senhor dominial achará conveniente fazer sentir a sua força na sede do município” [...] “A a Reino e à mo
inexistência de interesses comuns que liguem os domínios semi-autônomos e a tendência reforço da preserarae*

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AS H E TE R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS

>das cidades A partir de 1808 muitas das circunscrições para o avanço das bases
i pretenso padrão m ercantis são desm anteladas.9 A crescente m ercantilização interna
potencializa elementos contraditórios que indicam a premência em se
id os limites estrutu- constituir um espaço econômico nacional. A retenção interna de excedentes,
ifcaixa diferenciação articuladora de interesses antagônicos ao poder metropolitano, tem urna
i divisão social nítida expressão espacial, pois se acha ancorada fundamentalmente na
>pela cidade. Em circulação mercantil nordestina e centro-sulina da colônia.
‘o desenvolvimento A o emancipar-se, em 1822, o país necessitou articular sua frágil uni­
► patriarcal. Este tem dade. Assim, a formação do Estado nacional deveria manifestar-se também
L© n d e o urbano dele com o controle — com algum grau de centralização, soberania e repres­
3, nada repre­ são — sobre seus diversos espaços regionais. Sem rupturas, é constituí­
nde comerciantes do o Estado nacional, que articulará as elites oligárquicas regionais e,
, se anula diante após as fraturas no período regencial, criam -se m ecanismos de garantia
rdmniniaT. [...] “Entre da unidade nacional. “São lançadas as bases do permanente travejamento
idesligada da vida horizontal do Estado brasileiro. A pactuação horizontal interoligárquica
¡ « hrevivia amparada irá perm itir que se com bine o dinam ism o das forças produtivas em al­
e. O que M arx gumas regiões, nas quais emergem novos atores sociais, com a reprodu­
i desenvolvida e ção simples e não dinâm ica da periferia, conservando os velhos atores
i entre campo sociais. O Estado nacional irá articular-se para a construção do futuro,
¡e políticas para se legitim ando-se com o m antenedor do atraso” (Lessa, 2001, p. 264). A
► havia sido resolvida preocupação recorrente com a unidade e integridade de um território
continental e insular requeria que se promovessem a conquista e a inte-
. mineradora e ex- riorização, construindo as vias de penetração necessárias ao rompimento
1a concentração da fragmentação e do isolacionism o da nascente nação. Era fundam en­
. são características tal construir a soldagem de interesses específicos e dispersos.
colonial, que Durante o período regencial, as sublevações provinciais serviram
Estado nacional. com o um alerta e se constituíram no prim eiro abalo que conspirava
iln ÍM ¡h o e de não-opo- contra a unidade (nacional e territorial) que se encontrava em constru­
' local prevalecerá, ção, sob um Estado que ainda se compunha. Assim, entre 1831 e 1848,
i sociedade menos
. (que se pereni-
ao mandonismo resultante da herança escravista dificultam qualquer entendimento ou
colaboração entre os senhores patriarcais. Por outro lado, esse isolamento de grupos semi-
autônomos fechará 0 caminho à formação de uma mentalidade política e de uma consciência
a supremacía do de coletividade” (Furtado, 2001, p. 169).
m m z r i o brasileiro é urna 9 Para os desdobramentos da presente tese é importante reter os ensinamentos de Florestan
h.-1 mimi-n: parriarcal perduraria Fernandes (1974, p. 7), ao discutir “como 0 ‘senhor colonial’ se converte, pura e simplesmente e
erre srerior. Muitas vezes de modo rápido, em ‘senhor’, graças à transferência da Corte, à abertura dos portos, à elevação
kcl .-eo: ¿ r municipio” [...] “A a Reino e à modernização acelerada que esses processos desencadearam, com o profundo
;* !=m--jiT-ruizios e a tendência reforço da presença e da influência transmetropolitanas da Inglaterra”.

99
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO

cerca de duas dezenas de revoltas, com grande expressão política, se se dará a luta co~c:-:
espalharam por todas as regiões do país. Tiveram m aior vulto as seguin­ zação das diversas fn
tes: Cabanagem , no Pará (1835-1840); Sabinada, na Bahia (1837-1838); m omento posterior a t ]
Balaiada, no Maranhão (1838-1841); Farroupilha, no Rio Grande do Sul A instauração õ e ;
(1835-1845) e Praieira, em Pernambuco (1848). A ssim ,“em seu processo dos esquemas de r;
de formação, o Estado brasileiro também teve que enfrentar fortes re­ do país. Ponho à
sistências à concentração de poderes (jurídicos, militares e sobretudo ele condensa ele
fiscais) no centro político”. Logrará potente força centralizadora, a partir caráter conservador*
do Rio de Janeiro, durante as décadas de 1850 e 1860, porém “a crise do desvendado por 1
Estado Imperial torna-se endêm ica a partir da década de 1870. Ela pode burguesa no Brasil
ser sumarizada com o a confluência explosiva entre as demandas cres­ em que o autor *
centes das diferentes econom ias regionais (com o início do processo de na tentativa de ■
emancipação) e o estrangulamento das finanças públicas, im posto pelo controle do exc
peso dos compromissos da dívida” (Costa, 2000, p. 197). burguesas colocadas]
As forças centrífugas eram fortes. Em contrapartida, mudanças de na­ heteronômicos 1
tureza qualitativa nos esquemas de funcionamento da economia nacional e proteção, pro
estavam-se afirmando, cabendo destaque à potente homogeneização (no A apropriação*
sentido discutido no capítulo anterior), que embora enfrentando grandes zada, porém sej
obstáculos, lograva iniciar a construção de um mercado específicamente desenvolvim ento <
capitalista no Brasil.10 de situações (r
A s forças da hom ogeneização, ou seja, do com bate/superação às Essa apropr
antigas formas de relações de trabalho, aos laços de dependência e favo­ e de form a cer
res pessoais, o combate à violência e à coerção extra-econôm icas, im pu­ constituirão a s :
nham sua lógica, p rom oven do a subm issão das arcaicas form as de ambos em processa*
produção — m odos pretéritos de organizar o trabalho coletivo etc. — às Sobretudo a p ó s;
determ inações das relações capitalistas de produção e da expansão e cional para a <
propagação das relações mercantis. com o sedes do <
Nesse m om ento decisivo é avançada a constituição de um a esfera
“A Independência i
unificada de valorização do capital que, malgrado variados em pecilhos,11
colonial foi con
engendra a arena e fixa os parâmetros (a igualdade das regras) sob os quais o seu substrato i
de uma sociedade i
Tal retenção é ]
10 João Antônio de Paula (2001, p. 5) afirma que“a Lei de Terras, de 1850, é coetánea de dois outros “Vai ser nas cidadã a
instrumentos legais, o Código Comercial e a Lei Eusébio de Queiroz, que aboliu o tráfico de circulação int<
escravos, que significaram, em conjunto, a emergência, no Brasil, do processo de constituição evidentemente, a i
do mercado específicamente capitalista. Isto é, a transformação da terra e da força de trabalho controlando a j
em mercadorias”. Essa transformação se mantém inconclusa, é bom ressaltar, durante muito nal de mercadooaa” •
tempo. que “a mudança ç
11 Cabe salientar, por exemplo, que a taxação entre as províncias só será abolida várias décadas mercantil-cidade, *
depois (Cano, 1981). o latifúndio í

ÍOO
A S H E T E R O G E N E ID A D E S E ST R U T U R A IS

o p r e s s ã o política, se se dará a luta concorrencial. Em suma, são criados os loci para a organi­
■ vulto as seguin- zação das diversas frações regionalizadas de capital, que se enfrentarão no
i Bahia (1837-1838); m omento posterior do processo de integração do mercado nacional.
>Rio Grande do Sul A instauração de espaço e sociedade nacionais significa organização
‘ em seu processo dos esquemas de reprodução produtiva, social e política desde dentro
enfrentar fortes re- do país. Ponho ênfase nesse m omento de um passado longínquo, pois
■ flíMn e sobretudo ele condensa elementos históricos fundamentais para que se entenda o
idora, a partir caráter conservador e oportunista de nossas elites,12que foi brilhantemente
, porém “a crise do desvendado por Florestan no primoroso segundo capítulo de A revolução
de 1870. Ela pode burguesa no Brasil (“Implicações Sócio-econôm icas da Independência”),
as demandas cres- em que o autor destaca os elementos de preservação e m udança postos
io do processo de na tentativa de constituição de centros de decisão internalizados de
pÉM kas, imposto pelo controle do excedente. É urna im portante reflexão das contradições
P- *97)- burguesas colocadas pela luta de alguns para romper com os “caracteres
mudanças de na- heteronôm icos herdados” e buscar construir a escala nacional de controle
economia nacional e proteção, procurando ter poder de regulação sobre seu destino.
homogeneização (no A apropriação de excedente vai ganhando natureza e escala nacionali­
enfrentando grandes zada, porém se processa com níveis e ritmos marcadamente desiguais de
específicamente desenvolvim ento das forças produtivas materiais, com a com binação
de situações (regionais, produtivas, sociais) bastante diversas.
ate/superação às Essa apropriação e retenção de excedente13 ocorre crescentemente
dependência e favo- e de form a centralizada nos principais núcleos urbanos do país, que
conômicas, impu- constituirão as sedes privilegiadas tanto do mercado com o do Estado,
. arcaicas form as de ambos em processo de construção e estruturação.
: coletivo etc. — às Sobretudo após a passagem da econom ia m ercantil-escravista na­
e da expansão e cional para a econom ia exportadora capitalista, as cidades se afirmarão
com o sedes do controle burocrático e do controle do capital mercantil,14
lo de urna esfera
12 “A Independência foi naturalmente solapada como processo revolucionário [...] O estatuto
vaciados em pecilhos,11
colonial foi condenado e superado como estado jurídico-político. O mesmo não sucedeu com
das regras) sob os quais o seu substrato material, social e moral, que iria perpetuar-se e servir de suporte à construção
de uma sociedade nacional” (Fernandes, 1974, p. 33).
13 Tal retenção é parcial, em razão das importações e da presença dos capitais estrangeiros.
£ coetánea de dois outros 14 “Vai ser nas cidades que se localizarão tanto os aparelhos que fazem a ligação da produção com
jonsE-a. que aboliu o tráfico de circulação internacional de mercadorias quanto os aparelhos de Estado, que têm nas cidades,
- ñc processo de constituição evidentemente, a sua sede privilegiada” [...] “as cidades são a sede do capital comercial, que,
xz -srra e da força de trabalho controlando a produção agroexportadora, fazem a ligação desta com a circulação internacio­
; i c e ressaltar, durante muito nal de mercadorias” (Oliveira, 1982, p. 37). Também Ronaldo M. Santos (1985, p. 161) assevera
que “a mudança qualitativa básica pode ser expressa, em termos internos, no binômio capital
»; sera abolida várias décadas mercantil-cidade, que pelo feto de intermediar as relações entre os novos agentes extern os e
o latifúndio escravista, será o posto de controle desse novo comando”.

10 1
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO

que precede, portanto, o m oderno processo de urbanização — o qual A partir de


envolve diferenciação social e diversificação produtiva, isto é, complexa e culturais especAiciü.
divisão social do trabalho, quando, só então, a cidade passa a ser a sede regionais, que ■
do aparelho produtivo e do poder político de fato. ia desde p o rçõ es;
consolidavam for
que poderíam s e r .
3.3 A N A T U R E Z A D O S E S P A Ç O S R E G IO N A L IZ A D O S E A A discussão d o s;
D IN Â M IC A D O S D IV E R S O S “ C O M P L E X O S E C O N Ô M IC O S ” : semi-enclave, isto e.<
A D IN Â M IC A U R B A N O -R E G IO N A L A T É A “ C R IS E D E 1929”15 conexões com a <
mente por co n stita õ j
O Estado e o m ercado nacionais se estruturavam, apesar de os nexos vim ento autônomo.!
Ínter-regionais serem ainda bastante esporádicos e fortuitos. O Brasil recipiente” de
era composto de economias auto-referidas, confinadas em seus estreitos “antitipo ideal” de <
horizontes. Existia pouca necessidade concreta de vinculação entre si. Os senvolvimento. 2
meios para essa articulação eram escassos e incertos. O país se constituía cujas vantagens de i
de inúmeras “células exportadoras” espalhadas e dispersas, form ando contrário, acent
um compósito de unidades regionais esparsas: o todo não era maior do “enclave é um corpo*
que a soma das partes, com o o será numa econom ia integrada. Assim, ções que estão i
tivem os a produção açucareira nordestina nos séculos X V I e XVII; a Cardoso e Faletto {1
mineração mineira, goiana e mato-grossense, no século XVIII; a pecuá­ aquelas articuladas <
ria estendendo-se pelo hinterlanã e terras rio-grandenses; a madeira e o forja “independente í
mate em áreas paranaenses e do Centro-Oeste, no século XIX; o algodão, bilidades de or
no Nordeste, e a econom ia do aviamento da borracha na Am azônia do autoridade e de <
último quartel do século, para a virada do século XX, e outros menos subdesenvolvidas, j
importantes e mais localizados. Essas experiências m obilizavam enor­ dos centros”, tot
mes contingentes populacionais que, passado o auge do ciclo, deveríam D o meu ponto *
encontrar novas formas de sobrevivência. Desse processo resultou uma “enclave” (analit
massa humana “dispersa por um amplo território, com boa parte dela ções tipicam ente dr«
achando-se congelada em estruturas produtivas relativamente atrasadas capacidade repr
e de baixa produtividade” (Faria, 1976, p. 98). Uma grande massa de des­ dos constrang
classificados da propriedade e deserdados de qualquer form a de riqueza çar para fo rm a s:
material vai sendo constantemente depositada nas cidades. pacidade de dive
tando recorrente

15 A questão recebeu tratamento definitivo no clássico da historiografia brasileira Raízes da


determ inantes i
concentração industrial em São Paulo (Wilson Cano, 1975). Não caberia aqui resenhar as sos geradores de <
principais questões, que foram minuciosamente trabalhadas naquele livro. O próprio Cano
realizou a síntese do período no capítulo 2, “Linhas gerais da dinâmica regional até a crise
determ inado recoctel
de 1929”’ (Cano, 1981). autodeterminação.

10 2
AS H ETE R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS

;arfaonização — o qual A partir de suas condições históricas concretas e bases materiais


,isto é, complexa e culturais específicas, estruturaram -se diversos subespaços urbano-
rpassa a ser a sede regionais, que coexistiam de form a paralela, em um variado leque que
ia desde porções semi-autárquicas de subsistência a territórios onde se
consolidavam formas mercantis mais avançadas, passando por núcleos
que poderíam ser caracterizados com o situações de semi-enclave.
lE i A discussão dos pontos do território que poderíam ser considerados
semi-enclave, isto é, espaços comandados exogenamente, em que faltam
conexões com a econom ia do mercado interno, é importante analítica­
mente por constituir situação extrema, ou seja, o contrário do desenvol­
, apesar de os nexos vim ento autônomo. Esse conceito remete à idéia de uma “plataform a
. e fortuitos. O Brasil recipiente” de pessoas e atividades. Esteve sempre utilizado com o um
. em seus estreitos “antitipo ideal” de definição do processo de soberania, endogenia e de­
rw aculação entre si. Os senvolvimento. Aníbal Pinto (1976, p. 199) chamava de enclaves “situações
uO país se constituía cujas vantagens de eficiência não atingiam o restante da economia. Pelo
te dispersas, form ando contrário, acentuaram o seu atraso relativo”. Para Lessa (2001, p. 246),
i não era maior do “enclave é um corpo estranho, cuja valorização se move por determ ina­
i integrada. Assim, ções que estão inteiramente fora do corpo que 0 hospeda”. Por sua vez,
>sécalos X V I e XVII; a Cardoso e Faletto (1970, pp. 46-51) chamarão de “economias de enclave”
tícen lo XVIII; a pecuá- aquelas articuladas desde fora, com base em atividade prim ária que se
s; a madeira e o forja “independente da iniciativa dos grupos locais” com parcas possi­
tícen lo XIX; o algodão, bilidades de organizar em suas fronteiras “um sistema autônom o de
i na Am azonia do autoridade e de distribuição de recursos”. Essas malformações estruturais,
>XX, e outros menos subdesenvolvidas, se afirmariam com o uma espécie de “prolongamento
i mobilizavam enor- dos centros”, totalmente à m ercê do controle externo.
; do ciclo, deveriam D o m eu ponto de vista, o contraponto “com plexo regional” versus
t processo resultou uma “enclave” (analíticam ente, pois não se caracterizaram , no Brasil, situa­
. com boa parte dela ções tipicam ente de enclave) é fundam ental por ajudar a desvendar a
isebtrvam ente atrasadas capacidade reprodutiva e as possibilidades de o prim eiro (ao contrário
t grande massa de des- dos constrangim entos estruturais postos à situação de enclave) avan­
■ forma de riqueza çar para form as socioprodutivas de outra natureza, com superior ca ­
t nas cidades. pacidade de diversificação e com plexidade social. O enclave, necessi­
tando recorrentem ente do im pulso externo, tem preponderantem ente

in"MaAju> brasileira Raízes da


determ inantes exógenos, m antendo com o seu pólo oposto os proces­
v ã : zisktzi aqui resenhar as sos geradores de endogenia, de centros de decisão internalizados em
iacLi£L*r .Tro. O próprio Cano
determ inado recorte territorial e de equação político-econôm ica com
n. n r i r t a regional até a ‘crise
autodeterm inação.

103
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO

Esse contraponto é decisivo, também, no sentido de que o Brasil co­ território nacional ¿e ¡
nheceu poucas situações concretas tanto de um quanto de outro. Apenas os impedim ento?:
a situação da econom ia paulista poderia ser considerada rigorosamente potente acumulacãc
de m aturidade de um complexo regional. O u seja, sua única form a aca­ de valorização, j
bada no interior do espaço nacional, que poderia constituir-se na matriz m ateriais a partir ã
das forças produtivas capitalistas mais modernas que se desenvolveram C an o (1981, p. yxz
no Brasil.
antes de 1930, a <
Esse “conjunto económ ico integrado” tem sua estrutura e dinám ica
havia tido uma ]
duplam ente determ inadas pela form a e natureza do engate de cada
xaram uma herança;
complexo com o exterior e pelo m odo singular com o o capital invade,
estrutura da pr
conecta e atravessa as diferentes localidades e atividades produtivas regio­
pobreza absoluta e :
nalizadas. Nesse processo, gera nexos mais duradouros entre seus vários
componentes e agentes, constituindo, portanto, o contraponto justamente
Nesse contexto. 3
dos diversos enclaves, vazios econôm icos e núcleos de subsistência.
ças de natureza 1
O processo histórico de configuração regional e urbana no Brasil se
cumpre ressaltar o ]
deu com uma grande dispersão de população e de atividades econômicas
constituiu o prii
espalhadas pelo vasto território nacional. Não resta dúvida, nesse con­
uma incipiente
texto, de que enormes desigualdades e diversidades regionais e urbanas
contingentes
se plasmaram antes do período de industrialização, tendo determinações
Núcleos
históricas antigas e profundas, e legaram um fardo histórico monumental.
ancorados em uma ¿
O isolamento, a extensividade e a fragmentação regional foram um pe­
espalharam-se pek> t
sado legado histórico que perdurou em um processo secular. Sem maior
tis tiveram vigêi
organicidade, as diversas porções regionais ficaram confinadas territorial­
áe subsistência,
mente, adstritas ao âmbito dos mercados locais restritos. A penetração
econômicos, zonas,}
em todos os rincões possíveis à “absorção do processo de acumulação”,
a conviver histor
com a reiteração e renovação das fronteiras de valorização das diversas
articuladamente 1
frações de capital, sempre foi acrescida em seu processo de eterna “ho-
chamados “cor
rizontalização”. A urbanização brasileira é também fruto desse processo.
Dentre as <
Consolida-se um a rede urbana diversificada e com plexa, constituída
noção, uma irá <
“pela articulação de redes urbanas regionais estruturadas originalm en­
das relações sociais*
te por processos econôm icos particulares, de âmbito regional. [...] Sua
com o a do 1 i 11111 »a»l
articulação em uma rede urbana nacional ocorreu concomitantemente
Nordeste etc.) e 1
à integração do mercado nacional” (Gonçalves, 1998, p. 1).
mando e à sobre
No que se refere à extensão e densidade do mercado, os obstáculos
foram enormes: a referência não pôde ser o m ercado regionalizado,
16 “Desde o coração ide 3
por falta de propriedade, renda e riqueza distribuídas de form a mais interior, com os i
equânime. O processo de hom ogeneização dos mores capitalistas pelo à margem dos nego

104
A S H E T E R O G E N E ID A D E S E ST R U T U R A IS

► de que o Brasil co- territorio nacional se acelerará no último quartel do século XIX, porém
► de outro. Apenas os impedimentos materiais a vencer serão enormes. Urna relativam ente
t rigorosamente potente acum ulação m ercantil interna vai desenhar um espaço nacional
i única form a aca- de valorização, revolucionarizando a reprodução de suas próprias bases
-se na m atriz m ateriais a p artir de seu núcleo m ais dinám ico. C om o dem onstrou
; se desenvolveram C ano (1981, p. 312),

antes de 1930, a economia nacional não era integrada e cada uma de suas regiões
estrutura e dinâmica
havia tido uma história e uma trajetória econômica específicas, que lhe dei­
do engate de cada
xaram uma herança cultural, demográfica e econômica — notadamente a da
■ o o capital invade,
estrutura da propriedade e da renda — demarcadora de diferentes graus de
produtivas regio-
pobreza absoluta e relativa e de diferentes estruturas produtivas.
entre seus vários
mto justamente
Nesse contexto, não se poderia fazer tábula rasa das marcantes diferen­
de subsistência,
ças de natureza entre os “complexos regionais”. Dessa forma, por exemplo,
e urbana no Brasil se
cumpre ressaltar o papel desempenhado pela economia mineratória, que
íes económicas
constituiu o primeiro ensaio de articulação inter-regional,16 estabelecendo
dúvida, nesse con-
uma incipiente divisão territorial do trabalho no Brasil, interiorizando
regionais e urbanas
contingentes populacionais e disseminando inúmeros núcleos urbanos.
tendo determinações
Núcleos insulares e orientados por singulares oligarquias regionais,
irisaórico monumental.
ancorados em uma commodity com certa inserção no mercado mundial,
■ eywnal foram um pe-
espalharam-se pelo extenso território nacional. Rarefeitas relações mercan­
secular. Sem maior
tis tiveram vigência nesses pontos dispersos. Alguns núcleos de economias
confinadas territorial-
de subsistência, semi-enclaves, um vasto hinterland pecuário, “vazios”
■ stritos. A penetração
econômicos, zonas, fronteiras e frentes pioneiras de expansão passaram
de acumulação”,
a conviver historicamente com econom ias regionais que estruturavam
o das diversas
articuladamente seu conjunto de relações e interesses, estabelecendo os
^faocesso de eterna “ho-
chamados “complexos regionais” (Cano, 1975).
firuto desse processo,
Dentre as diversas experiências que poderiam ser enquadradas nessa
com plexa, constituída
noção, uma irá despontar, a de São Paulo, por apresentar mais avança­
originalmen-
das relações sociais de produção (ao contrário de outras experiências,
regional. [...] Sua
com o a do aviamento amazônico, em 1870-1912, a do extremo Sul, a do
oncomitantemente
Nordeste etc.) e uma conjunção virtuosa de fatores que a alçará ao co­
P- l).
mando e à sobredeterminação de sua economia sobre as demais “estruturas
•mercado, os obstáculos
do regionalizado,
16 “Desde o coração de Minas Gerais, já começara a ocupação extensiva do nosso vasto território
c iia s de form a mais interior, com os negócios de gado e muarés, o primeiro movimento de integração nacional,
b» m ires capitalistas pelo à margem dos negócios metropolitanos” (Tavares, 1999, p. 450).

105
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO tS

produtivas regionalizadas”. O complexo cafeeiro capitalista será a matriz Em São Paule- zz


e o núcleo central que erguerá a singular urbanização do estado de São garantiu a repnvhvãr
Paulo, que por sua vez articulará e exercerá a dom inância do processo de trabalho. Essa ecoou
urbanização do país, dando-se crescentes níveis de coerência e unidade, capitalistas e privó
através da geração de um patamar superior de diversificação social do capacidade para:
trabalho e de novas relações cam po-cidade, coetáneas com o novo nível recorrentemente 5
de desenvolvimento das forças produtivas do Brasil. os espaços econc
Torna-se obrigatória a contraposição do com plexo cafeeiro paulis­ navieira e m in erai;
ta — a forma superior e acabada de complexo regional — com as outras tendo como centro i
experiências regionais. internacional à <
N a A m azô n ia, a expansão da extração da borrach a, baseada na O capital me
econom ia do aviamento, gerou ponderável excedente, sobretudo entre ferrovias, bancos. 1
1890 e 1920, mas teve dificuldades de retê-lo e assim diferenciar sua nâm ico da acuma
econom ia, constituindo um com plexo econôm ico sólido. O capital sobredeterminação j
com ercial atravessador dos inúmeros produtores independentes pul- retaguarda de soas 1
verizou-se em aplicações que não se dirigiam para sua m etam orfose para enfrentar <
em capital produtivo. É bom ressaltar 1
O Nordeste também, com sua econom ia fundada em débeis relações distintivos que 1
capitalistas de produção, a concentradíssima estrutura de propriedade e grau de deser
e de renda, a vulnerabilidade de sua inserção internacional através do brepor-se e reiterara
açúcar e do algodão etc., fatores diversos que acarretarão limites estru­ anteriores e distintas.
turais à sua diversificação interna e obstaculizarão suas vinculações com Por outro lado. 4
as economias do Centro-Sul. nham sua base <
O extremo Sul, com sua estrutura fundiária bastante desconcentrada cacau, ouro etc.i, <
e com estabelecimentos manufatureiros pequenos e médios, que pro­ tavam im portante;
duziam principalmente banha, couros, charque e extraíam erva-mate, meio das relações 1
não conseguiu sustentar a contento sua histórica vocação de “celeiro” e Nesse período í
abastecedor nacional, tendo crescentes dificuldades para diversificar sua grande precariedade*
“econom ia pulverizada”. mister alertar para»
Ademais, é importante ressaltar que a Guanabara se encontrava dom i­ gicas oligárquicas!
nada e estrangulada por seu capital comercial e financeiro, que drenava o nacionais e tinh am ,
excedente da cafeicultura fluminense, capixaba e parte da mineira. Além e o isolamento do <
do café, Minas Gerais desenvolveu expressiva pecuária e uma ponderável de sustentação d o .
agricultura de alimentos. constituição e ma
O Centro-Oeste estava pouco ocupado economicamente. Assim, fica benesses no poder j
patente que “os complexos regionais eram pouco integrados, tendo cada circunscrevendo a 1
região su a ‘própria economia” (Cano, 1981, p. 63). atrativos para a va

106
AS H E TE R O G E N E ID A D E S E S T R U T U R A IS

ta será a matriz Em São Paulo, profunda articulação de diversas frações do capital


Cão do estado de São garantiu a reprodução ampliada e o aprofundamento da divisão social do
i do processo de trabalho. Essa economia urbana superior, fundada em avançadas relações
rcoerência e unidade, capitalistas e privilegiada conjugação de fatores dinâmicos, pôde forjar
icação social do capacidade para uma expansão diversificada e concentradora, alargando
; com o novo nivel recorrentemente seus horizontes de acumulação. “Em menos de um século,
os espaços econôm icos decadentes da exploração colonial (extrativa, ca­
eo cafeeiro paulis- navieira e mineral) deram lugar a um espaço dominante de acumulação,
! — com as outras tendo como centro interno o próprio complexo cafeeiro e com o inserção
internacional à econom ia m undial” (Tavares, 1999, p. 451).
t borrach a, baseada na O capital mercantil cafeeiro desdobrou-se em múltiplas faces: café,
, sobretudo entre ferrovias, bancos, comércio, indústria, infra-estrutura etc. O pólo d i­
m diferenciar sua nâm ico da acumulação de capital aí formado irá exercer uma potente
sólido. O capital sobredeterminação sobre as outras economias regionais, assentada na
; independentes pul- retaguarda de suas forças produtivas avançadas, mais bem capacitadas
. sua m etam orfose para enfrentar concorrentes em todo o continental território nacional.
É bom ressaltar que essa experiência paulista, com seus caracteres
tem débeis relações distintivos que contavam com sistema de relações sociais de produção
de propriedade e grau de desenvoltura mercantil capitalista sem par no Brasil, virá so­
ional através do brepor-se e reiterar algumas estruturas herdadas de trajetórias regionais
io limites estru- anteriores e distintas.
¡vinculações com Por outro lado, cabe salientar que as oligarquias regionais/locais ti­
nham sua base econômica centrada em alguns produtos regionais (fumo,
ite desconcentrada cacau, ouro etc.), que, embora não tendo dimensão nacional, represen­
e médios, que pro- tavam importante alicerce para o controle político da localidade, por
í e extraíam erva-mate, meio das relações pessoais e troca de favores.
i vocação de “celeiro” e Nesse período anterior à integração do mercado nacional, havia uma
i para diversificar sua grande precariedade de nexos mais permanentes entre as regiões. Faz-se
mister alertar para os determinantes e condicionantes emanados das “ló ­
se encontrava domi- gicas oligárquicas locais/regionais”, que não possuíam maiores interesses
ceiro, que drenava o nacionais e tinham como um dos alicerces de seu poder o fechamento
t e parte da mineira. Além e 0 isolamento do espaço regional de acumulação. Os segredos — base
e uma ponderável de sustentação do capital mercantil — são preservados e utilizados na
constituição e manutenção de canais especiais para acessar privilégios e
reamente. Assim, fica benesses no poder público e para consolidar o “fechamento” das regiões,
ve-arados, tendo cada circunscrevendo a seu dom ínio aqueles espaços de acum ulação mais
atrativos para a valorização de suas massas de capital, m antendo-os sob

107
TE R R ITO R IO E D ESENVOLVIM EN TO na

o controle da classe dominante local.17 Obstaculizavam-se, dessa forma, a busca da valorizarãr


muitas conexões mercantis e produtivas que a articulação do mercado arrebatando m esm : js ■:
nacional poderia possibilitar. Recriavam-se e “reinventavam-se” formas um mercado de graodr*
pretéritas de relações sociais de produção. Também não se consolidaram inversão serão encce
“órbitas plenamente autônomas de reprodução, uma vez que a dominância pelo capital merca re i 3
do capital mercantil mantinha todas as formas — inclusive a bancária — es­ Não cabería ao s: -
truturalmente nucleadas em torno da produção agroexportadora” (Draibe, um mercado de
1985, p. 30). É fundamental analisar a conduta do capital mercantil nesses priedade privada da i
processos, geralmente contrária ao desenvolvimento das forças produtivas historiografia br
materiais e im pedindo o avanço da socialização do trabalho. das “mercadorias 3
A o se gestarem as bases materiais aptas à decom posição, quando produzidas p a ra 1
lhes conviesse, de form as atrasadas de produção, acelerava-se o proces­ turação de seus
so de uniform ização/hom ogeneização de relações m ercantis, avançan­ m enos simultânea
do a consolidação do m ercado unitário e criando ambiente nacional segunda metade do 1
para a subsunção real das diversas formas de capital à dom inância (à que impede o acesso*
disciplina) das formas superiores. Com a integração desse mercado em deserdadas e a <
estruturação, essas formas m enos desenvolvidas serão submetidas às cráticos”. Vale a cc
decisões das unidades hierarquicamente superiores de capital mercantil. Unidos, que eng
Lógicas antes encerradas em fronteiras restritas são superadas. Limitados com um movimento*
e restritos enquadram entos regionais são invadidos. À m edida que 0 2001, e Silva, 1998).
capital se infiltra nesses espaços mais atrasados e que ocorre sua pro­ A reprodução ¡
gressiva penetração, aprofundam-se ainda mais os desníveis e assimetrias um “novo urbano’
inter-regionais. mento urbano para 1
Conform e vimos, a homogeneização é elemento constitutivo para que des. Novas funções 1
0 m odo de produção ganhe escala nacionalizada, desconstruindo bar­ que possuía m últiplas 1
reiras internas e erigindo fronteiras externas, engendrando intercâmbio bancos, comércio, í
e interdependência sustentados, articulando permanentemente regiões no espaço urbano, 4
em diferentes estágios de desenvolvimento de suas forças produtivas. Os A marcha para o <
“requerimentos lógicos” do capital de criação de relações de produção gendrará diversos 1
mais apropriadas a seu m ovim ento unificado de valorização exigem prirão a função de"

18 "É possível ver nas <


17 “O ‘fechamento’ de uma região pelas suas classes dominantes requer, exige e somente se dá, por­ tura básica de con
tanto, enquanto estas classes dominantes conseguem reproduzir a relação social de dominação, mercadointemoa
ou mais claramente as relações de produção. E nessa reprodução, obstaculizam e bloqueiam e excludente, realidade |
a penetração de formas diferenciadas de geração do valor e de novas relações de produção. A à constituição da 1
‘abertura’ da região e a conseqüente ‘integração’ nacional, no longo caminho até a dissolução direitos sociais b á sc a s-e i
completa das regiões, ocorre quando a relação social não pode mais ser reproduzida, e por essa relação ao tônus dos ¡
impossibilidade, pereda a perda de hegemonia das classes dominantes locais e sua substituição o tamanho e a con
por outras, de caráter nacional e internacional” (Oliveira, 1977b, pp. 31-32). de coesão nacional £;

IO8
A S H E TE R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS

i-se, dessa forma, a busca da valorização unificada e da universalização da mercadoria,


ão do mercado arrebatando mesmo os espaços mais remotos a um único domínio. Em
ram-se” formas um mercado de grande extensão, inúmeras possibilidades rentáveis de
0 se consolidaram inversão serão encontradas e articuladas por um a coerência imposta
1 que a domináncia pelo capital mercantil mais avançado.
: a bancária — es- Não caberia aqui discutir o papel da imigração e a constituição de
ortadora” (Draibe, um mercado de trabalho livre e sua relação com a instituição da pro­
1mercantil nesses priedade privada da terra, questões já abundantemente analisadas pela
»«bs forças produtivas historiografia brasileira. Caberia apontar que, no Brasil, a constituição
(trabalho, das “mercadorias fictícias” — terra, trabalho e dinheiro (que não foram
fcdfecomposição, quando produzidas para venda) — , no sentido de Karl Polanyi (1944), e a estru­
ava-se o proces- turação de seus respectivos “m ercados” ocorrerão de form a mais ou
t mercantis, avançan- menos simultânea (e com natureza travada e construção inconclusa) na
i ambiente nacional segunda metade do século XIX. Lembremos da Lei de Terras brasileira,
à dom inancia (à que impede 0 acesso e a sedimentação no território das massas humanas
»desse mercado em deserdadas e a constituição de mercados mais regionalizados e “dem o­
; serão submetidas às cráticos”. Vale a comparação com o Homestead Act, de 1862, nos Estados
i de capital mercantil, Unidos, que engendra um processo de ocupação territorial efetiva,18
► «aperadas. Limitados com um m ovimento expansivo de mercados internos regionais. (Paula,
. À m edida que o 2001, e Silva, 1998).
>e que ocorre sua pro- A reprodução ampliada do complexo cafeeiro paulista estruturará
i desníveis e assimetrias um “novo urbano” no estado e no país. Essa reprodução exigirá um seg­
mento urbano para sua ampliação e diversificação. O café plantará cida­
► constitutivo para que des. Novas funções urbanas serão impostas pela acum ulação cafeeira,
. desconstruindo bar- que possuía m últiplas faces (Mello, 1975; Cano, 1975): café, ferrovias,
ído intercâmbio bancos, comércio, infra-estrutura etc. Todas essas faces serão sintetizadas
ateniente regiões no espaço urbano, cada vez mais diferenciado e dinâmico.
(B reas produtivas. Os A marcha para o Oeste das plantações e das linhas ferroviárias en­
»de relações de produção gendrará diversos núcleos urbanos, com destaque para aqueles que cum ­
► d e valorização exigem prirão a função de “bocas do sertão” e de “pontas de linha”. Tal processo

18 “É possível ver nas diferenças entre as leis de terras do Brasil e as dos Estados Unidos a ossa-
cae e somente se dá, por- tura básica de constituição dos mercados internos destes países, isto é, a diferença entre um
—~arâ-, social de dominação, mercado interno amplo e consistente, como o caso americano, e um mercado interno restrito
:òaaculizam e bloqueiam e excludente, realidade permanente no Brasil, resultando daí diferenças tanto no referente
m iirsrii relações de produção. A à constituição da nação, isto é, grau de integração social e capacidade do Estado de garantir
r a ç caminho até a dissolução direitos sociais básicos, e deste modo algum grau de coesão nacional, quanto diferenças em
• ser reproduzida, e por essa relação ao tônus dos capitalismos que vão se implantar nos dois países. Dito de outro modo,
íes locais e sua substituição o tamanho e a consistência do mercado interno estão diretamente relacionados à capacidade
de coesão nacional e desenvolvimento da vida econômica” (Paula, 2001, p. 5).

109
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO i-a

acabará por consolidar não apenas urna potente divisão intra-regional a extensão ca reces
do trabalho no âmbito da econom ia paulista, com o tam bém im porá prim eira década .se
uma incipiente, porém crescente, divisão inter-regional do trabalho na mil na terceira, chi
econom ia brasileira. alcançaria 32.478 t x t
Tal processo de extroversão se ampliará definitivamente à medida Também o avaraa»!
que a resolução da contradição café-indústria é superada pelo processo rado no período. A s ¡
de industrialização. utilidade pública
À m edida que eclodia e se generalizava a m ercantilização interna Outras fontes ene
do país, tornava-se cada vez mais patente a inadequação do sistema espaço, dado o uso 1
de transportes. Era necessário que as m ercadorias circulassem com pública surgem 1
m aior desenvoltura, mas a intensificação dessa m obilidade exigia que Entretanto, a <
se procedesse a um esforço de redução dos custos de transporte, que se telefone), estradas <iei
aumentasse a rapidez e a regularidade das entregas e que a capacidade “ilhas de infra-e
de transporte se avolumasse. C o m o advento das estradas de ferro, o exemplos, m esm o ;
crescim ento econôm ico poderia “interiorizar-se”, afastando-se mais e avançava celerei
mais do litoral e dos portos do Rio e de Santos. Dessa maneira, a ferrovia era uma clara 1
contribuiu para estender a fronteira agrícola, criando e ligando, com seu 28.613 km de <
traçado, pontos de produção agropecuária. A ferrovia concorria, também, detinha 7.522 km , Sã»l
para a centralização mercantil em pontos discretos do espaço. A o passar de Janeiro, 2.553 km .4
“preferencialmente” pelas grandes propriedades e pelas localidades onde de 70% da m alh a.'
estavam instalados os maiores comerciantes, exercia sobre estes pressão em todas as unic
para que se tornassem pólos mercantis. O m ovim ento de propagação a Em 1930, das 1.211 ¡
partir desses focos e a concomitante repercussão sobre as outras órbitas térmicas e 11 mistas
(não-mercantis) foram bastante lentos, embora significativos e contínuos. (319); SP (166); RS (ti
A construção de ferrovias faz parte da própria gênese do processo de
constituição do mercado nacional, perm itindo a absorção das m ercado­
rias mais elaboradas que vinham dos núcleos urbanos mais avançados
e viabilizando o escoamento dos bens agropecuários das outras regiões. 18*
A melhoria das condições do traslado das mercadorias induz à maior
especialização produtiva de diversas áreas geográficas, possibilitando uma
1905
crescente complementaridade entre suas estruturas produtivas. Assim,
o papel do aperfeiçoam ento das com unicações entre diferentes áreas 19W

vai desenhando um a divisão inter-regional do trabalho. Estrutura-se 192C


um m ercado fundiário. A valorização das terras onde se assentavam os 1936
trilhos e a possibilidade de romper a rotina autárquica, predominante
Fonte: Ferraz Fc (1981 >
na m aioria das fazendas, são apenas dois aspectos das múltiplas trans­
form ações operadas pelas vias férreas.

110
A S H E TE R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS

ídhãsão intra-regional A extensão da rede ferroviária no período 1880-1930 foi notável. Na


tam bém imporá prim eira década se acrescentaram 2,6 m il km; 6,6 m il na segunda; 8,7
i do trabalho na m il na terceira, chegando-se em 1910 a contar com 21,3 m il km. Em 1930
alcançaria 32.478 km a malha de ferrovias no Brasil.
lente à medida Também o avanço do suporte infra-estrutural de energia foi acele­
i pelo processo rado no período. A s demandas dos setores produtivos e por serviços de
utilidade pública crescem de form a sustentada, a partir do século XX.
itilização interna Outras fontes energéticas, com o o carvão, paulatinamente vão perdendo
ição do sistema espaço, dado o uso de geradores hidráulicos. Serviços de ilum inação
circulassem com pública surgem nas principais cidades.
a o b ilid a d e exigia que Entretanto, a expansão das redes de com unicação (telégrafo e depois
d e transporte, que se telefone), estradas de ferro e energia elétrica conform avam verdadeiras
e que a capacidade “ilhas de infra-estrutura” dentro do continental território brasileiro. Com o
estradas de ferro, o exemplos, mesm o para um período bem posterior — 1935 — , em que
a&stando-se mais e avançava celeremente a integração do mercado nacional, a rede ferroviária
maneira, a ferrovia era uma clara expressão dos profundos desníveis regionais do Brasil. Dos
e ligando, com seu 28.613 km de estradas de ferro existentes no Brasil em 1935, Minas Gerais
concorria, também, detinha 7.522 km, São Paulo, 6.294 km, Rio Grande do Sul, 3.024 km e Rio
do espaço. A o passar de Janeiro, 2.553 km. O u seja, apenas quatro estados concentravam perto
p d as localidades onde de 70% da malha. Também a construção de usinas elétricas avançava
sobre estes pressão em todas as unidades da federação, em bora de form a bastante desigual.
de propagação a Em 1930, das 1.211 usinas já implantadas — 708 eram hidrelétricas, 492
sobre as outras órbitas térmicas e 11 mistas — , 68% estavam localizadas em cinco estados: M G
tivos e contínuos, (319); SP (166); RS (159); PE (99) e RJ (86) (Motoyama, 1994)-
jm e s e do processo de
Potência elétrica instalada no Brasil
absorção das mercado-
>s mais avançados ANO POTÊNCIA (C.V.)

das outras regiões, 1890 10.350


iorias induz à maior
1900 17.441
possibilitando uma
1905 60.778
produtivas. Assim,
203.901
intre diferentes áreas 1910

| ¿ rribalho. Estrutura-se 1920 475.652

:c á e se assentavam os 778.802
1930
m rç u ic a , predominante
Fonte: Ferraz F2 (1981)
r":s das múltiplas trans-

111
TERRITÓ R IO E D ESEN VO LVIM EN TO n

Da mesma forma, malgrado o marcante avanço geográfico dessas redes As densidades ec :tna^
de comunicações, transporte e energia, sua extensão não seguia qualquer e marcantes assim --------
“racionalidade estratégica”, direcionando-se ao sabor da rentabilidade 1920 uma situação
privada, de disputas políticas e do poder local. A pulverização de esforços nas regiões que tinham
e inversões gerou diversas sub-redes regionais de infra-estrutura, sem coe­ m ica até m eados ¿k? m
rência e coordenação nacionais. Era preciso romper a carência de capital constituíram verõaãeí
social básico para que se possibilitasse à periferia absorver padrões mais m om ento em que
avançados de produção e de circulação de mercadorias por meio de mer­ Em termos de pi
cadorias. Entretanto, a passagem dos fluxos uniformizados/exogeneizados São Paulo detinha
para os fluxos diversificados/endogeneizados, que conformam um mercado 22%. O núcleo
nacional, ainda teria que enfrentar inúmeros obstáculos. A direção geo­ altíssimas de cr<
gráfica do capital social articula-se com a densidade econômica e com o Em 1900, enquanto
potencial produtivo de cada ponto no espaço e deve ser congruente com possuía 240 mil.
as hierarquias de centros urbanos e das sub-redes regionais de cidades. concentrava um
Cano (1981) nos dá o sentido19 m aior da form ação e integração do tinha 74 cidades,
m ercado nacional desde a consolidação da econom ia cafeeira (1850) até mais de 30 milhões ^
a “crise de 1929”. Será durante a década de 1920 que a periferia nacional, e boa parte ad
além da vinculação específica com o mercado externo de sua respectiva de baixa produi
pauta produtiva, necessitará “funcionar com o uma econom ia com ple­
mentar ao ‘pólo’ ”. Brasil -1 9 2 0 -
N a década de 1920, estão am adurecendo as pré-condições para a
classe (em t
ruptura do padrão de acum ulação do capital: circulação mais ampliada
20-50
de mercadorias, diversificação produtiva, complexidade social, com 0 sur­
gimento de novas frações de classe, de um “novo urbano” etc. Conjunção 50-100
de fatores que irão balançar e solapar os fundamentos da vida material 100-500
das diversas regiões, m udando suas fisionomias internas. Am pliam -se e
500-2.00C
diversificam-se as funções urbanas, com a aceleração da divisão do tra­
Fonte: Faria (1976)
balho. Transformações de uma “década de transição” que foram m agis­
tralmente examinadas por Sérgio Buarque de Holanda (1936, p. 105), que
enfatiza o papel da urbanização m inando as tradições: “No Brasil, onde No período ¡
imperou, desde tempos remotos, o tipo prim itivo da família patriarcal, da “crise de 1929*
o desenvolvimento da urbanização ia acarretar um desequilíbrio social, tato as estruturas 1
cujos efeitos permanecem vivos ainda hoje”.19 estava posta a *
propriedade de
continental espaço 1
19 Tomado aqui conforme Caio Prado Jr., para expressar a forma de se apreender “na sua evolu­
ção, no conjunto dos fatos e acontecimentos essenciais”, como o processo “se forma de uma
linha mestra e ininterrupta de acontecimentos que se sucedem em ordem rigorosa, e dirigi­ 20 Quando o mercado j
da sempre numa determinada orientação” (1942, p. 19). indústria nacional

112
AS H E T E R O G E N E ID A D E S E S T R U T U R A IS

ico dessas redes As densidades económica e demográfica apresentavam especificidades


0 seguia qualquer e marcantes assimetrias regionais. Espacialmente, tinha-se na década de
■ da rentabilidade 1920 uma situação bastante peculiar de preservação de 56% da população
ação de esforços nas regiões que tinham convivido com os processos de expansão econô­
itura, sem coe- m ica até m eados do século anterior. Assim , Nordeste e M inas Gerais
i carencia de capital constituíram verdadeiras reservas de massas populacionais, em um
u fa o r v e r padrões mais m omento em que São Paulo detinha apenas 15% da população nacional.
1 por meio de mer- Em termos de produção industrial, assistia-se a um processo inverso:
as/exogeneizados São Paulo detinha 32%, enquanto M inas e o Nordeste detinham apenas
t um mercado 22%. O núcleo dinâm ico da cidade de São Paulo experim entou taxas
. A direção geo- altíssimas de crescimento. Detinha, em 1890, apenas 60 m il habitantes.
: económica e com o Em 1900, enquanto o Rio de Janeiro possuía 800 mil, a capital paulista
rser congruente com possuía 240 mil. Chegou a 1920 já com 580 m il habitantes e, em 1934,
twtponais de cidades. concentrava um contingente de 1 m ilhão de habitantes. Em 1920 o Brasil
e integração do tinha 74 cidades, onde moravam mais de 4 milhões de pessoas, enquanto
tcafeeira (1850) até mais de 30 milhões “encontravam-se dispersos por um amplo território
ía periferia nacional, e boa parte achava-se congelada em estruturas relativamente atrasadas e
1de sua respectiva de baixa produtividade” (Faria, 1976, p. 98).2
0
■ i econom ia comple-
Brasil - 1920 - Cidades de 20 mil habitantes ou mais, por classe de tamanho
¡ jw é-condições para a
classe (em mil habitantes) número de cidades
ão mais ampliada
20-50 60
1social, com o sur-
iar&ano” etc. Conjunção 50-100 08
tos da vida material 100-500 04
[ irtem as. Am pliam -se e
500-2.000 02
1da divisão do tra-
Fonte: Faria (1976)
rque foram magis-
l(1936, p. 105), que
s: “No Brasil, onde No período anterior à integração — que se consolidará apenas a partir
da familia patriarcal, da “crise de 1929”20 — só muito precariamente eram colocadas em con­

• a s desequilibrio social, tato as estruturas produtivas e mercantis de cada espaço regional. Não
estava posta a questão do enfrentamento entre as diversas “unidades de
propriedade de riqueza” (capitais) localizadas nos diversos pontos do
continental espaço regionalizado brasileiro. Diversos e potentes obstáculos
■ ztt se apreender “na sua evolu-
: rrocesso “se forma de urna
e n i— ordem rigorosa, e dirigi- 20 Quando o mercado nacional se torna “cativo”, podendo ser capturado pela produção da
indústria nacional (Cano, 1981).

113
TERRITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO

se antepunham ao avanço da concorrência intercapitais locais/regionais. e regionais. É 0 que ve


Era preciso romper o arquipélago nacional. internos se tornan: r_e
A s transformações de qualidade diversa operadas na dinâm ica do culação comerciai enrri a
capitalismo no Brasil, a partir do complexo cafeeiro, colocavam nova paulista.
dinâm ica na form a que tom a a divisão social do trabalho.
Apesar de as inúmeras regiões guardarem suas especificidades e suas
diversidades econôm icas e sociais (que encontram grau “quase espon­ 3.4 A COERENCIA ]
tâneo” de reprodução simples, muitas vezes “vegetativa”, restrita, mas (1930-1955): o :
constante), nenhum a região periférica gozaria mais das possibilidades “ r e str in g id a ’ E j
da plena autonomia para autodeterminar o conjunto de suas relações de
produção e o desenvolvimento de suas forças produtivas. Procuro a seguir t
A econom ia nuclear da acum ulação de capital no país expande os ocorridas no processai
circuitos de sua reprodução ampliada, partindo para a conquista de mer­ comandado p e lo .
cados consumidores e de produção e colocando à disposição do mercado Conform e aponladai
nacional novos e variados valores de uso. C onquista a m ultiplicação do processo de
de mercados para colocação de suas mercadorias, ganhando escala de complementaridade 1
produção e reduzindo custos. Em suma, logra dar coerência mercantil ao posto que é um 1
conjunto de atividades produtivas no espaço nacional, criando potência e contraditórios sobre *
para, a partir da integração do mercado, acionar e modelar as economias “fagocitose”, exercida j
periféricas, permitindo redefinir, sob seu domínio, posições hierárquicas envolve os mercados]
no contexto geral da economia brasileira. e quando for de seu i
Estabelece-se a norm alidade das trocas e sua universalização no
território nacional, por sobre as antigas “econom ias regionais”. Segundo as próprias forças de <
Emilio Sereni (1966, p. 33), um alargamento do i
para os mercados das a
plantas de compler
o Mercado Nacional Capitalista se nos apresenta como a madura individua­
mas sim com dimensôou
lidade econômica de uma Nação capitalista, que pode realizar-se plenamente
apenas quando o momento da universalidade do mercado não é já momento
de uma casual multiplicidade, ou talvez freqüência, de intercâmbios não equi­ Vim os na se ç ã o .
valentes em mercados locais ou em tráfegos longínquos, senão de uma efetiva econom ia de São ]
universalidade, que comporta, não só uma causalidade, ou talvez uma relativa de produção, em \
freqüência, senão uma normalidade de intercâmbios, e portanto a passagem ao diversificando-a e 1
intercâmbio equivalente como forma decisiva dos intercâmbios mercantis m ercado interno e ,
(grifo nosso). então mercados ‘

Segundo ele, seria necessário pesquisar o grau de desenvolvimento


21 Chega um momeuto t
mercantil e o grau de conexão orgânica entre os diversos mercados locais alargamento do me
de ‘mercados exterr-cces. '

114
AS H E TE R O G E N E ID A D E S E ST R U T U R A IS

■ islocais/regionais. e regionais. É o que veremos a seguir, quando no Brasil os intercâmbios


internos se tornam hegem ônicos e ganham organicidade através da arti­
i na dinâm ica do culação comercial entre as diversas regiões, sob o comando da economia
, colocavam nova paulista.
10.
icidades e suas
! grau “quase espon- 3.4 A C O E R Ê N C IA IM P O S T A P E L A L Ó G I C A D O C A P I T A L M E R C A N T IL

ra” restrita, mas (193O-I955): O M O V IM E N T O D U R A N T E A IN D U S T R IA L IZ A Ç Ã O

idas possibilidades “ R E S T R IN G ID A ” E A I N T E G R A Ç Ã O V I A C O M E R C IO D E M E R C A D O R IA S

ide suas relações de


Procuro a seguir examinar as principais transformações urbano-regionais
i país expande os ocorridas no processo de integração do mercado nacional no momento
i a conquista de m er­ comandado pelo com ércio inter-regional de mercadorias.
lo do mercado I Conform e apontado no capítulo anterior, a natureza da integração,
a m ultiplicação do processo de construção e soldagem de m ercados e de geração de
, ganhando escala de complementaridades mercantis inter-regionais não tem caráter natural,
rmeréncia mercantil ao posto que é um exercício de imposição de influência e comando complexos
criando potência 1 e contraditórios sobre as regiões aderentes. É com o se fosse uma espécie de
remodelar as economias “fagocitose”, exercida pelo capital mercantil com potência superior, que
.posições hierárquicas envolve os mercados localizados, englobando-os antes de os “engolir” (se
e quando for de seu interesse). Conform e analisa Cano (1975, p. 218),
. universalização no
í regionais”. Segundo as próprias forças de acumulação exercerão pressões intensas no sentido de
um alargamento do mercado, exportando parte apreciável de sua produção
para os mercados das demais regiões e, o que dá no mesmo, instalando novas
plantas de complementação “planejada” não para o mercado regional ou local
i a madura individua-
mas sim com dimensões multirregionais ou nacionais.
i realizar se plenamente
i não é já momento
e moercâmbios não equi- Vim os na seção anterior que, na experiência específica do Brasil, a
, senão de uma efetiva ! econom ia de São Paulo, alicerçada em privilegiadas relações capitalistas
■ 3z talvez uma relativa de produção, em relação ao resto do país, pode alavancar sua economia,
í jxrranto a passagem ao diversificando-a e dinam izando-a à frente das demais, ampliando seu
í ansercámbios mercantis m ercado interno e arvorando-se à conquista e ao dom ínio dos até
então mercados “regionalizados”.21 Há uma clara sobredeterminação da

' frac, ¿e desenvolvimento 21 Chega um momento em que a capacidade de acumulação da economia paulista "reclama” o
- í-s.-í mercados locais alargamento do mercado; essa “contradição só pode ser resolvida por um processo de conquista
de ‘mercados exteriores’. Tais mercados, obviamente, estariam representados pelas demais

115
T E R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO

econom ia de São Paulo sobre as outras regiões, “im prim indo-lhes, em mutuam ente suas =c:c
grande medida, uma relação comercial de centro-periferia” ’ (Cano, 1975, seu perspicaz a r t e ; ;
p. 15). Assim, a capacidade de expansão e extroversão da econom ia pau­ regionais [processa-»;
lista, buscando espaços de valorização renovados para seu imenso p o ­ a um esquema únicc aei
tencial de acumulação de capital, unificou o m ercado nacional. re-as num processo de 1
Consolidado o processo de formação e integração do mercado nacio­ e à reacom odação d s s c
nal, as economias regionais periféricas foram impedidas de levar à frente Após 1930, o avaDO»|
qualquer projeto de replicar a trajetória da econom ia paulista. Restava donada. Deveria 1
integrar-se complementarmente à econom ia do pólo dinâm ico da acu­ duplo condiciona
mulação, subm etendo-se e enquadrando-se à hierarquia com andada do um processo m añ i
p or aquele centro do processo de decisões atinentes ao processo de p. 256), a “periferia*
acumulação de capital que ditaria o ritmo e a natureza da incorporação ou seja, “aquelas i
de cada região no ranking nacional, vetando o que não fosse aquela “ar­ com esse quadro* A ]
ticulação possível” em cada momento, e, eventualmente, gerando efeitos de São Paulo pa
de destruição naquelas regiões que ousassem enfrentar os requerimentos seja, as economias ]
fixados pelo núcleo da acumulação de capital do país. subordinação, em i
Esse processo de entrelaçamento de mercados dispersos e sua con­ nia e sendo imp
sistência e direcionamento teve sua natureza desvendada por Braudel, industrialização.
quando ele discute a coerência imposta a partir do “espaço hegemônico” e Até a recupera
dinam izador do processo de integração dos mercados internos. Quando bloqueios ao 1
se acelera o processo integrativo, acirra-se a concorrência inter-regio- economias región
nal, e os mercados, dom inados em sua m aioria por capitais mercantis
locais, passam a se expor à pluralidade das formas superiores de capitais No plano político,]
foráneos. Na esteira da incorporação, promovida pelo “desenvolvimento representassem os j
para dentro” do país, multiplicam-se as interdependências e as comple- e, não raro, repre
mentaridades regionais. No plano económico,]
integração pree
Cabe destacar que as unidades produtivas paulistas foram consolidan­
“soma” de regiões <
do porte adequado para operar em escala nacional, enquanto os capitais
periféricos possuíam escala proporcional a seus restritos mercados loca­
Se, por um lado, <
lizados. Em tal contexto, a acumulação capitalista ampliada se processou
em preender um
com grande concentração espacial. M axim ova (1974, p. 395) nos diz que a
avançar na órbita ]
integração capitalista se assenta em bases objetivas, isto é, nas exigências
nal, as “oligarquias 3
das forças produtivas, e “alarga as capacidades dos mercados, m odifica
m ica cíclica’ com
a estrutura econôm ica geral e setorial e tende a aproximar e adaptar
central” (Tavares, 1
regiões e sua conquista seria acelerada à medida que o processo de formação do mercado periferia não se i
nacional pudesse ser implementado por melhores meios de comunicação e de transporte”
(Cano, 1975, p. 218).

116
A S H E TE R O G E N E ID A D E S E ST R U T U R A IS

l"S«prnnindo-lhes, em m utuam ente suas econom ias”. O u, com o afirm ou Ignácio Rangel em
'(C ano, 1975, seu perspicaz artigo de 1968, “o problema da integração das economias
id a econom ia pau- regionais [processa-se...] no sentido de incorporá-las mais estreitamente
seu imenso po- a um esquema único de divisão nacional do trabalho”. Dessa forma, inse-
1nacional. re-as num processo de recondicionamento, forçando-as à convergência
»cio mercado nació- e à reacom odação das estruturas produtivas regionais.
i de levar à frente Após 1930, o avanço produtivo periférico passaria a ter natureza condi­
i paulista. Restava cionada. Deveria buscar complementação, “passando a se submeter a um
1dinâm ico da acu­ duplo condicionamento, do exterior e da economia paulista [...] impedin­
ña com andada do um processo mais aberto de desenvolvimento”. Segundo Cano (1975,
ao processo de p. 256), a “periferia” não lograria mais ativar sua potências autônomas,
t da incorporação ou seja, “aquelas inerentes à sua própria força endógena — para romper
1fosse aquela “ar- com esse quadro”. A partir daí as estruturas produtivas localizadas fora
, gerando efeitos de São Paulo passariam a ser acionadas pelas decisões desse centro. Ou
ros requerimentos seja, as economias periféricas eram reflexas, com crescentes vínculos de
subordinação, em relação ao núcleo da acumulação, perdendo endoge-
sdispersos e sua con- nia e sendo impossibilitadas de engendrar um processo autônomo de
ada por Braudel, industrialização.
■“fespaço hegemônico” e Até a recuperação da “crise de 1929”, persistiam inúmeros e potentes
¡internos. Quando bloqueios ao estabelecimento de laços de complementaridade entre as
ência inter-regio- econom ias regionais:
■ capitais mercantis
Esrçjeriores de capitais No plano político, inexistiam frações nacionais da classe dominante, que
ip eio “desenvolvimento representassem os principais setores da economia; tais frações eram regionais
acias e as comple- e, não raro, representavam múltiplos interesses, às vezes conflitantes entre si.
No plano econômico, o quadro não era distinto. Salvo as pequenas “linhas”de
integração preexistentes entre algumas regiões do país, este era mais uma
í foram consolidan -
“soma” de regiões econômicas distintas (Cano, 1981, p. 176).
. enquanto os capitais
Restritos mercados loca-
Se, por um lado, os capitais mercantis regionais não tinham força para
taczpliada se processou
em preender um processo vigoroso de diversificação de atividades e
-?- 395)nos diz que a
avançar na órbita produtiva, por outro, com o sempre, na história nacio­
isto é, nas exigências
nal, as “oligarquias regionais contrabalançaram a sua decadência econô­
(á cs cerca d o s, m odifica
m ica cíclica’ com um m aior peso político relativo junto ao governo
rroximar e adaptar
central” (Tavares, 1999, p. 456). Os capitais mercantis hegem ônicos na
às formação do mercado
periferia não se dispuseram a empreender sua m etam orfose em capital
nirricação e de transporte”

117
TE R R ITÓ R IO E D ESEN VOLVIM EN TO

industrial.22A o contrário, criaram garantias e salvaguardas de alta lucra­ A busca e o abizc


tividade em órbitas não industriais.23 Essa equação econômica será sus­ processo de apror:
tentada politicamente por poderosas forças de controle, cristalizando uma cíficas em diferertss
potente inércia política ultraconservadora e de mandonismo local que irá caráter predatorio
lotear seus espaços de valorização nos diversos recortes territoriais; de dução, sem m aiores.
controle de parcelas importantes do aparelho de Estado e de representação e do conservador
política nos três níveis de poder. A apropriação
A articulação comercial prom ovida nesse período de integração do nas áreas das frentes •
mercado nacional via com ércio de mercadorias (1930-1955) engendra dos baixos rene
e requer a com plexificação das relações cam po-cidade. Entretanto, o fronteira.24
capitalismo brasileiro não logrou a necessária exacerbação das contra­ D o m omento d e ’
dições entre o campo e a cidade. Desde cedo, o urbano constituiu espaço da complement
privilegiado para as forças patrimonialistas e mercantis e o rural se con­ mulação, haveríam 4
solidou como espaço da itinerância dos capitais fundiários e agrários. e de enfrentar <
Havia pouco lugar para conflitos entre esses espaços, posto que ambos m ovim entação
conheceram amplas possibilidades de fuga para frente e de apropriação necessário avançarei
de ganhos fáceis e rentáveis. lização, suspender i
Essa natureza extensiva e lasciva da valorização dos diversos capitais por ampla e siste
foi captada por Furtado e Caio Prado Jr. Este último afirma: É preciso rele
trutura concentrada 4
Não havia motivos comercialmente ponderáveis para aumentar as despe­
listas de produção *
sas de inversão e custeio, mesmo quando isso era realizável, o que nem sempre
periféricas, imp
e mesmo em geral não foi o caso, quando os processos utilizados ofereciam
m anufatureira”
margem de lucro comercialmente compensadora, e 0 prejuízo com o desgaste
alguns eixos, “ilhas’'
dos recursos naturais era facilmente amortizado. Enquanto sobravam terras
virgens disponíveis, era preferível, do ponto de vista do "negócio” [...] ir suces­ ralização dos int
sivamente esgotando novas e sempre mais terras com um tipo extensivo de ampliada de mere
cultura, a explorar intensivamente a mesma terra com vista à perpetuação ciai, isto é, sem
de sua utilização” (Prado Jr., 1960, p. 28). processos de pr
estruturais.

22 Conforme Tavares (1999, p. 453), esses capitais preservam seu “caráter rentista e patrimonialista 24 “A dilatação da 1
que a expansão mercantil agrária e mais tarde urbano-industrial mantém como característica renda e do poder, 1 t
fundamental da nossa burguesia nacional” mas também de p o»
23 Cano (1997, p. 248) assevera que “o empresariado industrial da época tinha muito mais um nialismo, submissão:
caráter econômico mercantil do que industrial propriamente dito. Com o passar dos anos, 25 Segundo Ignacio I
a indústria leve amadureceu e a introdução de ramos mais complexos implicava aumento e instituições que t
diversificação de interesses especificamente industriais que, cada vez mais, colidiam com o teria que importare
caráter liberal do comércio em geral”. com medidas (

118
A S H E TE R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS

de alta lucra- A busca e o abandono de terras virgens foi uma constante em nosso
>econômica será sus- processo de apropriação territorial, tendo algumas determinações espe­
. cristalizando urna cíficas em diferentes momentos de nossa história. Furtado destacou o
smo local que irá caráter predatório desse m ovimento e sua funcionalidade para a repro­
territoriais; de dução, sem maiores conflitos, das estruturas sociais do atraso econôm ico
>e de representação e do conservadorism o político.
A apropriação contínua de porções territoriais em (re)estruturação
>de integração do nas áreas das frentes de expansão permitia ganhos extraordinários, apesar
¡*1930-1955) engendra dos baixos rendimentos físicos da terra em seu eterno deslocamento de
e. Entretanto, o fronteira.24
ação das contra- D o m omento de “desenvolvimento para fora” para o de consolidação
>constituiu espaço da complementaridade inter-regional interna ao espaço nacional de acu­
; e o rural se con- mulação, haveriam de transcorrer processos conflitivos de longa duração
¡ãm diários e agrários. e de enfrentar diversos obstáculos, a fim de romper as “barreiras à livre
. posto que ambos m ovim entação econôm ica entre as regiões” (Cano, 1981, p. 177). Seria
re de apropriação necessário avançar e modernizar estruturas viárias, sistemas de comercia­
lização, suspender impostos interestaduais etc. Tudo isso foi possibilitado
► dos diversos capitais por ampla e sistemática ação estatal de alcance nacional.25
1afirma: É preciso relembrar os entraves que o legado histórico perverso (es­
trutura concentrada de propriedade e de renda, débeis relações capita­
ipacs. aumentar as despe-
listas de produção etc.) colocava às suas diversas regiões, sobretudo às
i, o que nem sempre
periféricas, impedindo a formação “mais natural” de espaços de produção
utilizados ofereciam
manufatureira “regionalizados”. Por isso, o país tinha pouco mais do que
► jvetuzo com o desgaste
alguns eixos, “ilhas” ou “linhas” de integração. Mesmo a necessária gene­
auto sobravam terras
ralização dos intercâmbios entre espaços regionais, com circulação mais
tdb ’ regócio” [...] ir suces-
. u e tipo extensivo de ampliada de mercadorias, próprias desse momento de articulação comer­
t¿ser vista à perpetuação cial, isto é, sem mudanças mais profundas nas bases produtivas e nos
processos de produção desses espaços, encontrou inúmeros empecilhos
estruturais.

r rcntíita e patrimonialista 24 “A dilatação da fronteira agrícola reproduzia o padrão de concentração da propriedade, da


i T7¿rz¿m como característica renda e do poder, a ‘oferta elástica’ de mão-de-obra, nesse caso excluída não só de propriedade,
mas também de posse, mantendo a estrutura das relações sociais predominantes: patrimo-
fro jí. ¿nha muito mais um nialismo, submissão e marginalidade social” (Cano, 2002, p. 119).
ur: C :m o passar dos anos, 25 Segundo Ignácio Rangel (2000, p. 184),“a compartimentação do mercado nacional resultava de
n m r - r iií implicava aumento e instituições que tentavam cristalizá-la e, conseqüentemente, a unificação do mesmo mercado
m -±z mais, colidiam com o teria que importar em mudanças institucionais que impedissem essa cristalização, pari passu
com medidas econômicas com o mesmo endereço”.

119
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO

Na etapa inicial da industrialização, só se poderia imaginar desconcen- como as margens ce


tração com uma efetiva distribuição de renda e de terra, de tal forma a am­ renovam equipairer
pliar novos mercados consumidores, como em parte ocorreu na economia baixam ainda mais
norte-americana, que incorporou significativas quantidades de imigrantes em podem mudar para
quase todo o territorio. No Brasil ocorreu exatamente o contrário: não se fez suficiente, dentro
nenhuma reforma agrária e o acesso à terra encontrava-se bloqueado, mesmo peculação ou de apr
com a fronteira agrícola absorvendo contingentes expressivos de mão-de-
obra. A escravidão tardia e, mais tarde, o perfil extremamente concentrado da A análise da <
distribuição de rendas e salários, com enorme quantidade de população em
no estudo das <
miseráveis condições de vida, cerceavam a expansão industrial. Em função
com distintas i
disso, o desenvolvimento destes mercadosficava restringido a algumas áreas e o
ditames das formas de
restante do território nacional integrava-se, apenas parcialmente, aos circuitos
regional, a partir da
mercantis que se formavam nas regiões mais atrasadas e mais pobres do país;
para se realizar u m 1
praticamente obstaculizava-se a expansão industrial regionalizada (Negri, 1994,
p. 135, grifo nosso). efeitos de estímulo.'
estruturas prodii
A constituição de um espaço nacional estruturado envolvia acirrar a A pesar do p a p d
concorrência inter-regiões. Alguns segmentos produtivos só podiam insta- voltado para dentro*
lar-se em espaços que detivessem certo porte e bases materiais não muito econôm ico no espaça
estreitas. Os enfrentamentos se davam preferencialmente não na esfera interno n a c io n a l:
produtiva propriamente dita, mas estavam circunscritos mais ao âmbito alianças, as novas
do processo de circulação do capital do que ao do processo de produção. sociais articulados,:
Esse processo soldava mercados regionais, alimentando a acumulação extremamente
mercantil dos espaços em que vigorassem relações sociais de produção extremamente c
superiores, porém realizando uma integração que não representava um do território e da ja
processo de criação de riqueza nova e de capacidade produtiva adicional, frente”, inclusive em
como o será na integração do período pós-1955. O reiterado
Inserir-se nesse jogo de complementaridades mercantis inter-regionais, que era “fácil” (fr
ingressando na com petição intercapitalista nacionalizada, representava e bloqueado, co
oportunidades, mas também fortes ameaças. O processo integrativo gera
impulsos de natureza contraditória, podendo gerar efeitos de estímulo, a expansão das ¡
pelos negócios da j
de inibição ou bloqueio, e mesm o de destruição (Cano, 1981). Embora
recursos naturais,
no caso brasileiro os efeitos estimuladores sobre as bases econômicas
Assim, a ocupação
periféricas pareçam ter prevalecido, um a espécie de “círculo vicioso”
“nacional” da ac
poderia ampliar o fosso entre o centro e a periferia, dadas as condições
diferenciais de reprodução dos diversos capitais, podendo aprisionar
Entretanto, essa
ainda mais essas regiões ao jugo do capital mercantil, pois
sentido de ter sua
A S H E T E R O G E N E ID A D E S E ST R U T U R A IS

i im a g in a r desconcen- como as margens de lucro na periferia tendem a ser baixas, suas empresas não
, de tal forma a am- renovam equipamentos e instalações, com o que perdem competitividade e
: ocorreu na economia baixam ainda mais aquelas margens. Em decorrência, os capitais “sobrantes”
i de imigrantes em podem mudar para compartimentos mais modernos — quando têm “fôlego”
; o contrário: não se fez suficiente, dentro da própria região, ou se dirigem para fora, em busca da es­
: bloqueado, mesmo peculação ou de aplicações imobiliárias (Cano, 1981, p. 186).
(expressivos de mão-de-
nte concentrado da A análise da dimensão espacial do capitalismo no Brasil deve avançar
: de população em no estudo das específicas condições de operação das economias periféricas,
i industrial. Em função
com distintas capacidades de diferenciar suas bases produtivas, sujeitas aos
ra algumas áreas e o
ditames das formas de capital que estivessem operando em escala supra-
lente, aos circuitos
regional, a partir da econom ia paulista. M uito ainda deve ser pesquisado
lem ais pobres do país;
para se realizar um balanço histórico, em cada unidade da federação, dos
ia (Negri, 1994,
efeitos de estímulo, inibição/bloqueio e destruição sobre suas respectivas
estruturas produtivas, ao longo do período 1930-1970.
Apesar do papel estabilizador (Furtado, 1959) que o “crescim ento
1envolvia acirrar a
voltado para dentro” possibilita, com a relativa internalização do ciclo
¡ só podiam insta-
econôm ico no espaço nacional, a im posição de coerência ao mercado
¡ materiais não muito
interno nacional não ocorria sem tensões. M algrado o novo arco de
ente não na esfera
alianças, as novas formas de regulação econôm ica e os compromissos
ios mais ao ámbito
sociais articulados, as frações dos capitais e as forças políticas eram
NÉr processo de produção.
extremamente desiguais, dando form a e conteúdo a uma ação estatal
ido a acumulação
extremamente contraditória e abrangente, que se beneficia do tamanho
; sociais de produção
: a ão representava um do território e da já complexa econom ia, a fim de sancionar a “fuga para
frente”, inclusive em sua expressão territorial.
í produtiva adicional,
O reiterado crescimento hacia adentro era paradoxal, no sentido de
que era “fácil” (facultado “espontaneamente” pelo tamanho dos mercados)
tis inter-regionais,
e bloqueado, complexo e contraditório, ao mesmo tempo. Por um lado,
da, representava
integrativo gera
a expansão das fronteiras econômicas, periodicamente fechadas e reabertas,
t p s z r efeitos de estímulo,
pelos negócios da produção e exportação do agribusiness e da exploração de
Cano, 1981). Embora
recursos naturais, mantém-se ao longo de toda a história econômica brasileira.
25 bases econômicas
Assim, a ocupação capitalista de várias regiões do país amplia a dimensão
de “círculo vicioso”
“nacional” da acumulação de capital (Tavares, 1999, p. 456).
2. dadas as condições
podendo aprisionar
Entretanto, essa ocupação se deu de form a desigual e combinada, no
rd2. pois
sentido de ter sua natureza determ inada por

121
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO "1

diferentes partes que encontram-se em graus distintos de evolução, cada urna o Oeste” do goverr_
das quais contendo profundas contradições internas. [...] O capitalismo apenas acerca da necessar^
gradualmente domina a desigualdade que herdou, torna-a evidente e a modifica uma série de o b ' e n s ¡
empregando seus próprios métodos e marchando em seus próprios caminhos. so oficial, essa quescã©3
[...] Somente a combinação destas duas tendências fundamentais, centrípeta como necessidade àei
e centrífuga, nivelação e desigualdade, ambas conseqüências da natureza do
Vargas (s.d., p. 28-1
capitalismo, nos explica o vivo entrelaçamento do processo histórico (Trotsky,
o rum o ao Oeste _ j
1930, p. 25).
nosso território e 1
com as fronteiras;
Ignácio Rangel (2000, pp. 181-84) nos ensina que
A ocupação de 3
também desse 1
ao mesmo tempo que pugnava — com o apoio das massas progressistas do
as econom ias 1
povo — pela consolidação das barreiras externas, delimitadoras do espaço
pela estreiteza e 05 i
econômico no qual se desenvolvería 0 capitalismo industrial brasileiro, a
burguesia industrial pugnava pela supressão gradual das barreiras internas, acordo com o Cens» 4
que compartimentavam o mercado nacional de fatores e de produtos [diri­ tinham mais de 1001
gindo suas forças política e econômica] contra o complexo de interesses os m unicípios com 1
pré-capitalistas que tendia a dividir o mercado nacional numa constelação de núcleos no país 1
mercados regionais [...]. recursos de monta 1
nadas na rede 1
Assim, “a unificação do mercado interno, ao soldar, num único mer­ avanço da indu
cado nacional, a constelação de mercados regionais e estaduais, ampliava Cardozo (200313
a escala dos possíveis projetos substituidores de importações”. tributário no period»!
A periferia abrirá seus mercados regionais, estabelecendo uma ex­ de m aior poder para 1
pressiva vinculação mercantil com o pólo. A Guanabara “m odernizou” e rios e se endividar.!
diversificou sua especialização em serviços comerciais e financeiros. Minas de coordenação,;
Gerais ampliou sua articulação com o pólo e especializou-se na oferta crédito, pela criação 3
de bens intermediários. As frentes avançadas do “capitalismo paulista”, regional, sempre»
algumas frações territoriais de Minas, Paraná, Goiás e Mato Grosso (do im posto pelo jogo 1
Sul), se ataram decididamente a São Paulo. Promoveu-se a colonização A presença atha 3
do Paraná entre 1930 e 1950. Assim, essas economias “adjacentes” a São instituições criadas]
Paulo sofreram os impactos mais imediatos do avanço da infra-estrutura
de transportes e comunicações e da força da conexão efetiva, mais direta, 26 Vargas (s.d.), ain.-b i
do intercâmbio reiterado de mercadorias. econômica do nosso i
mos fazendo a estn
Um continental hinterland — o Centro-Oeste, a região Norte e o interior marítima, mas abn
nordestino — se encontrava bastante “dessintonizado” dessa expansão. glória da geração «
o sentido dos ¡
Cabe destaque, nesse momento, às preocupações com a “Marcha para
27 Getúlio Vargas disse, t
nacionais para que 7

122
AS H E TE R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS

revolução, cada uma o Oeste” do governo Vargas,26 que posicionaram importantes questões
í O capitalismo apenas acerca da necessária incorporação daquela vasta área. Impregnada de
i evidente e a modifica uma série de objetivos económ icos e estratégicos, no ámbito do discur­
t próprios caminhos, so oficial, essa questão estava posta, sobretudo durante o Estado Novo,
aentais, centrípeta como necessidade de integração nacional e de deslocamento da fronteira.
i da natureza do
Vargas (s.d., p. 284) afirmava que “o verdadeiro sentido da brasilidade é
»histórico (Trotsky,
o rum o ao Oeste [...] a fim de suprimirmos os vácuos dem ográficos do
nosso territorio e fazermos com que as fronteiras econômicas coincidam
com as fronteiras políticas”.
A ocupação de áreas distantes e a expansão interiorizada foram marcas
também desse período de articulação comercial inter-regional, embora
as progressistas do
as econom ias urbanas das diversas regiões ainda estivessem bloqueadas
iddhnitadoras do espaço
pela estreiteza e os limites do padrão de acum ulação então vigente. De
>mdustrial brasileiro, a
! das barreiras internas, acordo com o Censo de 1950, das 1.890 cidades brasileiras, apenas 11
i e de produtos [diri- tinham mais de 100 mil habitantes. Se caracterizarmos com o urbanos
4ero de interesses os m unicípios com mais de 20 mil habitantes, então teríamos apenas 96
l n n m a constelação de núcleos no país naquele momento. O em preendimento urbano requeria
recursos de monta para m elhor aparelhar as cidades mais bem posicio­
nadas na rede urbana, preparando-as para os desafios que o processo de
r, num único mer- avanço da industrialização colocava para todo o país.
[ e estaduais, ampliava Cardozo (2003) discute o m ovimento de descentralização do sistema
íãB fxntações”. tributário no período 1946-1963, em que estados e m unicípios gozaram
totab elecen d o uma ex- de m aior poder para manipular alíquotas, manter orçamentos deficitá­
“m odernizou” e rios e se endividar. Por outro lado, o nível federal manteve seu poder
í e financeiros. Minas de coordenação, amparado pela reestruturação do sistema de m oeda e
zou-se na oferta crédito, pela criação de bancos de fomento e políticas de desenvolvimento
“capitalismo paulista”, regional, sempre concedendo e retirando poder, num equilíbrio delicado
; e Mato Grosso (do imposto pelo jogo federativo.
-se a colonização A presença ativa do Estado, operando através do amplo conjunto de
“adjacentes” a São instituições criadas pelos governos Vargas,27 malgrado a instabilidade de
acó da infra-estrutura
‘ efetiva, mais direta, 26 Vargas (s.d.), ainda durante seu primeiro governo, afirmava: “O problema da ocupação
econômica do nosso território é um postulado da própria criação do Estado Nacional. Esta­
mos fazendo a estruturação dos núcleos básicos do nosso crescimento, não apenas da faixa
ü o Norte e o interior marítima, mas abrangendo a totalidade do país. E essa obra, que há de ser o maior título de
¿o” dessa expansão. glória da geração atual, porque significa unir e entrelaçar as forças vivas da Nação, retomou
0 sentido dos paralelos e retomou o lema bandeirante da marcha para o Oeste”.
g«¡5 : a “M archa para
27 Getúlio Vargas disse, em 1938, que “a grande tarefa do momento é a mobilização dos capitais
nacionais para que tomem um caráter dinâmico na conquista das regiões atrasadas [...] ampliar

123
TE R R ITÓ R IO E D ESEN VOLVIM EN TO

suas forças políticas de sustentação e a fraqueza congênita da m onopoli- eram precarias: aps:
zação dos capitais nacionais, logrou a arbitragem sistemática das normas Tinham, naquele —>m
e do dinheiro e a articulação de decisões públicas e privadas de inversão em sua m aioria as
que promoveram avanços significativos no aparelho produtivo nacional, redes de co m u n ica
bem com o em seu suporte infra-estrutural. Nesse contexto, logrou-se serviços de telégras» e l
dar unidade e consolidar um sistema econôm ico nacional, desenhando a baixa qualidade 1
escala supra-regional coerente, contando com a consistência do vínculo O aparelho de 1
nacional unitário, determinado pela lógica do capital mercantil. de Getúlio Vargas. *
Assim , nesse período da integração do m ercado nacional, as con ­ nacional de ação. A s 1
veniências m ais im ediatas da valorização do capital de com ércio de perdem muito de 1
mercadorias se impõem . Nesse m omento de articulação mercantil dos logrando m i
mercados, afirmam-se novos fluxos, pautas e circuitos (em intensidade Em síntese, segí
e natureza) de com ércio inter-regional que acabam pondo em xeque da natureza e da t
o anterior padrão de transporte e com unicações do país. A rede de mercado nacional 1
infra-estrutura herdada do período anterior se mostrava incompatível - do período dei
com um a econom ia que diversificava rapidamente sua produção. Era década de 1950, a in
obstáculo a um m aior intercâm bio de m ercadorias entre as diversas inter-regional, a <
economias regionais. através do comércios
articulação mere
A carência de meios de transporte que integrassem as regiões constituía cado de mercado
natural barreira à competição inter-regional. Essas maiores distâncias — prin­ - do período d r 1
cipalmente para as localidades mais interiorizadas — e os maiores custos de dustrialização
transporte permitiram a instalação e o funcionamento de grande número “via acumulação d ei
de indústrias servindo a mercados mais regionalizados. [...] Essa produção os determinantes d a a
periférica ficaria momentaneamente a salvo, desde que o "mercado desse para
transplante do capfcri|
todos”, ou seja, desde que a indústria sediada no pólo não estivesse funcion­
(prom ovendo a i
ando com grande capacidade ociosa e que, por várias razões, não estivesse
drão de dom inação 4
ampliando fortemente sua capacidade produtiva (Cano, 1981, p. 184).
no país.
Em um contexto <
O desenvolvimento de uma infra-estrutura mais adequada, ao longo
de crescimento, 1
desse período de “ industrialização restringida”, veio trazer um novo p o ­
Sul, pode-se procedera
der vinculador inter-regional. Desde o final da década de 1920 vinham
interesses repres
aumentando as preocupações com as rodovias. Jardineiras e carros de
e da integração de 1
passeio crescem em seu trânsito. Apesar disso, as condições das estradas
dimensões cont

essas fronteiras econômicas e integrar um sistema coerente em que a circulação de riquezas


se faça livre e rapidamente [...] que aniquilarão as forças desintegradoras da nacionalidade”
(apud Fiori, 1995, p. 62).

124
AS H E TE R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS

ida monopoli- eram precárias: apenas 0,5% tinham pavimentação, por exemplo, em 1942.
ica das normas Tinham, naquele momento, estado de conservação deplorável, entregues
sprivadas de inversão em sua m aioria às adm inistrações m unicipais e estaduais. Quanto às
► produtivo nacional, redes de com unicação, avançaram um pouco, em bora contando com
; contexto, logrou-se serviços de telégrafo e telefone em áreas restritas do país e dispondo de
1, desenhando a baixa qualidade técnica e operacional (Brandão, 1996).
icia do vínculo O aparelho de Estado vai ser redesenhado desde 0 primeiro governo
[mercantil, de Getúlio Vargas, com a geração de uma institucionalidade com âmbito
nacional, as con ­ nacional de ação. As principais frações regionais da classe dominante
de com ércio de perdem muito de seu poder de vocalização de interesses, com o Estado
io mercantil dos logrando minimamente “nacionalizar” várias “questões regionais”.
; (em intensidade Em síntese, segundo W ilson Cano (1981), é fundamental a distinção
i pondo em xeque da natureza e da dinâmica diferenciadas dos processos de integração do
, d o país. A rede de mercado nacional nos dois m omentos aqui reproduzidos:
ava incompatível - do período de recuperação da “crise de 1929” à segunda metade da
: soa produção. Era década de 1950, a industrialização se encontrava restringida, e a articulação
i entre as diversas inter-regional, a conquista e o alargamento dos mercados se processaram
através do com ércio de mercadorias (integração através de uma potente
articulação mercantil entre as regiões, ou seja, “via dom inação do m er­
i as regiões constituía cado de mercadorias”);
► distâncias — prin- - do período de 1956-1962 em diante, sob as determinações da in­
-e os maiores custos de dustrialização pesada, a integração do mercado nacional se processou
i de grande número “via acumulação de capital”, em um contexto em que “estabeleceram-se
Essa produção os determinantes da acum ulação à escala nacional” e se procedeu ao
te ''mercado desse para transplante do capital produtivo, entre as regiões, na direção da periferia
i estivesse funcion-
(promovendo a integração produtiva), transformando totalmente o “pa­
; razões, não estivesse
drão de dom inação do mercado nacional” e as relações centro-periferia
1981, p. 184).
no país.
Em um contexto de modernização conservadora e de taxas milagrosas
; adequada, ao longo
de crescimento, embora com alta concentração geográfica no Centro-
Id trazer um novo po-
Sul, pode-se proceder a uma exitosa “fuga para frente”, sancionando os
tüecada de 1920 vinham
interesses representativos do atraso estrutural, a partir do alargamento
ferdineixas e carros de
e da integração de um mercado interno complexo, típico de um país de
iz&zicões das estradas
dimensões continentais, agora sob o dom ínio do capital industrial.

2u± 1 rirculação de riquezas


am csnàz-ras da nacionalidade”

125
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO

3-5 A COERÊNCIA IMPOSTA PELA LÓGICA DO CAPITAL INDUSTRIAL Os requisitos


(1956-1970): O MOVIMENTO DURANTE A INDUSTRIALIZAÇÃO vestimentas erar
“ PESADA” E A INTEGRAÇÃO VIA ACUMULAÇÃO DE CAPITAL estrangeiro, er
reação oligopoAca a
A partir da segunda metade dos anos 50, o país viveria profundas transfor­ dirigiram já sei
mações econômicas, culturais, sociais, políticas etc., todas submetidas ao “com vistas taro» a<
caráter da m odernização conservadora que conduziu tais m udanças conquista do i
estruturais. A m odernização com tal natureza agudizaria ainda mais os A “construção t
elementos históricos de heterogeneidade estrutural (produtiva, social ticalmente int
e espacial) que vêm sendo apontados neste livro. A Revolução de 1964 magnitude da *
representaria a vitória “definitiva” diante da potencial via alternativa, abalo potente — a
dem ocrática e com inclusão social que avançava no país. grande porte —
A industrialização avançou, arrastando e acicatando o conjunto das material elétrico c i
atividades econômicas terciárias, agropecuárias, de suporte infra-estrutural primárias e efeitos]
etc. Transformações materiais abrangentes se processaram, porém nunca mais dinâm icos 1
foram acompanhadas de maior acessibilidade, por parte da m aioria da aparelhos pr
população, à propriedade, à terra rural ou urbana, à educação e saúde de sileira. A cor
qualidade, à moradia, aos serviços urbanos, à inserção formal no mercado obstáculos para;
de trabalho, à renda com perm anência e segurança, ou seja, sem direitos “desenvolvime
à economia urbana moderna etc. Contudo, avançou-se na construção de internacional de <
um espaço nacional, erigido sob novo padrão de acumulação, por m eio do padrão de <
do aprofundamento de m ecanismos de políticas públicas protetores e industrialização]
controladores da reprodução ampliada de diversas facções burguesas, a base social de ¡
consolidando uma capacidade de dar coerência à valorização de uma C o m o final 1
ampla frente de capitais — bastante assimétricos, segundo os cortes se­ centralizadora, g*
toriais, regionais, de porte etc. — , agora integrados produtivamente. nacional veio i
Desde a implementação do Plano de Metas da gestão de Juscelino de avançar na i
Kubitschek (1956-1960), promoveu-se uma verdadeira revolucionarização mento, com a <
do aparelho produtivo (inclusive de seu suporte infra-estrutural), sob os interesses postm*
o comando do departamento de bens de produção, e coadjuvada pela e reprodução. 1
implantação do segmento de bens de consum o duráveis (fundam ental­ se conflitos abertos.
mente indústria automobilística). As transformações do novo momento Assim, a partir <
do processo de urbanização foram profundas. As relações inter-regionais trialização pesada."
e interurbanas se estreitaram.28 de capital à escalai
dutivo, entre as i
28 Como ilustração dessa nova força articulativa, cabe ressaltar que, em apenas seis anos (1955- Destacaram-se, i
1961), a extensão da malha rodoviária pavimentada, federal e estadual, saltou de 3.133 km para
14.133 km. subsidiando 1

126
AS H E T E R O G E N E ID A D E S E S T R U T U R A IS

-INDUSTRIAL Os requisitos financeiros para deslanchar um ciclópeo bloco de in­


ZAÇÃO vestimentos eram colossais e teriam que contar com o aporte do capital
ECAPITAL estrangeiro, em uma ambiéncia internacional favorável, marcada pela
reação oligopólica ao desafio americano. Os oligopólios que para cá se
profundas transfor- dirigiram já se implantaram com ponderável capacidade ociosa planejada,
submetidas ao “com vistas tanto à expansão do mercado paulista quanto à completa
u tais m udanças conquista do mercado nacional” (Cano, 1981, p. 80).
ainda mais os A “construção dos estágios superiores da pirâm ide industrial ver­
(produtiva, social ticalmente integrada”, a enorme mutação tecnológica empreendida e a
A Revolução de 1964 magnitude da capacidade produtiva instalada (abruptamente) geram um
via alternativa, abalo potente — graças à materialização simultânea de vários projetos de
pais. grande porte — , principalmente nas indústrias de material de transporte,
o conjunto das material elétrico e m etal-m ecânico que possibilitaram ondas inovativas
infra-estrutural primárias e efeitos para trás e para frente que se disseminam pelos elos
, porém nunca mais dinâm icos da malha industrial e invadem, de form a seletiva, os
: porte da m aioria da aparelhos produtivos regionais e os principais nós da rede urbana bra­
i educação e saúde de sileira. A correlação de forças postas naquele m omento logrou driblar
>ib ón al no mercado obstáculos para a consecução da gigantesca tarefa posta. A ideologia
kOu seja, sem direitos “desenvolvimentista”, a colagem da econom ia brasileira ao movimento
í na construção de internacional de capitais, a cooptação populista, enfim o êxito na mudança
uulação, por meio do padrão de acumulação, auxiliaram a enublar as contradições inerentes à
t publicas protetores e industrialização pesada em condições de subdesenvolvimento, ampliando
facções burguesas, a base social de apoio, legitimação e sustentação do governo.
1á valorização de urna C o m o final do ciclo expansivo, o golpe m ilitar, com orientação
^segundo os cortes se- centralizadora, geopolítica, de planejamento autoritário e de segurança
i produtivamente. nacional veio implementar processo abrangente de reformas com o fito
. gestão de Juscelino de avançar na m odernização capitalista. C om elevadas taxas de cresci­
1revolucionarização mento, com a ocupação e o alargamento dos mercados interiores, todos
■ Krfra-estrutural), sob os interesses postos encontraram e demarcaram seus espaços de valorização
, e coadjuvada pela e reprodução. Evitavam-se pontos explícitos de coalizão, escamoteavam-
veis (fundamental- se conflitos abertos.
•do novo momento Assim, a partir do início da década de 1960, sob a lógica da indus­
iseações inter-regionais trialização pesada, “estabeleceram-se os determinantes da acumulação
de capital à escala nacional” e procedeu-se ao transplante do capital pro­
dutivo, entre as regiões, na direção da periferia (integração produtiva).
' ms. ífn -renas seis anos (1.955- Destacaram-se, nesse processo, as políticas para o Nordeste e o Norte,
jüliou de 3.133 km para
subsidiando pesadamente os investimentos que se dirigiram para aque-

127
T E R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO

las áreas. Com o avanço da industrialização pesada, a periferia nacional Esse abranger^ Z2
é “reinventada” para o capital do centro hegem ônico, transformando quação nas bases r r a
totalmente o “padrão de dominação do mercado nacionaT. Agora ele se consolidou a mc
processa via acumulação de capital. “O pólo conduz a forma e o ritmo da cadeias mercantis. :
acumulação” (Cano, 1981). Amplificam-se os fluxos de capital produtivo e complexos agror
as relações centro-periferia ganham novas natureza e dinâmica. Frações um mercado i
de capital, com diferentes poderes de valorização, expansão económ ico- continentais — , í
geográfica e vocalização política se disseminaram e se defrontaram em subsidiado, pela qcasei
todo o territorio nacional, orientadas, em sua maioria, pela sinalização A acelerada i
direta ou indireta da ação pública, conform ando uma econom ia urbana no-industrial inédita]
m oderna, alterando profundam ente os processos de trabalho e erigindo massas, trazendo ^
uma estrutura produtiva densa, integrada, complexa e diversificada, que de consumo e de j
se localiza em diferentes parcelas do espaço geográfico nacional. São Paulo renos
Os problemas e contradições no funcionam ento da econom ia eram pacto federativo e i
resolvidos pragmáticamente quando com eles se se defrontasse. No que e o avanço das ]
diz respeito à questão da desigualdade regional, esta ganhou espaço na Também no <
agenda pública, em um m omento em que a concentração produtiva se mática agrária a j

aprofundava: a participação relativa de São Paulo passa de 48,9%, em 1949, (1993, P -14):
para 55,6%, em 1959, na produção industrial nacional, ampliando ainda
mais a parcela da riqueza nacional reunida e absorvida pela econom ia A alta concer
da Grande São Paulo. das relações de I
O espaço continental lograva m ultiplicar oportunidades lucrativas como os foreiros,!
vida dos empregados 1
de negócios latentes, muitos altamente subsidiados pelo Estado. Desse
uma questão agram 1
modo, para avançar em tão extenso e profundo projeto de industrializa­
processo de conc
ção, percorreram -se as linhas de m enor resistência, evitando-se tensões
com flexibilidade. A ampla onda expansiva se encarregava de dissolver
O novo padrão]
maiores fricções horizontais (intercapitalistas) e verticais (entre as classes
zação do Sistema!
sociais). As novas fronteiras abertas de valorização das diversas frações
da agricultura, í
do capital eram amplas, mesmo para as regiões mais atrasadas. “Assim,
ceu pressão nas 1
o capital industrial majoritariamente originado do pólo [pôde] conviver
massivos movi
‘pacificamente’ na periferia nacional com 0 capital mercantil, pois havia
A rapidez das 1
espaço’ institucionalm ente chancelado pelo Estado e suficiente para
desencadeou um
ambos” (Cano 1981, p. 247). A criação de novos ramos produtivos, a di­
tropolização e 1
versificação social e geográfica do país de grande porte e a nova natureza
urbano-industrüd t
da integração produtiva do mercado nacional (com alto saldo de efeitos
processo de rede
de estímulo sobre a periferia) legitimavam as ações públicas.
leiras: “antes espaçmt

128
A S H E TE R O G E N E ID A D E S E ST R U T U R A IS

*a periferia nacional Esse abrangente conjunto de transformações foi exigente de reade-


, transformando quação nas bases urbana e rural, já historicamente dispersas e complexas;
naT. Agora ele se consolidou a modernização conservadora, da urbe e do agro; estendeu as
i forma e o ritmo da cadeias mercantis, as infra-estruturas viárias e energéticas; promoveu os
vde capital produtivo e complexos agromercantis etc. Todos esses processos foram renovados por
i e dinâmica. Frações um mercado integrado — através da acumulação de capital, de dimensões
io económ ico- continentais — , articulado também pela expansão agropecuária, pelo crédito
t e se defrontaram em subsidiado, pela quase ubiqüidade da presença estatal no território etc.
, pela sinalização A acelerada m odernização capitalista im prim ia uma dinâm ica urba­
i econom ia urbana no-industrial inédita no país, conform ando uma incipiente sociedade de
rtrabalho e erigindo massas, trazendo novos elementos de conflito, estilos de vida e padrões
i e diversificada, que de consum o e de sociabilidade. A s inversões públicas concentradas em
i nacional. São Paulo renovavam os velhos discursos regionalistas, ameaçavam o
>da econom ia eram pacto federativo e exigiam investimentos “compensatórios” na periferia
rdefrontasse. N o que e o avanço das políticas de fortalecim ento da unidade nacional.
i ganhou espaço na 1 Também no cam po profundas transformações ocorreram. A proble­
ão produtiva se mática agrária a partir dos anos 60 foi assim resumida por Kageyama
ide 48,9%, em 1949, (i993. P -14):
, ampliando ainda
1pela econom ia A alta concentração fundiária, a heterogeneidade do sistema produtivo e
das relações de trabalho no campo, com a presença de formas “pré-capitalistas”
idades lucrativas como os foreiros, moradores, parceiros e agregados, e as baixas condições de
. pelo Estado. Desse vida dos empregados rurais eram os principais componentes que configuravam
uma questão agrária naquele momento. Aos quais se acrescenta, depois, o brutal
1de industrializa-
processo de concentração da renda agrícola verificado a partir de 1970.
. evitando-se tensões
çava de dissolver
O novo padrão agrícola que se ergue após 1965, com a institucionali­
; (entre as classes
zação do Sistema Nacional de Crédito Rural, promoveu a industrialização
>das diversas frações
da agricultura, aprofundou a modernização conservadora do agro e exer­
; atrasadas. “Assim,
ceu pressão nas relações de produção e de propriedade, determinando
► pólo [pôde] conviver
massivos m ovimentos de expulsão da zona rural.
i mercantil, pois havia
A rapidez das transformações capitalistas operadas naquele momento
i o e suficiente para
desencadeou um processo avassalador de migração, urbanização-m e-
1s e c o s produtivos, a di-
tropolização e burocratização, constituindo celeremente uma sociedade
cTsocre e a nova natureza
urbano-industrial de massas. Esse novo momento deve ser visto como um
. alto saldo de efeitos
processo de redefinição do m odo de articulação entre as regiões brasi­
íes públicas.
leiras: “antes espaços distintos, integrantes de mesmo sistema comercial

129
T E R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO

com sua individualidade, agora, partes de um único sistema de produção progresso e mame:
situados no interior de uma hierarquia”, como bem sintetizou Guimarães pitai mercantil cczz
Neto (1989). No novo ambiente de relações à base do capital produtivo: “A lação [...] O dommji
indústria, que neste período consolida seu padrão de indústria pesada, e regional capturaría:-
o m ovim ento cíclico da economia, que em determinados momentos p o ­ comercialização e o i .
dos ao mercado in:
tencializa as condições objetivas que são capazes de redefinir as relações
se no segmento ur
entre os diversos espaços nacionais” [...] [determinam que] [...]
comercial e em sua :
seja como o prindpáb
tal acumulação tenda a ocorrer num ritmo que pouco tem a ver com os inter­
parte dos imóveis:
esses imediatos e os limites estreitos do potencial de acumulação da região
mascarado como,
que se constitui o destino das transferências de capital produtivo. Este capital,
ativos industriais oca
como relação de produção que é, traz consigo uma teia de vínculos e exigências
industrialização
que tende a se generalizar no contexto onde se dá sua reprodução ampliada
ticulações financeira* 1
(Guimarães Neto, 1989, pp. 11-18, grifo nosso).
(Cano, 1981, pp. 1 4 5 i

O tratamento dado por W ilson Cano (1981) é definitivo, ao mostrar


Em suma, esses a
como um m odo mais avançado de integração inter-regional, que se pro­
tado, sobretudo as i
cessou através da acumulação do capital produtivo, realizou, através de
parlamentar 1
uma “convivência pacífica”, a soldagem de interesses de diversas frações
demais (e tinham j
mais modernas do capital com a persistência e até o aprofundamento das
obtiveram 1
relações de dom inação de antigas formas do capital mercantil, aliança
empreender sua 1
mantida graças à intocabilidade da questão da propriedade fundiária,
Assim, em um <
rural e urbana.
milagrosas de 1
A estrutura fundiária arcaica e a preservação clientelística dos espaços
frente”, sanción
de reprodução do capital mercantil em suas diferentes faces (imobiliário,
partir do ala
comercial, transportes urbanos e outros serviços etc.), fonte de poder das
xo — típico de um]
diversas forças oligárquicas locais e regionais, foram responsáveis pela
de vários núcleos *
manutenção e perpetuação do atraso estrutural do Brasil.
giões brasileiras.
Mesmo com a modernização e a transformação de diversos segmentos
O processo de 1
dos aparelhos produtivos de todas as regiões do país, a condição de atraso
e “pesada” alcançam]
relativo periférico deve ser buscada nas “débeis estruturas econôm icas e
de conflitos pelai
precárias relações capitalistas de produção”, que obstaculizaram a abertura
de maiores e melhores
29 Nas páginas 245 z =4
frações do capitai, 4
“espaços econômicos” para [que] o capitalismo nacional ali penetrasse de praticam, através de 1
forma mais decisiva, acelerando suas transformações e modernizando-as [...] escala nacional e s
o avanço social, e
Dessa forma, a despeito de certa penetração do capital industrial em tais regiões, representantes do r
ali persiste um "espaço” comandado pelo capital mercantil, que obstaculiza o a especulação ■—*— -

I3O
A S H E T E R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS

¡sistema de produção progresso e mantém o atraso [...] Na maior parte da periferia nacional, o ca­
tizou Guimarães pital mercantil continuou a comandar a maior fração do processo de acumu­
ttmpital produtivo: “A lação [...] O domínio deste manteve-se sobre a maior parte da agricultura
:industria pesada, e regional capturando-lhe grande parte do excedente: no financiamento, na
os momentos po- comercialização e na distribuição dos produtos tradicionais, tanto os destina­
rredefinir as relações dos ao mercado interno como os exportáveis. Algumas frações desdobraram-
¡ que] [...] se no segmento urbano da economia: seja na expansão da tradicional rede
comercial e em sua modernização (o supermercado, o shopping center, etc.),
seja como o principal responsável pela produção e comercialização da maior
i a ver com os inter-
parte dos imóveis residenciais construídos nas últimas décadas, seja, ainda,
: acumulação da região
mascarado como capital industrial, pelo controle da propriedade dos principais
IfKodutivo. Este capital,
ativos industriais ou agroindustriais. Esse capital mercantil, chegada a era da
i Tinados e exigências
industrialização pesada, não tinha porte quantitativo nem contava com ar­
; reprodução ampliada
ticulações financeiras regionais suficientes que permitissem o “grande salto”
(Cano, 1981, pp. 245 e segs.).29

|*á rtm itivo , ao mostrar


Em suma, esses capitais eram grandes demais para não capturar 0 Es­
r-regional, que se pro-
tado, sobretudo os governos estaduais e municipais, ocupar representação
. realizou, através de
parlamentar desproporcional a seu poder econômico etc. Eram pequenos
i de diversas frações
demais (e tinham pouco interesse na mudança para outras órbitas, pois
► aprofundamento das
obtiveram asseguradas várias garantias de preservação patrimonial) para
I mercantil, aliança
empreender sua metamorfose em capital industrial.
igBopriedade fundiária,
Assim, em um contexto de m odernização conservadora e de taxas
milagrosas de crescimento, pode-se proceder a uma exitosa “fuga para
ica dos espaços
frente”, sancionando os interesses representativos do atraso estrutural, a
► faces (imobiliário,
partir do alargamento e da integração de um m ercado interno com ple­
-íbnte de poder das
xo — típico de um país de dim ensões continentais — e da consolidação
; responsáveis pela
de vários núcleos de econom ia urbana m oderna em todas as macrorre-
i B rasil
giões brasileiras.
¡diversos segmentos
O processo de urbanização a partir da industrialização “restringida”
. a condição de atraso
e “pesada” alcançará patamares superiores de diferenciação, sofisticação e
i económicas e
de conflitos pela não-resolução de questões estruturais como as questões
culizaram a abertura

29 Nas páginas 245 a 249, Cano (1981) desvenda a natureza, a lógica de ação e as estratégias das
frações do capital, que mantém sob seu poder amplos espaços econômicos. São elites que
ali penetrasse de praticam, através de arcaicos instrumentos políticos, o mandonismo local (projetando-o à
t —ocemizando-as [...] escala nacional e sobre os aparelhos de Estado, nos três niveis de poder federativo), impedindo
o avanço social, econômico e político de suas regiões e de todo o Brasil. Esclarece que “são os
ináciurial em tais regiões, representantes do capital mercantil — e de seus aliados mais diretos, o latifúndio improdutivo e
Ecrl- aue obstaculiza o a especulação urbana — os mais arraigados inimigos da transformação e da modernização”.

131
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO

fundiárias rural e urbana. Esse m omento demonstrará o auge da capaci­ dos espaços de rem *
dade reprodutiva, poderiam os dizer vegetativa, do urbano interiorizado acumulação do:
e extensivo, mas também da consolidação dos espaços m etropolitanos travestidos ou não àt
complexos. Sobretudo o período de transição entre as décadas 1960-1970 urbanização levaàc í
revelará como o processo de urbanização é muito mais do que suas di­ espaços regionais e a
mensões demográficas, territoriais e econômicas revelam. Ele representa impossível entender 01
diferenciação social, transformações nos padrões culturais e nos hábitos de ocupação lito:
de consum o e estilos de vida, mudanças nos valores políticos e éticos, sem compreendei
criação de novos atores sociais, diversificação produtiva etc. núcleos urbanos t
A econom ia e a sociedade brasileiras sofreram transformações es­ sem entendermos a.:
truturais (econômicas, sociais, políticas, demográficas etc.) com a m u­ 1975), que freqi
dança do padrão de acum ulação desse período de coerência im posta da economia, a<
pela integração produtiva do mercado nacional. Conheceram -se taxas padrão relativ
elevadas de crescimento econôm ico, em ciclos bastante peculiares, uma Em tal ambiente,
mobilidade social e espacial bastante alta e um acelerado processo de solidaram um p:
urbanização. Nesse contexto de rápidas, extensas e profundas mudanças paradoxal, por
das ordens econômica, política e social, erigiu-se e consolidou-se uma um lado, desen
complexa sociedade urbano-industrial que, segundo Faria (1991), seria pop ulacionais em
marcada pelas especificidades de ser “pobre, de consumo, heterogênea centros regionais e
e desigual e erguida na periferia pobre do sistema capitalista, crescen­ e ao mesm o tempos
temente desigual”. núcleos por todo o
As grandes mutações no processo de urbanização brasileira só podem tante contraditório
ser analisadas, assim entendo, quando referidas e iluminadas pelos marcos relação cam po
estruturais da consolidação e desenvolvimento de nossa experiência tar­ Esse contexto de:
dia e periférica de expansão capitalista (Mello, 1975), em seu movimento um quadro de
cíclico de acumulação. A análise desse período aqui em tela exige que se “milagrosas” de
retenham os traços mais marcantes e específicos de nosso processo de nal e espacial) e por
desenvolvimento capitalista, guardadas devidamente as singularidades de manas e de grandes
nossa dimensão continental, marcada por profundas heterogeneidades (Pacheco, 1992). Fnr
estruturais (produtivas, sociais e regionais) (Pinto, 1976; Tavares, 1981). O ficaram os traços de
processo de urbanização só pode ser investigado no quadro das (pesadas) estruturas de do:
heranças regionais e urbanas de enormes disparidades das experiências
concretas das diversas áreas do país-continente; no quadro da não-resolução
permitiria ilu m in a r j
da questão agrária30 e no quadro da preservação/ampliação/renovação urbanos etc.
31 Nesse sentido, não t
30 Entendo que um tema extremamente relevante, porém ainda não pesquisado, para a discussão O nosso índice n a i.»
das especificidades da urbanização brasileira é o caráter de não-exacerbação da contradição consolidação de i
campo-cidade no país, inerente ao processo de desenvolvimento capitalista. Essa discussão um padrão lognonm di

132
A S H E TE R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS

Lo auge da cap a d ­ dos espaços de reprodução econôm icos e políticos e dos horizontes de
lo interiorizado acum ulação dos capitais mercantis (periféricos ou não, mais ou menos
; m etropolitanos travestidos ou não de m odernos). Torna-se evidente, no processo de
(décadas 1960-1970 urbanização levado a cabo no Brasil, o “peso da historia” nos diversos
; do que suas di- espaços regionais e nas diferentes conjunturas históricas. Assim , seria
1. Ele representa impossível entender o sistema urbano brasileiro sem o resgate do processo
; e nos hábitos de ocupação litorânea, que implantou grandes cidades por toda a costa;
. políticos e éticos, sem compreender as peculiaridades de nosso padrão de urbanização com
tete. núcleos urbanos (conformando um sistema dispersivo e difuso de cidade);
1transformações es- sem entendermos a instalação dos diversos “complexos regionais” (Cano,
; etc.) com a mu- 1975). que freqüentemente deslocava o “eixo dinâm ico” (Furtado, 1959)
: coerência imposta da economia, acabando por cristalizar no espaço geográfico nacional um
LGonheceram-se taxas padrão relativamente descentralizado do sistema urbano.
: peculiares, urna Em tal ambiente, os processos dinâm icos até aqui levantados con­
(acelerado processo de solidaram um processo de urbanização que poderia ser cham ado de
idas mudanças paradoxal, por apresentar urna dupla característica (Faria, 1991) :31 de
te consolidou-se urna um lado, desenvolvem os urna grande concentração de contingentes
>Faria (1991), seria pop ulacionais em algum as poucas e grandes m etrópoles (e alguns
10, heterogénea centros regionais e sub-regionais de decisiva im portância); por outro,
1capitalista, crescen- e ao m esm o tem po, expandim os urna grande quantidade de pequenos
núcleos por todo o territorio nacional, conform ando um quadro bas­
► brasileira só podem tante contraditório e dinâm ico de divisão territorial do trabalho e de
; pelos marcos relação cam po-cidade.
i experiência tar- Esse contexto de rápidas e profundas transformações se processa em
„em seu movimento um quadro de contramarchas: por um lado, a convivência com taxas
le m te la exige que se “milagrosas” de crescimento, mobilidade estrutural (social, intergeracio-
: nosso processo de nal e espacial) e por urna lógica “ incorporativa” de grandes massas h u ­
:as singularidades de manas e de grandes porções do territorio nacional, bastante potente
¡ heterogeneidades (Pacheco, 1992). Por outro, preservaram-se, recriaram-se e até se ampli­
U976; Tavares, 1981). O ficaram os traços de atraso estrutural, exclusão social e de afirmação de
► acadro das (pesadas) estruturas de dominação arcaicas (de renda, da propriedade, de domina-
; das experiências
ro da não-resolução
permitiria iluminar, pensamos, questões como a débil delimitação entre interesses rurais e
1 inplíação/renovação urbanos etc.
31 Nesse sentido, não tivemos o padrão primate city que vários estudiosos urbanos nos imputavam.
; i«sr^L5¿áo, para a discussão O nosso índice rank size de primazia urbana não se mostrou muito elevado, demonstrando a
ai.vrbação da contradição consolidação de um sistema de cidades razoavelmente equilibrado, mais bem retratado por
ciztialísta. Essa discussão um padrão lognormal de distribuição.

133
TERRITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO

ção política, de acesso ao Estado etc.) (Cano, 1981). M as, sobretudo, Chegamos, assr:
m anteve-se sem resolução a dramática questão agrária. sociedade urbanc--
Sem sedimentação na terra e na propriedade e sem direitos sociais, tura social e base
parcela expressiva da população m igrou, expulsa da terra e/ou em busca diversificaram, ■
de novas oportunidades.32 Deslocaram -se para as cidades 8 milhões de o que verem os.
pessoas na década de 1950,14 milhões na de 1960 e 17 milhões na de 1970. porções periféricas e
Algum as trajetórias geográficas desses m ovimentos poderíam ser des­
tacadas: desde os anos 50, as saídas do N orte do Paraná, na direção de
Goiás e Mato Grosso do Sul; a partir dos 60, para o Norte de Mato G ros­ 3.6 O P R O C E S S O DE
so, para Rondônia, Am azonas, Sul do Pará, Sul do M aranhão etc. Várias 1985): N A BUSCA
políticas, desde o prim eiro ano do regime m ilitar de 1964, promoveram P E R IF E R IA É

a aceleração dos processos, simultâneos, de atração e retenção popula­


cional nas áreas metropolitanas e de ocupação das novas frentes de ex­ C om o é sabido, o
pansão pelo interior do país. brasileiro foi
C om a não-resolução de questões estruturais e sem políticas públicas ximadamente 1970
de proteção social para os contingentes populacionais que ficavam à região Sudeste,]
margem do processo de m odernização e incorporação no mercado de 0 auge da conc
trabalho, a situação só não se tornou extremamente “explosiva” porque 81% da produção2
se conviveu com o que W ilson Cano (1998b) denom inou de “50 anos de total nacional í
acomodação social e regional (1924-1974)”. Vários fatores amortecedores país concentradora
do “caos social” foram criados e aperfeiçoados. Sobretudo, conheceu-se agrícola e terciária:
uma enorme (talvez uma das maiores do mundo) m obilidade social e brasileiro, sendo <
espacial. Entre esses amortecedores, cabe destaque às fronteiras agríco­ Durante a década
las, que constituíram verdadeiras “válvulas de escape”. Nesse contexto, dustrial começou a _
os processos que se desenrolaram no Paraná (1940-1960), M aranhão econôm ica para o
(1950-1960), Centro-Oeste (1960-1980) e no Norte do país (1970-1990) são país. Ocorreu a ;
ótimos exemplos de como se amenizaram as pressões advindas do não- Paulo, e a “inter
enfrentamento do “peso do passado” e do ajuste de contas com o atraso A participação da
estrutural. Tal atraso, com o dissemos, esteve marcado pela preservação Industrial) estadual
de uma estrutura fundiária (rural, que se reproduziu também no urbano) o interior aumenSoata
extremamente arcaica e pela manutenção dos espaços privilegiados para 22,5% entre 1975 e 1
a reprodução do capital mercantil.

33 Cabe ressaltar qoe ‘


maior equidade r-_,
32 George Martine (1995, p. 63) aponta alguns determinantes da aceleração da mobilidade ter­ zadas a partir do d
ritorial da população: “O crescimento econômico; as melhorias progressivas nos sistemas de permanente de j
transporte e comunicação; o modelo de modernização agrícola adotado e o esforço explícito 34 É bom lembrar i
feito para ocupar a Amazônia”. afetado mais a e
AS H ETE R O G E N E ID A D E S ESTR U TU R A IS

M as, sobretudo, Chegamos, assim, no início dos anos 70, com a consolidação de uma
sociedade urbano-industrial de massas, com interesses difusos e estru­
i direitos sociais, tura social e base material complexas. As bases de operação do capital se
•erra e/ou em busca diversificaram, não 0 núcleo orgânico de comando de sua acumulação. E
8 m ilhões de o que veremos a seguir, quando discuto a natureza do acionamento das
Milhões na de 1970. porções periféricas e da relação centro-periferia no período 1970-1985.
poderíam ser des-
, na direção de
te de Mato Gros- 3.6 O P R O C E S S O D E D E S C O N C E N T R A Ç Ã O IN D U S T R IA L R E G IO N A L (197O-
M aranhão etc. Várias 1985): N A B U S C A P O R N O V O S H O R IZ O N T E S D E A C U M U L A Ç Ã O , A

1964, promoveram P E R IF E R IA É A C IO N A D A E SE T O R N A M A IS C O M P L E X A E U R B A N IZ A D A

e retenção popula-
; frentes de ex- C om o é sabido, o processo histórico de desenvolvim ento econôm ico
brasileiro foi caracterizado no período que vai da década de 1930 até apro­
políticas públicas ximadamente 1970 por intenso processo de concentração econôm ica na
que ficavam à região Sudeste, principalmente em São Paulo.33 O ano de 1970 apresentou
no mercado de o auge da concentração industrial. O Sudeste, naquele ano, respondia por
"explosiva” porque 81% da produção industrial do país, sendo que São Paulo detinha 58% do
de “50 anos de total nacional. Outro dado ilustra a situação de região mais dinâmica do
amortecedores país concentradora não apenas da produção industrial, mas também da
o, conheceu-se agrícola e terciária: em 1970, o Sudeste contribuía com dois terços do PIB
n ob ilid ad e social e brasileiro, sendo que São Paulo contribuía com 40% (Cano, 1981).
as fronteiras agríco- Durante a década de 1970, esse quadro de grande concentração in­
Nesse contexto, dustrial com eçou a mudar, afirmando-se o processo de desconcentração
1960), M aranhão econôm ica para o interior de São Paulo e para as dem ais regiões do
pais (1970-1990) são país. Ocorreu a perda de im portância da Região Metropolitana de São
: advindas do não- Paulo, e a “interiorização da indústria paulista” foi bastante expressiva.
¿jontas com o atraso A participação da Grande São Paulo no V T I (Valor de Transformação
pela preservação Industrial) estadual caiu de 74,7% para 56,6% no período 1970-1985, e
também no urbano) o interior aumentou a sua participação no V T I nacional de 14,6% para
privilegiados para 22,5% entre 1975 e 1985.34Essa desconcentração para o interior do estado,

33 Cabe ressaltar que “este processo de concentração reforçou as antigas reivindicações por
maior equidade regional e federativa, as quais foram mais bem organizadas e institucionali­
i d o da mobilidade ter- zadas a partir do final da década de 50, do que resultaria, na década seguinte, a implantação
r s s h as nos sistemas de permanente de políticas de desenvolvimento regional” (Cano, 1981, p. 306).
e o esforço explícito 34 É bom lembrar aqui o alerta de Cano (1998b, p. 316) de que “a crise dos anos 80 parece ter
afetado mais a economia de São Paulo, aumentando a desconcentração muito mais pelas

135
T E R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO

embora se tenha dado de forma mais ou menos generalizada no territorio A ação estala.. ¿
paulista, acabou privilegiando principalm ente as regiões de Campinas, cendo in fra -e s trin
São José dos Cam pos, Ribeirão Preto, Sorocaba e Santos. estatais e, antes
Várias pesquisas do N esur -IE -U n icam p (Cano, 1988 e 1992), desde PND, voltado para í ¡
a década de 1980, analisaram em detalhes as diversas dimensões e diná­ de capital, que
micas que favoreceram esse processo de desenvolvimento interiorizado:
a expansão agropecuária moderna com intensificação de vínculos mercan­ tendeu a privilegiar
tis e produtivos com os complexos agroindustriais de processamento ou portáveis — com
com escalas adequa
industrialização de cana-de-açúcar, soja, café, laranja, carne etc.; os im ­
mineração, papd e .
pactos da política governam ental do Proálcool, a partir de 1975, com
Este movimento:
fortes efeitos indutores na produção agrícola e nos efeitos para trás das
Oeste (agribusitiess.
relações com a indústria setorial de bens de capital; as políticas estaduais
(Pacheco, 1998, pp_-
de descentralização e as ações locais para a disputa de investimentos
industriais em seus distritos; a expansão e diversificação produtiva em
Em suma, a s .
vários setores, tais com o quím ico e m etal-m ecânico, têxtil, produtos
rência à reprodução 1
elétricos e de comunicações, aeronáutico, eletrônicos etc.; a implantação
dos efeitos de t
de vários centros de pesquisas; o avanço de sua econom ia urbana,
políticas regionais t
capaz de garantir os suportes, as conexões intersetoriais e outras com ­
setor público; a i
plexas interdependências que o padrão de produção m ais m oderno
negativas da a lta .
exige; o porte e a densidade de seus mercados consum idor e de trabalho;
Metropolitana de S3ol
externalidades positivas diversas proporcionadas pelo adensamento de
funda nas estrutnn
seu sistema de cidades etc. Esses e outros fatores determinaram que a
deslocamento da 1
participação relativa do interior paulista no total da produção industrial
a expansão d o s;
nacional saltasse de 14,7% para 19,8% entre 1970 e 1980.
rios e agroindu
Enquanto a área metropolitana de São Paulo passava a aumentar as
produtivas regionais 1
chamadas deseconomias de aglomeração, apresentando grande elevação do
com suas “espe
preço dos aluguéis, das terras, dos salários relativos e também da pressão
desconcentração i
sindical, outras áreas, além do interior paulista, começaram a se tornar
Nesse processo,*]
mais atrativas (Azzoni, 1986), induzidas e acicatadas por investimentos,
nacional, ampliando]
incentivos e coordenação estatais. Conheceu-se também no período o
(densifica-se a
alargamento da fronteira agrícola e mineral, possibilitando o crescimento
avança em algumas í
das regiões mais bem dotadas para receber essas atividades (Diniz, 1993).
de produtos sen
Cabe destaque para a ocupação das porções a Oeste e Norte do país.
e para fora.
A s diversas ]
dutivas regionais, !
quedas mais altas da produção paulista do que por ‘maiores altas’ na produção periférica, população e <
constituindo, talvez, uma desconcentração mais de caráter ‘estatístico’”.

136
AS H ETE R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS

ada no territorio A ação estatal, sobretudo na periferia nacional, reforçou-se, forne­


[R ^ õ e s de Campinas, cendo infra-estrutura básica, promovendo investimentos diretos de suas
íS n to s . estatais e, antes de tudo, implementando o bloco de investimentos do II
,1988 e 1992), desde PN D, voltado para a expansão da indústria de insumos básicos e de bens
i dimensões e diná- de capital, que
ato interiorizado:
► devínculos mercan- tendeu a privilegiar os setores e sub-regiões produtoras de tradeables ex­
(d e processamento ou portáveis — com capacidade produtiva excedente e eficiente pois criada
com escalas adequadas e tecnologia atualizada (e.g. produtos siderúrgicos,
, carne etc.; os im-
mineração, papel e celulose, alumínio, suco de laranja, soja e derivados, etc.).
„a partir de 1975, com
Este movimento favoreceu o interior de São Paulo, Minas Gerais, o Centro-
iefeitos para trás das
Oeste (agribusiness), 0 Paraná, o Sul da Bahia e sub-regiões no Norte (Carajás)
i políticas estaduais
(Pacheco, 1998, pp. 7-8).
. de investimentos
ío produtiva em
Em suma, as exigências geopolíticas e geoeconôm icas de dar coe­
, têxtil, produtos
rência à reprodução material e política das elites regionalizadas; o jogo
; etc; a implantação
dos efeitos de estímulo da integração produtiva do mercado nacional; as
1economia urbana,
políticas regionais explícitas e implícitas; a ação sistêmica e orgânica do
; e outras com-
setor público; a natureza da urbanização brasileira; as “externalidades”
m ais m oderno
negativas da alta concentração de atividades e pessoas na R m sp (Região
io r e de trabalho;
M etropolitana de São Paulo); as avarias provocadas de form a mais pro­
tpek> adensamento de
funda nas estruturas produtivas mais completas e complexas do país; o
(determinaram que a
deslocamento da fronteira agrícola e mineral, as inversões do II PND,
l produção industrial
a expansão dos agronegócios, dos complexos agromercantis, agropecuá­
le 1980.
rios e agroindustriais, as diferentes form as de inserção das m atrizes
► passava a aumentar as
produtivas regionais nos específicos mercados internacionais, de acordo
► grande elevação do
com suas “especializações” setoriais produtivas etc., determinaram que a
i e também da pressão
desconcentração industrial ocorresse nesse período.
I r i r ç a r a m a se tornar
Nesse processo, a periferia logra melhorar sua inserção no mercado
i por investimentos,
nacional, ampliando seus laços de complexidade com a economia central
rtaenbém no período o
(densifica-se a m atriz insum o-p rodu to do país); a periferia também
io o crescimento
avança em algumas frentes do mercado internacional de commodities e
o ia d e s (Diniz,i993).
de produtos semimanufaturados. Em outras palavras, cresce para dentro
t Norte do país.
e para fora.
As diversas porções periféricas lograram dinam izar suas bases pro­
dutivas regionais, gerar inserção ocupacional para certas parcelas da
atss “ i produção periférica, população e diversificar algumas de suas cidades-pólo. Avança a interio-

137
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO

rização produtora do urbano m oderno não-m etropolitano e de outros (abastecimento c= l zi


variados espaços urbanos, do meio rural e da agroindústria moderna. Em da preferência dc c
suma, constituíram-se densas economias urbanas e modernas estruturas Lessa e D ain (19*2
produtivas regionais em todas as unidades da federação, em bora com a As empreiteiras
reafirmação e, muitas vezes, o redesenho das estruturais relações cen­ anos 40, a partir dc»
tro-periferia, com o não poderia deixar de ser. rodovias e energia
M ultiplicam -se e diversificam-se as bases de operação das diversas Metas, no periodo
frações de capital, numa “expansão horizontal” sobre as diversas regiões. as empresas n a c k n w
Mas a econom ia e sociedade brasileiras, dando prosseguimento à sua no governo JK as
genética capacidade de “semear cidades”, avançam em sofisticação nesse para 9.591 km e as
movimento. Implantam-se equipamentos urbanos de porte e serviços km, chegando o paas
sofisticados, com a expansão generalizada do terciário, introjetando no­ rodovias; n o penoãm
vos estilos de vida, padrões de consumo, formas de morar, de se deslocar drelétricas. A ação
etc. que requereram a construção de um urbano m oderno ao longo da espaço continental
rede urbana, que avança em extensividade e intensificação de porte e trução pesada
complexidade. Também avança a articulação funcional e físico-territorial ria destacar a
entre as cidades e os espaços sub-regionais. portação de serviços
A articulação e a complementação dos sistemas nacionais de infra- de negócios (
estrutura serão marcas da ação estatal na década de 1970 e início da de Odebrecht, Queiroz
1980. Essas ações sistêmicas serão no sentido da integração da diversi­ Conforme bem
dade econôm ica regional. Apenas com o ilustração, basta lembrar que o de um setor onde a
país possuía apenas 36 m il quilômetros de rede rodoviária, em 1966, dos isto é, onde o ‘pi
quais cerca de um terço (13.803 km) era pavimentado. Passará a 88 mil o Estado condii
km, em 1980, sendo 47 m il km pavimentados. A evolução da capacidade bora seja impo:
geradora instalada de energia elétrica é ainda mais surpreendente: em “a articulação
1962 o país contava apenas com 4.126 MW, chegando 20 anos depois a determinada empresa
32.893 MW. É o auge da construção pesada nacional. Poucas empresas se econôm ico’ se ¡orne
beneficiam desse surto. Por exemplo, entre 1960 e 1978, das 56 barragens O poder dessa
hidrelétricas construídas, 42 o foram apenas por três empresas (Camargo natureza das qui
Correa, Servix e Mendes Jr.). terá que avançar n o
É bom salientar o papel desses setores na soldagem de interesses or­
gânicos do núcleo duro do capital nacional e na moldagem e apropriação É decisivo ressaltara a í i
35
do espaço urbano-regional brasileiro. de capital social bãacmX
interesses o bloco c s g a
Tomemos os esquemas com que as empresas oligopólicas de enge­
nacional e estrarserr. O
nharia asseguravam polpudas carteiras de obras, ligados às formas com portes — e a parit ckx v
demanda para a £
que se selecionam as empresas para determinadas obras. Esses ramos
industrial fomeceõar i
executores das obras públicas de porte, nas áreas de rodovias, saneamento com a indústria á e ’m

138
AS H E TE R O G E N E ID A D E S E ST R U T U R A IS

io e de outros (abastecimento de água), energia elétrica etc. representaram setores-chave


t moderna. Em da preferência do capital nacional pelas órbitas não-industriais, segundo
ias estruturas Lessa e Dain (1982).
, embora com a As empreiteiras nacionais se originaram, em sua maioria, no final dos
relações cen- anos 40, a partir dos investimentos públicos (federais e estaduais) em
rodovias e energia elétrica. A s vultosas inversões durante o Plano de
ão das diversas Metas, no período dos governos militares, até o II PND, consolidaram
í diversas regiões. as empresas nacionais no setor. C om o ilustração, cabe m encionar que:
aento à sua no governo JK as estradas federais pavimentadas saltaram de 2.376 km
i sofisticação nesse para 9.591 km e as estaduais pavimentadas, de apenas 757 km para 4.542
t d e porte e serviços km, chegando o país em 1970 a deter uma rede federal de 54 m il km de
.introjetando no- rodovias; no período 1968-1978 foram construídas 84 barragens h i­
car, de se deslocar drelétricas. A ação estatal de provisão de infra-estrutura econôm ica no
no ao longo da espaço continental brasileiro irá assim consolidar a hegem onia da cons­
ação de porte e trução pesada realizada por empresas de propriedade nacional.35 C abe­
1 e físico-territorial ría destacar a capacidade que essas empresas desenvolverão para a ex­
portação de serviços de engenharia e sua vocação para a diversificação
aaãonais de infra- de negócios (Camargo Corrêa, Andrade Gutiérrez, Mendes Jr.,Norberto
|d r i9 7 0 e início da de Odebrecht, Q ueiroz Galvão etc.) (Ferraz Filho, 1981; Camargos, 1993).
tção da diversi- Conforme bem esclarece Ferraz Filho (1981, p. 94),'estamos na presença
bzsta lembrar que o de um setor onde a natureza do capital é predominantemente mercantil,
., em 1966, dos isto é, onde o ‘privilégio político’ garantido na articulação da firma com
Passará a 88 mil o Estado condiciona, em grande medida, a possibilidade de lucro”. Em­
o da capacidade bora seja importante certo grau de maturidade técnico-administrativa,
surpreendente: em “a articulação política parece ser um atributo prévio para [que] uma
20 anos depois a determinada empresa possa alcançar um patamar onde o ‘desempenho
LBcmcas empresas se econôm ico’ se torne um dado significativo”.
r i . das 56 barragens O poder dessa fração de capital é decisivo para o entendimento da
empresas (Camargo natureza das questões territoriais no Brasil. A pesquisa nessa área muito
terá que avançar no sentido de desvelar o papel das benesses e privilégios
de interesses or­
igem e apropriação 35 É decisivo ressaltar a solidarização de variados interesses a partir dos dispendios em provisão
de capital social básico. Conforme alerta Lessa (1978, p. 144): “Solda em uma ampla frente de
interesses o bloco da grande engenharia nacional com amplas frações de capital industrial
■ jpolicas de enge- nacional e estrangeiro. O investimento público tradicional — notadamente na área de trans­
i p õ o s às formas com portes — e a parte dos investimentos de algumas empresas estatais, se traduzem em ampliada
demanda para a grande engenharia nacional. Esta se articula com diversas frações de capital
rras. Esses ramos
industrial fornecedor de materiais e, pelo volume de emprego que gera direta e indiretamente,
I«xe - : c j ’das, saneamento com a indústria de bens finais de consumo”.

139
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO

que evidenciam a natureza marcantemente de capital mercantil desse setor, Segundo C ano -1992.
em que os horizontes de sua valorização e as formas da concorrência são urbanização, antes
condicionadas por sua capacidade de influência política (nos três níveis níveis da verdadeira ‘a
de governo, no legislativo e no judiciário) e de suas relações de poder e Conform e se pode*
“grau de intimidade” com o aparelho de Estado. população urbana 1*
O período autoritário e de tratamento tecnocrático da questão nacio­ a.a., entre 1950-1960.]
nal, em geral, e das questões urbanas e regionais, em particular, serviu 4,44% a.a., entre 15
apenas para agravar tal quadro já caótico e para soldar os interesses
mercantis mais arcaicos em torno da expansão urbana; tal esquema ex­
pansivo urbano representará papel decisivo no “pacto de compromisso”
das oligarquias regionais. ano

Os espaços regionais e a cidade brasileira vão-se enredando na malha


TO TA L m

desses interesses patrimonialistas e especulativos e se firmam com o uma


1940 4 1 .2 3 6 fl
espécie de “estufa”, campo fértil para o “cultivo” dessas frações do capital
mercantil. No território se arma uma equação político-econôm ica eficaz
entre os proprietários fundiários, o capital de incorporação, o capital de 1950 5 1 .9 9 4 - 4
construção e o capital financeiro, que passam a desfrutar de condições
vantajosas e a auferir ganhos extraordinários. Essa coalizão conservadora
1960 7 0 .1 9 1 ; M
tem seus interesses assegurados pelos cartórios, câmaras de vereadores,
pelo poder judiciário etc., travando as possibilidades de rompimento 1 1

com o atraso estrutural e de avançar no direito à cidade e na gestão 1970 9 3 .1 3 9 3 flÉ

dem ocrática e popular dos espaços regionais e urbanos.


í J
Conjunturalmente, esse amplo arco de alianças conservadoras ganha f 1
1980 1 1 9 .0 0 2 i
It
m
TI
“ares mais m odernos”, prom ovendo alguma reestruturação nas articu­
Fonte: F ibge, Censos <
lações urbano-regionais, do mercado de terras e de moradias, das rela­
ções promíscuas entre provisão pública de infra-estrutura econôm ica e
valorização fundiária. Destaque-se no Brasil o ascenso da incorporação O grau de urba
imobiliária que promove a articulação entre o proprietário original do saltando de 36,2% em i
terreno, os futuros compradores do imóvel, o construtor e o financiador velozmente a popn
(Ribeiro, 1997), esquem a que terá seu auge de sobrelucros durante a com o o Centro-
existência do BNH (1964-1983). população m orandoi
M esmo capturada por essas forças rentistas, especulativas e patrim o­ de fronteira: a pope
nialistas e, apesar da crise múltipla, a urbanização prossegue em ritmo para 4,8 m ilhões entaei
acelerado. 3,3 milhões. Avanço» 1
Os números desse processo rápido, profundo e caótico de urbanização periferização e seg
são “alucinantes”: o país expulsou 28,6 m ilhões de habitantes do meio No período 1970-ig
rural no período 1960-1980. Só na década de 1970 foram 15,6 milhões.

140
A S H E T E R O G E N E ID A D E S E ST R U T U R A IS

atil desse setor, Segundo C ano (1992), esses fatores determ inaram que o processo de
i concorrência são urbanização, antes “suportável” (no período 1930-1960), chegasse aos
i (nos três níveis níveis da verdadeira “arrebentação urbana”.
uriações de poder e Conform e se pode observar na tabela abaixo, a taxa de crescimento da
população urbana passou de 3,8% a.a., no período 1940-1950, para 5,32%
► da questão nacio- a.a„ entre 1950-1960, para 5,15% a.a., no período 1960-1970, e chegou a
l particular, serviu 4,44% a.a., entre 1970-1980.
t soldar os interesses
; tal esquema ex- População total, urbana e rural
► de compromisso” Brasil (1940-1991)

ano população (em milhares) taxas de crescimento (% a.a.)


ado na malha TOTAL URBANA RURAL TOTAL URBANA RURAL
íinnam como uma
1940 41.236 12.880 28.356
(frações do capital
onômica eficaz 2,33 3,84 1,58

ão, o capital de 1950 51.994 18.783 33.162

■ de condições 3,05 5,32 1,54


>conservadora
1960 70.191 31.534 38.657
>de vereadores,
2,87 5,15 0,60
>de rompimento
í cidade e na gestão 1970 93.139 52.084 41.054

2,48 4,44 -0,62


radoras ganha
1980 119.002 80.436 38.566
ão nas articu-
Fonte: F ib g e , Censos demográficos de 1940 a 1980
adias, das rela-
. econôm ica e
i da incorporação O grau de urbanização teve rápida aceleração no período 1950-1980,
io original do saltando de 36,2% em 1950 para 67,6% em 1980. Em todas as regiões, cresceu
■ e o financiador velozmente a população urbana, mesmo em regiões mais despovoadas,
ros durante a como o Centro-Oeste, que no período passa de 24,4% para 70,8% de sua
população m orando em cidades. Avançou a urbanização interiorizada e
czlativas e patrimo- de fronteira: a população urbana do Centro-Oeste passou de 2,3 milhões
rrossegue em ritmo para 4,8 m ilhões entre 1970 e 1980; no Norte, saltou de 1,7 m ilhão para
3,3 milhões. Avançou também o processo de metropolização, com alta
«acGco de urbanização periferização e segregação socioespacial, que se multiplicaram pelo país.
(<áe -¿.hitantes do meio No período 1970-1980, as regiões metropolitanas tiveram taxas elevadas
iirarn 15,6 milhões.

141
TERRITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO

de crescimento, em média 4,4% ao ano. A população concentrada nessas e crescentemenre —


áreas passou de 23,7 m ilhões para 32,1 milhões. transformações
Segundo Maricato (2001), o Brasil é marcado pelo gigantesco m ovi­ Assim, ex p lo crz
mento de construção de cidades, mas, ao mesm o tempo, o processo de para resolvê-las . 2
urbanização se apresenta como uma máquina de produzir favelas e depre­ não-pertencim ento
dar o meio ambiente. É importante ressaltar com o a rápida estruturação (Pacheco, 1992}, a cr
desse ambiente socialmente construído possibilita a auferição de ganhos mercado de trabalha.
pecuniários e trocas políticas, sobretudo pelo papel central que a cidade Em países cc
ilegal desempenha nesse processo.36 C om o a autora bem esclarece, no esses processos se 1
Brasil o direito à invasão é até tolerado, mas não o direito à cidade. mas urbano-re
Essa forma peculiar de construção dessas economias urbanas é baseada hinterlands, que se *
na convivência do avanço que permanentemente transforma e moderniza estruturas produ
esse espaço construído, com a recriação recorrente de formas de domínio cíficos. Vilm ar F a iñ i
político, de exclusão social e do atraso estrutural.
A estrutura fundiária arcaica e a preservação clientelística dos espaços um certo padrão de *

de reprodução do capital mercantil em suas diferentes faces (imobiliário, levando a uma 1


comercial, transportes urbanos e outros serviços etc.) foram responsáveis urbano. Esse padrãoi
mente, em estruturas *
pela explosão dos custos da urbanização brasileira e pela periferização
cidades brasileiras, i
da população de baixa renda (que se “horizontalizou” pelo espaço ur­
posição e função das i
bano), enquanto os estratos de mais alta renda realizaram a “segregação
socioespacial” voluntária — em espaços privilegiados e bem -dotados de
Nesse contexto, 1
infra-estrutura. Esses processos se deram de forma mais ou menos gene­
com o importante <
ralizada em todas as macrorregiões brasileiras, impulsionados pelas altas
É fundamental, i
taxas anuais de crescimento da população urbana no período 1970-1980;
de aderência e ;
a m édia do país foi de 4,44%: Norte (6,62%); Nordeste (4,10%); Sudeste
estrutura produtiva 4
(3.99%); Sul (4,98%) e Centro-O este (7,64%).
A expansão
Não apenas as áreas de grande concentração m etropolitana vão co­
acelerou e, ao lado d e i
nhecer tal processo caótico, mas inclusive as áreas “beneficiadas” pela
longo do período i
interiorização do desenvolvimento irão deparar-se com crescentes níveis
de produção e 1
de deterioração das condições de vida. Espalharam-se e disseminaram-se,
urbano-regionais d e i
até em centros urbanos menores, as carências, conflitos e contradições
produtivas e subs
de uma complexa sociedade urbano-industrial de massas, em uma “na­
exportáveis, com i
ção” periférica (em construção e de cidadania truncada e inconclusa)
diram nas porções]

36 “A ocupação do solo obedece a uma estrutura informal de poder: a lei de mercado precede a 37 Colocando, “na ordemá
lei/norma jurídica. Esta é aplicada de forma arbitrária. A ilegalidade é tolerada porque é válvu­ dos processos de i
la de escape para um mercado fundiário altamente especulativo” (Maricato, 2001, p. 83). na década de 1960,1

142
A S H E TE R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS

► concentrada nessas e crescentemente m arginalizada pelo processo de rápidas e profundas


transformações no capitalismo mundial.
>gigantesco movi- Assim, explodiram as demandas sociais (perante um Estado impotente
► ampo, o processo de para resolvê-las), a violência urbana, a marginalidade37 (no sentido do
rfavelas e depre- não-pertencim ento ao contexto social m oderno e da não-cidadania)
i lapida estruturação (Pacheco, 1992), a criminalidade, a inform alidade e a precarização do
lanterição de ganhos mercado de trabalho.
[central que a cidade Em países continentais e com fortes desigualdades com o o Brasil,
i bem esclarece, no esses processos se dão segundo os diferentes ritmos de seus subsiste­
láu u ilo à cidade. mas urbano-regionais, calibrados pelo dinam ism o de seus respectivos
► urbanas é baseada hinterlands, que se encontram articulados de forma diversa a diferentes
ia e moderniza estruturas produtivas e ocupacionais dos subconjuntos nacionais espe­
: formas de dominio cíficos. V ilm ar Faria (1976, p. 109) apontou tal questão, ao sugerir que

ica dos espaços um certo padrão de divisão interurbana do trabalho vem ocorrendo no Brasil,
t laces (imobiliário, levando a uma diferenciação funcional das cidades no interior do sistema
i foram responsáveis urbano. Esse padrão de divisão interurbana do trabalho reflete, fundamental­
te pela periferização mente, em estruturas ocupacionais marcadamente diferentes entre as várias
cidades brasileiras, nem sempre relacionadas ao tamanho da cidade e sim à
' pelo espaço ur-
posição e função das diversas cidades no sistema urbano.
i a “segregação
»e bem -dotados de
Nesse contexto, os estudos da rede urbana brasileira se apresentam
¡ ou menos gene-
com o importante escala espacial e prism a analítico a se explorar melhor.
anados pelas altas
É fundamental, nessas investigações, avançar no entendimento do grau
► período 1970-1980;
de aderência e articulação dos “subsistemas regionais de cidades” com a
(4,10%); Sudeste
estrutura produtiva de cada região.
A expansão extensiva e intensiva da fronteira agrícola e m ineral se
► metropolitana vão co-
acelerou e, ao lado de outros fatores desconcentradores, determinou, ao
“beneficiadas” pela
longo do período 1970-1985, a montagem de vários sistemas localizados
í com crescentes níveis
de produção e beneficiamento de commodities e a estruturação de espaços
í e disseminaram-se,
urbano-regionais de certo porte. Alguns elos importantes das cadeias
,.onefitos e contradições
produtivas e subsistemas regionais de produção processadores de bens
cassas, em um a “na-
exportáveis, com razoável grau de maturidade técnica, também se expan­
jcada e inconclusa)
diram nas porções periféricas da continental economia brasileira. Foram

ie mercado precede a 37 Colocando,“na ordem do dia”, como marco fundamental para a investigação das especificidades
; : C.erada porque é válvu- dos processos de urbanização latino-americano e brasileiro, o retorno às questões colocadas,
■ Mein1-: -lt_cara 2001, p. 83). na década de 1960, por Quijano (1968); Nun (1969) e Cardoso (1971).

143
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO

criados ou reforçados esparsos pontos com alguma capacitação, embora, Em geral, tai5 :
geralmente, com fraca articulação e complementaridade entre si. parados por um¿
Parte do debate sobre a questão regional brasileira no período acabou crediticios, pelos í«
orientado por form ulações ortodoxas, com o o debate sobre reversão da tório nacional, .
polarização, e se ateve à discussão da distribuição geográfica dos pesos na logística de <
relativos dos PIBs regionais ou de distribuição regional da renda e do regionais foram re
emprego. Penso que, muito mais do que discutir localização de plantas internacional,
industriais, atividades terciárias e inversões agropecuárias, importa estar herdado do antigo :
atento à natureza da sofisticação da divisão social do trabalho, em seu A s indústrias <ãe 1
corte inter-regional, buscando decifrar suas manifestações regionalizadas, produtores de cc
sobretudo nas economias urbanas complexas, centrais ou periféricas, e as rios, siderurgia ¡..
diferentes frações sociais e coalizões políticas regionais que se beneficia­ matéria-prima, c
ram das transformações processadas em seu território e da diferenciada semi-enclavadas •
sensibilidade local à crise e às políticas econômicas. e Espírito Santo 1-
No decênio entre meados das décadas de 1970 e 1980, acelera-se a perda Na agroindústriauí
de poder orgânico e sistêmico do Estado brasileiro. Este perde poder de o Centro-Oeste, ¡
coordenar, de orientar e prom over frentes de expansão periféricas ou complexos de grãOM
mesmo “dentro do núcleo central”. Nesse sentido, ao final da década de O crescimento da ¡
1970, vai-se erodindo paulatinamente uma das principais características em novos sistemas i
que marcaram a integração nacional e a construção do urbano moderno regiões brasileiras i
em todo o território nacional: o processo das decisões de inversão era tudo os infra-e
amparado por ampla capacidade de coordenação das decisões públicas agropecuária coi
e privadas. os capitais mercantis
C om a perda de capacidade orgânica e sistêmica do Estado brasileiro, processo de
grande parte do acionamento da periferia se deu seguindo os cam inhos A década de r
de m enor resistência, convergindo para o processamento e/ou indus­ da diversidade
trialização de commodities minerais, minerometalúrgicas, siderúrgicas, nossa herança r<
agrícolas e agroindustriais. Sua com petitividade esteve ancorada em mente comple:
econom ias de escala e em energia, m ão-de-obra e recursos naturais ba­ sob amparo do Estadk
ratos, ou seja, em vantagens competitivas espúrias, altamente favorecidas N um país com o a
e amparadas por incentivos fiscais e apoiadas em políticas de atração de dim ensão territorial
investim entos a qualquer custo, m uitas vezes com débeis requisitos inter-regional, a
de integração intersetorial. verdadeiro vácuo
O m aior espraiamento de alguns ram os wage goods se encontrou regional e urbano, aOeBi
constrangido pelo padrão de alta concentração na distribuição de renda
do país e na estreiteza dos mercados internos periféricos, exceção para 38 Segundo Diniz ¡aocs. ] sj9ÉI
(grãos e pecuária de
suas áreas metropolitanas e algumas cidades de porte médio. laranja, horti cultera.
A S H E TE R O G E N E ID A D E S E S TR U TU R A IS

itação, embora, Em geral, tais processos e padrões produtivos periféricos foram am ­


: entre si. parados por uma desregrada concessão de favores e incentivos fiscais e
>período acabou crediticios, pelos salários mais baixos vigentes em certas áreas do terri­
: sobre reversão da tório nacional, pela disponibilidade de recursos naturais e pela melhoria
»geográfica dos pesos na logística de escoamento da produção. Muitas estruturas produtivas
da renda e do regionais foram remodeladas, orientadas por dem andas do m ercado
rb a O za çã o de plantas internacional, m inando o já baixo poder de integração inter-regional
, importa estar herdado do antigo padrão regional brasileiro.
trabalho, em seu As indústrias de bens interm ediários, notadam ente os com plexos
regionalizadas, produtores de commodities (papel e celulose, processamento de m iné­
>ou periféricas, e as rios, siderurgia), cuja lógica de localização é determinada pelo acesso à
■ que se beneficia- matéria-prima, continuaram expandindo-se em diversas “plataformas”
i e da diferenciada semi-enclavadas (Pará-Carajás, Sul da Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais
e Espírito Santo).
^acelera-se a perda Na agroindústria, vários implantes se realizaram, com destaque para
LÜste perde poder de o Centro-Oeste, com a geração de grande potencial de expansão dos
periféricas ou complexos de grãos e carnes, ampliados pelo uso de incentivos fiscais.38
i final da década de O crescimento da produção de aves e suínos no Centro-Oeste, assentado
¡ características em novos sistemas de integração, avançou muito. Porém essa é uma das
i do urbano moderno regiões brasileiras mais dependentes dos investimentos públicos, sobre­
de inversão era tudo os infra-estruturais. Assim , no período 1970-1985, essa produção
>das decisões públicas agropecuária continuou exercendo certo papel de frente de expansão para
os capitais mercantis e agroindustriais, engendrando rápido e peculiar
id o Estado brasileiro, processo de urbanização de fronteira.
u e sin n d o os caminhos A década de 1980 trouxe uma significativa mudança na articulação
lento e/ou indus- da diversidade regional brasileira, a partir do ajuste externo, negando
s, siderúrgicas, nossa herança regional de montagem de estruturas produtivas relativa­
: esteve ancorada em mente complementares, com baixo grau de abertura para o exterior e
e recursos naturais ba­ sob amparo do Estado.
ratam ente favorecidas N um país com o o Brasil, em que a ação estatal, inclusive em sua
iisecitlcas de atração de dim ensão territorial, foi tão ativa, e com forte poder de coordenação
( casr: débeis requisitos inter-regional, a dim inuição dessa form a de intervenção provocou um
verdadeiro vácuo no processo decisorio acerca do desenvolvim ento
g-zoãs se encontrou regional e urbano, até hoje não ocupado.
d-irribuição de renda
rencos, exceção para 38 Segundo Diniz (2001, p. 12), teria ocorrido uma “combinação da fronteira agrícola extensiva
(grãos e pecuária de corte), com a intensificação da fronteira agrícola interna (cana-de-açúcar,
m e médio. laranja, horticultura, fruticultura e leite), as quais atraem novas indústrias”.

145
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO

A partir da década de 1980, tal situação econômica e social se agravou.


Ocorreram mudanças profundas no “padrão de sociabilidade”, estancan­
do a m obilidade estrutural da “civilização brasileira”. A o mesmo tempo, Transformações
acelera-se a crise fiscal e financeira do Estado brasileiro, encerrando o crise estrutural
“padrão desenvolvimentista” de sua atuação. É o que veremos no pró­ construção da
xim o capítulo.

4 .1 IN T R O D U Ç Ã O

Para além do esg~


vimento, o que í
conformam a crise
por outro, resultando
nesse momento.
O que quero
recorrências histc
sa. Nesse sentido, e
estruturais, as n r
(e sua relação com o
a crescente marg
esse é o campo onde
urbana) do subdes
A s décadas de 1
sação histórica,
não-enfrentamento e
heranças complexas
geração. São as pet
passivos sociais e ]
com a barriga” e
turais. Assim, hoje
apresenta-se uma

146
e social se agravou. C a p ít u l o 4
de”, estancan-
' Ao mesmo tempo, Transformações no “padrão de sociabilidade” do Brasil,
i, encerrando o crise estrutural do Estado e a natureza do impasse na
veremos no pró-
construção da nação: algumas especulações (1985-2003)

t
i

4.1 INTRODUÇÃO

i Para além do esgotamento de um padrão de acumulação e de desenvol­


vimento, o que ressaltarei neste capítulo são as mudanças estruturais que
¡ conformam a crise de um “padrão de sociabilidade” e sua não-substituição
i por outro, resultando nos impasses vividos pela nação em desconstrução
nesse momento.
O que quero destacar é o recrudescim ento dos velhos impasses e das
recorrências históricas de nossa reprodução social como nação inconclu­
sa. Nesse sentido, é preciso retomar antigos temas: as heterogeneidades
estruturais, as mudanças e continuidades do pacto de dominação interna
(e sua relação com o exterior), nossa reiterada vulnerabilidade externa,
a crescente m arginalização da m aioria da população etc. Entendo que
esse é o campo onde deve ser investigada a dimensão espacial (regional e
urbana) do subdesenvolvimento brasileiro.
As décadas de 1980 e 1990 marcam momento inusitado de conden­
sação histórica. C ondensação singularizada pelo pretérito (e eterno)
não-enfrentamento e acerto de contas com o passado, apesar do peso das
heranças complexas que foram sendo deixadas sempre para cada próxima
geração. São as permanências do atraso estrutural. Acum ulam os pesados
passivos sociais e políticos com os séculos X VII e XVIII e “empurramos
com a barriga” e saltamos à frente nos “gargalos econôm icos” conjun­
turais. Assim, hoje estamos diante de uma típica “crise de civilização” :
apresenta-se uma extensa desarticulação econômica, social e política que

147
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO t r a n í? :;

multiplica/diversifica interesses e complexifica a identidade dos atores. e ganham novas


Nesse ambiente híbrido, torna-se im perioso questionar-se acerca da novos recursos cc-s c
natureza do impasse da construção da nação brasileira. propostas alheias a
Apesar dos entraves seculares, constituím os uma econom ia capita­ impasse e no barbara
lista com plexa e um a sem iplena sociedade industrial de massas, com tos individuais — n
base material e com valores m odernos que clamam por dinam ism o, blicizado — , a fira
por “reprodução ampliada”, em um ambiente am orfo de anom ia social, da vida se aceleram ;
atraso e “paralisia” política — agravada durante o recente período neoli­ zem uma soldagem 1
beral — e ciclotím ico (com m édia baixa) desem penho econôm ico. para a “civilização ta
Em síntese: simultaneamente, construímos talvez a mais veloz máquina articular consensual
capitalista de crescimento e constituímos a mais desigual estrutura social e, cional”.
provavelmente, a mais eficiente máquina de exclusão social do planeta. É nesse quadro i
Há anos, as contribuições de Belluzzo e Mello têm sido fundamentais nossa história preço
por colocarem a discussão dessa temática no plano das mudanças no reprodução social ia
“padrão de sociabilidade” brasileiro, exacerbadas no momento da “contra- econôm ico — , que a
revolução liberal-conservadora”, que se afirmou ao longo das duas últimas das agora, numa
décadas.1 D iscutem com o a sociedade brasileira não tem conseguido condensa na con'
imunizar-se contra o particularismo, o imediatismo e o privativismo dos O Estado de
interesses. Afirma-se a perda de referências para a ação coletiva. O espaço construção da j
público deslegitima-se. O ambiente e a situação tipicamente hobbesiana múltipla, em várias
da luta de todos contra todos conspira contra o próprio federalismo e (esgarçamento e :
destrói até mesm o um dos antigos referentes basilares de uma parcela soberania). C or
de nossas elites: o nacionalismo, fundado no território.2 Recentemente, para organizar,
Tavares (1999) realizou grande síntese do papel desem penhado pelo aprisionado na
território na dinâmica econôm ica e social brasileira. Analisaremos a
A violência e a m ultidimensão da crise solapam as bases da esfera que determinou o
pública, os interesses postos na sociedade se complexificam, se amplificam volvimento.

1 Essas contribuições vão desde os artigos de Belluzzo na revista S e n h o r , no início dos anos 8o,
até o recente trabalho de Mello e Nováis (1998). Constata-se que “havia um valor universal 4.2 D E T E R M IN A Ç Õ E S
que era comum a todos, a construção da Nação e da Civilização Brasileira, que supunham a T R A N SF O R M A D
industrialização e a modernização da sociedade” (Mello, 1992, p. 64).
2 “O nacionalismo, como ideologia do consenso nacional, e o populismo, como prática política
do pseudodistributivismo, eram os alicerces dessa construção, ao mesmo tempo em que Existe hoje vasta e
encobriam o divórcio estabelecido entre a idéia de nação e a de cidadania” (Martins, 1993). O mudanças estruturais
professor Carlos Lessa vem-nos oferecendo nos últimos anos reflexões interessantes sobre
a auto-estima brasileira. Lessa (1998) apresenta dois ótimos exemplos de que éramos por­
tadores de uma “vontade nacional poderosa” que mobilizava a nação: a luta pelo petróleo e 3 Mello resgatou essa
a construção de Brasília, que estava fundada em “uma concepção mágica de nacionalidade, 4 Entre tantos bons
fundada no território” [e em suas riquezas latentes, no caso do petróleo]. Chesnais (1994).

I48
T R A N SF O R M A Ç Õ E S N O “ PA D R Ã O D E S O C IA B IL ID A D E ” D O BR A SIL

ide dos atores, e ganham novas formas e canais de expressão. O poder de resistência e os
r-se acerca da novos recursos dos contendores consagram o poder do lobby de vetar
propostas alheias com o estratégia dos vários atores, desaguando no
i econom ia capita- impasse e no barbarismo sem direção. A serialidade dos diversos proje­
: de massas, com tos individuais — impossível de qualquer totalização em um locus pu-
por dinam ism o, blicizado — , a fragmentação da realidade e o estilhaçamento das esferas
► de anom ia social, da vida se aceleram sem peias, carentes de valores universais que reali­
te período neoli- zem uma soldagem m ínim a legitimadora de um sentido e uma direção
■ econôm ico, para a “civilização brasileira”, obstruindo qualquer ação no sentido de
ia u is veloz máquina articular consensualmente maiorias em torno de qualquer “projeto na­
l estrutura social e, cional”.
t social do planeta, É nesse quadro de decom posição, num a espécie de contram ão da
i s d o fundamentais nossa história pregressa de “procissão de milagres”3 — em que nossa
das mudanças no reprodução social foi “sendo tocada” em um ambiente de dinam ism o
omento d a“contra- econôm ico — , que as grandes questões nacionais devem ser enfrenta­
t das duas últimas das agora, numa espécie de processamento de todo o passado, que se
tem conseguido condensa na conjuntura.
roprivativism o dos O Estado desempenhou papel decisivo durante o longo processo de
(coletiva. O espaço construção da nação. Nas décadas de 1980 e 1990, acirrou-se uma crise
ente hobbesiana m últipla, em várias dimensões: econôm ica (sem crescim ento), social
ío federalismo e (esgarçamento e sem direção de propósitos coletivos) e política (sem
de uma parcela soberania). Consolida-se a total desarticulação do Estado, im potente
l~Recentemente, para organizar, coordenar e regular ações construtivas e romper a inércia,
¡ desem penhado pelo aprisionado na armadilha financeira.
Analisaremos a seguir o ambiente mais geral, internacional e interno,
as bases da esfera que determinou 0 esgotamento do padrão de acumulação e de desen­
i, se amplificam volvimento.

t . no início dos anos 8o,

; um valor universal 4.2 D E T E R M IN A Ç Õ E S E X T E R N A S E IN T E R N A S D A S


i Jkasjeira, que supunham a T R A N S F O R M A Ç Õ E S , CR ISE S E IM PASSES

como prática política


. ¡c nesm o tempo em que Existe hoje vasta e profunda literatura sobre o período mais recente de
-,ra -.í-:.a~ lMartins, 1993). O mudanças estruturais no sistema capitalista.4 Não caberia aqui discutir
:n u iis le s interessantes sobre
t w i r n c s de que éramos por-
¿¿¡z : i luta pelo petróleo e 3 Mello resgatou essa expressão de Holanda (1959), atualizando-a.
-única de nacionalidade, 4 Entre tantos bons trabalhos, lembraria: Tavares e Fiori (1997); Fiori (1999); Hobsbawm (1995);
Chesnais (1994).

149
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO T R A X S r -- - . '!'w

as diversas dimensões desse processo: “regime de acum ulação” finan- Não obstante a i
ceirizado, “reestruturação produtiva” e organizacional, precarização das na segunda metade
relações de trabalho, exclusão social, regional5 etc. constitutivos de ave-sãc ;
Torna-se necessário apenas lembrar que algumas determinações inter­ produtiva. As reforma* 9
nacionais6 impuseram, a partir dos choques do petróleo e dos juros dos doras, conduzindo i
últimos meses do ano de 1979 e da retomada da hegem onia americana, do sistema financeiro 3
pesado ônus sobre a economia e sociedade brasileiras, quebrando aquela O maciço inflirre *
trajetória de crescimento que analisamos no capítulo anterior e rebatendo strategy revela a (e e 3
diretamente na capacidade do Estado de realizar o seu papel histórico, do sistema financeiro 1
que vinha desempenhando, sobretudo a partir dos anos 30. captação, mobilizaçãou
É como se retornássemos à “realidade dos fatos” de nossas vulnerabi­ prazos, nas condições ca
lidades estruturais. Revelaram-se os bloqueios determinados por nossa rebatendo no Estado.
experiência de montagem da máquina capitalista sem seus três principais Por não se er
motores que impulsionam as forças produtivas de uma economia nacional: requerida, o governo 3
0 aparelho financeiro (supridor de crédito de longo prazo, estruturador de a recorrer ao mercado i
um padrão de financiamento virtuoso), o aparelho fiscal (não-regressivo financeiros externo* 1
e com carga impositiva adequada e mecanismos antievasão de tributos) e financeiro locaL.
0 aparelho de aprendizagem científica e tecnológica (gerador, absorvedor de recursos no <
e adaptador de inovações). financiamento dor
Cabe aqui relembrar que o exame dos m ecanism os centrais de fi­ O aríete era a <
nanciam ento dos setores públicos e privados vigentes é revelador da recursos oriundos d o i
natureza de nosso padrão de financiamento: de nosso frágil esquema considerados <
de provisão de crédito, assentado em um non sistem, vale dizer, no diversos projetos j
pragmatismo de soluções via engates recorrentes nos fluxos financeiros Assim, a estatização <
externos, espelhando o caráter atrofiado e, em certo sentido, ad hoc de A partir da crise da<
nossa forma de financiamento. de financiamento <
trajetória histórica de*
5 Mais à frente, analiso os desdobramentos da “nova partilha dos lugares eleitos” que esse “novo de recursos ao <
imperialismo” impõe.
ao crescimento p orj
6 É bom frisar com Carneiro (2002, p. 28) que “são as conjunturas históricas específicas que
determinam a hierarquia dos fatores externos e internos como elementos de obstáculo ou vim ento da m oeda i
estímulo ao crescimento”. Esse jogo complexo de determinações endógenas e exógenas se “atrofia da base pr
torna exacerbado, posto que “a economia brasileira não pode ser caracterizada como integral­
mente reflexa ou dependente e tampouco como inteiramente autônoma. A dependência e a estruturais aos raios*
autonomia, e mais ainda os seus graus, se alternam ao longo dos vários momentos históricos, econôm ica nacionaLt
atuando como fator limitante ou estimulante do crescimento. Em resumo, nossa economia é
suficientemente grande e complexa para retirar parte de seu dinamismo de fatores puramente
o esgotamento do j
endógenos, sobretudo da dimensão do seu mercado interno e da correspondente complexidade articuladores do ¡
das relações econômicas. Ao mesmo tempo, não se constitui como uma unidade capaz de
Toda essa cor
engendrar ciclos próprios de inovação tecnológica, tampouco constrói uma base financeira
doméstica capaz de financiar adequadamente o investimento”. o exercício de p o l

I5O
T R A N S F O R M A Ç Õ E S N O “ P A D R Ã O D E S O C IA B IL ID A D E ” DO B R A SIL

; acum ulação” finan- Não obstante a modernidade e complexidade do arcabouço montado


, precarização das na segunda metade da década de 1960, este não superou seus caracteres
constitutivos de aversão ao longo prazo e ao entrelaçamento com a órbita
rações inter- produtiva. A s reformas bancária e financeira acabaram sendo concentra­
>e dos juros dos doras, conduzindo à conglomeração, oligopolização e internacionalização
aonia americana, do sistema financeiro nacional.
^quebrando aquela O m aciço influxo de recursos financeiros de nossa growth-cum-debt
Kerior e rebatendo strategy revela a (e é resultante da) vulnerabilidade decorrente da atrofia
eu papel histórico, do sistema financeiro nacional — precário para prover mecanismos de
ms 30. captação, mobilização, intermediação e repasse de fundos domésticos nos
; nossas vulnerabi- prazos, nas condições e na dim ensão necessária — , o que acaba sempre
ados por nossa rebatendo no Estado.
iseus três principais Por não se encontrar disponível crédito dom éstico na formatação
1 economia nacional: requerida, o governo passa a elevar os juros para induzir os tomadores
^estruturador de a recorrer ao mercado internacional de crédito, tornando esses recursos
l (não-regressivo financeiros externos mais atrativos que os recursos captados no sistema
1de tributos) e financeiro local. Assim, a legislação regulatória instituída para a tomada
Mçerador, absorvedor de recursos no exterior selou definitivamente a soldagem do sistema de
financiamento dom éstico aos circuitos internacionais de crédito.
centrais de fi- O aríete era a empresa estatal que, absorvendo ônus diversos, distribuía
é revelador da recursos oriundos do exterior e os carreava aos segmentos empresariais
' frágil esquema considerados estratégicos, angariando apoios para que a implantação dos
. vale dizer, no diversos projetos governamentais não sofresse solução de continuidade.
¡ üuxos financeiros Assim, a estatização da dívida externa acelera-se exponencialmente.
■ sentido, ad hoc de A partir da crise da dívida dos periféricos, com a ruptura do circuito
de financiamento externo, tivemos variados constrangim entos naquela
trajetória histórica de “fuga para frente”. Tivemos caudalosa transferência
í e.ei:os que esse novo de recursos ao exterior durante os anos 1983-1989; inúmeras imposições
ao crescimento por parte do FMI; pressões hiperinflacionárias; desenvol­
f nsc^ricas específicas que
~t>5 de obstáculo ou vim ento da m oeda indexada; profunda crise fiscal-financeira do Estado;
■ m argenas e exógenas se “atrofia da base produtiva doméstica”; vulnerabilidades e condicionantes
ra ra c s riiã d a como integral-
cHEircri. A dependência e a estruturais aos raios de manobra de autonomia na condução da política
t Forirí momentos históricos, econôm ica nacional. O u seja, uma conjugação de fatores que determinou
: ris-emo- nossa economia é
re fatores puramente
0 esgotamento do padrão de crescimento e 0 desmonte dos mecanismos
. — = t m iente complexidade articuladores do processo de desenvolvimento.
~ = unidade capaz de
- : uma base financeira
Toda essa conjugação de m ecanism os e interesses p erversos travou
o e x e r c íc io d e p o lític a s m o n e tá r ia s e fis c a is “a tiv a s” e “a u tô n o m a s”.

151
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO 5
TRAN .- : .- .. I

O Estado abrigou e absorveu compromissos e incapacitou-se para finan- cum pridor de suü
ciá-los (Cruz, 1994). e esterilizador CCi iSü
A divida pública foi rolada em grande parte “pelo setor privado através da frugalidade : se '
de suas aplicações em títulos públicos indexados. Desde os anos 1980, e se ajustou; agora. ^
as grandes empresas privadas, com a reestruturação de suas posições de seu patrim ônio
ativas e passivas, realizada ao longo da década e apesar da brutal onda de atividades e funções*.
fusões, aquisições etc., promoveram um ajuste defensivo e se tornaram aberta, moderna e .
mais “leves” e “flexíveis” para responder conjunturalmente aos sinais do Mas a real historia*
curtíssim o prazo e, buscando assegurar a defesa de sua rentabilidade, brasileiro é a de um 3
escapando de ampliar a capacidade produtiva instalada, preservaram desenvolvimento«
uma extraordinária liquidez, não se comprometendo com imobilizações cias, na crise que se ]
significativas, não contratando crédito e, portanto, avessas à geração de papel de m obilizadar*
riqueza nova, convertidas em rentistas, ancoradas que estão na mera tudo, socializadordef
preservação patrimonial. m ica e investidor <
arcou com todo o <
O paradoxo da situação é que o Estado acumulou um crescente estoque de “década perdida” I
dívida para cumprir com o serviço da dívida externa e para socializar o ônus
tornando-se refém <
do ajuste do setor privado, enquanto este último, por sua vez, passou a financiar
sistêmica, regulador* e t
o Estado via operações de mercado aberto. Esse circuito passou a representar
O u seja, os
o mecanismo de manutenção do valor da riqueza privada acumulada e que
setor público devem 1
deixou de ser canalizada para investimentos produtivos (Baer, 1993, p. 40).
crítica das condições 1
não podem fica r;
Sem disponibilidade de m ecanismos adequados de financiamento,
Contraditória
tendo que operar em um horizonte temporal mais largo, para ampliar
as empresas estatais 1
a capacidade produtiva em setores-chave e constrangido a sancionar o
curto prazo e postas 1
enriquecimento de uma miríade de setores abrigados em seu seio, o Esta­
turáis, geradoras de <
do brasileiro aprofunda sua crise estrutural de financiamento do Estado.
mentos e, segundo®*
M esmo nesse contexto crítico, foi obrigado a absorver o ônus do ajuste
plem entação de
do setor privado, que acabou suportado pelo setor público.
manifesta no hiato d e i
O governo oferta um amplo espectro de linhas seletivas de crédito e
dexação de preços e 1
expande os subsídios e outros favores, procurando dar guarida à pulve­
Também não puderamI
rização de interesses imperantes. Refletindo o m alogro na m onopoliza-
Desse modo, o 1
ção de seu capital, o país se enredou na cilada do sobreendividamento
m indo o papel de ]
baseado em juros flutuantes.
por aniquilar sua t
H á m ais de duas décadas estam os viven do m om ento de enorm e
Desde o início d a 4
hostilidade em relação ao Estado. Grassa o discurso da ineficiência do
seus portfolios com 1
Estado paquidérmico — sustentado pelo sóbrio e modesto contribuinte,
da estrangeira e 1

152
T R A N SF O R M A Ç Õ E S N O “ PA D R Ã O DE S O C IA B IL ID A D E ” D O B R A SIL

tou-se para finan- cum pridor de suas obrigações com o fisco — e do setor público, sugador
e esterilizador dos esforços do “mundo privado” (reino da eficiência e
»setor privado através da frugalidade) que se “sacrificou e se purgou” com a crise dos anos 80
. Desde os anos 1980, e se ajustou; agora, proclama-se que o Estado faça sua parte e abra mão
>de suas posições de seu patrim ônio público, para concentrar-se em suas “verdadeiras
rda brutal onda de atividades e funções”, suprindo falhas de mercado em um a econom ia
ro e se tornaram aberta, m oderna e competitiva.
ate aos sinais do Mas a real história da desorganização fiscal-financeira do setor público
1de sua rentabilidade, brasileiro é a de um Estado bancador em últim a instância do padrão de
liaflalada, preservaram desenvolvimento capitalista no país, que levou às derradeiras conseqüên-
>com imobilizações cias, na crise que se prolonga desde o final dos anos 70, seu histórico
kavessas à geração de papel de m obilizador de recursos, transferidor de fundos e, acim a de
, que estão na m era tudo, socializador de perdas; além de agente da regulação m acroeconô­
m ica e investidor direto, term inou por se tornar o mutuário final que
arcou com todo o ônus e os riscos do ajustamento do setor privado na
1 crescente estoque de “década perdida”. Colapsa totalmente sua capacidade de gasto e iniciativa,
ic paia socializar o ônus tornando-se refém do setor privado líquido e imobilizado em sua ação
itcz , passou a financiar
sistêmica, reguladora e estruturante.
>passou a representar
O u seja, os determinantes do estrangulamento fiscal-fmanceiro do
aferrada acumulada e que
setor público devem ser examinados no contexto mais amplo da situação
1 Baer, 1993, p. 40).
crítica das condições gerais de financiamento da econom ia brasileira e
não podem ficar adstritos à discussão de uma mera “crise fiscal”.
de financiamento,
Contraditoriamente e em prejuízo das tarefas que se lhes propunham,
; largo, para ampliar
as empresas estatais foram usadas com o instrum entos de política de
jdo a sancionar 0
curto prazo e postas no centro dos manejos m acroeconôm icos conjun­
¡ em seu seio, o Esta-
turais, geradoras de divisas para cobrir os déficits do balanço de paga­
aciamento do Estado.
mentos e, segundo 0 discurso oficial, os veículos privilegiados da com-
Kjrver o ônus do ajuste
plem entação de nossa “insuficiente poupança interna” — deficiência
■ público.
manifesta no hiato de recursos reais. As estatais são obrigadas à subin-
; seletivas de crédito e
dexação de preços e tarifas, aniquilando suas receitas operacionais.
dar guarida à pulve-
Também não puderam tomar empréstimos internamente...
HHEÚogro na m onopoliza­
Desse modo, o Estado enfeixa em suas mãos os compromissos, assu­
rá: sobreendividamento
m indo o papel de protetor dos riscos cambiais e de juros, o que acabará
por aniquilar sua capacidade de iniciativa.
—. rm enio de enorm e
Desde o início da década de 1980, os agentes privados recompõem
crso da ineficiência do
seus portfolios com rapidez, livrando-se das dívidas contraídas em m oe­
jc í ~ : desto contribuinte,
da estrangeira e tornando-se aplicadores no circuito financeiro (o que

153
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO T R A N .v :

pode ser constatado, por exemplo, no aum ento de suas receitas não- Teceram-se ress
operacionais). importações” qn= -
A ótima performance das transações correntes, capitaneada pelos vul­ ficiente, avesso a : :c
tosos saldos comerciais (sob controle do setor privado), presentes a partir ponderável parti czra
de 1984 com a orientação export drive, vai explicitar os descompassos e tura comercial, ha
assimetrias entre o agente credor — as empresas privadas exportadoras, O que é intere
geradoras e portadoras da moeda forte — e o agente devedor par excelence, nalização da ecou
o Estado, que compulsoriamente deve captar e remeter dólares. o mesmo bloco ]
A dívida m obiliária, de expediente de financiamento do setor p ú ­ pretérita. Sem
blico e instrumento regulatório monetário-financeiro, foi-se tornando principais decisões t
elemento de desarranjo financeiro do Estado, exaurindo sua capacidade falta de sustentação!
de arbitragem. Nessa medida, o Estado recorre ao endividamento m obi­ Segundo o Ie d í í j
liário, não como fonte de financiamento público, mas tão-somente como industrial. Tal 1
instrumento da luta diária pela esterilização dos dólares e pela cobertura medíocre deser
de sua dívida interna. Também paralisado politicamente para alargar a da produção ine
exação e acumular receitas tributárias e obter receitas operacionais do econom ia brasileiraca
setor produtivo estatal, o poder público vê comprometidas assim todas
as formas originárias de financiamento estatal e de recomposição de sua
capacidade de gasto. As empresas estatais, o Banco Central e as autorida­
des monetárias se tornaram compromitentes, resguardando e acolhendo
as obrigações externas do setor privado. Estes, por vezes, resistiram,
intim idando o rollover das obrigações da dívida, forçando o Estado a
praticar taxas proibitivas de juros, a fim de gerar atratividade a seus títulos
públicos. Nesse contexto, as autoridades monetárias acabam-se tornando
reféns de seu estoque de dívida. O Estado, completamente desarticulado,
perde poder de coordenação e de sinalização estruturante.
A partir dos anos 90, afirma-se a opção neoliberal no país, que se
consolida nos oito anos do governo FHC. Seguindo as “sugestões” do
conhecido Consenso de W ashington, avança-se na desregulamentação
dos mercados (incluindo 0 financeiro doméstico, o de trabalho, com pe­
sados cortes nos direitos antes assegurados, e o de produção e consumo).
“Reforma-se” 0 Estado, privatizando os serviços de utilidade pública, o
setor produtivo estatal e os sistemas nacionais de infra-estrutura, abdi­
cando totalmente de políticas “direcionadoras” dos setores produtivos. Sem qualqueri
Consolida-se a liberação da conta de capitais e a abertura comercial. Há nomia brasileira ta z ã i
nos discursos forte crença em que, com liberalização cambial, ingressaria dos agentes ecor
“poupança ex tern a ” n o s p a tam a re s n e ce ssário s. mento sendo ot

154
TRAN SFO RM AÇÕ ES NO PA D R A O DE S O C IA B IL ID A D E D O BR ASIL

: « a s receitas não- Teceram-se pesadas críticas ao anterior “m odelo de substituição de


importações”, que teria gerado um aparelho produtivo dom éstico ine­
aeada pelos vul- ficiente, avesso à com petitividade externa e com presença indesejada de
► >,presentes a partir ponderável participação estatal. Esperava-se que, com o processo de aber­
ros descompassos e tura comercial, haveria um verdadeiro “choque de competitividade”.
; exportadoras, O que é interessante notar é que tal “projeto radical de transnacio-
or par excelence, nalização da econom ia brasileira” (Fiori, 2001) foi levado à frente com
■ dólares. o mesmo bloco histórico que se beneficiou da m odernização industrial
do setor pú- pretérita. Sem direção e coordenação, “entregando aos m ercados” as
, foi-se tornando principais decisões estratégicas, o país viverá experiência de crescente
i sua capacidade falta de sustentação de sua trajetória de crescimento.
ídamento mobi- Segundo o I e d i (2002), desde 1989 tivemos nove miniciclos da produção
t tão-somente como industrial. Tal estudo demonstra que os determinantes principais desse
i e pela cobertura medíocre desempenho não guardam relação com os próprios movimentos
ate para alargar a da produção industrial, mas estão relacionados com a vulnerabilidade da
operacionais do econom ia brasileira, agravada após a implementação do Plano Real.
i assim todas
« c o m p o s iç ã o de sua INDÚSTRIA GERAL - TENDÊNCIA (1991=100)
l e as autorida-
ado e acolhendo
vezes, resistiram,
.ív ç a n d o o Estado a
ide a seus títulos
tacabam-se tornando
ate desarticulado,
ate.
no país, que se
■ as “sugestões” do
. desregulamentação
► áe trabalho, com pe-
f produção e consumo),
i J e milidade pública, o Fonte: Iedi (Instituto de Estudos de Desenvolvimento Industrial)

rurra-estrutura, abdi-
r#cs setores produtivos, Sem qualquer soberania ou princípio de mínima autoproteção, a eco­
ijcerrura comercial. Há nomia brasileira jaz à mercê das restrições externas e das suscetibilidades
k; cambial, ingressaria dos agentes econôm icos globais, tendo suas trajetórias breves de cresci­
mento sendo obstadas pelos reflexos das expectativas pessimistas criadas

155
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO T R A N i? :

nas crises internacionais do México, da Ásia, da Rússia, da Argentina. Ou vale lembrar que
esbarra internamente na falta de coordenação e de investimentos, como de US$ 7 bilhões- >:<:
na crise de energia em 2001. que incentivem í
Acirram -se as vulnerabilidades estruturais em múltiplas e entrela­ de eletrônicos e tr­
çadas esferas (m onetário-ñnanceira, comercial, produtiva, científica e em componentes
tecnológica etc.).7 ao ano. Aquele em
No campo monetário, a necessidade de gerar divisas para fazer frente modo, esse mesmo
aos passivos acumulados e desequilibrios das contas externas leva à afli­ Assim, o que se
ção pela subida dos juros reais, travando as oportunidades de geração “desadensamento'
de riqueza nova no mercado nacional.8Na esfera fiscal, a inflexibilidade mercantilizadas <:
à queda dos juros acelera o crescimento da divida pública mobiliária e destaque para as de
requer serviços da divida que neutralizam todos os esforços de superávit de capital e quím ica.
fiscal prim ário e de arrecadação. O “acúm ulo de desequilibrios — o exportações.11 Na
déficit externo transformado em fragilidade financeira interna do setor minerais, miner
público — e a precariedade da ‘inserção emergente’ lançaram periodica­ justamente os s a n e s
mente a economia na crise monetária” (Belluzzo e Almeida, 2002, p. 386).9 economias de escala,
Temos todas as outras políticas se subordinando (e se anulando10) à mas que não <
política de estabilização monetária. É preciso analisara
A armadilha cambial e financeira exacerba a fragilidade externa. A ciai segundo os e k s
abertura comercial, a sobrevalorização cambial e das taxas reais de juros industrial do país —
escorchantes pressionaram o custo de uso do capital, desfavoreceram a por região.1
produção destinada à exportação. Justamente quando a substituição de Mais do que uma"
importações e o bom desempenho das exportações seriam fundamentais sas foi na verdade
para dim inuir nossa vulnerabilidade externa. Apenas como exemplos, com estratégias de
tenha tam b ém ;
As importações
7 “Vulnerabilidade determinada pelo passivo externo de curto prazo e por déficits estruturais
e crônicos” (Gonçalves, 2001, p. 252). que era justificado
8 “O cambio valorizado e a queda nos níveis de proteção efetiva exasperaram o déficit da balança
comercial e em conta corrente, enquanto a entrada de capitais determinou o crescimento
da dívida pública, emitida para esterilizar os efeitos monetários do ingresso ‘excessivo’ de “Nos anos 90, a t t t i t » -
dinheiro estrangeiro. Subindo ainda mais os já elevados spreads exigidos pelos investidores câmbio, produziu 1
estrangeiros para adquirir e manter em carteira ativos em moeda fraca” (Belluzzo, 2001, p. 2). de exportação. Ao
9 “A administração de uma política monetária autônoma depende do modo pelo qual cada caiu para a 28* posacãe
país está inserido no sistema financeiro internacional. No caso do Brasil, um país periférico e Irlanda, Áustria, T í
cronicamente endividado no exterior, o padrão monetário não é sustentado como padrão de Deixo para o [ u i í i í m
avaliação da Riqueza. O crescimento do produto e da renda é periodicamente interrompido micas da estrutura 5
por crises monetárias, e as formas de acumulação de riqueza sofrem mutações profundas e Contudo, “o aum erw 1
muitas vezes perversas” (Tavares, 2002). proporcional ao
10 “ [...] condenados ao manejo discricionário dos orçamentos públicos para neutralizar conse- processo de intei
qüências negativas de decisões equivocadas no campo do câmbio e do juro, sem que se criem forma, em uma t
graus de liberdade para financiar programas [...]” (Dain, 1999, p. 197). resultados ma~

156
T R A N SF O R M A Ç Õ E S N O “ PA D R Ã O DE S O C IA B IL ID A D E ” D O BR A SIL

, da Argentina. Ou vale lembrar que o déficit comercial na indústria quím ica em 2001 foi
lentos, com o de US$ 7 bilhões, sofrendo diretamente com a falta de políticas públicas
que incentivem a substituição da importação desses produtos. O setor
i Múltiplas e entrela- de eletrônicos e telecom unicações apresenta situação similar. O déficit
va, científica e em componentes semicondutores tem sido de cerca de US$ 2 bilhões
ao ano. Aquele em software e serviços de inform ática apresenta, grosso
i para fazer frente modo, esse mesmo valor anual.
ta te m a s leva à afli- Assim, o que se constatou foi a elevação do grau de abertura e de
ides de geração “desadensamento” de várias cadeias e linhas de produção, que foram re-
, a inflexibilidade mercantilizadas (substituindo fornecedores locais por importação), com
ifa b lic a mobiliária e destaque para as de telecomunicações, informática, eletroeletrônicos, bens
rços de superávit de capital e química, passando-se a im portar m aciçam ente e reduzir as
i desequilíbrios — o exportações.11 Na verdade, ocorreu uma reespecialização em commodities
sintem a do setor minerais, minerometalúrgicas, siderúrgicas, agrícolas e agroindustriais,
letançaram periodica- justamente os setores (com baixa elasticidade da demanda) sensíveis às
,2002, p. 386).9 economias de escala, energia, m ão-de-obra e recursos naturais baratos,
>|c se anulando10) à mas que não dispensaram incentivos fiscais e outras benesses públicas.
É preciso analisar a sensibilidade a esses processos — bastante diferen­
ide externa. A cial segundo os elos das cadeias produtivas que conform am a estrutura
ía r a s reais de juros industrial do país — nos cortes: por categoria de uso, por propriedade,
. desfavoreceram a por região.12
1a substituição de Mais do que uma “reestruturação produtiva”, o que tivemos nas empre­
lfundamentais sas foi na verdade um a enorme racionalização organizacional defensiva,
. como exemplos, com estratégias de proteção contra desvalorização de sua riqueza, embora
tenha também aumentado sua eficiência com petitiva.13
As importações cresceram a taxas muito superiores às exportações, o
1 s ç»r déficits estruturais
que era justificado pelos gestores da política econôm ica com o condição
1 o déficit da balança
1 â e a m m o u o crescimento
; i c izgresso ‘excessivo’ de 11 “Nos anos 90, a redução tarifária, com quase cinco anos de sobrevalorização da taxa de
lãpàos pelos investidores câmbio, produziu uma intensa abertura às importações, mas em nada se avançou em termos
a j a n ” Beüuzzo, 2001,p. 2). de exportação. Ao contrário, houve retrocesso: de 17a exportador mundial em 1985, o país
: ic modo pelo qual cada caiu para a 28aposição em 1999, ficando atrás de países pequenos como Cingapura, Malásia,
1 3fcBÊL um país periférico e Irlanda, Áustria, Tailândia e até mesmo da Indonésia” (Coutinho, 2001).
t SBBSttado como padrão de 12 Deixo para o próximo capítulo uma análise mais detalhada das mudanças e diferentes dinâ­
i-t»— ente interrompido micas da estrutura produtiva brasileira em seu recorte regional.
l mutações profundas e 13 Contudo, “o aumento da competitividade não se traduziu em incremento das exportações
proporcional ao aumento das importações e ao aumento do passivo externo da economia. O
rara neutralizar conse- processo de internacionalização [‘introvertido’ e sem geração de greenfield] resultou, dessa
; í 3.: mro. sem que se criem forma, em uma estrutura produtiva microeconomicamente mais eficiente, mas geradora de
resultados macroeconômicos insatisfatórios [...]” (Sarti e Laplane, 2002,p.. 91,grifo nosso).

157
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO T R A X 5 ? :i.i_ r -

necessária à modernização da estrutura industrial brasileira. A acelerada saltou de U Ss 165


e desregrada abertura comercial e a sobrevalorização cambial deteriora­ por não-residente:
ram a balança comercial, com o intenso ingresso de bens importados e a Cabe lembrar oaei
substituição de fornecedores nacionais pelos estrangeiros. Entre outros não cum priu a prccs
fatores, foi-se acentuando o caráter, hoje estrutural, de nossos déficits. montante — dos 1
Aprofundou-se ainda mais nossa inserção internacional subordinada. Apenas no penaáb^
A abertura comercial, a desnacionalização e a racionalização produ­ sões/aquisições;;-, 54
tiva impactaram a balança comercial e a conta de serviços, sobretudo estrangeiro.
em remessa de lucros e dividendos. A com pra de patrim ônio público Essa abrangente 1
por empresas m ultinacionais agravou ainda mais as contas externas, intensa a grande i
pois esses grupos pouco ou nada construíram de capacidade produtiva estruturas de 1
nova, poucos postos de trabalho criaram, não geraram divisas, mas, pior, fortunas pessoais. A i]
passaram a consumi-las e a remetê-las a seus países de origem. Ocorreu esse amálgama entseI
pouca ou nenhuma inversão em expansão e em manutenção adequada gias empresariais <
da infra-estrutura (situação bastante diversa segundo as diferentes redes). de riqueza pat
A o mesmo tempo, há brutal reconcentração econôm ica e política nessas interessantes nesse]
áreas, com preços-chave da econom ia agora dependendo de agências estratégias de cot
reguladoras fracas e capturadas pelos grandes interesses empresariais. dade entre finanças 1
O Estado brasileiro será predado a partir de 1994 por uma coalizão [...]. O fu n d in g p a n t
de poder (entre elites territoriais e cosmopolitas) que, sob o comando ou de lucros ac
destas últimas, localizadas basicam ente nas m etrópoles prim azes do endividamento 1
Centro-Sul, irá receber grande parte do patrim ônio público, com as pri­ do mercado int
vatizações, irá assaltar os fundos de pensão e irá capturar as agências conglomeradas de.
reguladoras recentemente criadas (Fiori, 2001). interna e externa
O IDE (Investimento Direto Estrangeiro) ocorreu, em grande parte, produtivas de maiori
nos setores que foram sujeitos aos processos de privatização e/ou fusão/ Pelo contrário, 1
aquisição (Laplane et al., 2000). O que ocorreu foi uma internacionali­ seu leque de oj
zação do mercado doméstico (Sarti e Laplane, 2002). sua especialização t
Vejamos breve balanço das privatizações. De 1989 a 1995, foram ven­ maiores grupos 1
didas todas as empresas estatais dos setores siderúrgico e petroquímico. pais em commoditxsJ
De 1996 a 2001, as de serviços públicos, o que a literatura especializada
chama de transformação de Utilities em commodities, isto é, serviços de Vide Miranda e M;
utilidade pública em ativos vendáveis, passíveis de gerar retorno mais “As razões da co
cadas, fundamenn
rápido e garantido. Não se utilizou o processo de privatização nem para interna que, ao l o r » j
a constituição de conglomerados nacionais, nem para promover políticas vimento escolhido, i
financiamento do t
de reestruturação produtiva. Segundo os censos do capital estrangeiro,
16 “Klabin, Ripasa, 5
realizados em 1995 e 2000, o total de ativos em poder de não-residentes Suzano, Heri n°. VümEsT
T R A N SF O R M A Ç Õ E S N O P A D R A O DE S O C IA B IL ID A D E D O BR A SIL

ra. A acelerada saltou de US$ 163 bilhões para US$ 328 bilhões. O capital integralizado
«cambial deteriora- por não-residentes em serviços passou de 31% para 64%.
; importados e a Cabe lembrar que a entrada do capital estrangeiro no setor financeiro
s. Entre outros não cum priu a propalada meta de redução do custo — e de elevação do
,de nossos déficits. montante — dos empréstimos.
I subordinada, Apenas no período 1991-1997 foram realizadas 515 transações de fu-
alização produ- sões/aquisições;14 54% dessas empresas foram transferidas para o capital
í serviços, sobretudo estrangeiro.
?patrim ônio público Essa abrangente transnacionalização da economia tornou ainda mais
. contas externas, intensa agrande complexidade existente no Brasil das relações entrefirmas,
ade produtiva estruturas de mercado, padrões de concorrência, patrimônio empresarial e
i divisas, mas, pior, fortunas pessoais. As pesquisas (setoriais e regionais) precisam desvendar
f origem. Ocorreu esse amálgama entre formas atrasadas e modernas de capital e as estraté­
ição adequada gias empresariais diversas que foram levadas a cabo para a preservação
i diferentes redes), de riqueza patrimonial. M iranda e Tavares (1999) apontam caminhos
le política nessas interessantes nesse sentido, demonstrando que os grupos nacionais, sem
ado de agências estratégias de conglomeração, sempre constituíram relações de “solidarie­
; empresariais. dade entre finanças e indústria, porém do tipo rentista-patrimonialista15
1p or um a coalizão [...]. Qfundingpara. novas escalas que os investimentos requeriam surgia
. sob o comando ou de lucros acumulados ou de financiamento por bancos públicos ou de
prim azes do endividamento externo”. Assim , mesm o com as vantagens do tamanho
«publico, com as pri- do m ercado interno, não se cam inha para a constituição de formas mais
i capturar as agências conglomeradas de capital, que busquem a conquista de novos mercados,
interna e externamente, e gerem riqueza nova que avance em trajetórias
. em grande parte, produtivas de m aior valor agregado e conteúdo tecnológico.
ação e/ou fusão/ Pelo contrário, nos últimos anos os grupos nacionais estreitaram ainda
. internacionali- seu leque de operações, sancionando a regressão produtiva e acentuando
sua especialização em commodities agrícolas e industriais. “Dentre os 30
\í 1995, foram ven- maiores grupos brasileiros, 13 tinham em 1998 seus core-business prin ci­
*e petroquímico. pais em commodities.16 Ademais, grupos de origem e principal atuação
. especializada-
e. isto é, serviços de 14 Vide Miranda e Martins (2000) e Marcelo Cano (2002).

serar retorno mais 15 “As razões da constituição e da dinâmica dos grupos econômicos brasileiros devem ser bus­
cadas, fundamentalmente, nos diferentes tipos de reação às restrições financeiras externa e
cpcT i.ização nem para interna que, ao longo deste século, influenciaram as transformações do modelo de desenvol­
■ rrom over políticas vimento escolhido, sobretudo as limitações periodicamente colocadas pela necessidade de
financiamento do balanço de pagamentos” (Miranda e Tavares, 1999, p. 328, grifo nosso).
napital estrangeiro,
16 “Klabin, Ripasa, Sadia, Perdigão, Gerdau, Belgo-Mineira, CSN, Usiminas, Acesita, Votorantim,
kcet ¿e não-residentes Suzano, Hering, Villares” (Miranda e Tavares, 1999, p. 341).

159
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO T R A N 55 : .7

em setores não comoditizados têm-se expandindo para a produção de G rup o de bens


bens pouco elaborados ou de commodities”.17
Com essa regressão produtiva, vai-se perdendo ainda mais o comando
sobre as possibilidades de rumos estratégicos que a estrutura produtiva
Commodities
poderia trilhar. Caberia ao Estado subordinar os interesses do atraso, do
imediatismo e do patrimonialismo. Porém ele não tem força para dar sentido
aos inúmeros interesses que os cortes setoriais, regionais etc. colocam.

D uráveis e seus
fornecedores
4.3 M U D A N Ç A S N A S E S T R U T U R A S P R O D U T IV A S R E G IO N A IS
E A U M E N T O D A S D IV E R S ID A D E S IN T E R -R E G I O N A I S

Tradicionais
Os setores produtivos no Brasil foram, na década de 1990, alta e abrupta­
mente expostos à competição internacional, em um contexto de grandes
transformações tecnológicas e organizacionais. Essa exposição foi ainda
mais explícita em razão das decisões de desmontar os principais ins­
Difusores de pro­
trumentos de que o Estado dispunha para promover uma coordenação gresso técnico
mais sistemática e orgânica sobre os diversos segmentos do aparelho
produtivo nacional.
Fonte: Ferraz et aJ. <19
Nesse contexto, é preciso discutir os aspectos qualitativos dos investi­
mentos realizados na década de 1990, que parecem ter aprofundado ainda
as marcas, próprias de situações de subdesenvolvimento, de estruturas Grau de din

produtivas heterogêneas e pouco diversificadas.


A s pesquisas na área da econom ia industrial sugerem que o país
M ais d inâm icos (s
recebeu poucos e “ruins” investimentos. O u seja, as inversões de capital
plásticos: predom ina <
que ocorreram não têm qualidade, posto que geram minguados enca- sa nacional; d e m á s ;
predom ina a e m p re s a i
deamentos, impostos, empregos e divisas. cional)
C om baixa atualização do aparelho produtivo e pouca geração de
capacidade produtiva nova, aprofundou-se a especialização regressiva,
concentrando ainda mais nossa estrutura industrial na produção de bens
pouco elaborados, com pequeno valor agregado e com poucas perspec­
Pouco dinâmicos.c
tivas dinâmicas nos mercados internacionais.
(com petitividade |
Vejamos alguns desempenhos setoriais, segundo as seguintes clas­ te alta; predom ina a i
nacional)
sificações:

17 “Como, por exemplo, Mariani, Odebrecht, Vicunha, Ultra, Ipiranga, entre outros” (Miranda
e Tavares, 1999, p. 341).

l 60
T R A N SF O R M A Ç Õ E S N O “ P A D R Ã O D E S O C IA B IL ID A D E ” D O BR A SIL

para a produção de Grupo de bens S egm entos Setor

Insumos metálicos Minério de ferro, siderurgia, alumínio


■ mais o comando
Química básica Petróleo, petroquímica e fertilizantes
* estrutura produtiva
Commodities
ses do atraso, do A groindústria de ex­
Óleo e farelo de soja e suco de laranja
portação
iftrçapara dar sentido
• etc. colocam. Celulose e papel Celulose e papel

Automotivo Autom obilística e autopeças


D u ráveis e seus
fornecedores
Eletrônico Bens eletrônicos de consumo
A IS
Agroindústrias de ali­
Abate e laticínios
mentação
Tradicionais
Têxtil — calçados Têxtil, vestuário e calçados de couro
1990, alta e abrupta-
ü xiíexto de grandes Mobiliário Móveis de Madeira

exposição foi ainda Equipamentos eletrô­ Computadores, equipamentos para tele­


os principais ins­ nicos comunicações, automação industrial
Difusores de pro­
uma coordenação gresso técnico M áquinas-ferram enta, m áquinas a g rí­
Equipamentos eletro-
co la s e e q u ipa m e n to s para e n e rg ia
os do aparelho mecânicos
elétrica

Fonte: Ferraz et al. (1996)


tiras dos investi-
aprofundado ainda
Grau de dinamismo Setores (“categoria de uso” dos bens)
to, de estruturas
• Bens interm ediários — commodities — siderurgia/
metalurgia
sugerem que o país • Bens finais de consumo durável: veículos, televi­
M ais d inâm icos (side ru rg ia e
inversões de capital plásticos: predom ina a em pre­
sores, equipam entos de som, com putadores pes­
soais, eletrodom ésticos etc. (não inclui cadeia de
minguados enca- sa nacional; dem ais setores:
fornecedores)
predom ina a empresa m ultina­
• Bens finais de consum o não-durável: farm acêu­
cional)
tica m isturadora” e higiene/beleza (não inclui ma­
e pouca geração de térias-prim as); alim entos processados e matérias
ação regressiva, plásticas

ma produção de bens • Bens de capital sob encom enda e seus com po­
nentes
com poucas perspec- • Bens interm ediários
Pouco dinâm icos/com petitivos
• Commodities: química/petroquím ica, celulose/pa-
(competitividade potencialm en­
pel, m etalurgia de não-ferrosos (alum ínio) e m ate­
as seguintes clas- te alta; predom ina a em presa
riais de construção/produtos de minerais não-metá-
nacional)
licos (cimento, vidro etc.)
• Componentes de bens finais de consumo durável:
autopeças (inclui borracha e pneumáticos)

::re outros” (Miranda

l6l
TERRITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO

Em sua
Grau de dinamismo Setores (“categoria de uso” dos bens)
grande parte de szz
• Bens de capital seriados e seus componentes
de processamento cr
• Bens finais de consumo não-durável: têxteis, cal­
çados, confecções etc. agrícolas e p ecu a ro i.
Pouco dinâmicos/não com petiti­ • Bens intermediários
vos (sem competitividade inter­ • Componentes de bens finais de consumo durável:
e alumínio (basic
nacional; predomina a empresa eletrônicos etc. petroquímica, 1
nacional) • Matérias-primas de bens finais de consumo não-
durável: fármacos e outras especialidades químicas de laranja, carnes <
(para produtos de higiene/beleza, defensivos/ferti- locacional é ori
lizantes etc.)
com custos e <
Fonte: La Croix (2001)
processos, não*
possui capacidade
O grupo de setores difusores de progresso técnico foi penalizado
Quanto ao mercado'
duramente pelas políticas neoliberais. Os dados mais recentes revelam
ao tamanho do
tendência à reconcentração das plantas de maior conteúdo tecnológico
em poder aquisitiro
e complexidade (máquinas-ferramenta, automação industrial, telecom u­
o país apresenta boa
nicações, informática, eletrônica, fármacos, biotecnologia etc.) na região
nos produtos poaco
mais desenvolvida do país. Com o as principais transformações científicas,
produtivas n o :
tecnológicas e inovacionais tendem a se concentrar nesse bloco, por onde
ciação produtivas,
mais se difundem as tecnologias de base eletrônica e os principais insti­
competitiva vai
tutos de pesquisa tendem a estar localizados no pólo mais dinâm ico da
setores, que se
acumulação de capital no Brasil, provavelmente essa ampliação da rede de
fontes de recursos
relações existentes nessa área implicará futura maior concentração nesse
maturações do II,
espaço geográfico de maior dinamismo. Esse novo “bloco m otriz” tende
termos de mont
a ser exigente também de outras externalidades, tais com o m ão-de-obra
O grupo prodotar
especializada, ambiente científico etc., que se encontram geralmente nas
ro, vestuário e I
porções mais desenvolvidas do território nacional.
baixa elaboração e
Os segmentos de bens de capital foram duramente penalizados, per­
em direção a áreas
dendo ainda mais capacidade competitiva, devido à longa crise a que foi
Ocorreu, dessa 1
submetida a econom ia brasileira e à falta de políticas de coordenação
criação de plantas i

produtiva. Muitas linhas de produção foram desativadas. A m aioria no


dustriais pouco
estado de São Paulo.
linkages. Esses
Mesmo com a grande perda de densidade de várias cadeias produtivas
caracterizados por
durante os anos 90, a estrutura produtiva brasileira, ainda razoavel­
externalidades;
mente densa e diversificada, logrou dinam izar alguns encadeamentos
de m aior porte,
interindustriais típicos desse grande complexo/conjunto de ramos mais
concessão de su
dinâmicos eletrônico-mecânico-autom obilístico, quím ica e metalurgia
flexibilidade 1
não padronizadas.
a recursos naturas

162
T R A N SF O R M A Ç Õ E S N O P A D R A O DE SO C IA B IL ID A D E D O BR ASIL

Em sua regressão produtiva recente, o país restringiu ainda mais


' dos bens)
grande parte de sua especialização e vantagens competitivas ao grupo
>componentes de processamento contínuo de recursos minerais, florestais, energéticos,
¡I: têxteis, cal-
agrícolas e pecuários, com a produção de m inério de ferro, siderurgia
e alumínio (basicamente insumos metálicos semi-acabados), petróleo e
sconsumo durável:
« petroquímica, celulose e papel, alimentos industrializados (grãos, suco
; de consumo não-
ades químicas
de laranja, carnes etc.) e têxteis padronizados etc. Esse setor, cujo padrão
. defensivos/ferti- locacional é orientado pelo acesso a fontes de matérias-primas, contando

s com custos e qualidade adequados, razoável padronização de produtos e


i processos, não sofrendo grandes restrições ambientais, de um m odo geral,
possui capacidade competitiva, alcançando alguns mercados externos.
foi penalizado
Quanto ao mercado interno, apresenta alguns ganhos de escala, graças
»recentes revelam
ao tamanho do mercado, grande em termos populacionais e pequeno
io tecnológico
em poder aquisitivo (Coutinho e Ferraz, 1994). Em suma, nesses setores
ial, telecomu-
o país apresenta boa eficiência nas fases iniciais do processo produtivo e
tetc.) na região
nos produtos pouco elaborados. Ã m edida que se percorrem tais cadeias
es científicas,
produtivas no sentido dos produtos de m aior transformação e diferen­
: bloco, por onde
ciação produtivas, sofisticação tecnológica e comercial etc., a capacidade
.principais insti-
competitiva vai minguando. Parte substancial dos investimentos nesses
► dinám ico da
setores, que se desconcentraram geograficam ente, orientados pelas
ação da rede de
fontes de recursos naturais ou por políticas governamentais, ainda são
rconcentração nesse i-
maturações do IIP N D , com pequenas alterações na década de 1990 em
r u o c o m otriz” tende
termos de m ontagem de novas plantas (greenfields).
(com o m ão-de-obra
O grupo produtor de bens tradicionais, basicamente calçados de cou­
i geralmente ñas
ro, vestuário e têxteis não padronizados, agroindústria de alimentos de
baixa elaboração e bebidas, pôde apresentar alguma trajetória centrífuga,
rpenalizados, per-
em direção a áreas bastante específicas e seletivas da periferia nacional.
ilooga crise a que foi
Ocorreu, dessa forma, a abertura de novas frentes de localização, com a
de coordenação
criação de plantas de alguns ramos wage goods, de compartimentos in ­
5. A maioria no
dustriais pouco sofisticados tecnológicamente, leves e de baixa geração de
linkages. Esses segmentos produtivos se lograram desconcentrar, pois são
i cadeias produtivas
caracterizados por serem pouco exigentes de ambiente mais complexo de
f2_ ainda razoavel-
externalidades; assim, puderam ser atraídos para vários pólos periféricos
encadeamentos
de m aior porte, sobretudo em espaços m etropolitanos, através de ampla
rcz^o de ramos mais
concessão de subsídios e outros favores, custos salariais menores, maior
ica e metalurgia
flexibilidade trabalhista e ambiental e, em alguns casos, pelo fácil acesso
a recursos naturais abundantes e baratos.

163
TERRITÓR IO E D ESEN VOLVIM EN TO T R A N 77 I I

São setores que sofreram vários m ovim entos cíclicos conjunturais em ambiente ¿e b¿
durante a década de 1990: abertura comercial destrutiva; incentivo do pelos dados de cccr;'
miniboom do Real; m ovimentos cambiais etc. Mas estruturalmente se Cabe aqui uin¿
encontram constrangidos pelo padrão de alta concentração na distribui­ fiscal e à exacerbacã:
ção de renda do país e na estreiteza dos mercados internos periféricos, rante as reformas de
exceção para alguns pólos com porte e complexidade urbana. O correu a de 1988. C om o besn
atração de novos investimentos ou o deslocamento de algumas indústrias gestão fiscal d e v e .
produtoras de bens de consumo não-duráveis, sobretudo para o N or­ e bem distribuir os
deste (têxtil, confecções, calçados, alimentos, bebidas). Essas indústrias tributárias,!
talvez ainda tenham algum raio para ocupar sua capacidade produtiva, entre as esferas de
a depender do ambiente m acroeconôm ico (que acaba ditando o ritmo Essas tarefas se
de expansão do mercado interno), e pode-se assistir ao arrefecimento do desiguais, com o o 1
crescimento dessas indústrias e à dim inuição da marcha da desconcen- e dos encargos que
tração regional do emprego e da renda, a depender também da política ções entre regiões e
comercial praticada. concorrentes parece
Os estudos regionais e urbanos muito ainda terão que avançar no ferências comp
balanço, para o período recente, dos resultados da sensibilidade dife­ Entretanto, cabe
rencial das regiões à crise, à política m acroeconôm ica, à deterioração centralizador pós-*
da infra-estrutura econômica, à abertura comercial, aos determinantes atribuições para zs
m icroeconôm icos (sobretudo à “reestruturação produtiva” e organiza­ menos generalizadas»,
cional) etc. É preciso avaliar, em pesquisas minuciosas regionalizadas, para responder ã
como esses processos impactaram e o que representaram em termos de receitas e armar
desmontagem e penalização seletiva, regional e setorialmente. O acúmulo de
Assim , em uma econom ia “sem crescimento”, a dim ensão espacial respeito às tensões "
desses processos deve captar os impactos dos vários constrangimentos. transferência ou
C om o pouco se teve em termos de geração de capacidade produtiva frágil pacto fed
nova (celulose, agroindústrias etc.), os estudos acabam sendo um balanço ria conduziram a
das destruições de riqueza. As análises foram prejudicadas pela falta de Se o processo de
informações, com diversos trabalhos procurando contornar tal restrição coerência e soldar ¡
com a utilização de dados com o os da R a is /Caged , buscando medir os trajetória foi int
processos de mudança das posições relativas das economias estaduais e seriamente co
macrorregionais pelo emprego formal do mercado organizado de traba­ processo de re~
lho. Com toda sorte de precarizações, terceirização e outras mudanças
profundas dos mercados de trabalho, as conclusões que se extraíram
18 “Parece razoável j
dessas pesquisas, no sentido de afirmarem que estaria ocorrendo um cioeconômicos, í

processo de desconcentração industrial, ficaram bastante prejudicadas. A conflito comas


conveniênciade -
diversidade de processos que envolvem o retrocesso industrial, ocorrido elevadas” (Piada

164
T R A N SF O R M A Ç Õ E S N O “ PA D R Ã O DE S O C IA B IL ID A D E ” D O B R A SIL

t
3s conjunturais em ambiente de baixo crescimento etc. pouco é passível de ser captado
ii incentivo do pelos dados de ocupação formal da força de trabalho.
I
[ estruturalmente se i Cabe aqui uma breve nota acerca dos problemas atinentes à gestão
cão na distribui­ fiscal e à exacerbação da crise federativa. O sistema foi estruturado du­
mos periféricos, rante as reformas de 1965-1967 e depois m odificado pela Constituição
íarbana. O correu a de 1988. C om o bem aponta Prado (2003), em sistemas federativos, a
caígumas indústrias gestão fiscal deve cumprir, além das clássicas funções de bem tributar
io para o Nor- e bem distribuir os recursos, três tarefas: distribuição de competências
bJLEssas indústrias tributárias, transferências intergovernamentais e atribuição de encargos
ddade produtiva, entre as esferas de governo.
i ditando o ritmo Essas tarefas se tornam mais com plexas em países continentais e
► arrefecimento do desiguais, com o o Brasil, requerendo redistribuição da receita tributária
i da desconcen- e dos encargos que leve em consideração a enorm e assimetria de situa­
rtambém da política ções entre regiões e cidades.18 Em tais países, o m odelo de competências
concorrentes parece adequado e há a necessidade de ponderáveis trans­
>que avançar no ferências compensatórias.
i sensibilidade dife- Entretanto, cabe lembrar que, m esm o o prim eiro m ovim ento des-
à deterioração centralizador pós-1988, a ampliação e transferência de im postos e de
, 3)05 determinantes atribuições para as escalas subnacionais, encontrou situações, mais ou
e organiza- menos generalizadas, de baixas capacidades técnica, de gestão e financeira
regionalizadas, para responder à descentralização de competências e distribuição das
i em termos de receitas e armar estratégias próprias de médio e longo prazos.
aente. O acúm ulo de distorções do sistema m ontado (sobretudo no que diz
t dim ensão espacial respeito às tensões intergovernamentais, cujas relações se processam via
► constrangimentos. transferência ou endividamento), o agravamento dos antagonismos do
ade produtiva frágil pacto federativo e o não-desenlace da discussão da reforma tributá­
lsendo um balanço ria conduziram a uma situação crítica no decorrer da década de 1990.
; pela falta de Se o processo de descentralização tinha problemas, não logrando dar
■ tal restrição coerência e soldar a diversidade regional da econom ia brasileira, sua
¡.leseando medir os trajetória foi interrompida, e a autonomia das decisões estaduais ficou
ias estaduais e seriamente comprometida, sobretudo a partir dos desdobramentos do
rapizado de traba- processo de renegociação das dívidas estaduais, que tiveram impacto
..xctras mudanças
que se extraíram
18 “Parece razoável propor que quanto mais homogêneo for o espaço nacional em termos so­
ocorrendo um cioeconómicos, maior o escopo para ampliar as autonomias orçamentárias subnacionais sem
conflito com as referidas políticas de âmbito nacional. A extensão do argumento indicaria a
xzzt prejudicadas. A
conveniência de sistemas fiscais mais centralizados em federações marcadas por desigualdades
Lcustrial, ocorrido elevadas” (Prado, 2003, p. 19).

165
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO TRAÃ

draconiano sobre as finanças subnacionais.19 As mudanças nas articu­ principal merA - c


lações intergovernamentais, as transferências patrimoniais, o enxuga­ sejam ofertados a:
mento do setor público estadual e o alto comprometim ento com metas exacerbação da ‘ r :
fiscais rígidas criaram sérios constrangimentos para que os estados da privado se suborc
federação pudessem fazer frente aos dispêndios necessários. A União se subordina a c a ã e n
impôs a quebra nas relações financeiras sinérgicas que ocorriam entre programas am pk» e 1
a administração central, empresas estaduais e o entrelaçamento com os mas têm sido fo
seus bancos (Lopreato, 2003).20Foi imposto severo ajuste fiscal, financeiro empresa” (Prado
e patrim onial, que com prom eteu totalmente as receitas subnacionais Após esse <
como o pagamento das dívidas, com o Tesouro passando a monitorar longo padrão de <
as trajetórias de desempenho econôm ico e financeiro dos estados. A Lei tecerei com entaria* 3
de Responsabilidade Fiscal, de maio de 2000, veio tutelar, de form a mais “padrão de sc
institucionalizada, as esferas de governo, im pondo regras e controles
fiscais, financeiros e administrativos, declarando a busca do equilíbrio
das finanças públicas dos três níveis de governo, ao longo do tempo. 4.4 IM PA SSES E (

C om isso, fere-se a autonom ia das esferas subnacionais e se enfra­ B IL IZ A D O E A !

quecem os centros de decisão interna presentes dentro do território


nacional. Para hierarquizar 3
A o m esm o tem po e, agravando ainda mais esse quadro crítico, a ses nacionais que 1
guerra fiscal vem sancionar essa perda de poder de decisão, ao com ­ m entos de nosso i
prometer recursos públicos escassos e transferir decisões estratégicas lembrar neste l
de localização produtiva para 0 espaço privado. Alves (2001) mostrou rumamos” pop
com o as operações de isenção/diferimento do Ic m s se destacaram como tado nacional, <
escravista, depois 3
tamos u m a :
19 “D e fato, no entanto, o que é objeto de decisão na descentralização fiscal proposta pela
Constituição de 1988 é um conceito limitado de aumento da participação da receita tributária “artificial”, e <
própria dos estados e municípios e de receita disponível (fundos de participação e partilha do se sempre o risco 3
I c m s ). A reversão desse processo de descentralização se dará tanto pela reconcentração fiscal
propiciada pelo crescimento da participação das contribuições sociais na receita federal [E que se coloca í
decorrente frustração das políticas sociais descentralizadoras (saúde e educação)], como pelas clusa, da indústria 1
soluções encaminhadas para a superação da crise financeira dos governos subnacionais. Não
só novos ‘tributos’ federais cresceram escapando da base da partilha, como o volume e a forma dutivas, do m ercada 1
de renegociação do endividamento solaparam o processo enunciado na Carta Constitucional, em que se fo rm a m
frustrando e distorcendo suas intenções descentralizadoras” (Prado, 2003, p. 19).
exterior), do
20 “A redefinição do novo arranjo institucional teve por objetivo ampliar a capacidade regula-
tória e de gestão macroeconômica da União no controle do déficit e da política monetária. A culado, do Estado i
preocupação foi conter a força dos governadores de sustentarem gastos acima do que seria federalista esgarçada.4
possível com base nos recursos fiscais, utilizando as renegociações dos débitos e a alavanca­
gem de recursos financeiros através da articulação com as empresas e bancos estaduais [...] desbragado re
Os estados, limitados em termos financeiros e pressionados pelo ajuste fiscal definido nos Defrontamo-a
contratos de renegociação, perdem capacidade de atuação e se tornam prisioneiros de uma
política de cortes contínuos de gastos” (Lopreato, 2003, p. 155). leiro [...] de tal 1

l66
T R A N SF O R M A Ç Õ E S N O “ PA D R Ã O DE S O C IA B IL ID A D E ” D O BR A SIL

nas articu- principal mecanismo de subsidiamento, embora inúmeros outros favores


ís, o enxuga- i sejam ofertados ao empresariado que realiza o leilão locacional. Essa
ento com metas exacerbação da “guerra de lugares” levou a que, “ao invés do interesse
iqoe os estados da privado se subordinar às diretrizes do planejamento estadual, este é que
rios. A União se subordina àquele, ou seja, ao invés das empresas buscarem acesso a
; ocorriam entre programas amplos e formalizados previamente existentes, alguns progra­
lento com os mas têm sido formulados com o objetivo estrito de servir a determinada
¡fiscal, financeiro empresa” (Prado e Cavalcanti, 1998, p. 89).
subnacionais Após esse quadro sintético da situação de esgotamento e crise de um
lo a monitorar longo padrão de desenvolvimento, com a perda da referência nacional,
m ío s estados. A Lei tecerei comentários acerca das mudanças mais profundas do próprio
x, de forma mais “padrão de sociabilidade” nesse m omento de desconstrução nacional.
i regras e controles
do equilíbrio
ilon go do tempo. 4.4 IM P A S S E S E C R IS E S O C IA L E P O L Í T I C A : O E S T A D O I M O ­

is e se enfra- B I L I Z A D O E A S O C IE D A D E F R A G M E N T A D A

do território
Para hierarquizar algumas determinações que nos conduziram aos impas­
■ quadro crítico, a ses nacionais que hoje nos afligem, é fundam ental lembrar alguns ele­
: decisão, ao com- m entos de nosso legado histórico. Passado com plexo com o procuro
estratégicas lembrar neste trabalho, em que delimitamos um território nacional, “ar­
(2001) mostrou rum amos” população nacional para o imenso espaço, erigimos um Es­
¡destacaram como tado nacional, estabelecemos um mercado de trabalho nacional (primeiro
escravista, depois capitalista), articulamos um mercado nacional, m on­
tamos um a m áquina capitalista “nacional”, dinâmica e de crescimento
fiscal proposta pela *
>da receita tributária “artificial”, e caminhávamos para a construção de uma nação. Correndo-
r-„-Tpa.-ãn e partilha do se sempre o risco de ser rotulado de catastrofista, o cenário mais provável
Bijfek reconcentração fiscal
e ca receita federal [E que se coloca atualmente parece ser o de desconstrução: da nação incon­
í alocação)],como pelas clusa, da indústria nacional perdendo elos de importantes cadeias pro­
■ subnacionais. Não
L.n r v i' o volume e a forma dutivas, do mercado nacional (cada vez mais desarticulado, na medida
ru i Carta Constitucional, em que se formam dispersivos “enclaves de m odernidade” voltados ao
•r c c ç p . 19).
exterior), do mercado de trabalho já totalmente precarizado e desarti­
i capacidade regula-
. rofitica monetária. A culado, do Estado nacional desmantelado e deslegitimizado, do pacto
cs acima do que seria federalista esgarçado. O território, apesar dos discursos separatistas e do
■íes débitos e a alavanca-
! í mancos estaduais [...] desbragado regionalismo, parece que continuará intacto...
amce iscai definido nos Defrontam o-nos, assim, com uma “crise estrutural do Estado brasi­
num rrisioneiros de uma
leiro [...] de tal natureza que põe recorrentemente em risco o tradicional

167
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO iraní -- :■

pacto das elites de buscar um compromisso, mascarado de falso consenso, didaticamente 0


através de um processo de endividamento externo e interno que lhes bilidade antider
perm itia acom odar os interesses e proceder sistematicamente a urna Reprodução s r c a i
verdadeira fuga para frente” (Tavares, 1995, p. v). Processos acelerados contando com czçn
de m odernização nas últimas três décadas determinaram a ruptura dos terra, possuindo ç s
laços de solidariedade presentes na sociedade brasileira, alargando os praticantes da ‘ ag*
espaços do privatismo e da clientela institucionalizada. apropriação privada 4
A m odernização capitalista acelerada desencadeou um processo oligarquias regioEsns”'
avassalador de m igração, urbanização e burocratização que m oeu os do poder cosmc
alicerces em que se erguia a vida nacional.21 Não passamos por um lon­ Am bas as 1
go processo de deglutição, e o passado foi processado sem renovação infinitas de reínv
de compromissos sociais, sem valores universais. A lógica do proveito (especializados n a i
próprio, com baixíssima capacidade de suporte e normas de convívio, o dinheiro, buscandbi
acaba por consolidar o imediatismo do presente, sem valores do passado a luta de classes <
e “perspectivas” de futuro. do ponto de vista d»^
Configurou-se uma ação do Estado bastante vertical e discricionária com quanto do ponto d e i
“os de baixo”, e excessivamente horizontal e protetora com “os de cima”. A grande]
A o longo da crise, o Estado vai sendo debilitado em seu papel de ganham com a 1
arbitragem de perdas e, incapacitado para sua histórica função de encam­ tionar até que panto 1
pação social de prejuízos e riscos, multiplica e potencializa as sinalizações de dom inação i
contraditórias. Os espaços público e privado vão perdendo ainda mais preferencial pelas <
distinção. Segundo Mello (1992, p. 65), tal horizontal, igual <
Tam bém é
colapso do espaço público é de exclusiva responsabilidade da nova ordem social “dos de baixoTl
inaugurada em 1964. Um de seus aspectos é a privatização do Estado. [Há] por duas questões; a
enorme atrofia do espaço público na sociedade. Uma sociedade sem liberdades m arginalidade, a :
fundamentais efetivas é incapaz de dar abrigo a valores universais e de permitir (sem -terra e ma
0 confronto inovador entre diferentes visões de mundo e distintas alternativas Portanto, c o m o ;
de organização da sociedade. Um de seus subprodutos foi a exacerbação do ternas “mais hor
caráter utilitarista e privatista das novas elites.
Em síntese, 1
mensões (espaciad,]
Q ue elites são essas? Segundo penso, o texto mais importante das sileiro passa ne
ciências sociais dos últimos 20 anos (Tavares, 1999) desvendou e expôs do processo de j

21 “Vivida num ambiente urbano e metropolitano que erodiu velhas instituições e antigas redes Foi a “interiorizaça» i
de solidariedade, a crise fragmenta, particulariza, estilhaça a sociabilidade capitalista, a indi- acumulação merczsEfca
vidualização privada perde todos [os] seus freios, a violência instala-se e, com ela, a barbárie
1 999)-
social” (Mello, 1984, p. 16).

l68
T R A N SF O R M A Ç Õ E S N O “ PA D R Ã O DE S O C IA B IL ID A D E ” D O B R ASIL

»defalso consenso, didaticamente o pacto oligárquico de dominação interna e de governa­


>c interno que lhes bilidade antidemocrática das elites brasileiras.

rente a uma Reprodução social “dos de cima”, de natureza bifronte. Por um lado,
fcftocessos acelerados contando com cúpulas políticas territoriais que são sedimentadas na
: a ruptura dos terra, possuindo apego patrimonialista orgânico com a terra-propriedade,
i, alargando os praticantes da “agricultura itinerante” (Furtado, 1974, e Cano, 2002), da
apropriação privada do território, “sem moldura de regulação das lutas das
um processo oligarquias regionais” (Tavares, 1999). Por outro, contando com cúpulas
que m oeu os do poder cosmopolitas, ligadas ao império e ao dinheiro.
ios por um lon- Ambas as frações da elite desenvolveram capacidades pretensamente
sem renovação infinitas de reinventar permanentemente novos espaços de acumulação
l A lógica do proveito (especializados na fuga para frente, territorial e rentista) e de reinventar
í anim as de convívio, o dinheiro, buscando renovadas “fronteiras” de valorização22e impedindo
i valores do passado a luta de classes aberta, o que cristaliza uma marcha interrompida, tanto
do ponto de vista do desenvolvimento das forças produtivas modernas
Iediscricionária com quanto do ponto de vista dos direitos sociais (Tavares, 1999).
i amt “os de cima”. A grande pesquisa a ser realizada quanto ao período pós-1994 é como
em seu papel de ganham com a regressão e a desestruturação produtiva e também ques­
i função de encam- tionar até que ponto mantêm as duas velhas cláusulas do pacto básico
t as sinalizações de dominação interna (Lessa e Dain, 1980). Aquela que garantiu a opção
I fo d e n d o ainda mais preferencial pelas órbitas produtivas e aquela que assegurou rentabilidade
horizontal, igual ou m aior do que a órbita industrial.
Tam bém é fundam ental avançar nos estudos sobre a reprodução
: da nova ordem social “dos de baixo”. Penso que tal reprodução passa, necessariamente,
' do Estado. [Há] por duas questões: a da m obilidade estrutural (espacial e social) e a da
T
: sem liberdades m arginalidade, a natureza de eternos desgarrados da terra-produção
>e de permitir (sem -terra e m arginalizados dos circuitos m odernos da econom ia).
Mfistmtas alternativas Portanto, com o afirma Tavares (1999), não conform ando classes subal­
► s i a exacerbação do ternas “mais homogêneas e sedimentadas”.
Em síntese, esquemáticamente diría que a análise das múltiplas di­
mensões (espacial, produtiva, política etc) do subdesenvolvimento bra­
cais importante das sileiro passa necessariamente por inseri-la no contexto mais estrutural
desvendou e expôs do processo de reprodução social. É preciso entender com o as classes se

"_\:ões e antigas redes 22 Foi a “interiorização do desenvolvimento que lhe permitiu, de novo, a sua forma favorita de
LCide capitalista, a indi- acumulação mercantil: apropriação de terras e acumulação patrimonial-rentista” (Tavares,
; í . com ela, a barbárie 1999).

169
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO tr av s" :;

estruturaram e com o se reproduzem; penso que ocorrem, grosso modo, que restritos, de ^
segundo os seguintes planos de análise: político-social paree
dos custos de repr:
Cúpulas do poder territoriais/m ercantis uma lógica da cocer
Reprodução social dos “de cima” e do alargamento :
Cúpulas do poder cosmopolitas/
financeiras das diversas frações.
M obilidade estrutural (intergeracional e lógica in c o r p ó r a te . 1
espacial) até os anos 80
Reprodução social dos “de baixo” e, em algum sentido. ¡
Marginalidade social crescente nenhuma m arca d e :
É certo que p a n zfa |
Vejamos a questão da mobilidade. É inquestionável que, malgrado seu alguma distância nas <
caráter excludente, o violento processo de transformações capitalistas
certo que as coné
impulsionou a criação de oportunidades, incorporando a maior parte
corrido foi marcante. 1
da população em ondas de mobilidade intergeracional. Dessa forma, o
em bora a origem 5
Brasil conheceu uma experiência de rápidas e profundas mutações em
sivo. Tivem os a :
sua pirámide social.23 A conform ação de nossa estrutura social gerou
médios de renda e 1
uma sociedade com alto patamar de “fluidez”, em que o deslocamento
ocupacional, ao lado do deslocam ento geográfico, foi bem -sucedido movimento foi <
na geração de prestígio, qualificação e renda, ou, mais específicamente, Pastare e V a lle :
proporcionou um conjunto de expectativas de promoção individual e m ovimentos de longM
das famílias. A “procissão de milagres” garantia o sonho de ascensão so­ até duas posições, f
cial: o ritmo de crescimento por volta de 10% a.a. assegurava o mínim o na mesma posição i
de laços de solidariedade, a legitimação ao eterno discurso nacional do de menor renda.
“crescimento do bolo” e a continuidade do tratamento da questão social Discutam os br
como decorrente da futura expansão econômica. metida a reprodução 1
A assimetria de oportunidades, temperada por fortes expectativas Aquela incor
de ascensão, m arcou as aspirações sociais de várias gerações. Massas
ma, se deu sem a i
populacionais imensas buscaram novos lugares geográficos (prom oven­
m odernos e sem o 1
do uma das maiores mobilidades espaciais do mundo, uma verdadeira
cidadania in c o n d n s a j
transumância) e novos loci de status social.
desclassificados.^ Q bs
O u seja, engendrou-se uma criativa construção social e política que
das massas no mere
arquitetou uma estrutura “incorporativa”, que abriu horizontes, mesmo
atividades tradicionais,^
campo. Nesse contestai
23 “A transformação acelerada em direção a uma estrutura social mais complexa e profunda­
mente desigual envolveu um processo de mobilidade social fortemente ascendente [...] tratou-
se de um processo de mobilidade associado basicamente ao estancamento das oportunidades
de trabalho no campo e à abertura de crescentes e novas oportunidades de investimentos, de
negócios e de trabalho pela transformação e dinâmica expansão das atividades econômicas, 24 Souza (1982, p. 14
do espaço urbano e do próprio Estado [...] nessa transformação foram recriadas distâncias estruturais”), pois *
enormes de renda, educação, propriedade, consumo, etc. entre as camadas sociais renovadas uniforme, con sin -vc- 3
(Henrique, 1999, p. 85). a classificacão e o ;

I7O
T R A N S F O R M A Ç Õ E S N O “ p A D R Ã O D E S O C IA B IL ID A D E ” D O BR ASIL

*
ii
■ ■ nem,grosso modo, que restritos, de uma reprodução intersticial para “todos”. Essa equação
político-social parece que acabou p or cum prir um papel de redução
dos custos de reprodução da força de trabalho. O que tinha vigência era
— ■ ■ iu ii ¡ais/mercantis uma lógica da cooptação pelo mercado, da incorporação pelo consumo
■cosmopolitas/ e do alargamento das fronteiras da valorização para o m áxim o possível
das diversas frações heterogêneas (mesmo as marginais) de capital. É a
» ñntergeracional e lógica incorporativa, geradora de redes de “solidariedade” econôm ica
b 3G
e, em algum sentido, política (que paradoxalmente foi construída sem
lo e s c e n te nenhuma marca de solidariedade social).
É certo que parcela ponderável da sociedade brasileira percorreu
Iqae,malgrado seu alguma distância nas décadas anteriores a 1980. Entretanto, também é
es capitalistas
certo que as condições iniciais eram baixíssimas; assim, o caminho per­
a maior parte
corrido foi marcante. Alguns romperam a barreira do trabalho manual,
Dessa forma, o
embora a origem social e o acesso dos pais à educação continuasse deci­
mutações em
sivo. Tivem os a massificação de algumas ocupações típicas dos estratos
social gerou
m édios de renda e prestígio. Porém, com o advertiu Pastore (1979), esse
■ e o deslocamento
fo i bem -sucedido m ovimento foi desigual e limitado.
específicamente, Pastore e Valle Silva (2000) confirmam, com dados de 1996, que os
o individual e movimentos de longa extensão são raros, concentrando-se no máximo
de ascensão so- até duas posições. Pela Pn ad 1996, há sinais de permanência de filhos
iva o mínim o na mesma posição dos pais (im obilidade), sobretudo para os estratos
mKscotso nacional do de menor renda.
Io da questão social Discutam os brevemente a questão da marginalidade a que está sub­
metida a reprodução social de parcela majoritária dos “de baixo”.
Sirtes expectativas Aquela incorporação de alguns estratos sociais, que discutim os aci­
s gerações. Massas ma, se deu sem a integração das massas aos circuitos de produtividade
qp a ã cos (promoven-
m odernos e sem o desenvolvim ento dos direitos individuais e com
uma verdadeira
cidadania inconclusa, form ando assim um a cam ada de deserdados e
desclassificados.24 O u seja, sem a capacidade adequada de absorção
>social e política que
das massas no mercado “m oderno” de trabalho, tanto das inseridas nas
k ãcrizontes, mesmo
atividades tradicionais, precárias e informais, quanto das expulsas do
campo. Nesse contexto,
cziplexa e profunda-
scendente [...] tratou-
:: das oportunidades
¡iisees de investimentos, de
eródades econômicas, 24 Souza (1982, p. 14) prefere falar de desclassificados (“não-inserção motivada por dados
r n n recriadas distâncias estruturais”), pois “marginalização pode fazer pensar em algo que se separa de um todo
n —Adas sociais renovadas uniforme, constituído, no caso, pela sociedade. Já desclassificação sugere a exterioridade ante
a classificação e o distanciamento em face de um todo heterogêneo e diversificado”.

171
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO

a marginalidade refletia uma situação de não-integração, um modo limitado M arginalidade


e inconsistente de pertencer à estrutura global da sociedade. Mas a margi­ estabilidade e co-zs
nalidade significava também cidadania limitada, uma situação cultural própria sociedade urbacc coe
da pobreza, a exclusão do desenvolvimento, o não-pertencimento ao sistema restritivo do merca:
dominante” (Pacheco, 1992).
1968, p. 49). O u seu
m arginal não
Embora com uma possibilidade de gravitação na órbita do “moderno”
1969). Parcela da:
sui generis.
refugiaria no “ampãee
Essa gravitação, com sua peculiar “lógica da incorporação”, foi mais
e “afuncional” para ©
ou menos clara até o início dos anos 80. Vejamos sucintamente algumas
Tal processo de
heranças legadas pelos anos 80.
de lugares e p o s iç õ a
O estancamento da economia brasileira, a partir da década de 1980, precisa
ções de cidadania e
ser encarado não só como 0 esgotamento de um padrão de acumulação,
produção e c o n so n a ,
mas como a ruptura de alguns dos principais alicerces em que se erguia a
precárias, de <
vida nacional. Os recentes sinais de imobilismo e descenso social destroem
precariam ente:
uma das principais variáveis que “fechavam” nossa equação nacional.
em atividades i
Assistimos a toda sorte de precarização, informalização, exclusão e
N ão p r e te n d a n »
marginalização, com a agravante de que agora se conta com o fim da
“à funcionalidade d *
legitimidade da proteção social.
(Cardoso, 1970, p . :
Todos os distintos níveis de disponibilidade da força de trabalho fo­
na Am érica Latina,
ram “igualados” em sua “proxim idade” ao exército de trabalhadores em
dade da noção de
atividade que “já foram proletarizados” e os que “sonhavam em sê-lo”.
necessárias para a
É uma espécie de hom ogeneização perversa de todos os diversos níveis
Diverso é o
investigados por Souza (1980): a população flutuante (desemprego tecno­
redundante, desses
lógico), a população “latente” (massa de trabalhadores rurais que já não
autônomo, inde
têm possibilidades de se ocupar no campo), a “intermitente” (ocupada
baixa qualificação e
em atividades mais irregulares) e o “pauperismo” (os que eventualmente
de este pertencer à
poderíam ser incorporados à força de trabalho).
Cacciam ali (2 0 0 0 ,
Essa imensa “massa sobrante” e “inativa”, grande parte depositada nas
sem registro, al
grandes metrópoles, acaba encontrando “refugio” na “economia subterrâ­
nea de subsistência”. Essa grande e heterogênea massa foi secularmente têm efeitos, não a p e a *
disponibilizada para integrar-se ao proletariado, mas não vem logrando cidadania, pois o ■
essa “meta”. conjunto de garantiu
Com o crescimento da segmentação do mercado de trabalho, fragmen­
tação, segregação e heterogeneidade da estrutura ocupacional, considero 25 Cardoso (1969, p. r~ r.
que, ainda com m aior intensidade, a antiga temática da m arginalização concebida como rraT
um m o d o n ã o bâsaur-'
se repõe. geral da sociedade*

172
T R A N SF O R M A Ç Õ E S NO “ PA D R Ã O DE S O C IA B IL ID A D E ” D O BR A SIL

;Bm modo limitado M arginalidade diz respeito à incapacidade de incorporação com


ie. Mas a margi- estabilidade e consistência “na estrutura de papéis e posições da nova
icultural própria sociedade urbana que emerge com a industrialização, afirmando o caráter
aento ao sistema restritivo do mercado urbano de trabalho industrial dominante” (Quijano,
1968, p. 49). Ou seja, está-se falando da geração contínua de uma “massa
m arginal não absorvível pelo setor hegem ônico da econom ia” (Nun,
ido “moderno”
1969). Parcela da mão-de-obra não absorvida pelo núcleo hegemônico se
refugiaria no “amplo e deprimido pólo marginal da economia”, irrelevante
aração” foi mais e “afuncional” para o processo de acumulação de capital.
íente algumas
Tal processo de m arginalização diz respeito à persistência estrutural
de lugares e posições subordinadas na sociedade, apartadas das rela­
ide 1980, precisa
ções de cidadania e excluídas dos núcleos e mercados mais m odernos de
1de acumulação,
produção e consumo. Para essa massa apenas restariam oportunidades
t o n que se erguia a
precárias, de ocupação subnormal, jazendo, portanto, sem ocupação ou
>social destroem precariamente ocupada, ficando “à margem do sistema”, buscando refúgio
ão nacional, em atividades marginais.
ão, exclusão e Não pretendem os entrar no debate se a discussão se refere ou não
: conta com o fim da
“à funcionalidade das populações com respeito aos sistemas de produção”
(Cardoso, 1970, p. 163). Esse debate ocorreu no final da década de 1960
lib rea de trabalho fo- na Am érica Latina. Cabe aqui apenas destacar a importância e a atuali­
: trabalhadores em
dade da noção de marginalização, inclusive para discutir as condições
“«achavam em sê-lo”. necessárias para a absorção e integração25 das massas “sobrantes”.
¡ os diversos níveis Diverso é o m odo de pertencim ento dessa massa de m ão-de-obra
desemprego tecno-
redundante, desses excedentes de “população não-funcionais”. Trabalho
¡ rurais que já não
autônomo, independente, instável, não registrado, m al remunerado, de
tente” (ocupada baixa qualificação e sem proteção social são apenas algum as formas
sqoe eventualmente de este pertencer à margem.
Cacciam ali (2000, p. 171) lista as conseqüências do assalariamento
t parte depositada nas sem registro, alertando que as contratações sem preceitos legais
“economia subterrâ-
. foi secularmente têm efeitos, não apenas sobre o uso indiscriminado do trabalho, mas sobre a
í não vem logrando cidadania, pois o assalariado sem registro, por um lado, não tem acesso a um
conjunto de garantias sociais e por outro não compõe um corpo coletivo. Não
i e trabalho, fragmen-
~idonal, considero 25 Cardoso (1969, p. 172), reproduzindo Quijano, afirma que “a marginalidade não pode ser
ca marginalização concebida como u m ‘não-pertencer’, mas sim como um modo específico de integração: como
um modo não básico de pertencer e de participar de um conjunto de elementos na estrutura
geral da sociedade”.

173
TE R R ITÓ R IO E D ESEN VO LVIM EN TO T R A S *.- : _•

têm direitos, nem obrigações. Soma-se a isso o fato de que essas contratações tudes da concorrência
sonegam receitas ao Estado, restringindo o fundo público da seguridade social, órbitas n ão-m ãu sn E S
além de limitar a implementação de outras políticas sociais. acomodava variad:*
diversificada e ’
Em um contexto em que as oportunidades ocupacionais minguaram, frações subordinaria*
em que se tem não a geração, mas a destruição de postos de trabalho (so­ com a imposição áe
bretudo os estáveis e seguros), em que, quando surgem as ocupações, são amparava e p r o te g a ,
precárias e mal remuneradas, cresce ainda mais a sempre enorme massa crediticios.
de não-cidadãos, destituídos de dignidade, segurança, proteção e status. Nessa “estratega’ t
Submetidos ao infraconsumo, mesmo das necessidades mais básicas. flitantes, não coube 4
Por outro lado, uma m inoria que goza de direitos civis plenos foi fiscal e de ciência e
submetida, com o nos ensina Celso Furtado, à imposição e difusão de construções
padrões de “vida m oderna” e de aspirações de consum o estandardi­ equação política
zado.26 Tal grupo encontrou uma econom ia urbana em expansão e uma O Estado se
fronteira agrícola fluida, em que seus diversificados interesses puderam e eficiência, mas:
ser contemplados. a articulação do j
engendrou, por vezes
amparou resistências
4.5 o “ desafio à síntese ”27 dos diversos e heterogêneos de com petitividade,:
“mundos ” “ dos de baixo ” e “ dos de cim a ” temente o câmbio,
Sancionou um
O processo de industrialização no Brasil logrou contemplar diversificados o loteamento/a
interesses (setoriais, regionais, das frações do capital). Nossa economia procurando escapar à
continental, com sua decorrente vocação para introversão, pois dotada M esm o com a ,
de ponderável mercado interno, pôde seguir, com certa passividade, os integrada e div<
caminhos de menor resistência de uma pragmática estratégia de acres- canismos de defesa,
centamento de elos antes ausentes da cadeia produtiva. Tal política de o sucateamento (r
preenchimento de lacunas, completando progressivamente nosso parque empresas promov
industrial, amparava e contem plava m últiplos interesses, contornava e um “enxugamento*
conflitos, ao não submeter e expor esse aparelho industrial às vicissi- empresas lograram
da economia, prot
26 “A crescente influência da economia norte-americana, impulsionando uma cultura de massas anos 80. Na década d e
dotada de meios extraordinários de difusão, opera como fator de desestabilização do quadro destruição de
cultural fundado na dicotomía povo-elite. Com o avanço da urbanização, a presença do povo
torna-se mais visível, fazendo-se mais difícil escamotear sua criatividade cultural” (Furtado, país e para a regressão
1 9 9 9 , P- 6 5 ). mercados interna
27 Expressão utilizada por Maria da Conceição Tavares (2001, p. 7) quando afirma que “o Brasil Decisões n a c io m »
atual é um desafio à síntese. A heterogeneidade estrutural brasileira aumentou de tal maneira
que qualquer esquema interpretativo é necessariamente um a simplificação”. nom ia brasileira
T R A N SF O R M A Ç Õ E S N O P A D R A O D E S O C IA B IL ID A D E D O B R A SIL

: essas contratações tudes da concorrência, além de abrir horizontes de acumulação para as


i seguridade social, órbitas não-industriais e para as inform alizações diversas. Desse modo,
acom odava variados interesses. A o não reciclar, renovar e atualizar sua
diversificada e verticalizada indústria, e dar guarida ao amplo leque de
nais minguaram, frações subordinadas do capital, não penalizava “nenhum ” segm ento
i de trabalho (so- com a im posição de queima de riqueza envelhecida. O Estado sempre
i as ocupações, são amparava e protegia as “iniciativas privadas” com incentivos fiscais e
; enorme massa crediticios.
»proteção e status, Nessa “estratégia” de industrialização acolhedora de interesses con­
i mais básicas, flitantes, não coube o redesenho de avançados aparelhos financeiro,
i civis plenos foi fiscal e de ciência e tecnologia, conform e lembrei anteriormente. Essas
ão e difusão de construções institucionais possivelmente m inariam a solidariedade da
10 estandardi- equação política montada.
i expansão e urna O Estado suportou segmentos empresariais carentes de competitividade
líateresses puderam e eficiência, mas mostrou-se impotente para levar às últimas conseqüências
a articulação do processo de m onopolização e centralização de capital;
engendrou, por vezes manteve e mesmo recriou vantagens competitivas,
amparou resistências dos núcleos mais atrasados e prom oveu avanços
iO G E N E O S de competitividade, ainda que espuriamente (desvalorizando persisten­
temente o câmbio, contendo salários, protegendo sem seletividade etc.).
Sancionou um com portam ento empresarial defensivo e imediatista e
•diversificados o loteamento/a privatização do Estado com o locus de luta de setores,
Le Nossa economia procurando escapar à retração/estagnação.
io, pois dotada M esm o com a gravidade da crise dos anos 8o, um a parte dessa
icaria passividade, os integrada e diversificada estrutura industrial não foi avariada. Os m e­
i estratégia de acres- canismos de defesa, basicamente ancorados no Estado, não permitiram
. Tal política de o sucateamento (nem a quebra de empresas) do parque produtivo, e as
lente nosso parque empresas promoveram, além do ajuste patrimonial, uma racionalização
resses, contornava e um “enxugamento”. Cabe ressaltar que mesmo as pequenas e médias
*ãadnstrial às vicissi- empresas lograram participar dos mecanismos de indexação generalizada
da economia, protegendo seu patrim ônio da corrosão inflacionária nos
cultura de massas anos 8o. Na década de 1990, a situação foi diferente, avançando para a
: ie?e?cir:lização do quadro destruição de importantes elos das cadeias produtivas localizadas no
a presença do povo
ci¿e cultural” (Furtado, país e para a regressão também no padrão de relacionamento com os
mercados internacionais.
j.i : iñrm a que “o Brasil Decisões nacionais estratégicas não foram tomadas, tornando a eco­
zzirntou de tal maneira
nom ia brasileira extremamente sensível aos m ovim entos dos capitais

175
TERRITÓ R IO E D ESEN VO LVIM EN TO tk a t ;;

internacionais. Sabia-se que os constrangimentos internos e externos a por seleção de Tro­


uma inserção internacional menos vulnerável seriam imensos. É preciso, que determina c~=
com realismo, não fazer tábula rasa do “padrão” perverso de excludência plexidade e large u.
de nações, regiões e pessoas, associado à chamada “3- Revolução Indus­ consolidada exige
trial”28 e à desregulamentação financeira prom ovida pelo novo padrão amplo, sem elhar:
de acumulação mundial. Contudo, políticas soberanas poderíam ter sido nossa anterior
implementadas. É necessário o reconhecimento de que somos uma nação de interesses que
periférica que gravita no círculo de influência da combalida economia desindustrializacse
do império americano e, ainda, que os fluxos financeiros, de tecnologia
e de capitais se estão direcionando para outras rotas... cremos que as <
Enquanto a paralisia tomou conta do país, nos países centrais o desafio lidade de sua e~
de adaptação aos novos tempos de desaceleração os levou a respostas tenha completado •
criativas/defensivas empreendidas no contexto de um enorme esforço seus padrões pre
racionalizador, saneador e inovativo — sob graus diversos de regulação e passivamente às
dida em que não
coordenação estatal, buscando economias de energia e matérias-primas,
comercial regional
nova eficiência organizativa e de gestão empresarial etc. — , cujo eixo foi
o avanço de competitividade e a construção de vantagens comparativas
Essas citações
dinâmicas. Administrou-se, da melhor form a possível, a desvalorização
tras políticas ne
da riqueza envelhecida e avançou-se em novas trajetórias tecnológicas,
produtiva sediada j
levando a um inusitado patamar de m undialização dos portfolios, amal-
deficientes cen tros'
gamação de patrim ônios e articulação de macrointeresses burgueses.
Segundo L essar
Testemunha-se uma irrefreável onda de reconcentração e recentralização
nossas elites, n e s s a
de capitais, com a sedimentação de alianças estratégicas interoligopólicas
pendimento p e lo s'
que passam ao largo das arenas institucionais públicas e dos Estados
certa era a Repúbíka
nacionais.
ditada pelo mere
Mesmo nesse contexto mundial perverso, deve ficar claro que entre os
nossa trajetória foi
dilemas estratégicos do Brasil está a impossibilidade de levar à frente as
que o país podería,
propostas ingênuas, que ora surgem, de consolidar “ilhas de excelência”
em uma g ra n d e:
ou “enclaves” produtivos. Ainda se pode afirmar, com o há dez anos, que a
complexos nos ¡
complexidade, integração e diversificação do parque produtivo instalado
Passado (?) esse
no país continua inviabilizando a exclusão e o desmanche de “ramos in ­
identidade nacional,
dustriais completos [...] sua especialização tem que ser obrigatoriamente
de seu poder de
o desafio de cap'
28 Nunca esteve tão claro que “o capitalismo generaliza somente as relações mercantis. Mostrou- timadas politi
se incapaz de promover o nascimento de sistemas integrados, de difundir ampliadamente o
progresso técnico. De m aneira geral, a ampliação do Centro só ocorreu a partir de revoluções (financiamento j
nacionais ou de projetos nacionais de desenvolvimento, como demonstram, neste século, os com o nos padrões t
exemplos da Coréia e da China” (Mello, 1997, p. 23).

176
T R A N SF O R M A Ç Õ E S NO “ P A D R Ã O DE S O C IA B IL ID A D E ” D O B R A SIL

ios e externos a por seleção de produtos em todos os ramos [...]” (Tavares, 1994, p. 19), o
t imensos. É preciso, que determina que nossa reestruturação seja marcada por grande com ­
»de excludéncia plexidade e largo horizonte temporal. O u seja, a maturidade industrial
“ijP Revolução Indus- consolidada exige m odernização e im possibilita o desm antelam ento
i pelo novo padrão amplo, semelhante ao ocorrido no Chile e na Argentina. O sucesso de
spoderiam ter sido nossa anterior diversificação industrial engendrou uma complexidade
; somos uma nação de interesses que dificilmente poderíam ser anulados por um processo
Ecom balida economia desindustrializante mais generalizado. C om o Fiori (1992, p. 12),
, de tecnologia
cremos que as dificuldades brasileiras têm a ver não com a fraqueza ou fragi­
¡centráis o desafio lidade de sua economia, senão ao contrário, resultam do fato de que o Brasil
>k v o u a respostas tenha completado sua industrialização pesada que logra avançar a partir de
seus padrões pretéritos de financiamento e proteção, mas tampouco se ajusta
m enorme esforço
passivamente às mudanças ocorridas no contexto internacional [...] na m e­
¡ de regulação e
dida em que não possui complementaridades decisivas com qualquer bloco
re matérias-primas,
comercial regional.
c. — , cujo eixo foi
. comparativas
Essas citações continuam atuais, embora 0 processo de abertura e ou ­
. a desvalorização
tras políticas neoliberais tenham causado grande destruição na estrutura
; tecnológicas,
produtiva sediada no Brasil, fragilizando ainda mais os já estruturalmente
¡portfolios, amal-
deficientes centros internos de decisão.
ses burgueses.
Segundo Lessa (1998), pudemos detectar, em uma grande parcela de
► e recentralização
nossas elites, nesses tempos neoliberais, um certo sentimento de arre­
í ínteroligopólicas
pendimento pelos êxitos da nossa industrialização,“ou seja, quem estava
e dos Estados
certa era a República Velha, cujo m odelo respeitava a divisão de trabalho
ditada pelo m ercado internacional. De lá para cá, segundo essa visão,
■ daro que entre os
nossa trajetória foi um imenso erro”. Outros “mais modernos” asseveram
: de levar à frente as
que 0 país poderia, graças ao tamanho e heterogeneidade, transformar-se
“■ ibas de excelência”
em uma grande fronteira de serviços, constituindo sistemas terciários
>há dez anos, que a
complexos nos principais eixos de crescimento do território nacional.
í produtivo instalado
Passado (?) esse ambiente de contram ão da via de construção de
■ che de “ramos in-
identidade nacional, o Estado, profundamente debilitado no exercício
rser obrigatoriamente
de seu poder de regulação, gasto e coordenação, tem pela frente agora
o desafio de capitanear um processo de brutais transformações — legi­
á c íe s —srcantis. Mostrou- timadas politicamente, por certo — no arcabouço da gestão econôm ica
. Ot a r ^ ü r ampliadamente o
(financiamento público, privado e externo, comércio exterior etc.), bem
i-n a rria i ra rtir de revoluções
ia : i: c .~ im , neste século, os com o nos padrões de distribuição da renda e do bem-estar social.

177
TERRITO R IO E D ESENVOLVIM EN TO tela n ; ; ;

Entretanto, o Estado brasileiro se encontra completamente desapa­ manutenção do


relhado, inclusive para legitim ar suas ações perante a diversidade de a extensa “b an ciC i
“mundos” do capital e do trabalho presentes no Brasil (Tavares, 2001). Sem condições ts.
Essa autora divide esses “mundos” em três partes, quanto ao capital: de oportunidades:
alguns poucos as?
1) o do grande capital do agribusiness, que poderia juntar-se analíti­ Sem consolidar
camente aos nossos setores de commodities industriais (aço, alumínio, tecnológica, ]
papel e celulose); e, portanto, sem
2) o dos capitais da indústria manufatureira; torna-se d ific ílim o
3) o do grande capital de serviços de infra-estrutura e de utilidade paralisia e/ou regí
pública. desregrado.
Grassa a aut-
A esses três mundos, Tavares agrega ainda o “mundo virtual financeiro”, mento. A sociedade
que se acopla aos dem ais,“em vasos comunicantes, sem regulação e com convicta de que o r
completa liberdade de entrada e saída do país”. Quanto aos “mundos do lizando uma inq
trabalho”, assinala: geradoras de uma
a convivência social
1) o m undo da pobreza e do desemprego disfarçado; Sem a c ria ç ã o .
2) o m undo assalariado mal pago (50% da PEA); e a criação de possas
3) o mundo dos que ocupam postos de gestão do capital. inserção s o c ia l:
interrompida para.
Esses exemplos são importantes para se refletir acerca da diversidade de Por outro lado.
interesses postos hoje na economia e sociedade brasileiras e que precisam entre o “poder 1
ser levados em consideração em qualquer análise e ação política. nitivamente o pado
Seria bom lembrar ainda o papel das pequenas e médias empresas. uma “civilização'
Essas atravessam a crise com toda sorte de informalizações, sonegações e geneidades est
sobreexploração da mão-de-obra, tornando-se um dos principais campos secular do pêndulo
de resistência a avanços, sobretudo os que dizem respeito aos direitos (re)distribuição de
trabalhistas e aos salários. O ambiente é :
Outra enorme arena de resistência, o rural29 brasileiro, marcado por amortecimento — 3
uma multitude de interesses (não apenas aqueles do agribusiness já lem ­ e geográfica) — qoe
brado), ainda entrecortados regionalmente, e representado de forma não- estratégias d e :
m onolítica no Estado, ganha uma sólida unidade na luta quotidiana pela táticas de sobre\
da pobreza e da
29 A contradição campo-cidade não se deu, como descrito por Marx, nas experiências originárias não conseguem
de capitalismo, levando a que as esferas do que seja o urbano e do que seja o rural ficassem A grande questim
sobrepostas, mesclando dinâmicas e interesses sem clara delimitação.
secular de uma:

178
T R A N SF O R M A Ç Õ E S N O “ PA D R Ã O DE S O C IA B IL ID A D E ” D O BR A SIL

lente desapa- manutenção do controle da propriedade privada das terras, legitimando


1a diversidade de a extensa “bancada rural” presente no Congresso Nacional.
(Tavares, 2001). Sem condições estruturais para sinalizar ou fomentar novos horizontes
to ao capital: de oportunidades rentáveis à “iniciativa privada”, o Estado é loteado entre
alguns poucos agentes privados eleitos.
t iuntar-se analiti- Sem consolidar finanças industrializantes internas, imersos na inércia
ãs (aço, alumínio, tecnológica, portadores de m inúsculo aparelho científico e tecnológico
e, portanto, sem autonomia na capacidade de inovação e investimento,
torna-se dificílimo equacionar nossa reprodução social, mergulhados na
. e de utilidade paralisia e/ou regressão econôm ica e entregues à ferocidade do mercado
desregrado.
Grassa a autopreservação, na ausência de expectativas de autocresci-
>virtual financeiro”, mento. A sociedade se acha crescentemente temerosa acerca do futuro e
t regulação e com convicta de que o passado não serve com o guia para o presente, genera­
>aos “mundos do lizando uma inquietude e insatisfação difusas, não-aglutinadoras e não-
geradoras de uma mínima convergência de finalidades, capaz de cimentar
a convivência social civilizada e a reprodução econôm ica ampliada.
Sem a criação de horizontes para a acum ulação produtiva e sem
a criação de postos de trabalho que gerem acessibilidade à renda e à
>capital. inserção social digna, o mercado de trabalho transita de uma construção
interrompida para uma destruição aberta.
1da diversidade de Por outro lado, m inam -se os fundamentos da complexa articulação
, e que precisam entre 0 “poder nacional” e os poderes locais, talvez negando, hoje, defi­
ecação política. nitivamente o pacto federativo que costurasse interesses dispersivos de
>e médias empresas, uma “civilização” cicatrizada pelo peso da história de profundas hetero­
s, sonegações e geneidades estruturais (social, regional e produtiva) e pelo movimento
i principais campos secular do p ên d ulo da centralização/descentralização p olítica e da
: respeito aos direitos (re)distribuição de competências entre as esferas de governo.
O ambiente é complexo, pois as m alhas de solidariedade e as redes de
deiro, marcado por amortecimento — baseadas naquela mobilidade estrutural (intergeracional
t ¿gribusiness já lem- e geográfica) — que amparavam “os de baixo” definharam. Deixam os as
io de forma não- estratégias de sobrevivência minimamente coletivas para ingressar nas
m *. i n quotidiana pela táticas de sobrevivência da vida privada. O mais grave é que grande parte
da pobreza e da miséria se encontra em grandes centros urbanos, que
as fxr-enencias originarias não conseguem prover serviços, empregos etc. de qualidade.
« -a: r - f ieia o rural ficassem A grande questão é se perguntar o que pode significar a persistência
secular de uma sociedade cindida entre uma grande maioria que se localiza

179
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO tr av ;? : -

subordinadamente na sociedade, configurando uma verdadeira massa de industriais. Xão


não-cidadãos, e uma pequena minoría privilegiada que goza de direitos lucros extraord— í v *:s .
civis e garantias sociais plenos. que tiveram seir.rrí :
O projeto neoliberal em curso parece ser o de “ressuscitar” e refor­ se interpenetram.:
çar a hegem onia de um certo capital m ercantil “m oderno”, agora sob ciai e “bancário"'
o im pério absolutista do m ercado. É fato que ocorreu um a historia financeira, requerenápi
secular de centralização imperfeita dos capitais nacionais, gestados que as pesquisas p recisa» !
foram em um ambiente perm anente de “bloqueio político-estrutural de das diversas el
à centralização do capital” e de “autolim itação estrutural em direção setores, nas diversa» i
ao m o vim en to de m o n o p o liza çã o ”, im p o n d o u m a “rep rod ução de C om o bem sin texm l
interesses capitalistas que não são capazes de autodeterm inar-se no
m ovim ento de expansão” (Lessa e Dain, 1980). Desse m odo, diversas O Brasil, apesar de s
frações se encontram em enfrentamento em um espaço mercantil pouco pofágica e de possmri
regulado pelo Estado. é uma Nação modera*. 3
Um grande problema para se pensar os cenários para o país é que um capitalistas: aquelas 1
certo viés de análise talvez tenha levado a uma obsessão pela órbita in ­ lutas sociais e políticas*
os direitos sociais l
dustrial,30dificultando que se desvelasse a verdadeira natureza da valori­
de aceitação do couáaag
zação dos capitais “domésticos” não-industriais, que sobrevivem econô­
a falsa consciência das*
mica e politicamente ancorados em uma composição singular de órbitas
Comum a partir de i
e circuitos reprodutivos, que se entrecruzam, porém passam sempre pela
do Estado, que, por 1
propriedade fundiária m onopolista (rural e urbana) como alicerce do nos séculos XIX e X X a
poder político, pelos circuitos imobiliários capciosos, pela manutenção
patrimonialista, pela especulação legitimada e bancada pela ação estatal Afirma-se a t
etc. O certo é que “sabemos m uito pouco sobre a articulação entre a
inúmeros interesses*
industrialização e os m ovim entos das órbitas subordinadas, que, pela ser totalmente le
peculiar constituição de nosso capitalismo, obtém do político uma fração valorização e regiões.!
substancial do excedente geral do sistema”. Uma dificuldade-chave para
interesses capitalistas t
o entendimento da equação política montada é que “as órbitas subordi­ contexto do pacto j
nadas do ponto de vista da industrialização não o são sob o ponto de de capital sob encc
vista político” (Lessa e Dain, 1980, p. 225). Sobretudo, entendemos que
elite” mercantil-
desconhecemos grande parte da dinâmica e dos “segredos” e idiossin­
de comercialização. <
crasias e da natureza da subordinação dessas órbitas e circuitos não-
parque mineroind

30 Seria preciso que indagássemos, em diversas áreas e temas das ciências sociais, se, por exemplo, A gravidade maior*
não exageramos nas determinações da “industrialização da agricultura”, não incorremos numa que obrigue a um 1
sobredeterminação da industrialização para explicar os processos de urbanização, os processos
de desenvolvimento regional, na configuração do mercado de trabalho, na determinação
desestruturação d e .
dos salários etc. a substituição de ¡

180
T R A N SF O R M A Ç Õ E S N O PA D R A O DE SO C IA B IL ID A D E D O BR ASIL

twtrdadeira massa de industriais. Não desvendam os sua lógica de valorização fundada nos
:goza de direitos lucros extraordinários diferenciais ancorados na “esfera da circulação” e
que tiveram sempre uma articulação genética com o Estado. Os circuitos
“■ essoscitar” e refor- se interpenetram, mesclando os circuitos especulativo, imobiliário, comer­
em o”, agora sob cial e “bancário’Vusurário, determinados por sua dupla face mercantil e
eu urna historia financeira, requerendo recorrentemente algum privilégio público. Assim,
s, gestados que as pesquisas precisam investigar como se dá a valorização da pluralida­
>político-estrutural de das diversas e heterogêneas frações, com diversos portes, nos diversos
ral em direção setores, nas diversas regiões e nos diversos urbanos brasileiros.
'rep ro d u ção de C om o bem sintetiza Tavares (1995, p. vi):
term inar-se no
modo, diversas O Brasil, apesar de sua língua e território unificados e sua cultura antro-
(mercantil pouco pofágica e de possuir um Estado Nacional classicamente interventor, ainda não
é uma Nação moderna. Nunca se submeteu ao teste das verdadeiras nações
i o país é que um capitalistas: aquelas em que a mercadoria e os direitos se contrapuseram por
lutas sociais e políticas com a participação de grandes massas onde o mercado e
* pela órbita in-
os direitos sociais foram conquistados duramente e sem falsos consensos. A falta
i natureza da valori-
de aceitação do conflito político interno como meio de resolver os dissensos e
r sobrevivem econó-
a falsa consciência das elites que sempre foram incapazes de racionalizar o Bem
I singular de órbitas
Comum a partir de interesses gerais em confronto, levou sempre à privatização
Ipassam sempre pela
do Estado, que, por sua vez, nunca se testou como verdadeiramente nacional,
li como alicerce do nos séculos XIX e XX, até por falta de confronto externo real.
,, pela manutenção
i pela ação estatal
Afirma-se a esterilização dos fundos públicos que davam guarida aos
e* articulação entre a
inúmeros interesses dissonantes, restando agora o patrim ônio público a
imadas, que, pela
ser totalmente leiloado. Leiloam-se também diversos atores, espaços de
(político uma fração
valorização e regiões. Sinaliza-se hoje com uma liquidação de atores e
ade-chave para
interesses capitalistas que no passado apareciam com o estratégicos no
'as órbitas subordi-
contexto do pacto pretérito da chamada “era Vargas” (v. g., o setor de bens
! são sob o ponto de de capital sob encomenda), com a colocação em seu lugar de uma “nova
. entendemos que
elite” mercantil-usurária-im obiliária, proprietária das grandes cadeias
'segredos” e idiossin-
de comercialização, dos meios de com unicação de massa e de parte do
e circuitos não-
parque mineroindustrial e agroindustrial.

lzt viciáis, se, por exemplo, A gravidade maior do problema é que diante de uma (esperada) crise cambial
tl . " lo incorremos numa que obrigue a um constrangimento forte de importações, a reversibilidade da
x¿= ¿nização, os processos
desestruturação de cadeias produtivas internas passa a ser problemática após
£ n c i j : : - na determinação
a substituição de produtos nacionais por importações, dado que a experiência

181
TERRITÓ R IO E D ESEN VOLVIM EN TO

acumulada, a planta que os produzia e possivelmente o próprio empresário já


não podem ser reativados (Cano, 2000, p. 66).
A reafirm ai >
Em âm bito internacional, a nova form atação de im perialism o (já
estratégia*
não é preciso ter pudor de voltar a usar tal palavra) propõe uma nova
£i
partilha do mundo, agora não mais de nações, mas m uito mais seletiva,
escolhendo lugares passíveis de exploração, eficiência e competitividade.
O movimento desarticulativo promovido pelas forças e formas mundia-
lizadas dos circuitos dos grandes capitais potencializa ainda mais uma
dessintonia crescente entre população, território, trabalho e riqueza e
im põe, sem resistências, no caso brasileiro, um a com plem entaridade
perversa e subordinada na economia-mundo.
A fragmentação exacerbada, com 0 esgarçamento do tecido social,
desata a incivilidade (Mello, 1984), impedindo a constituição pactada de
esferas públicas pautadas por regras transparentes, publicizando as pug­ Conforme discutido 1
nas, edificando arenas públicas e espaços coletivos para as lutas sociais, nos demais capítulos 1
fundados em interesses organizados. pelas correntes te
O debate deve ser realizado com consciência das limitações do cres­ Para não repetir i
cimento econôm ico para, automaticamente, incluir os excluídos; com dizendo que tais ¡
uma boa crítica à visão dicotôm ica política econôm ica versus políticas estaríamos viv en d o .
sociais e não deve resvalar para uma discussão econom icista de “falta de decorrência, esse <
políticos complexas n
dinamismo” para gerar emprego e renda, a fim de possibilitar a inserção | processos de de
orgânica dos excluídos. Deve-se, sim, partir das alternativas concretas
de construção de cidadania, dignidade, segurança e proteção, com radi- confirmando a
calidade democrática e redistribuição de renda, riqueza, poder e acesso cal” e “o global”. ;
ao Estado, reconstruindo politicamente novas escalas para as políticas opção de políticas
de desenvolvimento, sobretudo a nacional. é, só tendo o local <
solidário, em amh
A partir dessa escala,]
globalizados.
Nesse contexto, j
cessidade, para a ;
de se tratar teóricas
mando a importância*
sobretudo do papel 1
Apontarem os;
continental e marcaJmt

182
iproprio empresario já C apítulo 5

A reafirmação do nacional e as possibilidades de


im perialism o (já
estratégias e políticas de desenvolvimento
' propõe uma nova
(■ mio mais seletiva,
e suas escalas espaciais
i c competitividade.
► e formas mundia-
t ainda mais uma
(trabalho e riqueza e
i com plem entaridade

i do tecido social,
ição pactada de
kfobiicizando as pug- Conforme discutido no início deste livro, as questões estruturais apontadas
tpara as lutas sociais, nos demais capítulos foram negligenciadas ou totalmente abandonadas
pelas correntes teóricas hegemônicas hoje no m undo e no Brasil.

► im itações do cres­ Para não repetir tudo o que foi dito no capítulo 1, poderia sintetizar
os excluídos; com dizendo que tais análises têm, de forma subentendida, uma idéia de que
. versus políticas estaríamos vivendo em uma comunidade, não em sociedade; que, em
icista de “falta de decorrência, esse conjunto social não é cindido em classes e interesses
cpossibilitar a inserção políticos complexos (daí discutirem apenas atores sociais); que vivem os
(alternativas concretas processos de destruição das escalas intermediárias e o m undo estaria
té proteção, com radi- confirmando a tendência bipolar das escalas espaciais — apenas “o lo ­
za, poder e acesso cal” e “o global”. Nessa visão, altamente consensuada hoje, só restaria a
. para as políticas opção de políticas de desenvolvimento de natureza “m onoescalar”, isto
é, só tendo o local com o ponto de partida (e de chegada?), comunitário,
solidário, em ambiente de alta sinergia associativa do seu “capital social”.
A partir dessa escala, poderia acionar-se (e conectar-se) a rede dos fluxos
globalizados.
Nesse contexto, no presente capítulo discutiremos a questão da ne­
cessidade, para a análise da dimensão espacial do subdesenvolvimento,
de se tratar teórica, analítica e politicamente a questão das escalas, reafir­
m ando a importância das escalas intermediárias (“o local” e “o global”),
sobretudo do papel basilar da escala nacional.
Apontaremos algumas especificidades da escala nacional, de dimensão
continental e marcada por heterogeneidades estruturais (produtivas, sociais,

183
TERRITÓR IO E D ESENVOLVIM EN TO A R E A FIR V .-. : ■

regionais, políticas e culturais), procurando apreender suas determ ina­ C om a d efin icl:
ções, seus papéis e suas potencialidades na implementação de políticas criação de riqueza r c ,r& a
de desenvolvimento. tiva ou a m an uten ci:
econom ia m ede o
da aplicação de czp
5.1 A M E D IA Ç Ã O D O N A C IO N A L Com a definição dal
na opção te c n o lo g ía a
Fica patente hoje a necessidade da reconstrução, teórica e política, de distributiva intema’
nossa reprodução social e material em bases nacionais, ou melhor, a re­ com a produção, o a
construção da própria escala nacional, atingida duramente por políticas complexidade em t
antinacionais e antipopulares há décadas. Desdobramentos ii
o mercado de con
5.1.1 A escala nacional como construção histórica, social, política e econômica de importante cc
As definições do 1
O desenho da escala nacional como construto histórico, sociopolítico serão decisivas p a ia a i
e econôm ico requer 0 controle sobre os preços fundamentais da econo­ A capacidade de t
mia, sobre os instrumentos de regulação, sobre o sistema de normas e as classes sociais e<
instituições etc. Significa espaço minimamente refratário, circunscrito vas para constituir!
e protegido, através de suas fronteiras.1 orientam os inve
A manipulação dos instrumentos formadores dos preços econômicos, Estado e a capac
do câmbio, dos juros e dos salários é condição prim ária para m oldar o é totalmente ade
recorte nacional, balizando os cálculos econômicos dos agentes localizados momento histórico l
naquele limite geográfico, vis-à-vis aos “residentes no exterior”. Elemento-sintese a
Com a definição da taxa de câmbio modula-se a gradação dos pre­ espaço restrito, a 1
ços relativos, erigindo um a fronteira econôm ica entre as transações junto de decisões ¡
que geram e as que despendem divisas. Tal preço básico da econom ia ser “suficienteme
inform a os ganhos com a exportação e o valor dos importados, entre relativos e a operaçâ»<
outras funções. Alm eida, 2002, p. 30M
As decisões de política econôm ica quanto à entrada de capitais, às mo que se im põe é 1
remessas de lucros, aos esquemas de proteção (subsídios, barreiras alfan­ certa coerência, na 1
degárias, licenças, quotas, outras “novas” barreiras técnicas, ecológicas essencial. Essa 1
etc.) são definições importantes sobre a escala nacional que se deseja de assimetrias ir
construir. desse poder sobre a si
de avaliação geral da 1
1 Por vezes, há verdadeira confusão no debate sobre o tema. É preciso ter claro que espaço
nacional não é sinônimo de mercado interno “fechado” (cativo, “pouco poroso”), mas de ar­ 2 Por exemplo, em i
ticulação orgânica entre mercado interno e mercado externo, sob a égide do primeiro. Todo seguramente um t
capitalismo historicamente cresceu para dentro e para fora, simultaneamente. importância”.

I84
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E A S P O SSIB IL ID A D E S D E E STR A TEG IA S

suas determina- C om a definição da taxa de juros, balizam -se as alternativas entre a


ação de políticas criação de riqueza nova, empreendendo a geração de capacidade produ­
tiva ou a m anutenção dessa riqueza sob a form a líquida. Esse preço da
econom ia m ede o custo dos recursos necessários ao financiam ento
da aplicação de capital.
Com a definição da taxa de salários, constrói-se a “principal referência
na opção tecnológica empresarial e um dos fundamentos da equação
tBÓñca e política, de distributiva interna” (Paiva, 2003, p. 4). Esta apresenta relações múltiplas
ou melhor, a re­ com a produção, o emprego e os preços no sistema econômico, com grande
te por políticas complexidade em sua determinação e seu comportamento (Baltar, 2003).
Desdobramentos importantes da manipulação dessa variável influenciarão
o mercado de consum o de massa, o poder aquisitivo da população, além
e económica de importante componente do custo de produção.
As definições do fisco, através das políticas fiscais e tributárias, também
sociopolítico serão decisivas para a definição de um espaço de uma economia nacional.
itais da econo- A capacidade de exação, o nível e a distribuição da carga tributária entre
*s*em a de normas e as classes sociais e estratos de renda etc. desenham o leque de alternati­
o, circunscrito vas para constituir fundos públicos, dão a capacidade de gasto público,
orientam os investimentos privados e o raio de manobra financeiro do
i preços económicos, Estado e a capacidade de bancar o setor produtivo estatal. O padrão fiscal
para moldar o é totalmente aderente ao padrão de acum ulação2 de um país em dado
■s agentes localizados m omento histórico (Oliveira, 1981 e 1995).
mo exterior”, Elemento-síntese da necessidade da disciplina e soberania naquele
f* gradação dos pre- espaço restrito, a moeda, a m aior convenção nacional, presidirá o con­
i entre as transações junto de decisões sobre o enriquecimento privado. A crença nela deve
•básico da economia ser “suficientemente enraizada para perm itir o m ovim ento de preços
w importados, entre relativos e a operação das forças da oferta e da demanda” (Belluzzo e
Alm eida, 2002, p. 30). Conform e afirmou Braudel (1979, p. 473), “o ter­
■aerada de capitais, às m o que se impõe é mercado nacional: o enorme continente admite uma
bes, barreiras alfan- certa coerência, na qual a economia monetária é elemento importante,
tecnicas, ecológicas essencial. Essa coerência cria pólos de desenvolvimento, organizadores
k»nal que se deseja de assimetrias indispensáveis a uma circulação ativa” (grifo nosso). Além
desse poder sobre as relações internas, é bom lembrar que, como padrão
de avaliação geral da riqueza, cumprirá papel central seu relacionamento
£ í r s e l e :er claro que espaço
t o j " roroso”), mas de ar- 2 Por exemplo, em uma economia “onde o centro dinâmico foi deslocado para dentro do país,
i ¿ iç iie do primeiro. Todo seguramente um tributo que grave a produção e a circulação interna de mercadoria terá mais
1. ~i~ cimente. importância”

185
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO A R E A F IrJ'L- I -

com o regime m onetário-financeiro mundial, hierarquizado pela moeda espaços territorial; cul
conversível.3 Nos espaços nacionais subdesenvolvidos, na ausência da de independência ¿z:
conversibilidade, exercerá função importante para determinar os graus
de autonomia que o autocontrole de divisas escassas permitir. Torna-se impr
Essa delimitação econômica construída pela manipulação dessas variáveis cados mundiais esc*
cria os principais marcos para a definição da base territorial nacionalizada, plano nacional dos ¿
condição material da (re)produção social. legal-institucionais
Entretanto, outras circunscrições serão decisivas para fixar o recorte construções ind
da escala nacional. Para além do dom ínio econôm ico sobre aquela esca­ Os direitos de j
la, outros fatores atinentes aos arranjos sociais, políticos e culturais nas legislações t
imprimirão algum grau de unicidade de propósitos a esse recorte. A lgu ­ Por paradoxal <
ma comunhão de destino e alguma vontade compartilhada em relação importância n o ‘
ao futuro (Balakrishnan, 2000) são necessárias ao delineamento e cir- namento legal e do
cunscrição de qualquer escala “geográfica”. Assim, o nacional é espaço nacional. O aparato
de poder e arena privilegiada de constituição, enfrentamento e concer- “confinamento” da
tação de interesses, de alinham ento político m ínim o, para além das (obviamente que a
clivagens de frações de classe e interesses. A apreensão dessas múltiplas bilização” e/ou -
dimensões da questão desemboca, e é sintetizada e expressa, na questão A construção da
do pacto federativo que se arma nesse recorte nacional. Esse contrato se exercer controle,
sociopolítico dá coesão e sanciona a unidade nacional no interior de tralizar as deter
dado território. Retornarei a essa questão ao final deste capítulo. desenfreada, fis
Segundo Coutinho (2003a, p. 2), etc. O poder n a c k n ri
lizadas de acesso s
os Estados nacionais correspondem a configurações sociais, estruturas empre­ de enriquecimento
sariais, sistemas industrial-tecnológicos, bases de recursos naturais, geografia, Envolve ne
poder militar e grau de centralização específicos e têm de lidar com a inter- rano, circunscrição e
secção do arcabouço legal-institucional nacional com o funcionamento dos arranjos sociais,]
mercados mundiais [...] Embora tenha ocorrido a desnacionalização de vários ação, buscando
componentes da institucionalidade legal dos Estados nacionais, reduzindo-lhes
D eve aglutinar
o raio de manobra para operar políticas de regulação [...] a maior parte do
a solidariedade de '
aparato institucional dos Estados nacionais não foi ainda afetada por essa onda
de m odular s u a '
homogeneizadora, preservando-se uma ampla reserva de poder exclusivo nos
as pressões do centto
constituir e aperte
3 Como exemplo, poderiamos dizer que “o uso da âncora é um gesto de abdicação da soberania la nacional, ra
monetária. Há uma renúncia clara à prerrogativa de utilizar as políticas monetária, cambial
e fiscal como instrumentos de desenvolvimento. A defesa do valor externo da moeda — por subnacionais. D ecerto
meio da ancoragem numa divisa estrangeira — se torna o objetivo central da política ao qual perspectiva d a !
todos os demais devem se subordinar” (Belluzzo e Almeida, 2002, pp. 20-21).
1998, p. 63).

186
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E A S P O SSIB IL ID A D E S DE ESTR A TEG IA S

ido pela moeda espaços territoriais [que, porém,] precisam reforçar as suas condições objetivas
, na ausência da de independência ante esses mercados.
(determinar os graus
; permitir. Torna-se imprescindível o entendimento de que “a vigência dos mer­
i dessas variáveis cados mundiais está assegurada pela inscrição e pelo reconhecimento no
al nacionalizada, plano nacional dos direitos capitalistas, ainda que esteja revestida de formas
legal-institucionais específicas. [...] Sistema mundial e Estados nacionais são
í para fixar o recorte construções indissociáveis, e não instâncias essencialmente antagônicas”.
>sobre aquela esca- Os direitos de propriedade são e continuarão sendo registrados e amparados
, políticos e culturais nas legislações específicas das instituições localizadas na escala nacional.
ta esse recorte. Algu- Por paradoxal que possa parecer, crescentem ente vem ganhando
íada em relação importância no “capitalismo desregulado” a discussão do papel do orde­
>delineamento e cir- namento legal e do ambiente jurídico na definição do recorte da escala
, o nacional é espaço nacional. O aparato de regulação e a capacidade de “governança” que o
atamento e concer- “confinamento” da escala nacional permite nunca foram tão discutidos
10, para além das (obviamente que a maior parte desses debatedores propugna pela“flexi-
i dessas múltiplas bilização” e/ou desaparecimento dessas “normas impeditivas”).
re expressa, na questão A construção da escala nacional envolve a criação de dom ínio, de
íal. Esse contrato se exercer controle, moderar, disciplinar, e deve submeter e buscar neu­
íal no interior de tralizar as determinações destrutivas e predatórias da mercantilização
I deste capítulo. desenfreada, fiscalizar, monitorar, regular, conter forças desagregadoras
etc. O poder nacional deve defender a criação de oportunidades interna­
lizadas de acesso a bens e serviços e coordenar a abertura de horizontes
, estruturas empre- de enriquecimento nas fronteiras internas.
36naturais, geografia, Envolve necessariamente autonomia de decisão, de comando sobe­
lde lidar com a inter- rano, circunscrição e geração de “centros internos de poder”. Engendra
lo funcionamento dos arranjos sociais, políticos e econômicos que imprimem unicidade na(da)
ionalização de vários ação, buscando superar clivagens regionais, culturais etc.
anais, reduzindo-lhes Deve aglutinar forças, articular a com plem entaridade produtiva e
a maior parte do
a solidariedade de interesses cruciais e desenvolver capacidade m ínim a
lafetada por essa onda
de m odular sua inserção externa, acum ulando potência para enfrentar
¿e poder exclusivo nos
as pressões do centro hegemônico. Deve, nesse embate, crescentemente
constituir e aperfeiçoar m ecanism os e instituições regulatórias à esca­
e: ¿e abdicação da soberania la nacional, ram ificadas de form a descentralizada para as instâncias
epivilcas monetária, cambial
3bj: c externo da moeda — por subnacionais. D ecerto “a vitória da perspectiva da não-nação’ sobre a
: central da política ao qual perspectiva da Nação im põe uma dura luta política” (Benjamin et al„
re. rp. 20-21).
1998, p. 63).

187
TERRITÓ R IO E D ESENVOLVIM EN TO A r e a f :?3_-. .

Nesse contexto, torna-se fundamental resgatar, nesse debate com as Por fim, é b c — .-enmm
“forças da não-nação”, as contribuições de List (1841) sobre “sistemas eco­ processa na escala
nômicos nacionais de forças produtivas”, para que possamos demonstrar que nesse espaçe
que as economias nacionais não desapareceram e não se transformaram renda e da riqueza í esa
em meros “mercados” (mais ou menos emergentes ou não). Em seguida, ' - n »
O recorte nacional envolve necessariamente algum nível de autode­ dimensão co n tm eraL
terminação e autonomia, através da “internação dos centros dinâm icos”
de decisão, como sempre ensinou Furtado, que possibilite algum grau de 5- O nacional d¿
capacidade de disciplinar minimamente os circuitos, os fluxos e os m o­
vim entos rápidos e voláteis de capitais especulativos. Portanto, envolve A extensão t
proteção e controle4 sobre os mecanismos “auto-reguladores” das forças m ultissetoriais e
mercantis. (produtivos e fin ara
O nacional não é plataform a hospedeira de plantas ou um m ero horizontal, extensrcn
espaço recipiente de atividades econômicas e capitais, com o quer nos de possibilidades dei
convencer o discurso liberal-conservador, que procurou vencer as sal­ excedente. O próprio 1
vaguardas e defesas da unidade nacional, propondo apenas sua substi­ las de produção. O j
tuição pela criação de ambiente sedutor dos investimentos. Segundo esse escala e escopo que a]
discurso, disciplina, só do Estado; resguardo, apenas da “boa conduta” podendo m inorar j
m acroeconôm ica e da redução das falhas de mercado para um ambiente desequilíbrios em *
m icroeconôm ico saudável. Quanto mais porosas as fronteiras nacionais, Acredito que ]
segundo esse “pensamento único”, m elhor seria. plexas articulações t
A lé m de ser espaço de acum ulação sob condições institucionais próprias naturezas *
dadas, a escala nacional é historicamente fixada e politicamente criada continental e he
e legitimada, ao resguardar, amparar e abrigar agentes “territorializa- de escala e escopoL 1
dos’Vlocalizados que são submetidos a normas, regras e parâmetros que escalas tecnopr
estabelecem um contraponto (também espacial), uma dualização entre diferentes escalas <
os agentes e interesses locais versus “os externos”. lidade, colocando e i
Lembrar tal conjunto de questões torna-se hoje obrigatório no debate “cruzamentos”.
nacional e internacional, posto que há uma crença, quase generalizada, O Brasil, c o m :
de que se poderia exercer controle e m odular as “variáveis” responsáveis urbana de m assas,;
pelo processo de desenvolvimento em qualquer escala, sobretudo nas econômicos, bases *
menores. Esse pensamento tem uma convicção de que, quanto menor a diversidade gcográficaui
escala de ação, mais eficaz ela será.4 de renda. Sua fuga ]
tal) recorrentem esari
la e complexidade,!
4 Lessa (1998, p. 219) apresenta detalhada discussão sobre o papel do controle e da “necessidade
de articular-se com uma macrounidade política, que regule as interdependências”. Furtado ocupados. E nsejam «
(1966), no mesmo sentido, analisa o papel de controle e coação das macrodecisões v is -à - v is
sua força justamente!
às microdecisões.

188
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E AS PO S SIB IL ID A D E S DE E STR A TEG IA S

: debate com as Por fim, é bom lembrar que a discussão do desenvolvimento que se
(sobre “sistemas eco- processa na escala nacional deve estar atenta aos caracteres distintivos
ios demonstrar que nesse espaço definem sua estrutura de propriedade, a distribuição da
► se transformaram renda e da riqueza, a estrutura de consumo de suas classes sociais etc.
inão). Em seguida, discuto possíveis implicações de a escala nacional ter
i nível de autode- dimensão continental.
tcentros dinámicos”
: algum grau de 5.1.2 O nacional de dimensão continental: porte e complexidade

, os fluxos e os mo-
. Púrtanto, envolve A extensão territorial dos mercados propicia diversificadas aplicações
lores” das forças m ultissetoriais e m ultirregionais de capital. A valorização dos ativos
(produtivos e financeiros) encontra diversas oportunidades na conquista

(plantas ou um m ero horizontal, extensiva de novos mercados, com um vasto leque regional
, com o quer nos de possibilidades de reprodução ampliada e de realização dinâm ica do
¡>u vencer as sal- excedente. O próprio tamanho do mercado pode perm itir ampliar esca­

*apenas sua substi- las de produção. O porte dele potencializa a apropriação de ganhos de

tos. Segundo esse escala e escopo que a própria variedade geográfica dos mercados propicia,

; da “boa conduta” podendo m inorar problemas de realização e gerar potentes e dinâmicos


t para um ambiente desequilíbrios em cadeia.
lÉronteiras nacionais, Acredito que poderia avançar em análises que investiguem as com ­
plexas articulações desse cruzamento (virtuoso ou não) que envolve as
institucionais próprias naturezas das escalas: espacial (nacional), geográfica (economia
•politicamente criada continental e heterogênea) e de produção (possibilidade de economias
“territorializa- de escala e escopo). Em um m omento de grandes transformações nas
i e parámetros que escalas tecnoprodutivas e organizacionais e nas form as de operar em
. dualização entre diferentes escalas espaciais, o capitalismo ganha “flexibilidade” e m obi­
lidade, colocando e reatualizando a necessidade do tratamento desses
atório no debate “cruzamentos”.
. quase generalizada, O Brasil, com seu sistema produtivo integrado, em uma sociedade
■ ^nrsaveis” responsáveis urbana de massas, assegura, em certa m edida independente dos ciclos
' escala, sobretudo nas econôm icos, bases econôm icas e produtivas largas, propiciadas por sua
! qoe- quanto m enor a diversidade geográfica, demográfica, de recursos naturais e de estratos
de renda. Sua fuga para frente (da acumulação e no território continen­
tal) recorrentemente se beneficiou de seus ramos produtivos com esca­
la e complexidade, que deixam muitos interstícios a serem virtualmente
:c r o !e e da “necessidade
^dependências”. Furtado ocupados. Ensejam aparência de fragmentação/segmentação, mas têm
; =Acrodecisões vis-à-vis
sua força justamente aí nessas partições e espraiamentos. Gerando opor-

189
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO a r ía ;

tunidades de inversão variada, inerentes aos bloqueios e estrangulamen­ 5.1.2.1 Economia arnsuí
tos desse processo, heterogeneidades produtivas e espaciais, acabam por estrutu'j. ~ i
e hetero;-:-^r, ¿ a a r 1
propiciar uma m ultiplicidade de aplicações de capital em diversificados
ativos.
Lembro aqm m
A própria idéia de especialização regional no Brasil torna-se pouco
do, com enorme
rigorosa, pois a diversidade produtiva está presente no continental país,
maior com plexión
criando oportunidades e fronteiras e horizontes de expansão capazes de
em uma economía
animar as inversões privadas, dadas pela própria form a de articulação
(e de proposta de pt
regional do m ercado interno. Explora complementaridades colocadas
diversidade social e t
pelas oportunidades desconcentradas do patrim ônio ambiental, mineral
utilizadas com o a ¡
e de qualidade de terras. Os efeitos articulados e as economias de rela­
A teoria ecc
ção e de diversificação foram sempre decisivos para a extensividade de
todas as deter
nosso padrão de acum ulação.5 O crescimento “espontâneo”, “vegetativo”,
urbana complexa, i
“natural” do mercado de consumo urbano (e mesmo o rural moderno)
dispensado à firma 1
cum priu função importante. Efeitos induzidos pelo comportamento da
com pouca ou >
demanda corrente da rede urbana dispersa, e sua transmissão inter-re-
visão do u rb an o«
gional, sustentaram um mercado urbano em expansão vegetativa, com
dades e pessoas,;
demanda variada e reprodução ampliada por seu próprio porte.
firma, talvez tenha 1
Diversos grupos empresariais podem operar multiplantas no territó­
no sentido de 1
rio nacional, com pondo diversas estratégias em localizações específicas,
minuciosas ]
orientadas por mercados regionais de consumo particulares, logísticas
Os estudos lo g ra ra m
privilegiadas, por acesso especial a fontes de matérias-primas, mão-de-
conjunto de ativos er
obra qualificada ou áreas de baixos salários e classe trabalhadora com
os padrões de <
baixa organização político-sindical etc.
de incerteza. Em ¡
Considero fundamental discutir esses efeitos multiplicadores e ace­
principais do “m oda 1
leradores da dimensão continental da econom ia brasileira. É possível
Porém, quanto a o '
avançar no debate da facilidade da rotação do capital que o tamanho e a
de funcionam ento <
diversidade dos mercados propiciam. Com cadeias, redes mercantis e cir­
Continuando <
cuitos produtivos longos, que o tamanho do mercado sempre garantiu,
mia urbana p o u c o ;
assegurou-se o dinamismo “horizontal” de vários setores e sancionaram-se
econom ia in d u strial t
circuitos de valorização da riqueza de várias formas e conteúdos.
foram importante». !
desvendaram o ;
na econom ia, de
e regionais pelo
5 O funcionamento da máquina capitalista de crescimento algo “artificial” teve um de seus
fundamentos na extensividade da acumulação sempre em busca de fronteiras geográficas
resultou que a
ou econômicas desta “civilização predatória de desenvolvimento não sustentável” (Furtado, interpretativos.
1992a).

190
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E AS P O SSIB IL ID A D E S DE E STR A TEG IA S

eestrangulamen- 5.1.2.i Economia urbana moderna e diferenciada, complexa


estrutura produtiva (industrial, agropecuária e terciária)
s, acabam por
e heterogeneidades sociais, regionais e culturais
em diversificados

Lembro aqui as conseqüências e potencialidades de se ter m onta­


¡ tom a-se pouco
do, com enorme rapidez e conservadorismo, uma das sociedades com
i continental país,
maior complexidade do planeta. Uma sociedade multicultural vivendo
expansão capazes de
em uma economia urbana complexa. M inha hipótese central de análise
aa de articulação
(e de proposta de princípios para a intervenção pública) é a de que essa
ades colocadas
diversidade social e cultural e a diferenciação produtiva necessitam ser
ambiental, mineral
utilizadas com o a grande potencialidade de que dispomos.
economias de rela-
A teoria econôm ica pouco avançou ainda no sentido de apanhar
a extensivida.de de
todas as determinações advindas do funcionam ento de uma econom ia
“vegetativo”,
urbana complexa. Podería fazer aqui uma analogia com o tratamento
o rural moderno)
dispensado à firma. Esta foi tratada pelo mainstream como um ente inerte,
comportamento da
com pouca ou nenhuma capacidade de decisão. Semelhante, portanto, à
issão inter-re-
visão do urbano com o receptáculo passivo, mera plataforma para ativi­
vegetativa, com
dades e pessoas, sem decisão e comando. Contudo, no que diz respeito à
io porte,
firma, talvez tenha sido a área em que a teoria econôm ica mais avançou
tas no territó-
no sentido de constituir um corpo teórico, amplamente amparado por
ís específicas,
minuciosas pesquisas empíricas, alternativo ao pensamento conservador.
lares, logísticas
Os estudos lograram desvendar a natureza da firma, sob o aspecto de
primas, mão-de-
conjunto de ativos e capacitações, analisaram as estruturas de mercado,
trabalhadora com
os padrões de concorrência e as estratégias empresariais sob condições
de incerteza. Em síntese, eu diria, hoje se apreendem as determinações
: licadores e ace-
principais do “m odo setorializado” de funcionam ento do capitalismo.
fcrasileira. É possível
Porém, quanto ao “m odo espacializado” (sobretudo no espaço urbano)
' qoe o tamanho e a
de funcionam ento do capitalismo, não se pode dizer o mesmo.
mercantis e cir-
Continuando com a analogia, pode-se dizer que o estudo da econo­
sempre garantiu,
mia urbana pouco avançou no tratamento das “questões correlatas” (à
e sancionaram-se
econom ia industrial) da área. As contribuições de orientação marxista
e conteúdos.
foram im portantes. Sociólogos, geógrafos e outros cientistas sociais
desvendaram o urbano com o construção social do espaço. Entretanto,
na econom ia, dom inada ainda m ais na subárea dos estudos urbanos
e regionais pelo neoclassicismo, talvez mais do que no seu conjunto,
f r ã T teve um de seus
; fronteiras geográficas
resultou que a literatura internacional pouco contribuiu para avanços
rã : 5-rstentável” (Furtado, interpretativos.

191
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO á r e a ?:;:. - :

A cidade com o form a de organização socioprodutiva pouco foi estu­ mas não tem, v r -; -re
dada. Os autores do mainstream se concentraram no que eles chamam de trabalho e de ¿ci
de fundamentos econôm icos da cidade, sobretudo discutindo as razões economia. Assim. :
do surgimento dos processos aglomerativos e de sua cumulatividade. Ou o espaço de lutas r*:
seja, com eçam perguntando-se sobre a origem do fato urbano; passam aos m eios de couszomm
a estudar as vantagens e custos de aglomerar-se, e daí deriva a pergunta o espaço dos fluxo» 1
“qual o tamanho ótim o de uma cidade?”, e desembocam na discussão do cumpre papel de
urbano com o cam po de disputa das forças centrípetas e centrífugas. A espaço da “unidade«
partir daí, realizam um eterno balanço e tentativa de m edição das eco­ pp. 117-19) afirma»
nomias e deseconomias externas que essa form a aglomerada de pessoas
e atividades proporciona. C om o tempo, diria, grande parte da “fronteira” para compreender a 1
da “ciência urbana e regional” foi-se deslocando da teoria da produção enção aos estudos 3
(discussão de eficiência que o tamanho ótimo da cidade possibilitaria) a real significação da .
para o campo das m edições dos níveis de bem-estar social que o espaço A circulação dos ]
uma total expressão^
urbano propicia.
passou a ser um daáo i
Conform e deve ter ficado esclarecido no capítulo 2, existe total im ­
economia. Houve.:
possibilidade de uma teoria, com alto nível de abstração, do crescimento
urbano é a eronomâT
urbano, mas seria conveniente lembrar alguns dos mecanismos de que
o espaço urbano dispõe em sua reprodução. Essa breve nota cumpre
O espaço urinam.*
aqui 0 papel de ressaltar determinações que são reforçadas em espaços
câmbio e 0 consuma, 1
nacionais de dimensão continental, como o brasileiro.
produtivo e do >
O item da agenda de estudos e reflexões aqui lembrado não aban­
e de rotação.
dona 0 inerente enfoque multidisciplinar que deve presidir as pesquisas
Perroux (1964, jli
urbanas, mas assevera a hipótese de que, na literatura existente, faltam
que, nos
determ inações e m ediações importantes. D iria que “faltam nas duas
vias” : do econôm ico para 0 urbano e do urbano para o econômico. A
complexos ge
econom ia urbana tradicional é mais um estudo sobre custos de loca­ efeitos de intei
lização do que sobre geração de produto, renda e emprego. Faltam es­ aos contatos hnmumo J
tudos dos impactos, por exemplo, de políticas m acroeconômicas sobre sumidores de <
diferentes espaços urbanos. Faltam análises sobre os desdobramentos e necessidades c o k t ñ w l
as implicações, sobre a rede urbana, por exemplo, da passagem de uma dos negócios vem í
m acroeconom ia do emprego e da renda para uma m acroeconom ia da há tipos de produfea»«
riqueza patrim onial e financeira das econom ias urbanas complexas. e eventualmente]
Essa passagem ocorreu no Brasil, mas ainda não foram estudados seus qualificados, quadro»i
impactos urbanos/regionais.
A cidade é a sede e o ambiente da reprodução das classes, da atividade Utilizando 1
produção, distribuição, troca e consumo. A trai massas populacionais, economia urbana i

192
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E A S P O SSIB IL ID A D E S DE ESTR A TÉG IA S

i pouco foi estu- mas não tem, geralmente, capacidade suficiente de geração de postos
>que eles chamam de trabalho e de absorção dessas pessoas nos circuitos m odernos da
ícutindo as razões economia. Assim, o urbano é também locus da geração de demandas e
icnmulatividade. Ou o espaço de lutas políticas dos estratos sociais que reivindicam acesso
ifetio urbano; passam aos meios de consumo coletivo e inserção no mercado de trabalho. E
í deriva a pergunta o espaço dos fluxos emanados de diversas frações do capital. Também
t na discussão do cumpre papel de acelerar tais fluxos e agiliza o ritmo desse verdadeiro
. e centrífugas. A espaço da “unidade do diverso”, que é o urbano. M ilton Santos (1994c,
: medição das eco- pp. 117-19) afirma que
erada de pessoas
rparte da “fronteira” para compreender a economia de um país, é necessário dar uma enorme at­
i teoria da produção enção aos estudos urbanos e buscar a metodologia mais adequada para captar
6cidade possibilitaria) a real significação da cidade, da rede de cidades, do território e da Nação [...]
rsocial que o espaço A circulação dos produtos, das mercadorias, dos homens e das idéias ganhou
uma total expressão, dentro do processo global de produção, que a urbanização
passou a ser um dado fundamental na compreensão do funcionamento da
' 2, existe total im-
economia. Houve, mesmo, um geógrafo, Roger Lee, a afirmar que “o sistema
, do crescimento
urbano é a economia”.
i Mecanismos de que
i breve nota cumpre
O espaço urbano, como ambiente construído para a produção, 0 inter­
adas em espaços
câmbio e o consumo, pode encurtar os ciclos do capital-dinheiro, do capital
produtivo e do capital-mercadoria, aumentando suas taxas de circulação
i lembrado não aban-
e de rotação.
í presidir as pesquisas
Perroux (1964, p. 174) também apresenta posição semelhante e afirma
: existente, faltam
que, nos
“faltam nas duas
lo econômico. A
complexos geograficamente concentrados e em crescimento, registram-se
► sobre custos de lóca­ efeitos de intensificação das atividades econômicas devido à proximidade e
l e emprego. Faltam es- aos contatos humanos. A concentração industrial urbana cria tipos de con­
sconômicas sobre sumidores de consumo diversificado e progressivo [...] surgem e encadeiam-se
í desdobramentos e necessidades coletivas (alojamento, transportes, serviços públicos). Ao lucro
t ¿2. passagem de uma dos negócios vêm sobrepor-se rendas de localização. Na ordem da produção,
lacroeconom ia da há tipos de produtos que se formam, inter-influenciam, criam as suas tradições
zrbanas complexas, e eventualmente participam num espírito coletivo: empresários, trabalhadores
firam estudados seus qualificados, quadros industriais.

rlssses, da atividade Utilizando linguagem de Hirschman (1958), poderiam os dizer que a


naas-is populacionais, economia urbana incita e pode mover-se no sentido de romper a inércia,

193
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO a r e a ?:?j _-: -i

gerando requerimentos de arranque que conseguem, às vezes, justificar criam o p n m in lr - -^


seqüências de investim entos (efeitos em cadeia6). Engendrar oportuni­ demandas intersei;*
dades aproveitáveis e vantagens relativas passíveis de apropriação, ou o que Aníbal Pizrc
seja, “revelar e m obilizar a seu serviço, recurso e capacidades ocultas, mas manifesto í m a <
desperdiçadas ou mal utilizadas”. Desenvolve-se nesse ambiente urbano ‘arrastam’ os dem£ST-
uma m iríade de atividades de baixa produtividade, mas empregadoras de Cum priu papet,
m ão-de-obra e geradoras de renda “de sobrevivência” ponderável, para des sistemas
os parâmetros de dado m ercado local. A cidade capitalista form a um armazenamento e 1
conjunto virtuoso de equipamentos, sinergias, capacidade de criação de e sinergia entre si, ¡
recursos, ativos e capacitações. Nesse locus de relações e combinações, núcleos, pólos e i
o espaço urbano inerentemente proporciona algum grau de autonomia tempo em que t
e de reprodutibilidade do sistema econômico. Em suma, a densidade e a nava certa rigidez j
expansão do tecido urbano desempenham o papel, com o demonstrado longo dessa rede. A i
pela literatura marxista, de verdadeira força produtiva social. espaço certa inércia*
Esse é o aspecto fundamental que gostaria de ressaltar: a econom ia que ainda p o ssu i;
política do fenôm eno urbano deve pensar a economia urbana como Considero ser <
unidade privilegiada de reprodução social. a tradicional escala i
As múltiplas e diferenciadas economias urbanas que se vão desen­ dendo sen tid o ;
volvendo em países como o Brasil e a enorme dimensão territorial do novos “recortes <
mercado também possibilitam, por vezes, a não-necessidade de destruição Para avançar i
maciça de capacidade produtiva instalada. Muitas vezes, segmentos inteiros volvimento, afirmada^
(internos) dos ciclos produtivos são repostos pela demanda corrente da contendo outras i
diferenciação de classes urbanas. Pode-se ir de elos iniciais da cadeia de Especialmente i
produção até elos mais distantes, na diversidade de urbanos que perpas­ estrutura e dinâmica*
sam todas as economias regionais do Brasil, em seus mais de cinco mil a reprodução social ea
municípios, distribuídos em grande variedade de sub-redes regionais. o desenvolvimento *
Parece patente que não possui par no m undo um país continental que m ism o intrínseco a
contenha tal complexidade e diversidade de espaços regionais e urbanos diversidade urbana.1
de diversos tamanhos, funções e dinâmicas econômicas, demográficas, submetida a <
ambientais e sociais. tempo e no espaço,*
A interiorização e o avanço territorial da urbanização sobre os es­ agregadas, se torran*
paços internos abrem horizontes, que podem ou não ser ocupados, de produtiva pos
geração de capacidade produtiva, por reposição ou por ampliação, e Quando essa i
a uma diversidade*
6 “Pergunta-se em que medida as atividades em andamento, por causa de suas características colocadas para o ]
inerentes, impulsionam, ou mais modestamente, convidam’ alguns operadores a enveredarem
País com esüu t— |
por novas atividades [...] estamos em presença de um efeito em cadeia que parte da atividade
em andamento para a nova atividade” (Hirschman, 1977, p. 52) mar-se, logrou i

194
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E AS PO S SIB IL ID A D E S DE E STR A TEG IA S

¡ vezes, justificar criam oportunidades diversas para múltiplas frações de classe. Múltiplas
adrar oportuni- demandas intersetoriais e complementaridades produtivas possibilitam
>de apropriação, ou o que Aníbal Pinto (1976, p. 49) denom inou de “avanço não uniforme,
ecapacidades ocultas, mas manifesto através do surgimento de focos ou ‘setores líderes’ que
¡ambiente urbano arrastam’ os demais”.
sempregadoras de Cum priu papel decisivo nesse processo o Estado, que m ontou gran­
rponderável, para des sistemas nacionais de capital social básico (energia, transportes,
sta form a um armazenamento e telecomunicações), que tinham grande coordenação
: de criação de e sinergia entre si, cum prindo papel importante no direcionamento dos
i e combinações, núcleos, pólos e hinterlands que a rede urbana foi tomando. A o mesmo
Igrau de autonomia tempo em que engendrava, nesse processo, efeitos cumulativos, determi­
, a densidade e a nava certa rigidez para futuros m ovimentos da acumulação de capital ao
Loxno demonstrado longo dessa rede. A rede de infra-estrutura contribui para cristalizar no
i social. espaço certa inércia da rede urbana, sobretudo em um país gigantesco
r: a economia que ainda possui áreas de baixa ocupação populacional.
urbana como Considero ser consensual no debate urbano-regional brasileiro que
a tradicional escala macrorregional, das cinco grandes regiões, foi per­
t que se vão desen- dendo sentido analítico, nas últimas décadas. É preciso trabalhar com
ão territorial do novos “recortes escalares”.
: de destruição Para avançar nos estudos da dimensão espacial de nosso subdesen­
¡.segmentos inteiros volvim ento, afirmaria que o urbano é uma escala específica (também
ada corrente da contendo outras escalas intra-urbanas), sendo a rede urbana outra.
t lu d á is da cadeia de Especialmente em um país continental, o estudo não conservador da
c u b a n o s que perpas- estrutura e dinâmica de sua rede urbana é decisivo para que se entendam
i mais de cinco mil a reprodução social e as diferentes escalas espaciais em que se processa
f u b -red es regionais. o desenvolvimento de suas forças produtivas. Ressaltamos aqui o dina­
■ s continental que mism o intrínseco aos processos que se desenrolam em um ambiente de
s regionais e urbanos diversidade urbana. Uma rede de cidades com diversos tamanhos e tipos,
, demográficas, submetida a diferentes lógicas que variam por classe de tamanho, no
tempo e no espaço, conduz a que as decisões de inversão, individuais e
io sobre os es- agregadas, se tornem múltiplas, tendo a dispersão espacial e diferenciação
ser ocupados, de produtiva possibilitado estratégias de valorização múltiplas.
>* c por ampliação, e Quando essa multiplicidade urbana vem associada, como no Brasil,
a uma diversidade econôm ica e social enorme, várias determinações são
* >uas características colocadas para o processo de desenvolvimento.
•i ros-^ores a enveredarem País com estrutura produtiva diferenciada e densa que, poderia afir­
rae parte da atividade
mar-se, logrou tardiamente a convergência com os padrões técnicos e

195
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO A rea ? :? , -

produtivos (e de consumo, em certo sentido) da 2â Revolução Industrial, do Sudeste era hz :i


já maduros nos países centrais. Entretanto, ao mesmo tempo, o Brasil é giões menos din
caracterizado pela presença marcante de empresas estrangeiras e pela generalizada en
propagação deformas de capitais dispersas e heterogéneas, conform ando sendo possível £ r*
“glóbulos”, segundo Lessa e Dain (1982), difíceis de serem aglutinados, dinâmica interseca
o que exacerba a complexidade econôm ica, política, social e territorial A partir desse ps
do país. vigente até meados a
Lembramos que, potencialmente, estruturas de mercado oligopólicas lizados de <
e extensas em um país continental, e com econom ia urbana complexa, ampliando ainda:
podem perm itir o que Tavares (1974, p. 51) chama de possibilidades de investimento. H ai
“aprofundam ento do capital” (seja por diferenciação das estruturas e privadas de
de consumo, seja pelo desenvolvimento mais que proporcional da in­ antes o E stad o;
dústria pesada de bens de produção), mas também podem abrir possi­ dar sintonia a *
bilidades para o “alargamento de capital” resultante dos avanços das de de coordenação 1
estruturas intermediarias de produção. Há potencialidades de “coexis­ privado. A inda i
tência pacífica”, ou seja, de "uma convivência de proveito mútuo das ri­ para o controle dos
validades oligopólicas, que reforça a expansão simultânea da capacidade grande de sit
produtiva e do mercado” (Tavares, 1978, p. 482). propriedade e dan
Tais potencialidades foram incitadas em vários ciclos económ icos e performances <jm
políticos em que o Estado desenvolveu ação orgânica e sistêmica perante vários segmentos *
essas forças econômicas e políticas assimétricas. Acreditou-se, no perí­ que esse grande 1
odo mais recente, que, expondo-as a outras forças poderosas (presentes nítido corte i
no m ercado internacional), estas se readaptariam e m odernizariam No entanto, o a
“naturalmente”. balho, que é ]
Contudo, é preciso reconhecer, com o vim os em capítulos anteriores, a natureza <
a complexidade de análise das especificidades de um país que passou por lação de capital <
processo abrupto e descoordenado de abertura e que praticou grande processo em curso 1
conjunto de outras políticas neoliberais. País continental que logrou periferia nacic
construir uma decisiva unidade nacional através da integração e expansão anos recentes, a 1
de seu mercado interno de grande potencial, firmando a soldagem das da econom ia ]
diversas estruturas produtivas regionais em cima da complementaridade Permaneceu untai
destas com o centro de comando da acumulação de capital do país (São acumulação de t
Paulo). Esse processo foi marcado por uma “concentração articuladora”7 tantes e estrategkoM
da diversidade produtiva regional brasileira. O crescimento industrial os setores in iliiifiiõ r i

7 “A economia paulista, sendo o núcleo da acumulação primitiva do País, ao crescer imprimia


também determinações (regionalmente diferenciadas, é claro) de crescimento aos seus mulação fosse;
complementos econômicos espaciais (as demais regiões). Assim, embora a dinâmica de acu­ 0 crescimento:

196
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E A S P O S SIB IL ID A D E S D E ESTR A TEG IA S

ação Industrial, do Sudeste era acom panhado paralelamente pelo crescimento das re­
i tempo, o Brasil é giões menos dinámicas. Entretanto, esse crescimento regional, bastante
i estrangeiras e pela generalizado, era subordinado, pois complementar, ao de São Paulo, não
s, conformando sendo possível à periferia alcançar a mesma complexidade em termos de
: serem aglutinados, dinâm ica intersetorial que a indústria paulista alcançou.
„social e territorial A partir desse período anterior de “complementaridade expansiva”,
vigente até meados da década de 1980, tivemos inconsistentes surtos loca­
io oligopólicas lizados de crescimento em algumas regiões e em alguns setores produtivos,
i « b a ñ a complexa, ampliando ainda mais as heterogeneidades e assincronias nas decisões de
: possibilidades de investimento. Há hoje disritmias e descompassos entre decisões públicas
das estruturas e privadas de inversão. Esse é um constrangimento fundamental, pois
: proporcional da in- antes o Estado impunha sinalização, coordenava, regulava e procurava
i podem abrir possi- dar sintonia a essas decisões. Isso implicou enorme perda de capacida­
■ dos avanços das de de coordenação por parte do Estado e de indução do investimento
les de “coexis- privado. A inda mais, “o trânsito de uma atividade dominada pelo Estado
>mútuo das ri- para o controle do setor privado tem determinado uma variedade muito
i da capacidade grande de situações em razão da natureza da atividade, da estrutura da
propriedade e da concorrência, o que tem significado uma dispersão das
¡ económ icos e performances que acentua o caráter assincrônico do investimento nos
(«sistêmica perante vários segmentos da economia” (Carneiro, 2002, p. 356). Acrescentaria
tou-se, no p e n ­ que esse grande leque de desempenhos diversificados apresenta também
osas (presentes nítido corte regional e por sub-redes urbanas regionais.
i e m odernizariam No entanto, o quadro de mudanças na divisão inter-regional do tra­
balho, que é permanente, por sua natureza intrínseca, não poderia mudar
(capítulos anteriores, a natureza estrutural das articulações entre 0 núcleo central da acum u­
ip u s que passou por lação de capital do país (São Paulo) e o resto da econom ia nacional. O
1praticou grande processo em curso não rom peu os elos antes existentes entre o centro e a
nial que logrou periferia nacionais. Apesar do crescimento m edíocre e desarticulado dos
io e expansão anos recentes, a dinâm ica regional brasileira se mantém sob o comando
► a soldagem das da econom ia paulista, com a persistência de relações centro-periferia.
i encnplementar idade Permaneceu uma divisão inter-regional do trabalho a partir do núcleo da
czpital do país (São acumulação de capital no país, que concentra os segmentos mais im por­
racáo articuladora”7 tantes e estratégicos da estrutura produtiva nacional e, particularmente,
rento industrial os setores industriais mais m odernos dos grupos de bens de consumo

es - ¿o crescer imprimía
: crescimento aos seus mulação fosse concentradora, em seus resultados concretos, articulava, entretanto, também
:*:rr a dinâmica de acu­ o crescimento regional” (Cano, 1991, p. 313).

197
TERRITÓ R IO E D ESEN VOLVIM EN TO A rea .-:?

não-duráveis, de bens intermediários e de bens de capital e de consumo Com o pens.


duráveis; e uma periferia, com baixa autodeterminação de crescimento, sistêmica e n a : ;o>
continuando bastante subordinada às decisões cruciais céntricas. Mesmo económica cns
as regiões que receberam maiores investim entos parecem, com esses dos capitais ~¿c-_
projetos, não engendrar densidade intersetorial que aumentasse o grau sobrevivem ecocc
de autonomia dessas economias regionais. singular de ó r f e a e
M esmo os pulverizados investimentos que se materializaram, consti­ tendo sido sua ice
tuíram parcos encadeamentos inter-setoriais e baixa complementaridade cida, recorrem
inter-regional e não contribuíram de m odo significativo para o aumento O alicerce de seu
da taxa global de investimentos (expressa pela participação da Formação manutenção d a :
Bruta de Capital Fixo no PIB). É uma econom ia sem tração, com baixos não sendo tole
efeitos aceleradores e multiplicadores. determ inando qne
Em função das m udanças no quadro econôm ico durante os anos um “tratamento '
90, a caracterização dos movimentos regionais da atividade econôm ica blicizar o E stad os
em geral tornou-se mais complexa. Tivem os mudanças no padrão de Apontamos,!
consum o nacional, queda geral da massa de rendimentos, acentuação em estudos co-
do processo de concentração de renda e riqueza e o aumento do poder ralidade dessas
da grande em presa (nacional e estrangeira) no Brasil. C om o a ação subordinação
estatal se esvaziava, verificou-se paulatinam ente o deslocam ento das pesquisar, sob
“estratégias territoriais” do âmbito público (do planejamento regional) Estado. É preciso
para o privado (das estratégias empresariais), com a transformação das circuitos ama
instituições responsáveis pelo planejamento regional em meras agências rio”/usurário:
de repasse de fundos. privilégios púbfin—
As pesquisas regionais parecem apontar para a seguinte tendência Avançar nas
de localização geográfica da indústria brasileira: de reaglomeração de de desenvol
setores industriais tecnológicamente mais desenvolvidos e intensivos em que buscam 1
capital e m ão-de-obra especializada nas regiões Sul e Sudeste, paralela­ analisando soas
mente a um brando movimento de desconcentração industrial, motivado funcionam ento
principalmente pelo amplo oferecimento de incentivos fiscais, pelo baixo dentes de práticas
custo da m ão-de-obra e pela m elhoria da infra-estrutura, favorecendo a obras públicas, do
periferia nacional sobretudo com investimentos em setores com m enor pugna/convivá
conteúdo tecnológico. e estrangeiro, a
Por fim, nessa seção de listagem de heterogeneidades estruturais, agronegócio etc
lem bram os, m ais um a vez, a questão do papel decisivo no Brasil da regiões e nos 1
manutenção e expansão, com grande poder político, deform as de capi­ escala espacial,
tais dispersas e heterogêneas, difíceis de serem aglutinadas e orientadas turas locais de -
produtivamente. de desenvohinaoOÉo.

198
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E AS P O SSIB IL ID A D E S D E E S TR A TE G IA S

l e de consumo C om o pensar na construção, em qualquer escala, de competitividade


•de crescimento, sistêmica e na m obilização de forças econômicas se a equação política e
scéntricas. Mesmo econôm ica cristalizada no Brasil passa necessariamente pela valorização
Bpvrecem, com esses dos capitais “domésticos” não-industriais? C om o vim os, esses capitais
ranmentasse o grau i sobrevivem econôm ica e politicam ente ancorados em uma pactação
i
singular de órbitas e circuitos reprodutivos patrimonialistas e rentistas,
ram, consti- tendo sido sua força especulativa e de preservação de riqueza envelhe­
!
plementaridade cida, recorrentemente, sancionada e legitimada pelo Estado brasileiro.
► para o aumento O alicerce de seu poder político radica na intermediação mercantil e na
ão da Formação * manutenção da estrutura de distribuição de propriedade da terra intacta,
i tração, com baixos não sendo tolerados mecanismos de regulação fundiária e, acima de tudo,
determinando que a ação pública pratique políticas em que se promove
durante os anos um “tratamento igual de capitais que são muito desiguais”. C om o repu-
ie econôm ica blicizar o Estado é a grande pergunta.
no padrão de Apontamos, no capítulo anterior, que as investigações devem avançar
atos, acentuação em estudos concretos das estratégias e dinâmicas de valorização da plu­
► aumento do poder ralidade dessas diversas e heterogêneas frações do capital, da natureza da
lasil. C om o a ação subordinação dessas órbitas e circuitos não-industriais, mas necessitam
• deslocam ento das pesquisar, sobretudo, sua força de controle oligárquico e de acesso ao
lento regional) Estado. É preciso investigar com o as possibilidades de valorização dos
i transformação das circuitos amalgamados especulativo, imobiliário, com ercial e “bancá-
l em meras agências rio’Vusurário são garantidas pelas formas novas e velhas de assegurar
privilégios públicos.
i seguinte tendência Avançar nas análises territoriais (e implementar políticas nacionais
le reaglomeração de de desenvolvimento) no Brasil passa, necessariamente, por pesquisas
>e intensivos em que buscam decifrar essas formas especulativas, mercantis, patrimoniais,
l e Sudeste, paralela- analisando suas estruturas locais de dominação. Entender a lógica de
liadustrial, motivado funcionam ento desses circuitos exageradamente politizados e depen­
í fiscais, pelo baixo dentes de práticas clientelísticas. Estudar a figura do em preiteiro de
, favorecendo a obras públicas, do capital imobiliário, do capital mercantil local em sua
i setores com menor pugna/convivência com as redes do grande capital comercial, nacional
e estrangeiro, com o capital agrário e dos grandes empreendimentos do
scades estruturais, agronegócio etc., com diversos portes, nos diversos setores, nas diversas
|«ãec-»:vo no Brasil da regiões e nos diversos urbanos brasileiros. A prática política, em qualquer
formas de capi- escala espacial, com o veremos mais à frente, deve combater essas estru­
rr.aJas e orientadas turas locais de denominação, se pretender engendrar qualquer processo
de desenvolvimento.

199
TERRITO R IO E D ESENVOLVIM ENTO a rea ? :j _

A construção de estratégias de desenvolvimento terá que enfrentar, tirado à força, cesr


reunindo forças democráticas, um longo combate contra essas coalizões desenvolvimenriícj
conservadoras, territoriais, que desejam apenas m anter as estruturas vespas”, “colocar :
agrária e de distribuição de renda perversas, converter, em patrimonio gésicos”, mas tersaroarj
garantido, parcela de seus ganhos fáceis e perenizar as forças do atraso forças, im portunar.
estrutural e do subdesenvolvimento. de dominação e
poder uma pressão 1
o su b d esen voh im aM t J
5.2 OS V E L H O S E N O V O S M I T O S D O D E S E N V O L V IM E N T O E C O N O M I C O É nesse sen tido.
e não no sentido d e 4
O enfrentamento teórico e político dessas (e outras) forças conservadoras “Prim eiro M undo'
deve estar orientado por uma visão de que o subdesenvolvimento não década de 1990.
passa com o tempo (sendo persistente), tende a se agravar (tendo alta
cumulatividade), se não for contraposto por forças de intervenção pode­ Temos a prora 1
rosas (tendo alta irreversibilidade). Essas forças analíticas e discursivas de que os povos poHi
conservadoras devem ser defrontadas por uma interpretação crítica que atuais povos ricos — <
reconheça que, quando se fala em desenvolvimento, no adequado sen­ irrefutável que as <
tido de “alargamento dos horizontes de possibilidades”, se está falando tido de similares ¡
talista [...] Cabe,]
necessariamente na construção de ações e políticas públicas em duas
é um simples mito
frentes simultâneas:
1) aquela (mais atraente) própria dos processos de se arranjar, montar,
Celso Furtado 1
dar sentido, direção, coerência às transform ações que uma sociedade
raímente levado a ,
quer armar e projetar para o futuro, dispondo de certos instrumentos
tem natureza rlí riidliii
eleitos para determinados fins; e
enfrentamento d e :
2) aquela (menos sedutora) própria dos processos de se desmontar,
desenvolvimento
desarranjar, importunar, constranger, frustrar expectativas e ações de­
m elhorias no “sisl
letérias à construção social. Deve ser desmanteladora de dinâmicas e
do universo de va
estruturas que representem o atraso econôm ico e político.
superando a p*
Nesse contexto, fugindo da noção “vulgar” de que desenvolvimento
constituir estruturas 1
traz inerente sentido de calm a, tranqüilidade e equilíbrio, é preciso
retivas nos processas*
deixar claro que o desenvolvimento significa, por sua própria natureza,
apresenta interpr
um estado de tensão. Significa predispor-se o tempo todo, a embaraçar,
é a ampliação da 1
estorvar, transtornar e obstaculizar as forças do atraso estrutural. D e­
Ampliar a
senvolvimento é a anti-serenidade, a anticoncórdia prévia, é a “não-paz
“entregaram u m a '
de espírito”.
e em que há enorme 1
Com o 0 desenvolvimento não transborda, não entorna, não derra­
desafio político é¡
ma (em um certo sentido, “não se difunde”), ele precisa ser arrancado,

200
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E A S P O S SIB IL ID A D E S D E ESTR A TEG IA S

ilerá que enfrentar, tirado à força, destruindo privilégios. Assim, realizar a gestão de projeto
i essas coalizões desenvolvimentista significa, em qualquer escala, “m exer com caixas de
as estruturas vespas”, “colocar o dedo nas feridas”, não tampar feridas ou “usar anal­
r, em patrimonio gésicos”, mas tensionar permanentemente. É distorcer a correlação de
¡ forcas do atraso forças, im portunar diuturnamente as estruturas e coalizões tradicionais
de dominação e reprodução do poder. É exercer em todas as esferas de
poder uma pressão tão potente quanto aquela das forças que perenizam
o subdesenvolvimento.
I E C O N O M IC O É nesse sentido que se deve pensar o processo de desenvolvimento
e não no sentido de que se segue em uma trajetória “natural” rum o ao
; conservadoras “Prim eiro M undo”, idéia que grassou no Brasil em todos os governos da
rolvimento não década de 1990.
t agravar (tendo alta
[intervenção pode- Temos a prova definitiva de que o desenvolvimento econômico — a idéia
; e discursivas de que os povos pobres podem algum dia desfrutar das formas de vida dos
ação crítica que atuais povos ricos — é simplesmente irrealizável. Sabemos agora de forma
i adequado sen- irrefutável que as economias da periferia nunca serão desenvolvidas, no sen­
tido de similares às economias que formam o atual centro do sistema capi­
ir, se está falando
talista [...] Cabe, portanto, afirmar que a idéia de desenvolvimento econômico
i publicas em duas
é um simples mito (Furtado, 1974, p. 79).

cae arranjar, montar,


Celso Furtado também esclarece que o crescimento econôm ico (ge­
^■ e uma sociedade
ralmente levado a cabo com a preservação dos interesses constituídos)
: certos instrumentos
tem natureza distinta do processo de desenvolvim ento (exigente de
enfrentamento de interesses postos na sociedade). Esse autor associa o
i de se desmontar,
desenvolvimento aos recorrentes processos de iniciativa, criatividade,
ras e ações de-
melhorias no “sistema de incitações”, inventividade e enriquecim ento
. de dinámicas e
do universo de valores capazes de incrementar a capacidade de ação,
co.
superando a passividade. Um a vez consolidadas, essas ações podem
: desenvolvimento
constituir estruturas sociais habilitadas a gerar “forças preventivas e cor­
reom librio, é preciso
retivas nos processos de excessiva concentração de poder”. Am artya Sen
a própria natureza,
apresenta interpretação semelhante, ao afirmar que “o desenvolvimento
iodo, a embaraçar,
é a ampliação da liberdade em todas as esferas da vida”.
lacrase estrutural. De-
Ampliar a margem nacional de arbítrio, em um contexto em que
i previa, é a “não-paz
“entregaram uma Nação em construção travada ao mercado” (Furtado)
e em que há enorme opressão sobre os subalternos, é tarefa hercúlea. O
en o m a , não derra-
desafio político é ganhar poder de comando sobre os centros de decisão,
recisa ser arrancado,

201
A REA
TERRITO R IO E D ESENVOLVIM EN TO

em uma situação em que alguns poucos “nichos decisorios” estão inter­ da divisão social c : r
as escalas espa;
nalizados e a maioria sob controle externo, e em que há o progressivo
estreitamento dos horizontes temporais (e da legitimidade) para as ações relações, processe* t

públicas estruturantes e coordenadoras. de decisão. C o n fíem e


Conforme nos ensinou o estruturalismo latino-americano, o subdesen­ desenvolví m en ::’ ± :

volvim ento é uma malformação estrutural com grande capacidade de forças hegemônicas. _
persistência, cum ulatividade e reprodução. É uma situação de atraso força coercitiva oe

quase irreversível,8 que auto-reforça recorrentemente suas estruturas persuasiva cult

tradicionais de dom inação. C onstruir o verdadeiro cam inho para o uma determinada

processo de desenvolvimento nacional, no sentido de construir e esten­ No caso do i

der seu leque de oportunidades, requer o enfrentam ento em várias tes que trava a ]

frentes, forjando novo patamar de homogeneidade social, que se traduza os processos de í

em enriquecimento cultural, de acordo com Celso Furtado, e em apropria­ e estorvar as

ção dos avanços tecnológicos e civilizatórios. ser travada no locai,

É nesse sentido que ganhar espaço de atuação e comando, com maior internacional O a

grau de autodeterminação e endogenia, envolve necessariamente tratar boa ou ruim . Todas

deforma criativa as diversidades geográfica, demográfica, social, cultural, assim manejadas. É

produtiva etc. brasileiras.9 É preciso entender com o as forças conserva­ maiores potenc

doras destroem a criatividade e a diversidade cultural e regional “dos de mais à frente.

baixo”, para manter o padrão de privilégios “dos de cima”. Apenas ao ir

Desgraçadamente, tal visão vai totalmente contra a corrente teórica e verdaderam ente,

a hegemonia política posta hoje no m undo e no Brasil. As interpretações a massa social:

localistas (apresentadas no primeiro capítulo), que grassam hoje nos am­ construção de <
bientes intelectuais e políticos, trazem uma visão de uma endogenia local à cidade, à região e ã

exagerada, não reconhecendo essa complexidade social. Tais abordagens alianças conser

depositam na vontade dos “atores sociais cruciais” de um determinado de caráter ca

recorte territorial todos os requisitos de superação do subdesenvolvimento. pacto interno de


Conform e discutido nos capítulos 1 e 2 deste livro, é preciso analisar os O debate deve
processos assimétricos em que um agente privilegiado (os centros de de­ cimento econ òm k»
cisão) detém o poder de ditar, (re)desenhar, delimitar e negar domínio de uma boa crítica ã
ação e raio de manobra dos periféricos. É preciso ter clareza da potência sociais e não deve
dinamismo” para _
_
orgânica dos ex-
8 F u r t a d o (1 9 9 4 ) e s tiliz a tr ê s e x p e r iê n c ia s d e te n t a t iv a d e s u p e r a ç ã o d o s u b d e s e n v o lv im e n t o ,
t o d a s c o m s é r ia s d if ic u ld a d e s : 1) c o l e t iv iz a ç ã o d o s m e io s d e p r o d u ç ã o ; 2 ) p r io r i z a ç ã o à s a tis -
f a ç ã o d a s n e c e s s i d a d e s b á s ic a s ; 3) g a n h o d e a u t o n o m ia e x t e r n a . io F lo r e s ta n F e m a n à s
c r e s c im e n to í
9 “N a d iv e r s id a d e d a s r e g iõ e s e s tã o a s r a íz e s d e n o s s a r iq u e z a c u ltu r a l. M a s a p r e s e r v a ç ã o d e s ta
r iq u e z a e x ig e q u e o d e s e n v o lv im e n t o m a te r ia l se d ifu n d a p o r t o d o o t e r r itó r io n a c io n a l”
a s s u m ir u m c
(F u r ta d o , 19 9 9 , p . 4 6 ).
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E A S P O SSIB IL ID A D E S DE ESTR A TEG IA S

s” estão inter- da divisão social do trabalho no capitalismo (que flui e se impõe em todas
há o progressivo as escalas espaciais), realizando o enquadramento e hierarquização de
■ ) para as ações relações, processos e estruturas, a partir dos núcleos centrais de poder e
de decisão. Conform e vim os, o real poder de iniciativa, de “endogenia de
o, o subdesen- desenvolvimento”, é limitadíssimo. Distorcer determinada correlação de
capacidade de forças hegemônicas, posta em determinado tempo-espaço, é enfrentar a
atuação de atraso força coercitiva de determinado “bloco histórico” com enorme direção
suas estruturas persuasiva cultural-ideológica sobre o conjunto, exercida no interior de
cam inho para o urna determinada aliança.
construir e esten- No caso do Brasil, tal aliança é marcada por um pacto férreo das eli­
ento em várias tes que trava a perspectiva de avanço material e civilizatório e bloqueia
, que se traduza os processos de inclusão social e construção de cidadania. Constranger
,eem apropria- e estorvar as principais cláusulas desse pacto é tarefa que pode e deve
ser travada no local, nos espaços regionais, em âmbito nacional e até
ndo, com maior internacional. O u seja, para tal enfrentamento não há escala espacial
riamente tratar boa ou ruim . Todas têm instrum entos e ações distintos e devem ser
, social, cultural, assim manejadas. É essa perspectiva, aqui chamada transescalar, com
m forças conserva- maiores potencialidades do que a mera ação multiescalar, que discuto
' e regional “dos de mais à frente.
■ »
OW TLa . Apenas ao ir desmontando as forças do atraso estrutural é que se pode,
acorrente teórica e verdadeiramente, falar em inclusão social. Alcançar, envolver e abarcar
As interpretações a massa social majoritária da população em um processo consistente de
i hoje nos am- construção de cidadania envolve arrancar politicamente, “à força”, o direito
i endogenia local à cidade, à região e à nação. Essas e outras “escalas” estão entregues às
.Tais abordagens alianças conservadoras aludidas. Por isso, muitas políticas de inclusão,
; um determinado de caráter caritativo e paternalista, acabam tendo o efeito de reforçar tal
envolvimento, pacto interno de dominação.
é preciso analisar os O debate deve ser realizado com consciência das lim itações do cres­
os centros de de- cimento econôm ico para, automaticamente, incluir os excluídos; com
e negar dominio de uma boa crítica à visão dicotôm ica política econôm ica versus políticas
careza da potência sociais e não deve resvalar para uma discussão econom icista de “falta de
dinamismo” para gerar emprego e renda,10a fim de possibilitar a inserção
orgânica dos excluídos, mas deveria partir das alternativas concretas de
zc s u b d e s e n v o lv im e n to ,
: i r r i o r i z a ç ã o à s a tis -
10 F lo r e s ta n F e r n a n d e s (19 6 8 , p . 16 2 ) d e ix a c la r o q u e “ m e s m o u m a e s fe r a e s tr a té g ic a , c o m o a d o

. ¿ p re s e rv a ç ã o d e sta c r e s c im e n to e c o n ô m ic o , n ã o p o s s u i p o d e r p a r a a lte r a r a s d e m a is e s fe r a s , se a in te r v e n ç ã o

:M l: : : ¿ r r i t ó r i o n a c i o n a l ” a s s u m i r u m c a r á t e r c o n c e n t r a d o e u n i l a t e r a l ”.
TERRITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO A REA

construção de cidadania, dignidade, segurança e proteção, com radica- Essa é a granee oxea^
lidade democrática. histórico de am ru ¿
A grande questão é se perguntar: O que pode significar a persistên­ e a refundaçãc
cia secular de uma sociedade cindida entre uma grande maioria que se anos de atraso esen
localiza subordinadamente na sociedade, configurando uma verdadeira burocráticos.
massa de não-cidadãos e uma pequena minoria privilegiada que goza da Nunca as dive
prerrogativa de acesso a direitos civis e garantias sociais plenos? urbanas e rurais
Uma resposta a essa questão fundamental nos é dada por Florestan com o desequilibrios, a
Fernandes (1968, p. 163). Torna-se impossível para a construção de uma nôm ica imposta ao »
sociedade nacional manter parcela tão expressiva da população jazen­ cuja lógica ap on to:
do condenada a perm anecer à m argem dos processos de integração da criatividade Tios a
social, Nesse contexto, c I
envolvam um
banidos de suas estruturas de poder. Nenhuma sociedade nacional pode existir, requerer o resgate a
sobreviver e ao mesmo tempo construir um destino nacional em tais bases. A pativas, pedagógicas c j
destruição de estamentos e grupos sociais privilegiados constitui o primeiro Tais desafios, <
requisito estrutural e dinâmico da constituição de uma sociedade nacional.
rados por teorias a
Onde esta condição histórica não chega ou não pode concretizar-se histori­
e realizar o eterno 1
camente, também não surge uma ação e, muito menos, uma Nação que possa
isto é, o que é noto
apoiar-se num “querer coletivo” para determinar, por seus próprios meios, sua
que o capitalismo, a
posição e grau de autonomia entre as demais sociedades nacionais do mesmo
apurou seus
círculo civilizatório. Sob este aspecto, a democratização da renda, do prestígio
social e do poder aparece como uma necessidade nacional. É que ela — e heterogeneidades e ¡
somente ela — pode dar origem e lastro a um “querer coletivo” fundado em e geográficas”
um consenso democrático, isto é, capaz de alimentar imagens do “destino pacidade de ser m
nacional” que possam ser aceitas e defendidas por todos, por possuírem o regionais e lo ca is«
mesmo significado e a mesma importância para todos [...] Portanto, desde que sem constrangíma
se veja o desenvolvimento como “problema nacional”, o diagnóstico e a atuação que, quem quer qnej
prática implicam “querer coletivo” polarizado nacionalmente. aperfeiçoe sua a
Nesse contextos
temáticas e devem j
5.3 O D E S E N V O L V IM E N T O E SUAS E S C A L A S : D E S A F IO S
P A R A A IM P L E M E N T A Ç Ã O D E P O L ÍT IC A S
escalares. É ne
nova ação, ror
O grande desafio da proposta multiescalar é aprender a tratar dialetica- entre “o económ ico'
mente as heterogeneidades estruturais (produtivas, sociais e regionais) versus “cidadania” d
de um país continental, periférico e subdesenvolvido, com o o Brasil, a É preciso romper*
fim de fazer operar essa sua imensa diversidade e criatividade no sentido mais pobre”, a fim dei
do avanço social, político e produtivo. de renda. As políticas ]

204
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E A S P O S SIB IL ID A D E S D E ESTR A TEG IA S

, com radica- Essa é a grande questão que deve atormentar nos neste m omento
histórico de amplas possibilidades de iniciar a reconstrução nacional
: a persistén- e a refim dação da nação em novas bases, negando e enfrentando 500
: maioria que se anos de atraso estrutural e ação deletéria de nossas elites e seus quadros
► am a verdadeira burocráticos.
ada que goza da Nunca as diversidades produtivas, sociais, culturais, espaciais (regionais,
; plenos? urbanas e rurais) foram usadas no sentido positivo. Foram tratadas sempre
téaóa. por Florestan com o desequilíbrios, assimetrias e problemas. A equação político-eco­
■ construção de urna nôm ica imposta ao país pelo pacto de dom inação oligárquico das elites,
i população jazen- cuja lógica aponto muito sintéticamente neste texto, travou o exercício
; de integração da criatividade “dos de baixo”, procurando im pedir sua politização.
Nesse contexto, é fundam ental construir táticas e estratégias que
envolvam um processo delicado de aprendizado conflituoso, que irá
anal pode existir, requerer o resgate da lógica do projeto e das ações planejadas, partici­
í em tais bases. A pativas, pedagógicas e politizadas.
sconstitui o primeiro Tais desafios, dados seu vulto e complexidade, devem estar bem ampa­
lsociedade nacional,
rados por teorias críticas. A análise deve buscar determinações profundas
cc — crctizar-se histori-
e realizar o eterno balanço entre ruptura e continuidades históricas,
t Nação que possa
isto é, o que é novo e o que é recorrência no m omento atual. O certo é
i próprios meios, sua
que o capitalismo, com o sempre o fez, nos últimos anos aperfeiçoou e
s«acionais do mesmo
apurou seus instrumentos de ação, aprendeu ainda mais a m obilizar as
renda, do prestígio
. É que ela — e heterogeneidades e as diversificadas “forças sociais, históricas, culturais
rooietivo” fundado em e geográficas” dispersas, dando-lhes a sua coerência. Aprim orou sua ca­
rn a g e n s do “destino pacidade de ser multi ou transescalar, isto é, utilizar as escalas nacional,
. por possuírem o regionais e locais em seu próprio benefício, isto é, o do ganho rápido e
Portanto, desde que sem constrangimentos “escalares”. Se o sistema esmerou sua ação, é preciso
jstico e a atuação que, quem quer que procure controlá-lo e transformá-lo, faça o mesmo:
aperfeiçoe sua capacidade de promover ações também multiescalares.
Nesse contexto, as ações políticas devem ser mais ágeis, potentes, sis­
temáticas e devem ser empreendidas simultaneamente em várias direções
escalares. É necessário capacidade de aprendizagem para engendrar essa
nova ação, rompendo as visões compartimentadas e as falsas dicotomias:
• 3. tratar dialetica- entre “o econôm ico” versus “o político” versus “o social”; entre “produção”
>:ciais e regionais) versus “cidadania” etc.
r õ : . como o Brasil, a É preciso romper com a nova m oda das políticas sociais de “caça ao
cdade no sentido mais pobre”, a fim de focalizá-lo melhor para contemplar sua insuficiência
de renda. As políticas públicas devem ser universalidadoras de cidadania

205
TERRITOR IO E D ESEN VOLVIM EN TO A R E A FIR M A :

e regionalizadas em suas ações, para apreenderem as heterogeneidades ponsiveness, seg u ró :


nacionais, independentemente de serem industriais, agrícolas, de em ­ descaso e discriir.irrcãr i
prego etc. W ilson Cano (1975, p. 2) sempre alertou para “a gravidade e a
profundidade dos problemas nacionais e a inequívoca necessidade de o aqueles definidos c o m
país retomar o crescimento econôm ico nacional e de se regionalizar a fins de natureza nonra
política de desenvolvimento, acompanhada, necessariamente, por polí­ valores básicos que rega
ticas sociais que efetivamente redimam a pobreza nacional, onde quer não significa que esses ¡
que ela se encontre”. Mais do que as recorrentes “políticas regionais”, é voltadas para ganhos i
entretanto, é a defesa ¿ei
fundamental regionalizar as políticas específicas, articulando-as por um
2002, p. 83, grifo nosso».
orgánico projeto nacional de desenvolvimento.
A construção das devidas táticas e estratégias, assumidas estrutu­
Na visão alternaãoM
ralmente como conflituosas e tensas, requererá o que chamo acima de
podem e devem <
resgate da lógica do projeto, porém agora amparado por ampla repactuação
cução. As lógicas 1
de forças antagônicas e da necessária contratualização dos compromissos.
Arenas de coordenação*
A inspiração para tal orientação politizada vem das políticas da União
devem ser elaborados t
Européia.11 Em outras palavras, a articulação de um novo pacto, em que
O poder p ú b b co«
as ações tenham horizontes de longo prazo, tendo por base contratos-
tar bem capacitado», «
programas, criteriosamente definidos e territorializados.
a discussão demc
D eve-se pretender, com tais políticas, a “recom posição territorial”
fiscalização e o mc
através da ação planejada; a reconstrução de espaços públicos e dos canais
im por e fazer cum p dri
institucionalizados, destruídos pelas políticas neoliberais, e a criação de
nacionais têm de
variadas arenas que possam aglutinar e dar vazão às diferentes reivin­
as ações públicas qoei
dicações e interesses.
se realiza por l a ;
Essa concepção de política é completamente contrária à hoje hege­
la falta de confianza d ei
mônica, em que a ação pública se tornou uma mera questão de gestão
del proceso” (Juncal,:
da crise,12 das parcerias público-privadas, do rigor fiscal-financeiro, do
enxugam ento da m áquina pública ineficiente, da restrição das arenas el gran desafío debe j
publicizadas etc. O espaço público passa a servir à promoção de ambiente en todas sus niveles l
salutar para microiniciativas. zar una esfera para <
A ação “pública” deve, nesse modelo, o tempo todo, realizar o checklist blico, para articular la 1
dos atributos da “boa governança”, da accountability, incentivando a res- directa y voluntaria del
legitimación y se afir
11 S o b r e a e s tr u tu r a e a d in â m ic a d o e m p r e e n d im e n to e u r o p e u , v e r G a lv ã o , 20 03. (Juncal, 2002, p. 554J.
12 E n v o lv e n d o t o d a a a g e n d a p ú b lic a e m u m a v is ã o to t a lit á r ia d e q u e n ã o h á te m p o p a r a d is ­
c u s s ã o o u c o n t e m p o r i z a ç õ e s d e m o c r á t i c a s , p o i s “ o t e m p o u r g e ” e “ a c r i s e é p r o f u n d a d e m a i s ”.
A legitim idade
A ç õ e s d e m o c r á t ic a s s ã o d e n u n c ia d a s c o m o t e n d o u m a t e m p o r a lid a d e a n a c r ô n ic a e le n ta
d ia n te d a s n e c e s s id a d e s d e in s e r ç ã o n o s flu x o s v o lá te is e r á p id o s . T a m b é m r e c e b e m a c r ít ic a escala, para alé
d e q u e s e r ia m d e s e s t a b ili z a d o r a s d a s r e s p o n s a v e lm e n t e r íg i d a s p r á t i c a s d e a u s t e r i d a d e fis c a l,
busca de soluço
d is c ip lin a fin a n c e ir a e c o n t r o le a d m in is tr a tiv o .

206
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E A S PO S SIB IL ID A D E S DE ESTR A TEG IA S

»heterogeneidades ponsiveness, segundo o novo vocabulário do Banco M undial. Há grande


, agrícolas, de em ­ descaso e discrim inação para com os movimentos sociais “clássicos”:
iso ra “a gravidade e a
lnecessidade de o aqueles definidos como organizações coletivas orientadas primariamente para
l e d e se regionalizar a fins de natureza normativa ou ideológica, ou seja, para assegurar ou transformar
aente, por polí- valores básicos que regulam a ordem institucional de uma sociedade. [...] Isso
i «acionai, onde quer não significa que esses movimentos não possam se envolver em atividades
“políticas regionais”, é voltadas para ganhos instrumentais ou reivindicações negociáveis; sua ênfase,
entretanto, é a defesa de bens coletivos não-negociáveis (Azevedo e Anastásia,
lando-as por um
2002, p. 83, grifo nosso).

.assum idas estrutu-


Na visão alternativa e crítica aqui discutida, os movimentos sociais
: chamo acima de
podem e devem desbravar canais alternativos de participação e interlo-
rompía repactuação
cução. As lógicas diversas das partes envolvidas devem ser respeitadas.
i dos compromissos.
Arenas de coordenação de interesses, de diálogos, de conflitos e de consensos
; políticas da União
devem ser elaboradas continuamente.
t novo pacto, em que
O poder público deve cum prir papel-chave nesse processo. Deve es­
»por base contratos-
tar bem capacitado, com recursos materiais e humanos para incentivar
ios.
a discussão democrática, garantindo transparência, acompanhamento,
isição territorial”
fiscalização e o m onitoramento permanentes, além do papel decisivo de
í públicos e dos canais
impor e fazer cum prir sanções e benefícios. Entretanto, os estudos inter­
is, e a criação de
nacionais têm demonstrado os constrangimentos a que estão submetidas
► as diferentes reivin-
as ações públicas que buscam “fomentar el diálogo social, muchas veces no
se realiza por la ausencia de legitimidad social del gobierno, resultante de
tcontrária à hoje hege-
la falta de confianza de los agentes sociales en su capacidad de conducción
. questão de gestão
del proceso” (Juncal, 2002, p. 538). Esse mesmo autor assevera que
•ñscal-financeiro, do
í restrição das arenas el gran desafío debe ser el de fortalecer el papel del liderazgo de los gobiernos
kpromoção de ambiente en todas sus niveles territoriales [...] Espacios en los cuales es posible organi­
zar una esfera para disputas y consensos, organizada por ley o contrato pú­
. realizar o checklist blico, para articular la representación política tradicional con la presencia
. incentivando a res- directa y voluntaria de la ciudadanía. Un espacio donde el Estado recupere su
legitimación y se afirma. Y la sociedad civil expresa su identidad y se fortalece
. « r 2003. (Juncal, 2002, p. 554).
.lo h á te m p o p a r a d is ­
id e é p r o f u n d a d e m a i s ”,
A legitim idade e a eficácia das ações podem fundar-se em outra
id e a n a c r ô n ic a e le n t a
:b e m r e c e b e m a c r ít ic a escala, para além daquele foco destas. Um bom exemplo é aquele da
rs d e a u s t e r i d a d e f i s c a l , busca de soluções de âmbito regional. As estratégias de atuação conjunta

207
TERRITOR IO E DESENVOLVIM EN TO A r e a jij :-. -

intermunicipal, fundamentais no enfrentamento de problemas comuns, diagnostiquem e r a a *


que extravasam os limites jurídico-adm inistrativos, vocalizando, com Esses contratos- crm
maior potência, reivindicações supraíocais, podem ter grande êxito. Para
aperfeiçoar essas ações que extrapolam a escala local, é preciso pactuar, articular horizonm
com definição e registro em contratos claros, a contribuição de fundos, verticalmente as 1
explicitando a contribuição das partes em termos de capacidade geren­ reconhecimento íocnsatJ
cial, participação da comunidade, compartilhamento de equipamentos, ao mesmo espaço:
equipes etc. a aceitação d e .
É indispensável, nessas ações consorciadas, a assunção, amplamente
pactuada, de responsabilidades, custos e benefícios, objetivando a tão Em suma, “a
difícil e desafiadora com patibilização entre eficiência e equidade. Há cesso decisorio a :
conflitos imanentes à difícil definição da parcela que cabe aos municípios não hierarquizados i
“mais ricos” e aos “mais pobres” da região. Daí a necessidade de assegurar e as estratégias ]
espaços amplos de discussão, que realizem o mais justo balanceamento previstas, indusheé
entre benefícios e vantagens das políticas concertadas. Um exemplo Tais experiências]
clássico: a discussão e os conflitos em torno da localização de aterros tadas pelas co e

sanitários regionais nessas negociações. ao conflito d e :


A ação supralocal geralmente pode lograr grande êxito em aumentar sentido do de
o “poder de diálogo, pressão e negociação” vis-à-vis a ações isoladas dos Vão sendo cc
municípios de determinada região (Pólis, 2000), contribuindo para aumen­ de horizontalidade i
tar a acessibilidade a outras escalas espaciais e outros níveis de governo abaixo e acim a <
superiores. Não obstante, é necessário nessas experiências conjuntas que as relações de 1
haja solidariedade institucional para evitar os conflitos de competência determinado
entre as distintas esferas de poder (Juncal, 2002). de escalas, níveis e <
A definição da escala supralocal é com plexa e necessária, m esm o politizando as 1
quando o recorte é natural, com o o dos consórcios interm unicipais coalizões cor
de bacias hidrográficas, que é a devida escala para os problem as do escala restrita sob 1
saneamento ambiental, mas não para outros problemas, como tem sido Rom per c o m ,
freqüentemente pensado no Brasil, talvez dada a extrema carência de interna e estabelecer4
outras ações regionais que não a dos comitês de bacias. é tarefa longa e <
Cada problema tem a sua escala espacial específica. É preciso enfren­ curando orientar ¡
tá-lo a partir da articulação dos níveis de governo e das esferas de poder tado, repolitizando a
pertinentes àquela problemática específica. pactuação fec
Além das articulações intra-regionais, é importante ampliar seu raio
político de manobra, a fim de negociar sua inserção inter-regional. Nes­
se sentido, a experiência européia de implementação dos contratos de Nessa concepção ;
sociais, com i
plano Estado-região é bastante pedagógica das virtudes das políticas que estratégias de i

208
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E A S PO S SIB IL ID A D E S D E E S TR A TE G IA S

sproblemas comuns, diagnostiquem e tratem de form a adequada as escalas dos problemas.


„ Tocalizando, com Esses contratos, com o duplo objetivo de
rgrande éxito. Para
,é preciso pactuar, articular horizontalmente os atores institucionais de uma mesma região e integrar
ição de fundos, verticalmente as diferentes esferas político-administrativas [...] implicando o
?capacidade geren- reconhecimento formal da existência de vários centros de decisão concernentes
»de equipamentos, ao mesmo espaço territorial e à mesma problemática [...] o reconhecimento e
a aceitação de competências superpostas a um dado nível territorial [...].

io, amplamente
Em suma, “a contractualização das políticas públicas introduz no pro­
. objetivando a tão
cesso decisorio a necessidade de articulação entre esses diferentes centros
. e equidade. Há
¡cabe aos municipios não hierarquizados de decisão, seja para definir em conjunto os objetivos
e as estratégias prioritárias para a região, seja para implementar as ações
ade de assegurar
previstas, inclusive o seu financiamento” (Jaccoud, 2001, pp. 12-13).
ijBSto balanceamento
Tais experiências procuram contornar as graves disfunções acarre­
, U m exemplo
tadas pelas com petências superpostas, procurando dar transparência
ação de aterros
ao conflito de interesses,13 buscando m aior coesão e solidariedade no
sentido do desenvolvimento regional.
¡éxito em aumentar
Vão sendo construídos, assim, politicamente, reforços nas relações
ra ações isoladas dos
de horizontalidade (na m esm a escala) e de verticalidade (nas escalas
ido para aumen-
abaixo e acima daquela em que se implementa a política). Explicitam-se
>níveis de governo
as relações de oposição/contradição/complementaridade presentes em
das conjuntas que
determ inado território, podendo assegurar novo patamar de convívio
. de competência
de escalas, níveis e esferas, lançando m ão de variados instrum entos,
politizando as relações, construindo cidadania e buscando combater as
i c necessária, mesm o
coalizões conservadoras, que procuram preservar seus privilégios naquela
interm unicipais
escala restrita sob seu domínio.
os problem as do
Romper com as forças desarticuladoras e os pactos de dom inação
, como tem sido
interna e estabelecer estímulos à identidade/diversidade/diferenciação
i « tre m a carência de
é tarefa longa e difícil, que deve, em seu percurso, ser pedagógica, pro­
rbadas.
curando orientar as classes subalternas a lutar pela publicização do Es­
. É preciso enfren -
tado, repolitizando as administrações públicas, para, através de decidida
>e ¿as esferas de poder
pactuação federativa, republicanizar o Brasil.

arte ampliar seu raio


—ter-regional. Nes-
13 Nessa concepção crítica, “a construção social do espaço é, então, vista como a luta que atores
L:> dos contratos de
sociais, com identidades territoriais distintas, levam a cabo para fazer valer seus objetivos e
T_ie; das políticas que estratégias de reprodução social” (Reis, 2003, p. 4).

209
TE R R ITÓ R IO E D ESEN VOLVIM EN TO A R I A ? : .- - . •

C ham o essa proposta de transescalar, pois ela necessita realizar se configuram os 7 :


cortes oblíquos e transversais nas diversas políticas públicas, atraves­ (Vainer, 2002. p. 1=
sando-as, rearticulando-as (mas também resulta desses diversos cortes O s estudos s e p _ ii3 if<

e cruzam entos realizados), para realizar sua síntese em uma política têm avançado bascaiat i
de desenvolvimento que alargue os horizontes de possibilidades e seja visão “uniescalar’ rã » j
inclusiva socialmente. neo e continental pa
Conform e já afirmamos, políticas multiescalares podem apreender certo nível d e ;
dialeticamente as heterogeneidades estruturais de nossa nação subdesen­ do mundo. Destaco <
volvida, resgatando a força da diversidade e criatividade, historicamente da administração dial
atingidas pelas elites conservadoras e, mais recentemente, pelos vários coesão do espaço <
anos de neoliberalismo. construído a escala 1
Essa tentativa de construção de uma alternativa que maneje bem as gerou nova re
escalas tem sido trabalhada por alguns autores. Carlos Vainer14 lançou qual a escala em *
o debate dessa perspectiva teórica e analítica no Brasil. Swyngedouw cíficas etc. A :
(1997) analisou vários eventos que ocorrem em uma escala e têm im ­ nas lutas políticas ;
plicações e conseqüências em outras. Muitas vezes, independentemente Social Mundial, i
de qual é o sítio em que ocorre um evento, seus efeitos são sentidos em esquerda em escalai
diferentes níveis escalares. Esse autor contribuiu também para definir de políticas de
que as escalas são produzidas e não dadas. Sustenta que “a escala não mais completa d e i
está ontologicamente dada, nem constitui um território geograficamente a antiguerra fiscal i
definível a priori”. São configurações “cujos conteúdos e relações são ções, com grande i
fluidos, contestados e perpetuamente transgredidos”. “Scale becomes the nacionais, de
arena and moment, both discursively and materially, where sociospatial Em síntese, 1
pow er relations are constested and com prom ises are negotiated and que, reunindo
regulated.” Escala, assim, é, simultaneamente, resultado e conseqüência de estratégias de *

da luta social pelo poder e pelo controle. se realize pelo 1


Em suma, a escala é central e decisiva, material e politicamente, para É possível e desesáiaftj
estruturar processos. “Escolher um a escala é também , quase sempre, europeus, reel
escolher um determinado sujeito, tanto quanto um determinado m odo e políticas antif
campo de confrontação [...] qualquer projeto (estratégia?) de transforma­
ção envolve, engaja e exige táticas em cada uma das escalas em que hoje
Kornin e Moer*
nortear o pli
14 “O entendimento de que os processos econômicos, políticos, sociais, culturais têm dimensões privados e a galana* i
escalares não pode conduzir à reificação das escalas, como se estas antecedessem e contives­ ainda, há uma ■
sem (como um receptáculo) os processos. O que temos são processos com suas dimensões de aglomerações 1
escalares, quase sempre transescalares (haverá ainda hoje algum processo social relevante cuja capturável por 2
compreensão e modificação seja possivel através de uma análise ou intervenção uniescalar?)” “Existiría, p orizaB , 1
(Vainer, 2002, p. 25). ambientes p ro tix ríw . 3
o são as relações i

210
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E A S P O S SIB IL ID A D E S DE E S TR A TE G IA S

necessita realizar se configuram os processos sociais, econôm icos e políticos estratégicos”


; públicas, atraves- (Vainer, 2002, p. 25).
idksses diversos cortes Os estudos segundo essa perspectiva da produção social de escalas
em urna política têm avançado bastante no Brasil, talvez pelo reconhecim ento de que a
í possibilidades e seja visão “uniescalar” não permite captar a complexidade desse heterogê­
neo e continental país.15 Lembro que essa concepção, aqui tratada com
. podem apreender certo nível de abstração, já foi e está sendo praticada, em várias partes
i nação subdesen- do mundo. Destaco aqui o caso da política regional européia e o caso
e, historicamente da administração da Prefeitura de Porto Alegre. A primeira, buscando a
lente, pelos vários coesão do espaço europeu, tem construído e desconstruído escalas. Tem
construído a escala supranacional, tem reelaborado suas ações locais,
que maneje bem as gerou nova regionalização dos países integrados, procura exam inar
É O rio s Vainer14 lançou qual a escala em que se devem implementar as políticas públicas espe­
Brasil. Swyngedouw cíficas etc. A segunda ficou conhecida mundialmente por sua inserção
n a escala e têm im- nas lutas políticas globais, não apenas nos dias de realização do Fórum
índependentemente Social M undial, mas tem construído arenas para o debate das forças de
são sentidos em esquerda em escala internacional. Em escala local, inovou em uma série
também para definir de políticas democráticas e populares, com destaque para a experiência
que “a escala não mais completa de orçamento participativo de que se tem notícia e para
geograficamente a antiguerra fiscal que praticou, por exemplo, com a Ford e nas negocia­
ns e relações são ções, com grande soberania, para a instalação do Carrefour. Em termos
'.*Scale becomes the nacionais, desenvolve amplas articulações e tem influência marcante.
where sociospatial Em síntese, não é apenas da esfera da utopia a busca de “ações planejadas
are negotiated and que, reunindo sujeitos sociais e espaço herdado, permitam o encontro
lo e conseqüéncia de estratégias de desenvolvimento significativas de uma igualdade que
se realize pelo respeito à diferença e à diversidade”16 (Ippur, 2002, p. 9).
l e politicamente, para É possível e desejável a implementação de pactos territoriais, com o os
quase sempre, europeus, reelaborando nosso “contrato social”, combatendo as coalizões
i determinado m odo e políticas antipopulares e reconstruindo a coesão federativa.
i?) de transforma-
¡ escalas em que hoje
15 Kornin e Moura (2002, p. 15) questionam: “No tocante à questão das escalas, qual escala deve
nortear 0 planejamento e a gestão territorial, levando em consideração o controle dos interesses
privados e a garantia dos direitos sociais, numa ação política verdadeiramente eficaz? Ou,
culturais têm dimensões
ainda, há uma escala espacial que abarque o processo de metropolização e de configuração
ntecedessem e contives-
de aglomerações urbanas, ou espacialidades estariam afetas a uma dimensão transescalar, não
t in c is ió n com suas dimensões
capturável por mecanismos e instrumentos convencionais de planejamento e gestão?”
recesso social relevante cuja
; re intervenção uniescalar?)” 16 “Existiría, portanto, um ‘jogo de escalas’ intrínsecamente articulado com arenas políticas e
ambientes produtivos. Isso porque as próprias escalas são objeto de confronto, assim como
o são as relações interescalares” ( I p p u r , 2 0 0 2 , p. 9 ).

211
TE R R ITO R IO E D ESEN VO LVIM EN TO A r e a ? :j: .-

Em um país onde não se processou “o desenvolvim ento de forças do benefício ----—.n. jua
produtivas m odernas, nem desenvolvim ento de direitos sociais”, que e com c o n tr a p ír r o i m ri

perenizou a negação, pelos detentores de riqueza, da acessibilidade à Qualquer a — -fre ]

terra, à educação e ao trabalho, um a das prim eiras m anifestações dessa senvolvim ento >:o:«ea
desconstrução nacional se revela no esgarçamento do pacto federativo, resgatar a p o tén cü T ia
desorganizando as articulações já frágeis entre o poder central e os lham os as heterc*eeara
poderes locais/regionais. N esse contexto, reafirm a-se a necessidade uma idéia equivocará*,
e a urgência de se resgatar a perspectiva de se pensarem verdadeira­ a nossa desigualõaãe m
mente as heterogeneidades estruturais (produtivas, sociais e espaciais) todas essas a ssim e a o n
de países com o o Brasil, em processo de desconstrução nacional e de um país continemaü wm
esgarçam ento de seu já historicam ente frágil pacto federativo. Para
se pensar o fortalecim ento da federação, é preciso encarar a questão
com plexa de que, no caso brasileiro, “um dos fatores constitutivos da
organização federal de nosso Estado é, tam bém , um a am eaça à sua
existência” (Affonso, 2000, p. 132), ou seja, a diversidade regional e a
m arginalização de uma imensa m aioria da população, quando se trans­
form am em assim etria extrema, podem desem bocar em processos de
fratura, inclusive federativa.
Nesse sentido, para se pensar a repactuação federativa e a construção
de um patam ar m ínim o de homogeneidade social, com o pré-requisi­
tos de um reerguim ento da escala nacional de desenvolvim ento, será
preciso utilizar as pulsões virtuosas de tam anhas assimetrias, mas de
positiva criatividade e diversidade que a econom ia e sociedade brasi­
leiras possuem .
Certam ente as questões da m oradia, transporte, educação, saúde,
segurança alimentar, entre outras, devem avançar do mero atendimento
aos interesses materiais mais imediatos à construção de cidadania, ainda
mais quando estão inseridas em um a estrutura urbana heterogênea,
pobre, patrim onialista e predatória com o a brasileira, em que a cidade
acabou tornando-se “agente de reprodução de desigualdades”. O tecido
urbano nacional está cindido entre a parcela da cidade onde vigem os
estatutos legais, rica e com infra-estrutura, e a ilegal, pobre e precária.
A tarefa é inserir parcela crescente desse tecido social e urbano na ci­
dadania plena, construindo a justiça social, garantindo 0 acesso a bens
e serviços públicos, que seja educativa, isto é, que sua im plem entação
represente um m om ento pedagógico da política pública de proteção
social. O u seja, as ações, para além da provisão de necessidades básicas,

212
A R E A F IR M A Ç Ã O D O N A C IO N A L E A S P O SSIB IL ID A D E S DE ESTR A TEG IA S

lento de forças do benefício material, devem ser pedagógicas, de co-responsabilização


«Kreitos sociais”, que e com contrapartida pré-definida.
da acessibilidade à Q ualquer cam inho perspectivo para o Brasil de discussão do de­
manifestações dessa senvolvim ento socioeconóm ico e do avanço político terá de ser o de
do pacto federativo, resgatar a potência virtuosa de nossa diversidade. Nós sempre traba­
i poder central e os lham os as heterogeneidades estruturais do país com o problem as. É
-se a necessidade uma idéia equivocada. Nós sempre trabalham os a nossa diversidade,
-em verdadeira- a nossa desigualdade com o grande em pecilho. Poderiam os trabalhar
sociais e espaciais) todas essas assimetrias com o um cam po interessante de diversidade de
Io nacional e de um país continental muito rico e com plexo em todos os sentidos.
federativo. Para
encarar a questão
. constitutivos da
um a ameaça à sua
-dade regional e a
„quando se trans­
em processos de

a e a construção
com o pré-requisi-
desenvolvim ento, será
assimetrias, mas de
e sociedade brasi-

. educação, saúde,
áo mero atendimento
de cidadania, ainda
m bana heterogênea,
, em que a cidade
Idades”. O tecido
¿¡¿ade onde vigem os
-gíL pobre e precária,
social e urbano na ci-
“ do o acesso a bens
ia implementação
rublica de proteção
necessidades básicas,

213
Epílogo

Não caberia aqui tentar repetir, mesmo resumidamente, as diversas idéias


centrais e conclusões sugeridas ao longo deste livro. O andamento da
análise procurou situar o debate da dimensão espacial do desenvolvi­
mento no cam po da econom ia política.
Procurei demonstrar como o debate territorial brasileiro muitas vezes
negligencia a natureza de nação inconclusa e subdesenvolvida em que
estamos fundados. Sempre foi assim, penso, o conduzido pelas correntes
mais conservadoras da área e pela Regional Science. Hoje, a discussão é
comandada pelo endogenism o exagerado de grande parte da literatura,
que considera que a escala local é a redentora de todos os males do atra­
so. Essa discussão padece de todas as deficiências do que Celso Furtado
chamou de mitos do desenvolvimento.
Ora, o subdesenvolvimento é uma m alform ação estrutural e assim
deve ser enfrentado. As políticas públicas devem tensionar esse conjunto
de forças responsável por ganhar com nosso atraso estrutural. Tais forças
estão em todas as escalas. E em todas as escalas devem ser combatidas.
A literatura atual parece acreditar que a escala menor é mais inocente e
inofensiva, em que se estruturará a força comunitária capaz de promover
o verdadeiro desenvolvimento sustentável. D a crítica a essa visão parti,
tentando desenhar uma agenda alternativa de estudos.
Daí o trajeto percorrido neste trabalho de, inicialmente, relembrar
alguns princípios teóricos que suportassem o propósito de “interrogar a
história”, expressão também de Celso Furtado. Considero que a interdis-

215
TE R R ITO R IO E D ESEN VOLVIM EN TO

1
ciplinaridade deve ser fundante do debate territorial. É preciso alargar o dom ínio e coe rei:- re
ângulo de visão, tendo radicalidade e buscando as especificidades, mas hegemônicos impõem
sem praticar a crítica paralisante. Envolve, em
Promover políticas de desenvolvimento significa distorcer a correlação tituição e a repro
de forças políticas em benefício da maioria. Discutí como na escala nacional preciso apreender ís
é preciso combater a heteronomia e buscar construir centros internos de diversos cortes
decisão. Em países como o Brasil, é necessário reconstruir a própria escala dos grupos econò:
nacional, ou melhor, as escalas intermediárias entre o local e o global, posto dos capitais e as for
que as políticas neoliberais (e as estratégias discursivas de seus defensores) regionais e urbana»
são destruidoras dessas escalas. As heterogeneidades e vulnerabilidades estru­ Com o o subdesoM Êi
turais exacerbaram sobremaneira nos últimos anos e o pacto de dominação ja ensinavam os g
interno se enrijeceu e revelou ainda mais seu caráter histórico. dificilmente rev<
É nesse sentido que propus, ao longo deste trabalho, que entender a trapostas por forças ]
dimensão territorial do processo de desenvolvimento passa necessaria­ final deste livro, ■
mente pelo entendimento da natureza da hegem onia do bloco de poder dupla frente: aqueia i
das diversas frações capitalistas, discutindo com o as elites territoriais- processos.
mercantis e as cosmopolitas têm conduta que trava a cidadania, a cria­ Muito há que se *
tividade cultural e os direitos, a fim de manter seus privilégios. Com o hegemonias d o ;
W ilson Cano já nos ensina, há décadas, o poder das lógicas arcaicas dos ção, participação, 3
polim órficos capitais mercantis (especulativas, usurárias, imobiliárias nova hegemonia, a j
etc.), na m aioria das vezes, paradoxalmente harm onizadas com as dos de dom inação
“capitais m odernos”, é o grande responsável pelo nosso atraso estrutural nas menores...
político, regional, produtivo e social.
Considero que espaço urbano é o locus privilegiado para essa inves­
tigação. Em uma sociedade subdesenvolvida, com o a brasileira, desigual
e amplamente urbanizada, com poderosas forças simultâneas de interio-
rização e metropolização, o estudo do “urbano complexo” em um espaço
nacional continental, com o ambiente construído para a produção, o
intercâmbio e o consumo, ou melhor, o sítio da reprodução das classes
sociais, é decisivo para elucidar a dimensão espacial do subdesenvolvi­
m ento brasileiro.
Entender a especificidade de “um urbano” e de “um regional” é se
perguntar pela capacidade de decisão internalizada naquele determinado
recorte espacial. A dimensão espacial envolve necessariamente o estudo
do grau de internalização dos centros de comando e decisão; a análise
da natureza das hierarquias (impostas em diversas escalas) de geração e
apropriação de riqueza material; e a pesquisa da capacidade de direção,

216
EP ÍL O G O

. É preciso alargar o dom ínio e coerção, de erigir o “consentim ento ativo” que os centros
sespecificidades, mas hegemônicos impõem aos espaços subordinados.
Envolve, em suma, analisar a form a histórica que tomaram a cons­
i distorcer a correlação tituição e a reprodução das classes sociais em sua expressão espacial. É
>na escala nacional preciso apreender as formas de reprodução da riqueza, estudando em
• centros internos de diversos cortes (mais criativos do que os usuais): das fortunas pessoais,
■ a própria escala dos grupos econômicos etc., procurando desvendar a lógica de valorização
»local e o global, posto dos capitais e as formas de estruturação do poder político nos espaços
>de seus defensores) regionais e urbanos brasileiros.
bilidades estru- Com o o subdesenvolvimento, sob o aspecto de malformação estrutural,
► pacto de dominação já ensinavam os grandes mestres, é altamente persistente, cumulativo e
rhistórico. dificilmente reversível, suas forças vivas e poderosas precisam ser con­
lo, que entender a trapostas por forças políticas, táticas e estratégias potentes. Lembrei, ao
► passa necessaria- final deste livro, com o construir o desenvolvim ento requer ações em
ldo bloco de poder dupla frente: aquela que constrói alguns processos e aquela que desmonta
>as elites territoriais- processos.
i a cidadania, a cria- M uito há que se desconstruir: as coalizões predatórias da nação e as
■ privilégios. Com o hegemonias do atraso estrutural. Muito há que se construir: m obiliza­
ilógicas arcaicas dos ção, participação, politização etc. Cidadania, enfim. Em suma, construir
»«s*rarias, imobiliárias nova hegemonia, a partir do desmonte contínuo do pacto conservador
idas com as dos de dominação interna, presente em qualquer escala espacial, inclusive
>atraso estrutural nas menores...

i para essa inves-


>a brasileira, desigual
leas de interio­
ro"' em um espaço
para a produção, o
IM çrodução das classes
. do subdesenvolvi-

I * ¿e ‘ um regional” é se
i naquele determinado
iamente o estudo
e decisão; a análise
scalas) de geração e
raridade de direção,

217
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k José Olympio, s.d.

São Paulo: Editora

Barcelona: Ariel

í e i unidade nacional”. Título Território e desenvolvimento


. Campinas: Editora da As múltiplas escalas entre o local e o global

Autor Carlos Brandão


fcJBaaa Iorque: Pergamon

capitalist división of Assistente técnico de direção José Emílio Maiorino


Coordenador editorial Ricardo Lima
Secretário gráfico Ednilson Tristão
University of Chicago
Preparação dos originais Grazia Maria Quagliara
Vilma Aparecida Albino
Revisão Grazia M aria Quagliara
Editoração eletrônica Eva Maria Maschio
Design de capa Ana Basaglia
Formato 16 x 23 cm
Papel Offset 75 g/m 2 - miolo
Cartão supremo 250 g/m 2 - capa
Tipologia M inion Pro
Número de páginas 240

ESTA O BRA FOI IMPRESSA NA G RÁ FICA RETTEC


PARA A ED ITO RA DA UN ICAM P EM A G O STO DE 2014.
São discutidas a natureza das diversas es­
calas espaciais (vistas como construções
históricas e políticas) e as possibilidades,
os instrumentos e as prioridades da efeti­
va ação com orientação pública, a flm de
tratar teórica, analítica e pobticamente a
questão das escalas, reafirmando a im­
portância das escalas intermediárias, in­
clusive da nacional.
Defende-se aqui que discutir estratégias
territorializadas de desenvolvimento para
o Brasil passa por encontrar a escala ade­
quada para a definição de determinado
campo em que os problemas são mais
bem visualizados, e as decisões sobre co­
mo enfrentá-los — e em que escala, nível
de governo e instância de poder — devem
ser tomadas, e arbitrados quais instrumen­
tos, medidas e ações concretas públicas
devem ser acionados sob aquele prisma
particular de observação.
Nesse sentido, propõe-se a construção de
estratégias multiescalares que considerem
a ação de sujeitos concretos. Se o proces­
so de desenvolvimento, sobretudo em sua
dimensão territorial, envolve sempre con­
flitos e tensão, é decisivo ter consciência
de seu caráter contingente, incerto, de “his­
tória em aberto” , à espera de forças que
lhe dêem conteúdo. Este livro procura dis­
cutir desenvolvimento e território nesse
contexto.

CARLOS BRANDÃO é professor livre-


docente do Instituto de Economia da Uni-
camp. Pesquisador do Centro de Estudos de
Desenvolvimento Econômico (Cede) e do
Núcleo de Economia Social, Urbana e
Regional (Nesur) do mesmo instituto. Bol­
sista do CNPq. Pesquisador da Fapesp.
ste livro parte da constatação do res­

E surgimento das temáticas do desenvolvi­


mento e do territorio e, sobretudo, da
articulação entre elas. Realiza extensa revisão
crítica da literatura pertinente. Propõe um mar­
co analítico para tratar do caso específico de
países periféricos e subdesenvolvidos como o
Brasil, que contam com espaços nacionais de
dimensão continental e meios urbanos e rurais
complexos. Analisa a natureza e a dinâmica do
processo de desenvolvimento e suas escalas es­
paciais (local, plurirregional, nacional, global
etc.). Ao final, aponta alguns desafios para a im­
plementação de políticas públicas e estratégias
de desenvolvimento de base territorial em múlti­
plas escalas.

w w w .e d ito r a .u n ic a m p .b r

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