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Pierre Boutroux e a Evolução da Matemática Moderna

SANTANA, Geslane Figueiredo da Silva 1

Resumo
Este artigo apresenta parte do trabalho que vem sendo desenvolvido sobre Pierre Boutroux e a Evolução
da Matemática Moderna. O matemático Boutroux em 1920 escreveu o livro L'idéal scientifique des
mathématiciens: dans l'antiquité et dans le Temps Modernes. Nesta obra nosso olhar se volta
principalmente para o relato de autor sobre o ponto de vista da análise moderna, o mesmo acredita que o
conceito de função contínua é o fio vermelho para o desenvolvimento da matemática e ainda que na
história da matemática aconteceu uma ruptura, onde no século XIX ela deixa de ser sintética e torna-se
analítica. Seguindo esta idéia estudamos o início da matemática moderna com as reformas de Félix Klein
e o seu slogan sobre a introdução do conceito de função na matemática. A metodologia utilizada é a
pesquisa teórica e histórico-bibliográfica. Espera-se contribuir com a Educação Matemática e a Didática
da Matemática.

Palavras-chave: Filosofia da Matemática. História da Matemática. Educação Matemática. Epistemologia.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo desta pesquisa é investigar a evolução da Matemática moderna,


segundo a visão de Pierre Boutroux. Neste âmbito o problema que nos desafia é: Quais
são as considerações de Pierre Boutroux para a compreensão da evolução da matemática
moderna?
Para o avanço deste aprendizado a metodologia empregada é a pesquisa teórica e
histórico-bibliográfica, observando que a “pesquisa histórica se volta para o passado,
buscando as linhas de força que movem os acontecimentos” (SANTAELLA, 2001,
p.145) e ainda “a pesquisa teórica também depende de uma grande coleta de dados, com
diferença que estes dados são idéias, conceitos, categorias que têm de ser manipuladas
técnicas, criativamente e, sobretudo, metodologicamente” (SANTAELLA, 2001,
p.187).
Buscando uma melhor compreensão em relação à filosofia de Boutroux, realiza-
se um sucinto estudo sobre a evolução do conhecimento humano com a filosofia de
Kant sobre o princípio de continuidade e a distinção entre analítico e sintético até a

1
Mestranda em Educação – Programa de Pós-Graduação em Educação/UFMT – geslanef@hotmail.com.
Orientador - OTTE, Michael Friedrich - Prof. Dr. do Programa de Pós-Graduação em Educação/UFMT.
michaelontra@aol.com.
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época de Boutroux, com o intuicionismo de Poincaré e a abstração reflexionante de


Piaget.
Para assimilar com clareza os argumentos de Boutroux a respeito da história da
matemática moderna, onde o autor aborda o desenvolvimento da noção de função
matemática como condutora desta evolução, pesquisamos sobre o principal slogan do
matemático alemão Félix Klein em sua iniciativa para a reforma da didática na
Matemática.
Na trilha desta trajetória, encontra-se como referencial teórico Pierre Boutroux
(1880-1920). Espera-se contribuir com a Educação Matemática e a Didática da
Matemática.

2. BOUTROUX: O HOMEM NA SUA ÉPOCA

2.1. Biografia de Boutroux

O matemático francês Pierre Boutroux (1880-1922), foi historiador e filósofo da


matemática, o mesmo era sobrinho do matemático Jules Henri Poincaré (1854-1912) e
filho do filósofo Émile Boutroux (1845-1921).

2.2. A ciência na época de Pierre Boutroux

O edifício da ciência clássica foi erguido na época de Galileu (1564-1642),


Descartes (1596-1650), Newton (1642-1727), Leibniz (1646-1716) e Kant (1724-1804),
entretanto foi abalado no início do século XX com a introdução dos princípios da
relatividade e da mecânica quântica (SILVA, 1972).
Em 1900 ocorreu o II Congresso Internacional dos Matemáticos em Paris, onde
Poincaré apresentou o artigo “A Intuição e a Lógica na Matemática”, enquanto David
Hilbert (1862-1943) apresentou os 23 problemas da matemática, que considerava
importantíssimo para o progresso da matemática, esses contrastes foram uma expressão
clara do fato que não só a matemática universitária tinham se distanciado
demasiadamente da matemática elementar, mas também evidenciaram que dentro da
própria matemática avançada ocorreram grandes divergências, principalmente, por
causa do nível da generalidade e da abstração da matemática moderna. Este processo
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não só deu início à reforma da didática na Matemática (com os esforços de Felix Klein),
mas também gerou uma crise nos fundamentos da própria matemática.
Em 1905 aconteceu o congresso internacional na Europa em Meran sobre a
reforma da Educação Matemática, neste congresso Felix Klein apresenta o conceito de
função como peça principal para a reforma da Educação Matemática.
Na física, em 1900, Planck (1858-1947) fundou a mecânica quântica e em 1905,
Albert Einstein (1879-1955) criou a teoria da relatividade, por isso “(...) no decorrer do
século, modificou-se a nossa concepção do mundo” (SAINT-SERNIN, 1998, p. 69). Na
química tem-se as divergências em relação aos “princípios da teoria cinética dos gases”
(SILVA, 1972, p.90). E na biologia destaca-se Charles Darwin (1809-1882).
Com a Revolução Industrial o homem adquire o domínio sobre o mundo das
máquinas gerando a divisão entre mente e mão, fortalecendo a criatividade humana e
impulsionando a mente a se sentir mais livre e poderosa.
Neste contexto encontra-se Boutroux, que na virada do século XIX tinha 20 anos
e em 1908 iniciou sua carreira como professor de Cálculo Integral em Poitiers na
França.

2.3. O princípio de continuidade e o problema da generalização na ciência da


modernidade

A ciência antiga foi baseada numa metafísica que concebeu o mundo observando
um ensemble de substâncias e suas características essências, o seu objetivo era
descrever e representar a estrutura do mundo. Esta ciência foi formada por frases
composta por sujeito e predicado, como por exemplo: Sócrates é bom, ou seja, a
bondade é uma característica essencial de Sócrates. A ciência da modernidade depois do
conflito com a igreja na Idade Média e da separação da teologia tinha a função de
buscar seus fundamentos e sua metodologia no seu próprio campo e por seus próprios
pensamentos científicos.
A partir de então, o conhecimento foi concebido em termos de relações – cada
lei da natureza é expressa em termos de relações ou na forma de equações – e por isso
se fez necessário buscar um fundamento objetivo das relações. A crença baseada no
princípio da uniformidade da realidade ou também chamado de princípio da
continuidade foi concebida para estas tarefas.
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A missão de Immanuel Kant consistiu em esclarecer esta base subjetiva da


construção do conhecimento fornecendo-lhe um significado mais profundo. A
epistemologia de Kant é a confluência entre o racionalismo e o empirismo e marca uma
ruptura tanto com o racionalismo ou dogmatismo de Leibniz quanto com o empirismo
ou cepticismo de David Hume (1711-1776). As características da estrutura do
pensamento humano que Kant destacava eram: intuições e conceitos. Kant escreveu:
“Intuição e conceitos constituem, pois, os elementos de todo o nosso conhecimento, de
tal modo que nem conceitos sem intuição que de qualquer modo lhes corresponda, nem
uma intuição sem conceitos podem dar um conhecimentos” (KANT, 1997, B 75).
Kant, em certo sentido, negou a validade do princípio da continuidade, pois
aceitava este princípio apenas no campo das construções mentais. Para Kant o
conhecimento humano é uma característica da mente humana e é definido por suas
limitações.
Somente o pensamento dos séculos XIX e XX conclui esta transformação da
filosofia e da noção da objetividade do conhecimento realizando novas generalizações.
Entre outros, destacam-se Poincaré, que como Kant acreditou que “a lógica e a intuição
têm cada uma seu papel necessário. Ambas são indispensáveis” (POINCARÉ, 1995, p.
22) e Jean Piaget (1896-1980) que baseou a sua teoria da abstração reflexinonante no
pensamento matemático de Kant. Depois do desenvolvimento da filosofia da
matemática de Kant, entre França e Alemanha, podem ser percebidos dois caminhos,
enquanto na Alemanha as concepções de Hilbert e Cantor dominavam a cena, já na
França o que reinava era o conceitualismo de Poincaré. Boutroux também assumiu a
versão conceitualista na sua filosofia da matemática.

2.4. A distinção entre analítico e sintético

O procedimento sintético sempre começa com um objeto ou fato dado e a partir


desse desenvolve novas coisas. O processo dedutivo de Euclides pode ser chamado de
método sintético, primeiro se constrói novas verdades à base dos axiomas, que eram
estabelecidos como verdades básicas. Em contraste a este sistema apresentam-se as
teorias axiomáticas da matemática no sentido de Giuseppe Peano (1858-1932) e Hilbert
que são chamadas analíticas, pois elas não fornecem objetos ou fatos, apenas condições
e conceitos.
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Kant definiu a distinção entre julgamentos sintéticos e analíticos da seguinte


maneira:

Em todos os juízos, nos quais se pensa a relação entre um sujeito e um


predicado (apenas considero os juízos afirmativos, porque é fácil depois a
aplicação aos negativos), esta relação é possível de dois modos. Ou o
predicado B pertence ao sujeito como algo que está contido (implicitamente)
nesse conceito A, ou B está totalmente fora do conceito A, embora em
ligação com ele. No primeiro caso chamo analítico ao juízo, no segundo
sintético (...) (Kant, 1997, B 11).

Existe uma complementaridade entre o sintético e o analítico, um está ligado ao


outro, assim como a construção do conhecimento carece da intuição e do conceito. O
professor deve complementar a sua formação buscando adquirir o conhecimento
histórico e filosófico da matemática, sem esta complementaridade a Educação
Matemática é como a intuição sem conceito como escreveu Kant: “Pensamentos sem
conteúdo são vazios; intuições sem conceitos são cegas” (KANT, 1997, B 75).

2.5. Boutroux sobre a distinção entre analítico e sintético

Segundo Boutroux (1920) os matemáticos Descartes, Leibniz e Newton


desenvolveram um método sintético na matemática. Este método sintético é um cálculo,
portanto uma combinação de signos, e reduz a ciência a um trabalho de combinação
mecânica. Para Boutroux (1920) o método analítico, na matemática, surge por volta da
metade do século XIX, o matemático desta época pode ser comparado com:

(...) um construtor, um generalizador, o matemático tornou-se uma espécie de


inspetor, que analisa à maneira de um químico, uma matéria estranha e
infinitamente complexa, é também, se quiser um explorador, com a tarefa de
se orientar em um continente desconhecido, e que busca descobrir as
riquezas, as regiões “interessantes”, sem aliás, saber qual lado deve
exatamente avançar e dirigir sua pesquisa para atingir seu objetivo
(BOUTROUX, 1920, p. 211).

3. O LIVRO: “O IDEAL CIENTÍFICO DOS MATEMÁTICOS”

3.1. Panorama do livro: O ideal científico dos matemáticos

O trabalho mais importante de Boutroux é sua obra escrita em francês no ano de


1920, L'idéal scientifique des mathématiciens dans l'antiquité et dans le Temps
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Modernes ( O Ideal Científico dos Matemáticos na Antiguidade e nos Tempos


Modernos), foi traduzido para o alemão, porém na língua portuguesa ainda não há
tradução. Sendo escrito em 275 páginas. O livro é dividido em introdução e cinco
capítulos: Introdução - A história da ciência e as grandes correntes do pensamento
matemático; Capítulo I - A concepção helênica dos matemáticos; Capítulo II - A
concepção sintética dos matemáticos; Capítulo III - O apogeu e o declínio da
concepção sintética; Capítulo IV - O ponto de vista da análise moderna; Capítulo V - A
atual missão dos matemáticos.

3.2. A história das ciências e as grandes correntes do pensamento matemático

Na introdução Boutroux expõe as seguintes questões: Qual idéia que o


matemático faz sobre a sua ciência? Quais são as idéias? Quais são os princípios que
estão guiando suas atividades? Qual o farol que orienta suas pesquisas? Porque os
matemáticos, em particular, hesitam tanto em formular ou expressar suas idéias
diretoras em termos gerais? Será que eles desconfiam destas idéias? Observando elas
como uma fraqueza, que eles não querem mostrar?
Utilizando o método histórico, o objetivo principal de Boutroux é estudar as
grandes correntes do pensamento matemático ordenando cada fato ao lugar que lhe
pertence e refletindo sobre a forma como foram conduzidas as descobertas, em sua
época, buscando a significação destas em relação às pesquisas que se seguirão.

3.3. A Concepção helênica dos matemáticos

Os ideais que regiam os antigos gregos apresentavam um caráter estético com


objetivo de satisfazer a beleza, seus resultados deveriam ser simples e harmoniosos.
Vemos predominar neste período o interesse pelo objeto como ponto, reta, plano etc.
Para Boutroux a matemática na primeira época, ou seja, na época da ciência helênica era
caracterizada pela síntese, pelas grandezas das figuras e da reunião da aritmética com a
geometria, ou seja, havia uma harmonia pré-estabelecida entre o objeto e o método.

3.4. A concepção sintética dos matemáticos


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No capítulo III, Boutroux (1920) busca determinar as características do método


algébrico que na verdade era uma combinação de símbolos, ou seja, uma concepção
sintética. Em seguida indica como este método foi desenvolvido no século XVII, que foi
dominado pela abordagem ao finito e infinito. Após Descartes, Newton e Leibniz, a
álgebra definitivamente afirma a sua potência e durante um século e meio ela reina
como senhora absoluta sobre toda a ciência matemática. Nesta segunda época o que
predomina é o sujeito e ainda existe a harmonia pré-estabelecida entre o objeto e o
método.

3.5. O apogeu e o declínio da concepção sintética

Os resultados obtidos pelos algebristas do século XVIII eram para justificar a


robusta confiança na excelência de seu método. A álgebra elementar reconhece a
extensão exata do seu poder. O cálculo de derivadas, integrais e o cálculo de séries
tinham sido codificados e formaram um conjunto bem ordenado e preciso. A geometria
cartesiana aperfeiçoa seu mecanismo suplantado os métodos gregos da demonstração. A
mecânica se constituiu como ciência analítica tomando a geometria como modelo. Para
Boutroux esse crescimento provocou uma revolução na matemática.
Mas no século XIX se mostram os limites dos métodos algébrico-lógicos que
dominaram a matemática até o fim do século XVIII. O problema consiste no fato que os
conceitos dos matemáticos são essencialmente indeterminados ou vagos e por isso eles
estão em oposição aos conceitos da lógica e da álgebra. Não existia um sistema de
conceitos elementares e bem determinados que se constituíssem em termos de
combinações cada vez mais complexas para todos os conceitos possíveis. O principal
responsável pelo declínio da concepção sintética foi o conceito de função, Boutroux
escreve: “Vamos perceber mais precisamente esses fatos através de um exemplo: vamos
considerar um dos mais importantes conceitos da análise moderna, o conceito de função
matemática” (BOUTROUX, 1920, p. 164).

3.6. O ponto de vista da análise moderna

No século XIX acontece não apenas uma revolução, mas uma ruptura dando
início à terceira época (contemporânea à Boutroux), onde: “O pensador moderno, de
todas as formas, não busca explicar a si mesmo, não pretende compreender
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completamente em que consiste e sob quais condições pode agir a intuição. As suas
definições, na maioria dos casos, ficam negativas” (BOUTROUX, 1920, p. 224).
Nesta terceira época tem-se um equilíbrio, a complementaridade entre objeto e
sujeito, ou seja, o conhecimento passa a representar uma relação entre sujeito e objeto.
A harmonia entre o método e objeto deixa de existir, assim como a concepção sintética
perde força, dando lugar a concepção analítica.

4. FUNDAMENTOS DIDÁTICOS: A RUPTURA ENTRE PESQUISA E ENSINO

4.1. O conceito de função na Educação Matemática desde as reformas de Felix Klein

Christian Felix Klein (1849-1925) promoveu, em 1905, um congresso


internacional preparatório, em Meran na Alemanha, sobre a reforma da Educação
Matemática, uma das tarefas principais era trazer uma concepção mais ampla da noção
de função, ou seja, trabalhar com gráficos como queriam os engenheiros não só com
fórmulas e entender que a função tem outros aspectos além dos aspectos algébricos.

4.2. Educação Matemática na Alemanha

Na segunda metade do século XIX as escolas alemãs, com a preocupação de


acompanhar a Revolução Industrial, se organizam em três classes: as Gymnasiun que
eram as escolas secundárias de maior prestígio, que rejeitava o ensino de funções; as
escolas Realschulen que ensinavam geometria elementar tradicional, geometria
descritiva e alguns elementos da geometria sintética; e por fim as Volksschulen que
ensinavam o cálculo prático. Apesar de todas as mudanças ocorridas na Alemanha, onde
o ensino foi focado para as novas demendas científicas e tecnicamente treinada das
indústria, o ensino da matemática não apresentava progresso. As primeiras iniciativas
para a reforma na Educação Matemática, na Alemanha, inicaram-se com Felix Klein.

4.3. A difusão internacional do slogan de Felix Klein

Klein foi presidente do IMUK (Internationale Mathematisque


Unterrichtsommission/CIEM–Commission Internationale de l’Enseignement
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Mathemátique). O IMUK atuou como um agente de mudanças no ensino da


matemática. O slogan de Klein era a introdução do conceito de função na matemática.

5. A HISTÓRIA DA ANÁLISE NO SÉCULO XIX COMO HISTÓRIA DO


DESENVOLVIMENTO DA NOÇÃO DE FUNÇÃO MATEMÁTICA

5.1. Os vários significados do termo função nos dias atuais

Especificamente o termo função pode ser notado principalmente na matemática,


filosofia, biologia, psicologia e sociologia. Na matemática o conceito de função pode se
dividir historicamente em duas concepções. A primeira está associada ao conceito de
operação aritmético-algébrica, do conceito de algoritmo e das concepções gerais de
máquina, o mesmo está intimamente relacionado ao conceito de funcionalismo. A
segunda concepção caracteriza a função apenas como uma lei de dependência entre uma
grandeza variável e outra qualquer, a função é exclusivamente considerada como uma
correspondência entre valores do domínio e da imagem, onde se procurava um número,
uma grandeza desconhecida.

5.2. História da função de Leibniz até Euler: O período da dicotomia

Newton e Leibniz são considerados os fundadores do Cálculo, para esses eles a


principal finalidade era estudar curvas geométricas. Leonhard Euler (1707-1783)
explica a diferença entre função contínua e função descontínua segundo a sua visão, que
logicamente, era baseada nos signos e na combinação de signos e em fórmulas
relacionadas à matemática de sua época, para ele, uma função é contínua quando é
formada por uma única expressão analítica.

5.3. A transformação da idéia da função durante o século XIX

Augustin-Louis Cauchy (1798-1857), não se satisfaz com o conceito de função


de Euler baseado em símbolos, ele pensa em função contínua a base do próprio conceito
de contínuo, para tanto ele escreveu uma definição para função contínua, totalmente por
meio de conceitos.
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A formação da nova concepção de função foi agregada ao princípio da


continuidade. Para Otte isto surge como “uma circularidade que revela que significados
conceituais são processos que se desdobram na atividade epistemológica [...] indicado
no conceito de complementaridade” (OTTE, 1993, p. 232).

5.4. A teoria da integração de Cauchy e Riemann à Lebesgue

No século XVIII Cauchy introduz o seu estudo sobre a teoria da integração


desassociando-a do Cálculo Diferencial, para isto, ele utiliza a idéia de soma e desta
forma define a integral em termos de limite de somas, mostrando que a derivada não
existirá num ponto em que a função seja descontínua, mas a integral pode existir, pois
admite que mesmo, as curvas sendo descontínuas elas podem fornecer uma área bem
definida (BOYER, 1968). Contudo, Georg Friedrich Bernhard Riemann (1826-1866) é
quem fornece “condições necessárias e suficientes para que uma função limitada seja
integral” (BOYER, 1968, p. 388).
Entretanto no século XX, surgem idéias revolucionárias que abrem caminho para
novas generalizações, e o conceito de integral passa por reformulações. Um dos nomes
que mais se destaca é o Henri Léon Lebesgue, que começou a estudar o trabalho de
Borel sobre conjuntos e nota que a definição de integral de Riemann, contém o defeito
de ser aplicável apenas em casos excepcionais, pois assume poucos pontos de
descontinuidade para funções. Lebesgue (1875-1941) pensou na teoria da integração
com base na análise da variação de função.

6. CONSIDERAÇÕES

O conhecimento histórico da matemática é de vital importância para o professor


de matemática, pois “as idéias matemáticas que parecem extremamente abstratas e
difíceis, à primeira vista ficam compreensíveis somente por meio de uma perspectiva
histórica” (OTTE, 2008, p. 121). Boutroux valoriza em sua obra a importância da
Educação Matemática ser analítica, assim como na pesquisa, pois os problemas
matemáticos devem ser resolvidos não apenas por meio de fórmulas e regras, mas,
também mediante o uso da criatividade.
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOUTROUX, Pierre. L’Idéal Sientífique des Mathématiciens: dans l’antiquité et


dans les temps modernes. Paris: F. Alcan, 1920. 274p.

BOYER, Carl Benjamin. História da Matemática. Tradução de Elza F. Gomide. São


Paulo: Edgard Blücher Ltda., 1968. 496p.

CAVAILLES, Jean. Sur la logique et la théorie de la science. 3ed. Paris: Vrin, 1976.

HOUAISS, Antônio e VILLAR Mauro. Dicionário houaiss da língua portuguesa. Rio


de Janeiro: Objetiva, 2001, 2922p.

KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Tradução de Manuela Santos e Alexandre


Morujão. 4. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997. 680p.

OTTE, M. A Realidade das Idéias: uma perspectiva epistemológica para a Educação


Matemática. Cuiabá: EdUFMT (no prelo), 2008a.

OTTE, Michael. O Formal, o Social e o Subjetivo: uma introdução à Filosofia e à


didática da Matemática. Tradução de Raul Fernando Neto et al. São Paulo:
Universidade Estadual Paulista, 1993. 323p.

POINCARÉ, Henri. O Valor da Ciência. Tradução de Maria H. F. Martins. Rio de


Janeiro: Contraponto, 1995. 173p.

SAINT-SERNIN, Bertrand. A Razão no século XX. Rio de Janeiro: José Olympio /


Brasília: EDUNB, 1998, 272p.

SANTAELLA, Lucia. Comunicação e Pesquisa: projetos pra mestrado e doutorado.


São Paulo: Hacker Editores, 2001, 215p.

SCHUBRING, G. O primeiro movimento internacional de reforma curricular em


Matemática e o papel da Alemanha. In Zetetiké. Vol.7 n. 11. Campinas: CEMPEM –
UNICAMP, 1999. p. 29 - 49.

SILVA, Maurício da Rocha. A evolução do pensamento científico. São Paulo:


HUCITEC, 1972, 374p.

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