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VITÓRIA
2016
ANDERSON ANTONIO ALVES CESÁRIO
Vitória
2016
À minha família, pelo apoio incondicional,
compreensão e incentivo em todos os
momentos.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por seu amor, por suas bênçãos e pela oportunidade de concluir mais uma
etapa.
À memória de meus pais, Ilson Cesário e Antonia Alves Cesário, por me ensinarem
os valores que me guiam em minha jornada.
A meus filhos Igor e Lara, por compreenderem minha ausência e pela inspiração na
busca por um amanhã melhor.
Aos colegas da turma 2013 do Educimat, pelos momentos especiais que vivemos
juntos, em especial às amigas Lisandra e Marcela, por tornarem o percurso do
mestrado ainda mais especial.
Aos professores Marinaldo e Carol, por seu apoio na busca por novas metodologias
de ensino e aprendizagem que aproximem o conhecimento matemático do
conhecimento técnico.
RESUMO
ABSTRACT
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 13
1.1 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO .............................................................. 23
2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS ........................................................................ 24
2.1 TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL ................................................................... 24
2.2 MODELAGEM MATEMÁTICA ......................................................................... 34
2.3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE FUNÇÃO ........... 44
2.4 UM PANORAMA SOBRE PESQUISAS REALIZADAS QUE ENFOCAM A
ABORDAGEM DE FUNÇÃO POR MEIO DA MODELAGEM MATEMÁTICA . 47
3 PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA ............................................ 51
3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................................................ 51
3.2 O LOCAL E OS SUJEITOS DA PESQUISA .................................................... 55
3.3 ANSEIOS DA PESQUISA ............................................................................... 56
4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ........................................................ 58
4.1 ATIVIDADE DE MODELAGEM 1: MODELANDO O CRESCIMENTO DA
ALFACE HIDROPÔNICA................................................................................ 58
4.2 ATIVIDADE DE MODELAGEM 2: MODELANDO O DESENVOLVIMENTO DA
ALFACE DA HIDROPONIA E DO CAMPO .................................................... 67
4.2.1 O Convite para a Atividade de Modelagem ................................................ 67
4.2.2 No setor de Horticultura ............................................................................. 70
4.2.3 No laboratório de Informática .................................................................... 83
4.2.4 Atividades de ensino................................................................................... 97
4.3 ANÁLISE DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA ................................... 115
4.4 PRODUTO EDUCACIONAL ........................................................................ 130
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 131
REFERÊNCIAS ...........................................................................................136
APÊNDICE A - Formulário de coleta de dados da alface cultivada no solo e
na hidroponia ....................................................................141
APÊNDICE B - Transcrição da entrevista semiestruturada ........................142
13
1 INTRODUÇÃO
Na tentativa de explicar como essas inquietações nos motivaram a uma busca por
estratégias, metodologias ou teorias que tornassem nossa prática mais inovadora,
buscando não só proporcionar mais sentido ao conhecimento matemático explorado,
como também propor um processo de ensino e aprendizagem que privilegiasse ao
estudante uma postura de protagonista do processo, é fundamental fazer um
pequeno relato de nosso percurso profissional.
Fui aluno da então Escola Técnica Federal do Espírito Santo (ETFES) no curso de
Eletrotécnica (1990 a 1993). Seguindo uma trajetória natural, ingressei em 1994 na
Universidade Federal do Espírito Santo para cursar Engenharia Elétrica. Cursei o
que se costuma chamar de básico na Engenharia, que são os primeiros cinco
semestres, em que se estuda muito Cálculo e Física. Por motivos pessoais fiz (re)
opção de curso para Licenciatura em Matemática e, paralelamente à licenciatura,
comecei a lecionar na rede estadual da região metropolitana da Grande Vitória/ES.
Nesse cenário, o PPI propõe uma concepção educacional mais abrangente que tem
como objetivo contribuir para a educação integral do cidadão capaz de interpretar e
interferir na vida social e produtiva. Corroborando com este pensamento, Frigotto
(2005) categoricamente considera que o ensino médio integrado ao ensino técnico é
aquele em que:
15
[...] o trabalho como princípio educativo deriva do fato de que todos os seres
humanos são seres da natureza e, portanto, têm a necessidade de
alimentar-se, proteger-se das intempéries e criar seus meios de vida.
(FRIGOTTO, 2005, p. 60).
O autor afirma que compreender o trabalho como princípio educativo é mais que
formar para o exercício do trabalho meramente como produtor de mercadorias, é
antes entender o ser humano como gerador de sua realidade, como sujeito que dela
se apropria para modificá-la. Para contemplar o trabalho como princípio educativo no
contexto da educação profissional é preciso pleitear o direito ao acesso à cultura, à
ciência e à tecnologia para todos. É buscar uma prática pedagógica que comporte,
como um dos fundamentos do currículo, a integração entre cultura, ciência,
tecnologia e trabalho, não de forma enciclopedista ou exclusivamente
profissionalizante.
Esse contato inicial e algumas conversas informais com alguns professores que
ministravam os componentes curriculares técnicos a respeito das atividades
desenvolvidas nas unidades de produção fizeram-nos perceber que existia no
campus um ambiente propício para realizar a desejada integração entre os saberes.
Nesse contexto, algumas ações foram implementadas nas aulas de matemática com
o intuito de buscar uma aproximação entre a matemática e as disciplinas técnicas.
Entretanto, o baixo desempenho acadêmico dos alunos em matemática apontado
pelos relatórios da coordenação pedagógica e a dificuldade de aprendizagem nessa
disciplina percebida em nossa prática indicavam que essas ações ainda pareciam
incipientes. Apesar de o contexto do campus Itapina oportunizar um estreitamento
das relações da matemática com as disciplinas técnicas, na prática essa integração
ainda era fraca.
Consideramos que a abordagem com a Modelagem pode ser útil para dar mais
significado ao conhecimento matemático trabalhado em sala de aula, e também para
contribuir para a tão almejada integração do ensino técnico com o ensino médio.
Dessa forma, embora não seja nosso objetivo aprofundar a discussão sobre o tema,
acreditamos que nosso trabalho perpassa pelas questões da formação integrada,
visto que propõe uma abordagem da matemática baseada em problemas reais, que
podem muito bem ser do contexto da área técnica dos alunos. Ou seja, na tentativa
de solucionar um problema da área técnica, os estudantes podem mobilizar
conhecimentos matemáticos e de outras áreas, trabalhando de forma
multidisciplinar.
80
Aprovados
60
Matr. cancelada
40
Reprovados
20 Transferidos
0
primeira série segunda série terceira série
Nesse sentido, Fiorentini (1994, p.38) afirma que o modo de ensinar depende da
“concepção que o professor tem do saber matemático, das finalidades que atribui ao
ensino da matemática, da forma como concebe a relação professor-aluno e, além
disso, da visão que tem de mundo, de sociedade e de homem”.
1
Esse sistema foi nomeado por Freire (2011) como “educação bancária”, em uma crítica à abordagem
tradicionalista que objetivava transformar o aluno em um ser passivo, em um depósito de informações
escolhidas e elaboradas por outras pessoas.
21
A Modelagem Matemática não coaduna com uma postura prescritiva por parte do
professor e estática dos alunos. Estes, na busca da solução para um problema
extraído da realidade, são estimulados a levantar hipóteses, pesquisar, coletar
dados, organizá-los, expressar/dividir suas opiniões e seus planos para solucioná-lo.
E o professor estimula os alunos a terem uma postura mais autônoma e
investigativa. De acordo com Almeida (2012), ao vivenciar episódios de ensino que
possibilitam contato com o contexto real, os alunos podem se sentir motivados para
o envolvimento nas atividades e para a construção do conhecimento. Schliemann,
Carraher e Carraher (1993) enfatizam ainda a importância da aprendizagem de
Matemática ser um momento de interação entre a Matemática formal, acadêmica e a
Matemática cotidiana, enquanto atividade humana.
Com esse objetivo mais amplo, foram definidos os seguintes objetivos específicos:
Embora não seja nosso objetivo neste trabalho responder a esses questionamentos,
eles nos motivam a sair da inércia e investigar referenciais que possam nos orientar
na busca por respostas.
23
2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Para esta investigação, o apoio se encontra em dois pressupostos teóricos que nos
permitiram analisar o processo de construção do conhecimento matemático no
contexto considerado. Primeiramente, a perspectiva histórico-cultural de Vigotsky.
Em seguida, a perspectiva de desenvolvimento do ensino de Matemática por meio
da abordagem da Modelagem Matemática.
Vygotsky (2007), em sua teoria, pressupõe que o homem se constrói em sua relação
com o mundo exterior e com os demais, mediatizado pela cultura, sendo por isso um
ser social e histórico. Para ele, o desenvolvimento das funções psicológicas
superiores (atenção voluntária, memória lógica, pensamento verbal) acontece na
interação com seus pares, que já se apropriaram da cultura construída.
Ao fazer uma analogia entre instrumentos e signos, Vygotsky (2007) salienta que:
Ao procurar esclarecer sobre o tipo de analogia que faz entre instrumentos e signos,
Vygotsky (2007) fala sobre a diferença entre esses dois conceitos:
Ele utilizou um jogo em que fazia perguntas sobre cores a algumas crianças e elas
deveriam responder sem usar o nome de duas cores definidas previamente. Na
primeira etapa do experimento, perguntas eram feitas oralmente e as crianças
respondiam. Se a criança usasse uma das cores proibidas, a resposta era
considerada errada. Na segunda etapa, a criança recebia cartões coloridos que
podia utilizar como quisesse para auxiliá-la no jogo.
Podemos pensar em uma bola que não esteja em nossa presença. Lembrar um
drible “genial” feito por um jogador, imaginar uma jogada que nunca vimos ou até
mesmo planejar algo com esse objeto, sem que ele sequer esteja perto de nós. Essa
habilidade de operar com representações que substituem o objeto real permite ao
indivíduo um desprendimento do espaço e tempo presentes e, assim, imaginar, fazer
planos, efetuar relações mentais na falta do próprio objeto. As operações realizadas
mentalmente não são relações diretas com o mundo real e sim relações mediadas
pelos signos que foram internalizados. Ao lidar com as funções psicológicas
superiores, esses signos, que são representações mentais dos objetos do mundo
real, são os mediadores que predominam no vínculo do homem com o mundo.
que ele tem de machado fará a mediação entre o objeto real e a ação psicológica
(imaginá-lo nas ações do relato).
Entretanto, supondo que esse indivíduo pertença a um grupo cultural que não
conheça o objeto “machado”, então, se ele ouvir uma história sobre um machado ou
se alguém lhe mostrar essa ferramenta, ele não terá possibilidade de interpretá-lo
como tal. Não possuirá representação mental, instrumental psicológico para
compreendê-lo.
Esse nível é determinado pelas tarefas que a criança não faria sozinha, mas que,
com a ajuda de um adulto ou de outra criança com o desenvolvimento mais
avançado, ela seria capaz de realizar. Vale lembrar que não é qualquer tarefa que
um indivíduo conseguirá fazer com a ajuda de outra pessoa. Uma criança de 5 anos
pode, por exemplo, conseguir amarrar os sapatos com a ajuda de outra pessoa, mas
uma de 1 ano não conseguirá realizar a tarefa, mesmo com a ajuda de um adulto.
31
De acordo com Vygotsky (2005), outro aspecto importante a ser considerado quando
se estuda o aprendizado e o desenvolvimento humano é a relação entre
pensamento e linguagem.
Como um dos mais ilustres adeptos do professor Aristides, Rodney C. Bassanezi foi
um dos maiores disseminadores da modelagem matemática no Brasil. Em 1982, ao
coordenar um curso de pós-graduação na Universidade Estadual de Guarapuava, no
35
Segundo a autora, um modelo matemático pode ser expresso por meio de fórmulas,
gráficos, diagramas, tabelas, equações algébricas ou programas computacionais. O
36
Uma postura prescritiva por parte do professor não encontra espaço nesse tipo de
ambiente. Os alunos são estimulados a levantar hipóteses, pesquisar, coletar dados,
organizá-los, expressar/dividir suas opiniões e seus planos para solucionar o
problema.
Dessa forma terão a oportunidade de ponderar sobre a Matemática que pode ser
usada em cada situação e até mesmo refletir sobre a Matemática utilizada em
algumas situações, como a que foi citada no exemplo das planilhas de empresas de
transporte público e outras.
O quadro abaixo mostra os três casos apresentados por Barbosa (2009), apontando
as diferentes divisões de responsabilidades entre alunos e professor.
38
A Figura 4 traz uma representação das ações cognitivas desenvolvidas pelos alunos
e suas relações com as diferentes fases do desenvolvimento de atividades de
modelagem na perspectiva de Almeida (2012).
“Por que usar Modelagem Matemática na sala de aula?” “Como usar Modelagem
Matemática?”.
A respeito da segunda pergunta, Almeida (2012) citando Blum e Niss (1991), pontua
que os autores consideraram algumas possibilidades de articulação de atividades de
modelagem com o currículo escolar: separação, combinação, alternativa de
integração curricular e alternativa interdisciplinar integrada. A separação e a
combinação são alternativas mais convencionais, em que as atividades de
modelagem são utilizadas em algumas aulas e para conteúdos específicos. Porém,
as duas últimas (integração curricular e interdisciplinar integrada) são inciativas mais
arrojadas, que sustentam não a integração da modelagem matemática, mas a
utilização da modelagem como orientadora do programa de matemática.
Com relação à primeira pergunta, Almeida (2012) enumera alguns aspectos que o
desenvolvimento de atividades de modelagem nas aulas de matemática pode
favorecer:
Salientamos que, embora o autor não tenha feito nenhuma recomendação expressa
quanto à melhor estratégia metodológica para a abordagem, os passos empregados
e comentados para entender o fenômeno científico de funções, indicam que esta
seria a maneira sugerida por ele: isolar o fenômeno natural de função, estudar esse
contexto e suas relações com outros objetos matemático-científicos e,
posteriormente, utilizar o instrumento matemático. Vale lembrar também que Caraça
(1984) sequer menciona termos como "interdisciplinaridade", mas propõe que
46
Outro ponto importante levantado por Caraça (1984) refere-se aos “modos de
definição” de função ou às formas de representação da mesma. O autor destaca as
formas analítica e geométrica de representação e admoesta quanto ao perigo de se
confundir o conceito com alguma forma de representação. A esse respeito ele
destaca:
Bilhéo (2012) desenvolveu seus estudos junto a duas turmas do ensino médio
integrado ao técnico, trabalhando com o tema funções, buscando melhorias no
ensino com aulas inovadoras apoiadas no uso de tecnologia e relacionando o
contexto escolar com a realidade que circunscreve os estudantes. Utilizou em seu
trabalho a metodologia de modelagem matemática aplicada como resolução de
problemas e auxiliada por calculadora gráfica. Bilhéo (2012) relata que a abordagem
segundo essa perspectiva contribuiu para que os alunos percebessem a importância
da matemática no seu curso técnico e compreendessem a razão de se estudar o
conceito função. O pesquisador aponta que as atividades de modelagem auxiliaram
os alunos a compreender melhor os conceitos matemáticos.
Científica, enquanto nós trabalhamos com uma turma do ensino regular. Entretanto,
a questão orientadora de seu estudo muito se assemelha à nossa, na medida em
que investiga como a modelagem, implementada em um contexto da Iniciação
Científica, pode contribuir para a análise, discussão e resolução de problemas de
forma a integrar a Matemática ao Ensino Técnico de Agropecuária. Algumas de suas
conclusões são específicas para o contexto da iniciação científica, por isso me
atentarei apenas naquelas que são pertinentes para este trabalho. A autora
menciona que os caminhos percorridos para encontrar os modelos encontrados
serviram para que os alunos percebessem com mais clareza as relações entre a
matemática e a área técnica que estudam. As discussões ocorridas tornaram
concreta a relação de um tema da realidade e a matemática.
De acordo com Bogdan & Biklen (1994, p. 150), as notas no diário de bordo são “o
relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê, experiencia e pensa no decurso
da recolha e refletindo sobre os dados de um estudo qualitativo”. Na perspectiva
desses autores, as notas do diário de bordo são compostas por dois tipos de
material: descritivo, em que a preocupação é retratar uma cena da maneira mais
fidedigna possível; e reflexivo, em que o observador expõe seu ponto de vista, suas
ideias e preocupações. Em outras palavras, na parte reflexiva, o pesquisador faz
uma pré-análise dos dados anotados no diário de bordo.
Com respeito à entrevista, Alves-Mazzotti (1998, p. 168) pondera que, ao optar por
esta modalidade de coleta de dados, o pesquisador “está interessado em
compreender o significado atribuído pelos sujeitos a eventos, situações, processos
ou personagens que fazem parte de sua vida cotidiana”.
Assim, na sequência iremos discorrer sobre a análise dos dados. Após a coleta de
informações por meio das notas do caderno de campo, das entrevistas e dos
documentos produzidos pelos alunos, havia uma quantidade considerável de dados
para serem analisados.
Com os dados coletados, a tarefa é mais difícil, mas à medida que o pesquisador vai
lendo e relendo os dados, certas frases, palavras, padrões de comportamento vão
se repetindo. Daí se originam as categorias de codificação.
55
Com esse objetivo mais amplo, foram definidos os seguintes objetivos específicos:
Relataremos agora como aconteceu a atividade piloto que foi uma primeira incursão
no campo de pesquisa. Essa atividade foi realizada com uma turma da primeira série
do Ensino Médio Integrado ao curso de Agropecuária no ano de 2014. Não éramos o
professor regente nessa turma, sendo necessário solicitar a autorização da
professora de matemática para realizar a atividade. Ao conversar com ela, pedimos
que nos cedesse algumas aulas para realizarmos a atividade de Modelagem, o que
ela prontamente fez, e então iniciamos o planejamento.
Procuramos, então, junto aos professores das disciplinas técnicas, alguma atividade
semelhante, na qual foi possível aliar a produção de conhecimento matemático à
resolução de algum problema da área técnica. No diálogo com o professor
responsável pelo setor de Horticultura do Ifes campus Itapina, vislumbramos a
possibilidade de desenvolver uma atividade utilizando a cultura de alface no sistema
de hidroponia. O setor de Horticultura dispõe de três estufas para cultivo nesse
sistema. A seguir mostramos na Figura 5 uma foto em que aparecem duas das três
estufas para hidroponia do setor de Horticutura do campus Itapina.
Figura 5 - Foto de Estufas para hidroponia no setor de Horticultura do Ifes campus Itapina
2ª Etapa: Após os sete dias já existe uma “mudinha” de alface com 4 ou 5 folhas.
Essa muda é transportada para outra bancada, denominada bancada de
crescimento. Em geral, a muda fica na bancada de crescimento por mais duas
semanas.
Foi então que o professor responsável pelo setor de Horticultura expressou sua
curiosidade em saber se aquele momento (aproximadamente 21 dias) era realmente
o momento ideal para o pé de alface chegar à bancada de produção. Estava posto
um potencial problema para ser resolvido em um ambiente de modelagem.
A cultura de alface foi escolhida por ser uma cultura de ciclo relativamente curto
(aproximadamente 45 dias), o que era conveniente para esse trabalho de pesquisa
de mestrado e também pelo fato de a alface ser uma hortaliça muito consumida pela
população brasileira, inclusive nossos alunos, sendo, então, algo bem pertinente ao
contexto deles.
62
Na tentativa de obter algum parâmetro para descobrir o momento ideal (se existir)
para transportar a muda para a bancada de produção, o experimento foi conduzido
de modo que os “lotes” de mudas fossem transferidos para a bancada de produção
em momentos diferentes.
Na Figura 11 a seguir, podemos ver o primeiro lote de mudas que foi transportado
da bancada de crescimento para a bancada de produção.
Figura 11 - Mudas de alface colocadas em bandeja para transporte para a bancada de produção
Como todos os pés de alface foram colhidos após 45 dias de semeados, o primeiro
“lote” de mudas ficou 26 dias na bancada de produção; o segundo, 24 dias; o
terceiro, 22 dias; o quarto, 20 dias, e o quinto ficou 18 dias na bancada de produção.
Durante o tempo em que os grupos estavam trocando ideias, praticando os três tipos
de discussão observados por Barbosa (2009), estávamos interagindo com os
grupos, não no sentido de lhes fornecer a solução, mas fazendo questionamentos,
comentários, ou seja, sendo coparticipantes na resolução do problema. Nesses
momentos de interação percebemos certo receio (ou timidez) dos alunos em nos
chamar para contribuir nas discussões. Creditamos isso ao pouco tempo de
convívio, apesar de alguns momentos anteriores de observação que tivemos com a
turma. Na atividade que desenvolvemos no semestre seguinte, em uma turma em
que éramos o professor regente, percebemos uma interação entre alunos e
professor/pesquisador bem mais efetiva. Os alunos ficavam bem mais à vontade
para nos convidar e expor suas dificuldades.
Figura 12 - Gráfico da altura da parte aérea da alface em função do tempo (construído pelos alunos
do grupo 4)
Por fim, incentivamos a socialização das soluções encontradas pelos grupos para
que os alunos pudessem compará-las, perceber outros caminhos e fazer uma
análise crítica dos resultados encontrados.
Percebemos que, pelo fato de a atividade ter sido realizada nos últimos meses do
ano letivo, os alunos já estavam um tanto cansados e a motivação para o trabalho
ficou comprometida. Outra análise importante que contribuiu para a próxima
atividade de modelagem refere-se ao intervalo de tempo das medições das plantas.
Ao final desta atividade piloto, observamos que os pés de alface que estávamos
acompanhando (fazendo medições) não se desenvolveram como outras plantas da
estufa que não estavam sendo medidas. No final do período de observação, eles
67
estavam menores e com menos folhas do que os pés de alface cultivados para
abastecer o refeitório do campus.
Explanado o relato da atividade piloto que nos permitiu fazer os ajustes necessários
nos procedimentos metodológicos e sublinhado o que foi aprendido com ela, na
sequência nos dedicaremos à descrição da atividade de pesquisa e as análises
produzidas.
Iniciamos, então, uma conversa com os alunos sobre os assuntos que seriam
abordados na componente curricular Produção Vegetal I e, entre eles, surgiu a
cultura de hortaliças e outras plantas em regime de hidroponia. Entre as plantas
citadas estava a alface, que é a hortaliça mais consumida no Brasil. Nesse
momento, começamos a problematizar sobre essa cultura, levantando
questionamentos como: Vocês conhecem esta modalidade de produção de alface?
Já comeram alface produzida assim? Tem diferença para a alface produzida do
“jeito tradicional”? E quanto ao desempenho, qual tipo de cultura tem melhor
desempenho?
Ao perceber que os alunos não sabiam muito sobre o assunto, fizemos o convite
para a atividade de modelagem. A proposta foi plantar dois “canteiros” de alface (um
da forma tradicional: no solo e outro em regime de hidroponia) e acompanhar as
culturas para comparar os resultados. Explicamos que eles fariam uma análise
comparativa entre as duas modalidades de cultivo de alface.
O dia de levar as mudas de alface aos canteiros chegou. Um grupo foi conduzido a
um canteiro no solo e o outro para as bancadas de hidroponia. Esta etapa ocorreu
no dia 29/04/2015, ou seja, 15 dias após as sementes terem sido colocadas na
espuma fenólica. Nesse dia, os alunos foram divididos em grupos com 5 integrantes,
mais precisamente 6 grupos com 5 alunos cada. A professora de Produção Vegetal I
e eu acordamos que faríamos a divisão como geralmente os alunos fazem quando
vão escolher as equipes para alguma prática esportiva: eles escolhem os líderes e
esses líderes vão escolhendo, sucessivamente, os integrantes de suas equipes.
Para o plantio das mudas de alface, os alunos contaram com a orientação do técnico
responsável pelo setor de Horticultura. Ele orientou os alunos durante toda a etapa
do processo ocorrido na Horticultura, desde o preparo dos canteiros, que aconteceu
alguns dias antes em aulas de Produção Vegetal I, até o plantio e desenvolvimento
das mudas. Tanto as mudas plantadas no canteiro como as mudas colocadas nas
bancadas da hidroponia.
mudas, a cada 7 (sete) dias um grupo de alunos ficaria responsável por retirar um
lote de mudas alface do campo e um lote da hidroponia, fazer as medições
combinadas e descartar as plantas. Então, a partir de 06/05/2015, sete dias após o
plantio das mudas, em intervalos regulares de sete dias, os grupos responsáveis
fizeram a medição das seguintes características das plantas: número de folhas,
altura da parte aérea da planta, comprimento do sistema radicular (comprimento da
raiz) e diâmetro do caule. O quadro 4 mostra a data em que cada grupo fez as
medições das plantas.
6/05/2015 Grupo 1
13/05/2015 Grupo 2
20/05/2015 Grupo 3
27/05/2015 Grupo 4
3/06/2015 Grupo 5
10/06/2015 Grupo 6
Após olharem para o canteiro e entre si, o aluno Gean pediu uma trena e mediu o
comprimento total do canteiro. Após a medição, Gean apresentou sua conclusão:
Por que 2,7 dividido por 6? Tem que dividir por cinco, pois são
cinco espaços entre os seis lotes. (Nadson)
Gean concordou com Nadson, fez o cálculo mental e concluiu que dariam cinco
espaços de 0,5 m (50 centímetros) e ainda sobraria algum espaço no canteiro.
Foi uma boa oportunidade para retomar alguns conhecimentos matemáticos, pois no
início do ano havíamos feito, a pedido dos professores das disciplinas técnicas, uma
“revisão” de unidades de medida de comprimento, área e volume. A esse respeito,
Barbosa (2009) pontua que as atividades de modelagem oportunizam a construção
de novos conceitos e também a retomada de conceitos já trabalhados.
Algumas alunas não queriam inicialmente participar do plantio, pois não queriam se
sujar na terra. Entretanto, ao ver a empolgação daqueles que estavam participando,
acabaram se motivando e participando também. Tudo transcorreu bem no plantio,
muitos alunos participaram da atividade e houve muita cooperação na realização
das tarefas. Podíamos perceber a ansiedade dos alunos na expectativa de como as
plantas estariam na semana seguinte, quando iniciariam as medições. A seguir
relataremos algumas situações que ocorreram nos momentos em que os alunos
estavam mensurando as características escolhidas e anotando em formulário
preparado para tal, conforme consta no Apêndice A.
Figura 16 - Esquema ilustrativo das medições da altura da parte aérea, o comprimento da raiz e o
diâmetro do caule.
Vale ressaltar que a medida do comprimento da raiz dos pés de alface plantados no
campo ficou de certa forma prejudicada. Pois, ao retirar a planta da terra, muitas
vezes os alunos, apesar do cuidado, perdiam parte da raiz. Também na hora de
esticar as ramificações da raiz para fazer a medição, partes da raiz se rompiam por
serem muito frágeis. Além disso, nos últimos pés de alface retirados, quase não
havia mais espuma fenólica.
Uma observação recorrente em praticamente todos os grupos foi que vários alunos
não sabiam utilizar a régua corretamente. Estes mediam a altura colocando a borda
da régua no ponto de referência (parte superior da espuma fenólica) e não a marca
da régua corresponde ao “zero” da escala.
O aluno Ygor, que estava utilizando a régua no momento, perguntou o que ele
estava fazendo de errado. Nesse instante, um colega do grupo se aproximou e
disse:
Outra dificuldade dos alunos na medição foi no uso do paquímetro para medir o
diâmetro do caule. Já imaginávamos que essa dificuldade pudesse ocorrer pelo fato
de o paquímetro não ser um objeto de uso comum no cotidiano da maioria das
pessoas. Para os alunos participantes da pesquisa não foi diferente. Muitos deles
nem sequer conheciam esse instrumento de medição. Porém, para nossa surpresa,
80
Você viu, Ygor, como todos nós temos algo a contribuir? Você
“salvou a pátria”! Seu conhecimento sobre o paquímetro e a
maneira correta de utilizá-lo foi muito importante para darmos
continuidade à atividade. (Pesquisador)
Um ponto considerado que poderia ter sido feito de forma diferente seria mostrar aos
alunos semanalmente como estavam evoluindo as variáveis mensuradas. E, dessa
forma, relacionar os resultados obtidos por eles com os resultados obtidos pelos
colegas. Acreditamos que se tivéssemos feito isso dessa maneira, teria sido dado
mais significado aos resultados encontrados e uma sensação maior de
“continuidade” na atividade. Como não fizemos, essa parte da atividade ficou um
pouco fragmentada. Os alunos consideraram interessante fazer as medições, mas
não tinham ainda muita noção do que aquelas medidas representavam dentro do
panorama mais amplo do experimento. Só no final, ao elaborar as planilhas e os
gráficos é que tiveram essa noção.
A confecção das planilhas e dos gráficos foi feita nos horários das aulas de
Matemática. Para tanto, utilizou-se o software Microsoft Excel. Os motivos para
escolher esse software foram: o programa estava disponível nas máquinas dos
laboratórios da escola, é um software cuja utilização não é complexa (pelo menos da
parte que necessitávamos) e também pelo fato de o software ser, naquele ano,
objeto de estudo para a turma pesquisada na disciplina de Suporte Tecnológico.
Tínhamos inicialmente a intenção de trabalhar essa etapa da modelagem em
conjunto com o professor dessa disciplina. Entretanto, não foi possível conciliar o
planejamento com o professor de Suporte para que o tópico Microsoft Excel fosse
abordado antes ou paralelamente à atividade de modelagem.
Observamos ainda que a maioria dos alunos tinha pouco ou nenhum conhecimento
sobre essa planilha eletrônica. Para contornar a situação, nos propusemos mediar o
processo de construção das planilhas e gráficos, dando o suporte necessário para
que os alunos completassem a tarefa a contento. Vygotsky (2007) pondera a
respeito do papel do professor em situações de adversidade com seus alunos. Ele
afirma que o professor deve agir como mediador, atuando na zona de
desenvolvimento proximal dos estudantes e estimulando a investigação por meio de
questionamentos que motivem a reflexão.
Assim, de posse de cópias dos formulários preenchidos por cada grupo com as
medidas coletadas dos pés de alface, os alunos iniciaram a organização das
planilhas. Lembramos aos alunos que o objetivo da elaboração das planilhas era dar
subsídio para construir gráficos que possibilitassem a comparação entre as culturas
da alface (nos regimes de campo e hidroponia). Inicialmente alguns grupos ficaram
um pouco perdidos com os formulários que continham as medidas feitas por todos
os grupos nas mãos, sem saber direito o que fazer. Nesse momento, levantamos
alguns questionamentos no sentido de orientá-los na elaboração das planilhas:
Nesse momento, outro aluno, talvez se lembrando do que havíamos combinado por
ocasião do convite à atividade de modelagem, sugeriu:
Os demais alunos concordaram que deviam fazer uma planilha (Figura 17) com os
números de folhas de cada planta medida e, depois, calcular o número médio de
folhas para cada dia de medição.
Figura 17 - Planilha do número de folhas dos pés de alface do campo por dia de medição.
1º) A planta 1 do dia 6/maio não é a mesma planta 1 do dia 13/maio. Devemos
lembrar que eram seis lotes (grupos) de plantas. As plantas do lote 1 foram medidas
86
Foi curioso perceber que alguns alunos ficaram inseguros quanto à maneira de
calcular o número médio de folhas. Na ocasião, brincamos com os alunos, trazendo
um exemplo de como era calculada a “média” de um aluno em uma determinada
disciplina há algum tempo atrás:
a instrução de alguém que já sabe. E que mais adiante aquele sujeito poderá
realizar a ação sozinho, quando já estiver em seu nível de desenvolvimento real.
Acho que não devemos colocar zeros, porque a média vai dar
errado. (Walace)
Sugerimos que eles tomassem uma coluna como exemplo e calculassem a média
sem colocar zeros nos espaços vazios. Depois calculassem novamente,
preenchendo os espaços com o número zero e, em seguida, analisassem os
resultados. Os alunos fizeram o que foi proposto e, após discutirem, chegaram à
conclusão que não podiam preencher os espaços vazios da tabela com zeros.
Questionamos por que eles não deveriam fazer isso? A intenção era saber se eles
tinham entendido realmente o que significava o número médio de folhas.
Após perceber que os alunos haviam entendido o que era calcular a média
aritmética de alguns valores, apresentamos para os grupos a ferramenta “inserir
função” disponibilizada pelo software Microsoft Excel para calcular, entre outras
coisas, a média de alguns valores. Propusemos também que eles investigassem o
88
que aconteceria se eles preenchessem (ou não) os espaços vazios da tabela com o
número zero e explorassem a ferramenta que acabaram de conhecer. A seguir, na
Figura 18, tem-se a tabela construída pelo grupo citado contendo os valores médios
do número de folhas dos pés de alface plantados no campo. Observa-se que o
grupo não representou o valor médio do dia 10/jun/2016 porque julgou não ser
necessário, visto que nesse dia só há um valor de número de folhas.
Figura 18 - Planilha do número de folhas dos pés de alface do campo por dia de medição, com
número médio de folhas.
Figura 19 - Planilha do número de folhas dos pés de alface hidropônicos por dia de medição
Scheller (2009) pontua que é necessário que o professor tenha muito cuidado com
essa circunstância, especialmente se os alunos não têm experiência com atividades
de Modelagem, que era o nosso caso. Ainda de acordo com a autora, os alunos
podem se perder e se tornarem apáticos nas aulas.
A seguir (Figura 20) é possível visualizar o primeiro gráfico (do Número médio de
folhas em função do tempo) construído por um dos grupos. O gráfico retrata a
variação do número de folhas dos pés de alface (campo e hidroponia) somente até o
50º dia (3/06). Diferentemente das tabelas, que apresentam os resultados até o 57º
dia (10/06). Essa decisão foi tomada pelos alunos em virtude de no 57º dia não
haver nenhuma planta na hidroponia. Todos os pés de alface haviam morrido.
Figura 20 - Gráfico do Número médio de folhas dos pés de alface do campo em função do tempo.
Ah! Professor! Então, isso quer dizer que não podemos fazer
uma linha. O gráfico vai ficar só com os pontos! Só podemos
fazer a linha quando a variável é contínua, não é? (Vitor)
tracejada para explicitar como ocorreu a evolução do número de folhas dos pés de
alface ao longo do tempo. Discussões semelhantes a essa surgiram em outros
grupos. Em geral, os alunos não se lembravam de fazer essa análise com respeito
ao tipo de variável na hora de construir os gráficos.
A mediação junto aos grupos por ocasião da elaboração do primeiro gráfico (número
de folhas em função do tempo) foi bastante intensa. Presumimos que isso tenha
ocorrido pelo pouco conhecimento dos alunos das ferramentas do software Excel,
como já afirmamos. Todavia, na produção dos gráficos referentes às outras variáveis
mensuradas (altura da parte aérea da planta, comprimento da raiz e diâmetro do
caule) percebemos que os grupos trabalharam de forma mais autônoma.
vezes enfatizávamos para os grupos: “Vocês já discutiram isso entre si? Acho que
podem chegar à resposta sozinhos!"
16 13,5 Campo
12 11,5 Hidroponia
11 10,2 10,9
7 8,7
8
0
22 29 36 43 50
18
17,1
14,2
13 12,5 Campo
9,8
Hidroponia
6,9 9,1
8
4,4 7,1
3 3,7
22 29 36 43 50
Ao propor a atividade I, nosso objetivo foi proporcionar aos alunos uma oportunidade
de identificar as grandezas representadas em uma das formas de representação de
função (gráfico), perceber a interdependência entre elas, reconhecer a taxa de
variação da função para um dado intervalo e relacionar essa taxa à inclinação do
gráfico.
98
Atividade I: O gráfico abaixo mostra o número médio de folhas dos pés alface
(campo e hidroponia) em função do tempo. Após análise do gráfico, responda as questões
propostas.
b) O que aconteceu com o número de folhas dos pés de alface plantados no campo
com o passar do tempo? E os da hidroponia?
g) Existe alguma relação entre a taxa de variação (no nosso caso, taxa de
crescimento) e a inclinação do gráfico? Explique.
Após perceber que os outros alunos do grupo de Luciano não estavam conseguindo
ajudá-lo, convidamos o grupo a analisar o gráfico e fizemos alguns questionamentos
no sentido de auxiliá-los a entender o que seria taxa de variação. Assim, sugerimos
ao grupo que novamente olhasse para o gráfico (Nº folhas alface X Tempo) e
indagamos o seguinte: Qual a variação do número de folhas na primeira semana?
Nas demais semanas, a variação foi a mesma?
Após algumas intervenções no sentido de orientá-los para alcançar o que seria taxa
de variação, os alunos responderam de forma satisfatória os itens “a” ao “f”. Com
respeito à associação entre a taxa de variação e a inclinação do gráfico, abordada
nos dois últimos itens da Atividade I, alguns alunos fizeram algumas associações
interessantes. Por exemplo, a aluna Heloísa associou o item “h” da atividade ao
movimento uniforme, estudado em Física.
A seguir (Figura 24) apresentamos a resposta dada pelo grupo de Heloísa para os
itens g e h da Atividade I:
100
A resposta do grupo ao item “g” sugere que eles perceberam a relação entre a taxa
de variação e a inclinação do gráfico. Acreditamos que a associação feita pela aluna
Heloísa referente à pergunta do item “h” com o gráfico da posição em função do
tempo no movimento uniforme, visto na disciplina de Física, é tão forte que a
resposta dada por eles é: “Uniforme”. Acreditamos que os alunos fizeram uma
alusão ao aspecto do referido gráfico, que é uma reta.
Figura 25 - Resposta do grupo do aluno Gean aos itens “g” e “h” da Atividade I.
Figura 26 - Resposta do grupo do aluno Luciano aos itens “g” e “h” da Atividade I Resposta do grupo
do aluno.
Aproveitando essa associação feita pela aluna Heloísa com um conteúdo da Física,
perguntamos: E essa distância que o carro percorre a cada hora recebe que nome lá
na Física?
Atividade II: O gráfico abaixo mostra o comportamento da altura da parte aérea dos
pés alface (campo e hidroponia) em função do tempo. Analise as informações do gráfico e
responda os itens abaixo.
a) Analisando o gráfico acima e lembrando como foi medida a altura da parte aérea,
como vocês comparam as duas culturas da alface (campo e hidroponia)?
b) Qual foi a altura média da parte aérea dos pés de alface da hidroponia no 36º dia? E
dos pés de alface plantados no campo?
c) Qual foi o dia, de acordo com o gráfico, que a altura média da parte aérea dos pés
de alface da hidroponia atingiu 27 cm? E os do campo?
d) A julgar pelo gráfico dado acima, em algum momento a altura média da parte aérea
dos pés de alface plantados no campo vai ser maior que a altura média dos pés de
alface da hidroponia? Explique.
Os alunos não apresentaram dificuldade para responder grande parte das questões
dessa atividade, indicando que conseguiram fazer a leitura correta do gráfico,
associando as grandezas nele representadas. Somente no item “d” alguns alunos
não souberam como responder ou como justificar sua resposta. O diálogo a seguir
retrata isso:
Percebemos na fala de Gean que ele, de certa forma, tentou identificar uma
regularidade nas curvas e fez uma previsão do que poderia ocorrer nas semanas
seguintes se essa regularidade se mantivesse.
Foi também relevante a resposta dada pelo grupo liderado por Isadora (Figura 28)
ao item “d”. A resposta revela que os alunos, em sua análise, não abandonaram a
realidade do experimento. Não dissociaram a representação gráfica do que
aconteceu de fato no campo. Isso, com certeza, pode agregar mais significado ao
conhecimento matemático trabalhado.
104
Na atividade III, nosso intuito foi mostrar ao aluno que existem várias formas de
representar uma função e incentivá-lo a relacioná-las, percebendo as diferenças
entre elas. Além de atentar para a identificação de regularidades, nessa atividade
também tentamos evidenciar para o aluno que nem sempre existirá um padrão na
relação entre duas grandezas. A última pergunta da tarefa tinha o objetivo de
reforçar a conexão com a realidade, fazendo-os refletir sobre os procedimentos
realizados durante a fase da experimentação.
105
1ª Representação: Tabela
Tempo (dias) 22 29 36 43 50
2ª Representação: Gráfico
b) O que aconteceu com o comprimento médio da raiz dos pés de alface na hidroponia?
E no campo?
d) E quanto à alface cultivada no campo, seria possível fazer essa previsão? Explique.
A primeira observação feita sobre a resolução dessa atividade foi que dos seis
grupos, três não compreenderam que estávamos perguntando no item “a” sobre as
formas de representação da função (tabela e gráfico) e não sobre as formas de
cultivo (hidroponia e campo). Três grupos responderam sobre as vantagens da
106
A seguir (Figura 29) apresentamos as respostas dos três grupos que responderam
erradamente a letra a da atividade 3:
Resposta do grupo 1:
Resposta do grupo 2:
Resposta do grupo 4:
Algumas discussões interessantes surgiram em torno dos itens “c” e “d” da atividade,
que foram planejados exatamente com o intuito de gerar reflexão sobre
regularidades (padrões). A seguir relatamos alguns diálogos.
Resposta do grupo 1:
Resposta do grupo 5:
Resposta do grupo 2:
Resposta do grupo 4
O 1º grupo mostrado parece iniciar sua análise de forma mais rigorosa quanto à taxa
de crescimento. Avalia o crescimento da raiz como não uniforme e alega não poder
estimar seu valor no 57º dia. Todavia, abandonando o rigor e indiretamente
reconhecendo alguma regularidade, afirma que a raiz “continuará crescendo”. Ao
considerar as respostas dadas pelos demais grupos, percebemos que a maioria
deles, a sua maneira, expressou identificar que a variação do comprimento da raiz
da alface hidropônico, no intervalo descrito no gráfico, apresentou “certa
regularidade”. Interessante a associação feita por dois grupos com a taxa de
variação. Ao considerar um crescimento “quase uniforme”, como citou um dos
grupos, os grupos 4 e 5 tomaram a média das taxas de crescimento no intervalo
para descobrir a taxa de variação do 50º dia para o 57º. Sem querer julgar o mérito
de a resolução estar certa ou errada, ficamos felizes ao perceber que, de um jeito
próprio, todos os grupos fizeram uma análise das representações para embasar
suas respostas.
Quanto às respostas dadas à letra “d”, com exceção de um grupo que, tentando
lembrar o que aconteceu na realidade do experimento, mencionou equivocadamente
que já no 50º dia não havia mais nenhum pé de alface no canteiro do campo, todos
os outros grupos demonstraram não enxergar regularidade (pelo menos observado
no gráfico) no comportamento do comprimento da raiz da alface do campo.
Julgamos importante apresentar um exemplo que não apresenta regularidade para
que os alunos se conscientizem de que nem tudo segue padrões.
Resposta do grupo 1:
Resposta do grupo 2:
110
Resposta do grupo 3:
Resposta do grupo 6:
Atividade IV: O gráfico abaixo mostra a variação do diâmetro do caule dos pés alface
(campo e hidroponia) em função do tempo.
De forma geral, os alunos não encontraram maiores dificuldades nos itens “a” e “b”.
Gostaríamos de evidenciar a resposta do grupo 6 que, de forma mais completa, fez
uma análise comparativa entre alface do campo e de hidroponia. A referida resposta
encontra-se na Figura 32 a seguir.
Quanto ao item “c”, observamos que dois grupos consideraram não ser possível tal
estimativa. Inferimos que essas respostas, ao menos com relação ao 57º dia,
resultaram do elevado índice de perda de plantas nas últimas semanas do
112
experimento, pois um grupo respondeu que “Não é possível, pois não sabemos o
que vai acontecer com as plantas”. E o outro foi ainda mais enfático, respondendo:
“Não, pois as do campo morreram no 50º dia. Sim, pois no 46º dia elas ainda
estavam vivas”. Se por um lado esses grupos não procuraram identificar uma
regularidade no gráfico do diâmetro do caule em função do tempo, por outro não
perderam de vista a relação da representação gráfica com a realidade, vivenciada
por ocasião do experimento. Os outros quatro grupos que afirmaram ser possível tal
estimativa, não explicaram de forma adequada como chegar a esse valor. A
resposta dada pelo grupo 5 mostra que os alunos, apesar de utilizarem uma “taxa de
variação média” para encontrar a medida do diâmetro no 57º dia, entenderam que
esse processo só se aplica para intervalos de tempo iguais aos que separam os
pontos explicitados no gráfico. Veja a resposta do grupo a seguir, na Figura 33.
Então, pessoal, acho que podemos ter uma ideia mais precisa
do valor do diâmetro nesse intervalo [22,50], ou seja, nesse
intervalo o gráfico deixa o valor do diâmetro ficar mais ou
menos definido. Fora disso não podemos “garantir” nada.
(Pesquisador)
114
Constatamos que os alunos tiveram dificuldade para interpretar o que estava sendo
perguntado nos itens “d” e “e” e associá-los às noções de domínio e imagem de uma
função. Quase todos os grupos solicitaram a ajuda do professor e aqueles que não o
fizeram, responderam de forma errada. Apesar do aparente insucesso dos alunos ao
responderem principalmente as questões relacionadas às ideias de domínio e
imagem da função, consideramos a atividade positiva no sentido de que esses
conceitos foram discutidos em um contexto ligado à realidade vivenciada por eles. O
gráfico representava grandezas observadas por eles enquanto realizavam o
experimento e não duas variáveis x e y desconexas de sua realidade. Dessa forma,
ao fazer a mediação, percebemos que esses conceitos adquiriam mais significado
para o aluno, contribuindo na construção do conceito.
Depois de concluídas as atividades, os alunos tiveram duas aulas para discutir sobre
os dados obtidos no experimento e organizar suas respostas às questões propostas
na atividade de modelagem para apresentar em um momento posterior de
socialização das soluções encontradas. As questões foram: Quais as diferenças, em
termos de desempenho, entre a cultura da alface no campo (na terra) e a cultura da
115
Dando continuidade, convidamos os seis alunos que foram os líderes dos grupos
para uma entrevista semiestruturada, que foi realizada algumas aulas após o
término da atividade de modelagem. Para desenvolver uma análise de conteúdo
temática, elegemos algumas categorias de codificação: mediação (ou interação)
para construção de conhecimento, aproximação com a realidade contribuindo para
produção de significados, promoção de zona de desenvolvimento proximal.
Muito importante para nós era a percepção dos alunos quanto ao trabalho
desenvolvido no que tange às contribuições da modelagem para a aprendizagem em
matemática e, mais especificamente, para a construção do conceito de função. O
objetivo de obter a compreensão dos alunos é entender como foi realizado o
trabalho na perspectiva dos participantes da pesquisa, o que é primordial, segundo
Bogdan e Biklen (1994), e fazer uma interseção com outros instrumentos de coleta
de dados, de modo a dar mais sustentação às análises. A seguir retratamos os
questionamentos e algumas respostas que foram numeradas em ordem crescente
de algarismos romanos, o que não significa que não tenha eventualmente ocorrido a
repetição de estudantes entre as respostas. Fizemos o esforço para transcrever os
depoimentos na íntegra, na tentativa de ser o mais fiel possível à ideia que o aluno
116
II) E também os aspectos positivos são que, principalmente na nossa área técnica,
às vezes, a gente acha que algumas matérias estão muito distantes delas, e com
trabalhos que juntem mais as matérias do ensino médio comum com as matérias
técnicas, você vê que na verdade elas não são separadas, e sim, são todas ... vão
complementando as outras e no final a gente tem um conhecimento melhor sobre
todas.
III) Acho que um aspecto negativo talvez da pesquisa foi que houve ataque de
doenças e pragas e talvez tenha alterado em alguma coisa o resultado da pesquisa.
Mas, em questão à relação do desenvolvimento da atividade, isso não alterou nada.
Talvez, o resultado somente. Mas foi muito legal fazer essa atividade.
IV) Então ..., é ... pra alunos, como eu falei, para alunos que precisam ...de “apalpar’’
a matéria, digamos assim ... é uma atividade boa. Agora, pra alunos que querem o
conhecimento em si pra aplicar numa prova, já a parte mais teórica, já não é
eficiente, vamos dizer assim. Um aluno que quer estudar para um concurso, um
aluno que quer aprender a matéria para um ENEM, por exemplo, esse tipo de
atividade ela requer um tempo maior, pra aplicar o conhecimento.
V) Mas, às vezes, você perde alguns conteúdos, tipo assim, não menos importantes,
mas você fixa alguns conteúdos mais importantes. Que a gente também tem que
saber, que não tem como a gente aprender todos os conteúdos, né? Então, se você
se empenhar nos que você já ensinou e juntar tanto o teórico, e depois mostrar
como isso acontece no prático, vira algo bom que ajuda todo mundo a aprender.
Quanto aos aspectos negativos levantados pelos alunos, o tempo necessário para
se implementar a atividade de modelagem figurou como um fator desfavorável.
Verificamos que essa preocupação relaciona-se com o tempo hábil para se
desenvolver os conteúdos programáticos previstos para o ano letivo, já que foi
mencionada a preocupação com o Enem, com o vestibular ou concursos. Em nosso
entendimento, essa questão apontada como aspecto negativo, na verdade remete a
uma discussão ainda maior a respeito do currículo adotado. Apontamos para a
possibilidade de se discutir o currículo de forma a utilizar a modelagem como
abordagem metodológica, para que esta funcione como um agente integrador entre
as disciplinas e possibilite o alcance dos conhecimentos considerados essenciais?
D’Ambrósio (1986, p. 96), em uma reflexão sobre a integração no ensino das
ciências, categoricamente afirma que “[...] a integração exige que se abra mão da
quantidade de conhecimentos que, erroneamente, são julgados básicos e essenciais
para se concretizar um progresso científico ou tecnológico [...]”. Baseado nesse
pressuposto, uma discussão entre os responsáveis pelas diversas áreas do
conhecimento seria salutar para se definir quais seriam os conhecimentos realmente
essenciais, na perspectiva de um currículo integrado.
Entretanto, reconhecemos ser a proposta bastante ousada. Desse modo, ainda nos
domínios de sua própria disciplina, conforme salienta Almeida (2012), compete ao
professor verificar qual é a melhor maneira de viabilizar as atividades de
modelagem. Se no âmbito das próprias aulas, em horários e espaços extraclasse ou
ainda uma combinação das duas anteriores, o profissional deverá considerar as
118
O ponto negativo apontado na resposta III foi realmente um aspecto ruim para o
experimento em si, mas, como o próprio estudante reconheceu no final de sua
resposta, considerando o viés metodológico da atividade, a ocorrência das pragas
não trouxe nenhum empecilho. Muito pelo contrário, foi importante para que os
alunos visualizassem que na prática nem tudo sai como planejado. É importante que
se tenha flexibilidade e criatividade na resolução dos problemas.
A segunda pergunta proposta foi: Como é que vocês viram ou o que vocês
acharam da ideia de desenvolver uma atividade matemática juntamente com
outra disciplina da área técnica? Neste caso, destacamos quatro respostas:
VI: “... uma matéria que é possível perceber que as matérias não são totalmente
separadas, umas são ligadas com as outras”.
VIII: E também há mais facilidade de você entender vários conteúdos porque, você
vai ter praticamente dois professores com seus conhecimentos diversos juntando os
dois conhecimentos e passando pra gente de uma maneira diferente e mais fácil que
a gente vai aprender, com conteúdos diferentes no mesmo momento, e não vai ficar
nem cansativo e vai facilitar.
IX: ... é bom que esse tipo de aula que você mescla né, essa interdisciplinaridade,
ela é boa porque é menos cansativa, se comparado com as outras aulas separadas.
Então, essa é uma grande vantagem, porque se torna algo mais prático ...
119
XI: Caso não, aí recorre ao professor porque ele explica as nossas dúvidas. (risos)
XII: É também uma troca de conhecimento, porque, às vezes, numa matéria, por
exemplo, funções, que é uma matéria muito grande e extensa, às vezes, um tem
mais facilidade em um lugar específico e outro tem mais facilidade em outro lugar
específico, então, quando vai juntando tudo, as facilidades e as dificuldades de cada
um vão sendo mais que transformadas numa média e todo mundo vai se ajudando,
porque, cada um sabe um pouquinho ou quando ninguém sabe nada, o professor
120
sabe. (risos) Então, vai acontecendo uma média, então, a gente consegue saber que
a gente também está fazendo isso, porque quando você tá no seu caderno ou na
sua mesa, você só sabe as suas dificuldades, as suas limitações, quando você tá
em grupo, você também vê a do outro, e que você pode ajudar a dele e ele pode
ajudar você a superar a sua. Então, isso que é bom!
XIII: Um ponto muito importante é que algumas pesquisas apontam que uma das
formas mais eficientes de se estudar é ajudar outra pessoa. É nesse ponto esse tipo
de atividade em grupo ganha muitos pontos, porque você ao ajudar a pessoa que
está perto de você, você vai estar estudando. Entre aspas, né? E é excelente. Você
poder ajudar , você usar o conhecimento que já está em você, você praticar esse
conhecimento que você já adquiriu, ensinando, é um ponto muito positivo nesse tipo
de atividade.
Aqui vemos uma das principais contribuições que uma atividade de modelagem
pode oferecer ao processo de ensino e aprendizagem de matemática: a mediação
ou interação entre alunos ou entre aluno e professor na produção de conhecimento.
Notamos no depoimento relatado sob o número XII o que Vygotsky (2007) chama de
diferentes níveis de desenvolvimento. O que para um aluno pode estar no seu nível
de desenvolvimento real, para outro pode estar no nível de desenvolvimento
potencial. Sendo assim, as interações proporcionadas pelo ambiente de modelagem
vão permitir que aquele que já domina uma determinada tarefa auxilie o que ainda
não consegue realizá-la sozinho, mas sim com a ajuda de alguém.
Dessa forma, quando o aluno diz “você usar o conhecimento que já está em você”
para ajudar o outro a construir um conceito ou um determinado conhecimento, essa
ajuda alcançará êxito quando atuar na “zona de desenvolvimento proximal” desse
outro, isto é, alguém que possui esse conceito em seu nível de desenvolvimento real
em interação com alguém que o possui em seu nível de desenvolvimento potencial.
Por isso, o nível de desenvolvimento potencial revela um momento em que, ao invés
de retratar as etapas já consolidadas, capta etapas posteriores, nas quais a
intervenção do outro influencia significativamente o resultado da atividade individual.
As atividades de modelagem propiciam diversos momentos de interação como os
qualificados anteriormente e cabe ao professor ter a sensibilidade para atuar e
promover a atuação nessas “zonas de desenvolvimento proximal” evidenciadas nos
momentos de discussão entre os alunos ou entre ele e os alunos e contribuir de
maneira significativa na produção de conhecimento. Além disso, na concepção de
Vygotsky (2007), o aprendizado devidamente organizado resulta em
desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento
que, de outra maneira, seriam impossíveis de ocorrer.
122
XIV: É, como foi falado nas questões anteriores, porque tem alguma coisa a ver, ... é
você vê a função na prática porque às vezes você pega um livro, um exemplo que
não tá no seu contexto, que você não consegue ver ele no seu dia a dia. Então, você
faz ele apenas como uma fórmula, ou alguma coisa do tipo. Aí quando você vai no
seu ambiente, onde você estuda ou onde você trabalha, e utiliza esse conteúdo,
você primeiramente vê o quão importante é aprender porque ele vai te ajudar e
depois você meio que, ao ser meio que obrigado a descobrir aquele resultado, você
aprende porque você vai ver que aquilo vai estar no seu dia a dia, e não apenas em
livros e exemplos que você não vai achar no seu dia a dia.
XV: Complementando o que o colega falou, acho que tem muitos alunos que quando
o professor explica uma matéria nova, de matemática principalmente, eles ficam
assim perguntando: onde isso vai entrar na minha vida? Então, acho que essa
atividade serviu justamente pra isso, foi pra mostrar onde é que isso serve na vida
da gente. Mostrar que a matemática, ela não é só um cálculo de caderno, você pode
usar ela pra fazer diversas coisas, como calcular o tamanho de um pé de alface ao
longo do tempo.
XVI: Eu, por exemplo, eu fiquei surpreendido, né, porque ... sei lá ... eu nunca
pensava que eu ia usar uma matéria de matemática no campo. Nunca. Nunca
passou na minha mente que eu ia utilizar um conhecimento da forma como foi
utilizado. E ... é justamente isso, essa surpresa, né, essa ... e isso até ajudou
porque eu realmente queria saber onde ele quer chegar? Aquele monte de cálculo,
aquele monte de pesquisa, e foi muito bom!
aluno, entre a matemática que ele tem contato em sala de aula, que ele chama de
“matemática de caderno” e sua vida. Este pensamento é confirmado na terceira
resposta que revela que o aluno nunca imaginou que pudesse haver algo
relacionado a funções nas atividades de produção de hortaliças, verduras e legumes
implementadas no setor de Horticultura ou no campo. Ou seja, o aluno não
conseguia enxergar os objetos matemáticos (em especial aqueles relacionados às
funções) estudados nas aulas de matemática em contextos de sua vida que estavam
repletos de situações práticas em que esses objetos estavam presentes.
A esse respeito Almeida (2012, p. 30) pontua que “situações de ensino que
proporcionam ao aluno contato com o contexto real podem motivá-lo para o
envolvimento nas atividades e para a construção do conhecimento”. D’Ambrósio
(1986) aponta que em modelagem se promove soluções efetivas para problemas
reais. Contrastando com práticas em que se busca soluções formais para problemas
artificiais sem nenhum significado para o aluno. Bassanezzi (2006) defende que, a
busca de soluções para os diversos problemas reais de variadas áreas do
conhecimento através da modelagem matemática, vai permitir aos estudantes
enxergar o conhecimento matemático como algo muito útil no seu cotidiano. Para
Resende e Lorenzoni (2013), dependendo da forma como é trabalhada pelo
professor, a modelagem pode ser uma estratégia metodológica que estimula o
estudante a fazer matemática, levando-o a compreender e dialogar com os
fenômenos que o cercam, diminuindo a distância entre a matemática que ele utiliza
enquanto personagem do mundo e aquela que vivencia na sala de aula. A esse
respeito, Schliemann, Carraher e Carraher (1993) salientam a importância da
aprendizagem de Matemática ser um momento de interação entre a Matemática
formal, acadêmica e a Matemática cotidiana enquanto atividade humana.
XVII: É ... a gente só fez isso no alface, mas às vezes a pessoa .. ela ao ver que tá
ali naquele negócio, vai abrindo um leque de possibilidades em várias áreas, ...
Porque se você pode usar na horticultura, você vai poder usar lá na piscicultura
(aquicultura), você poder usar na avicultura e, às vezes, com esse primeiro impacto
de apenas uma matéria, você pode ver que a matemática está presente em tudo e o
que vai te ajudar a compreender como ela também está em todas as outras e não
apenas aqui na sala ...
XVIII: Por exemplo, na piscicultura mesmo, esses dias a gente estava vendo como
fazer um tanque. Pra isso você precisa calcular, porque tem que ter um ambiente
adequado e pra você chegar às vezes a algum resultado, você não pode ir só pelo
seu conhecimento ou só no “olhômetro”, você tem que saber pelo menos alguma
base matemática pra você fazer várias coisas, como cálculo de volume da água ou a
densidade do peixe, então, a gente vê que a matemática não está só aqui na sala,
isso que é o bom, às vezes também da matéria técnica, porque você vai aplicar a
matemática em vários outros lugares.
XIX: É .., eu acho que esse aprendizado ... como a gente, desde lá, a gente já sabia
que ia estudar função praticamente o ano todo, eu acho que foi meio que uma boa
introdução porque no início era uma matéria mais simples, funções .. você só tem de
saber as coisas... tipo assim ... saber como olhar uma função. Então, essa atividade
... foi bom ter sido no início também porque deu uma introdução pra gente ao
conteúdo bom porque a gente chega a estar numa função um pouco mais complexa,
com cálculos um pouco mais complexos do que era antes. Então, você vê isso no
início de um novo conteúdo, além de estudar, você aprende a base de uma maneira
mais adequada.
XX: Essa parte de ... Porque o trabalho em si, naquelas folhas de perguntas,
aqueles questionários que você passou, eles abordavam é ... vários conceitos
chave: o domínio, a imagem, é ... como que é o gráfico se ... e ... eles foram muito
bem trabalhados, então a gente realmente, com esse trabalho, com essa forma de
aprendizado que a gente teve, teve a garantia de uma base sólida. A gente ver,
rever, de tá calculando, de tá fazendo, a gente conseguiu essa base. Adquiriu uma
base boa.
XXI: Eu acho que, assim como o colega falou, quando você precisar de um conceito,
aquela foi uma atividade que gerou muitos conceitos pra gente e eles foram
fundamentais no conteúdo de função. E, quando eu tiver dúvida de um conceito, eu
vou lembrar daquilo que eu fiz com aqueles dados, e assim eu vou poder aplicar
novamente pra poder gerar um novo conceito.
126
XXII: A gente começou com ..., a gente aprendeu meio que visualizar gráficos, que
foi fundamental porque em funções a gente vê vários gráficos e ... eu acho que
visualizar gráficos foi ...
XXV: ... obter a lei da função, acho que é a parte mais complicada porque você tem
que visualizar um gráfico ou uma tabela e ver qual a relação entre esses pontos, que
é a função, relacionar coisas diferentes ... e essa é a parte mais complicada ... você
127
saber porque aquele gráfico é daquela maneira (outros alunos sinalizaram concordar
com a afirmação do aluno)
XXVI: Eu acho que, como nosso canteiro foi feito uma vez só e em decorrência da
praga talvez tenha afetado algum resultado, eu acho que você poderia fazer,
começar no começo do ano e fazer o mesmo processo acho que umas 3 ou 4 vezes
e seria mais legal, os resultados seriam mais sólidos.
XXVIII: E também fazer, por exemplo, com uma planta um pouquinho mais
resistente pra não ter essa interferência tanto de doenças e pragas.
XXIX: Acho que ... mais do que é ... você ... fazer a atividade condensada né, toda
agrupada, tudo junto ... eu acho que ... ao meu ver ... durante a própria explicação
da matéria ... você decorrer esse projeto durante a explicação. Quando você for
explicando ... por exemplo, os conceitos né, domínio, imagem, contradomínio ...
você pegar a parte do trabalho relacionado a isso e aplicar lá dentro.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse “princípio de integração” não seria possível se não houvesse por parte dos
professores das disciplinas técnicas a disponibilidade para o diálogo, o planejamento
conjunto e a cooperação na realização de atividades que buscassem romper com o
isolamento das disciplinas. Ainda estamos muito longe de alcançar a almejada
integração, mas é preciso começar. Reiteramos a importância da conscientização
por parte de todos os professores (núcleo comum ou técnico) de uma busca por um
trabalho integrado. Não temos a fórmula para alcançar tal objetivo, mas acreditamos
que mediante o diálogo e a vontade de utilizar diferentes metodologias, os
resultados começarão a aparecer.
Este trabalho permite apontar o que consideramos ser uma grande contribuição das
atividades de modelagem, ou seja, as interações entre os alunos e entre os alunos e
o professor evidenciam de forma singular “zonas de desenvolvimento proximal”,
permitindo que o professor ou um colega (que possui aquele conhecimento em seu
nível de desenvolvimento real) atue promovendo o aprendizado, promovendo o
desenvolvimento do aluno. Constatamos que, nesses grupos menores de alunos, a
própria discussão em torno de um objeto de conhecimento favorecia o surgimento
de dúvidas que eram expressas sem receio ou timidez. E quando não conseguiam
sanar a dúvida dentro grupo, convocava-se o professor para fazer a mediação.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 50 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 2011.
BLOCO I – CAMPO
BLOCO II – HIDROPONIA
Abraão: Eu acho que o aspecto mais positivo é justamente o aspecto prático. Porque
alguns alunos ficam meio dispersos, porque a forma como eles aprendem requer
algo mais prático e essa atividade dá isso pra esses alunos. Essa praticidade que
alguns necessitam mais que outros. Então, eu acho que nesse ponto esse tipo de
atividade é superior às demais.
Anderson: Beleza!
Anderson: É isso aí, legal isso. ... Mais alguém gente, gostaria de destacar, nós
falamos aqui de dois aspectos positivos, mas de repente tem alguma coisa também
de negativo que...
Guilherme: Acho que um aspecto negativo é talvez da pesquisa foi que houve
ataque de doenças e pragas e talvez tenha alterado em alguma coisa o resultado da
pesquisa. Mas, em questão a relação do desenvolvimento da atividade isso não
alterou nada. Talvez, o resultado somente. Mas foi muito legal fazer essa atividade.
Anderson: Sim.
Isabela: Não só as pragas como também o tempo, porque o tempo da colheita, por
exemplo, a alface já tinha passado, então, muitos acabaram também morrendo por
causa disso.
Abraão: Então ... é ... pra alunos, como eu falei, para alunos que precisam de ...
dessa ..., de “apalpar’’ a matéria, digamos assim ...
Abraão: É uma atividade boa. Agora, pra alunos que querem o conhecimento em si
pra aplicar numa prova, já a parte mais teórica, já não é eficiente, vamos dizer
assim. Um aluno que quer estudar para um concurso, um aluno que quer aprender a
matéria para um ENEM, por exemplo, esse tipo de atividade ela requer um tempo
maior, pra aplicar o conhecimento.
Bruno: Mas às vezes você perde alguns conteúdos, tipo assim, não menos
importantes, mas você fixa alguns conteúdos mais importantes. Que a gente
também tem que saber, que não tem como a gente aprender todos os conteúdos,
né? Então, se você se empenhar nos que você já ensinou e juntar tanto o teórico, e
depois mostrar como isso acontece no prático, vira algo bom que ajuda todo mundo
a aprender.
Lucas: Foi o que o Bruno disse mesmo, é ... uma matéria que é possível perceber
que as matérias não são totalmente separadas, umas são ligadas com as outras.
Abraão: Exatamente, esse ponto que o Bruno citou é bom, que esse tipo de aula que
você mescla né, essa interdisciplinaridade, ela é boa porque é menos cansativa, se
comparado com as outras aulas separadas. Então, essa é uma grande vantagem,
porque se torna algo mais prático, algo mais múltiplo se é que eu posso assim dizer,
e menos cansativo. Justamente por tá ali naquela, você meio que ficar variando aqui
em um e em outro, é um ponto muito bom.
143
Anderson: É verdade, por exemplo, vocês lembram que a Isabela citou (aluno 4) a
questão de que houve aquela doença, né? Aí a gente, aí quem é que estava apto
pra poder dizer o que estava acontecendo? A professora de produção vegetal, né?
Então, tinha coisas que, aí vocês recorrem ao professor de matemática, depois
recorrem ao professor de produção. Beleza! Mais alguma coisa que vocês querem
acrescentar, gente?
Isabela: A como aprender, né, tanto função tanto como alface na hidroponia e no
campo, né.
Vinícius: Caso não, aí recorre ao professor porque ele explica as nossas dúvidas.
(RISOS)
Bruno: É também uma troca de conhecimento, por que às vezes numa matéria, por
exemplo, funções, que é uma matéria é muito grande e extensa, às vezes um tem
mais facilidade em um lugar específico e outro tem mais facilidade em outro lugar
específico, então, quando vai juntando tudo, as facilidades e as dificuldades de cada
um vão sendo mais que transformadas numa média e todo mundo vai sair ajudando,
porque, cada um sabe um pouquinho ou quando ninguém sabe nada, o professor
sabe (risos) Então, vai acontecendo uma média, então, a gente consegue saber que
a gente também está fazendo isso, porque quando você tá no seu caderno ou na
sua mesa, você só sabe as suas dificuldades, as suas limitações, quando você tá
em grupo, você também vê a do outro, e que você pode ajudar a dele e ele pode
ajudar você a superar a sua. Então, isso que é bom!
144
Abraão: E um ponto muito importante é que algumas pesquisas apontam que uma
das formas mais eficientes de se estudar é ajudar outra pessoa. E nesse ponto esse
tipo de atividade em grupo ganha muitos pontos, porque você ao ajudar a pessoa
que está perto de você, você vai estar estudando. Entre aspas, né? E é excelente.
Você poder ajudar, você usar o conhecimento que já está em você, você praticar
esse conhecimento que você já adquiriu, ensinando, é um ponto muito positivo
nesse tipo de atividade.
Anderson: Ok! Tudo bem? Mais alguma contribuição nessa parte aí? É ... muito
bem. Bom, pergunta número 4 gente: Como é que você viu, como é que vocês
viram a ideia de estudar (a Isabela citou anteriormente o conteúdo função)
Como é que vocês viram a ideia de estudar função através dessa atividade de
modelagem que a gente fez? Como é que foi essa experiência?
Bruno: É, como foi falado nas questões anteriores, porque tem alguma coisa a ver, é
você vê a função na prática porque às vezes você pega um livro, um exemplo que
não tá no seu contexto, que você não consegue ver ele no seu dia a dia. Então você
fazer ele apenas como uma fórmula, ou alguma coisa do tipo. Aí quando você vai no
seu ambiente, onde você estuda ou onde você trabalha, e utiliza esse conteúdo,
você primeiramente vê o quão importante é aprender porque ele vai te ajudar e
depois você meio que, ao ser meio que obrigado a descobrir aquele resultado, você
aprende porque você vai ver que aquilo vai estar no seu dia a dia, e não apenas em
livros e exemplos que você não vai achar no seu dia a dia.
Guilherme: Complementando o que o Bruno falou, acho que tem muitos alunos que
quando o professor explica uma matéria nova, de matemática principalmente, eles
ficam assim perguntando: onde isso vai entrar na minha vida? Então acho que essa
atividade serviu justamente pra isso, foi pra mostrar onde é que isso serve na vida
da gente. Mostrar que a matemática, ela não é só um cálculo de caderno, você pode
usar ela pra fazer diversas coisas como calcular o tamanho de um pé de alface ao
longo do tempo.
Abraão: Eu, por exemplo, eu fiquei surpreendido, né, porque ... sei lá, eu nunca
pensava que eu ia usar uma matéria de matemática no campo. Nunca. Nunca
passou na minha mente que eu ia utilizar um conhecimento da forma como foi
utilizado. E ... é justamente isso, essa surpresa né, essa ... e isso até ajudou porque
eu realmente queria saber onde ele quer chegar? Aquele monte de cálculo, aquele
monte de pesquisa, e foi muito bom!
Anderson: Mais alguma coisa gente? (os alunos balançam a cabeça negativamente)
Então, vamos adiante! Bom, na verdade a pergunta 5, talvez ela ... já comentamos
145
um pouquinho também sobre ela, as perguntas, elas ... de certa forma a gente vai
voltando ao mesmo tema. É o seguinte: O que a atividade, a nossa atividade de
modelagem, acarretou sobre sua visão sobre a utilização ou da aplicação da
matemática dentro da área técnica de vocês, no caso a agropecuária?
Bruno: É ... a gente só fez isso na alface, mas às vezes a pessoa .. ela, ao ver que
tá ali naquele negócio, vai abrindo um leque de possibilidades em várias áreas, né.
Porque se você pode usar na horticultura, você vai poder usar lá na piscicultura
(aquicultura), você poder usar na avicultura e, às vezes, com esse primeiro impacto
de apenas uma matéria, você pode ver que a matemática está presente em tudo e o
que vai te ajudar a compreender como ela também está em todas as outras e não
apenas aqui na sala ...
Anderson: Isso! E também ser mais curta porque o período do mestrado o tempo é
pequeno. É, mas, por exemplo, eu encontrei alguns trabalhos, de outros
professores, que fizeram atividades na bovinocultura, por exemplo, não sei se vocês
já estão estudando essa parte aí, (alunos: não, só no 3º ano), mas ... é ... a lactação
das vacas lá, a curva de lactação é uma (num certo período) é uma (fazendo o gesto
de uma parábola) parábola. Ela tem um ponto, um período máximo, em que a vaca
vai dar mais leite e depois vai começar a diminuir. Então, realmente tem aplicações,
a matemática ... ela ... e aquilo que você falou Abraão é muito legal, é ... você ter
percebido isso, que a matemática ela realmente tem aplicações na área de vocês.
Muitas aplicações!
(13:12) Bruno: Por exemplo, na piscicultura mesmo, esses dias a gente estava
vendo como fazer um tanque. Pra isso você precisa calcular, porque tem que ter um
ambiente adequado e pra você chegar às vezes a algum resultado, você não pode ir
só pelo seu conhecimento ou só no “olhômetro”, você tem que saber pelo menos
alguma base matemática pra você fazer várias coisas como cálculo de volume da
água ou a densidade do peixe, então a gente vê que a matemática não está só aqui
na sala, isso que é o bom, às vezes também da matéria técnica, porque você vai
aplicar a matemática em vários outros lugares.
Anderson: Sim! Isso aí! ... Beleza? Tudo bem! Então, é ... a última pergunta
(pergunta 7) que eu vou fazer, depois eu vou deixar um espaço pra que se vocês
quiserem acrescentar alguma coisa, de repente alguma pergunta que você achou
que ia fazer, mas que eu não fiz ... de repente você quer fazer algum comentário e
tal ... Bom, mas a última pergunta é a seguinte: Que contribuições, ou em que
vocês acharam que essa atividade ...é aí agora eu queria que você falasse
assim de forma específica mesmo, dentro da matemática, tentasse se lembrar
146
.. é ... sobre o assunto função, então, que contribuições que essa atividade que
nós fizemos deu para o seu aprendizado sobre funções?
Bruno: E .. eu acho que esse aprendizado ... como a gente, desde lá, a gente já
sabia que ia estudar função praticamente o ano todo, eu acho que foi meio que uma
boa introdução porque no início era uma matéria mais simples, funções .. você só
tem de saber as coisas... tipo assim ... saber como olhar uma função. Então, essa
atividade foi bom ter sido no início também porque deu uma introdução pra gente ao
conteúdo bom, porque a gente chega a estar numa função um pouco mais
complexa, com cálculos um pouco mais complexos do que era antes. Então, você vê
isso no início de um novo conteúdo, além de estudar, você aprende a base de uma
maneira mais adequada.
Anderson: Ok!
Abraão: Essa parte de ... Porque o trabalho em si, naquelas folhas de perguntas,
aqueles questionários que você passou, eles abordavam é ... vários conceitos
chave: o domínio, a imagem, é ... como que é o gráfico se ... e ... eles foram muito
bem trabalhados então a gente realmente, com esse trabalho, com essa forma de
aprendizado que a gente teve, teve a garantia de uma base sólida. A gente ver,
rever, de tá calculando, de tá fazendo, a gente conseguiu essa base. Adquiriu uma
base boa.
Anderson: Pode continuar gente (os alunos pararam de falar porque eu comecei
anotar algo), eu só lembrei de uma coisa aqui só pra perguntar pra vocês, mas
podem ...
Guilherme: Eu acho que, assim como o Abraão falou, quando você precisar de um
conceito, aquela foi uma atividade que gerou muitos conceitos pra gente e eles
foram fundamentais no conteúdo de função. E, quando eu tiver dúvida de um
conceito, eu vou lembrar daquilo que eu fiz com aqueles dados, e assim eu vou
poder reaplicar ele pra poder gerar um novo conceito.
Anderson: Por falar em conceitos, então, já que o Guilherme puxou esse assunto, eu
queria perguntar pra vocês assim, é ... se vocês lembrarem ... podem ficar tranquilos
gente ... mas ... é ... que conceitos que vocês ... que elementos que essas
atividades, o Abraão citou aquelas atividades que ... é reforçaram os conceitos e tal,
o Guilherme também citou, que elementos que vocês se lembram, o Abraão falou
aqui domínio e tal algumas coisas, que elementos vocês se lembram assim que a
gente trabalhou durante essa atividade?
Bruno: A gente começou com, a gente aprendeu que meio que visualizar gráficos,
né que foi fundamental porque em funções a gente vê vários gráficos e ... eu acho
que visualizar gráficos foi ...
Anderson: Obter a lei da função ... o que vocês acharam sobre esse processo de
obter a lei da função?
Bruno: Obter a lei da função, acho que é a parte mais complicada porque você tem
que visualizar um gráfico ou uma tabela e ver qual a relação entre esses pontos, que
é a função, relacionar coisas diferentes ... e essa é a parte mais complicada você
saber porque aquele gráfico é daquela maneira.
Anderson: Bom gente, é ... ok! É ... quando vocês estavam falando, aí me veio uma
pergunta pra vocês, desculpa eu insistir, né ... é porque quando eu fiz a primeira
pergunta, dos pontos positivos e negativos, eu percebi que vocês citaram mais
pontos positivos. Mas, assim ... eu queria que você pensasse ... eu até espero vocês
pensarem um tempinho aí .. se você fosse me dar uma sugestão pra ... suponha que
eu vou fazer o ano que vem com outra turma de 1º ano, né ... eu fazer de novo uma
atividade de modelagem, o que que você me daria de sugestão pra fazer diferente ...
de repente né, o que poderia, na opinião de vocês, na visão de vocês poderia ter
sido feito diferente, de uma outra forma que de repente surtiria um efeito melhor?
Guilherme: Eu acho que, como nosso canteiro foi feito uma vez só e em decorrência
da praga talvez tenha afetado algum resultado, eu acho que você poderia fazer,
começar no começo do ano e fazer o mesmo processo acho que umas 3 ou 4 vezes
e seria mais legal, os resultados seriam mais sólidos.
Lucas: E também fazer, por exemplo, com uma planta um pouquinho mais resistente
pra não ter essa interferência tanto de doenças e pragas.
Anderson: Aí já tinham morrido várias plantas, né? (Lucas faz sinal positivamente). É
isso ... eu percebi ... não sei se... quero que vocês confirmem pra mim ... eu percebi
que isso causou uma certa frustação, não foi?
Isabela: Por causa do tempo ... é que passou do tempo dela ... de ser recolhida ... aí
elas morrem ...
Vinícius: Como a gente não tá lá toda semana ... quer dizer a gente tá, só que uma
vez na semana ...assim que é na quarta-feira ... deixar as pessoas que trabalham lá,
os funcionários lá... pedir para os alunos que passam por lá tomarem cuidado para
destruírem os canteiros ... muitas vezes eles pisam em cima e ...
Anderson: É isso é verdade. Tem isso também. ... Agora eu queria só salientar uma
coisa que vocês falaram aqui ... eu lembro ... na fala do Guilherme ... sobre os
pontos positivos e negativos ... ele falou a questão da praga e tal ... mas eu queria
mostrar só pra vocês o outro lado. ... Isso mostra gente que ... é ... em ciência é
assim, não é tudo ... tipo assim, no papel é tudo perfeito, quando você planeja e tal
...
Bruno: E também você consegue perceber ... tipo ... que hora você vai colher? Se
você perceber que até certo ponto as alface vão começar a morrer, isso também
mostra pra gente o momento da colheita. ... Então, também tem os seus lados
positivos ... Se você perceber qual vai ser o auge da planta, quando que vai deixar
de ser vantajoso você deixar a planta maior, porém perder outras plantas ... Então,
se você for olhar por todos os lados, você também consegue aprender outros
aspectos ... a não ser só a quantidade de alfaces pelo tempo.
Guilherme: E vendo por esse lado também, já que você falou, foi muito importante
também porque a gente pôde conhecer um tipo de praga. Já que vamos ser
técnicos, nós vamos trabalhar nessa área ... Tinha muita gente que nunca tinha visto
nem um pé de alface, quem dirá uma praga de alface, então. ... Foi muito importante
conhecer isso, pra que quando a gente for sair pro mercado de trabalho, a gente for
consultar, a gente saber ... ó aqui tem uma praga. Isso é importante a meu ver.
Abraão: Acho que ... mais do que é ... você ... fazer a atividade condensada né, toda
agrupada, tudo junto ... eu acho que ... ao meu ver ... durante a própria explicação
da matéria ... você decorrer esse projeto durante a explicação. Quando você for
explicando o ... por exemplo, os conceitos né, domínio, imagem, contradomínio ...
você pegar a parte do trabalho relacionado a isso e aplicar lá dentro.
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Anderson: Sim, perfeito ... ok! ... É ... eu estava pensando aqui uma coisa aqui agora
... fui prestar atenção no Abraão, acabei o que que eu ia ... mas tinha uma outra
coisa que ia colocar aqui ... o que que era mesmo? ... (Bruno pede para falar)
Bruno: E também tem um lado ... tirando o lado só de ... você fazer o cálculo e tal ...
também tem o lado tipo assim ... humano, né ... porque você vai trabalhar em grupo
... é ... na área técnica principalmente ... porque não tem como você aprender
apenas em grupo, porque quando a gente tá na sala de aula, é individualmente,
cada um por si, mas quando você vai pro dia a dia, você percebe que ... você não
tem como só como trabalhar em grupo e às vezes no seu grupo não tinha pessoas
que você mantém relações fora porque acabou que os grupos mesmo se misturaram
pela forma que eles foram montados, não se agrupando e sim por escolha. Então,
no final ... é acabou que você tinha no seu grupo pessoas que você não convivia e
você aprende também que na vida você vai conviver com pessoas que você não
tinha planos de conviver com elas, mas você tem que conviver porque você tem que
...
Anderson: Ok!
Bruno: E você trabalha em grupo ... principalmente na matemática ... que você ... vai
ser sempre individual ... não tem muitos trabalhos, então, nunca vai ter muita
interação em grupo ... sempre vai ser você, o seu caderno, a sua calculadora, no
máximo ... então, você aprende que as pessoas também estão ali para passar
conhecimento ... pra você passar conhecimento pra elas ...
Anderson: Ok! A minha pergunta ... eu lembrei agora ... eu ia perguntar pra vocês o
seguinte: se eu ... vamos supor que nós ... nós já estamos já no final do ano e tal ...
mas ... o ano que vem ... vamos supor que eu seja o professor de vocês novamente.
Se eu fizesse o convite pra vocês, pra nós fazermos outras atividades de
modelagem, vocês topariam?
Anderson: Bom, gente ..., eu agradeço a vocês ... é ... acho que posso deixar
gravando o agradecimento também, né (risos) ... eu agradeço a vocês ... é ... pelo
fato de terem ... não só vocês ... é ... vocês aqui estão representando toda a turma
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né ... vocês eram os líderes dos grupos. Agradeço a vocês a disponibilidade, né ... a
maneira como vocês realmente compraram a ideia, abraçaram, participaram, se
empenharam ... é ..., então, pra mim também foi gratificante. Eu aprendi muita coisa
com a atividade, com vocês ... é uma troca, é aquilo que o Bruno estava falando ...
na verdade Paulo Freire até fala isso, ... ele diz mais ou menos assim ... ninguém
educa ninguém ... ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si,
mediatizados pelo mundo ... eu tenho algo pra passar pra vocês, vocês também tem
algo pra passar . Então, é uma troca ... então, foi muito gratificante e eu aprendi
muito e ... sou grato a Deus por ter participado desse trabalho, tá. Espero que assim
que eu tiver concluído, eu quero mostrar pra vocês o trabalho e ... espero que vocês
também tenham ficado satisfeitos ... tá bom? ... Valeu gente! Obrigado!