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Curso de Eletrodinâmica Clássica I. 2005.

1 Departamento de Fı́sica - UFPE 1

Aula 16 - 30/05/2005

Ref: Jackson §5.9 e 5.12

Objetivos:

• Discutir os problemas de contorno em magnetostática usando as condições de


continuidade de B~ eH ~ nas interfaces entre meios magnéticos.
• Distinguir entre as situações onde os meios são lineares (magnetos moles) e
com magnetização permanente (magnetos duros).
• Calcular o potencial vetor ou o potencial escalar (quando J~livres = 0) para
resolver os problemas: (a) esfera magnetizada na ausência e na presença de
campo de indução externo; (b) casca esférica (meio linear) em presença de
campo B ~ externo.

Lembrar: Condições de Continuidade entre meios magnéticos.

1. Continuidade da componente normal de B: ~


Considerar uma superfı́cie cilı́ndrica hipotética de
ǫ
base ∆a e altura ǫ perpendicular à interface, como
mostra a figura. Calculando a integral do fluxo de µ2 µ1
~ teremos:
B
∆a
I

~ ·B
∇ ~ =0 → B~ · n̂ da =0 n̂

ǫ→0

ou

~2 − B
(B ~ 1 ) · n̂ ∆a = 0 ∴ ~2 − B
(B ~ 1 ) · n̂ = 0

(1)
~
2. Descontinuidade na componente paralela de H.
Considerar o teorema de Stokes aplicado a H~ sobre a superfı́cie (infinitesimal) lim-
itada pelo contorno C, como mostra a figura ao lado. n̂ é normal e t̂ paralelo à
superfı́cie.
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Z I n̂
(t̂ × n̂)
~ × H)
(∇ ~ · t̂ da = ~ · d~l
H

S c
Z ǫ→0 ǫ→0

J~ · n̂ da ~1 − H
= (H ~ 2 ) · (t̂ × n̂) ∆l
S ǫ→0 Contorno C
~ · t̂ ∆l = (H~1 − H~ 2 ) · (t̂ × n̂) ∆l = µ1 n̂
K
~1 − H
= [n̂ × (H ~ 2 )] · t̂ ∆l b

ǫ
ou
~ = (H
~2 − H
~ 1 ) × n̂ ∆l
K (2) µ2

onde K~ é a densidade de corrente de superfı́cie,


fluindo idealmente sobre a interface.

Observações importantes:

• Nas expressões acima (1) e (2) o versor n̂ é normal à interface partindo do meio 2
para o meio 1 , ao contrário da escolha do Jackson! Se preferir, para evitar mal
entendidos, use n̂ = n̂12 .
• Em meios lineares: B ~ = µH,~ teremos

~ 2 · n̂ = B
~ 1 · n̂ 1 ~ 1 ~ ~
B e B2 × n̂ = B 1 × n̂ + K (3)
µ2 µ1
→ ~ 2 · n̂ = µ1 H
H ~ 1 · n̂ e ~ 2 × n̂ = H
H ~ 1 × n̂ + K~ (4)
µ2

• Se µ1 ≫ µ2 → ~ 2 |n ≫ |H
|H ~ 1 |n . No limite µ1 /µ2 → ∞, H ~ 2 ≈ perpendicular à
superfı́cie [(H1 )n 6= 0]. Equivalente à condição para o campo elétrico na superfı́cie de
um condutor. Neste caso podemos usar a mesma idealização: as superfı́cies de ma-
teriais com alta permeabilidade comportam-se como “equipotenciais”do potencial
magnético, isto é, as linhas de força de H ~ são normais à superfı́cie.
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Problemas de Contorno em Magnetoestática

Método A: Vetor Potencial (método geral)

Considerar,
~ ·B
∇ ~ =0 → ~ =∇
B ~ ×A
~ (5)
~ = H[
Se H ~ B]
~ é conhecida equação constitutiva
h i
~ ×H
∇ ~ ∇ ~ ×A ~ = J~ (6)

pode ser uma equação diferencial muito complicada!


Supor B~ = µH,
~ o meio é linear, uniforme e isotrópico (µ constante no espaço).
 
~ 1~
∇× ∇ × A = J~
~ → ~ ∇
∇( ~ · A)
~ −∇~ 2A
~ = µJ~ (7)
µ

~ ·A
Escolhendo o calibre de Coulomb ∇ ~ = 0 resulta

~ 2A
∇ ~ = −µJ~ → 3 eqs. de Poisson em coordenadas cartesianas (8)

Obs: Condições de continuidade entre meios com diferentes µ devem ser usadas para
compatibilizar as soluções.

Método B: Potencial Magnético Escalar (para problemas com J~ = 0)

J~ = 0 → ~ ×H
∇ ~ =0 → ~ = −∇Φ
H ~ M

~ = B[
Mas, se B ~ H],
~ a equação ∇
~ ·B
~ = 0 resulta em:

h i
~ ~ ~
∇ · B −∇ΦM = 0 (9)

que pode ser uma equação diferencial complicada se o meio é não-linear.

Em meios lineares: (uniformes)

~ = µH
B ~ → ~ · (µ∇Φ
∇ ~ M) = 0 → ~ 2 ΦM = 0
∇ (10)

• Válida em cada região onde µ é uniforme. Usar condições de continuidade quando


houver variação significativa de µ(~x).
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• Em problemas onde há correntes confinadas (regiões fechadas),


b
P

ΦM é proporcional ao ângulo sólido subten-


dido pelo contorno da região da corrente a Ω
I
partir do ponto de observação (ver problema
5.1).
~ = µ0 I ∇Ω
B ~

Corresponde a um potencial magnético:
µ0 I
ΦM = − Ω

Método C: Aplicável para meios ferromagnetos “duros”(M~ 6= 0, J~ = 0).
~ é independente (é insensı́vel do campo aplicado
Supor que a magnetização espontânea M
(para campos fracos e moderados).

(a) Solução via potencial escalar:


Usar B ~ = µ0 (H~ +M ~)

~ ·B
∇ ~ = 0 → ~ · (H
µ0 ∇ ~ +M
~)=0 → ~ · (−∇Φ
µ0 ∇ ~ M +M
~)=0

ou

~ 2 ΦM = ∇
∇ ~ ·M
~ = −ρM → ~ 2 ΦM = −ρM
∇ Equação de Poisson(11)

Solução para o espaço ilimitado:


Z ~′·M ~) Z  
1 (∇ 3 ′ 1 ~ (~x )∇
~ 1
ΦM (~x) = − d x = M ′ ′
d3 x′ =
4π |~x − ~x′ | 4π |~x − ~x′ |
Z ~ ′
1 ~ M (~x ) 3 ′
= − ∇ · dx (12)
4π |~x − ~x′ |

onde na primeira passagem integramos por partes e admitimos que M ~ é localizada e


~ a) = ~a · ∇ψ
na segunda usamos ∇(ψ~ ~ +ψ ∇·~
~ a, além de inverter a variável de derivação
do operador Laplaciano.
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L bP
Considerando pontos longe da região de inte-
gração: |~x| ≫ |~x′ | ou (L ≫ l), como mostra a
figura ao lado, podemos simplificar:

~x ′
|

m
~

|~x
 z
 Z }| {
1 ~ 1 ~ (x′ )d3 x′
Φ≃− ∇ · M
4π |~x| ~x
m
~ · ~x
≃ 3
∼ 1/r3 Potencial de dipolo
4πr
Z
l ~x′
~ = M
m ~ (~x)d3 x Momento magnético total b
~
M 0
onde usamos r = |~x|.

Moral da história: o campo em pontos distantes de uma distribuição de magne-


tização localizada comporta-se assintoticamente como o campo do dipolo magnético
total da distribuição.

Nos casos onde é necessário levar em conta a interface


~ (~x) é descontı́nua (idealmente) ǫ
S da região V onde M
para um valor nulo no exterior, é necessário usar o teo- ~ 6= 0
M ~ =0
M
rema divergente em uma superfı́cie cilı́ndrica normal à
interface de altura ǫ, e tomar o limite ǫ → 0. ∆a
Z Z n̂
~ ~ 3
∇ · Md x = M~ · n̂da
V
Z ZS
Mas, ρM d3 x ⇒ σM da
S

~
σM = n̂ · M (13)

Logo, para uma região limitada V :


Z ~′ I ′ ~ ′
1 ∇ · M (~x′ ) 3 ′ 1 n̂ · M (~x ) ′
ΦM (~x) = − dx + da (14)
4π V |~x − ~x |
′ 4π S |~x − ~x′ |
Obs: Se M ~ (~x) é uniforme no volume, ∇
~′·M
~ (~x′ ) = 0, portanto somente a integral
de superfı́cie contribuirá.
~ ·B
(b) Solução via potencial vetor: Usar ∇ ~ =0→B
~ =∇
~ ×A
~ e J~ = 0.
~ ×H
∇ ~ = ∇
~ × (B/µ
~ 0−M ~)=0
 
~ × 1 ~ ~ ~ ×M ~ → ∇(
~ ∇~ · A)
~ −∇
~ 2A
~ = µ0 (∇
~ ×M
~)
∇ ∇×A = ∇
µ0
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Usando ∇~ ·A ~ (calibre de Coulomb) e definindo J~M = ∇


~ ×M
~ como a densidade de
corrente efetiva da magnetização, obtemos:

~ 2A
∇ ~ = −µ0 J~M (15)

~
que são equações de Poisson para as componentes cartesianas de A.
Na ausência de superfı́cies limitantes
Z ~′ ~ (x′ )
~ x) = µ0
A(~
∇ ×M
d3 x′ (16)
4π v |~
x − ~
x ′|

Se M~ (~x) é descontı́nua é necessário considerar a contribuição da integral de su-


perfı́cie, obtendo:
Z ~′ ~ I ~ ′
~ x) = µ0
A(~
∇ ×M
d3 ′
x +
µ0 M (~x ) × n̂′ ′
da (17)
4π V |~
x − ~x′ | 4π S |~x − ~x′ |

Lembrar: Z Z
~ × A)d
(∇ ~ 3x = ~
(n̂ × A)da (18)
v S

• O termo (M~ (x′ ) × n̂′ ) expressa o papel da condição de contorno para |H|
~ t em
~ eM
termos de B ~ . Lembrar de n̂ × (H ~2 − H
~ 1 ) = K.
~
~ = constante → ∇
• Se M ~′×M ~ = 0 → apenas a integral de vai contribui!

Exemplo 01: Esfera uniformemente Magnetizada (simetria azimutal)


Considerar uma esfera de raio a, de material fer-
romagnético, com magnetização M ~ uniforme na Pb
~ = M ẑ, como mostra a figura ao
direção ẑ, isto é M
lado. Neste caso, temos um problema com região r
θ
limitada. Para calcular o potencial ΦM devemos
usar o resultado (14) com a
b
~
M ẑ
~ = M ẑ,
M ~ = M cos θ
σM = n̂ · M

A integral sobre o volume é nula (M constante)


restando:
Z
M a2 cos θ′
ΦM (r, θ) = dΩ′ (19)
4π |~x − ~x′ |
Usar a expansão do denominador em harmônicos esféricos:

X rl l
1 <
X 1 r< ∗
= l+1
Pl (cos γ) = 4π l+1
Ylm (θ′ , φ′ )Ylm (θ, φ)
|~x − ~x |

l=0
r > lm
2l + 1 r>
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Por conta do fator r



cos θ′ = Y10 (θ′ , φ′ ) (20)
3
em (19) apenas o termo com l = 1 não se anula em face às propriedades de ortogonalização
dos harmônicos esféricos.
1 r<
ΦM (r, θ) = M a2 2 cos θ (21)
3 r>

1. Dentro da esfera, r< = r e r> = a:

1 ~ int = − 1 M
~ ~ int = 2 µ0 M
~
ΦM = r cos θ ∴ H e B (22)
3 | {z } 3 3
z

Obs: Lembrar B ~ = µ0 (H
~ +M ~)∴B
~ é paralelo e H,
~ antiparalelo a M
~.
2. Fora da esfera: r< = a e r> = r
1 cos θ
ΦM = M a3 3
3 r  
m
~ · ~x 4πa3 ~
→ ΦM = (Potencial de dipolo) onde m
~ = M (23)
4πr3 3
| {z }
volume da esfera

~ H)
Obs: O campo B( ~ de dipolo vale, não apenas no limite assintótico de grandes distâncias,
mas, também, para pequenas distâncias porque não há termo de multipolo, no caso da
~ uniforme.
esfera com M

~ fora da esfera pode ser obtido diretamente de (23):


O campo H
 
~ ~ ∂ΦM 1 ∂ΦM
H = −∇ΦM = − r̂ + θ̂
∂r r ∂θ
cos θ M0 a3 sin θ
= M0 a3 4 r̂ + θ̂ (24)
r 3r4

Linhas de Força de B~ e H:
~
Abaixo reproduzimos a figura 5.11 do Jackson mostrando as linhas de força de B ~ e H~
da esfera uniformemente magnetizada. Observe que no caso de H ~ há descontinuidade
(linhas de força abertas) nas linhas de força decorrentes presença da densidade de carga
magnética efetiva σM . As linhas de força de B~ são fechadas.
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Comentários:

1. Outra maneira de resolver o problema é calcular o potencial escalar magnético ΦM


diretamente à partir da expressão geral (12):
Z ~ (x′ )
1 ~ M
ΦM = − ∇· d3 x′ =
4π |~x − ~x′ |
Z Z
M~ M ẑ 3 ′ M ∂ d3 x′
= − ∇· d x = −
4π |~x − ~x′ | 4π ∂z |~x − ~x′ |
Z Z
M ∂ 1
= − r′2 dr sin θ′ dθ′ dφ′
4π ∂z | {z } |~x − ~x′ |
dΩ

onde usamos na segunda passagem:


Z   Z 3 ′
 Z
~ · ẑ 3 ′ ~ d x ∂ d3 x′
∇ d x = ẑ · ∇ =
|~x − ~x′ | |x − x′ | ∂z |~x − ~x′ |
1
Expandindo em harmônicos esféricos e integrando em dΩ verifica-se que
|~x − ~x′ |
apenas o termo l = 0 não é nulo, pois corresponde a substituir 1 no numerador por

4πY00 . Portanto, Z a ′2
∂ r dr
ΦM = −M cos θ (25)
∂r 0 r>
onde usamos:
∂ ∂ ∂r ∂
= = cos θ
∂z ∂r ∂z ∂r
Integrando (25) resulta na expressão (21) já obtida.
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2. Outra opção, ainda, é calcular o diretamente o potencial vetor usando a equação


(17). A integral sobre o volume é nula porque a corrente magnética efetiva J~M =
~ ×M
∇ ~ é nula. Resta a contribuição do termo de superfı́cie:
I ~ (~x′ ) × n̂
~ x) = µ0
A(~
M
d3 x′ ,
4π S |~x − ~x′ |
onde ~ × n̂ = M sin θ′ ǫ̂φ = M sin θ′ (− sin φ′ x̂ − cos φŷ)
M

Como o problema tem simetria azimutal podemos escolher arbitrariamente o ponto


de observação P no plano (x, z) ou φ = 0 teremos:

n̂ = − sin θ′ x̂ + cos θ′ ẑ ∴ ~ × n̂ = M sin θ′ (ŷ)


M
Z
µ0 sin θ′ cos φ′
Aφ (~x) = Ay (~x) = M · a2 dΩ′
4π |x − x′ |
q
Usando sin θ cos φ = − 8π
′ ′
3
ℜ [Y11 (θ′ , φ′ )] e expandindo o denominador em harmônicos
esféricos, observamos que somente o termo l = 1 e m = 1 não se anula. Portanto

µ0 r<
Aφ = M a2 2 sin θ (26)
3 r>

cujas componentes do campo B ~ são dadas por:


 
 


  2 µ0 M cos θ
 r < a (dentro)
 1 ∂ 3


 Br = r sin θ ∂θ
(sin θ A φ )
 


  2 µ0 M 3a3 cos θ,
 r > a (fora)
 3 r

 

 − 2 µ0 M sin θ,
 r < a (dentro)
 1 ∂ 3


 Bθ = − r ∂r
(r A φ )
 


  1 µ0 M a3 sin θ 13
 r > a (fora)
 3 r





 Bφ = 0

ou seja
~ 2 2 2 ~
B = µ0 [M cos θ r̂ − M sin θ θ̂] = µ0 M ẑ = µ0 M (27)
dentro 3 3 3

~

2µ0 M a3 µ 0 M a3
B = cos θ r̂ + sin θ θ̂ (campo de dipolo magnético) (28)
fora 3 r3 3 r3
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Exemplo 02: Esfera Magnetizada em Campo Externo:


Considerar uma esfera com magnetização uniforme
M~ submetida a um campo de indução uniforme ~0
B
~0
externo B ~ 0 no espaço livre (µ0 ), como mostra a B

figura ao lado. O campo de indução dentro da


esfera é dado por: b
 ~
M


 B~ dentro = B
~ 0 + 2µ0 M~ ~0
B
3
(29) ~0
B

 1
 Hdentro = B0 − M 1 ~
µ0 3

~ 0 = µ0 H
onde B ~0
Meios Lineares:
Supor que o material é linear e M ~ é induzida pelo campo externo (material paramagneto
ou diamagneto). Logo B ~ dentro = µH~ dentro . Portanto, usando (29) teremos:
 
2µ0 ~ 1~ 1~
B0 + M = µ B0 − M
3 3 3

~ resulta:
Resolvendo para M

 
~ = 3
M
µ − µ0 ~0
B (30)
µ0 µ + 2µ0

Obs: Análoga à expressão da polarização de uma esfera dielétrica em campo elétrico


uniforme.
 
ǫ/ǫ 0 − 1
P~ = 3ǫ0 ~0
E (31)
ǫ/ǫ0 + 2

Meios não-lineares com magnetização permanente:

Se M~ não é induzida (substância ferromagnética) não se pode usar a relação linear: B


~ =
µH~ porque M ~ seria nula quando B ~ 0 = 0 como mostra a equação (30). Logo, para obter
h i
M~ é necessário conhecer a equação constitutiva B
~ =B ~ H ~ !
Todavia é possı́vel resolver (29) eliminando M ~:
  !
1 ~ ~
~ = 3
M ~
B−H → B ~ 0 + 2µ0 3
~ =B B
−H
µ0 3 µ0

~ = B
B ~ 0 + 2B
~ − 2µ0 H → ~ + 2µ0 H
B ~ = 3B
~0 (32)
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A curva de histerese, obtida experimental-


mente, produzirá numa relação constitutiva
(não-linear) B~ = F~ (H)
~ entre B
~ e H,
~ ou seja
a intersecção da reta
~
B

~ = 3B
B ~ 0 − 2µ0 H
~ (33)
b
P
com a curva de histerese produzirá a relação
B~ = F~ (H) ~ desejada. Por exemplo, se b
~
µ0 H
o campo externo é aumentado até que a
amostra atinja a saturação magnética e de-
pois e retirado lentamente até o valor nulo,
isto é, até chegar no ponto P , o par de valores
~ H)
(B, ~ para o campo externo igual B ~0 = 0
pode ser usado em (29) para obter M ~ em
B~ 0 = 0.
O processo pode ser repetido para cada valor do campo externo.
Obs:

• A equação (29) é válida apenas para a esfera. Amostras em outros formatos terão
outras relações semelhantes.
• A solução para um elipsóide por também ser obtida exatamente. Variando a relação
entre os eixo longitudinal e o diâmetro da seção transversal máxima verifica-se que a
inclinação da reta é quase nula para formatos próximos de um disco, e quase infinita
para formatos próximos de uma agulha.
• Portanto, alta indução magnética pode ser obtida em formatos tipo varetas ao invés
de esferas ou esferóides oblatos.

Exemplo 03: Casca Esférica de material magnético linear em presença de campo de indução
externo: Blindagem Magnética:

~0
B
Considerar uma casca esférica com raio interno a e
externo b preenchida com material magnético lin- P b

ear µ ≫ µ0 e submetida a um campo de indução r


θ
externo B ~ 0 = B0 ẑ uniforme, onde B0 = µ0 H0 , a
~0
B ~0
B
como mostra a figura ao lado. Não há correntes 0 ẑ

livres (por hipótese), J~ = 0, logo é possı́vel definir b


µ
o potencial escalar magnético e resolver a equação
de Laplace: ~0
B
~ 2 ΦM = 0

e calcular H ~ = −∇Φ
~ M desde que (∇ ~ ×H ~ = 0).
Problema: (roteiro)
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(a) Escolher coordenadas esféricas com B ~ 0 = B0 ẑ. A simetria azimutal permite usar o
método da separação de variáveis.
(b) Usar a solução geral:


X  l 
ΦM (r, θ) = Al r + Bl r−(l+1) Pl (cos θ) (34)
l=0

(c) Encontrar a solução ΦM para cada região:

r<a a<r<b r>b

que sejam compatı́veis com condições de contorno!

1. Fora da esfera: r > b (r → ∞),


~ = H0 ẑ.
Condições de contorno no infinito: H

r→∞ → Hr = H0 cos θ e Hθ = H0 sin θ


∂Φ 1 ∂Φ
∴ = −H0 cos θ ou = −H0 sin θ
∂r r→∞ r ∂θ r→∞

Usando a solução geral (34), teremos:


∂Φ X Bl (l + 1)

l−1
= Al l r − Pl (cos θ) =
∂r l
rl+2
X X Bl (l + 1)
= A1 cos θ + Al rl−1 Pl (cos θ) − Pl (cos θ)
l=2 l=0
rl+2
∂Φr
lim = A1 cos θ, → Al = 0 ∀ l≥2 → A1 = −H0
r→∞ ∂r

logo a solução fora de casca fica:


X Bl
ΦM |fora = −H0 cos θr + P (cos θ)
l+1 l
(35)
l=0
r

2. Na região interior da casca esférica: a < r < b. Escrever a solução como:


X  
ΦM |casca = A′l rl + Bl′ r−(l+1) Pl (cos θ) (36)
l=0

com os coeficientes a determinar pelas condições de continuidade dos campos nas


interfaces.
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3. Dentro da esfera: r < a


No interior não há correntes ∴ ΦM é finito. Em particular, isso deve ocorrer na
origem, portanto as constantes Bl devem ser nulas nessa região, isto é:


X
ΦM (r, θ)|dentro = A′′l rl Pl (cos θ) (37)
l=0

Cálculo dos Coeficientes BL , A′l , Bl′ e A′′l :

Para tanto devemos aplicar as condições de continuidade Hθ e Br em r = a e r = b.



∂ΦM

∂ΦM B1 X Bl ′
∂θ b+
= ∂θ b−
→ H0 b sin θ − 2 sin θ + P (cos θ)
l+1 l
b l=2
b
  ∞
B ′ X  ′ l 
= − A′1 b + 21 sin θ + Al b + Bl′ b−(l+1) Pl′ (cos θ)
b l=2

Comparando termo a termo, os coeficientes dos termos em P ′ (cos θ) = dPl /dθ temos:

A′l = 0, Bl′ = Bl = 0 ∀ l 6= 1 ∴

   
B1 B1′

−H0 b + 2 sin θ = A1 b + 2 sin θ −H0 b3 + B1 − A′1 b3 − B1′ = 0 (38)
b b

∂ΦM

∂ΦM
∂θ a+
= ∂θ a−

  ∞
B′ X d
→ A′1 a + 21 sin θ = −A′′1 a sin θ + A′′l al Pl (cos θ)
a l=2

Comparando coeficientes dos termos em P ′ (cos θ) = dPl /dθ temos:

A′′l = 0 (l 6= 1) → A′1 a3 + B1′ − A′′1 a3 = 0 (39)

Procedimento análogo para outras condições resultam:


   
2B1 ′ 1
µ0 ∂Φ∂rM b+ =µ ∂ΦM
∂r b−

→ µ0 −H0 cos θ − 3 cos θ = µ A1 − 2B1 3 cos θ
b b

−H0 b3 − 2B1 − (µ/µ0 )A′1 b3 + 2(µ/µ0 )B1′ = 0 (40)


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′ 1

∂Φ

µ ∂r a+
= µ0 ∂Φ
∂r a−

→ µ +A1 − 2B1 3 cos θ = µ0 {A′′1 } cos θ
a

µ
µ/µ0 A′1 a3 − 2B ′ − A′′1 a3 = 0 (41)
µ0 1

Resumindo as quatro equações (38)-(41) e fazendo µ′ = µ/µ0

B1 − A′1 b3 − B1′ = H 0 b3
A′1 a3 + B1′ − a3 A′′1 = 0
2B1 + µ′ b3 A′1 − 2µ′ B1′ = −H0 b3
µ′ a3 A′1 − 2µ′ B1′ − a3 A′′1 = 0

ou em notação matricial:
     
3
 1 −b −1 0   B1   1 
     
     
 0 a3 1 −a 3  
A′   0 
   1   
   =  H 0 b3
     
 2 µ′ b3 −2µ′ 0   B ′   −1 
   1   
     
     
0 µ′ a3 −2µ′ −a3 A′′1 0

As soluções para fora e dentro da cavidade são dadas pelos coeficientes B1 e A′′1 , ou
seja:
" #
(2µ′ + 1) (µ′ − 1)
B1 = a3
(b3 − a3 )H0 (42)
(2µ + 1) (µ + 2) − 2 b3 (µ − 1)
′ ′ ′ 2
" #
9µ ′
A′′1 = − 3 H0 (43)
(2µ′ + 1) (µ′ + 2) − 2 ab3 (µ′ − 1)2

~
Expressões para o potencial e para campo H:

Fora da esfera:
1
ΦM (r, θ) = −H0 r cos θ + B1 cos θ (44)
r2



 Hr = − ∂r ΦM = −H0 cos θ − 2B1 cos θ r−3

 (45)
Hθ = − 1r ∂θ

ΦM = −H0 sin θ − B1 sin θ r−3

Obs:
Curso de Eletrodinâmica Clássica I. 2005.1 Departamento de Fı́sica - UFPE 15

• Observe que o campo tem uma contribuição do campo externo mais outra na forma
de dipolo magnético. Lembre que não é aproximação de longa distância.
• Quando µ′ = 1 ou a = b → B1 = 0: não há contribuição da casca esférica (trivial)

Dentro da casca esférica:

ΦM (r, θ) = A′′1 r cos θ (46)


∂Φ
 Hr = − ∂rM = −A′′1 cos θ

 (47)
Hθ = − 1r ∂Φ
∂θ
M
= −A′′1 sin θ

Obs:

• O campo H~ dentro é paralelo ao campo externo.


• Quando µ ≫ 1,

9µ0 H0
A′′1 ≃ − →0µ→∞ (48)
2µ(1 − a3 /b3 )
ou seja o campo dentro é fortemente reduzido. A casca magnética atua como uma
blindagem ao campo externo. Lembrar: µ ∼ 106 em materiais ferromagnéticos.

Na figura abaixo reproduzimos a figura 5.14 do Jackson, onde mostra-se a distribuição de


linhas de força do campo de indução para o caso extremo de blindagem magnética total.

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