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Amplificador de Lock-In e o seu uso em

medições de grandezas físicas


Laboratórios Avançados II

Sara Cirino nº 68812, Muhammad Aqui nº 65482, Jason Adams nº 71666

Departamento de Física - Universidade de Aveiro

SUMÁRIO
Este trabalho prático foca-se no estudo do funcionamento do amplificador Lock-In. Este
aparelho revela-se bastante útil na medição de grandezas físicas como a diferença de potencial
e a corrente elétrica. O que distingue este aparelho de outros instrumentos de medida destas
grandezas (como o multímetro ou o osciloscópio) é a elevada precisão para valores muito baixos
destas grandezas (na ordem de 10−3 a 10−9 das unidades consideradas), devido à sua
capacidade de extrair um sinal que se encontre submergido num ambiente ruidoso, que
impediria a leitura deste através dos aparelhos convencionais.

Conseguiu-se utilizar o Lock-In como medidor de tensões (no modo “quasi-diferencial” e no


modo diferencial) e de correntes pequenas, observou-se o efeito da constante de tempo e dos
filtros e mediu-se diferenças de fase entre a referência e o sinal, pelo que todos os objetivos
propostos foram alcançados com sucesso.
FUNCIONAMENTO DO LOCK-IN

Figura 1 – Lock-In usado no laboratório

O Lock-In é um instrumento eletrónico que funciona como um filtro, permitindo a passagem


de sinal apenas numa largura de banda muito estreita e sintonizada com a frequência de um
sinal de referência. Por outras palavras, se tivermos um sinal sinusoidal de baixa frequência
envolvido em ruído de alta frequência é possível recuperá-lo, filtrando completamente o ruído.

Para remover esse ruído, o Lock-In realiza uma transformada de Fourier no sinal de entrada
à frequência de referência e à fase transportada por este sinal. Para além disso, o Lock-In
também amplifica sinais e, portanto, o circuito a considerar deve ser tal que a tensão na zona
de medição seja bastante baixa, já que ao introduzirmos sinais da ordem dos 10−9 𝑉 é possível
ter um sinal de saída da ordem dos Volts.

Figura 2 – Diagrama de um Lock-In


Os sinais de referência e de entrada (respetivamente) podem ser definidos como:

𝑣𝑟𝑒𝑓 = 𝐴𝑟 sin(𝑤𝑅 𝑡 + ∅𝑟 ) (1)

𝑣𝑠 = 𝐴𝑠 sin(𝑤𝑆 𝑡 + ∅𝑠 ) (2)

Inicialmente o sinal passa por um amplidicador de ganho A, de forma a facilitar a medida


de sinais pequenos. Quando se pretende tentar medir exatamente o valor do sinal seria
adequado impôr ganho A=1.

Depois de ser amplificado, o sinal AC será multiplicado pelo sinal de referência, sendo este
enviado para um sintetizador de referência interno (PPL) que extrai a informação da fase e
frequência do sinal e gera uma onda de sinal pura. Este sinal terá duas componentes alternadas
diferentes, resultantes da adição e subtração das frequências.

𝑉 = 𝑣 · 𝑣𝑟𝑒𝑓 = 𝐴𝑠 . sin(𝑤𝑠 𝑡 + ∅𝑠 ) . 𝐴𝑟 sin(𝑤𝑟 𝑡 + ∅𝑟 ) =

𝐴𝑠 𝐴𝑟 𝐴𝑠 𝐴𝑟
= . cos([𝑤𝑠 + 𝑤𝑟 ]𝑡 + [∅𝑠 + ∅𝑟 ]) − . cos([𝑤𝑠 − 𝑤𝑟 ]𝑡 + [∅𝑠 − ∅𝑟 ]) (3)
2 2

Observe-se que se 𝑤𝑠 for igual a 𝑤𝑟 (o que foi o caso durante a realização desta experiência),
a onda diferença converte-se num sinal DC, e a onda soma num sinal AC com o dobro da
frequência.

Por fim, este sinal passa por um filtro passa-baixo. Na prática, este filtro rejeita as
frequências que se encontram fora do alcance da sua frequência de corte, consequentemente,
todo o ruído de elevada frequência que afetaria a medição. Por esta razão as características do
filtro de saída, nomeadamente, a escolha da constante de tempo, TC, são cruciais na garantia
da precisão das medidas. O Lock-In apresenta três filtros de sinal:

 Filtro de linha;
 Filtro de linha 2x;
 Filtro passa-banda.

Cada um desses indicadores possui um par de indicadores LED e uma tecla de função situada
na secção SIGNAL FILTERS no painel frontal. Esta tecla deve ser pressionada de modo a alterar o
estado consoante o que se pretende medir. O estado do filtro é exibido como IN ou OUT (ativo
ou inativo). Os filtros de linha e de linha 2x estão desenhados para remover o ruído nas
frequências de 50Hz e 100Hz respetivamente, uma vez que estes são os ruídos mais comuns e
significativos num laboratório típico.
LOCK-IN COMO MEDIDOR DE TENSÃO
Para utilizar o Lock-In como medidor de tensão usa-se o canal de entrada adequado ( A ou
B) e liga-se os seus terminais nos locais do circuito adequado. Uma vez que este amplificador
tem uma impedância de entrada muito elevada (cerca de 1MΩ), pode-se medir valores de
tensão muito baixos, normalmente associados a uma impedância pequena em paralelo à qual
esta impedância de entrada não altera significativamente o valor a medir.

Por forma a comparar os aparelhos de medida disponíveis, ligámo-lo diretamente a um


gerador de funções. Esta tensão foi medida com o multímetro, o osciloscópio (medida VRMS) o
Lock-In. Efetuou-se estas medidas para uma frequência de 70 Hz e para tensões grandes (da
ordem dos mV) e pequenas (da ordem dos μV, note-se que o multímetro não mede tensões tão
pequenas pelo que não foi utilizado). No Lock-In, de seguida variou-se a d.d.f. entre os dois sinais
até obter um mínimo de tensão, quando os sinais se encontram em oposição de fase, e de
seguida variou-se de 90º essa d.d.f. obtida, de forma a obter o máximo de tensão, quando estes
sinais se encontram em fase.

Para medir tensões baixas montou-se um divisor de tensão, composto por duas resistências,
𝑅1 = 1 𝑀𝛺 e 𝑅2 = 1 𝑘𝛺 , ligadas a um gerador de sinal com a tensão na ordem de mV anterior,
o que significa que o valor da tensão aos terminais de 𝑅2 é da ordem dos µV.

O sinal de saída (medido com o Lock-In) é dado pela


seguinte expressão:

𝑅2
𝑉𝑂𝑈𝑇 = 𝑅 𝑉𝐼𝑁 = 9,99 · 10−4 𝑉𝐼𝑁 ≃ 10−3 𝑉𝐼𝑁 (4)
1 +𝑅2

Figura 3 – Divisor de tensão


Os valores obtidos são os seguintes:

Medida 1 (mV) Medida 2 (µV)


Multímetro 103,20 ± 0,20 154 ± 401
Osciloscópio 101 ± 1 -
Lock-In 96,4 ± 0,1 93,8 ± 0,21

Tabela 1 – Valores da medição da tensão


1 – Os valores do erro estabelecem a variação observada nos aparelhos de medida, uma
vez que o valor observado variava mas se encontrava contido no intervalo apresentado

Observa-se que, na medida 1, o valor medido pelo Lock-In é inferior ao obtido pelos outros
dois aparelhos de medida (que é bastante próximo), e, na medida 2 obteve-se o mesmo
resultado entre o Lock-In e o osciloscópio. Esta diferença deve-se à rejeição do ruído por parte
do Lock-In, que naturalmente se traduz num valor medido inferior. No multímetro não se pode
observar diretamente o ruído, uma vez que apenas o valor de VRMS é apresentado, mas no
osciloscópio o ruído pode ser claramente observado, em particular na medida 2, onde o ruído
foi significativo (evidenciado no erro apresentado). Note-se ainda que os três filtros do Lock-In
apresentados estavam todos na posição OFF, caso contrário seria de esperar um valor da medida
ainda menor devido a uma superior rejeição do ruído.

O máximo de tensão (quando os sinais a medir e de referência se encontram em fase)


ocorreu para uma d.d.f. de 4,4˚. Seria de esperar que esta d.d.f. fosse de 0˚, mas a impedância
de entrada do Lock-In e a capacidade dos fios introduz uma d.d.f. entre as duas componentes,
que por sua vez depende também da frequência escolhida, uma vez que a impedância do
condensador depende deste parâmetro. Verificou-se este resultado ao aumentar a frequência
do sinal para 1 kHz sem mudar a montagem, e observou-se que a d.d.f. aumentou para 13.1°.
LOCK-IN COMO MEDIDOR DE CORRENTE
O Lock-In podapenas mede tensões, mas pode de facto ser utilizado mara medir correntes.
Para tal, liga-se o sinal à entrada I, que faz com que a corrente atravesse uma resistência interna
ao Lock-In de 1 MΩ, e é apresentado o valor da tensão aos terminais desta resistência. Através
da Lei de Ohm, torna-se então possível calcular a corrente que atravessa o circuito. Note-se que
o Lock-In deve ser montado em série com o circuito para medir a corrente de forma correta, ao
invés de em paralelo para medir a tensão.

Calculou-se a corrente nos mesmos estados de tensão do ponto anterior, utilizando mais
uma vez a fonte ligada diretamente ao Lock-In (na ordem das centenas de mV), e o mesmo
divisor de tensão apresentado anteriormente. Em ambos os casos, o valor previsto foi calculado
ao somar as resistências em série e utilizar a Lei de Ohm com base na tensão medida
anteriormente. Os valores medidos foram os seguintes:

Medida 1 Medida 2
Tensão medida (mV) 97,1 ± 0,1 49,0 ± 0,1
Corrente medida (nA) 97,1 ± 0,1 49,0 ± 0,1
Corrente prevista (nA) 96,4 ± 0,1 48,2 ± 0,1

Tabela 2 – Valores da medição da corrente

Observa-se que a corrente desceu para aproximadamente metade no segundo caso, o que
era de esperar, uma vez que se colocou duas resistências de 1MΩ em série, efetivamente
duplicando a resistência total.
REJEIÇÃO DO RUÍDO
Ao utilizar tensões muito baixas qualquer ruído se torna muito percetível, afetando o sinal
que se pretende realmente estudar. Este ruído observou-se anteriormente no multímetro e
osciloscópio, onde as medidas da tensão nestes aparelhos foram superiores à no Lock-In, devido
à presença de ruído. O Lock-In filtra este ruído devido à presença do filtro passa-baixo, que deixa
passar a componente DC resultante com mínima atenuação, mas corta as frequências
superiores, que traduzem as oscilações devido ao ruído. Como tam, o Lock-In é um instrumento
de medida mais preciso comparativamente aos outros apresentados quando o sinal se encontra
imerso num ambiente ruidoso.

Como o Lock-In consegue filtrar o ruído, tentou-se observar esta capacidade do aparelho
ao ligar a este uma fonte de sinal baixo (utilizou-se um divisor resistivo com uma resistência de
1 MΩ e 1Ω, de forma a obter tensões na ordem dos µV) com frequências de 50 e 100 Hz,
correspondentes aos dois filtros apresentados no Lock-In.

Para uma frequência de 50 Hz:

 Sem filtros: 𝑉 = 0,90 𝜇𝑉


 Com filtro passa-banda: 𝑉 = 0,89 𝜇𝑉
 Com filtro de linha: 𝑉 = 0,22 𝜇𝑉
 Com filtro de linha 2x: 𝑉 = 0,86 𝜇𝑉
 Com todos os filtros: 𝑉 = 0,20 𝜇𝑉

Observa-se assim que, em particular ao ligar o filtro de linha, o valor da tensão medido
desceu consideravelmente, o que aponta para a elevada quantidade de ruído presente no sinal.

Para uma frequência de 50 Hz:

 Sem filtros: 𝑉 = 0,91 𝜇𝑉


 Com filtro passa-banda: 𝑉 = 0,90 𝜇𝑉
 Com filtro de linha: 𝑉 = 0,68 𝜇𝑉
 Com filtro de linha 2x: 𝑉 = 0,42 𝜇𝑉
 Com todos os filtros: 𝑉 = 0,37 𝜇𝑉

Observa-se que, ao ligar o filtro de linha 2x, o valor da tensão desceu consideravelmente, o
que era de esperar, mas o filtro de linha também contribuiu para uma descida acentuada na
tensão, o que permite concluir que existe uma quantidade considerável de ruído “base” desta
frequência, provavelmente oriundo dos vários aparelhos eletrónicos ligados em torno da banca
onde foi efetuada a experiência.

MEDIÇÃO DA TENSÃO E DIFERENÇA DE FASE COM A VARIAÇÃO DA FREQUÊNCIA:


O Lock-In permite a medição de diferença de fase entre dois sinais. Isto é efetuado com a
alteração de parâmetro de fase no painel do amplificador. O Lock-In desloca em fase o sinal de
referência que sdai do PLL, e ao detetar quando a tensão medida é mínima, pode-se descobrir
quando os sinais se encontram em oposição de fase. Ao somar ou subtrair 90° à fase daí
resultante descobre-se a diferença de fase entre os dois.

Para medir esta diferença de fase montou-se um circuito RC, usando uma resistência de 1
kΩ e um condensador de 100 𝑛𝐹, para alguns valores de frequência. Mediu-se em ambos os
casos a tensão aos terminais da R e do C, obtendo assim um passa-baixo e um passa-alto. Em
ambos os casos foi medida a tensão debitada pela fonte como sendo de 100mVRMS. Para
construir o diagrama de Bode, , considerou-se o módulo da função de transferência |𝐻(𝑗𝑤)|,
que se pode considerar:

𝑉𝑅𝑀𝑆 𝑉
|𝐻(𝑗𝑤)| =
𝑉0
= 100𝑅𝑀𝑆
(𝑚𝑉)
(5)

PASSA-BAIXO

Frequência 𝑽𝑹𝑴𝑺(mV) ± 0,1 𝑯 obtido Diferença de 𝑯 previsto D.d.f. prevista


(kHz) fase (°)
0,007 100,0 1 -4,3 1 -0,252
0,070 100,0 1 -4,4 0,999 -2,52
0,220 99,7 0,997 -13,2 0,991 -7,87
0,700 90,9 0,909 -26,2 0,915 -23,7
1,000 85,5 0,855 -35,7 0,847 -32.1
2,000 67,7 0,677 -58,4 0,623 -51,5
5,000 31,5 0,315 -78,1 0,303 -72,2
10,00 16,1 0,161 -83,9 0,157 -81,0
20,00 9,80 0,0980 -86,2 0,0793 -85,5
50,00 3,91 0,0391 -88,6 0,0318 -88,2
100,0 1,63 0,0163 -89,3 0,0159 -89,1
200,0 1,02 0,0102 -89,9 0,0080 -89,5
500,0 0,38 0,0038 -90,0 0,0032 -89,8
1000 0,14 0,0014 -90,0 0,0016 -89,9
Tabela 3 – Resultados obtidos

Gráfico 1 – Diagrama de Bode para o |H(jw)| no filtro passa-baixo


Gráfico 2 – Diagrama de Bode para a d.d.f. no filtro passa-baixo

Cálculos teóricos:

𝑍𝐶
𝑉𝑖𝑛 𝑉
𝑍𝑅 + 𝑍𝐶 𝑜𝑢𝑡
𝐻(𝑗𝑤) = =
𝑉𝑜𝑢𝑡 𝑉𝑜𝑢𝑡
1
𝑗𝑤𝐶 1
= =
1
𝑅 + 𝑗𝑤𝐶 1 + 𝑗𝑤𝑅𝐶

Figura 4 – Esquema do filtro passa-baixo montado

Obtém-se assim:
1
1 2
|𝐻(𝑗𝑤)| = ( )
1 + (𝑤𝑅𝐶)2
𝜙(𝑗𝑤) = tan−1 (−𝑤𝑅𝐶)
Observa-se que em ambos os diagramas as grandezas respetivas seguem a progressão
prevista, à parte de um fator de erro associado proveniente de erros sistemáticos, como o erro
associado ao valor da R e C utilizados, a resistência e capacidade dos fios e a impedância de
entrada do Lock-In.

Verifica-se que, relativamente à d.d.f, o gráfico obtido se encontra deslocado para baixo,
mas segue a progressão prevista à parte deste deslocamento. Pode-se atribuir esta diferença à
capacidade dos cabos e à impedância de entrada do Lock-In, cujo impacto se verifica na d.d.f.
de 4,4 ˚ observada quando se mediu a tensão proveniente diretamente da fonte. Seria de
esperar que, como o sinal de referência é idêntico ao sinal na entrada A, a d.d.f. fosse nula, mas
os fatores mencionados introduzem a d.d.f. apresentada.

Pode-se assim observar que a medida foi bem-sucedida e os resultados obtidos concordam
com o modelo teórico adotado (com o aumento da frequência, a tensão diminui e a diferença
de fase progride de 0 ˚ para -90 ˚).

PASSA-ALTO

Frequência 𝑽𝑹𝑴𝑺(mV) ± 0.1 𝑯 obtido Diferença de 𝑯 previsto D.d.f. prevista


(kHz) fase (°)
0,007 0,63 0,0063 90,0 0,0044 89,7
0,070 5,24 0,0524 88,8 0,0439 87,5
0,220 17,3 0,173 83,7 0,137 82,1
0,700 43,1 0,431 71,8 0,403 66,3
1,000 57,1 0,571 63,1 0,532 57,9
2,000 81,2 0,812 41,3 0,783 38,5
5,000 96,5 0,965 24,3 0,953 17,7
10,00 99,2 0,991 14,2 0,988 9,04
20,00 99,7 0,997 8,3 0,997 4,55
50,00 99,8 0,998 6,1 1 1,82
100,0 99,7 0,997 5,7 1 0,912
200,0 99,9 0,999 5,2 1 0,456
500,0 100,0 1 4,6 1 0,182
1000 99,9 0,999 4,5 1 0,091
Tabela 4 – Resultados obtidos
Gráfico 3 – Diagrama de Bode para o |H(jw)| no filtro passa-alto

Gráfico 4 – Diagrama de Bode para a d.d.f. no filtro passa-alto


Cálculos teóricos:

𝑍𝑅
𝑉𝑖𝑛 𝑉
𝑍𝑅 + 𝑍𝐶 𝑜𝑢𝑡
𝐻(𝑗𝑤) = =
𝑉𝑜𝑢𝑡 𝑉𝑜𝑢𝑡
𝑅 𝑗𝑤𝑅𝐶
= =
1 1 + 𝑗𝑤𝑅𝐶
𝑅 + 𝑗𝑤𝐶

Figura 5 – Esquema do filtro passa-alto montado

Obtém-se assim:
1
(𝑤𝑅𝐶)2 2
|𝐻(𝑗𝑤)| = ( )
1 + (𝑤𝑅𝐶)2
1
𝜙(𝑗𝑤) = tan−1 ( )
𝑤𝑅𝐶

Observa-se que em ambos os diagramas as grandezas respetivas mais uma vez seguem a
progressão prevista, à parte de um fator de erro associado proveniente dos erros sistemáticos
mencionados.

Neste caso, verifica-se que, relativamente à d.d.f, o gráfico obtido se encontra deslocado
para cima, ao invés de para baixo. Suspeitamos que esta diferença se deva à diferente posição
da ponta de prova, que é colocada em paralelo com o C no passa-baixo e com a R no passa-alto,
e que leva à alteração das impedâncias resultantes nos dois casos. È de notar que, quando a
quebra de tensão no condensador tende para 0 (frequências altas), a d.d.f. tende para os 4,4 ˚
observados sem o condensador presente, o que corrobora s resultados obtidos.

Pode-se assim observar que a medida foi mais uma vez bem-sucedida e os resultados
obtidos concordam com o modelo teórico adotado (com o aumento da frequência, a tensão
aumenta e a diferença de fase progride de 90 ˚ para 0 ˚).
MONTAGEM DIFERENCIAL
Até agora o Lock-In tem realizado as medidas num modo “quasi-diferencial”, medindo a
diferença de potencial entre a entrada A e um condutor interno. No modo diferencial A-B, o
Lock-In mede a diferença de potencial entre as entradas A e B. De facto, neste tópico mediu-se
novamente a tensão aos terminais da fonte de tensão através do modo “quasi-diferencial” e do
modo diferencial, colocando a entrada B curto-circuitada na terra, e obteve-se a mesma
diferença de potencial em ambos os casos (de facto, se B=0, A-B=A). É de notar que a d.d.f.
medida no 2º caso foi ligeiramente superior (4,8 ˚ versus 4,4 ˚), o que se deve à impedância de
entrada de B e à capacidade dos cabos ligados a esta entrada, que não eram considerados no
modo “quasi-diferencial”.

Esta entrada torna-se assim útil para medir diferenças de potencial nos terminais de
elementos que não se encontrem diretamente ligados à terra. Por exemplo, no caso da figura 6
apresentada, para medir a tensão aos terminais da resistência R2, mediu-se a diferença entre a
tensão aos terminais de R2+R3 e R3. Para comparar com o modo “quasi-diferencial”, mediu-se
individualmente ambas estas tensões com este modo e calculou-se a diferença para além de
utilizar o modo diferencial.

A tensão fornecida pela bateria foi de 100 mVRMS, e os valores das resistências utilizados
foram todas iguais a: 𝑅1 = 1 𝑀𝛺, 𝑅2 = 100 𝛺 e 𝑅3 = 100 𝑘𝛺, pelo que a resistência total é
𝑅𝑡 = 1100,1 𝑘𝛺.

𝑅2 + 𝑅3 𝑅3
𝑉𝑅2 = 𝑉𝑅2 +𝑅3 − 𝑉𝑅3 = 𝑉0 − 𝑉0
𝑅𝑡 𝑅𝑡

= 50,249 − 0,497 = 49,752 𝑚𝑉

Figura 6 – Esquema da montagem de três


resistências em série
 Modo diferencial: 𝑉𝑅2 = 49,5 ± 0,1 𝑚𝑉

 Modo “quasi-diferencial”:
 𝑉𝑅2 +𝑅3 = 50,1 ± 0,1 𝑚𝑉
 𝑉𝑅3 = 0,503 ± 0,1 𝑚𝑉
 𝑉𝑅2 = 49,6 ± 0,2 𝑚𝑉

Observa-se que ambos os resultados são estremamente próximos, estando ambos contidos
no intervalo de confiança [𝑉 − 𝛥𝑉, 𝑉 + 𝛥𝑉] do outro. Observa-se ainda que ambos os
𝛥𝑉
resultados são precisos (no primeiro caso o desvio relativo 𝑒 = 𝑉
· 100 é de 0,2% e nos egundo

caso 0,4%, valores bastante baixos), e apesar de apenas o valor obtido pelo modo “quasi-
diferencial” ser exato, o primeiro valor é próximo o suficiente do valor esperado para ser
considerado um bom valor, e corroborar a equivalência dos dois métodos de medida.

EFEITO DA CONSTANTE DE TEMPO


A constante de tempo 𝜏 = 𝑅𝐶 do filtro passa-baixo influencia a medida efetuada,
nomeadamente a velocidade em efetuar a medida e a oscilação do valor obtido.

A constante de tempo escolhida no Lock-In não é de facto a constante de tempo 𝜏 do passa-


baixo, mas traduz quanto tempo o Lock-In demora a atualizar o seu estado, logo a evolução do
valor obtido. Quanto menor esta TC, mais rapidamente o Lock-In calcula a tensão, mas maiores
são os erros cometidos neste cálculo, pelo que o valor pode oscilar em volta do valor para o qual
deveria convergir. Por outro lado, uma TC muito elevada leva a demasiado tempo dispendido a
calcular a tensão. Assim, deve-se procurar um intermédio que permita calcular a tensão
rapidamente e com precisão adequada.

Para observar estes efeitos, ligou-se o Lock-In a um divisor de tensão de 𝑅1 = 1 𝑀𝛺 e 𝑅2 =


1 𝑘𝛺 com uma fonte de tensão de 100 mVRMS com uma frequência de 1 kHz, tal que a tensão em
R2 seja da ordem das centenas de µV. Com a TC mínima, observou-se que o valor variava
rapidamente entre aproximadamente 140 µV e 50 µV, não nos permitindo precisão suficiente
para efetuar a medida. Na TC máxima, demorou cerca de 4 minutos até que o valor estabilizasse
em 𝑉 = 99,6 µV. Com um valor intermédio da TC, de 100 ms, conseguimos medir este mesmo
valor apenas numa questão de segundos.
De seguida, mudou-se a frequência para 50 Hz (com todos os filtros desligados), de forma a
introduzir bastante ruído no sinal. Obteve-se o mesmo resultado para a TC mínima e máxima,
neste último convergindo para 𝑉 = 87,7 µ𝑉, mas agora para 𝑇𝐶 = 100 𝑚𝑠 o sinal continuou a
variar significativamente, entre cerca de 92 µV e 79 µV. Para obter um intermédio satisfatório foi
agora necessário uma 𝑇𝐶 = 1 𝑠.

Observa-se assim que um dos principais usos de uma TC elevada é obter um valor mais fiável
quando o sinal se encontra submergido em ruído, complementando assim os filtros já disponíveis,
pois caso contrário uma TC menor permite obter medidas muito mais rapidamente.

CONCLUSÃO
Neste trabalho experimental utilizou-se com sucesso o Lock-In como medidor de tensões
nos modos “quasi-diferencial” e diferencial, e como medidor de correntes pequenas, na ordem
dos nA. Observou-se ainda o efeito da constante de tempo e dos filtros, observando a rejeição
do ruído por este aparelho e a não-rejeição pelos outros instrumentos de medida utilizados.
Mediu-se ainda diferenças de fase entre a referência e o sinal, utilizando para tal filtros passa-
baixo e passa-alto e comparando o resultado obtido com o modelo teórico destes circuitos,
obtendo resultados congruentes com as previsões efetuadas.

Pode-se então afirmar que se cumpriu todos os objetivos propostos e se conseguiu um bom
entendimento do Lock-In e dos seus vários usos e funções.

BIBLIOGRAFIA
[1] Standard Research Systems, Inc. (2003) MODEL SR510 LOCK-IN AMPLIFIER

[2] National Instruments (2002) NI Lock-In Amplifier Start-Up Kit User Manual

[3] http://www.thinksrs.com/downloads/PDFs/ApplicationNotes/AboutLIAs.pdf

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