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SUMÁRIO
Este trabalho prático foca-se no estudo do funcionamento do amplificador Lock-In. Este
aparelho revela-se bastante útil na medição de grandezas físicas como a diferença de potencial
e a corrente elétrica. O que distingue este aparelho de outros instrumentos de medida destas
grandezas (como o multímetro ou o osciloscópio) é a elevada precisão para valores muito baixos
destas grandezas (na ordem de 10−3 a 10−9 das unidades consideradas), devido à sua
capacidade de extrair um sinal que se encontre submergido num ambiente ruidoso, que
impediria a leitura deste através dos aparelhos convencionais.
Para remover esse ruído, o Lock-In realiza uma transformada de Fourier no sinal de entrada
à frequência de referência e à fase transportada por este sinal. Para além disso, o Lock-In
também amplifica sinais e, portanto, o circuito a considerar deve ser tal que a tensão na zona
de medição seja bastante baixa, já que ao introduzirmos sinais da ordem dos 10−9 𝑉 é possível
ter um sinal de saída da ordem dos Volts.
𝑣𝑠 = 𝐴𝑠 sin(𝑤𝑆 𝑡 + ∅𝑠 ) (2)
Depois de ser amplificado, o sinal AC será multiplicado pelo sinal de referência, sendo este
enviado para um sintetizador de referência interno (PPL) que extrai a informação da fase e
frequência do sinal e gera uma onda de sinal pura. Este sinal terá duas componentes alternadas
diferentes, resultantes da adição e subtração das frequências.
𝐴𝑠 𝐴𝑟 𝐴𝑠 𝐴𝑟
= . cos([𝑤𝑠 + 𝑤𝑟 ]𝑡 + [∅𝑠 + ∅𝑟 ]) − . cos([𝑤𝑠 − 𝑤𝑟 ]𝑡 + [∅𝑠 − ∅𝑟 ]) (3)
2 2
Observe-se que se 𝑤𝑠 for igual a 𝑤𝑟 (o que foi o caso durante a realização desta experiência),
a onda diferença converte-se num sinal DC, e a onda soma num sinal AC com o dobro da
frequência.
Por fim, este sinal passa por um filtro passa-baixo. Na prática, este filtro rejeita as
frequências que se encontram fora do alcance da sua frequência de corte, consequentemente,
todo o ruído de elevada frequência que afetaria a medição. Por esta razão as características do
filtro de saída, nomeadamente, a escolha da constante de tempo, TC, são cruciais na garantia
da precisão das medidas. O Lock-In apresenta três filtros de sinal:
Filtro de linha;
Filtro de linha 2x;
Filtro passa-banda.
Cada um desses indicadores possui um par de indicadores LED e uma tecla de função situada
na secção SIGNAL FILTERS no painel frontal. Esta tecla deve ser pressionada de modo a alterar o
estado consoante o que se pretende medir. O estado do filtro é exibido como IN ou OUT (ativo
ou inativo). Os filtros de linha e de linha 2x estão desenhados para remover o ruído nas
frequências de 50Hz e 100Hz respetivamente, uma vez que estes são os ruídos mais comuns e
significativos num laboratório típico.
LOCK-IN COMO MEDIDOR DE TENSÃO
Para utilizar o Lock-In como medidor de tensão usa-se o canal de entrada adequado ( A ou
B) e liga-se os seus terminais nos locais do circuito adequado. Uma vez que este amplificador
tem uma impedância de entrada muito elevada (cerca de 1MΩ), pode-se medir valores de
tensão muito baixos, normalmente associados a uma impedância pequena em paralelo à qual
esta impedância de entrada não altera significativamente o valor a medir.
Para medir tensões baixas montou-se um divisor de tensão, composto por duas resistências,
𝑅1 = 1 𝑀𝛺 e 𝑅2 = 1 𝑘𝛺 , ligadas a um gerador de sinal com a tensão na ordem de mV anterior,
o que significa que o valor da tensão aos terminais de 𝑅2 é da ordem dos µV.
𝑅2
𝑉𝑂𝑈𝑇 = 𝑅 𝑉𝐼𝑁 = 9,99 · 10−4 𝑉𝐼𝑁 ≃ 10−3 𝑉𝐼𝑁 (4)
1 +𝑅2
Observa-se que, na medida 1, o valor medido pelo Lock-In é inferior ao obtido pelos outros
dois aparelhos de medida (que é bastante próximo), e, na medida 2 obteve-se o mesmo
resultado entre o Lock-In e o osciloscópio. Esta diferença deve-se à rejeição do ruído por parte
do Lock-In, que naturalmente se traduz num valor medido inferior. No multímetro não se pode
observar diretamente o ruído, uma vez que apenas o valor de VRMS é apresentado, mas no
osciloscópio o ruído pode ser claramente observado, em particular na medida 2, onde o ruído
foi significativo (evidenciado no erro apresentado). Note-se ainda que os três filtros do Lock-In
apresentados estavam todos na posição OFF, caso contrário seria de esperar um valor da medida
ainda menor devido a uma superior rejeição do ruído.
Calculou-se a corrente nos mesmos estados de tensão do ponto anterior, utilizando mais
uma vez a fonte ligada diretamente ao Lock-In (na ordem das centenas de mV), e o mesmo
divisor de tensão apresentado anteriormente. Em ambos os casos, o valor previsto foi calculado
ao somar as resistências em série e utilizar a Lei de Ohm com base na tensão medida
anteriormente. Os valores medidos foram os seguintes:
Medida 1 Medida 2
Tensão medida (mV) 97,1 ± 0,1 49,0 ± 0,1
Corrente medida (nA) 97,1 ± 0,1 49,0 ± 0,1
Corrente prevista (nA) 96,4 ± 0,1 48,2 ± 0,1
Observa-se que a corrente desceu para aproximadamente metade no segundo caso, o que
era de esperar, uma vez que se colocou duas resistências de 1MΩ em série, efetivamente
duplicando a resistência total.
REJEIÇÃO DO RUÍDO
Ao utilizar tensões muito baixas qualquer ruído se torna muito percetível, afetando o sinal
que se pretende realmente estudar. Este ruído observou-se anteriormente no multímetro e
osciloscópio, onde as medidas da tensão nestes aparelhos foram superiores à no Lock-In, devido
à presença de ruído. O Lock-In filtra este ruído devido à presença do filtro passa-baixo, que deixa
passar a componente DC resultante com mínima atenuação, mas corta as frequências
superiores, que traduzem as oscilações devido ao ruído. Como tam, o Lock-In é um instrumento
de medida mais preciso comparativamente aos outros apresentados quando o sinal se encontra
imerso num ambiente ruidoso.
Como o Lock-In consegue filtrar o ruído, tentou-se observar esta capacidade do aparelho
ao ligar a este uma fonte de sinal baixo (utilizou-se um divisor resistivo com uma resistência de
1 MΩ e 1Ω, de forma a obter tensões na ordem dos µV) com frequências de 50 e 100 Hz,
correspondentes aos dois filtros apresentados no Lock-In.
Observa-se assim que, em particular ao ligar o filtro de linha, o valor da tensão medido
desceu consideravelmente, o que aponta para a elevada quantidade de ruído presente no sinal.
Observa-se que, ao ligar o filtro de linha 2x, o valor da tensão desceu consideravelmente, o
que era de esperar, mas o filtro de linha também contribuiu para uma descida acentuada na
tensão, o que permite concluir que existe uma quantidade considerável de ruído “base” desta
frequência, provavelmente oriundo dos vários aparelhos eletrónicos ligados em torno da banca
onde foi efetuada a experiência.
Para medir esta diferença de fase montou-se um circuito RC, usando uma resistência de 1
kΩ e um condensador de 100 𝑛𝐹, para alguns valores de frequência. Mediu-se em ambos os
casos a tensão aos terminais da R e do C, obtendo assim um passa-baixo e um passa-alto. Em
ambos os casos foi medida a tensão debitada pela fonte como sendo de 100mVRMS. Para
construir o diagrama de Bode, , considerou-se o módulo da função de transferência |𝐻(𝑗𝑤)|,
que se pode considerar:
𝑉𝑅𝑀𝑆 𝑉
|𝐻(𝑗𝑤)| =
𝑉0
= 100𝑅𝑀𝑆
(𝑚𝑉)
(5)
PASSA-BAIXO
Cálculos teóricos:
𝑍𝐶
𝑉𝑖𝑛 𝑉
𝑍𝑅 + 𝑍𝐶 𝑜𝑢𝑡
𝐻(𝑗𝑤) = =
𝑉𝑜𝑢𝑡 𝑉𝑜𝑢𝑡
1
𝑗𝑤𝐶 1
= =
1
𝑅 + 𝑗𝑤𝐶 1 + 𝑗𝑤𝑅𝐶
Obtém-se assim:
1
1 2
|𝐻(𝑗𝑤)| = ( )
1 + (𝑤𝑅𝐶)2
𝜙(𝑗𝑤) = tan−1 (−𝑤𝑅𝐶)
Observa-se que em ambos os diagramas as grandezas respetivas seguem a progressão
prevista, à parte de um fator de erro associado proveniente de erros sistemáticos, como o erro
associado ao valor da R e C utilizados, a resistência e capacidade dos fios e a impedância de
entrada do Lock-In.
Verifica-se que, relativamente à d.d.f, o gráfico obtido se encontra deslocado para baixo,
mas segue a progressão prevista à parte deste deslocamento. Pode-se atribuir esta diferença à
capacidade dos cabos e à impedância de entrada do Lock-In, cujo impacto se verifica na d.d.f.
de 4,4 ˚ observada quando se mediu a tensão proveniente diretamente da fonte. Seria de
esperar que, como o sinal de referência é idêntico ao sinal na entrada A, a d.d.f. fosse nula, mas
os fatores mencionados introduzem a d.d.f. apresentada.
Pode-se assim observar que a medida foi bem-sucedida e os resultados obtidos concordam
com o modelo teórico adotado (com o aumento da frequência, a tensão diminui e a diferença
de fase progride de 0 ˚ para -90 ˚).
PASSA-ALTO
𝑍𝑅
𝑉𝑖𝑛 𝑉
𝑍𝑅 + 𝑍𝐶 𝑜𝑢𝑡
𝐻(𝑗𝑤) = =
𝑉𝑜𝑢𝑡 𝑉𝑜𝑢𝑡
𝑅 𝑗𝑤𝑅𝐶
= =
1 1 + 𝑗𝑤𝑅𝐶
𝑅 + 𝑗𝑤𝐶
Obtém-se assim:
1
(𝑤𝑅𝐶)2 2
|𝐻(𝑗𝑤)| = ( )
1 + (𝑤𝑅𝐶)2
1
𝜙(𝑗𝑤) = tan−1 ( )
𝑤𝑅𝐶
Observa-se que em ambos os diagramas as grandezas respetivas mais uma vez seguem a
progressão prevista, à parte de um fator de erro associado proveniente dos erros sistemáticos
mencionados.
Neste caso, verifica-se que, relativamente à d.d.f, o gráfico obtido se encontra deslocado
para cima, ao invés de para baixo. Suspeitamos que esta diferença se deva à diferente posição
da ponta de prova, que é colocada em paralelo com o C no passa-baixo e com a R no passa-alto,
e que leva à alteração das impedâncias resultantes nos dois casos. È de notar que, quando a
quebra de tensão no condensador tende para 0 (frequências altas), a d.d.f. tende para os 4,4 ˚
observados sem o condensador presente, o que corrobora s resultados obtidos.
Pode-se assim observar que a medida foi mais uma vez bem-sucedida e os resultados
obtidos concordam com o modelo teórico adotado (com o aumento da frequência, a tensão
aumenta e a diferença de fase progride de 90 ˚ para 0 ˚).
MONTAGEM DIFERENCIAL
Até agora o Lock-In tem realizado as medidas num modo “quasi-diferencial”, medindo a
diferença de potencial entre a entrada A e um condutor interno. No modo diferencial A-B, o
Lock-In mede a diferença de potencial entre as entradas A e B. De facto, neste tópico mediu-se
novamente a tensão aos terminais da fonte de tensão através do modo “quasi-diferencial” e do
modo diferencial, colocando a entrada B curto-circuitada na terra, e obteve-se a mesma
diferença de potencial em ambos os casos (de facto, se B=0, A-B=A). É de notar que a d.d.f.
medida no 2º caso foi ligeiramente superior (4,8 ˚ versus 4,4 ˚), o que se deve à impedância de
entrada de B e à capacidade dos cabos ligados a esta entrada, que não eram considerados no
modo “quasi-diferencial”.
Esta entrada torna-se assim útil para medir diferenças de potencial nos terminais de
elementos que não se encontrem diretamente ligados à terra. Por exemplo, no caso da figura 6
apresentada, para medir a tensão aos terminais da resistência R2, mediu-se a diferença entre a
tensão aos terminais de R2+R3 e R3. Para comparar com o modo “quasi-diferencial”, mediu-se
individualmente ambas estas tensões com este modo e calculou-se a diferença para além de
utilizar o modo diferencial.
A tensão fornecida pela bateria foi de 100 mVRMS, e os valores das resistências utilizados
foram todas iguais a: 𝑅1 = 1 𝑀𝛺, 𝑅2 = 100 𝛺 e 𝑅3 = 100 𝑘𝛺, pelo que a resistência total é
𝑅𝑡 = 1100,1 𝑘𝛺.
𝑅2 + 𝑅3 𝑅3
𝑉𝑅2 = 𝑉𝑅2 +𝑅3 − 𝑉𝑅3 = 𝑉0 − 𝑉0
𝑅𝑡 𝑅𝑡
Modo “quasi-diferencial”:
𝑉𝑅2 +𝑅3 = 50,1 ± 0,1 𝑚𝑉
𝑉𝑅3 = 0,503 ± 0,1 𝑚𝑉
𝑉𝑅2 = 49,6 ± 0,2 𝑚𝑉
Observa-se que ambos os resultados são estremamente próximos, estando ambos contidos
no intervalo de confiança [𝑉 − 𝛥𝑉, 𝑉 + 𝛥𝑉] do outro. Observa-se ainda que ambos os
𝛥𝑉
resultados são precisos (no primeiro caso o desvio relativo 𝑒 = 𝑉
· 100 é de 0,2% e nos egundo
caso 0,4%, valores bastante baixos), e apesar de apenas o valor obtido pelo modo “quasi-
diferencial” ser exato, o primeiro valor é próximo o suficiente do valor esperado para ser
considerado um bom valor, e corroborar a equivalência dos dois métodos de medida.
Observa-se assim que um dos principais usos de uma TC elevada é obter um valor mais fiável
quando o sinal se encontra submergido em ruído, complementando assim os filtros já disponíveis,
pois caso contrário uma TC menor permite obter medidas muito mais rapidamente.
CONCLUSÃO
Neste trabalho experimental utilizou-se com sucesso o Lock-In como medidor de tensões
nos modos “quasi-diferencial” e diferencial, e como medidor de correntes pequenas, na ordem
dos nA. Observou-se ainda o efeito da constante de tempo e dos filtros, observando a rejeição
do ruído por este aparelho e a não-rejeição pelos outros instrumentos de medida utilizados.
Mediu-se ainda diferenças de fase entre a referência e o sinal, utilizando para tal filtros passa-
baixo e passa-alto e comparando o resultado obtido com o modelo teórico destes circuitos,
obtendo resultados congruentes com as previsões efetuadas.
Pode-se então afirmar que se cumpriu todos os objetivos propostos e se conseguiu um bom
entendimento do Lock-In e dos seus vários usos e funções.
BIBLIOGRAFIA
[1] Standard Research Systems, Inc. (2003) MODEL SR510 LOCK-IN AMPLIFIER
[2] National Instruments (2002) NI Lock-In Amplifier Start-Up Kit User Manual
[3] http://www.thinksrs.com/downloads/PDFs/ApplicationNotes/AboutLIAs.pdf