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19/09/2018 A antecipação do 'voto útil' - Opinião - Estadão

A antecipação do 'voto útil'


A sombria perspectiva de um segundo turno disputado entre extremistas, francamente indispostos
à negociação política, antecipou a estratégia do chamado “voto útil”

O Estado de S.Paulo
19 Setembro 2018 | 03h00

A sombria perspectiva de um segundo turno da eleição presidencial disputado entre extremistas,


francamente indispostos à negociação política para alcançar o urgente consenso nacional, antecipou a
estratégia do chamado “voto útil” – quando se defende o voto em determinado candidato não em razão
de suas qualidades, mas por ser capaz de impedir a eleição de alguém considerado indesejado.

Em geral, esse tipo de campanha é deflagrado nos últimos dias antes do primeiro turno ou apenas no
segundo turno, quando cada candidato retrata o adversário como um perigo para o futuro. Mas, desde
que o PT começou a radicalizar seu discurso antagônico às “elites” e seu comportamento arrogante ante
os que se recusavam a se dobrar à sua doutrina antidemocrática e a suas concepções irresponsáveis de
Estado, o “voto útil” parece ter se tornado na prática um voto permanente contra esse partido.

Um dos exemplos mais significativos dessa indisposição ao PT se deu em 2016, quando o então prefeito
de São Paulo, o petista Fernando Haddad, perdeu já no primeiro turno para o novato tucano João
Doria, sendo derrotado em todas as regiões da cidade. Até a véspera do pleito, pesquisas apontavam a
possibilidade de um segundo turno entre Doria e Haddad, que ganhara fôlego na reta final, mas, ao
mesmo tempo, indicavam a hipótese de vitória do tucano no primeiro turno. Diante da chance de
impedir que o PT continuasse sua tão característica pregação intolerante num segundo turno, em que
os candidatos têm igual tempo de exposição, e de dar nos petistas um corretivo exemplar no principal
colégio eleitoral do País, o eleitor paulistano entregou-se ao voto útil. No dia anterior à votação, ainda
havia 25% de eleitores dispostos a mudar de voto, a depender do cenário – clássica situação em que o
cidadão vota de maneira “tática”. Foi o que decidiu a eleição.

Esse voto “tático” não é incomum, mas se manifesta de maneira mais significativa – e eventualmente
decisiva – quando há polarização extremada. Assim, a radicalização do PT gerou seu antípoda perfeito,
o iracundo movimento bolsonarista – que hoje parece atrair muitos eleitores que nem sabem bem o que
Jair Bolsonaro (PSL) pretende fazer na hipótese de chegar à Presidência, mas veem nele o grande
paladino do antipetismo.

Dessa maneira, o País corre o risco de enfrentar o pior dos cenários, em que os polos que representam o
mais radical antagonismo, diante do qual a política tradicional é quase impotente, são justamente
aqueles com enorme potencial eleitoral. Bolsonaro surge como líder consolidado de todas as pesquisas
de intenção de voto, enquanto o petista Haddad deverá herdar ao menos parte do poderoso capital de
seu padrinho, o ex-presidente Lula da Silva. O primeiro representa a negação do diálogo, essencial
numa democracia; o segundo encarna um projeto liberticida de poder, que tem a corrupção política e o
desprezo pelos fundamentos da economia como método. Nenhum deles está na campanha para
oferecer saídas para a crise nacional – Bolsonaro, porque não tem o menor preparo para o cargo que
disputa; e Haddad, porque é justamente do partido responsável pela crise. A campanha de ambos é, na
verdade, uma guerra ideológica, que, levada adiante, terá o condão de agravar a já difícil situação do
País.

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19/09/2018 A antecipação do 'voto útil' - Opinião - Estadão
Assim, não surpreende que, a pouco mais de 20 dias do primeiro turno, esteja a pleno vapor a
campanha pelo voto útil – contra Bolsonaro, contra o PT e contra ambos ao mesmo tempo. Com isso,
fica cada vez mais em segundo plano a discussão de planos de governo. O eleitor está sendo estimulado
desde já a fazer sua escolha não em consideração, prioritariamente, ao que prometem os candidatos,
mas sim levando em conta quem teria mais chance de impedir um tenebroso desfecho eleitoral.

É realmente lamentável que, no momento em que o País deveria estar discutindo soluções para seus
graves problemas, o debate eleitoral esteja monopolizado por uma refrega entre minorias radicais.
Nesse cenário, o voto útil surge como legítimo expediente democrático para punir os extremistas e
sinalizar o desejo de restabelecer o valor do diálogo político em busca do consenso.

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As incertezas da economia
Más notícias são cada vez mais frequentes para os brasileiros, já atormentados pelas dificuldades
na economia

O Estado de S.Paulo
19 Setembro 2018 | 03h00

Más notícias sobre o futuro são cada vez mais frequentes no dia a dia dos brasileiros, já atormentados
pelo alto desemprego, pelo endividamento e pelas dificuldades para engatar uma firme retomada
econômica. A recuperação dificilmente se tornará mais rápida nos próximos meses, segundo sinais
https://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,a-antecipacao-do-voto-util,70002508576 2/4
19/09/2018 A antecipação do 'voto útil' - Opinião - Estadão
divulgados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Um dos alertas foi dado pelo recuo de 0,3%, em
agosto, de um bom sinalizador de tendências, o Indicador Antecedente Composto da Economia (Iace).
Esse indicador, formado por oito componentes, é baseado em informações sobre o mercado financeiro,
expectativas de empresários, produção industrial e comércio exterior. A reação dos negócios, passado o
choque inicial da crise do transporte rodoviário, continuou no mês passado, mas sem perspectiva de
aceleração sensível, por causa de incertezas externas e internas, segundo comentou o economista Paulo
Picchetti, pesquisador da instituição.

O segundo alerta partiu também da FGV, com a atualização de sua Sondagem de Investimentos. Entre o
segundo trimestre e o terceiro a intenção de investir no setor industrial caiu 3,1 pontos, para 113. Foi a
segunda queda consecutiva, mais um sinal de perda de impulso da economia neste ano.

Como o indicador se mantém acima de 100 pontos, a pesquisa traz pelo menos uma informação
positiva: o número de empresas com intenção de investir mais nos 12 meses seguintes ainda é maior
que o de companhias com planos de redução. Mas a proporção entre intenções positivas e negativas
diminuiu entre o segundo e o terceiro trimestres. A parcela de indústrias com intenção de aumentar o
investimento caiu de 28,9% para 28,3%. A das empresas com expectativa de redução aumentou de
12,8% para 15,3%. Nas demais o plano é manter o valor investido.

Mas o quadro ainda piorou em um aspecto importante, o grau de certeza quanto à realização dos
investimentos nos 12 meses seguintes. No terceiro trimestre, 27,5% das empresas deram como certa a
concretização dos planos, enquanto 31,9% indicaram incerteza.

A diferença de 4,4 pontos porcentuais foi a mais negativa desde o trimestre final de 2016, quando o
Brasil ainda se aproximava do fim da recessão. Nessa fase, a capacidade ociosa era enorme, assim como
a insegurança, e os estímulos para ampliar ou recompor a capacidade produtiva eram mínimos. No
quarto trimestre de 2014, quando a recessão começava, 52,3% das empresas davam como certa a
realização de investimentos e apenas 16% indicavam incerteza.

Também neste caso a insegurança política é um importante fator explicativo. Mas o ritmo lento da
recuperação também afeta as decisões, porque os administradores têm razões para prever um
considerável excesso de capacidade ainda por um bom tempo.

Além desses dados, o alto desemprego e a insegurança econômica das famílias também apontam para
um consumo ainda contido nos próximos meses, mesmo com alguma recuperação sazonal no fim de
ano. Mais de 12 milhões de trabalhadores continuam procurando ocupação. Também a criação de
empregos foi prejudicada pela combinação da incerteza eleitoral com o lento avanço das atividades.
Com o horizonte enevoado e os negócios em marcha reduzida, os empresários têm preferido adiar as
contratações, apesar das condições mais flexíveis proporcionadas pela reforma trabalhista.

O endividamento também limita a recuperação do consumo. Apesar de alguma redução nos últimos
meses, o número de inadimplentes, 61,5 milhões, foi maior em agosto que o de um ano antes (60,4
milhões), segundo a Serasa Experian. Boa parte da renda adicional obtida neste semestre, como o 13.º
salário, será provavelmente destinada à quitação de dívidas, numa repetição da experiência dos últimos
anos.

Confiança será essencial para a mudança das expectativas, para a alteração de planos e, portanto, para o
surgimento de notícias melhores sobre o futuro. A contagem de votos será um importantíssimo
componente da matemática econômica nos próximos meses.

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FGV [Fundação Getúlio Vargas] Brasil [América do Sul] comércio

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emprego e desemprego [trabalho] economia inadimplência indústria investimento

salário transporte rodoviário pesquisa eleitoral reforma trabalhista recessão

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