Você está na página 1de 9

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/303564921

Efeitos da Dinâmica Tridimensional no Controle de Trajetória de Um Veículo


Robótico Terrestre com Quatro Rodas

Conference Paper · September 2012

CITATIONS READS

2 58

4 authors, including:

Rafael De Angelis Cordeiro Ely Carneiro de Paiva


University of Campinas University of Campinas
7 PUBLICATIONS   9 CITATIONS    43 PUBLICATIONS   617 CITATIONS   

SEE PROFILE SEE PROFILE

Samuel Bueno
Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer
45 PUBLICATIONS   752 CITATIONS   

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Project VERDE - Veículo Elétrico Robótico com Diferencial Eletrônico View project

Path Planner /FMS for an Autonomous Airship in Amazonia. View project

All content following this page was uploaded by Rafael De Angelis Cordeiro on 27 May 2016.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012.

EFEITOS DA DINÂMICA TRIDIMENSIONAL NO CONTROLE DE TRAJETÓRIA


DE UM VEÍCULO ROBÓTICO TERRESTRE COM QUATRO RODAS

Rafael A. Cordeiro∗, José R. Azinheira†, Ely C. de Paiva∗, Samuel S. Bueno‡



Universidade Estadual de Campinas – FEM/UNICAMP
Rua Mendeleiev, 200 – 13083-970
Campinas – SP – Brasil

Instituto Superior Técnico – IDMEC/IST
Av. Rovisco Paes, 1 – 1049-001
Lisboa – Portugal

Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer – DRVC/CTI
Rod. D. Pedro I, km 143,6 – 13081-970
Campinas – SP – Brasil

Emails: rcordeiro@fem.unicamp.br, jraz@dem.ist.utl.pt, elypaiva@fem.unicamp.br,


samuel.bueno@cti.gov.br

Abstract— The paper addresses the analysis and modelling for an all-terrain robotic vehicle, incorporating
wheel slips and three dimensional motion. Two different LQR path tracking controllers are proposed and com-
pared through the simulation in a complex test circuit. The influence of the 3D dynamics on the path following
performance is analysed, namely due to the weight distribution, and different longitudinal slipping and side slip
for the 4 wheels.
Keywords— Outdoor robotics, dynamic vehicle models, Ackerman steering, trajectory control, LQR

Resumo— Este artigo apresenta o desenvolvimento e análise de um modelo dinâmico tridimensional para um
veı́culo robótico de exterior de quatro rodas, incorporando modelos de derrapagem ou escorregamento e pisos
com cotas variáveis. Dois controladores de trajetória do tipo LQR são propostos e os resultados comparados
em simulação em um circuito de alta complexidade. Os efeitos da dinâmica tridimensional sobre o desempenho
do seguimento de trajetória são analisados, nomeadamente devido a valores de derrapagem e escorregamento
diferentes nas 4 rodas.
Palavras-chave— Robótica de exterior, modelos dinâmicos, direção Ackerman, controle de trajetória, LQR

1 Introdução (Pacejka, 2002; Iagnemma et al., 2010). Modelos


dinâmicos de veı́culos são tratados, por exemplo,
A maioria dos veı́culos terrestres (automóveis, tra- em Kiencke and Nielsen (2000), mas poucos são os
tores agrı́colas, etc.) possuem duas rodas fixas na trabalhos que consideram aderência variável nas
parte traseira e duas rodas orientáveis na parte rodas e alta irregularidade/inclinação do terreno
dianteira - usualmente numa configuração do tipo (Lenain et al., 2005).
Ackerman. Quando em “condições ideais” de lo- Sob a ótica da robótica, uma questão que se
comoção (i.e., em terreno plano, sem escorrega- coloca é o controle dessa classe de veı́culos – que
mentos, a velocidades pouco elevadas e acelera- são plataformas não holonômicas, de forma a fazê-
ções não muito pronunciadas), o comportamento los seguir uma trajetória exequı́vel especificada. A
de um veı́culo é suficientemente descrito pelo seu sı́ntese de controladores pode ser tratada segundo
modelo cinemático (Morin and Samson, 2008; Sni- diferentes enfoques, usando-se para isso modelos
der, 2009). No entanto, quando a locomoção do cinemáticos (Snider, 2009), ou incorporando va-
veı́culo se dá em áreas sujeitas a inclinações de ter- riáveis de cunho dinâmico (Lenain et al., 2005), ou
reno, variações de aderência no contato pneu-solo, até baseando-se totalmente em modelos dinâmi-
ou ainda sob velocidades ou acelerações mais pro- cos (Sleight, 2004). As técnicas de controle tam-
nunciadas, o modelo cinemático deixa de ser su- bém podem ser divididas em lineares (PID, LQR,
ficiente devido ao surgimento de escorregamentos gain scheduling) ou não lineares (modos deslizan-
(longitudinais) e derrapagens (laterais) nas rodas tes, backstepping, dinâmica invertida) com dife-
(Doumiati, 2009). rentes graus de complexidade.
Nessas “condições não ideais”, aspectos dinâ- Este artigo aprofunda as formulações e aná-
micos precisam ser incorporados ao modelo ma- lises apresentadas previamente pelos autores em
temático do veı́culo, a fim de descrever conveni- Bueno et al. (2009) e De Paiva et al. (2010). Mais
entemente o seu comportamento. O desenvolvi- especificamente, o artigo apresenta o modelo di-
mento de um modelo dinâmico para um veı́culo nâmico em desenvolvimento, agregando a este pa-
terrestre é complexo e envolve fenômenos de difı́cil râmetros tridimensionais que influenciam direta-
mensuração – notadamente no contato pneu-solo mente no comportamento do veı́culo. Este mo-

ISBN: 978-85-8001-069-5 1680


Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012.

delo dinâmico é utilizado tanto para a concepção Evoluiu-se, portanto, o modelo proposto. O
de modelos simplificados utilizados na sı́ntese de novo modelo é composto de um corpo rı́gido com
controladores quanto para a criação de um simula- uma determinada massa m e quatro rodas, que são
dor completo do veı́culo. Em termos de controle, o conectadas ao corpo rı́gido por suspensões do tipo
artigo aborda uma análise comparativa entre duas mola-amortecedor, independentes entre si (Figura
diferentes estratégias baseadas na técnica LQR, 2). Os pontos que representam as rodas estão em
onde uma delas busca incluir o efeito da derrapa- contato com o terreno, onde cada um dos conta-
gem. Além disso, uma análise é feita usando um tos é representado por uma função interpolada a
dos controladores para evidenciar os efeitos do mo- partir de um grid que representa a cota do terreno
delo dinâmico tridimensional no controle de traje- por onde o veı́culo se locomove. Além disso, a cada
tória do veı́culo. Todos os resultados apresentados ponto do grid associa-se, também, um valor para
foram obtidos a partir do simulador desenvolvido o coeficiente de atrito µ do pneu com o solo. As-
com o modelo dinâmico aqui proposto. sim, interpola-se o coeficiente de atrito para cada
A motivação e contexto desse artigo é o Pro- roda, permitindo que o veı́culo encontre diferentes
jeto VERO – Veı́culo Robótico de Exterior, de- tipos de aderência em seu trajeto.
senvolvido pelo Centro de Tecnologia da Infor-
mação Renato Archer (CTI) e seus colaborado-
res. O veı́culo a ser utilizado no projeto VERO
é apresentado na Figura 1 e será utilizado futura-
mente para implementação e validação dos resul-
tados aqui apresentados.

Figura 2: Modelo tridimensional do veı́culo com


suspensão independente nas quatro rodas.

Dado o modelo, algumas hipóteses foram cri-


adas para o seu equacionamento: i) as suspensões
são verticais ao veı́culo; ii) a rotação das rodas
das direções efetua-se em torno do seu eixo verti-
cal; iii) o solo é modelado como um corpo rı́gido
de cota variável; iv) as deformações no pneu são
desprezadas.
Figura 1: Veı́culo elétrico do projeto VERO.
Definidas as partes constituintes do modelo,
Após essa seção introdutória, o restante do ar- uma análise dinâmica é feita em cima do mesmo.
tigo está organizado como segue: a seção 2 trata A Figura 3 apresenta as forças presentes no con-
do modelo completo do veı́culo usado em simula- tato entre pneu e solo vistas por cima. Além des-
ção; a seção 3 fornece dois modelos simplificados sas, temos também as forças normais Fz associ-
do veı́culo, utilizados na sı́ntese de controladores adas a cada uma das rodas. Uma vez definidas
LQR de trajetória; a comparação dos controlado- as forças, a aplicação das leis de Newton gera as
res propostos e a discussão da influência do mo- equações:
delo tridimensional no controle é feita na seção 4;
por fim, a seção 5 traz as conclusões.

2 Modelo Dinâmico do Veı́culo

O desenvolvimento de controladores diretamente


na plataforma fı́sica é uma tarefa muito cus-
tosa, tanto pelo tempo de implementação quanto
pela possibilidade de quebra de equipamentos, que
muitas vezes são caros. Assim, costuma-se optar
pela elaboração de um simulador capaz de repro-
duzir com qualidade as respostas dadas pelo sis-
tema real. Em De Paiva et al. (2010) foi proposto
um primeiro modelo do veı́culo, um modelo dinâ-
mico bidimensional que, apesar de já trazer não
linearidades que não se encontram nos modelos
puramente cinemáticos, ainda não tratava as di-
ferentes distribuições de pesos e mudança de cota Figura 3: Forças de contato com o solo – plano
em terrenos. XY.

ISBN: 978-85-8001-069-5 1681


Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012.

mV̇CG = −mω × VCG + Fw − Fa (1)

J ω̇ = −ω × Jω + Tw − Ta (2)
onde m é a massa total do veı́culo, ω é a velocidade
de rotação, VCG é sua velocidade linear, F e T são
as forças e torque aplicadas no veı́culo, sendo que
os subı́ndices w e a representam grandezas prove-
nientes das rodas e de atritos, respectivamente, e
J corresponde ao tensor de inércia.
Figura 4: Forças e torques entre solo e pneu.
Apesar das rodas serem tratadas como pontu-
ais, a sua dinâmica de rotação é responsável pela

Fx , Fy ou Mz
criação das forças (Fw ) e torques (Tw ) utilizados Ym

nas eqs. 1 e 2. Sendo assim, utilizando as leis de


Newton, tem-se, para cada roda:
Xm
σ ou α
Iw Ω̇ = Tm − Rw Fx − TaΩ (3)
sendo que Iw é o momento de inércia da roda em Figura 5: Curva gerada pelo modelo de Pacejka.
seu eixo de rotação, Ω é a velocidade de rotação da
roda, Tm é o torque aplicado pelos motores, Rw
é o raio da roda, Fx é a força longitudinal apli-
cada pelo solo e TaΩ são os torques provenientes Vxw − Rw Ω
σ = (5)
de atritos diversos (inclusive aerodinâmicos). Vxw
Dado que o veı́culo aqui proposto possui di- onde Vxw é a velocidade longitudinal do pneu. Já
reção do tipo Ackerman, pode-se ver na Figura 3 para as derrapagens, o parâmetro utilizado é o ân-
que os ângulos de esterçamento das rodas diantei- gulo de derrapagem α. Como mostra a Figura 4,
ras são diferentes entre si, de forma a corrigir a esse ângulo corresponde ao ângulo formado entre
diferença do raio de curvatura entre elas. Logo, a direção da roda e o vetor velocidade linear do
dado um ângulo da direção δ do veı́culo e sua geo- pneu. No referencial da roda, pode-se calculá-lo
metria, obtém-se o ângulo de cada uma das rodas: como mostra a eq. 6.
 
(a + b) tan(δ) Vyw
δl = (4a) α = arctan (6)
a + b − c tan(δ) Vxw
(a + b) tan(δ) Definidos os parâmetros de escorregamento e
δr = (4b)
a + b + c tan(δ) derrapagem, a fórmula de Pacejka sugere que as
curvas Fx (σ), Fy (α) e Mz (α) podem ser represen-
Na modelagem de veı́culos, uma das grandes tadas por uma equação genérica Y (X):
dificuldades encontra-se na estimação das forças
e torques provenientes do contato entre o solo
e o pneu, os quais podem ser vistas na Figura Y (X) = D sin(C arctan(BX − E(BX − arctan(BX)))) (7)
4. Na literatura, encontram-se diversos tipos de
abordagens para este problema (Kiencke and Ni- em que as constantes B, C, D e E são definidas
elsen, 2000) e modelos foram propostos em Dugoff a partir da curva empı́rica para cada saı́da Y e
et al. (1969), Bakker et al. (1987) e Pacejka (2002). variam para cada tipo de pneu e piso. Dentre as
Usou-se aqui o modelo de Pacejka (também conhe- constantes destaca-se a constante D que corres-
cido como Fórmula Mágica). ponde à força máxima que pode ser alcançada no
Uma vez que os valores de momentos em x e pneu e é proporcional à força normal aplicada à
y são muito baixos, estes são comumente despre- roda e ao coeficiente de atrito entre a roda e o solo.
zados. Deste modo, o modelo de Pacejka fornece A Figura 5 mostra uma curva tı́pica do modelo de
uma fórmula semiempı́rica que associa a força lon- Pacejka.
gitudinal Fx ao escorregamento da roda e associa a A eq. 7 fornece as forças longitudinais e late-
força lateral Fy e o momento de autoalinhamento rais separadamente. Entretanto, essas forças estão
Mz à derrapagem. relacionadas com o atrito e este não ocorre sepa-
O escorregamento é mensurado pela taxa de radamente nos eixos x e y, mas sim no sentido do
escorregamento σ. Esta taxa representa a dife- movimento do ponto de contato. Portanto, as for-
rença entre a velocidade linear obtida pelo veı́- ças Fx e Fy são acopladas e provêm da decompo-
culo e a velocidade linear calculada pela rotação sição da força de atrito global do pneu. O modelo
da roda: de Pacejka leva este fenômeno em consideração e

ISBN: 978-85-8001-069-5 1682


Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012.

fornece uma relação de acoplamento entre as for- veı́culo, bem como no modelo cinemático dos er-
ças Fx e Fy (Bakker et al., 1987; Pacejka, 2002). ros de trajetória. Inicialmente, o modelo comu-
A força Fz , devido ao movimento tri- mente usado em seguimento e tracking, denomi-
dimensional do veı́culo e à suspensão, varia en- nado “modelo bicicleta” é apresentado (Figura 6),
tre as rodas. Para estimar tal força, dado que a onde as duas rodas de cada eixo são representadas
suspensão do veı́culo é do tipo mola-amortecedor, apenas por uma roda “central” equivalente, o que
tem-se: supõe um veı́culo simétrico, com movimento em
um plano (2D) (Lenain et al., 2005; Snider, 2009).
Fz = − ks dz − bs d˙z (8) Nesse caso, para o propósito de navegação, duas
variáveis importantes são definidas que são o erro
onde ks e bs são os coeficientes de mola e de amor- de distância lateral à trajetória, denotado por ye ,
tecimento, respectivamente, e dz é a deformação e o erro angular em relação à orientação da traje-
da mola. tória denotado por ψe .
A partir do modelo dinâmico tridimensional Além disso, na mesma figura, T representa a
aqui descrito, um simulador do veı́culo foi de- trajetória a ser seguida, P indica o CG do carro
senvolvido em ambiente MATLAB/SIMULINK .
R
e V indica a sua velocidade. Assim, o objetivo
Para os parâmetros do modelo, foram utilizados final do controlador é minimizar os erros de traje-
valores tı́picos de veı́culos encontrados na litera- tória, utilizando como saı́da de controle o ângulo
tura. de esterçamento da direção δ.

3 Controle de trajetória baseado em


modelos cinemáticos

Ao contrário da etapa de modelagem dinâmica


para propósitos de simulação, para fins de pro-
jeto e desenvolvimento de estratégias de controle,
é interessante levar-se em conta modelos simplifi-
cados do veı́culo, os quais podem ser cinemáticos
ou dinâmicos. O uso de um modelo do comporta-
mento puramente cinemático do veı́culo, como o Figura 6: Referenciais para controle de trajetória.
apresentado em De Paiva et al. (2010), pode ser
suficiente para aplicações em condições de baixa Desprezando as derrapagens, é possivel esti-
velocidade, boa aderência e terrenos planos. En- mar o erro lateral do veı́culo a partir de sua cine-
tretanto, em aplicações outdoor, onde as condições mática:
de navegação não são tão amenas, é importante
buscar soluções mais elaboradas e robustas que ẏe = V sin(ψe ) ≈ vx0 ψe (9)
incluam, ao menos parcialmente, a dinâmica do
veı́culo no projeto do controlador. onde vx0 é a componente longitudinal (no eixo do
Modelos dinâmicos de grande fidelidade para veı́culo) da velocidade V do carro, suposta cons-
fins de projeto de controle podem ser extrema- tante.
mente complexos e computacionalmente caros. Uma primeira aproximação da dinâmica do
Uma alternativa intermediária, e geralmente satis- veı́culo, que não inclui os fenômenos de derrapa-
fatória, é o uso de modelos cinemáticos que con- gem, é feita a partir de um modelo de primeira
siderem alguma informação parcial da dinâmica. ordem da direção do veı́culo:
No presente trabalho, propõe-se o projeto de con-
troladores do tipo LQR baseados em modelos ci- ṙ = ar r + br δ (10)
nemáticos que incluem, parcialmente, a dinâmica
do veı́culo. sendo este o modelo utilizado no LQRcin.
Dois controladores são propostos: um pri- Entretanto, considerando as derrapagens, é
meiro baseado em um modelo cinemático sem der- possı́vel aprimorar o modelo da direção descrito
rapagens mas que inclui o modelo de primeira or- pela eq. 10, passando então para um modelo de
dem da direção, que será denominado de LQRcin, segunda ordem com a inclusão da velocidade late-
e um segundo que já inclui um modelo de segunda ral vy (Snider, 2009):
ordem que considera derrapagem do veı́culo, que
será denominado LQRdin.
   
v̇y vy
= Al + Bl δ (11)
ṙ r
3.1 Modelos linearizados para sı́ntese de controle
onde o modelo de primeira ordem é acrescido de
O projeto dos controladores propostos baseia-se uma parcela relacionada à velocidade lateral. Este
em modelos linearizados da dinâmica lateral do novo modelo é utilizado para a sı́ntese do LQRdin.

ISBN: 978-85-8001-069-5 1683


Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012.

3.2 Sı́ntese de controladores por projeto LQR


sem derrapagem – LQRcin 100

Combinando-se a equação do erro de trajetória la-


teral linearizado (9) e o modelo de primeira ordem

x [m]
da direção (10), obtém-se: 50

      
ẏ 0 vx0 0 y 0 0
 ψ̇  =  0 0 1   ψ  +  0  δ (12)
0 50 100
ṙ 0 0 ar r br y [m]

onde x = [y ψ r]T .
Figura 7: Circuito para testes.
Lembramos ainda que os estados y e ψ do mo-
delo são de fato os erros de trajetória ye e ψe re-
lativos à trajetória seguida. metade do diâmetro para verificar a resposta do
Os valores do modelo podem ser obtidos nu- carro em curvas contı́nuas mais fechadas. Além
mericamente a partir do simulador descrito na se- disso, a transição do “oito” evidencia a resposta do
ção 2 e a partir desse modelo foi projetado um controlador para uma brusca mudança de sentido
controlador utilizando a técnica LQR. da direção. Na saı́da do “oito”, a trajetória segue
em uma linha reta de forma a se manter alinhado
3.3 Sı́ntese de controladores por projeto LQR com a pista e, então, realiza uma curva fechada à
com derrapagem – LQRdin direita (um quarto de circunferência com raio de
8m), evidenciando sua resposta a situações de alta
Combinando-se a equação do erro de trajetória
derrapagem. Segue-se em linha reta e retorna-se
lateral linearizado (9) e o modelo lateral lineari-
ao ponto inicial com uma segunda curva fechada,
zado de segunda ordem (11), obtém-se o modelo
igual à anterior.
cinemático com derrapagens para os erros de tra-
jetória: O veı́culo inicia com um erro lateral de 5m,
evidenciando sua qualidade de realinhar a traje-
      
tória. O coeficiente de atrito entre pneu e solo
ẏ 0 vx0 1 0 y 0 foi ajustado para 0,34 – pista de paralelepı́pedos
 ψ̇   0 0 0 1  ψ   0 
 v̇y  = 
  
  vy  + 
   δ (13) molhados (De Paiva et al., 2010).
0 0 al11 al12 bl1 
ṙ 0 0 al21 al22 r bl2
4.1 Comparação entre LQRcin e LQRdin
onde x = [y ψ vy r]T e al11 , al12 , al21 , al22 e bl1 ,
bl2 são os elementos das matrizes dinâmicas Al e Antes de abordar os aspectos tridimensionais no
Bl em (11) e seus valores são obtidos numerica- controle, faz-se uma comparação, em simulação,
mente, como no caso anterior. entre os dois controladores propostos e discute-se
Um novo controlador foi obtido através deste a eficácia do acréscimo da inclusão da velocidade
modelo de quarta ordem, de novo, utilizando a lateral como parâmetro de controle de derrapa-
técnica LQR. gens. Para tal, executou-se o circuito proposto an-
Com a introdução da velocidade lateral ao teriormente a velocidades de 4m/s e 10m/s tanto
modelo, espera-se uma melhor resposta as curvas para o LQRcin quanto para o LQRdin. A Figura
fechadas, dado que essa velocidade é uma repre- 8 apresenta os trajetos realizados por ambos e o
sentação do transiente do erro lateral. erro lateral obtido.
Da figura, constata-se que os controladores
4 Resultados e Discussões são capazes de executar o trajeto e que mesmo a
velocidades altas, com altos escorregamentos, am-
Tendo sido tratado os aspectos de modelagem, bos conseguem se ater à trajetória desejada.
tanto do simulador como dos controladores pro- Comparando os dois controladores vê-se que,
postos, resultados em simulação são apresentados apesar da inclusão de um parâmetro que deveria
para possibilitar uma análise do que foi desenvol- adicionar um controle às derrapagens devido à di-
vido. nâmica incorporada, a resposta obtida por ambos
Para tal, foi concebido um circuito em que é muito semelhante, não evidenciando um ganho
tenta-se criar diversas situações para o controle desse acréscimo, mesmo em uma situação de altas
do veı́culo. O circuito que pode ser visto na Fi- derrapagens.
gura 7 é plano e inicia-se com uma reta, seguida A utilização da velocidade lateral no controle
por uma trajetória em “oito” onde o veı́culo rea- insere uma derrapagem equivalente (no CG do veı́-
−V
liza um cı́rculo de 50m de diâmetro, verificando culo) ao modelo da bicicleta dada por β = Vxy .
se este consegue manter um baixo erro durante Assim, a Figura 9 apresenta uma comparação
uma curva contı́nua, e um segundo cı́rculo com a dessa derrapagem equivalente com as derrapagens

ISBN: 978-85-8001-069-5 1684


Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012.

150 150 principalmente em situações de curva, onde a ace-


leração centrı́peta gera rotações no eixo longitudi-
100 100
nal do veı́culo, afetando a distribuição de peso nas
x (m)

x (m)
50 50 rodas. O circuito é realizado a uma velocidade de
0 0
10m/s, onde os efeitos tridimensionais ficam mais
acentuados. O trajeto obtido é apresentado na
−50 0 50 100 −50 0 50 100
y (m) y (m)
Figura 10.
150
(a) (b)
10 10

100
ye (m)

ye (m)
0 0

x (m)
−10 −10
50
0 50 100 150 0 20 40 60 80
t(s) t(s)

(c) (d) 0

−50 0 50 100
Figura 8: Comparação entre LQRcin (azul) e
y (m)
LQRdin (verde): (a) Trajeto à 4m/s. (b) Tra-
jeto à 10m/s. (c) Erro lateral à 4m/s. (d) Erro
lateral à 10m/s. Figura 10: Trajetos usando LQRdin à 10m/s.

Destacam-se os erros obtidos na entrada de


reais nas rodas do veı́culo. Nela, vê-se que o β curvas, principalmente para curvas fechadas.
não é uma boa representação da derrapagem real, A Figura 11 apresenta alguns parâmetros re-
principalmente onde ocorrem as maiores derrapa- levantes à análise: o erro lateral ye (11(a)), o
gens, que é onde ele deveria atuar. Desta forma, ângulo da direção δ (11(b)), os ângulos de der-
sua utilização não gera ganhos para o controle. rapagens α nas rodas esquerdas (azul) e direitas
(verde) (11(c)–dianteiras e 11(d)–traseiras), o erro
de velocidade longitudinal ue (11(e)) e as taxas de
20
escorregamento σ das rodas esquerda (azul) e di-
reita (verde) (11(f)–dianteiras e 11(g)–traseiras).
[deg]

0
Analisando os parâmetros relacionados ao
−20 controle lateral (11(a)–(d)), vê-se que o erro la-
0 20 40 60 80 teral é mais acentuado nas situações onde o ân-
t(s)
gulo de derrapagem é maior, que ocorre nas cur-
(a) vas bruscas (δ elevado). Além disso, nas figuras
10 11(c) e 11(d) são destacados os pontos onde o ân-
5 gulo de derrapagem ultrapassa o valor de força
máxima definido no modelo de Pacejka, ou seja,
[deg]

−5
os instantes onde o veı́culo perde a aderência ao
solo. Observa-se que nesses momentos o ângulo
−10
0 20 40 60 80 de esterçamento da direção é muito elevado e os
t(s)
casos de maiores derrapagens surgem durante os
(b) momentos de saturação da direção (δ).
Já olhando para as figuras 11(e)–(g), é pos-
Figura 9: Comparação das derrapagens das ro- sı́vel analisar o efeito do regulador longitudinal.
das com a derrapoagem equivalente (vermelho) do Nela, destaca-se que, a baixas velocidades – com
modelo bicicleta. (a) Rodas dianteiras esquerda baixos escorregamentos, o erro da velocidade é
(azul) e direita (verde). (b) Rodas traseiras es- quase nulo. Já para velocidades elevadas, o veı́-
querda (azul) e direita (verde). culo por várias vezes perde a aderência ao solo,
onde os escorregamentos ultrapassam diversas ve-
zes o valor de máximo da curva de Pacejka (pon-
4.2 Efeitos tridimensionais tos em destaque nas figuras 11(f) e 11(g)), a velo-
cidade longitudinal cai bruscamente, sendo reto-
Para abordar os efeitos tridimensionais no con- mada apenas nas retas. Além disso, observando
trole do veı́culo, um dos método de controle foi as curvas de derrapagem nas rodas (11(c) e (d)),
utilizado (no caso, o LQRdin) para analisar o com- repara-se que o efeito de queda da velocidade é
portamento do veı́culo simulado durante a execu- acentuado com a presença de altas derrapagens.
ção do trajeto. Apesar do circuito planar, é pos- Para melhor observar o efeito, as figuras 12(a)
sı́vel analisar os efeitos tridimensionais do veı́culo, e 12(b) comparam a velocidade linear do veı́culo

ISBN: 978-85-8001-069-5 1685


Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012.

10
10

ye (m)
0

[m/s]
8

−10
6
0 20 40 60 80
t(s) 0 20 40 60 80
t(s)
(a)
(a)
20
14
δ (deg)

0
12

[m/s]
−20 10
0 20 40 60 80
8
t(s)
6
(b) 0 20 40 60 80
t(s)

20
(b)
α (deg)

−20 Figura 12: Comparação entre a velocidade do veı́-


0 20 40 60 80 culo (vermelho) e a velocidade de rotação das ro-
t(s)
das esquerdas (azul) e direitas (verde). (a) Dian-
(c) teiras. (b) Traseiras.
10

5
α (deg)

0 tação das rodas permanece quase constante (salvo


−5 a inversão entre esquerda e direita proveniente do
−10
0 20 40 60 80 diferencial de Ackerman na transição de cı́rculos
t(s) no “oito” do circuito). Porém, nota-se que de 25s a
(d) 35s a velocidade linear do veı́culo é constante, mas
após 35s ela começa a aumentar. Esse aumento é
0
possı́vel devido à diminuição da derrapagem nesse
ue (m/s)

−2 perı́odo (Figura 11(c)).


Esse efeito enfatiza o acoplamento entre força
−4
0 20 40 60 80 lateral e longitudinal do pneu explicitado pelo mo-
t(s)
delo de forças combinada de Pacejka. Logo, com
(e) a diminuição da derrapagem, a força longitudinal
10 consegue ser maior e possibilita um aumento na
5 velocidade linear do veı́culo.
σ (%)

−5
2,000
−10
0 20 40 60 80
Fy (N)

t(s)
0

(f)
−2,000
40 −20 0 20
σ (%)

α (deg)
20

0
(a)
0 20 40 60 80 2,000
t(s)
1,000
Fy (N)

(g) 0

−1,000
Figura 11: Curvas dos parâmetros ye , δ, α, ue e σ −2,000
para velocidade de 10m/s. −20 0 20
α (deg)

(b)
com aquela obtida pela rotação da roda (Rw Ω).
Desta figura pode-se verificar que a velocidade Figura 13: Curvas de Fy (α) para as rodas es-
do veı́culo é equivalente àquela vista nas rodas da querda (azul) e direita (verde). (a) Dianteiras.
frente já que esta não tem atuadores acoplados e (b) Traseiras.
são apenas “levadas” pelo movimento do veı́culo.
Analisando mais precisamente o perı́odo de tempo Para avaliar o comportamento da força late-
que vai de 25s a 55s, tem-se que a velocidade de ro- ral, a Figura 13 apresenta os valores de Fy (α) du-

ISBN: 978-85-8001-069-5 1686


Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012.

rante a execução do circuito. Apesar das quatro Referências


rodas serem iguais, vê-se quatro curvas diferentes
de Pacejka, bem como uma inversão entre as for- Bakker, E., Nyborg, L. and Pacejka, H. (1987).
ças nas rodas esquerdas e direitas quando se com- Tyre modelling for use in vehicle dynamics
para o lado positivo com o negativo da curva. A studies, Society of Automotive Engineers in-
existência de quatro curvas representa as diferen- ternational congress and expo, Detroit, MI.
tes distribuições de peso nas rodas. Durante uma
Bueno, S., Azevedo, H., Mirisola, L., De Paiva,
curva à direita, a força Fz se concentra nas rodas
E., Ramos, J., Victorino, A. and Azinheira,
esquerdas e, portanto, as forças laterais (negati-
J. (2009). Uma plataforma para pesquisa e
vas) nas rodas esquerdas são maiores que as en-
desenvolvimento em robótica terrestre de ex-
contradas nas respectivas rodas direitas. Já para
terior, IX Simpósio Brasileiro de Automação
as curvas à esquerda (Fy positivo) a situação se
Inteligente, Brası́lia, DF.
inverte.
De Paiva, E., Azinheira, J. and Bueno, S. (2010).
Controle de trajetória para veı́culos terres-
5 Conclusões tres de exterior, XVIII Congresso Brasileiro
de Automática, CBA, Bonito, MS.
Este artigo abordou aspectos da dinâmica e do Doumiati, M. (2009). Embedded estimation of
controle de veı́culos terrestres de quatro rodas. vehicle’s vertical and lateral tire forces for
Foi apresentado um modelo dinâmico tridimensi- behavior diagnoses on the road, PhD the-
onal, usado como núcleo de um simulador. Dois sis, Université de Technologie de Compiègne,
controladores cinemáticos, com inclusão de parâ- France.
metros dinâmicos, foram desenvolvidos e compa-
rados. Por meio de simulações, a influência dos Dugoff, H., Fancher, P. S. and Segal, L. (1969).
efeitos da dinâmica tridimensional do veı́culo no Tire performance characteristics affecting
controle de sua trajetória foi analisada. Com isso, vehicle response to steering and braking con-
a aparição de escorregamentos e derrapagens em trol inputs, Technical Report Contract CST-
todas as rodas e a decorrente influência da dis- 460 (Final), Office of Vehicle Systems Re-
tribuição de peso sobre elas faz variar as forças search, US National Bureau of Standards,
aplicadas em cada roda e, portanto, afetam dire- Washington, DC.
tamente a movimentação do veı́culo.
Iagnemma, K., Martinet, P. and Wang, D. (2010).
A importância de condições de aderência dife- Introduction: Vehicle-terrain interaction for
rente em cada roda se torna evidente na compara- mobile robots, Journal of Field Robotics
ção entre os dois controladores pois a aproximação 27(2): 105–106.
global (β) para as condições de aderência se mos-
tra ineficiente em situações de altas derrapagens. Kiencke, U. and Nielsen, L. (2000). Automotive
Entretanto, deve-se ressaltar que ambos o contro- Control Systems, Springer.
ladores propostos são eficientes e robustos no con-
Lenain, R., Thuilot, B., Cariou, C. and Martinet,
trole da trajetória, mesmo em circunstâncias ad-
P. (2005). Model predictive control for vehicle
versas (com a presença de fortes escorregamentos
guidance in presence of sliding: Application
e derrapagens).
to farm vehicles path tracking, Robotics and
Como sequência do trabalho, os seguintes te- Automation, 2005. ICRA 2005. Proceedings
mas serão abordados: i) a realização de ensaios of the 2005 IEEE International Conference
especı́ficos com o veı́culo mostrado na Figura 1, a on, pp. 885 – 890.
fim de obter os parâmetros do seu modelo dinâ-
mico; ii) buscar estimar as derrapagens e escor- Morin, P. and Samson, C. (2008). Motion con-
regamentos e incorporá-las na sı́ntese de controla- trol of wheeled mobile robots, Handbook of
dores; iii) investigar novas classes de controladores Robotics, Springer Verlag, chapter 34.
não lineares.
Pacejka, H. B. (2002). Tire and Vehicle Dynamics,
Butterworth-Heinemann, Oxford.

Agradecimentos Sleight, R. (2004). Modeling and Control of an


Autonomous HMMWV, PhD thesis, Univer-
Os autores agradecem os financiamentos da FA- sity of Delaware, Newark, DE.
PESP (Bolsa Mestrado 2010/14295-4 e Bolsa Snider, J. M. (2009). Automatic steering methods
BEPE 2011/22964-6) e dos projetos NAGUIVA for autonomous automobile path tracking,
(490722/2010-5 - CNPq/FCT - Portugal) e Technical Report CMU-RI-TR-09-08, Robo-
INCT-SEC (573963/2008-8-CNPq e 08/57870-9- tics Institute, Pittsburgh, PA.
FAPESP).

ISBN: 978-85-8001-069-5 1687

View publication stats

Você também pode gostar