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Jared Jost
SEGURANÇA DE VOO E
PREVENÇÃO CONTRA ATOS DE
INTERFERÊNCIA ILÍCITA
Florianópolis – SC
AEROTD
2020
2
Copyright © Faculdade de Tecnologia AEROTD 2020
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta
instituição.
Professores Conteudistas
Jared Lost
Design Instrucional
Sandra Mazutti
ISBN
000-00-0000-000-0
Diagramação
Marcos Elias
Revisão
Juliana Bordinhão Diana
JOST, Jared.
Segurança de voo e prevenção contra atos de interferência
ilícita / Jared Jost. – Florianópolis : Publicações AEROTD, 2017.
Inclui Bibliografia.
1. Segurança de Voo. 2. Aviação I. Títulos.
CDU: 533.6
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3.3 MANUTENÇÃO COMO FATOR ESSENCIAL NA PREVENÇÃO DE ACIDENTES AERONÁUTICOS
.................................................................................................................................................. 43
3.3.1 Deterioração: desgaste, fadiga, corrosão ................................................................. 44
3.3.2 Manutenção Preventiva e Manutenção Corretiva .................................................... 45
3.3.3 Programação de Manutenção .................................................................................. 46
3.3.4 Inspeções ................................................................................................................ 46
3.3.4.1 Vulnerabilidade dos sistemas de manutenção ............................................................. 47
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APRESENTAÇÃO
Olá, aeronauta! Seja bem-vindo à disciplina de Segurança de Voo. Você sabia que o
primeiro voo do avião por meios próprios ocorreu há pouco mais de um século?
Vários tipos e modelos de aeronaves surgiram a partir daquela época. O tamanho e a
velocidade aumentaram cada vez mais. Logo se percebeu que acidentes também ocorreriam
e suas consequências poderiam ser catastróficas. O profissional da aviação está exposto
também a um ambiente que pouco se assemelha às condições atmosféricas ao nível do mar.
Neste contexto geral da atividade aérea, percebeu-se a necessidade do estabelecimento
de regras específicas ao voo. Desde então, a aviação como área do conhecimento vem
evoluindo. Os pesquisadores da área entenderam que, para um voo seguro, a preparação,
planejamento e manutenção de um avião eram mandatórios. Desenvolveram-se programas
que tratam as causas de maior índice de ocorrência entre os acidentes aeronáuticos.
Atualmente, sendo o meio de transporte mais seguro, o avião obteve índices de
segurança elevados devido aos esforços de pessoas interessadas no progresso da aviação,
contribuindo com aprendizados de outras áreas. Surgiu então a disciplina de Segurança de
Voo, que visa tratar das ferramentas adequadas para a prevenção e investigação de acidentes
aeronáuticos.
Importante lembrar que Segurança de Voo trata-se principalmente de uma cultura de
atuação pessoal e em nível de organização. Você pode tornar-se uma parte importante desse
sistema de prevenção! Inicie agora mesmo sua jornada pela Segurança de Voo entendendo
seu panorama histórico e descobrirá que ela evolui cada vez mais.
Bons estudos!
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UNIDADE I
Apresentação da Unidade I
Fonte: http://www.revistaoperacional.com.br/wp-content/uploads/2014/07/Sgt-Fl%C3%A1vio-Cenipa5-
550x349.jpg
Agora você pode perceber que nosso país vem acompanhando o desenvolvimento da
aviação desde seus primórdios.
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Figura 2 – Organograma do Ministério da Defesa (simplificado)
Fonte: https://www.senado.gov.br/NOTICIAS/JORNAL/EMDISCUSSAO/upload/201005%20-
%20novembro/info_novembro/400_organograma.jpg
Visto que o CENIPA é o órgão central do SIPAER, a ele cabe a orientação normativa do
Sistema, em conformidade com o Decreto n° 87.249/82. Fazem parte dessa orientação as
Normas do Sistema do Comando da Aeronáutica (NSCA), leis, convenções e demais manuais
que constituem a legislação que rege o SIPAER.
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Devido ao tamanho do território nacional, a presença regional do CENIPA ocorre através
dos SERIPA (Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).
➢ SERIPA
O CENIPA concentrou as atividades de segurança de voo para a aviação militar e civil até
a criação da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil). Após a criação desta, as investigações
continuaram a cargo do CENIPA, tornando a ANAC responsável pela prevenção, sendo que a
prevenção de acidente aeronáutico é responsabilidade de todos, conforme o Código Brasileiro
de Aeronáutica (Art. 87 CBA). O CENIPA continua, através de sua excelência, investigando os
acidentes para que possamos continuar a prevenir aprendendo com os erros.
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se agora Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos. O SIPAER integra a
infraestrutura aeronáutica, conforme o disposto no artigo 25 do CBA, e possui a finalidade de
“planejar, orientar, coordenar, controlar e executar as atividades de prevenção de acidentes
voltadas à obtenção e manutenção de um nível aceitável de segurança operacional” (NSCA 3-
2, Estrutura e atribuições dos elementos constitutivos do SIPAER, p. 1).
➢ Estrutura
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Figura 4 – Ligações Sistêmicas entre os Elos-SIPAER
➢ Elo-SIPAER
O CENIPA disponibiliza cursos para a formação de Elos-SIPAER, mas você pode descobrir
agora quais as demais atribuições desse profissional. Acesse:
http://www.cenipa.aer.mil.br/cenipa/index.php/legislacao/category/1-nsca-norma-do-
sistema-do-comando-da-aeronautica-?download=4%3Ansca-3-2
➢ Filosofia SIPAER
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denominados ‘Princípios da Filosofia SIPAER’, é a base para se planejar e executar atividades
de prevenção de acidentes aeronáuticos. São eles:
a) todo acidente aeronáutico pode ser evitado;
b) todo acidente aeronáutico resulta de vários eventos e nunca de uma causa isolada;
c) todo acidente aeronáutico tem um precedente;
d) a prevenção de acidentes requer mobilização geral;
e) o propósito da prevenção de acidentes não é restringir a atividade aérea, mas
estimular o seu desenvolvimento com segurança;
f) a alta direção é a principal responsável pela prevenção de acidentes aeronáuticos;
g) na prevenção de acidentes, não há segredos nem bandeiras; e
h) acusações e punições de erros humanos agem contra os interesses da prevenção de
acidentes.
• Filosofia SIPAER;
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• premiações;
• jornadas de Segurança de Voo; e
• concursos literários sobre a Segurança de Voo.
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Figura 5 – Relatório de Prevenção
Fonte: http://2.bp.blogspot.com/-
0Q800pcpN0/UmCH4mlz_QI/AAAAAAAAADA/8x64NsuB6Lc/s1600/foto+relprev.png
Veja o que você pode relatar através do RCSV disponível no site do CENIPA. Acesse:
http://prevencao.potter.net.br/rcsv
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g) Gerenciamento do Risco: orienta a alocação equilibrada dos recursos humanos e
materiais de uma organização, visando ao controle e à mitigação do risco por meio
de indicadores e matrizes. As organizações devem considerar a eficácia das defesas já
existentes, bem como a necessidade de implantação de novas estruturas de proteção.
• Risco Baloeiro (combate à ameaça da soltura de balões livres não tripulados para
a navegação aérea);
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1.1.2.1 Sistema de Gerenciamento da Segurança Operacional (SGSO)
Aprendemos no início desta unidade que tanto a legislação como as práticas de
segurança na atividade aérea evoluíram ao longo dos anos. Maior experiência e melhores
tecnologias contribuíram para a segurança operacional na aviação. Dentre essas melhorias,
algumas ferramentas de outras áreas do conhecimento possibilitaram o desenvolvimento de
um sistema preventivo/preditivo na identificação de perigos, conduzindo a um gerenciamento
otimizado dos riscos.
No ano de 2009, a Organização Internacional da Aviação Civil (OACI) implantou
efetivamente o Safety Management System (SMS), traduzido no Brasil como Sistema de
Gerenciamento da Segurança Operacional (SGSO). Esse sistema prevê uma abordagem
sistêmica e ampla, considerando todos os aspectos que envolvem a segurança na operação
de uma aeronave e promovendo a melhoria continua dos níveis de segurança. O SGSO está
sendo implantado no Brasil por meio do Programa Brasileiro de Segurança Operacional (PSO-
BR), o qual estabelece como estratégia para a segurança operacional da aviação civil a
elaboração e implantação de programas específicos para a ANAC e o COMAER.
O Programa de Segurança Operacional Específico da ANAC (PSOE-ANAC) contempla as
diretrizes e requisitos para orientar a implantação e desenvolvimento de Sistemas de
Gerenciamento da Segurança Operacional – SGSO por parte de seus entes regulados. Os
processos-chave de um SGSO são:
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• Garantia da Segurança Operacional: conjunto de atividades voltadas para
padronização da prestação do serviço conforme critérios estabelecidos de
desempenho.
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Torna-se possível, assim, cumprir os regulamentos existentes, definindo as ações
futuras, compartilhando conhecimentos e informações. Finalmente, o SGSO inclui requisitos
para reforçar as atitudes de segurança da organização, mudando a cultura de segurança
operacional de diretores, gerentes e funcionários. Todas essas mudanças são projetadas para
levar a organização do pensamento reativo ao pensamento preditivo. A gestão de segurança
é um “pré-requisito da sustentabilidade da atividade aérea” (OACI, Doc. 9859, 2008, p. 2).
Fonte: http://www.anac.gov.br/assuntos/paginas-tematicas/gerenciamento-da-seguranca-
operacional/imagens/opapel-da-organizacao.jpg
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Nas suas atividades diárias, quantas oportunidades existem para ocorrer algo
errado? E se você, ao analisar essas situações, perceber que existem riscos, então
quais ações poderia adotar? Qual seria seu comportamento dali em diante frente
à prevenção?
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Em 1944, a cidade de Chicago, nos E.U.A., tornou-se o centro das atenções mundiais.
Debatia-se lá um assunto que, à época, significava novidade e preocupação. O transporte
aéreo, que já movimentava passageiros e carga por todo o mundo, necessitava de regras
uniformes em qualquer lugar, proporcionando assim segurança, regularidade e eficiência.
Assinou-se, naquele ano, a Convenção de Chicago, em 7 de dezembro. Surgia a Organização
da Aviação Civil Internacional (OACI) e os padrões e recomendações para o desenvolvimento
seguro e ordenado da aviação internacional. A OACI dedica-se principalmente à melhoria da
segurança das operações aéreas em todos os países signatários da Convenção de Chicago. Os
documentos que determinam os padrões e recomendações são chamados “anexos”,
estabelecendo assim níveis mínimos de segurança.
Na data de 1° de janeiro de 2009, foi implantado o Safety Management System (SMS),
traduzido em nosso país como Sistema de Gerenciamento da Segurança Operacional (SGSO),
e que, em 2013, deu origem ao Anexo 19 sendo estabelecido como o documento específico
para o tema SMS/SGSO. Os países-membro da OACI também devem implantar um Programa
de Segurança Operacional voltado para ações governamentais de melhoria da segurança das
operações aéreas, como determinam os requisitos do anexo e o Manual de Gerenciamento
da Segurança para a implementação do sistema. Esse novo conceito de segurança de voo
demonstra a preocupação da OACI frente ao novo panorama da aviação mundial. Atitudes
preditivas devem permear a segurança da atividade aérea, permitindo a contínua melhoria do
nível de segurança.
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1. Texto - A Segurança de Voo no Sistema de Aviação Civil – Disponível em:
http://www.anac.gov.br/assuntos/paginas-tematicas/gerenciamento-da-
seguranca-operacional/a-seguranca-de-voo-no-sistema-de-aviacao-civil
2. Texto - O Sistema de Gerenciamento da Segurança Operacional - SGSO na
Visão da ANAC - Disponível em:
http://www2.anac.gov.br/SGSO2/Semin%C3%A1rios/2013/SGSOvisaoAnac.
pdf
3. Texto - Código Brasileiro de Aeronáutica - Disponível em:
http://www.cenipa.aer.mil.br/cenipa/index.php/legislacao/category/5-
outros?download=20%3Alei-no-7565
4. Vídeo - Seminário de Segurança de Voo - Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=RxB8I5hIf34
5. Vídeo - Introdução ao SGSO - Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=00eCqBQzWoY
6. Vídeo - MR. SIDRACH, Junior. Introdução ao SGSO. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=00eCqBQzWoY
7. Vídeo - Análise do Vídeo “Entrevista sobre Segurança de Voo”. Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=ajmpbkRSGqM
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Você pode perceber que vários conhecimentos foram sendo adicionados às atividades
de prevenção de acidentes na aviação. Vamos avaliar o quanto já sabemos e podemos
contribuir para este importante aspecto da segurança das operações aéreas. Acesse o
ambiente virtual de aprendizagem e responda ao questionário relativo ao conteúdo estudado.
Lembre-se de que a repetição é a lei do aprendizado! Assim como várias atividades são
realizadas a favor da prevenção de acidentes, se você ler mais de uma vez e fizer as atividades,
terá grandes chances de estar preparado! Até a UNIDADE 2, continue progredindo! Vamos lá!
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BRASIL. Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986. Código Brasileiro de Aeronáutica.
BRASIL. Lei no 11.182, de 27 de setembro de 2005. Cria a Agência Nacional de Aviação Civil –
ANAC, e dá outras providências.
Podemos afirmar que a aviação é uma área do conhecimento bastante nova ainda, mas
que evoluiu muito desde seus primórdios em relação à segurança das suas operações. A
mudança de entendimento frente à prevenção de acidentes aeronáuticos e à utilização de
novas ferramentas provenientes de outras áreas contribuiu para chegarmos a índices que
posicionam o avião como o meio de transporte mais seguro. Que universo fascinante! Você
também pode contribuir para isso, uma vez que está ampliando seu conhecimento acerca
dessa área.
Agora vamos em frente! A próxima unidade traz conceitos sobre tipos e a investigação
de acidentes. Veja também as responsabilidades das nossas autoridades aeronáuticas frente
a este tipo de ocorrência.
Vamos descobrir isso!
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UNIDADE II
ACIDENTES/INCIDENTES AERONÁUTICOS
Fonte: http://hangarnetwork.com/blog/wp-content/uploads/2013/08/turk-plane-crash-1.jpg
Apresentação da Unidade II
Bem-vindo!
Na Unidade I, vimos o processo histórico-evolutivo da prevenção de acidentes na
aviação. Você deve ter percebido que, hoje em dia, pouco se parece com o pensamento
utilizado nos primeiros anos da aviação. Partimos da ideia que o importante era apenas
encontrar o fato que havia causado o acidente e que alguém deveria ser punido por isso.
Atualmente, sabemos que é muito melhor conscientizar as pessoas e identificar possíveis
riscos e perigos para identificar quais ações podem ser adotadas para reduzir ou extinguir as
chances de ocorrência de um evento negativo.
A Unidade II traz conceitos sobre investigação, responsabilidades e como ocorre o
processo de busca pelos diversos fatores contribuintes. No final desta, você vai conhecer um
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pouco mais sobre a segurança de voo e como uma investigação pode contribuir para a
prevenção. Assim como um investigador, preste atenção e boa leitura!
Aqui veremos cada um dos termos e definições utilizados no Brasil. São eles: ação inicial,
acidente aeronáutico, aeronave brasileira, aeronave estrangeira, confirmação de ocorrência,
danos a terceiros, incidente aeronáutico, incidente grave, notificação de ocorrência,
ocorrência de solo, perigo e risco.
a) Ação Inicial
Imediatamente após um acidente, a prioridade é prestar socorro aos sobreviventes e
evitar que as consequências se agravem. Somente após a área ter sido liberada pela equipe
de salvamento, os destroços passam a ser do SIPAER para a investigação. Para o SIPAER, “ação
inicial” são as medidas adotadas de acordo com técnicas específicas, realizadas no local da
ocorrência, por pessoal qualificado, visando principalmente a coleta e/ou confirmação de
dados, a preservação de indícios, a verificação inicial de danos causados à aeronave, ou pela
aeronave, e o levantamento de outras informações necessárias ao processo de investigação.
O investigador deverá examinar os destroços, localizar os pontos de impacto e a distribuição
das peças, identificar partes e registrar suas observações. Quanto melhor for este trabalho,
melhor será o processo de investigação.
b) Acidente Aeronáutico
Classifica-se como ocorrência relacionada com a operação de uma aeronave, havida
entre o período em que uma pessoa nela embarca com a intenção de realizar um voo, até o
momento em que todas as pessoas tenham dela desembarcado e, durante o qual, pelo menos
uma das situações abaixo ocorra:
➢ Qualquer pessoa sofra lesão grave ou morra como resultado de estar na aeronave,
em contato direto com qualquer uma de suas partes, incluindo aquelas que dela
tenham se desprendido, ou submetida à exposição direta do sopro de hélice, rotor ou
escapamento de jato, ou às suas consequências. Exceção é feita quando as lesões
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resultem de causas naturais, forem auto ou por terceiros infligidas, ou forem causadas
a pessoas que embarcaram clandestinamente e se acomodaram em área que não as
destinadas aos passageiros e tripulantes;
➢ A aeronave sofra dano ou falha estrutural que afete adversamente a resistência
estrutural, o seu desempenho ou as suas características de voo; exija a substituição
de grandes componentes ou a realização de grandes reparos no componente afetado.
Exceção é feita para falha ou danos limitados ao motor, suas carenagens ou
acessórios; ou para danos limitados a hélices, pontas de asa, antenas, pneus, freios,
carenagens do trem, amassamentos leves e pequenas perfurações no revestimento
da aeronave;
➢ A aeronave seja considerada desaparecida ou o local onde se encontre seja
absolutamente inacessível.
c) Aeronave Brasileira
É toda aeronave possuidora de certificados de matrícula, de aeronavegabilidade e de
nacionalidade sujeita à legislação brasileira.
d) Aeronave Estrangeira
Aeronave possuidora de certificados de matrícula, de aeronavegabilidade e de
nacionalidade sujeita à legislação de outro país, mas que, operando no espaço aéreo
brasileiro, também está sujeita à legislação nacional.
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e) Confirmação de Ocorrência
É um procedimento por meio do qual se procederá à complementação ou à retificação
das informações previamente veiculadas na Notificação de Ocorrência Aeronáutica (ver box
abaixo). Cabe ao CENIPA e aos SERIPA a confirmação de ocorrências com aeronaves.
f) Danos a Terceiros
Prejuízos causados a terceiros e decorrentes de ocorrência relativa à segurança de voo.
g) Incidente Aeronáutico
h) Incidente Grave
Podemos dizer que é a ocorrência que indica que um acidente quase ocorreu, mas sua
definição oficial indica que é todo,
Vamos ver a lista constante na MCA 3-6. Ela não é exaustiva e apenas serve como
exemplo para auxiliar na classificação da ocorrência:
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• Quase colisões que requerem uma manobra evasiva para evitar a colisão ou uma
situação de perigo para a segurança, ou quando uma ação evasiva teria sido
apropriada.
• Voo controlado contra o terreno marginalmente evitado.
• Decolagens interrompidas em uma pista fechada ou ocupada.
• Decolagens efetuadas de uma pista fechada ou ocupada com uma separação
marginal em relação aos obstáculos.
• Aterrissagens ou tentativas de aterrissagem em pista fechada ou ocupada.
• Falhas graves para a obtenção do desempenho previsto durante a decolagem ou
a subida inicial.
• Fogo ou fumaça na cabine de passageiros, nos compartimentos de carga ou nos
motores, mesmo que o fogo se apague pela ação de agentes extintores.
• Ocorrências que obriguem a tripulação de voo a utilizar o oxigênio de
emergência. Falhas estruturais da aeronave ou desintegrações de motores que
não se classifiquem como acidente.
• Mau funcionamento de um ou mais sistemas da aeronave que afetem
gravemente a operação desta. Incapacitação da tripulação de voo durante o
mesmo.
• Quantidade de combustível que obrigue o piloto a declarar uma situação de
emergência. Incidentes ocorridos na decolagem ou na aterrissagem.
• Incidentes como aterrissagens antes ou depois da pista, ou saídas da pista pelas
laterais.
• Falhas de sistemas, fenômenos meteorológicos, operações efetuadas fora do
envelope de voo, ou outras ocorrências que possam ocasionar dificuldades para
controlar a aeronave.
• Falhas de mais de um sistema, quando se trata de um sistema redundante de
caráter obrigatório para a condução do voo e a navegação. (MCA 3-6, 2011, p.
162)
Você notou que são vários tipos de falhas, graves, mas que não chegam a se constituir
em acidente. Portanto, percebemos mais uma vez a preocupação em categorizar
adequadamente os eventos e assim permitir o controle mais específico das atividades de
prevenção. Desse modo, podem ser realizados programas e treinamentos que podem lidar
diretamente com estas causas se a frequência for significativa diante do risco iminente.
j) Ocorrência de Solo
Tipo de ocorrência envolvendo a aviação militar, com aeronave no solo, em que não
pode haver intenção de realizar voo. Caso haja a intenção de voo, será considerada ocorrência
de solo se consumada antes do início dos procedimentos para a partida dos motores ou o
fechamento das portas da aeronave, e após o corte dos motores, a parada total das pás do
rotor ou a abertura das portas da aeronave. Deve resultar em danos ou lesão, e os fatos
motivadores estejam diretamente relacionados aos serviços de rampa, aí incluídos os de apoio
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e infraestrutura aeroportuários, e não tenham tido qualquer contribuição da movimentação
da aeronave por meios próprios ou da operação de qualquer um de seus sistemas.
k) Perigo
Classifica-se como a fonte ou situação com potencial, para provocar danos e/ou lesões.
l) Risco
Considera-se como a condição (ato, fato, ou combinação deles) que, aliada a outras, em
sequência ou como consequência, conduz à ocorrência de um acidente aeronáutico, de um
incidente aeronáutico ou de uma ocorrência de solo, ou que contribui para o agravamento de
suas consequências. Os fatores contribuintes classificam-se de acordo com a área de
abordagem da segurança operacional, podendo ser: humano, material ou operacional.
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b) Investigação de Incidente Aeronáutico: também será efetuada uma Ação Inicial, Relatório
Preliminar e um Relatório Final. O provedor de serviço de aviação civil (PSAC) poderá realizar
a investigação por atribuição do CENIPA, se possuir profissional credenciado pelo CENIPA para
investigação. Após a conclusão da investigação, os registros devem ser enviados ao
CENIPA/SERIPA. Os Incidentes aeronáuticos com elevado índice de repetitividade (colisão com
fauna, estouro de pneu, incidência de raio laser, colisão com balão, etc.), por não trazerem
novos ensinamentos para a prevenção, serão apenas notificados.
Relatório Final: trata-se de uma das principais ferramentas para aplicação das medidas
de segurança necessárias, a fim de impedir que outras ocorrências se repitam pela
presença de fatores contribuintes iguais ou semelhantes.
Possui o objetivo de divulgar a conclusão oficial do SIPAER relativa a um acidente
aeronáutico, incidente aeronáutico grave ou incidente aeronáutico, visando
exclusivamente à prevenção de novas ocorrências.
É elaborado com base em fatos, análise e conclusão. Poderá ocorrer formulação de
hipóteses, as quais serão fundamentadas em pareceres técnicos e suportadas por dados
factuais.
Na conclusão da investigação, serão determinados os fatores contribuintes para a
ocorrência, abrangendo os aspectos inseridos no Fator Humano, no Fator Operacional e
no Fator Material.
O uso do Relatório Final para qualquer propósito que não o de prevenção de futuros
acidentes aeronáuticos, incidentes aeronáuticos graves e incidentes aeronáuticos poderá
induzir a interpretações e conclusões errôneas.
NSCA 3-13, 2014.
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• acompanhar e prestar assessoria técnica nas investigações de acidente aeronáutico,
de incidente aeronáutico e de ocorrência de solo, quando indicado pelo Elo-SIPAER
de sua organização; e
• realizar, sob coordenação do Comando Investigador competente, a investigação de
incidente aeronáutico ou de ocorrência de solo, quando designado pelo Elo-SIPAER
de sua organização, elaborando o respectivo relatório.
1. Texto - 5 Deadly Mistakes Even The Most Experienced Pilots Make. – Disponível
em: http://www.boldmethod.com/blog/lists/2016/05/5-deadly-mistakes-even-
experienced-pilots-make/
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2. Texto - Checklist Pessoal de Mínimos Operacionais - Disponível em:
http://www.anac.gov.br/assuntos/paginas-tematicas/gerenciamento-da-
seguranca-operacional/checklist-pessoal-de-minimos-operacionais
_________________________________________________________________
35
STOLZER, Alan J.; HALFORD, Carl; GOGLIA, John Joseph. Sistemas de gerenciamento da
segurança operacional na aviação. São José dos Campos: Somos, 2011.
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UNIDADE III
INSPEÇÕES DE SEGURANÇA
Fonte: http://www.horasdevuelo.net/images/importance-pre-flight-check-lists-hess-flying-school-mesa1.jpg
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3.1 USO DO CHECKLIST
Muitas vezes, no intuito de querer decolar o mais depressa possível, alguns pilotos
acabam preparando suas aeronaves de maneira desregrada e confiando apenas na memória
afirmando serem desnecessárias as ações que precedem o voo. Conforme o CENIPA em seu
Panorama Estatístico da Aviação Civil Brasileira (2012),
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3.2 PREVENÇÃO CONTRA INCÊNDIO
Fonte: https://conteudo.imguol.com.br/blogs/125/files/2016/03/imagem_cinzeiro.jpg
3.2.2 Spray
Através da Resolução Nº 207, de 22 de novembro de 2011, alguns itens são proibidos
para voos por possuírem elevado nível de ameaça. Entre estes, está incluído o spray,
conhecido também como aerossol. Porém, conforme a quantidade, pode ser carregado como
bagagem de mão ou despachado, desde que o total líquido de todos os artigos transportados
por um único indivíduo não seja superior a 2 litros, não podendo a quantidade líquida de
qualquer artigo individual ultrapassar 500 ml.
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3.2.3 Líquidos
As medidas mais restritivas quanto ao transporte deste tipo de artigo são relacionadas
a voos internacionais. Dentre as regras utilizadas para bagagens de mão destacam-se:
• Conduzir líquidos em frascos com capacidade para 100ml;
• Líquidos em embalagens com volume acima de 100 ml não podem ser transportados;
• Todos os frascos devem ser colocados em uma embalagem plástica transparente, que
possa ser fechada, contendo capacidade máxima de 1 litro.
41
Procedimentos para o abastecimento
Fonte: http://media.noria.com/sites/archive_images/Backup_200307_Greases-Anderol.jpg
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Em se tratando de um voo seguro, as especificações devem ser seguidas. No caso de
óleos lubrificantes e graxas, utilize sempre o recomendado pelo fabricante e jamais adicione
aditivos não prescritos. A estocagem deve seguir as normas adequadas para evitar
contaminação com resíduos ou contaminar o meio-ambiente. O calendário de lubrificação
deve ser observado cuidadosamente. A utilização de equipamentos de proteção individual
(EPI) deve ser seguida para que acidentes sejam evitados.
• Desgaste: deterioração causada pelo uso, atrito entre peças, movimento de partes,
etc. Podem surgir falhas devido a esses processos de deterioração. Para a prevenção,
é importante saber como ocorrerão os desgastes de acordo com o tempo para que
ações sejam realizadas na manutenção.
• Fadiga: ocorre geralmente em partes que recebem aplicação de forças elevadas
progressivamente. Limites excedidos, vibrações ou flexões podem conduzir à fadiga
do material. Pode originar-se através de pequenas fissuras, arranhões, etc.
• Corrosão: alteração de uma estrutura (metálica, plástico, etc.). Pode resultar de
oxidação (contato com o ar) ou contato com outra substância. A corrosão pode
aparecer em aeronaves que permanecem por períodos prolongados em inatividade.
Os pneus expostos ao vento, calor, frio e chuva são exemplos de oxidação devido à
demasiada exposição a estes fatores. O clima deve receber especial atenção nas
operações aéreas, pois pode demandar calendários de manutenção preventiva
diferentes dos originalmente concebidos pelo fabricante. O combustível parado
44
muito tempo pode sofrer contaminação bacteriana e corroer partes da aeronave
como tanques e tubulação de combustível.
45
programada, o objetivo será o de corrigir um desempenho abaixo do esperado. Caso
ocorra uma correção não programada, será uma intervenção para remover a causa e
corrigir os efeitos de alguma falha ocorrida de forma aleatória, buscando o
restabelecimento da condição operacional de um equipamento ou sistema.
3.3.4 Inspeções
As inspeções executadas no âmbito da manutenção aeronáutica geralmente
correspondem ao exame realizado nos aviões em intervalos regulares ou não, cujo objetivo é
controlar as condições para um voo seguro e/ou corrigir falhas conforme as especificações
previstas. Os dois tipos de inspeção conforme a regularidade são:
46
• Não Programada: instruções e procedimentos para ações de manutenção que
ocorrem de forma imprevisível. Um programa de manutenção aprovado por
autoridade competente não necessita conter instruções e padrões para realizar este
tipo de manutenção, mas devem ser utilizados manuais e demais especificações
aplicáveis ao tipo e modelo de aeronave.
➢ Programação
Nem sempre é possível prever todas as possíveis falhas e determinar as ações e
intervalos necessários para a manutenção. Ocorre, muitas vezes, a necessidade de serem
realizados ajustes devido à vulnerabilidades causadas por diversos fatores que contribuem
para a aceleração da degradação de algum componente ou até mesmo o surgimento de panes
imprevistas pelo fabricante. Climas extremos e erros de projeto podem fazer com que sejam
alteradas as programações de manutenção. Nestes casos, a ação programada por si só não se
constitui em barreira para auxiliar na prevenção, tornando-se insuficiente para barrar o
avanço de certas panes. Sendo assim, ao serem identificadas anormalidades, deverão ser
emitidos “boletins de serviço” para que todos os operadores do mesmo tipo de avião possam
prevenir ou sanar estes erros.
➢ Execução
Este tipo de vulnerabilidade envolve diretamente as empresas de manutenção. Eventos
como troca de turno, ausência de inspeção minuciosa em serviços realizados por outros,
procedimentos de reparo inadequados, cultura organizacional e comunicação podem tornar-
se fatores desencadeantes de acidentes. Atualmente, encontram-se em execução vários
programas de prevenção relacionados às empresas de manutenção, considerando estas como
parte inseparável da atividade aérea.
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1. Vídeo - Manutenção de grandes aviões. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=Vzeg68B2TdY
2. Texto - 10 Most Common Causes Of Fatal Aviation Accidents. Disponível
em: http://www.boldmethod.com/blog/lists/2016/08/10-most-common-fatal-
ga-accident-types/
3. Texto - 11 Silent But Deadly Killers Of Pilots. Disponível
em: http://www.boldmethod.com/blog/lists/2017/01/11-silent-but-deadly-
killers-of-pilots/
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Quais fatores contribuintes e erros existem em seu dia a dia? Elabore um pequeno
checklist que permita auxiliar a reduzir estas ocorrências. Como o fato de uma
aeronave parada para manutenção pode constituir-se em ganho de
produtividade?
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48
BRASIL, AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL. DIÁRIO DE BORDO. [S.l.: s.n.], 2002. 25p.
Disponível em:http://www.anac.gov.br/assuntos/legislacao/legislacao-1/iac-e-is/iac/iac-
3151/@@display-file/arquivo_norma/IAC3151.pdf . Acesso em: 10 abr. 2017.
49
UNIDADE IV
Fonte: http://yadley.com/wp-content/uploads/2017/02/AvSec-1024x600.png
Apresentação da Unidade IV
Bem-vindo a bordo desta unidade que nos levará ao conhecimento dos procedimentos
de segurança contra os atos de interferência ilícita na aviação. Aprenderemos os fatores que
nos permitirão identificar e contribuir para a prevenção dessas ocorrências. Veremos também
as consequências da ausência de práticas de segurança. Se você já voou alguma vez deve ter
reparado em todo o aparato existente nos grandes aeroportos como equipamentos de
vigilância e monitoramento, pessoal treinado e áreas de acesso restrito. De onde será que
vêm todas as necessidades e exigências para isso tudo? Como devem ser transportados artigos
perigosos?
Vamos juntos descobrir o que existe nos bastidores de um voo e que nos ajudam a
permanecer protegidos em questões de atos ilícitos. Apertem os cintos e vamos decolar para
nossa última unidade!
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4.1 ATOS DE INTERFERÊNCIA ILÍCITA NA AVIAÇÃO
Considera-se o seguinte como sendo ato ou atentado que coloca em risco a segurança
da aviação civil e o transporte aéreo:
Fonte: http://www.eurocontrol.int/sites/default/files/styles/colorbox-max/public/illustration/atm-security-
courses.jpg?itok=Fk7lerjf
O Anexo 17 da OACI, que trata do assunto, acrescenta que são atos ou “tentativas” de
atos que põem em risco a segurança da aviação civil, incluindo, mas não limitado à:
51
• destruição de uma aeronave em serviço;
• utilização de aeronave em serviço, com o objetivo de causar a morte, malefícios
corporais graves ou danos graves para a propriedade ou o ambiente.
Visando a mitigação das ocorrências relativas aos atos de interferência ilícita, foram
elaboradas várias ferramentas no formato de programas específicos buscando atender as
especificidades de cada segmento da aviação através de ações apropriadas a cada um deles.
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4.4 MEDIDAS DE SEGURANÇA CONTRA ATOS DE INTERFERÊNCIA ILÍCITA
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1. Texto - INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 106-DG/PF, DE 9 DE AGOSTO DE 2016
Estabelece procedimentos para o embarque de passageiro armado e para o
despacho de arma de fogo e/ou munições em aeronave privada e dá outras
providências. Disponível em: http://www.pf.gov.br/servicos-
pf/armas/embarque-armado/in-106-pf.pdf
_________________________________________________________________
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Figura 12 – Passageiro sob custódia
Fonte: http://i.dailymail.co.uk/i/pix/2013/06/17/article-2343272-1A5EA36B000005DC-277_634x353.jpg
Fonte: http://img.etimg.com/thumb/msid-57670434,width-310,resizemode-4/hoax-call.jpg
Pode ser qualquer tipo de comunicação sugerindo ou indicando que a segurança de uma
aeronave ou aeroporto ou outra instalação possa estar em perigo devido à presença de
artefatos explosivos. O documento que especifica sobre este tipo de ameaça é a IAC 107-1009
de caráter reservado da ANAC.
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4.6 TRÁFICO DE PESSOAS, ARMAS E COISAS
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Figura 14 – Principais rotas internacionais de tráfico de drogas
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/64/Drugroutemap.gif
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BRASIL, AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL. SEGURANÇA DA AVIAÇÃO CIVIL CONTRA
ATOS DE INTERFERÊNCIA ILÍCITA – OPERADOR AÉREO. [S.l.: s.n.], 2017. 46 p. Disponível em:
http://www.anac.gov.br/assuntos/legislacao/legislacao-1/rbha-e-rbac/rbac/rbac-108-emd-
01/@@display-file/arquivo_norma/RBAC-108-EMD-01.pdf. Acesso em: 11 abr. 2017.
BRASIL. Programa Nacional de Segurança da Aviação Civil Contra Atos de Interferência Ilícita
(PNAVSEC) n. 7.168, de 05 de maio de 2010. Programa Nacional de Segurança da Aviação
Civil Contra Atos de Interferência Ilícita (PNAVSEC). Dispõe sobre o Programa Nacional de
Segurança da Aviação Civil Contra Atos de Interferência Ilícita (PNAVSEC). Brasília, DF, p. 1-
100, maio. 2010. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/decreto/d7168.htm. Acesso em: 11 abr. 2017.
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Vimos juntos vários conceitos que tornam importante a necessidade da prevenção de
acidentes. Devemos agora buscar a conscientização e ações eficazes para que se produzam
resultados positivos. Cabe a cada profissional envolvido na atividade adquirir hábitos que
serão transformados em cultura de segurança. Talvez você nunca consiga mensurar sua
contribuição para esta nobre tarefa, mas se o seu exemplo influenciar alguém será um avanço
na conquista da preservação de recursos e vidas!
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