Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sabedoria
Revista Trimestral do Templo Tzong Kwan – Janeiro.19
Volume 95
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
SEJA BEM-VINDO!
Programação Tzong Kwan
Domingos
Domingos: 9h30 às 11h30 - Cerimônia (chegar com antecedência). As
cerimônias são conduzidas em chinês com tradução escrita em português.
Também há recitação de sutra em português.
3
Sumário
As Cinco Lembranças ..................................................... 6
Flores ............................................................................ 20
4
5
As Cinco Lembranças
(Do Livro “Fear - Essential Wisdom For Getting Through The Storm” - Thich Nhat Hanh)
de nossas próprias ações. O que temos pensado, dito e feito é chamado karma,
continua após o ato, e seus frutos nos seguem. Querendo esta herança ou não,
ela fica com a gente. Todos os nossos pertences e entes queridos, deixaremos
para trás, mas o nosso karma, o fruto de nossas ações, sempre nos acompanha.
Nós nunca podemos escapar disso, nós nunca podemos dizer: “Não, você não
6
A Fala Correta
(Do livro “A Essência dos ensinamentos de Buddha” – Thich Nhat Hanh)
7
(1) Falar sempre a verdade. Quando uma coisa é azul, nós dizemos
que ela é azul, e não roxa.
(3) Não falar com crueldade. Não gritamos, não caluniamos, não
amaldiçoamos, não provocamos sofrimento nem geramos ódio. Mesmo
aqueles que têm um bom coração e não querem ferir ninguém muitas
vezes permitem que saiam palavras tóxicas de sua boca. Nós carregamos
em nós as sementes do Estado de Buddha juntamente com os grilhões
das formações mentais. Quando dizemos algo venenoso, isso em geral se
origina da força do hábito. As palavras são muito poderosas. Elas podem
gerar um complexo em uma pessoa, tirar sua vontade de viver, ou mesmo
conduzir alguém ao suicídio. É preciso não se esquecer disso.
8
A Fala Correta
se baseia no
Pensamento
Correto.
9
Não queremos realmente ferir ninguém, mas acabamos dizendo coisas
que ferem. Temos a intenção de só dizer palavras de reconciliação e perdão,
e logo em seguida, dizemos algo cruel. Para regar as sementes da
paz que existem em nós, precisamos praticar a Atenção Plena
Correta enquanto estamos caminhando, sentados, de pé etc.
Com a Atenção Plena Correta, conseguimos ver claramente
nossos pensamentos e sentimentos, e identificar o que nos ajuda
e o que nos machuca. Quando os pensamentos saem de nossa
mente sob a forma de palavras, se a Atenção Plena Correta os
acompanhar
acompanhar,, teremos consciência do que dizemos e se isso é
útil ou pernicioso.
O alicerce da Fala Correta é ouvir com atenção
atenção. Se não
conseguimos escutar com consciência, não podemos praticar a Fala
Correta. Não importa o que dissermos, estaremos apenas relatando nossas
próprias ideias sem realmente responder ao que o outro disse.
No Sutra do Lótus,
somos aconselhados a
olhar e ouvir com os
olhos e ouvidos da
compaixão.
10
A escuta compassiva auxilia a cura. Quando alguém nos ouve desta
forma, sentimos alívio imediato. Um bom terapeuta sempre pratica a escuta
compassiva. Temos que aprender a fazer a mesma coisa para poder
ajudar aqueles que amamos, resgatando a comunicação com eles.
Quando a comunicação é cortada, todos sofremos. Quando ninguém
nos ouve ou entende, viramos uma bomba prestes a explodir.
Restaurar a comunicação é
uma tarefa urgente.
11
terapia, na esperança de que o terapeuta nos ouça. Mas muitos terapeutas
também carregam consigo uma dor profunda, e às vezes não conseguem
ouvir tão bem quanto gostariam. Assim, se você ama alguém, tente aprender
a ser um bom ouvinte. Torne-se um terapeuta. Você será o melhor terapeuta
do mundo para a pessoa que ama, se conseguir aprender a arte da escuta
atenta e compassiva.
12
de falar amorosamente. Por exemplo, um membro da família talvez esteja
sofrendo muito, mas mesmo assim, ninguém se senta calmamente para
ouvi-lo. Se existir alguém na família capaz de ouvir com o coração, pelo
menos durante uma hora, a pessoa que sofre terá a sensação de que sua
dor foi aliviada. Se você sofre e ninguém o escuta, o sofrimento permanece
lá. Mas, ao contrário, se alguém o ouve e compreende, você começa
imediatamente a sentir o alívio de ser ouvido por alguém.(...)
Algumas vezes, falamos intempestivamente e criamos pontos de
bloqueio nas outras pessoas. Dizemos: “Mas eu só estava dizendo a verdade.”
Talvez o que foi dito seja a verdade, mas se esta forma de falar causa
sofrimento desnecessário, então certamente não é a Fala Correta. A
verdade deve ser apresentada de uma forma que o outro seja
capaz de aceitar
aceitar.. PPalavras
alavras que ferem ou destroem não
representam a FFala
ala Correta
Correta.. Antes de falar
falar,, compreenda a pessoa
com quem você está falando. Considere cada palavra
cuidadosamente antes de dizer qualquer coisa, para que sua
fala seja correta na forma e conteúdo.
13
Sobre Aproveitar bem o T
(Palestra do Mestre Pu Hsien)
14
roveitar bem o Tempo
(Palestra do Mestre Pu Hsien)
É o dia de hoje.
15
Se nós não sabemos como usar este momento presente para fortalecer
nossos conhecimentos e sabedoria, vamos acabar jogando fora o precioso
tempo da vida. Vamos desperdiçá-lo assistindo algum programa chato de
TV, vendo essas coisas sem sentido. É uma tolice.
Portanto, as pessoas podem ser divididas nesses dois tipos: um deles
estaria em um ciclo positivo, o outro tipo estaria em um ciclo
vicioso
vicioso. Isso que chamamos de ciclo positivo, por exemplo,
acontece quando uma pessoa busca conhecimento sem cessar
cessar..
Conforme ela busca mais sabedoria, ela descobre novos saberes que valem
a pena; e quanto mais busca, mais coisas novas ela descobre. Ao fim,
quanto mais coisas novas ela encontra, tanto mais aumenta o seu inte-
resse: ela estuda cada vez mais alegremente.
A Universidade de Harvard nos Estados Unidos empreendeu uma pesquisa
de 12 anos. Eles pegaram uma centena de nomes entre estudantes
graduados na universidade e selecionaram alguns nomes famosos de
pessoas bem sucedidas em meio àquele grupo. Eles acharam que essas
pessoas tinham algo em comum: gostavam de estudar. Entre os dez
primeiros colocados, havia o costume de ler pelo menos 12 livros ao ano.
E trata-se de leitura a fundo. Não estamos falando de dar uma olhada no
livro, é estudo intensivo.
Essas pessoas de sucesso estudavam no mínimo 12 livros todos os anos.
Quantos uma pessoa normal costuma ler? Depois de casar, arrumar
responsabilidades, todos estão muito ocupados. O tempo para estudar
fica muito reduzido. Pegam um jornal para dar uma olhada, checam as
notícias e pronto. Quase não lêem nada mais profundo, sobre questões e
pensamentos profundos; e isso é uma pena.
16
Se vocês já foram ao Japão, repararam que os japoneses têm um
hábito? Eles gostam muito de ler. Mangás, revistas, todo tipo de publicações.
Eles nem sequer precisam comprar, pois há muitas revistas e jornais que
são deixados nos pontos de ônibus. Uma pessoa pode ler se quiser, depois
ela deixa no mesmo lugar. Quando ela termina de ver, não tem mais inte-
resse, ela deixa lá. Quando fui ao Japão, senti que o ponto mais
impressionante era este: quando os japoneses estão nos ônibus, se não
têm o que fazer, eles sempre lêem.
Outro dia desses, eu estava viajando até o sul (de Taiwan) dar uma
palestra. E que desastre! Dentro do vagão do trem, só se ouvia ruídos de
telefone, algumas pessoas gritavam bem alto; deviam pensar que estavam
na própria casa. Você tentava fechar os olhos para descansar um instante
e a pessoa voltava a gritar bem alto: “QUE HORAS VOCÊ VEM ME BUSCAR?
EU VOU CHEGAR...”
E repetia a mesma frase três vezes. Que assustador. Que bizarro. Como
é possível que ela não pense em ficar quieta um instante e ler um livro?
Esse é um problema cultural que temos aqui. Mas ainda há tempo para
melhorar isso.
Vivendo neste mundo, precisamos lembrar que estamos
avançando um passo após ou outro rumo ao ponto final da
velhice, doença e morte. Enquanto ainda não estamos velhos,
doentes e mortos, temos um par de olhos para ler; temos um
par de mãos e pernas para fazer as coisas.
Nós podemos aplicar o melhor dos nossos esforços, trabalhando em
busca de novos conhecimentos. Podemos recitar sutras
sutras,, mantras
mantras,, o
nome de Buddha; podemos fazer boas ações, investindo nossa
17
força física e nosso tempo em atividades significativas. Assim,
não vamos sentir que passamos o dia em vão. Não vamos sentir que nossa
vida é algo vão como uma folha em branco. Ao contrário, ela nos parecerá
uma verdadeira obra de arte colorida e deslumbrante.
Cada um de nós está pintando uma obra de arte, momento após
momento. Trata-se de uma pintura muito, muito grande. Primeiro, é
como se fizéssemos os contornos, onde se vêem montanhas, águas,
casas e plantas. E depois, nós começamos a preencher com cores:
quanto mais pintamos, mais nítida fica a imagem.
Se os dias se passam e vocês não estão colorindo a pintura ou, do
contrário, se estão colorindo aleatoriamente fazendo rabiscos, então vão
acabar com um desenho bagunçado e nada mais.
18
Hoje, aqui entre os contornos do desenho de nossa vida, vocês coloriram
alguma coisa? Se estiverem a rabiscar tudo de qualquer jeito, o quadro de
vocês vai acabar sem nenhum valor. Mas se nos esforçarmos diariamente
para colorir a vida, ao fim seremos capazes de compor um belo e
inspirador trabalho de arte; nossa vida estará repleta de sentido.
19
Flores
Dhammapada
20
Sândalo ou lavanda,
lótus ou jasmim,
de todas essas muitas fragrâncias,
a fragrância da virtude é suprema.
Dhp 55
21
Aprecie o Percurso
(Palestra do Mestre Pu Hsien)
22
Vamos supor que estamos fazendo alguma coisa. Isso vai ter um começo
e vai ter um fim, existem esses dois pontos. No meio entre esses pontos,
existe todo um processo. É como se quiséssemos sair de Taipei rumo à
Pingtung: Taipei é o ponto de partida, Pingtung é o destino final. Mas suponha
que começamos essa viagem pensando o tempo todo, preocupados:
•”Quando eu finalmente chegar em Pingtung, só então serei feliz”. Aí eu
pergunto: será que durante aquelas 4 horas de viagem entre Taipei e
Pingtung vamos estar felizes ou não? Não vai ter nem um pouquinho de
felicidade.
Se por acaso existe alguém dirigindo o carro para nós, podemos ir
apreciando a paisagem. Vamos admirando o azul do céu, as nuvens
brancas, as árvores e flores, as plantações... Todo tipo de cenário. Vamos
apreciando cada pedacinho da paisagem, tal como uma pintura, tal como
um sonho, ao longo desse trajeto.
Então, suponha que fiquemos preocupados pensando a cada instante:
•”Quando eu chegar em Pingtung, como será que vai ser?” Se você fica
com esse monte de expectativas, então ao começar a viagem talvez até
esteja animado, mas depois de 4 horas de trajeto... Não vai ter mais ânimo
nenhum. Pode ser que diga: “Quando eu chegar no meu destino, só então
serei feliz”. Só que chegando em Pingtung, você já estará morto de cansaço,
querendo dormir. E então, cadê a felicidade? Não tem. Por isso, precisamos
mesmo é apreciar o trajeto.
Apreciar todo o trajeto não quer dizer que ficamos em qualquer
lugar
lugar.. Mas
Mas,, antes
antes,, significa que ao nos engajarmos em algum
tipo de projeto, durante esse processo nós prestamos atenção
a cada detalhe, a cada parte do percurso. E assim seguimos
23
comprometidos até o fim. Com essa postura comprometida de
prestar atenção até o fim, é como se estivéssemos lidando
com a confecção uma obra de arte: dessa maneira apreciamos
todo aquele desenvolvimento.
Afinal, o processo é sempre longo. É como se quiséssemos construir
uma casa - o que levaria dois ou três anos. Aí vocês me dizem que depois
de terminar a casa eu serei feliz. Mas a bem da verdade, aquele
encerramento só dura um instante. Por que será que não pensamos no
processo completo de dois ou três anos que leva para construir a casa?
Nesse processo, é preciso planejar com cuidado: onde ficará o salão de
artes, como vai ser feito para economizar mais, como é possível extrair o
maior benefício daquilo... Não podemos desperdiçar espaço. A cada
instante, a cada momento, investimos nossos conhecimentos e habilidades
naquele processo de construir. Desse modo, estamos sempre concretizando
alguma coisa; cada coisinha que fazemos é percebida como significativa.
Se você me disser que só será feliz quando terminar de construir a casa,
então, lembre que o encerramento daquela construção só vai durar um
instante. E você vai ter perdido o processo como um todo, não é assim?
Portanto, aqui podemos ler: “o segredo da bem-aventurança não
está em chegar àquilo que perseguimos, não se trata de dizer
que seremos felizes só quando possuirmos alguma coisa ”. PPorque
coisa”. orque
do contrário, se neste instante eu ainda não tenho algo, então
não poderia ter felicidade. Mas não funciona assim. Nós podemos
encontrar a felicidade em meio ao esforço.
É como no caso de ler um livro. Vocês vivem dizendo que eu leio, leio e
leio... Mas se deixarmos para ser felizes apenas depois de adquirir todo
24
conhecimento das leituras, bem, isso já nem vai nos permitir apreciar um
livro. Quando lemos um livro, fazemos isso para apreciar o momento, para
desfrutar ali naquele instante das façanhas do autor ou dos sábios antigos.
Esse tipo de desfrute, esse tipo de deleite, permite que você se sinta cada
vez mais feliz conforme você lê mais. Você se alegra ao ler. Vocês já tiveram
ou não essa sensação?
É o mesmo quando recitamos sutras. Conforme recitamos, não dá sequer
vontade de ir comer ou dormir. Vocês já passaram por esse tipo de
experiência? Quando você está lendo um sutra muito interessante, seu
estômago não sente fome e você não pensa em comida, nem sente
vontade de ir passear lá fora, nem pensa em outra coisa qualquer. Não
pensa em nada. Você vai lendo uma página atrás da outra sem parar.
Entendendo o sentido profundo dos sutras, nos sentimos verdadeiramente
repletos com a alegria do Dharma! Isso não quer dizer que eu saio lendo só
para acabar com o livro e, depois de ouvir as palavras do Buddha e recitá-
las, ficar pensando: “meus méritos e virtudes são grandiosos!”. Não, esse
não é o propósito de se ler as escrituras. A ideia é que ao ler os sutras,
sua mente mergulha naquela alegria do Dharma; então quanto
mais você lê, mais feliz você fica
fica.. Você acaba passando pelas páginas
sem parar, pois está apreciando o conhecimento ali.
Por isso
isso,, a bem-aventurança não consiste em alcançar uma
coisa que perseguimos e só depois sentirmos felicidade. Ao
contrário, trata-se de encontrar a alegria bem antes, em meio
ao esforço que vai sendo aplicado durante todo o caminho.
25
A Revista Tzong Kwan é uma publicação trimestral, de distribuição gratuita e sem fins
lucrativos.
Doamos mais esta edição feita com todo amor e carinho desejando que ela possa
iluminar todas as pessoas que com ela tiverem contato, fazendo com que se afastem
para viabilizar esta edição; e aos que doaram recursos para que a revista fosse impressa.
Expediente
Diagramação e Layout: Carolina Castilho
Colaboradores: Sr. Henrique Pires, Sr. Lu e Sr. Marco Moura
26
27
Quadrinhos: Jingquing e o Barulho da Chuva 1) O Mestre Zen Jingquing
3 2
5 4