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Aula 02:

Princípios ou Regime Jurídico do Direito Administrativo.

Referência bibliográfica da aula:

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 30ª ed. São Paulo: Atlas, 2017, págs. 91/130.

MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017, págs. 107/167.

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1. Introdução.

Princípios são regras gerais que a doutrina identifica como condensadoras


dos valores fundamentais de um sistema. Os princípios informam e
enformam o sistema normativo. Informam porque armazenam e
comunicam o núcleo valorativo essencial da ordem jurídica. Enformam
porque dão forma, definem a feição de determinado ramo.

Celso Antônio Bandeira de Mello diz que “violar um princípio é muito mais
grave do que violar uma norma. A desatenção ao princípio implica ofensa
não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o
sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou
inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio violado, porque
representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores
fundamentais”.

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2. Regime Jurídico Administrativo.

Regime Jurídico Administrativo é o conjunto formado por todos os


princípios e normas pertencentes ao Direito Administrativo, assim como as
prerrogativas e restrições.

Regime Jurídico DA Administração designa os regimes de direito público e


de direito privado a que pode submeter-se a Administração Pública.

3. Supraprincípios Do Direito Administrativo.

São os princípios centrais dos quais derivam todos os demais princípios e


normas do Direito Administrativo. São dois:

a) supremacia do interesse público sobre o privado; e

b) indisponibilidade do interesse público.


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3.1. Supremacia do Interesse Público sobre o Privado.

Para Alexandre Mazza, o Princípio da supremacia do interesse público, está


implícito na atual ordem jurídica, significa que os interesses da
coletividade são mais importantes que os interesses individuais, razão
pela qual a Administração, como defensora dos interesses públicos, recebe
da lei poderes especiais não extensivos aos particulares.

Já para Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a noção de supremacia do interesse


público está presente no momento de elaboração da lei, assim como no
momento de aplicação da lei pela Administração Pública junto ao caso
concreto.

Observação: só existe a supremacia do interesse público primário sobre o


interesse privado. O interesse patrimonial do Estado como pessoa jurídica,
conhecido como interesse público secundário, não tem supremacia sobre o
interesse do particular.
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3.2. Indisponibilidade do Interesse Público.

A indisponibilidade do interesse público enuncia que os agentes públicos


não são donos do interesse por eles defendido. Assim, no exercício da
função administrativa os agentes públicos estão obrigados a atuar, não
segundo sua própria vontade, mas do modo determinado pela legislação.
Como decorrência dessa indisponibilidade, não se admite tampouco que os
agentes renunciem aos poderes legalmente conferidos ou que transacionem
em juízo.

Celso Antônio Bandeira de Mello conceitua interesse público como “o


interesse resultante do conjunto dos interesses que os indivíduos
pessoalmente tem quando considerados em sua qualidade de membros da
Sociedade e pelo simples fato de o serem”.

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Exceção: O supraprincípio da indisponibilidade do interesse público tem
sofrido mudanças , onde as principais são: a) nos Juizados Especiais
Federais, os representantes da Fazenda Pública são autorizados a conciliar e
transigir (art. 10, parágrafo único, da Lei n. 10.259/2001); b) utilização de
mecanismos privados para resolução de disputas, nas parcerias público-
privadas, inclusive a arbitragem, exclusivamente nos contratos de
concessão e permissão de serviço público.

4. Princípios Constitucionais Do Direito Administrativo.

Chamados também de princípios explícitos ou expressos, estão


diretamente previstos na Constituição Federal, previstos no caput do art. 37:

A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,


dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios
de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte:
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O rol de princípios constitucionais do Direito Administrativo não se esgota
no art. 37, caput, da Constituição. Há outros, quais sejam:

1) participação (art. 37, § 3º, da CF);

2) celeridade processual (art. 5º, LXXVIII, da CF);

3) devido processo legal formal e material (art. 5º, LIV, da CF);

4) contraditório (art. 5º, LV, da CF);

5) ampla defesa (art. 5º, LV, da CF).

Logo, ao todo são 10 (dez) os Princípios de Direito Administrativo


expressos ou explícitos na Constituição Federal. Os do caput do art. 37 são
os que possuem maior evidência.
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4.1. Princípio da Legalidade.

Conceito: a Administração Pública só pode praticar as condutas


autorizadas em lei.

Fundamentos do Princípio da Legalidade (CF/88): a) art. 37, caput; b) art.


5º, inciso II; e c) art. 84, inciso IV.

Diferença entre legalidade privada e legalidade pública:


a) Legalidade Privada, é permitido fazer tudo o que a lei não proíbe;
b) Legalidade Pública, o agente só pode fazer o que a lei permite.

Música:

Exceções: a) medida provisória; b) estado de defesa; e c) estado de sítio.

Teoria da Supremacia ou Sujeição: Geral e Especial.


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4.2. Princípio da Impessoalidade.

Estabelece um dever de imparcialidade na defesa do interesse público,


impedindo discriminações e privilégios indevidamente dispensados a
particulares no exercício da função administrativa.

Lei nº 9784/99 conceitua como a “objetividade no atendimento do


interesse público, vedada a promoção pessoal de agentes ou autoridades”
(art. 2º, parágrafo único, inciso III).

Princípio da Impessoalidade não se confunde com Princípio da Isonomia.

Desdobramento fundamental do princípio da impessoalidade é a vedação


da promoção pessoal (nomes, símbolos ou imagens) de agentes ou
autoridades, previsto no art. 37, § 1º, da Constituição Federal.

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4.3. Princípio da Moralidade.

Há diversas teorias que tenta explicar a relação entre direito e moral: a)


teoria do mínimo ético do filósofo inglês Jeremias Bentham e do jurista
alemão Georg Jellinek ; b) teoria dos círculos independentes de Hans
Kelsen; e c) teoria dos círculos secantes de Claude Du Pasquier.

A moralidade administrativa difere da moral comum. O princípio jurídico da


moralidade administrativa exige respeito a padrões éticos, de boa-fé,
decoro, lealdade, honestidade e probidade incorporados pela prática diária
ao conceito de boa administração.

O art. 2º, parágrafo único, inciso IV, da Lei nº 9784/99 define a moralidade
nos processos administrativos como um dever de “atuação segundo
padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé”.

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Logo, sempre que em matéria administrativa se verificar que o
comportamento da Administração ou do administrado que com ela se
relaciona juridicamente, embora em consonância com a lei, ofende a moral,
os bons costumes, as regras de boa administração, os princípios de justiça e
de equidade, a ideia comum de honestidade, estará havendo ofensa ao
princípio da moralidade administrativa.

Instrumentos para defesa da moralidade: a) Súmula Vinculante n. 13 do


STF; b) Ação Popular (art. 5º, LVIII, da CF e Lei n. 4.717/65); c) Ação Civil
Pública de Improbidade Administrativa; d) Controle externo exercido pelos
Tribunais de Contas (art. 70 da Constituição Federal); e) Comissões
Parlamentares de Inquérito – CPIs (art. 58, § 3º, da Constituição Federal); e
f) Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/92).

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4.4. Princípio da Publicidade.

O princípio da publicidade pode ser definido como o dever de divulgação


oficial dos atos administrativos. Tal princípio encarta-se num contexto geral
de livre acesso dos indivíduos a informações de seu interesse e de
transparência na atuação administrativa.

Como os agentes públicos atuam na defesa dos interesses da coletividade, a


proibição de condutas sigilosas e atos secretos é um corolário da natureza
funcional de suas atividades.

Ao dever estatal de garantir a publicidade de seus atos, corresponde o


direito do administrado de ter ciência da tramitação de processos
administrativos em que tenha a condição de interessado.

Música:
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O princípio da publicidade engloba dois subprincípios do Direito
Administrativo:

a) princípio da transparência: abriga o dever de prestar informações de


interesse dos cidadãos e de não praticar condutas sigilosas;

b) princípio da divulgação oficial: exige a publicação do conteúdo dos atos


praticados atentando-se para o meio de publicidade definido pelo
ordenamento ou consagrado pela prática administrativa.

A publicidade dos atos administrativos constitui medida voltada ao


cumprimento das seguintes finalidades: a) exteriorizar a vontade da
Administração Pública divulgando seu conteúdo para conhecimento
público; b) tornar exigível o conteúdo do ato; c) desencadear a produção
de efeitos do ato administrativo; d) permitir o controle de legalidade do
comportamento.

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O próprio texto constitucional definiu três exceções ao princípio da
publicidade, autorizando o sigilo nos casos de risco para: a) a segurança do
Estado (art. 5º, XXXIII, da CF). Exemplo: informações militares; b) a
segurança da sociedade (art. 5º, XXXIII, da CF) . Exemplo: sigilo das
informações sobre o interior de usina nuclear para evitar atentados
terroristas; c) a intimidade dos envolvidos (art. 5º, X, da CF). Exemplo:
processos administrativos disciplinares. Também a lei de acesso a
informação .

Também a Lei Nacional nº 12.527/2011 – Lei de Acesso a Informação, traz


algumas restrições.

4.5. Princípio da Eficiência.

Acrescentado no art. 37, caput, da Constituição Federal pela Emenda n.


19/98, foi um dos pilares da Reforma Administrativa que procurou
implementar o modelo de administração pública gerencial.
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A eficiência seria o modo pelo qual se exerce a função administrativa. A
eficácia diz respeito aos meios e instrumentos empregados pelo agente. E
a efetividade é voltada para os resultados de sua atuação

A preocupação com a eficiência é refletiva em diversos institutos do Direito


Administrativo no Brasil, especialmente: a) Estágio probatório (art. 41 da
CF); b) Contrato de gestão das agências executivas (art. 37, § 8º, da CF); c)
Duração razoável dos processos administrativos (art. 5º, LXXVIII, da CF); d)
Parcerias da Administração Pública (p. ex.: parcerias público-privadas (Lei
n. 11.079/2004); concessões e permissões de serviço público (Lei n.
9.897/99)).

5. Outros Princípios Administrativos previstos na Constituição Federal.

5.1. Princípio da Participação (art. 37, § 3º, da CF): de acordo com tal
princípio, a lei deverá estimular as formas de participação do usuário na
administração pública direta e indireta.
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5.2. Princípio da Celeridade Processual (art. 5º, LXXVIII, da CF): O referido
princípio assegura a todos, nos âmbitos judicial e administrativo, a razoável
duração do processo.

5.3. Princípio do devido processo legal formal e material (art. 5º, LIV, da
CF): A norma disposta no art. 5º, LIV, da CF prescreve que a privação de
liberdade ou de bens só poderá ser aplicada após o devido processo legal.

5.4. Princípio do Contraditório (art. 5º, LV, da CF): Por força do princípio do
contraditório, as decisões administrativas devem ser tomadas
considerando a manifestação dos interessados. Para isso, é necessário dar
oportunidade para que os afetados pela decisão sejam ouvidos antes do
resultado final do processo.

5.5. Princípio de Ampla Defesa (art. 5º, LV, da CF).

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6. Princípios Infraconstitucionais.

Os princípios do Direito Administrativo não se esgotam no plano


constitucional. A doutrina faze referência a diversos outros princípios
administrativos, muitos dos quais estão previstos na legislação
infraconstitucional, especialmente no art. 2º, parágrafo único, da Lei nº
9.784/99:

“A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da


legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade,
moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse
público e eficiência”.

Importante frisar que a falta de previsão constitucional não significa menor


importância diante dos princípios diretamente mencionados no Texto Maior.
Princípios infraconstitucionais e doutrinários têm a mesma relevância
sistêmica daqueles referidos na Constituição Federal.
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6.1. Princípio da autotutela.

Este consagra o controle interno que a Administração Pública exerce sobre


seus próprios atos. Como consequência da sua independência funcional
(art. 2º da CF), a Administração não precisa recorrer ao Judiciário para
anular seus atos ilegais e revogar os atos inconvenientes que pratica.

Está consagrado no art. 53 da Lei n. 9.784/99: “A Administração deve anular


seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los
por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos”.

O dispositivo enfatiza a natureza vinculada do ato anulatório (“deve anular”)


e discricionária do ato revocatório (“pode revogá-los”).

Obs: Não confundir com Princípio da Tutela.

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6.2 Princípio da obrigatória motivação.

O princípio da obrigatória motivação impõe à Administração Pública o


dever de indicação dos pressupostos de fato e de direito que
determinaram a prática do ato (art. 2º, parágrafo único, VII, da Lei nº
9.784/99).

Assim, a validade do ato administrativo está condicionada à apresentação


por escrito dos fundamentos fáticos e jurídicos justificadores da decisão
adotada.

Está prescrito no art. 50 da Lei nº 9.784/99 o dever de motivação dos atos


administrativos, sejam eles atos vinculados ou atos discricionários.

O art. 93, inciso X, da CF, refere-se a motivação tão somente dos Tribunais
e do Ministério Público.
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O Professor MAZZA sustenta que uma cronologia do ato administrativo:

- Motivo: o fato concreto autorizador do ato.


- Ato: a decisão administrativa praticada.
- Motivação: a justificativa por escrito do fundamento que levaram a
prática do ato.

Sustenta que havendo a inversão ou a supressão de um dos elementos,


importa em nulidade do processo administrativo.

Exceções: Motivação Dispensada, ocorre quando há motivação é evidente,


inviável e na nomeação ou exoneração de cargos comissionados.

Teoria dos Motivos Determinantes: afirma que o motivo apresentado


como fundamento vincula a validade do ato administrativo.

Música:
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6.3. Princípio da Finalidade.

O princípio da finalidade está definido no art. 2º, parágrafo único, II, da Lei
n. 9.784/99, como o dever de “atendimento a fins de interesse geral,
vedada a renúncia total ou parcial de poderes ou competências, salvo
autorização em lei”.

Seu conteúdo obriga a Administração Pública a sempre agir, visando à


defesa do interesse público primário.

Há dois sentidos: a) finalidade geral; b) finalidade específica.

Desvio de finalidade, desvio de poder ou tredestinação ilícita é o defeito


que torna nulo do ato administrativo.

Música:

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6.4. Princípio da Razoabilidade e da Proporcionalidade.

Ser razoável é uma exigência inerente ao exercício de qualquer função


pública. No Estado de Direito não se pode admitir a utilização de
prerrogativas públicas sem moderação e racionalidade.

No Direito Administrativo, o princípio da razoabilidade impõe a obrigação


de os agentes públicos realizarem suas funções com equilíbrio, coerência
e bom senso. Não basta atender à finalidade pública predefinida pela lei,
importa também saber como o fim público deve ser atendido. Trata-se de
exigência implícita na legalidade.

Já proporcionalidade é um aspecto da razoabilidade voltado à aferição da


justa medida da reação administrativa diante da situação concreta. Em
outras palavras, constitui proibição de exageros no exercício da função
administrativa.

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6.5. Princípio da Responsabilidade.

Estabelece o art. 37, § 6º, da Constituição Federal: “As pessoas jurídicas de


direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos
responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de
dolo ou culpa”.

Teoria da Responsabilidade Objetiva do Estado.

6.6. Princípio da Segurança Jurídica.

Também chamado de proteção à confiança legítima, teoria dos atos


próprios, vedação do venire contra factum proprium, autolimitação
administrativa, ou vinculação aos precedentes.

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O princípio da segurança jurídica é um fundamento geral do ordenamento,
sendo aplicável a todos os ramos do Direito.

Seu conteúdo volta-se à garantia de estabilidade, ordem, paz social e


previsibilidade das atuações estatais. Visa propiciar segurança e estabilidade
no convívio social, evitando mudanças abruptas, sobressaltos e surpresas
decorrentes de ações governamentais.

Está previsto no art. 2º, caput e no parágrafo único, inciso XIII, da Lei nº
9.784/99:

“A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da


legalidade, ..., segurança jurídica, interesse público e eficiência”.

“XIII – interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta


o atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa
de nova interpretação”.
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Está diretamente ligado com o princípio da boa-fé e da confiança legítima.

No Direito Administrativo, a boa-fé objetiva, que deve ser demonstrada


tanto pela Administração quanto pelos particulares, aplica-se nos contextos
do contrato administrativo e da responsabilidade pré-negocial do Estado.

O princípio da segurança jurídica pode ser analisado sob dois aspectos:

Sentido objetivo, estabelece limites à retroatividade dos atos estatais,


impedindo que prejudiquem o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a
coisa jul ga da (art. 5º, XXXVI, da CF).

Sentido subjetivo, é também denominado de princípio da proteção à


confiança legítima, onde seu conteúdo exige uma previsibilidade emanada
dos atos estatais, proibindo a contradição na Administração Pública. A
proteção à confiança só pode ser invocada pelo particular, nunca pelo
Estado.
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Em nome do princípio da proteção à confiança legítima, é possível obter a
manutenção de atos administrativos ilegais, sempre com o objetivo de
preservar a paz social e a estabilidade das relações.

6.6.1. Subprincípio da Autovinculação da Administração.

A teoria da autovinculação, ou autolimitação, afirma que a Administração


Pública não pode promover alterações repentinas no seu padrão
decisório, pois a adoção reiterada de uma certa forma de agir, decidir ou
interpretar suscita a confiança dos cidadãos e, diante de um caso
semelhante, a Administração não pode simplesmente abandonar
imotivadamente o modo como vinha decidindo.

Como decorrência dos princípios da igualdade, boa-fé e segurança jurídica,


a doutrina considera que hoje a Administração encontra-se autovinculada
aos seus precedentes.
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6.6.2. Princípio da Vedação do Venire Contra Factum Proprium.

A vedação do venire contra factum proprium proíbe que a Administração


Pública adote comportamento contraditório com postura anteriormente
por ela assumida.

É mais uma teoria do que um subprincípio, pois tutela a confiança do


particular e a coerência dos atos públicos, pois seria deslealdade com a
contraparte criar uma aparência e depois quebrar a confiança com atos
contraditórios.

6.7. Princípio da Boa Administração.

Impõe o dever de, diante das diversas opções de ação definidas pela lei para
prática de atos discricionários, a Administração Pública adotar a melhor
solução para a defesa do interesse público. O princípio da eficiência é um
desdobramento do dever maior de boa administração.
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6.8. Princípio do Controle Judicial ou da Sindicabilidade.

Preceitua que o Poder Judiciário detém ampla competência para investigar a


legitimidade dos atos praticados pela Administração Pública, anulando-os
em caso de ilegalidade (art. 5º, XXXV, da CF: “a lei não excluirá da apreciação
do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”).

6.9. Princípio da Continuidade do Serviço Público.

O princípio da continuidade veda a interrupção na prestação dos serviços


públicos.

Exceção: art. 6º, § 3º, da Lei nº 8.987/95, autoriza o corte no fornecimento


do serviço, após prévio aviso, nos casos de: a) razões de ordem técnica ou
de segurança das instalações; e b) inadimplemento do usuário.

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6.10. Princípio da Descentralização ou Especialidade.

O princípio da descentralização ou especialidade recomenda que, sempre


que possível, as funções administrativas devem ser desempenhadas por
pessoas jurídicas autônomas, criadas por lei especificamente para tal
finalidade. É o caso das autarquias, fundações públicas, empresas públicas e
sociedades de economia mista (art. 37, XIX, da CF).

6.11. Princípio da Presunção de Legitimidade.

Como são praticados de acordo com lei, os atos administrativos são


protegidos por uma presunção relativa (juris tantum) de que foram
praticados em conformidade com o ordenamento jurídico. Por isso, até
prova em contrário, os atos administrativos são considerados válidos para o
Direito, cabendo ao particular o ônus de provar eventual ilegalidade na sua
prática.
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6.12. Princípio da Isonomia.

O princípio da isonomia é preceito fundamental do ordenamento jurídico


que impõe ao legislador e à Administração Pública o dever de dispensar
tratamento igual a administrados que se encontram em situação
equivalente. Exige, desse modo, uma igualdade na lei e perante a lei.

Atos administrativos e leis não podem desatender a esse imperativo de


tratamento uniforme. Seu fundamento constitucional é o art. 5º, caput, da
Constituição Federal.

Exceção é o tratamento desigual entre os desiguais, pois não caracterizam


violação à isonomia as diferenciações realizadas pela lei e pela
Administração Pública quando houver coerência entre a distinção e o
tratamento diferenciado decorrente.

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6.13. Princípio da Hierarquia.

Estabelece as relações de coordenação e subordinação entre órgãos da


Administração Pública Direta.

A hierarquia é princípio imprescindível para a organização administrativa,


pois a subordinação hierárquica só existe relativamente às funções
administrativas, não em relação às legislativas e judiciais. Dessa
subordinação decorrem prerrogativas para a Administração, como: a) rever
atos dos subordinados; b) delegar e avocar competências; c) punir os
subordinados.

6.14. Princípio do Controle ou da Tutela.

Garante a Administração Pública direta o poder de fiscalização das


atividades das entidades da Administração Pública indireta, visando
verificar se o objeto de suas finalidades institucionais está sendo garantido.
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Lei nº 13.655/2018 – Inclui no Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942 (Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro), disposições sobre segurança jurídica e
eficiência na criação e na aplicação do direito público:

“Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores
jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.

Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou da


invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possíveis
alternativas.”

“Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação de
ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas
consequências jurídicas e administrativas.

Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar as
condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos
interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das
peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos.”

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“Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as
dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos
direitos dos administrados.
§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste, processo ou
norma administrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado
ou condicionado a ação do agente.
§ 2º Na aplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida, os
danos que dela provierem para a administração pública, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e
os antecedentes do agente.
§ 3º As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria das demais sanções de
mesma natureza e relativas ao mesmo fato.”

“Art. 23. A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou


orientação nova sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo novo dever ou novo
condicionamento de direito, deverá prever regime de transição quando indispensável para que o
novo dever ou condicionamento de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e
eficiente e sem prejuízo aos interesses gerais.
Parágrafo único. (VETADO).”

“Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de ato,
contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado levará em
conta as orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de
orientação geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas.
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Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações e especificações contidas em atos
públicos de caráter geral ou em jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e ainda as
adotadas por prática administrativa reiterada e de amplo conhecimento público.”

“Art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação do direito
público, inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade administrativa poderá, após oitiva do
órgão jurídico e, quando for o caso, após realização de consulta pública, e presentes razões de
relevante interesse geral, celebrar compromisso com os interessados, observada a legislação aplicável,
o qual só produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial.
§ 1º O compromisso referido no caput deste artigo:
I - buscará solução jurídica proporcional, equânime, eficiente e compatível com os interesses gerais;
II – (VETADO);
III - não poderá conferir desoneração permanente de dever ou condicionamento de direito
reconhecidos por orientação geral;
IV - deverá prever com clareza as obrigações das partes, o prazo para seu cumprimento e as sanções
aplicáveis em caso de descumprimento.

“Art. 27. A decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, poderá impor
compensação por benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou injustos resultantes do processo ou da
conduta dos envolvidos.
§ 1º A decisão sobre a compensação será motivada, ouvidas previamente as partes sobre seu
cabimento, sua forma e, se for o caso, seu valor.
§ 2º Para prevenir ou regular a compensação, poderá ser celebrado compromisso processual entre os
envolvidos.” Direito Administrativo – Prof. Esp. Cesar Augustus Mazzoni – © 2019
“Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em caso de
dolo ou erro grosseiro.

“Art. 29. Em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade administrativa, salvo
os de mera organização interna, poderá ser precedida de consulta pública para manifestação de
interessados, preferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada na
decisão. Vigência
§ 1º A convocação conterá a minuta do ato normativo e fixará o prazo e demais condições da consulta
pública, observadas as normas legais e regulamentares específicas, se houver.

“Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na aplicação das
normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a consultas.
Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter vinculante em relação ao
órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão.”

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Bibliografia da aula:

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 30ª ed. São Paulo: Atlas, 2017:
Capítulo 3, Regime Jurídico Administrativo. Números 3.1. a 3.3.15.4.

MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017:
Capítulo 2, Princípios. Números 2.1 a 2.9.

Bibliografia das músicas:

MAZZA, Alexandre. Canal Youtube:

Legalidade: https://www.youtube.com/watch?v=9N6G-1uqDbw
Autotutela: https://www.youtube.com/watch?v=KpqllvIFouQ
Motivos Determinantes: https://www.youtube.com/watch?v=f5kHefbPsRs
Finalidade: https://www.youtube.com/watch?v=Wx-DozKl7NQ
Razoabilidade e Proporcionalidade: https://www.youtube.com/watch?v=Cm6EEuh0zJs

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