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Paul Hirst- Renovar a Democracia através de Associações

A Democracia Associativa voltou como uma doutrina, na sequência de reformas políticas no seio de
vários países.

As questões residentes no seu âmago são:

• O maior número possível de actividades sociais deveria ser devolvido a associações voluntarias
independentes – tal questão iria reduzir a complexidade estatal e permitir que os mecanismos
clássicos democráticos de um governo representativo funcionassem melhor.

• Tais associações voluntárias independentes deveriam, quando possível substituir as formas de


poderes corporativos hierárquicos, dando assim aos interesses afectados uma voz e
promovendo assim um governo consentido por parte da sociedade e não meramente formal no
âmbito estatal.

• Outra questão é que muitas das funções públicas essenciais, como a providência de saúde,
educação e bem-estar, deveriam ser providos por estas associações voluntárias e em retorno
estas receberiam fundos públicos por o fazer.

Os Associativistas defendem que o Estado deveria realizar funções centrais que seriam assegurar a paz
pública, decidindo normas e mobilizando recursos para fins públicos.

Ao contrário das doutrinas económicas liberais que procuram limitar as funções do Estado e expandir
o campo de acção do mercado, os Associativistas procuram expandir a operância do governo
democrático na sociedade civil.

Também promovem a escolha através da competição, como acontece nas doutrinas de mercado
livre, mas fá-lo dando aos indivíduos a opção de se moverem entre associações não-lucrativas. O
indivíduo tem uma voz dentro das associações e a opção periódica de se mover entre elas. Tal
combinação obriga as associações a atenderem às necessidades dos seus membros, uma vez que se a
“voz falhar”, a saída pode tornar-se num desafio efectivo e promover a oligarquia.

O Associativismo é visto como uma “terceira via” entre o Mercado Livre Capitalista e o Estado
Socialista Centralizado. O Associativismo demonstrou um declínio a partir do ano de 1920 devido ao
sucesso de movimentos políticos pedindo um estado socialista e o aumento de uma concentração do
poder estatal que seria inevitável numa época de conflitos sociais e internacionais; contudo retornou
como uma doutrina de reforma social e renovação democrática.

Esta doutrina defende que alem de existir um estado que promova o bem-estar, deveriam recorrer a
cidadãos, escolhidos para organizar, apelando e defendendo os diferentes interesses individuais
contudo baseados em direitos básicos públicos e comuns. Assim os indivíduos poderiam superar o
fornecimento público básico distribuído de acordo com o estatuto de associado e assim melhorar os
serviços de forma a irem ao encontro das suas necessidades.

O Associativismo tem o mérito, ao contrário da maioria das doutrinas políticas, de confrontar o facto
de que bens e serviços, o publico e privado, são maioritariamente providenciados por organizações
grandes e hierarquicamente dirigidas. Consumidores, apenas através da sua “voz” têm pouco controlo
sobre corpos como este, e frequentemente não têm uma opção real de saída.
Os correntes processos de privatização de serviços públicos e a conversão de corpos governamentais
em agências quase autónomas reinforça a sociedade organizacional e “mancha” a divisão entre as
esferas pública e privada.

De todas as reformas doutrinárias, apenas o Associativismo, dá o merecido reconhecimento à


realidade de uma sociedade organizacional e procura dirigir o problema, democratizando
instituições na sociedade civil e descentralizando o Estado. Quanto à questão da difícil divisão entre
as esferas pública e privada, o Associativismo tenta resolver o problema tentando instalar mecanismos
de governação democrática nas instituições de cada esfera.

A Crise de uma Democracia actualmente existente

A democracia defronta problemas, em parte devido ao facto de ser o “único jogo” em questão e não
enfrenta alternativas políticas de oposição reais.

A Democracia tem de ser legitimada através dos seus próprios valores, e ao que parece tem cada vez
mais falhado no teste. Os Sistemas políticos que não enfrentam competidores tenderão a estagnar
devido à falta de desafios externos.

O Problema real é que a Democracia, como sistema político requer um nível mínimo de
compromisso público e participação popular.

Primeiro, há um grande declínio de participação política nas democracias maduras, e tais tendências no
são recentes em países como os EUA, mas começam agora a expandir-se para países que
demonstravam antes um forte recorde de participação politica como a Suíça. Tal facto poderia ser visto
como um grande nível de satisfação relativo ao trabalho do Estado, e ainda a uma indiferença quanto
ao facto de quem ganhas as eleições, este pensamento não é de todo suficiente nem pode explicar a
baixa afluência nas eleições.

A declinação da participação está a par de uma alienação da política e insatisfação com os


políticos.

As eleições já não conferem uma legitimidade duradoura devido à baixa afluência e ao seu
consequente carácter pouco representativo.

O governo e as políticas eleitorais estão cada vez mais fundidos. As políticas são muitas vezes
adoptadas a curto-prazo, de modo a influenciar os media, e pacificar a opinião pública, e este processo
de campanha eleitoral permanente começa a ter um feed back negativo na opinião pública.

Em segundo lugar, os Estados começam a ser vistos como entidades que perderam capacidade de
governação, devido à globalização e mudança da esfera pública para privada relativamente à
providência de serviços.

O âmbito da acção política diminuiu consideravelmente.

Não é verdade que todos os Estados se tornaram mais fracos como resultado da globalização da
economia, contudo tanto os políticos como os media estão convencidos pelo fenómeno da globalização
tentando assim convencer o público que o Estado pode fazer muito menos do que alguma vez fez. A
globalização, torna-se numa maneira ou é usada como razão para se tomarem algumas medidas
com o estatuto de” inevitáveis”, e é também uma maneira de travar as expectativas dos cidadãos
quanto ao que as politicas podem realmente realizar.
Em terceiro, as bases sociais da participação democrática e pluralismo democrático inseridas
numa forte cultura de associações voluntárias são ameaçadas por uma forte percepção de um
declínio na participação política, assim as pessoas não só não votam como também não se juntam e
são os partidos políticos e as associações não politicas que consequentemente sofrem.

Há muitas razões para o declínio da acção voluntária, e os argumentos de Putnam são familiares. É
importante reconhecer que a vida social moderna não facilita a acção colectiva tradicional, quer
explicitamente politica ou no sector voluntário. A tendência que vai de encontro à “homecentredeness”
e consequentemente promove o individualismo é paralela ou é acompanhada pelo crescimento da
diversidade de valores e de um pluralismo nos estilos de vida, e tais factos explicam que quando os
indivíduos se juntam a comunidades, tais comunidades são comunidades de “escolha” ou seja
previamente avaliadas pelo indivíduo de forma a concluir uma inclusão do mesmo, e não por uma
mera via do destino. Tais tendências tornam o fenómeno associativo mais frágil.

Em quarto lugar, é um facto fundamental que o âmbito tanto da democracia como das
associações voluntarias é limitado nos países mais avançados devido ao facto de eles serem
sociedades organizacionais.

A concepção clássica do governo representativo enfrentou uma arquitectura social definida composta
por: um estado limitado e uma sociedade civil auto-reguladora, mas hoje em dia as sociedades
modernas não são auto-reguladoras nem o estado moderno é limitado, ambas as esferas públicas e
privadas são dominadas por grandes organizações hierarquicamente geridas. Desde o ano de 1970 que
as mudanças nas estruturas organizacionais tornaram a acção de governação das organizações mais
difícil.

As agências estatais passaram a ser vistas como negócios comerciais e os políticos substituíram a
noção de transparência administrativa por uma contabilidade política.

A sociedade civil foi deixada de parte enquanto as grandes companhias passaram a dominar não só as
actividades de economia clássica mas também os serviços públicos precedentes e actividades de lazer,
como consequência os cidadãos não tem credibilidade nem como empregados nem como
consumidores, estes tem pouca escolha quanto a maneira como os serviços públicos serão distribuídos,
a maioria dos cidadãos trabalha em organizações nas quais não são de maneira nenhuma consultados.

A sociedade organizacional não fomenta os valores democráticos da consulta de interesses afectados,


através de uma decisão ou participação num debate político relativo às políticas, em vez encoraja o
controlo hierárquico e denota uma passividade por parte dos controlados.

Em suma as novas pressões reforçaram o controlo “Top-Down”: organizações públicas e privadas são
estruturas que formam a base de uma mudança incessante que resulta das iniciativas da gerência e
ainda de uma pressão vinda do mercado.

O trabalho já não providencia uma base de associação para os indivíduos, e assim eles adaptam-se
passivamente e de uma maneira conformista, procurando o controlo através da esfera privada, assim as
organizações tem um efeito que enfraquece a possibilidade de uma democracia activa dos cidadãos.

Se estas 4 tendências se mostrarem reais e irreversíveis, então o governo democrático está na


direcção de uma verdadeira crise.

As Democracias modernas minimizaram o valor do compromisso e do papel activo dos cidadãos


necessário para o seu funcionamento, mas ainda assim elas requerem uma base mínima de
participação das massas no processo político formal e ainda uma junção a associações de
interesse que a segurem. A democracia moderna requer um pouco mais do que uma classe politica
cínica impelindo o poder através dos votos de uma minoria assente em cidadãos que sofrem de uma
atitude “comatosa” politica.

Os teóricos políticos como Dahl e Tocqueville, definiram o papel das associações secundárias
como centrais na providência de bases institucionais que assegurem o pluralismo político e
tornem a contestação política multipartidária viável.

Putnam questionou como é que uma democracia americana poderia permanecer saudável se as
raízes das associações voluntárias fora das políticas formais estivessem atrofiadas.

Putnam acredita que o perigo está no desenvolvimento de uma sociedade popular contudo pós-politica,
ou seja uma sociedade que seja culturalmente senão economicamente igualitária, mas simultaneamente
que sofre com falta de elites culturais e de uma chefia política de qualidade. Baixos níveis de
participação política significam que a agenda política está presa às acções de uma determinada
menoridade e também pouco típica. Um sistema popular com uma cultura de massas despolitizada e
um público dissociado, aumenta os perigos de uma tirania da maioria.

Poderá parecer pretensioso no contexto, propor o papel das associações no governo como uma
estratégia para a renovação democrática. A democracia associativa parece apoiar-se nas mesmas fontes
de participação e voluntarismo que por sua vez as evidências sugerem que estão em declínio em vários
países, contudo as soluções associativistas não requerem um grande nível de actividade e são capazes
de cooperar com grandes organizações.

A Democracia Associativa é a única doutrina que se foca explicitamente no papel das


organizações e propõe uma maneira de viabilizar o governo representativo reduzindo o fardo
que assenta nas suas instituições. Existem reformas urgentes, e pelas quais as soluções apresentadas
pela Democracia Associativa são as opções mais viáveis, havendo formas de agenciamento politico
que podem trabalhar com o objectivo de implementar esses soluções.

Tais soluções iriam providenciar novas formas de associação e governação localizando a democracia
no lugar das simples decisões que as pessoas tomam no dia-a-dia. A Democracia Associativa não
enfrenta grandes competidores no campo da construção de instituições (A Democracia Deliberativa
parece oferecer uma solução para os níveis baixos de participação politica, mas por essa mesma razão
torna-se fracamente inclusiva, pois na pratica aceita a não -participação e cria fóruns onde as vozes de
alguns se levantam por um todo, e tal não é resposta para o problema da inclusão muito menos para o
problema da alienação).

A única maneira de dar voz aos indivíduos é dar-lhes formas simples de poder que os mesmos possam
usar sem grande esforço como uma prática do dia-a-dia, e não converter um conjunto de pessoas a uma
elite deliberativa que aconselha os seus “managers” de como fazer políticas para um todo.

Turbulência Social e Acção Colectiva

As sociedades não podem funcionar sem um grupo relativamente estável de instituições que
sirvam de âncora para os cidadãos, formando expectativas dotados de uma perspectiva de
realização pessoal. Por tal razão a Democracia requer um nível mínimo de capital social (formas
de associação que atendam às nossas expectativas e que nos façam confiar tanto nas autoridades como
nos outros cidadãos). Assim os indivíduos poderão estender os seus compromissos a outros e ao
futuro, aceitando assim a mudança.

Uma mudança que não garante mecanismos que compensem o risco levando assim a expectativas
minadas e violadas, e a uma falta de oportunidades para se elevar a nossa “voz” de modo a desafiar os
resultados, acaba por prejudicar tanto a democracia como a solidariedade social.

Indivíduos sem poder, ameaçados pela mudança e sem fontes para se adaptar à mesma tendem a
recorrer à passividade, ou a ser apanhados pelas soluções simplistas dos demagogos, e obviamente que
tanto uma acção como outra prejudicam a democracia.

É importante denotar que as ameaças às bases da ordem da vida social são um fenómeno moderno. Se
considerarmos por exemplo a industrialização em Inglaterra. Era esperado que os trabalhadores
suportassem os custos de todos os riscos que os mesmos corressem e que as suas famílias também, ou
seja problemas como o desemprego, saúde, luto e a idade avançada. Como resposta à falta de
mecanismos os trabalhadores criaram a sua própria sociedade civil e um Estado que promovesse um
bem-estar. Elas criaram através do Movimento Cooperativo, as sociedades amigáveis, que eram
associações e igrejas locais que estabilizavam a sua existência e providenciavam uma assistência
mútua.

Tal situação mostra que o Capital Social pode ser construído a partir de condições que não parecem
promissórias e onde a existência de redes e relações de confiança é baixa.

O problema é que o contrário também é possível: Culturas aparentemente robustas com instituições
voluntárias e uma boa reserva de capital social podem também ser destruídas. (exemplo Naples, tinhas
uma das culturas mais ricas em associações tradicionais, até que as mesmas foram minadas pelos
imprevisíveis Bourbons que defendiam uma politica deliberativa de “dividir e governar”.)

Outro exemplo da destruição de associações são as sociedades em construção. Estas associações


mútuas eram a principal fonte de providência de financiamento para a compra de casa e ainda
constituíam um veículo de preservação de poupanças. Estas associações sofreram muito com a
destruição das associações que começou no ano de 1980. A este tipo de associações faltavam-lhes
defensores intelectuais articulados que se opusessem à crise que se instalou pos-1970 e que institui os
mercados livres. O problemas é que as associações não redefiniram as suas doutrinas para as novas
condições modernas nem modernizaram as suas instituições. Na falta de uma estratégia como
alternativa acabaram por ser controlados por administradores convencionais que eram autorizados a
comportar-se como qualquer outro sector executivo privado e que tinham um grande interesse
financeiro na perca do carácter “mútuo” das instituições, assim a mutualidade das instituições tornou
se apenas noutra forma de propriedade, que se tornava fraca quando confrontada com outros
administradores e tornava-se assim ainda mais fraca pois não existia uma lógica de mercado que
disciplinasse esses administradores.

Uma vez destruídas instituições como estas eram difíceis de recriar.

No século XIX as condições sociais em Inglaterra eram favoráveis à construção de novas instituições.
O carácter físico das fábricas citadinas de tamanha médio favorecia a acção colectiva. Os
Trabalhadores estavam concentrados em minas e fabricas, contudo a associação nunca foi espontânea,
requeria agências e liderança, e tal não necessitaria de ser dirigido pelo Estado mas necessitava sim de
políticas públicas que favorecessem a associação ou pelo menos não a impedissem.
Contudo, uma reconstrução como esta necessitaria de novas formas substitutas de acção colectiva,
diferentes daquelas que trabalharam no princípio do séc. XIX e que assim iriam atrapalhar as
condições sociais actuais. Também eram necessárias novas formas de associação, já não eram
suficientes as velhas formas activistas de participação.

Uma sociedade civil global, estaria a ser formada em reposta ao falhanço das políticas nacionais e em
resposta ao âmago das instituições internacionais formais como o FMI e o Banco Mundial.

Numa via similar Castells, realçou o crescimento saliente das redes sociais na internet, ou seja do
trabalho em rede e o papel em declínio das instituições formais. As “networks” referidas por Castells
são construídas baseando-se na interacção logo podem ser apelidadas como formas de associação.

O tipo de associações necessárias para renovar a Democracia a nível nacional são instituições,
focalizadas primeiramente a nível nacional preocupando-se com a provisão de serviços. Essas
instituições são voluntárias contudo têm regras, elas persistem no tempo e são inclusivas na medida em
que se alguém não subscrever aos seus objectivos não se poderá juntar a elas. Estas instituições
estáveis são necessárias para gerir o risco e a incerteza.

Redes sociais construídas por ligações entre associações, com mecanismos robustos que assegurem
uma conformidade, são um suplemento válido para estender a escala e o âmbito da governação
associativa. Elas ajudam a ultrapassar o problema da acção colectiva criada pela dispersão social.
Contudo estas associações virtuais não podem substituir as associações reais, elas podem contudo
ajudar na formação de associações encontrando novos membros a um baixo custo.

Questões vistas como fulcrais na renovação associativa

Questões a ter em conta na reforma, e para as quais o governo associativo é uma solução possível, há
três razoes principais: auto-governação da sociedade, governação corporativa, e a disponibilização
de bem-estar.

Em primeiro lugar os “Welfare States” no mundo desenvolvido estão sob um aumento de


pressão vindo de três fontes principais: aversão aos impostos, uma população envelhecida e
conflitos relativos ao conteúdo dos serviços. Em todas estas áreas uma mudança para uma provisão
que provenha das associações teria benefícios distintos.

As pessoas estão mais dispostas a pagar por serviços com os quais se identifiquem, para usufruir das
vantagens do consumo colectivo, os cidadãos têm de sentir que os bens valem a pena. (podemos usar
como exemplo o caso da Dinamarca)

Para a maioria dos cidadãos, a provisão colectiva é necessária, uma vez que eles não podem aceder a
todos os serviços e contingências no mercado livre.

No caso da “UK” a solução seria reformar o “Welfare State” para que os consumidores tivessem um
controlo mais directo sobre os serviços, habilitando-os a gerir as suas próprias necessidades e também
aumentar os fundos básicos estatais com as suas próprias contribuições adicionais.

A “UK” pode ser um exemplo extremo de uma centralidade e controlo por parte do Estado, mas
mostra porque é que os elementos associativos e mútuos de sistemas de outros países necessitam de ser
preservados e melhorados.
As políticas públicas não deveriam desencorajar uma participação forte nem as associações locais, uma
mudança na fonte de onde derivam as provisões, vindas agora das associações, poderia fazer com que
as provisões se estendessem mais e melhor, e também que abarcassem membros com compromissos
limitados. A possibilidade de sair, fazendo possível mudar periodicamente de e entre agentes que
fomentam serviços, sem grande complexidade ou uma penalidade financeira, é um dever central da
Democracia. Promovia-se assim a escolha individual e uma possibilidade de coacção relativa a
performances insatisfatórias, ou seja faria com que se evitassem as mesmas.

Converter as organizações em associações mútuas, com uma opção de saída é a chave que permite
desafiar a Sociedade Organizacional.

Por último na agenda promotora de bem-estar, há uma questão fulcral relativa ao modo como os
serviços são providos, que é distinta da quantidade existente desses serviços. É importante referir que
há valores bastante diversos: Os indivíduos tem ideias bastante diferentes de como a educação e saúde
deveriam ser, e como tal deveriam ser acomodados numa provisão pública dos serviços.

Uma das coisas que as pessoas querem escolher na maneira como os serviços são providenciados é o
local. As grandes organizações procuram inevitavelmente racionalizar e centralizar as provisões de
serviços, pois na sua óptica seria mais “eficiente”, e na prática não é bem assim.

Uma provisão associativa dá às localidades a opção de escolher serviços menos elaborados contudo
acessíveis, que estejam no seu controlo.

Há também uma crescente necessidade de acomodar comunidades pluralistas com diferentes valores e
padrões. A solução óbvia seria abraçar esse pluralismo e aceitar uma governação paralela por uma
comunidade de associações, seriam diferentes comunidades a desenvolver diferentes padrões lado a
lado. Esta ideia não é apoiada por Sociais-democratas tradicionais nem por Republicanos que
acreditam numa “provisão universal” e no consenso político.

Contudo nos estamos mais perto do consenso politico do que alguma vez tivemos, todas as forças
politicas significativas aceitam o pluralismo, a Democracia representativa e a primazia do mercado. Os
partidos de direitas podem querer excluir os refugiados e migrantes mas não podem impor uma
homogeneidade cultural e eles sabem-no.

Há duas maneiras de acomodar comunidades com um perfil auto-regulador: a excepção geográfica e


regras paralelas. Antes as leis principais não eram aplicáveis a certas zonas especiais (como é o caso da
tolerância localizada em zonas de prostituição e cannabis na Holanda). Agora as comunidades aplicam
as suas próprias leis costumeiras aos seus membros, e tais práticas ajudam a dissolver a maioria dos
conflitos que concernem aos padrões sociais. Contudo o Estado continua a ser o árbitro que decide
quais as leis que têm primazia, e é ainda uma democracia representativa onde a maioridade tem a
opção de “insistir” que certas leis têm de ser aplicáveis a todos.

Dar poder a comunidades minoritárias vai provavelmente promover mais a sua adaptação à sociedade
pluralista, do que se forem utilizadas politicas de assimilação.

Facilitar serviços para a comunidade através de fundos públicos disponíveis para as associações que
sejam proporcionais aos seus membros, é uma maneira de permitir o controlo local e prevenir a
alienação. Tal não se aplica apenas a menoridades étnicas e religiosas.

Muitos interesses são deficitariamente servidos pelo sistema existente. Uma sociedade com
comunidades fortes irá mais provavelmente sustentar uma democracia, embora seja uma comunidade
conflituosa e contestatária, do que uma sociedade que seja sustentada por indivíduos passivos e
isolados.

Está latente uma necessidade de renovar a governação das organizações, nós vivemos numa sociedade
organizacional, contudo as formas de controlo das grandes organizações tanto públicas como privadas,
têm vindo a atrofiar. Seria impossível afirmar que o governo corporativo encarna bem as suas funções
políticas, quase nenhum aspecto do sistema corrente é satisfatório, de accionistas passivos a fracos
directores executivos a auditores complacentes são tudo falhas do sistema. É essencial rever
alternativas para as estruturas corporativas.

As carreiras corporativas respiram não hábitos democráticos mas sim personalidades complacentes e
conformistas. A baixa contabilidade institucional dentro das companhias é acompanhada pela falta de
desafios externos provenientes de instituições alternativas.

É pouco provável que qualquer reforma generalizada de uma governação corporativa seja possível
num futuro próximo. As pessoas iriam identificar essa reforma com o Socialismo.

Em suma este artigo examina a crise corrente da moderna democracia representativa e como o
Associativismo poderia contribuir para a sua resolução. Democracia poderia ser renovada a partir de
duas condições: primeiro o fardo localizado nas instituições representativas por serviços públicos
complexos teria de ser reduzido mas sem reduzir os serviços públicos e em segundo lugar o papel das
instituições não estatais de forma a promover os hábitos de associação e participação.

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