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1. INTRODUÇÃO
2. CARACTERIZAÇÃO DA TURMA
O Colégio Salesiano fica no bairro de Nazaré, e é uma das instituições de ensino mais
tradicionais de Salvador. Fundado em 1900, hoje oferece a educação infantil, o ensino
fundamental e o médio a aproximadamente 1.600 educandos, sendo 600 destes no ensino médio.
O Grupo AMME é uma atividade extra-curricular oferecida a estudantes do ensino
médio, ou seja, jovens entre 14 e 18 anos de idade, com todos os questionamentos e inquietações
inerentes à adolescência. Todos os interessados são aceitos no grupo: não há teste de seleção, e
sim de classificação vocal. Todas as decisões concernentes a temas abordados, repertório, aulas
extras, horários, responsabilidades, apresentações, são tomadas pelos coristas, incentivando a
relação dialógica no processo de ensino-aprendizagem, bem como a identificação com o grupo e
com o trabalho produzido.
Em 2007, o grupo possuía 28 integrantes, sendo 21 meninas e sete meninos. Em 2008,
eram 20 coristas, sendo 12 meninas e oito meninos.
3. METODOLOGIA
As aulas do Grupo AMME têm periodicidade semanal, com duração de três horas, e
possuem geralmente quatro partes, mas sempre com a preocupação de obter uma execução
contínua, sem quebras entre os diversos momentos. Apresentam-se, a seguir, as quatro etapas
referidas.
A) SENSIBILIZAÇÃO E INTEGRAÇÃO
Nesta parte, são realizadas dinâmicas de apresentação e integração, exercícios de
respiração, relaxamento, alongamento e aquecimento corporal, e exercícios de concentração,
atenção e prontidão. São desenvolvidas, também nesta parte da aula, atividades que objetivam
fortalecer o grupo e tornar participativo o processo de montagem do musical.
B) PREPARAÇÃO VOCAL
Neste momento, realiza-se o aquecimento vocal, enfocando a emissão de voz, a
afinação, a articulação, a dinâmica. São utilizados vocalizes, em graus conjuntos com o âmbito
máximo de uma sexta maior, e canções com movimentação e deslocamento, ambos com
transposição ascendente e descendente em semitons.
O aquecimento é fundamental para o desenvolvimento físico, mental e emocional dos
coristas. “No momento do aquecimento, o professor percebe melhor cada membro do grupo
identificando as suas limitações e possibilidades e, a partir daí, trabalha com cada um deles
buscando ajudá-los a superar as dificuldades e desenvolver as suas potencialidades” (LEILA
DIAS, 2004, apud SANTA ROSA, 2006, p. 50). Este momento é, geralmente, realizado em pé, e
em roda, por ser um recurso importante para valorizar todos os componentes do grupo. O
“círculo é o formato democrático perfeito, pois, nele, cada pessoa é tão importante quanto a
pessoa vizinha” (WHITE, 1999, apud DIAS; SANTA ROSA, 2007, p.3). Além disso, “é
benévolo manter-se distante de qualquer tipo de hierarquia (quanto a diretor e ator, solista e
coro). Manter-se em roda evita esse tipo de problema” (WHITE, 1999, apud DIAS; SANTA
ROSA, 2007 p.3).
C) MUSICALIZAÇÃO
Nesta etapa, são realizados exercícios rítmicos, com batimentos, movimentação e
deslocamento, percepção e reprodução de células percussivas, trabalhando a coordenação
motora, a percepção e a execução rítmica percussiva.
D) REPERTÓRIO
Neste instante, acontece a formação de repertório do coro, definido em função da
montagem do musical.
Desde as aulas iniciais do ano letivo, estimula-se nos coristas a montagem de um
espetáculo próprio, a partir de músicas populares brasileiras que tratem do tema escolhido pelo
grupo para ser desenvolvido no espetáculo. A esse respeito, os PCN’s afirmam que:
canções brasileiras constituem um manancial de possibilidades para o ensino da
música com música e podem fazer parte das produções musicais em sala de
aula, permitindo que o aluno possa elaborar hipóteses a respeito do grau de
precisão necessário para a afinação, ritmo, percepção de elementos da
linguagem, simultaneidades, etc. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2000, p.76-
77)
Sabe-se da importância em cada corista trazer sua bagagem musical para as aulas. Um
ensino de arte comprometido com a humanização dos jovens e do mundo contemporâneo, com a
democratização do acesso à arte deve objetivar ampliar “o alcance e a experiência artística dos
alunos, partindo daquela que eles trazem se seu meio sociocultural” (PENNA, 2003, p. 39).
Solicita-se aos coristas, então, que apresentem sugestões de músicas a serem trabalhadas no
curso e que possam integrar o musical, com a consciência de que “a alegria, o prazer, a
identificação, a aprendizagem, o envolvimento, a produção do fazer músico-vocal no grupo
perpassam o repertório” (TORRES et al, 2003, p.71). A intenção é possibilitar a exposição de
idéias, a troca de experiências, a construção da crítica, o exercício da liderança e a
experimentação do ato de ceder, vivenciando a construção de uma prática que reflita a verdade e
a história do grupo. Entretanto, o educador não se isenta de sua responsabilidade de apresentar
canções ao coro, de modo a ampliar seu horizonte musical, e para apreciação e deliberação
acerca da sua utilização no musical.
A partir da aprovação da canção pelo grupo, trabalha-se a sua execução, que pode ser
em uníssono, a duas, três ou quatro vozes. Todos os arranjos são criados ou adaptados pelo
educador, sempre tendo em mente a adequação à formação do coro. Recorre-se, sempre que
possível, a contracantos com melodias em graus conjuntos, pouco saltos, notas repetidas, e
pequeno âmbito. Tal atitude vem da preocupação em propiciar uma rápida assimilação, a
memorização, e a sincronia com a dança, por parte dos coristas.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em 2007, foi montado o musical “Um jeito de ser criança”, acerca do tema “infância”.
Em 2008, foi a vez de “Ame – É impossível ser feliz sozinho”, acerca do tema “amor”. A
realização dos espetáculos revelou-se extremamente gratificante para os educandos, coroando o
processo educativo. Os musicais também tiveram ótima repercussão entre o público presente.
A interdisciplinaridade presente na construção do musical oferece um leque de
possibilidades de desenvolvimento pessoal. No Grupo AMME, o educador sempre está mais
atento às questões pertinentes à educação musical, contemplando as outras abordagens de acordo
com as suas experiências pessoais e o seu bom senso. É evidente que o envolvimento de outros
profissionais devidamente qualificados aprofundaria o processo de ensino-aprendizagem, e
potencializaria o desenvolvimento dos educandos.
5. REFERÊNCIAS
AQUINO, Julio Groppa. Confrontos na sala de aula: uma leitura institucional da relação
professor-aluno. São Paulo: Summus Editorial, 1996.
DIAS, Leila Miralva Martins; SANTA ROSA, Amélia Martins Dias. Companhia Artística Viver
Bahia: identificando os elementos educacionais na prática de musicais. ANPPOM: Associação
Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música. Congresso da ANPPOM, XVII, 2007, São
Paulo. Disponível em <http://www.anppom.com.br/anais/anaiscongresso_anppom_2007/
educacao_musical/edmus_LMMDias_AMDSRosa.pdf> Acesso em 26 de maio de 2009.
PENNA, Maura. A proposta para Arte dos PCNEM: uma análise crítica. In: PENNA, Maura
(coordenadora). O dito e o feito. Política educacional e arte no ensino médio. João Pessoa:
Manufatura, 2003, p. 37-55.
SANTA ROSA, Amélia Martins Dias. A construção do musical como prática artística
interdisciplinar na educação musical. 184 f. Dissertação (Mestrado em Música) – Programa de
Pós-Graduação em Música / Educação Musical, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2006.