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CANTO CORAL
INFANTOJUVENIL
REFLEXÕES E AÇÕES
CANTO CORAL INFANTOJUVENIL
REFLEXÕES E AÇÕES
Organização
Débora Andrade (UFSJ/UFJF)
Ana Lúcia Gaborim-Moreira (UFMS)
Comissão Científica
Dra. Amanda Valiengo (UFSJ)
Dra. Jussara Rodrigues Fernandino (UFMG)
Dr. Marcus Vinícius Medeiros Pereira (UFJF)
Dr. Modesto Flávio da Fonseca (UFSJ)
Dra. Nilcéia da Silveira Protásio Campos (UFG)
Dra. Regina Finck Schambeck (UDESC/SC)
Dr. Sérgio Luiz Ferreira de Figueiredo (UDESC/SC)
Dra. Silvia Maria Pires Cabrera Berg (USP)
Dra. Silvia Garcia Sobreira (UNIRIO/UFPB)
Dra. Teresa da Assunção Novo Mateiro (UDESC/SC)
Ilustração da capa
Wesley Jesus dos Santos
32.200 kb ; PDF
ISBN 978-65-88887-00-4
CDD: 782.5
CDU: 78.087.681
APRESENTAÇÃO .........................................................................................................................................................5
Ana Lúcia Gaborim-Moreira
Débora Andrade
Este livro nasceu do desejo de reunir di- crianças em um grupo, a faixa etária, a dura-
ferentes experiências de regentes brasileiros ção, a periodicidade e a organização dos con-
junto a corais infantojuvenis, com o intuito teúdos a serem ensinados em cada ensaio, as
de compartilhar saberes, técnicas e orienta- especificidades relacionadas à voz infantil, a
ções práticas diversas. Obviamente, por mo- escolha do repertório e as condições neces-
tivos variados e incontroláveis, muitas outras sárias para a realização dos concertos, pelas
importantes experiências não compõem este crianças.
material - motivo que nos faz desejar que mui- No segundo capítulo, a autora Betânia
tos outros livros nasçam dessa ideia. Sabemos Discacciati nos apresenta uma revisão biblio-
que são poucas as publicações nacionais vol- gráfica a respeito das mudanças fisiológicas
tadas especificamente para o trabalho coral que ocorrem no sistema fonador do adoles-
infantojuvenil, contudo, percebemos que a cente, das possíveis classificações vocais, bem
produção de artigos e o número de comuni- como orientações de como utilizar alguns
cações realizadas em congressos científicos exercícios vocais, durante essa fase.
têm crescido, nos últimos anos, no Brasil. Considerando importante proporcionar
Não pretendemos apresentar, nesta no canto coral um espaço para a liberdade de
obra, soluções inquestionáveis pelo campo. expressão da criança, no qual ela tenha a opor-
Pelo contrário, este material apenas oferece tunidade de exteriorizar seu conhecimento,
algumas referências, que devem ser, analisa- suas emoções e sua individualidade, a autora
das, contextualizadas e, portanto, confron- Ilcenara Serafim Klem trata no terceiro capítu-
tadas com a experiência – ou inexperiência lo de um assunto pouquíssimo abordado pela
– do(a) leitor(a). Espera-se, ainda, que essas literatura coral: a criação. Neste capítulo, a re-
referências possam levar leitores à reflexão, à ferida autora nos relata sua experiência, junto
compreensão e ao pensamento crítico sobre ao coral infantil do Centro de Musicalização
o trabalho coral - e assim, impulsionar cresci- Infantil da Universidade Federal de Minas
mento e revitalização nessa área. Gerais, relacionada à composição de um mu-
Dito isso, apresentamos os capítulos e sical, tendo como referência literária um con-
seus autores, a seguir: to do escritor Rubem Alves.
O primeiro capítulo traz informações ba- No quarto capítulo, a autora Patricia
silares da formação de coro infantil. A autora Costa nos apresenta reflexões a respeito da
Gisele Cruz discorre sobre o número ideal de utilização do recurso cênico em corais infantis
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
e jovens, como um veículo para a expansão frentados em sua trajetória como regente de
dos sentidos, que colabora para o desenvol- coros infantojuvenis em diversos contextos,
vimento do indivíduo e do coro. Além de dis- juntamente com alguns possíveis caminhos
correr sobre as diferentes fases do desenvolvi- e soluções encontrados ao longo de sua car-
mento corporal da criança e do adolescente, reira de professora e pesquisadora. O texto,
a autora fornece ideias de como os recursos apresentado em forma de conferência expan-
cênicos podem ser utilizados, nesse contexto. dida, é embasado pela própria tese da autora,
Distante do interesse de fornecer uma na qual é analisado o trabalho desenvolvido
receita universal de como escolher o repertó- junto ao PCIU! – Projeto Coral Infantojuvenil
rio musical para um coro infantojuvenil, a au- da UFMS (Universidade Federal de Mato Gros-
tora Vivian Assis propõe uma reflexão sobre so do Sul). A referida tese recebeu Menção
os objetivos e os critérios envolvidos nesse Honrosa na área de Linguística, Letras e Artes
processo de escolha das canções. E embora do “Prêmio Tese Destaque USP 2016” e cons-
se considere as especificidades de diferen- titui um material de referência para regentes
tes contextos corais infantojuvenis, a autora e pesquisadores do canto coral infantojuvenil.
alerta para a importância de que essa esco- No capítulo seguinte, Lilia Valente nos
lha abra possibilidades de colocar em prática apresenta o “Gran Finale: Festival Nacional de
conceitos vocais e musicais, tais como afina- Corais Infantis e Jovens” como um importan-
ção, respiração, dicção, dinâmica, altura, ritmo te espaço de formação de regentes brasilei-
e timbre. ros. Além de traçar um histórico do referido
Considerando o gestual de regência evento, que chegou à sua décima quarta edi-
como uma importante forma não-verbal de ção, a autora reflete sobre os impactos que
comunicação, a autora Débora Andrade reflete o evento causou na formação de regentes,
no sexto capítulo sobre a influência que esse coros e coristas, além de apresentar os frutos
gestual pode exercer sobre a sonoridade de das ações desenvolvidas ao longo dos anos.
coros infantojuvenis. Num primeiro momento, Por fim, o nono capítulo reúne doze
baseada numa revisão bibliográfica, a autora compositores, quais sejam Ana Lúcia Gaborim-
apresenta expressões gestuais que extrapolam Moreira, Betânia Discacciati, Bruna Oliveira,
a técnica convencional de regência, bem Ciro Canton, Daisyane Isabel Costa Detomi,
como os efeitos que eles podem causar na Débora Andrade, Elda Cecília, Ian Guest, João
expressão vocal. Num segundo momento, Paulo Luiz Aparecido Silva, Jomar Marques
ao apresentar exemplos musicais, a autora de Lima, Laura Cândida e Lilian Dias. Estes
reflete sobre a escolha do compasso a ser compositores nos brindam com quatorze
regido, atentando para o fato de que nem canções que vão do uníssono à divisão de
sempre o compasso proposto na partitura é o três vozes, criadas especialmente para o
que melhor comunica aos coralistas o caráter público infantojuvenil, tendo respeitadas suas
expressivo desejado. especificidades vocais.
No sétimo capítulo, a autora Ana Lúcia Desejamos, sinceramente, que as refle-
Gaborim-Moreira leva os leitores a refletir so- xões e ações aqui registradas possam auxiliar
bre a sua própria formação e ação, enquanto os regentes de corais infantojuvenis na con-
regentes e educadores musicais. A autora traz dução dessa atividade, tão prazerosa e
um pouco das dificuldades e desafios en- necessária aos nossos jovens músicos.
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COMO MONTAR UM CORAL INFANTIL
Gisele Cruz
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GISELE CRUZ
COMO MONTAR UM CORAL INFANTIL
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GISELE CRUZ
COMO MONTAR UM CORAL INFANTIL
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O local é muito importante para o bom Mesmo frente às dificuldades, atue com
desempenho de qualquer apresentação mu- segurança. As crianças são muito sensíveis ao
sical, e pode interferir nos resultados. Para medo e ao desgaste e o regente será sempre
que o coro sinta-se seguro e à vontade, visite a referência.
o local com antecedência e teste a acústica es- Preferencialmente, o coro deve iniciar
talando os dedos, batendo palmas ou cantan- e terminar a apresentação com as peças que
do, sempre caminhando pelo local para sentir mais gosta de cantar, isso também fará o gru-
se há pontos onde o som tem melhor ou pior po sentir-se confiante. As músicas mais elabo-
reverberação. A partir daí planeje como será radas (ou estreantes) devem compor o meio
o posicionamento do coro (número de filas, do programa. Ao fazer a ordem do programa,
agrupamento das vozes, uso ou não de prati- intercale diferentes gêneros, períodos e com-
cável) e dos instrumentos. positores para evitar a monotonia e garantir
Caso não seja possível comparecer pes-
o interesse da plateia do começo ao fim da
soalmente, deve ser obtido o máximo de in-
apresentação.
formação, como: dimensões de palco, coxias e
Tenha o cuidado de observar o local e a
plateia, número de poltronas, tipo de revesti-
ocasião; por exemplo, há igrejas que não ad-
mento, locais de entrada e saída do palco.
mitem determinado tipo de repertório, como
No dia da apresentação, é importante
música popular ou folclórica.
chegar o mais cedo possível e fazer ao me-
nos uma passagem de som e o reconheci-
mento do palco. Se for possível passe todo o Considerações Finais
programa.
Finalizando esse texto percebe-se, como
Qualquer material cênico a ser utiliza-
foi dito na sua introdução, que o assunto está
do durante a apresentação (cenário, figurino,
longe de ser esgotado. Montar um coro in-
adereço) deve estar presente nos últimos en-
fantil é atividade complexa que envolve pre-
saios e, principalmente, no ensaio geral. Ne-
paração, conhecimento, pesquisa constante,
nhuma novidade deve ser reservada ao grupo
sensibilidade, resistência física e aptidão por
para o dia da apresentação. Tudo deve ser tes-
parte do profissional que se dispõe a realiza-
tado com antecedência
É preciso conscientizar-se que erros an- la. Não sobrevive sem o comprometimento
tigos que já aconteciam durante o processo coletivo de instituições, crianças e suas famí-
não serão resolvidos no ultimo ensaio antes lias. É um projeto que despende uma grande
da apresentação. A atenção deve estar voltada energia, e como tal, deve ser calculado antes
para o todo, corrigindo-se apenas o essencial. de iniciado. Não é fácil. O cenário contempo-
Se for a estreia do grupo e você detectar râneo não é promissor; a geração dos nativos
que seus cantores estão inseguros, convide digitais prefere exercitar os polegares a utili-
algumas pessoas para assistir os ensaios que zar o corpo e a voz e, a música veiculada pelos
antecedem a apresentação. Procure simular meios de comunicação é pouco convidativa à
a situação da presença de público. É um bom prática vocal coletiva. Os processos educati-
momento para se avaliar a reação do grupo e vos, principalmente para as faixas etárias ini-
do regente frente a algum imprevisto. ciais, são constantemente desvalorizados.
É importante que o grupo sinta que No entanto, penso que apesar e em
você, o regente, está tranquilo e encare a razão de tudo isso, nunca foi tão necessário
apresentação como um momento agradável fomentar e manter a atividade coral infanto
que deve ser repetido sempre. juvenil.
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GISELE CRUZ
COMO MONTAR UM CORAL INFANTIL
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MUDA VOCAL MASCULINA E
PROCEDIMENTOS PARA A UTILIZAÇÃO DE
VOCALIZES
Betânia Discacciati
Introdução
Sabemos que ao iniciar o processo de coro infantil meninos de 08 a 12/13 anos de
mudança de voz, o adolescente enfrenta idade e como juvenil meninos de 12/13 anos
instabilidade no controle vocal. Durante a adiante. Já Costa (2017) enumera como coro
adaptação do sistema fonador pode ocorrer infantojuvenil a faixa etária de 10 a 14 anos
um período de desequilíbrio, o qual se deno- e coro juvenil a faixa etária de 14 a 18 anos.
mina Muda Vocal. O descontrole muscular é Segundo Gackle (1991), a mudança vocal na
característica principal da muda vocal mas- voz feminina acontece entre 11 e 16 anos,
culina e a voz torna-se momentaneamente em diferentes estágios. Já na voz masculina,
restrita e instável (OLIVEIRA 2007). Para que a segundo Barharm e Nelson (1991), a mudança
voz do adolescente se desenvolva de manei- pode ocorrer entre 12 e 18 anos. De acordo
ra saudável, o professor/regente deve estar com as idades estabelecidas pelos autores,
atento às mudanças que ocorrem no sistema a mudança vocal pode ocorrer em coralistas
fonador durante a puberdade. tanto do coro infantojuvenil quanto no coro
Apesar de apresentarmos as mudanças juvenil. Referindo-se ao nível de escolaridade,
fisiológicas que ocorrem no sistema fonador consideraremos que o coro infantojuvenil é
em ambos os sexos, os exercícios que aqui formado por alunos do sexto ao nono ano,
descrevemos foram retirados de materiais es- e o coro juvenil por alunos do ensino médio.
pecíficos para a voz adolescente masculina. Portanto, no contexto de escola regular, o
Este capítulo se restringirá à voz adolescente regente pode se deparar com alunos em muda
masculina, uma vez que este trabalho impõe vocal entre o sexto ano e o ensino médio.
mais desafios ao regente do que o trabalho O regente deve ter conhecimento da fi-
com vozes femininas em muda, porém o tra- siologia da voz para, assim, guiar seus alunos
balho com a voz adolescente feminina tam- através do canto saudável. Afim de esclarecer
bém deve ser realizado com atenção. algumas questões sobre a fisiologia vocal,
Os limites de idade que encerram durante a mudança de voz, iniciaremos o pre-
crianças e adolescentes no coro infantojuvenil sente capítulo com uma breve explicação do
não são consenso, entre diferentes autores. que ocorre no sistema fonador no período de
Jaramillo (2004), por exemplo, considera como muda vocal.
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BETÂNIA DISCACCIATI
MUDA VOCAL MASCULINA E PROCEDIMENTOS PARA A UTILIZAÇÃO DE VOCALIZES
Sundberg (2015) explica que as extremi- mento do aparelho fonador mostra um au-
dades anteriores das pregas vocais são fixadas mento de tamanho nos órgãos relacionados
na superfície interna da cartilagem tireóidea, à produção vocal. Isso resulta em um abaixa-
e as extremidades posteriores, nas cartilagens mento no registro vocal e aumento da capaci-
aritenóideas. Portanto a alteração do ângulo dade respiratória e ressonância, portanto um
da cartilagem tireóidea, como ocorre segun- maior volume de voz.
do descrito acima por Sataloff e Spiegel, altera
também o posicionamento das pregas vocais.
2 A classificação da voz
O abaixamento da laringe durante a
muda vocal, e o desenvolvimento das estrutu- adolescente masculina
ras oral-faciais relacionadas à ressonância, faz As mudanças que ocorrem na fisiologia
com que as vozes dos adolescentes ganhem do adolescente durante a muda vocal, podem
mais graves comparados à voz infantil devido acontecer de forma mais acelerada ou mais
ao ganho de formantes e harmônicos produ- retardada em diferentes indivíduos. Sendo
zidos na laringe (CARNASSALE, 1995). assim, cada adolescente pode estar em dife-
Sataloff e Spiegel apud CARNASSALE rentes estágios de mudança da voz. Duncan
(1995), Behlau, Azevedo e Pontes (2001) apud McKenzie (1956), Irvin Cooper (1973) apud
OLIVEIRA (2007), concordam que durante a Fridle (2005), Frederick Swanson (1977) apud
puberdade ocorre o crescimento das cavida- Cooksey (1999), e John Cooksey (1999), são os
des de ressonância da traqueia e dos pulmões. principais teóricos da classificação vocal ado-
O tórax se alarga e a capacidade vital respira- lescente durante a muda vocal. Mendonça
tória aumenta. Weiss (1950) apud ELORRIAGA (2012) utiliza a seguinte classificação:
(2011), diz que a cena global de desenvolvi-
Fonte: a autora
Por apresentar grande proximidade, em acrescentada a voz não mudada, sugerida por
extensão vocal, com o modelo apresentado Cooksey (Unchanged Voice – Extensão de Lá2
por Cooksey (1999) e por utilizar nomencla- a Fá4). Friddle (2005) ressalta a importância de
tura específica para vozes de adolescentes, não nomear as vozes adolescentes como as
próxima à de Cooper apud Looney (2015), vozes já maduras femininas, Soprano e Con-
assumiremos a classificação supracitada, tralto. Para o autor, os adolescentes têm o ego
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Figura 3: Exercício de controle vocal – Passando da voz não mudada para a voz mudada
O garoto que tiver a nota mais grave da zada para cada garoto, deve-se descobrir qual
sua extensão de voz não mudada (Unchanged a nota mais aguda e qual a nota mais grave da
Voice) abaixo da nota mais aguda da voz já sua extensão da voz não mudada. 2O exercício
mudada (Changed Voice), pode realizar o exer-
cício de treinamento para passar da voz de ca- 2 Segundo Miller (1986), a quebra vocal se refere à divisão dos re-
beça para a voz de peito sem que haja quebra gistros vocais e não à sua unificação. “ ’Breaks’ anti ‘lills’ may well re-
fer to existing register phenomena in a voice, but psychologically
na voz. Para definir qual tonalidade será utili- they tend to point up the divisions between registers rather than
their unification. Although it is obvious that in the terminology of
the Italian School there are also reminders of divisions, that ter-
1 “Teenage boys have fragile egos; their masculine identities are minology takes on a more gentle implication with its reference to
only beginning to formulate; thus, it is important to find names register transition points as primo passaggio and secondo passag-
that will allow them to feel comfortable in their newly assigned gio, with the zona di passaggio (the passage zone) lying between.”
section.” (FRIDDLE, 2005, p.46). MILLER, 1986.
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BETÂNIA DISCACCIATI
MUDA VOCAL MASCULINA E PROCEDIMENTOS PARA A UTILIZAÇÃO DE VOCALIZES
de controle de mudança de voz deve ser re- Ainda segundo McKenzie (1956) e
alizado em uma região onde as duas ou três Swanson apud Cooksey (2000), durante a
primeiras notas, de uma escala descendente, mudança vocal, pode ser que o menino não
estejam entre a região de conforto da voz não consiga cantar algumas notas no meio da
mudada e abaixo da área de quebra vocal. Na escala descendente. Essa região é nomeada
Figura 3, as notas Mi3, Ré3 e Dó3 estão na re- por McKenzie (1956) como Gap ou pode ser
gião da voz não mudada, e ainda as notas Si2 chamada de Blank Spot, segundo Swanson
e Lá2 (área de quebra vocal), também se en- apud Cooksey (2000) e Willis e Kenny (2007),
contram na região de voz não mudada. ou ainda Hole, segundo Leck (2009). De acor-
O menino deve ser instruído a cantar do com Swanson, esse Blank Spot apresenta
iniciando da voz não mudada, diminuindo o a extensão de Dó3 a Fá3, já McKenzie defen-
volume quanto mais se aproximar da área de de que pode ter a extensão de uma oitava.
quebra, levando a voz não mudada o mais Para Leck (2009) a extensão do Blank Spot
grave que conseguir e “manipular” a passagem normalmente é entre o Dó3 e a região de
para a voz mudada. Quando o menino sentir quebra vocal. McKenzie (1956) explica que
que está cantando com facilidade, ele poderá o garoto salta uma oitava ao cantar a es-
aumentar o volume do canto (McKENZIE, 1956). cala descendente, como mostra a Figura 4.
Caso haja o Blank Spot na voz do meni- a região do Blank Spot, ele poderá realizar os
no, deve-se pedir para que ele cante apenas exercícios supracitados projetados para do-
na região confortável de sua voz mudada. minar a quebra vocal (McKENZIE, 1956).
Portanto, parte de sua voz não mudada que Outro exercício sugerido para o contro-
ainda existe, não será utilizada. À medida que le da quebra vocal é o Yodel. O canto tirolês,
a voz mudada se desenvolver, a extensão au- ou Yodel, é proposto por McKenzie (1956). O
mentará para cima e para baixo e a região Yodel traz para o menino o controle de mu-
aguda de sua voz preencherá o Blank Spot. dança abrupta da voz de peito para o falsete,
Quando o menino cantar com facilidade toda preparando-o para cantar fora da extensão da
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voz mudada. O uso da técnica do canto tiro- facilmente. É importante ressaltar que a téc-
lês elimina o problema das notas agudas para nica Yodel não é aconselhada para meninos
os jovens Baixos, até que suas notas agudas que ainda possuem o Blank Spot (McKENZIE,
se desenvolvam e seu canto seja realizado 1956).
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BETÂNIA DISCACCIATI
MUDA VOCAL MASCULINA E PROCEDIMENTOS PARA A UTILIZAÇÃO DE VOCALIZES
Além dos exercícios citados acima para extensão de cada um. O vocalize da Figura 6,
treinamento vocal, o regente deve utilizar vo- sugerido por Leck e Jordan (2009), é aplicável
calizes para aquecimento da voz quanto para para a mudança da voz de cabeça para a voz
desenvolvimento da voz. A tarefa do regente de peito sem que haja a quebra de registro.
é saber qual a classificação vocal de cada alu- O exercício da Figura 6, nomeado por
no, ou seja, em qual estágio da mudança vocal Cooksey (1999) Rhythmic Flexibility, é sugerido
ele se encontra, para que sejam definidas em pelo autor para ganho de flexibilidade, e pode
quais alturas devem ser cantados os vocali- ser aplicado em stacatto. O vocalize também
zes. Sendo assim, o trabalho do regente antes pode ser utilizado com diferentes dinâmicas e
de aplicar os vocalizes, é analisar a função e a ajuda a construir intervalos curtos.
Fonte: a autora.
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Fonte: a autora.
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Vale ressaltar que, segundo Welch COSTA, Patrícia S. S.. Afinal, coro infanto-juvenil, coro
(2012), o canto atinge diversas áreas neuroló- juvenil ou coro jovem? Observatório Coral Carioca,
gicas. Ele causa o desenvolvimento e intera- Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e Secretaria
ção entre as partes do cérebro dedicadas aos Municipal de Cultura, Rio de Janeiro, 2017.
aspectos musicais (altura, ritmo e timbre), lin-
DILWORTH, Rollo. Choir Builders. Fundamental Vocal
guístico (letras), comportamento motor fino e Techniques for Classroom and General Use. Hal-
emoções. Cantar sozinho não é a mesma coisa Leonard: Milwaukee, 2006.
que cantar em duos/grupos, porque trabalhar
FRIDDLE, D. Changing bodies, changing voices: A brief
com mais pessoas envolve áreas neurológicas
survey of the literature and methods of working with
relacionadas à interação e comunicação so- adolescent changing voices. Choral Journal, 2005. p.
cial. Quanto mais o sistema vocal for utilizado, 32-43, 46-47.
de maneira apropriada, mais o cantor enten-
derá sua potencialidade nos termos de cresci- GACKLE, Lynn. The adolescent female voice:
Characteristics of change and stages of development.
mento e coordenação motora. Assim, o canto
Choral Journal: March 1991. pg. 17-25.
é uma forma do adolescente se expressar e
desenvolver habilidades sociais. JARAMILLO, Alejandro Zuleta. Programa Básico de Di-
Esperamos que este capítulo seja pro- rección de Coros Infantiles. 1 ed. Bogotá: Ministerio de
Cultura, 2004.
veitoso e auxilie os regentes a guiar as vozes
dos adolescentes para que assim os mesmos LECK, Henry. The boys expanding voice. Choral Journal:
a utilizem de forma saudável. É importante May 2009. pg. 49-60.
que o regente avalie sempre a voz do adoles-
cente a fim de verificar o estágio em que ele LECK, Henry; JORDAN, Flossie. Creating Artistry Through
Choral Excellence. Hal-Leonard: Milwaukee. 1a Ed. 2009,
se encontra na muda vocal. Os exercícios que 265 p.
aqui foram descritos são sugestões de como o
regente deve lidar com as vozes e suas classi- LOONEY, Alexander A.. A Comprehensive Study of the
ficações. O regente deve adaptar os vocalizes Male Voice Mutation. Honors Research Projects, 2015.
que utiliza, para as extensões das vozes em
MENDONÇA, R. C. . ADOLESCENTE E CANTO: Definição
muda vocal. de repertório e técnica vocal adequados à fase de mu-
dança vocal. 2012.
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ILCENARA SERAFIM KLEM
A CRIAÇÃO MUSICAL JUNTO AO CORO INFANTOJUVENIL
a difamar a música criativa fazendo com que Por fim, entendemos que a composição
esta passe a não existir” (SCHAFER, 1991, p.59). traz para o coro um repertório que o reflete.
Schafer também observa que a criança, em Essa música criada pelos cantores tem a ‘sua
tenra idade, é capaz de improvisar desinibi- cara’, seu jeito, seu estilo, sua linguagem, seu
damente, até que chegue à fase escolar, onde gosto musical, sua forma de ver e pensar as
lhe é cobrado reproduzir e não mais “inventar” coisas. Isso torna o repertório singular e enri-
(fato atestado por aqueles que desenvolvem quece a música coral infantojuvenil.
um trabalho em educação musical). Portanto,
torna-se necessário que, através de um traba-
A experiência de criação
lho lúcido e significativo, a criança/adolescen-
te descubra meios para que essa capacidade Diante da ideia apresentada, penso ser
criadora não se atrofie, mas encontre espaço possível que o leitor/regente se sinta inquieto,
para seu desenvolvimento. ou, pelo menos, curioso em saber como tra-
Acreditamos que todo regente é poten- balhar a composição com um grupo coral.
cialmente um educador e, seu trabalho com o Na verdade, em vista do escasso mate-
coral, uma atividade de educação musical. En- rial sobre o assunto, propusemo-nos a apre-
sinar uma melodia, acertar o ritmo, trabalhar sentar um processo geral de criação, abor-
os fraseados, desenvolvem no coro habilida- dado por alguns educadores, fazendo uma
des musicais, estimulam a percepção auditiva conexão com o que realizamos junto ao Coral
e cria um senso crítico elaborado. Nessa pers- do Centro de Musicalização Infantil (CMI), du-
pectiva, Hindemith (1952) escreveu: rante o processo de composição do musical.
Os alunos do CMI, com os quais realizei
composição não é um ramo especial do co- o projeto da montagem do musical no ano de
nhecimento que deve ser ensinado àqueles 1996, possuíam a faixa etária de 9 a 12 anos
talentosos ou suficientemente interessa- e tinham, respectivamente, dois, três e quatro
dos. Ela é simplesmente a culminação de anos de vivência musical. Já haviam recebido
um sistema saudável e estável de educação, um certo acúmulo de informações musicais
cujo ideal é formar não um instrumentista, através do canto coral, no estudo de seus ins-
cantor ou arranjador especialista, mas um
trumentos, na prática de orquestra e nas aulas
músico com um conhecimento musical uni-
versal (HINDEMITH, 1952, p.178). de musicalização.
Em se tratando de um grupo coral, o
repertório utilizado está, essencialmente,
Para França (1995, p.13), a composição
associado a um texto. Portanto, quando de-
e o processo geral de educação musical se in-
cidimos experimentar a composição, enten-
fluenciam reciprocamente: se por um lado a
díamos que seria um trabalho de criação de
primeira enriquece a segunda, contribuindo
canções para serem cantadas e não tocadas,
efetivamente para o desenvolvimento da con-
necessitando de uma letra.
cepção musical, por outro lado, a ‘competên-
Em vista disso, no primeiro ensaio do
cia’ para compor cresce a partir de uma base
ano , contei a história “O galo que cantava pra
1
musical ampla e não de instruções técnicas
fazer o sol nascer”, do escritor Rubem Alves
específicas. E conclui dizendo que o processo
(1999) e conversamos sobre quais partes eles
educacional que inclua a composição, geran-
do essa reciprocidade dinâmica, é desejável 1 A composição do musical aconteceu no segundo semestre de
1996, no período de agosto a novembro. Mas a ideia da composi-
porque estabelece sólidas bases para futuras
ção do musical foi apresentada aos alunos na primeira aula do ano,
e mais complexas jornadas em música. em fevereiro de 1996.
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A CRIAÇÃO MUSICAL JUNTO AO CORO INFANTOJUVENIL
Referências
ALVES, Rubem. Estórias de bichos: e das gentes que mo-
ram neles. São Paulo: Edições Loyola, 1999.
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INFANTIL E INFANTOJUVENIL – RELATOS DE
OBSERVAÇÕES E DE EXPERIÊNCIAS
Patricia Costa
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DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
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a vivência global de sua personalidade. É de cabeça e, muitas vezes, entoava outra nota
através do jogo espontâneo que a criança para se manter na região de conforto vocal. A
aprende que o mesmo impulso que a leva a regente se preocupava sobretudo com uma
jogar, leva-a a descobrir, a pensar, a objetivar,
canção de ninar muito delicada, a cappella;
a refletir, a adquirir a noção numérica, quan-
titativa e dimensional, a ampliar seu voca- estaria expondo a menina e também compro-
bulário e a relacionar-se com outras pessoas metendo o todo.
(PUEBLA, 2017, p. 49). Foi aí que propus que a menina trou-
xesse sua boneca favorita, pois ela seria a
O coro infantil e/ou infantojuvenil en- única a ninar o bebê, representando a mãe,
contra no recurso cênico, portanto, um veícu- cantada na poesia da peça. Haveria, inclusive,
lo para esta expansão de sentidos, colaboran- um lugar de destaque para a boneca; ela teria
do não somente para o desenvolvimento do um bercinho no palco. E, por conta desta
indivíduo, mas também do coral do qual ele função tão especial, o coro cantaria, mas ela
participa. A partir de jogo dramático direcio- estaria dispensada, pois me encarreguei de
nado para esta faixa etária é possível realçar orientá-la a, enquanto o coro cantava, pegar
determinado texto, encontrar novas formas a boneca, fazê-la adormecer e recolocá-la no
de expressar o que o autor propõe, cantar de berço. Ufa!
uma forma diferente da usual, enfim. Uma outra solução através de cena veio
Coleciono, ao longo dos anos, histórias da montagem de Capitão Gordon, música de
vividas a partir da abordagem cênica de co- Bia Bedran, que fez parte da infância de meus
rais infantis que me aguçaram o olhar para o filhos (a música e a compositora, diga-se de
assunto. Compartilho algumas, no intuito de passagem). Sou arranjadora e sempre escrevi
ilustrar a importância que dou ao tema. Ao para meus corais. Mas aquela música não me
mesmo tempo, estes breves relatos podem inspirava a abrir vozes; aquele pop rock falava
exemplificar a diversidade de situações que por si, em uníssono mesmo. Foi quando, em
surgem – às vezes fugindo totalmente ao um ensaio, percebi que seu refrão (de letra
nosso planejamento – e que muito nos têm propositadamente ininteligível) inspirava uma
a ensinar. levada estilo hip hop. Ao mencionar isto, um
Nos primórdios da minha vida de dire- dos meninos começou a se movimentar com
tora cênica, tive o prazer de trabalhar com um esta estética, contaminando um outro, do
coro infantil bastante competente, cuja re- lado oposto da sala. Pedi que ambos (nas
gente se esmerava por musicalizar as crianças pontas) assumissem de fazer um de frente
e apresentar às famílias resultados capricho- para o outro. E, quase que imediatamente,
sos. O coro era constituído de cantores que o coro todo passou a se movimentar neste
passavam por avaliação prévia, apenas para refrão, trazendo um novo interesse para a
afastar qualquer possibilidade de disfonia. To- interpretação.
dos, afinados ou não, poderiam fazer parte do Considero que, além da inspiração da
coro, pois a proposta era justamente de edu- própria peça, houve ali um fenômeno muito
cação musical através do canto. corriqueiro entre crianças: a imitação. E uma
Chegando perto do concerto de fim certa disputa também. Se uma criança relata
de ano, percebemos uma menina que ainda um tombo, outras três levantam a mão para
não afinava como os demais. Tinha muita relatar seus respectivos tombos, não é assim?
dificuldade com as notas mais agudas; ainda Pois então, ao ver os colegas das pontas
não tinha despertado totalmente para a voz ganhando uma atenção especial, o coro todo
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quis fazer parte da cena, que acabou sendo letra da música, em melodia que se repetia.
aprimorada e foi um grande sucesso em Naturalmente busquei distribuir as estrofes
nossas apresentações. nos dois naipes (agudos e graves), alternando
Outra situação curiosa que envolve canto e contracanto; mas, ainda assim, a
exemplo e, digamos, inspiração por imitação sequência da poesia de rimas semelhantes as
veio de um vídeo. Percebia meu coro infan- confundia.
til muito apático na parte de expressividade Recorrendo aos anos de balé clássico
cênica, na expressão facial, talvez porque que tive a sorte de fazer, aproveitei para tra-
eu mesma, no início do ano letivo, tenha balhar a consciência corporal das minhas
dedicado muito tempo a ensinar os cantores cantoras (todas entre 11 e 13 anos) através de
a afinar (pois meus grupos também não são posições de balé, no intuito de amenizar as
selecionados). Cantávamos Tim Maia (Não desarmonias dos estirões e demais deselegân-
Quero Dinheiro) e a maior preocupação dos cias desta fase corporal. Para aqueles corpos
pequenos, a cada ensaio, era se as solistas em transição, às vezes parecia tarefa inglória
estavam entrando certo. De resto, a men- conseguir sincronia e graça ao mesmo tempo.
sagem da música se perdia em olhares vazios. Para explicitar que a dinâmica do contra-
Afinados, porém sem emoção. canto deveria ser piano, utilizei o recurso de
Foi quando mostrei o vídeo dos alunos planos alto e baixo (melodia principal de pé;
de Música de uma escola de Nova York (PS quem fazia contracanto abaixava) e inseri
2213) que, embora sentados no auditório, a lateralidade (quem estava com a melodia
cantavam com muita expressividade a letra principal cantava para frente; quem tinha
de Viva La Vida, da banda Coldplay que eles, contracanto, virava ora para a direita, ora
naturalmente, compreendiam. Meu coro ficou para a esquerda). E foi justamente ao aguçar
fascinado por aquela forma de fazer coral, a noção de lateralidade das minhas meninas
como se alguma vez eu os tivesse impedido que veio a solução de, além de distribuir
de serem naturais. Se o grupo estrangeiro as estrofes pelos naipes, marcar a letra a
podia, meu coro também podia. Aquele partir de determinados movimentos. Com
vídeo quase que autorizava meus cantores isto, as palavras – até então soltas na poesia
a utilizarem olhos, mãos, pernas, bocas para descritiva – passaram a ter “lugar marcado”,
cantar! E, na passada seguinte, a música de dependendo da sequência do movimento,
Tim Maia ganhou o suingue e a interpretação entre abaixar, levantar, virar para direita ou
que o síndico mereceria. para esquerda. Ao decorar a sequência, a letra
Considerando a coreografia como recur- vinha a reboque. E fomos felizes para sempre.
so cênico, relato agora a situação que vivi com
as Meninas Cantoras do São Vicente, em 2008.
Tendo escolhido a peça Ciranda da Bailarina Características da criança e do
(de Chico Buarque e Edu Lobo) por questões pré-adolescente – algumas
temáticas – com arranjo simples, explorando considerações
uníssonos e um ou outro contracanto – perce-
Ao discorrer sobre expressividade cêni-
bi que o maior desafio seria fazer com que as
ca no coro faz-se mister considerar aspectos
cantoras dessem conta de decorar a enorme
que tangem o corpo e sua movimentação.
Considerando que crianças e pré-adoles-
13 https://www.youtube.com/watch?v=u_tcE4rWovI (Acesso em
02/04/2018).
centes encontram-se em diferentes fases de
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desenvolvimento corporal, passo a discorrer letivo inteiro indo para os ensaios com um par
sobre tais aspectos separadamente. de óculos escuros na cabeça, e uma outra que
adotou uma guirlanda de flores também pelo
mesmo período. Cismaram.
A criança
Até que chegue a puberdade, no entan-
Há muito sabemos o quanto o corpo to, crianças comumente “se embolam” com
facilita a absorção do conteúdo musical. facilidade, sem nem perceber se estão, por
Autores como J. Dalcroze e Orff, no exterior, exemplo, fazendo contato corporal com o
e Liddy Mignone e Sá Pereira, no Brasil (para outro, coisa impensável para um adolescente
citar alguns), já apostavam no envolvimento e/ou adulto. A conscientização corporal vai,
do corpo para musicalizar o indivíduo, sobre- pouco a pouco, fazendo-a acordar para isto,
tudo crianças. No entanto, no que tange sobretudo com a chegada da puberdade.
a expressividade cênica, esbarramos em Portanto, a abordagem às potenciali-
algumas questões ligadas a esta faixa etária. dades expressivas no coro infantil não obe-
Crianças não percebem o corpo como dece à observação de si no grupo, ou do
adolescentes e adultos. Observo que, até por movimento do todo. É justamente a graça
volta dos oito anos de idade, os pequenos da espontaneidade da criança que ainda
mal conseguem observar características não tem domínio do movimento, ou mesmo
corporais no outro (pois ainda estão em fase daquela que demonstra uma facilidade para
de autoconhecimento), da mesma forma tal, que pode ajudar o grupo a se desenvolver
como costumam não ter maturidade para com naturalidade, evitando a impressão de
misturar sua voz ao coro; cantam em grupo, um coro de “pseudoadultos”.
mas o foco ainda está em si e na própria É comum assistirmos a corais com a
produção vocal. É uma fase de investimento predominância de uma desorganização visual,
no desenvolvimento da coordenação motora, o que pode custar ao regente a função de
de incentivo às danças e esportes como “flanelinha”14, (re)arrumando o grupo em di-
forma de consciência corporal de si, de versos momentos durante sua apresentação.
entendimento de lateralidade, etc. Encontro Isto se dá, muitas vezes, por duas forças
muitos adultos que parecem ter pulado esta antagônicas: por um lado, há crianças que
fase pois, nitidamente, se confundem quando saem do lugar estabelecido sem perceber
precisam apontar direita ou esquerda! e, por outro, há aquelas que fixam seu lugar
De forma geral, a partir dos oito anos no ensaio geral e depois têm dificuldade de
(aproximadamente), crianças começam uma se adaptar a uma nova posição. Por exemplo,
nova etapa, envolvendo também o outro. pelo fato do colega da frente ter se deslocado
São capazes de atentar para características e estar atrapalhando sua visão em relação ao
corporais visuais diferentes das suas. É a fase regente, uma criança será capaz de passar
em que aparecem os apelidos aludidos à todo o concerto mal posicionada, para não
características físicas (frequentemente cruéis, infringir a “regra” estabelecida anteriormente.
inclusive), como também passam a preferir E quem nunca teve que delimitar com uma
se vestir ou usar o mesmo corte de cabelo de fita crepe no chão a primeira fila do seu coro
seus colegas. Ou simplesmente “cismam” com
14 Denominação empregada no Rio de Janeiro para indicar função
algum adorno. Tive dois casos interessantes,
informal do guardador de carro que, com uma flanela no ombro e
com duas meninas de 10 anos, de escolas fazendo movimentos rápidos com as mãos, para a direita e para a
e corais diferentes: uma que passou o ano esquerda ou frente e trás, pretende auxiliar os motoristas a estacio-
narem nas vagas de rua.
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preocupação de algumas famílias e escolas nas perninhas para aliviar o peso dos braços.
neste sentido, ainda é bastante comum notar Ou seja, para conseguirem ler a partitura, aca-
o prejuízo postural de quem costuma carre- bam por comprometer a postura ideal (ereta),
gar nas costas, diariamente, muitos livros e cantando na direção do chão. E resta, para a
cadernos. E, se não nos damos conta, contri- visão do angustiado regente, um conjunto
buímos para o estrago com... as partituras do de “tampos de cabeça” que jamais reagirá ao
coral! seu gestual! E para as apresentações, caso não
E então chegamos a um assunto que seja possível cantar de cor, o coro precisará
gosto de observar com meus cantores, pois passar por um treino para aprender a lidar
vai incidir diretamente na relação de si com com a pasta, sobretudo para que continue a
o corpo durante os ensaios e apresentações: olhar para a regência.
a adequação da pasta de partituras. Muitas Com o intuito de preservar a postura de
famílias, com a melhor das intenções, partem prontidão daquele que canta, tenho insistido
logo para adquirir pastas com plásticos que na aquisição de pastas com elástico (se pos-
comportem as folhas de cada partitura. O pri- sível, com separador em ordem alfabética),
meiro entrave é a dificuldade de coordenação para acondicionar as partituras dos ensaios.
motora da criança para acomodar a folha de Assim sendo, o cantor irá segurar apenas uma
papel dentro do plástico. Com seu jeitinho ou algumas leves folhas de papel, o que não
atrapalhado, até que consiga abrir o plásti- deverá afetar tanto a postura pretendida.
co, equilibrando a pasta no colo, muitas ve-
zes acaba por dobrar o papel (que insiste em
Para que servem as mãos?
emperrar, porque as pequenas mãozinhas
certamente não conseguiram descolar o plás- Saindo da situação de ensaio para a
tico até o fim). Se você tem um coro de 30 situação de apresentação, passo agora a co-
crianças, aposte que a simples distribuição de mentar assunto que sempre me chamou
uma partitura poderá virar um intervalo que atenção enquanto observadora das reações
vai consumir preciosos minutos de seu ensaio, inconscientes que experimentamos no palco:
até que todos tenham organizado a tal pasta. as mãos. A pergunta acima é inevitável: Para
Entra, então, o motivo principal des- que servem as mãos? Deve ser para o cantor
te assunto: a postura com a pasta, durante o não saber o que fazer com elas, quando não
ensaio. Ensino meus cantores a sempre eleva- está segurando partitura, claro! Quanto mais
rem a partitura à sua frente, até que eu apa- desconfortável no palco, mais suas mãos pa-
reça acima desta, como uma “santa” que os recem crescer e ganhar evidência. Se o figu-
vai orientar (ainda brinco, fazendo pose de rino não tiver bolso ou se não houver uma
“Santa Patricia”), pois isto ajuda as crianças a, pasta de partitura para segurar, o cantor terá
não só liberarem a coluna de ar pela postura que lidar com aquelas verdadeiras “raquetes”
ereta, como também aprenderem desde cedo durante toda a apresentação. Isto se dá justa-
que é possível ler uma partitura e olhar para mente por falta de foco. Quando o cantor, ao
o regente, ao mesmo tempo. Naturalmente, se perceber observado, se preocupa com suas
quanto mais partituras, mais pesada vai mãos é porque não está sintonizando sua fun-
ficando aquela pasta de plásticos. Com o ção no palco, ou naquilo que quer comunicar.
peso desta, gradativamente, os cantores vão Por exemplo, ao caminhar na rua em
abaixando os braços e se curvando. Há ainda direção a um determinado lugar, com muita
aqueles que mantém a pasta aberta, apoiada pressa, sem segurar bolsa ou qualquer objeto,
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dificilmente uma pessoa se preocupa com as so. Acredito que a naturalidade do gesto se
mãos, pois seu objetivo é claro: chegar logo dê pela pesquisa corporal, pela confiança ad-
ao seu destino. Sua concentração está voltada quirida a partir do exercício, pela experimen-
para aquilo. Mas se apenas caminha na praia tação, pela emoção que vem à tona com o
descompromissadamente e se sente obser- aprofundamento da prática; e não pela obser-
vada, a pessoa poderá passar a ter a preocu- vação do outro, apenas. É a partir de processo
pação de compreender o olhar do outro para interno – que aciona sensações e sentimentos
si e, rapidamente, passar a analisar postura, às vezes até bastante profundos – que nego-
vestimenta, expressão facial, etc. Suas mãos ciamos com nosso corpo e podemos expandir
possivelmente ganharão atenção, da mes- possibilidades até então desconhecidas. Já ao
ma forma que no palco. São sutis mudanças nos limitarmos à imitação, corremos o risco de
de comportamento, que obedecem a fatores emprestar à forma um valor que, em muito,
externos e emocionais. Crianças, porém, nem extrapola o do sentido.
sempre passam por este tipo de situação de Na contramão da naturalidade, algumas
constrangimento em relação às mãos; mas vezes me deparei com corais infantis que têm
por sua natureza de transparência emocional, a orientação de “domar” as mãos, fazendo
quando intimidadas, simplesmente travam e as crianças entrarem e saírem do palco, ou
mal conseguem cantar. mesmo cantarem, com as mãos para trás.
Durante minha estada nos EUA (Indiana- Este procedimento disciplinar, no entanto,
polis, 2015/2016) tive o prazer de conhecer o pode influenciar a produção vocal, gerando o
enfoque do maestro Randy Stenson17 à frente reflexo de um canto constrito, justamente pelo
de seu coro masculino juvenil, do Japão. Seus possível engessamento do corpo em posição
excelentes cantores causam impacto em seus não natural. Mas é impossível não comentar
concertos justamente porque utilizam movi- também ser este procedimento uma plausível
mentação natural das mãos para auxiliá-los solução para o início do assunto; onde colocar
em fraseados, dinâmicas ou na técnica vocal. as mãos durante a performance! Opto pela
Em suma, quase regem a si mesmos durante a exploração do movimento, como caminho
performance, com um resultado vocal e visu- para a naturalidade no palco.
al surpreendente, que muito deve incomodar A partir do corpo como ferramenta
a plateia tradicional. Estagiando com o ICC18 da criança e do pré-adolescente, busquei
naquele período, fui convidada pelo maes- pormenorizar aspectos que considero deter-
tro Henry Leck a orientar seus cantores sobre minantes para o desempenho de coros
a movimentação das mãos, pois alguns – ins- infantis e infantojuvenis, no que tange a
pirados pelo coro de Stenson – ao invés de expressividade cênica. Uma vez apresentadas
terem aquela abordagem como ferramenta questões relativas ao indivíduo, passo agora a
para melhorar o desempenho, acabavam por discorrer pela ótica do trabalho do conjunto,
se tencionar mais ainda, com braços e mãos trazendo concepções cênicas e algumas
enrijecidos em L, lembrando pequenos robôs. soluções observadas em minha prática.
A dificuldade daquele grupo, a meu ver,
se dava principalmente pela falta de proces-
A movimentação do coro
17 Randy Stenson: regente. Ver em https://sbmp.com/ChoralSeries. A primeira pergunta que costumo for-
php?Title=Randy%20and%20Rachel%20Stenson%20Choral%20
Series (acesso em 12/05/2018).
mular para meus estagiários e alunos de
18 Indianapolis Children’s Choir. Ver em https://icchoir.org (acesso regência é: “Todo coro tem que se mexer?”.
em 12/05/2018).
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A partir desta questão, podemos discutir dife- Considero duas abordagens bastante
rentes abordagens. diferentes: a que se utiliza de coreografias e
Penso que a movimentação cênica não a que busca, na interpretação do texto, pis-
é uma obrigação e, sim, um recurso opcional, tas de expressividade. A primeira se baseia na
que tanto pode auxiliar como atrapalhar dança enquanto a segunda nas artes cênicas.
o coro, dependendo da forma como for E não são excludentes. A movimentação pode
explorada. Há repertório que parece que pede ter início da sugestão de padrão coreografado
movimento; mas há também o que impede o e se desenvolver expressivamente para con-
movimento. Tudo vai depender do bom senso templar o apelo do texto ou da temática da
do regente, do potencial de seu coro e das música. O desenvolvimento da capacidade
características da peça. Sim, é também uma criativa do coro para realçar a expressividade
questão de proposta, de pesquisa, de vivência de uma peça, pode vir a gerar uma coreogra-
e de gosto, o que amplia muito nossa gama fia que facilite a percepção da plateia daquilo
de investigação. que se quer comunicar.
No entanto, não podemos ignorar a de- Muito em voga nos EUA (e nos vídeos
claração de Kerr (2014), que afirma que “Todo compartilhados em redes sociais) o show choir
coro é cênico, porque, na medida em que se é um bom exemplo de proposta de movimen-
está no palco, se está em cena. Mas, quando tação pela coreografia. Praticamente uma
você toma consciência dessa cena, passa a adaptação de musicais da Broadway para o
pensar em como se apresentar.” (KERR, 2014). ambiente coral, tais grupos são treinados
Por conseguinte, o cuidado com a forma com para cantar e dançar com extrema precisão.
que um coro apresenta uma interpretação é Demonstrando muita destreza, caminham no
inerente à conscientização de seu papel no sentido oposto da improvisação ou do equilí-
palco e das possibilidades interpretativas. brio de individualidades. Pelo contrário, o que
Puebla (2017) compartilha deste mes- está em jogo no show choir é a perfeição técni-
mo pensamento: ca, que quase os aproxima de resultados não
humanos, tamanho cuidado com simetria.
Costumo dizer que cênicos são todos os co- Os efeitos da sincronia vertiginosa en-
ros. Todos estão em cena. Mas, a construção cantam não só pelas coreografias muito ela-
de um espetáculo cênico e musical e que boradas, mas também pelo rigor, pela disciplina
convencionamos chamar CORAL CÊNICO, e pelos recursos de figurino, luz, maquiagem.
começa pela tarefa de tornar o coro expres- Mesmo o aspecto sonoro é influenciado por
sivo (PUEBLA, 2017, p. 35).
aquela fórmula, que apresenta números de
solo e a utilização de técnica vocal específica.
É importante observar que o assunto Mas, justamente por tanta exigência técnica,
deste texto engloba o desenvolvimento da esta proposta é abraçada predominantemente
expressividade na prática coral, não havendo por coros juvenis (e infantojuvenis, quando
a preocupação de se chegar ao coral cênico muito). Pus-me a descrevê-la como exemplo
ao que o autor acima se refere. A proposta de de concepção explícita de aspectos da dança
aprofundamento desta vertente extramusical adaptados para a performance coral. Aqui,
já é suficiente para trazer à baila situações predomina a forma.
e oportunidades que talvez ficassem em Passemos à abordagem da movimenta-
segundo plano pelo viés estritamente ção pelo viés das artes cênicas, pela emoção.
técnico-musical. Considero que todo repertório que se utiliza
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de texto e/ou poesia deverá ser compreendi- A heterogenia de um coral traz também
do por aquele que o interpreta, sob o risco de ao seu diretor o desafio de harmonizar
se tornar apenas sequência de notas cantadas. as atuações. Assim como o regente ou
preparador vocal cuida para que as vozes se
Puebla (2017) afirma: equalizem, o diretor cênico tem a função de
extrair o potencial expressivo/interpretativo
Focando os aspectos cênicos no canto co- do cantor, mas também orientar para que
ral, o correto seria cantar as músicas de cada
haja um equilíbrio de atuação, para que as
repertório com prévia análise da poesia que
se esconde em cada frase. Qual é sua men- diferenças não comprometam o resultado
sagem, sua fábula, o seu recado segundo a final. Sempre encontramos nos corais de
nossa intepretação? (PUEBLA, 2017, p.39). qualquer idade os desembaraçados (às vezes
até demais), como também os retraídos, que
Sendo assim, costumo partir do texto morrem de vergonha de qualquer proposta
para a escolha das peças, visando adequação que não seja... cantar.
aos coros com que trabalho e também Gosto muito de usar o exemplo do car-
para compreender a pertinência, ou não, dume, sobretudo com crianças e adolescentes,
de movimentação do grupo. O cantor que pois a metáfora colabora para a compreensão
compreende o que canta estabelece uma das delicadezas do palco. Explico aos cantores:
comunicação diferente com a plateia. Seu todos os peixinhos nadam juntos, em uma
olhar muda; seu corpo e seu rosto são um mesma direção. No exato momento em que
instrumento interpretativo a serviço das ideias um peixinho vai em uma direção diferente
que ele quer passar. Ao focalizar o texto e a do resto do cardume aparece um tubarão.
função daquela comunicação, outros pontos Que peixinho o tubarão vai comer? Assim
passam a ser secundários: a timidez, o medo se comporta a plateia. Costumo dizer que
de errar, as mãos... somos muito cruéis enquanto expectadores,
Há também o aspecto do conjunto: ao assistindo um coro e buscando aquele que
propormos a direção cênica de um coro, au- não está sintonizado com o grupo; buscamos
mentamos a responsabilidade, a atenção e a o diferente, o erro. Portanto, oriento meus
percepção do cantor em relação ao coletivo. alunos mais tímidos a respirarem fundo
A reboque, ampliamos as possibilidades de e seguirem rigorosamente tudo que o
interação do coro, exercitando a confiança participante mais extrovertido está fazendo;
para que a participação de cada um colabore assim ele não será percebido pela plateia,
para o todo, como aliás sempre deveria ser o estará inserido no todo, no cardume.
trabalho coral. Jogos dramáticos e exercícios Concordo com Reynaldo Puebla que diz
corporais, ainda que simples, podem delinear que um cantor que se movimenta em excesso
vertentes até então encobertas, descobrir tem tão pouca consciência corporal quanto
potencialidades, aguçar a criatividade, reve- um que mal se mexe; ao não se perceberem,
lar emoções e, sobretudo, ser divertido. Ao ambos se desarmonizam dos demais. No
fortalecermos os vínculos do coro, aproxima- coro infantil há o desafio de comprometer
mos indivíduos. E ao se sentir confortável com a espontaneidade da criança, mas cabe ao
seus colegas, o medo de errar diminui e o can- profissional que orienta a cena a função
tor pode apresentar uma produção artístico/ de equilibrar o grupo e, ao mesmo tempo,
vocal diferente, baseada na sensação de con- trabalhar para que aquela criança com muita
fiança no grupo. Todos se beneficiam. necessidade de atenção consiga aprender a
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colaborar com o coro e encontrar seu valor, pode, sim, ser um elemento de dispersão da
por fazer parte de um projeto coletivo. De criança. O pequeno cantor pode também
quebra, a rebocar o colega retraído. descobrir novas formas (algumas vezes até
mais criativas) de manipulação deste durante
os ensaios. Por tudo isso, apresentar adereços
Ferramentas do universo cênico
aos pequenos cantores apenas na hora do
ao nosso dispor concerto é apostar que não dará certo.
Pegamos emprestado das artes cênicas Poucos resistem a uma iluminação bem-
alguns recursos que muito têm contribuído feita. Este recurso traz foco, realça cores e
para concentrar os coralistas, realçar a po- delimita o olhar, com sua dinâmica de claro e
esia do que se canta e, naturalmente, agra- escuro. Pode ser “magia”, se trabalhada a favor
dar quem nos assiste. Ao lançar mão de tais do espetáculo, ou “arapuca” se não estiver
meios, misturamos elementos da música e do sintonizada com o roteiro e com a proposta
teatro, expandindo as possibilidades no pal- daquilo que se canta. Se não houver ensaio
co e o potencial criativo do coro. Menciono de luz, sempre haverá o risco de o coro ficar
três recursos muito utilizados nos corais que nas trevas ou de um solista não ter seu foco
venho observando ou trabalhando: figurinos, sublinhado.
adereços e iluminação. Investir na iluminação é poder empres-
Figurinos são trajes que ajudam a com- tar a um coro de leigos a sensação de profis-
por uma sugestão de personagem. Raramen- sionalismo, de acabamento, de detalhe pen-
te vemos corais infantis investindo neste re- sado. Desde meu primeiro espetáculo com
curso com profundidade. Já fomos adeptos corais adiciono este item (dispendioso, di-
das batas europeias e alguns corais brasileiros ga-se de passagem) ao orçamento, pois não
continuam a mantê-las, quase como que para tenho dúvidas de que estarei sublinhando o
validar o ritual da atividade. O mais comum sentido artístico que busco extrair da ativida-
na atualidade é trajar as crianças com o uni- de, independente do contexto escolar e do
forme do coral. Como o nome está dizendo, nível de desenvolvimento musical/vocal do
há uma uniformidade desejada nesta opção. coro. Por isto mesmo, considero este um re-
Algumas vezes isto se dá através de uma ca- curso importante para agregar valor artístico
miseta – que pode carregar o nome do coro ao coro infantil.
ou a logomarca da escola/empresa a qual se
vincula – ou de uma determinada paleta de
Considerações
cores da vestimenta.
Adereço é um recurso que vem sendo A expressão cênica do coro infantil
adotado em algumas apresentações de vem sendo foco de atenção de muitos
corais. Assim como investimos tempo em regentes, diretores e produtores de festivais,
harmonizar vozes, acertar afinações, etc., não somente por desenvolver o potencial
a familiaridade com tal elemento cênico artístico e interpretativo dos cantores, como
necessita de tempo para se instalar. A criança também por dar um acabamento diferente
pode ter dificuldade de manuseio do objeto, às apresentações. Tenho visto louváveis
ou não saber onde guardá-lo até chegar o resultados desta abordagem, graças ao
momento de utilizá-lo. Pode também não empenho de regentes e educadores que,
saber o que fazer com o adereço na música em conjunto com profissionais do teatro e
seguinte, se este for dispensável. O objeto da dança, buscam renovação de linguagem
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PATRICIA COSTA
EXPRESSIVIDADE CÊNICA NO CORO INFANTIL E INFANTOJUVENIL – RELATOS DE OBSERVAÇÕES E DE EXPERIÊNCIAS
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REFLEXÕES SOBRE A ESCOLHA DE
REPERTÓRIO PARA CORO INFANTOJUVENIL
Vivian Assis
Não sei se foi a história de todo regente grupo. Sucesso em vários sentidos: no cresci-
de coros infantis e infantojuvenis, mas eu mento musical e comprometimento do aluno,
comecei minha vida musical cantando em no aplauso de uma plateia após um concerto
um coral infantil. O que mais me marcou, e também no entusiasmo de seu regente.
foram as músicas que cantei e que fizeram Essa tarefa não é tão simples quanto
parte da minha infância. Até hoje lembro de pode parecer. Atualmente, existem muitas
algumas que gostava muito de cantar como: publicações de partituras, principalmente no
Passaredo, de Francis Hime e Chico Buarque; exterior, compartilhadas em cursos com re-
Pedra de Atiradeira, de João Boamorte e Abner gentes estrangeiros renomados, bem como
Nascimento; Se a gente grande soubesse, de um maravilhoso cancioneiro brasileiro. Em
Billy Blanco, entre outras... sua dissertação de 2005, Lilia Rosa catalogou
Repensando minha trajetória como re- cento e cinquenta e cinco obras brasileiras
gente, eu percebi que muitas das músicas que para coros infantis a cappella de 1960 a 2003,
escolhi para os meus coros, foram músicas da o que nos indica que temos também músi-
minha infância. Este pode sim, ser o começo cas brasileiras compostas especialmente pra
de uma seleção de repertório, mas não deve coros infantis. As publicações continuam sur-
ser o único caminho e muito menos a única gindo e também novas formas de comparti-
razão para a escolha de uma música. lhamento de materiais e experiências, como
por exemplo, sites e redes sociais. No entan-
Será que existe uma “receita” para se- to, nós, regentes, devemos estar sempre em
lecionar o repertório para um coro? busca de novos materiais em todas as fontes
disponíveis para podermos ampliar nossas
Meu intuito aqui não é determinar um possibilidades de selecionar o melhor reper-
modelo fixo e invariável, até porque o que fun- tório possível.
ciona para um coro nem sempre vai funcionar
para outro, mas é estimular uma reflexão so- Podemos criar também novas compo-
bre nossos objetivos e critérios ao selecionar sições e arranjos especialmente para nosso
o repertório. Penso que esta seja uma das res- coro. Às vezes ouvimos uma música que
ponsabilidades mais importantes dos regen- gostaríamos de trabalhar com um coro e não
tes, pois, um repertório apropriado é um dos encontramos nenhuma partitura. Em outros
ingredientes essenciais para o sucesso de um casos, encontramos alguma partitura, mas
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
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VIVIAN ASSIS
REFLEXÕES SOBRE A ESCOLHA DE REPERTÓRIO PARA CORO INFANTOJUVENIL
a estes. Portanto, é importante determinar- quanto nossos alunos merecem muito mais
mos os nossos próprios objetivos e conhecer- do que puro entretenimento” (APFELSTAD,
mos ao máximo esses critérios para facilitar a 2000, p.19, tradução nossa).
avaliação do potencial sucesso de uma músi- A autora explica que embora possa pa-
ca para nosso coro. recer subjetivo, a qualidade da música passa
Devemos compreender o contexto so- por elementos como expressividade, equi-
ciocultural de nosso coro – se é religioso, se líbrio entre tensão e relaxamento, forma es-
está vinculado a uma escola regular, se per- trutural, harmonia, melodia e letra. Ou seja,
tence a um projeto social, dentre outros. É elementos que possam proporcionar uma
necessário avaliar e tentar conciliar nossos experiência significativa para o cantor e para
objetivos como regente, aos da instituição ao a plateia.
qual o coral faz parte, bem como os dos pró- Em geral, músicas de alta qualidade
prios alunos. Esta pode ser uma dificuldade, possibilitam o ensino de elementos musicais
e, portanto, mais uma complexidade da nossa como duração, altura, forma, dinâmicas, tex-
profissão, na qual devemos estar atentos. turas, bem como habilidades técnicas como
Ao selecionar as músicas de uma apre- desenvolvimento vocal. A questão é se o can-
sentação específica, devemos considerar o tor poderá aprender algo significativo através
local e a ocasião desta. O repertório será dife- de uma música, que os faça desenvolver sua
renciado se isto acontecer numa igreja, num musicalidade (APFELSTAD, 2000).
auditório, ao ar livre; ou ainda se for uma mis- Portanto, deve-se ter discernimento so-
bre o que vale a pena ser ensinado. Será que
sa, um encontro de corais, uma homenagem
a música que está na moda pode acrescentar
aos pais, um concerto de Natal. É importante
algum valor ou conhecimento para o aluno?
adequar o repertório ao local e à ocasião de
Essa resposta pode ser positiva se for uma mú-
uma apresentação.
sica que possibilite a discussão e o aprendiza-
do de elementos musicais, textuais ou mesmo
Objetivos com determinado sociais. Na maior parte das vezes, precisamos
repertório sim de uma música mais conhecida em nosso
repertório como possibilidade de motivação
Figueiredo (1990, p.22) observa que “em
dos nossos alunos. A familiaridade com a mú-
geral, o repertório de um coral está vincula-
sica pode ajudar os alunos a se interessarem
do ao gosto pessoal do regente, à solicitação
mais pela atividade. Porém, este não deve ser
dos cantores, ao modismo e à tradição, aos
restrito somente com músicas que eles es-
compromissos que o grupo assume e assim
cutam no dia a dia, afinal, um dos objetivos
por diante.” Ele critica que desta forma não é
do canto coral deveria ser o de proporcionar
avaliada a possibilidade de aprendizagem de
novas experiências e, portanto, oferecer ao
elementos musicais através de um repertório
aluno a oportunidade de conhecer o novo, de
adequado ao grupo. expandir seu horizonte musical. E que melhor
Apfelstad (2000) acredita que não con- forma de promover esta expansão do que en-
seguiremos alcançar grandes objetivos com sinando músicas de estilos, gêneros, culturas
músicas de segunda linha. Elas não são capa- e épocas diferentes?
zes de desafiarem nossos cantores. A autora É importante determinar quais são os
ainda enfatiza que “embora a plateia possa se objetivos com um repertório específico.
entreter com esse repertório, tanto o público
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
O que se pretende desenvolver através Para Apfelstad (2000), são três os prin-
dessa seleção? cípios gerais para selecionar repertório: mú-
sicas de alta qualidade, que possam ser ensi-
Crocker (2000) descreve como um dos nadas e apropriadas ao contexto. Este último
principais objetivos ao escolher o repertório princípio engloba: letra, tessitura, dificuldade
para coro infantojuvenil: desenvolver a voz de técnica, contexto cultural e outras considera-
cabeça de cada aluno bem como sua capaci- ções em relação a todo o repertório.
dade de cantar a mais de uma voz. Os seis critérios que Broeker (2000)
Para Stultz (1993), os objetivos ao se- sugere estão em acordo com o que Apfelstad
lecionar o repertório de um coro devem ser: (2000) chama de apropriadas ao contexto:
desenvolver a voz de cabeça, uma boa dicção, letra, cantabilidade, forma, canto a várias
um bonito legato, alcançar segurança no can- vozes, acompanhamento e implicações
to a várias vozes. Além disso, a autora enfatiza pedagógicas.
que devemos expor nossos cantores a músi-
cas dos melhores compositores, em todas as Letra
nacionalidades, ensinar músicas que possam
A letra da música é apropriada para
desenvolver a técnica vocal, o fazer artístico e
idade, contexto cultural do grupo e da
a musicalidade.
plateia? É possível de alguma forma que os
Acredito, portanto, que os principais ob-
alunos se identifiquem com a letra?
jetivos de um repertório visam a excelência na
performance do coro, porém sem desassociá-
Broeker (2000) enfatiza que para avaliar
los da Educação Musical como: desenvolver a letra da música, os regentes não devam su-
uma boa colocação de voz, dicção, afinação, bestimar seus alunos, pois as crianças e ado-
precisão rítmica, timbre, criatividade, musica- lescentes são inteligentes, sensíveis, capazes
lização, expressividade e sensibilidade. de assimilar muitos tipos de textos, com varia-
dos temas. Selecionar músicas com ricos sig-
Critérios nificados emocionais, históricos ou culturais
são recomendáveis. Ao mesmo tempo, letras
Os objetivos se tornam consequente-
mal estruturadas não desafiam ou satisfazem
mente critérios ao selecionarmos o repertório.
os cantores nem a plateia.
Numa pesquisa de Forbes (2001) chegou-se a
É importante refletir sobre a adequação
sete principais, utilizados por regentes norte-
da letra à faixa etária de seu grupo. Em um
americanos de corais do ensino médio para coro infantil, em geral, temos crianças de 7
seleção de obras musicais: a 10 anos. Em um coro infantojuvenil essa
faixa etária se expande, podendo ter crianças
1) qualidade da música, 2) habilidades vo- e adolescentes de 7 a até 15 anos. Portanto,
cais que poderiam ser desenvolvidas atra- músicas do universo somente infantil não se-
vés da composição, 3) dificuldade técnica,
rão apropriadas para uma boa parte dos inte-
4) o potencial da música de possibilitar uma
grantes. É um desafio maior, encontrar letra
experiência estética, 5) elementos musicais
que poderiam ser ensinados através da apropriada pra uma faixa etária mais extensa.
peça, 6) maturidade vocal dos cantores e 7) Na minha experiência como regente,
demanda artística da composição (FORBES, procuro analisar se a letra contém alguma
2001 apud TURCOTT, 2002, p.28, tradução mensagem de valor que terá significado para
nossa). eles.
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VIVIAN ASSIS
REFLEXÕES SOBRE A ESCOLHA DE REPERTÓRIO PARA CORO INFANTOJUVENIL
Letras em outros idiomas são ótimas do grupo que se rege, como aponta Broeker
para as crianças e adolescentes desenvolve- (2000).
rem novos sons de vogais e consoantes, au-
mentando sua paleta de timbres vocais, como
Dificuldade Técnica
explica Broeker (2000). No entanto, para gru-
pos iniciantes, os regentes devem analisar a A música é fácil ou difícil demais?
quantidade de textos em outros idiomas. Pe-
ças que repetem uma pequena quantidade de É necessário que a música tenha desa-
palavras em outro idioma são mais acessíveis fios suficientes para não acomodar e entediar,
do que aquelas que contêm diversos versos, sendo muito fácil; nem frustrar e desanimar,
como sugere a autora. sendo muito difícil.
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
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Para iniciar o canto a duas vozes ou criar uma base harmônica que pode auxiliar a
mais, devemos utilizar contracantos, ostinati afinação de um coro infantojuvenil.
e cânones. Devemos buscar peças com vozes É importante também incluir no
que soam como uma melodia. Diferente do repertório músicas a cappella para desenvol-
que muitos podem pensar, as segundas vozes ver a afinação, segurança e independência
escritas em terças ou sextas paralelas com a das vozes.
melodia não são apropriadas para começar
o canto a duas vozes. Pelo contrário, será Implicações pedagógicas:
mais fácil para o aluno de um coro iniciante
se a segunda voz tem contorno, ritmo e letra O que pode ser ensinado através do re-
diferente da primeira voz (BROEKER, 2000; pertório? Existem elementos específicos de
CROCKER, 2000). melodias, ritmos e formas ou considerações
sociais e históricas que possam ser ensina-
dos através dessa música? Que elementos
Acompanhamento expressivos podem ser trabalhados?
Piano e teclado são tradicionalmente os
instrumentos utilizados para o acompanha- Goetze (1988) chama a atenção que o
mento, porém, pode se utilizar também o vio- foco dos ensaios de coros infantis, tradicional-
lão, bem como várias outras formações. Exis- mente, têm sido somente o do preparo para a
tem composições também para vozes iguais performance e não o do ensino de elementos
e instrumentos como flauta, violino ou oboé. musicais. Como parte da responsabilidade de
É importante analisar o acompanha- um regente educador, devemos combinar a
mento de uma música, se ele é compatível performance com desenvolvimento musical a
com o instrumentista que você tem longo prazo de nossos cantores.
Portanto, nós, regentes corais devemos
disponível para acompanhar o coro. Se
também considerar as possibilidades pedagó-
a partitura só possui a melodia cifrada, é
gicas quando selecionamos repertório, como
importante determinar como será este
enfatiza Broeker (2000).
acompanhamento para que auxilie o coro
e não o “derrube”, nem o “abafe”. Devemos
analisar se este dá suporte às vozes, se está Outras considerações sobre
enriquecendo a performance. Bartle (2003) repertório
questiona se o acompanhamento dobra a
melodia ou acrescenta novas ideias. A autora Repertório Temático
ainda afirma que um acompanhamento que O repertório pode ser selecionado tam-
não dobra a linha melódica é mais benéfico bém através de um tema determinado. O mais
para as crianças, já que ajudam a desenvolver comum é o famoso concerto de natal que to-
o canto independente do piano. dos nós, regentes, já fizemos ou fazemos todos
Broeker (2000) enfatiza que “cada vez os anos. Porém, há outras possibilidades te-
que um novo acompanhamento é introduzi- máticas ao se escolher o repertório, como por
do, as crianças expandem seu conhecimento exemplo: somente músicas de um determina-
de timbres e redefinem suas habilidades de do compositor, ou banda, ou época, ou temas
afinação” (p.28, tradução nossa). Ela ainda su- como: amor, amizade, família, natureza, trem,
gere adicionar um instrumento grave como passarinhos, futebol. Podemos também esco-
um violoncelo, contrabaixo ou fagote para lher fazer um musical ou cantata já existente.
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VIVIAN ASSIS
REFLEXÕES SOBRE A ESCOLHA DE REPERTÓRIO PARA CORO INFANTOJUVENIL
Mas se formos montar um concerto com Essas informações históricas e culturais po-
músicas avulsas, devemos ser criativos para dem ser discutidas com seus alunos para ex-
conectá-las, e também flexíveis para inclusão plorar o propósito de uma canção específica
de novas músicas, bem como para exclusão no repertório.
de outras.
Portanto, é essencial possibilitar
O repertório é balanceado em estilos,
épocas, gêneros? a contextualização e com isso a compreen-
são musical de nossos alunos para que as
É necessário considerar a variedade das músicas do repertório sejam significativas
para eles. (...) As músicas não devem ser des-
peças. Plateia e cantores gostam de ouvir can-
vencilhadas de seus contextos. Conhecer a
ções com diferentes métricas, tonalidades e história ou a tradução de uma música pos-
andamentos como aponta Broeker (2000). Ela sibilita a sua compreensão [pelos alunos],
sugere fazer uma lista dos gêneros, idiomas, gerando significados (CARVALHO, 2007,
nacionalidades, acompanhamento de instru- p.87-88).
mentos, e épocas históricas representadas
nas músicas escolhidas e refletir se existe va-
riedade suficiente em cada categoria listada. Considerações finais
A escolha de repertório deve abrir pos-
Contextualização da música sibilidades de exemplificar e pôr em prática
conceitos vocais; como afinação, respiração,
Na minha experiência e pesquisa com o
dicção; musicais, como dinâmica, altura, rit-
Coral Cariúnas, observei que é necessário que
mo, timbre; e ainda deve possibilitar significa-
os cantores estabeleçam algum tipo de co-
dos enriquecedores para os alunos. O reper-
nexão com a música, que se identifiquem de tório dá sentido aos conteúdos musicais que
alguma forma para que esta seja interpretada ensinamos.
com maior compreensão. Apfelstad (2000) enfatiza que o regen-
te deve acreditar na música selecionada, se
A questão não é o gostar ou não e, sim, do comprometer em ensiná-la da melhor forma
que se pode gostar. É necessário esmiuçar a possível com entusiasmo e perceber que os
música, de forma que os cantores possam
alunos serão capazes de realizá-la com tempo
entendê-la e adquirir seus próprios signi-
ficados. O repertório é proposto por mim e esforço.
com vários intuitos e objetivos, no entanto,
os integrantes não estão passivos na sua Como apresentar uma nova música ao
aprendizagem. Eles adquirem ativamente coro?
seus próprios significados e estabelecem
suas próprias conexões (CARVALHO, 2007, Talvez o importante não seja somente
p.61). a escolha do repertório, mas em como apre-
sentar essas escolhas para o seu grupo. Como
Arasi (2006), conclui em sua pesquisa convencê-los, seduzi-los, “vender o peixe” de
que “informações históricas e culturais pos- cada música?
sibilitadas por um repertório variado é sig- Portanto, além de escolher o repertório
nificativa para expansão e valorização de vá- com objetivos específicos já tratados anterior-
rios tipos de música” (p.202, tradução nossa). mente, é essencial apresentar a nova música
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
a ser ensaiada pelo grupo de forma mais in- - O que eu posso ensinar através dessa música?
teressante possível. É hora de ser criativo e Conceitos? Discussões? Elementos musicais?
criar atividades diferenciadas com aquela Sociais? Vocais? Criticismo? Aprimoramento
peça. Pode-se contar uma história, criar uma na performance? Desenvolvimento da
percussão corporal, fazer uma brincadeira, sensibilidade?
contextualizar falando sobre o compositor ou
sobre a letra daquela música... São inúmeras - Ela contém desafios pros cantores dentro de
as possibilidades! suas capacidades?
Saber apresentar a música de forma
criativa faz com que os alunos se interessem e - Ela estimula, inspira, desafia seus cantores e a
queiram aprendê-la! você, como regente?
Gackle (2006) e Leck (1995) enfatizam
que devemos selecionar músicas que ama- - Ela possui tessitura adequada ao seu grupo?
mos. Penso da mesma forma: acredito que
só conseguimos fazer bem, aquilo que é - O que você pretende ensinar e como essa
verdadeiro para nós. Portanto, é importante música pode ajudá-lo a alcançar esse objetivo?
selecionarmos músicas nas quais nos identi-
ficamos, para que possamos ensiná-las com - Os alunos gostarão de aprendê-la e de cantá-
motivação. la? E você, gostará de regê-la?
Sugestões de questionamentos
ao selecionar uma música para o
repertório
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VIVIAN ASSIS
REFLEXÕES SOBRE A ESCOLHA DE REPERTÓRIO PARA CORO INFANTOJUVENIL
BARTLE, Jean Ashworth. Sound Advice: Becoming a LECK, Henry; JORDAN, Flossie. Creating Artistry. Through
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O CORPO QUE CANTA E A VOZ QUE DANÇA:
REFLEXÕES SOBRE O GESTUAL DE REGÊNCIA
E A SONORIDADE CORAL INFANTIL
Débora Andrade
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O CORPO QUE CANTA E A VOZ QUE DANÇA: REFLEXÕES SOBRE O GESTUAL DE REGÊNCIA E A SONORIDADE CORAL INFANTIL
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
De acordo com essa teoria, a utilização Laban, Benge (1996 apud LIAO, 2002) iden-
do espaço, pelos braços, afetaria a articulação tificou várias relações entre a regência e os
das músicas, podendo ser um movimento di- conteúdos musicais., ligados à dinâmica, à
reto ou indireto. Para ser direto, a marcação qualidade vocal, à articulação e ao caráter
do compasso é feita em linha reta, de um expressivo. Suas percepções relacionadas à
ponto ao outro dos compassos. Para ser indi- dinâmica, primeiramente, foi as de que movi-
reto, o movimento é feito em curva, não reto, mentos mais largos, geralmente, estão asso-
perambulando entre os pontos do compasso. ciados à dinâmicas mais fortes, enquanto os
Por outro lado, o tempo do movimento teria movimentos menores se associam às dinâmi-
influência direta no fluxo da execução musi- cas mais suaves. Já os crescendos estão rela-
cal, ou seja, no seu andamento, podendo ser cionados aos movimentos em fluxo contínuo,
sustentado ou rápido. Já a utilização do peso enquanto os decrescendos são realizados por
do braço influenciaria a intensidade da músi- diminuição do espaço utilizado pela regência.
ca e/ou o timbre, podendo ser leve ou pesa- De outra forma, os impactos na quali-
do. Então, a combinação entre as diferentes dade vocal dos coristas se revelam por meio
maneiras de se utilizar o peso do gesto, o es- do espaço em que se rege. Assim, movimen-
paço e tempo utilizados para a sua realização tos realizados em partes mais baixas do corpo
geram o que Laban chama de ações, sendo sugerem uma articulação das palavras mais
elas o flutuar, o torcer, o deslizar, o empurrar, pesada e um timbre mais escuro. Do contrá-
o chicotear, o golpear, o tocar e o torcer (LECK; rio, quando realizados em partes superiores
JORDAN, 2009). do corpo, sugerem sons mais brilhantes. En-
A ação denominada flutuar é composta quanto os movimentos são articulados rapi-
por uma movimentação de braços indireta, damente eles sugerem acentuação e ênfase.
leve e sustentada, como se alguém pisasse na Diferentemente, quando são realizados ponti-
água, em diferentes profundidades. A torcer listicamente sugerem sons picados, enquanto
possui movimentos indiretos, pesados e sus- quando são realizados de forma leve e susten-
tentados, semelhante ao torcer de uma toalha tada induzem a uma performance musical de
de praia molhada. Deslizar é semelhante uma caráter flutuante. E, por último, as mudanças
patinação no gelo, com movimento direto, de caráter expressivo são realizadas por meio
leve e sustentado. Empurrar é direto, pesado de mudanças bruscas de gestual.
e sustentado, como o esforço que se faz ao Considerando, então, essas informa-
empurrar um carro. Chicotear é um movimen- ções, Leck e Jordan (2009) afirmam que para
to indireto, leve e rápido, como se tira fiapos se obter do coro infantojuvenil um som bri-
das roupas. Golpear é semelhante ao ato de lhante é necessário que se utilizem gestos lar-
rebater uma bola de tênis, sendo ele indireto, gos, na regência. Por outro lado, um som es-
pesado e rápido. Já a ação tocar se asseme- curo demanda movimentos verticais. Se por
lha à digitação de um teclado de computador, um lado, fazer movimentos altos gera um som
sendo o seu movimento direto, leve e rápido. leve, sua realização na região baixa do corpo
E, por fim, o socar pode nos remeter ao boxe, gerará um som pesado. E para se adquirir uma
possuindo movimentos indiretos, leves e sus- sonoridade flutuante, basta que o regente re-
tentados (LECK; JORDAN, 2009). alize movimentos circulares com os braços.
Dentre muitas outras pesquisas realiza- A arte da regência tem sido entendida
das, nessa área, ao analisar gestos de regên- como um ato de transmitir o conteúdo rítmico
cia à luz da Teoria do Movimento de Rudolf e expressivo de uma obra musical, “por meio
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DÉBORA ANDRADE
O CORPO QUE CANTA E A VOZ QUE DANÇA: REFLEXÕES SOBRE O GESTUAL DE REGÊNCIA E A SONORIDADE CORAL INFANTIL
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
Fonte: http://ceciliacavalierifranca.com.br/wp-content/themes/cecilia/downloads/partituras/querubim.pdf.
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DÉBORA ANDRADE
O CORPO QUE CANTA E A VOZ QUE DANÇA: REFLEXÕES SOBRE O GESTUAL DE REGÊNCIA E A SONORIDADE CORAL INFANTIL
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Me - ni - na dos o - lhos tris - tes, o que foi que a - con-te - ceu?
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ni - na dos o-lhos bri - lhan - tes Que -ro_o do - ce do teu o - lhar.
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Pos-so_ar -ris - car um pal - pi - te? Tua_es - tre - la não a - pa - re - ceu. Me-
E vê - los bri -lhar co - mo_an - tes Bem an - te do sol rai -
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Fonte: http://ceciliacavalierifranca.com.br/wp-content/themes/cecilia/downloads/partituras/menina.pdf.
Fonte: a autora.
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
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Fonte: http://ceciliacavalierifranca.com.br/wp-content/themes/cecilia/downloads/partituras/o_palhaco_e_a_bailarina.pdf.
Se opto por reger desta forma, o gestual pero. Mas posso, também, optar por regê-
deverá conter movimentos rápidos e peque- la de duas outras formas, considerando um
nos, articulando, basicamente, o pulso, ao in- pulso por compasso, em ambas. Nesse caso,
vés dos braços. Do contrário, utilizando o bra- posso regê-la em compasso quaternário, com
ço e, até mesmo, o antebraço, a performance pontos bem marcados, ou seja, não ligados,
de regência pode transmitir tensão e deses- ou em binário, semelhantemente (Figura 5).
Fonte: a autora.
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DÉBORA ANDRADE
O CORPO QUE CANTA E A VOZ QUE DANÇA: REFLEXÕES SOBRE O GESTUAL DE REGÊNCIA E A SONORIDADE CORAL INFANTIL
Fonte: http://ceciliacavalierifranca.com.br/wp-content/themes/cecilia/downloads/partituras/o_coqueiro_da_praia.pdf.
Fonte: a autora.
Já na canção “Casa de Vó” (Figura 8), tam- do binário (Figura 9). Caso contrário, a regên-
bém, escrita em 6/8, sugiro uma regência em cia de um binário por compasso, criaria outros
2, respeitando o acento das palavras, como acentos na frase (“Doce de maçã macieira dá,
na frase “Doce de maça macieira dá”. Assim, tirando dela seu caráter leve.
cada compasso representaria uma pulsação
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
Fonte: http://ceciliacavalierifranca.com.br/wp-content/themes/cecilia/downloads/partituras/casa_de_vo.pdf.
Fonte: a autora.
E, para finalizar essa reflexão, apresento pode ter várias configurações, dependendo
a canção “Toda Cor” (FRANÇA, 2006) (Figu- do fraseado da música.
ra10). Ela é escrita em compasso quinário, que
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O CORPO QUE CANTA E A VOZ QUE DANÇA: REFLEXÕES SOBRE O GESTUAL DE REGÊNCIA E A SONORIDADE CORAL INFANTIL
Fonte: http://ceciliacavalierifranca.com.br/wp-content/themes/cecilia/downloads/partituras/caqui.pdf.
Nesse caso, a acentuação de seu texto Ou seja, esta canção sugere apoios em
nos sugere os seguintes apoios: uma relação que costumo chamar de 3 x 2.
Dessa forma, poderia escolher duas diferen-
Toda cor é pouca pra pin-tar _____ tes configurações de regência. A primeira
configuração se assemelha ao compasso ter-
1 2 3 1 2 1 2 3 1 2 nário. Já a segunda desmembra o compasso
quinário em dois, alternando a regência dos
Todo sonho é tanto pressentir______ compassos ternário e binário (Figura 11). Se
em ambas maneiras de reger o movimento
1 2 3 1 2 1 2 3 1 2 for pequeno e rápido, resumindo-se à articu-
lação do pulso, não haverá grandes diferenças
Todo amor é pouco. Todo amor é pouco. expressivas, entre elas.
Todo amor______
1 2 3 1 2 1 2 3 1 2 1 2
3 1 2
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
Fonte: a autora.
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O CORPO QUE CANTA E A VOZ QUE DANÇA: REFLEXÕES SOBRE O GESTUAL DE REGÊNCIA E A SONORIDADE CORAL INFANTIL
durante todo o percurso, ele perderá seu po- 6 Não seja um regente Flamboyant2
der de comunicação, uma vez que os demais
Ao emitir crítica aos regentes extrava-
condutores ficarão confusos, com relação às
gantes, Leck e Jordan (2009, p.115, tradução
suas intenções. Semelhantemente, na regên-
minha) afirmam que “regentes flamboyant
cia, se você mudar a dinâmica musical de pia-
podem ofuscar o grupo. Nunca é um privilé-
no para mezzo-forte, mas já vem regendo, des-
gio do regente ou dos cantores ofuscar o gru-
de o início, com gestos enormes, só lhe restará
po. Nós somos servos da música”. E, quando
pular no palco, para que seus coralistas enten-
fazem essa afirmação, os autores se referem
dam o que você quer.
aos regentes que, empolgados com a atenção
Não reja apenas por uma questão for-
do público, exageram em sua performance,
mal. Estabeleça uma comunicação visual com
assumindo o protagonismo do momento, no
seus coralistas. Se você os conduz com um
palco. Esta atitude presta um desserviço à arte
olhar perdido, eles também perderão o foco
e expõe a figura do regente como alguém que
da musicalidade e não relacionarão sua re-
só está preocupado com a projeção de sua
gência à comunicação musical. Portanto, não
própria imagem, ao invés de comunicar ex-
“bata compasso”, apenas, sem que sua movi-
pressão musical aos seus coristas e plateia.
mentação de braços tenha algum motivo.
Portanto, pense se o exagero gestual
acrescenta qualidade à sonoridade do seu
5 Desenvolva uma autoimagem grupo ou se não vai ser elemento de distração
saudável das crianças, sobretudo, quando se trata de
É sabido que a regência determina o um coro cênico. Nesse contexto, há regentes
resultado sonoro ao provocar no músico uma que realizam um trabalho musical tão
reação corporal (JARAMILLO, 2004; CASTELLO eficiente, nos ensaios, que se retiram da frente
BRANCO, data não especificada). “A habilida- do grupo, por alguns momentos, retornando
de de compartilhar em um nível pessoal pro- apenas quando há necessidade de realizar
fundo, pode ser um desafio para algumas pes- fermatas, cortes e mudanças no andamento.
soas” (NOBLE, 2006, p. 75, tradução minha). De
acordo com o autor, a presença ou a falta da 7 Não subestime as crianças
extroversão reflete diretamente na abertura
As crianças entendem música e comuni-
pessoal que o regente tem para comunicar
cação musical muito mais do que nós acredi-
música. Por isso, é muito importante que o
tamos. Elas são capazes de entender regência.
regente desenvolva uma autoimagem saudá-
São capazes, inclusive, de perceber quando
vel, um autoamor, que não se deixa abalar fa-
nós não estudamos a peça.
cilmente. A fé em me arriscar diante de meus
grupos deve se tornar parte de nossa rotina
diária. Ainda segundo o autor, quanto mais o Considerações finais
regente se abre para demonstrar essa expres- Para finalizar, esse capítulo propõe uma
são musical, mais os coralistas crescem, com compreensão o ato de reger como uma ação
ele, nessa liberdade de se expressar, refletindo que não esteja, necessariamente, relacionada à
“mais prontamente o que eles veem no olho a técnica tradicional de regência, documentada
alma do regente” (NOBLE, 2006, p. 75).
2 Flamboyant é uma árvore de até 15 metros de altura, cujas folhas
podem ter 90 centímetros de comprimento. Dizer que alguém é
Flamboyant equivale a dizer que essa pessoa se faz perceptível.
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DÉBORA ANDRADE
O CORPO QUE CANTA E A VOZ QUE DANÇA: REFLEXÕES SOBRE O GESTUAL DE REGÊNCIA E A SONORIDADE CORAL INFANTIL
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REGENTES CORAIS INFANTOJUVENIS:
QUEM SOMOS?
Este texto – um ensaio, eu diria - é em- colegas regentes. Porque o trabalho é árduo,
basado em minha tese de doutorado (GA- mas os resultados são encantadores...
BORIM-MOREIRA, 2015), na qual sigo o tra- Então... somos regentes. Somos regen-
dicional rigor acadêmico e discorro sobre as tes corais. Somos regentes corais infanto-
competências e habilidades do regente coral juvenis. Dentro do campo de atuação da
infantojuvenil. O tema proposto – “quem so- Regência, que é bastante amplo, realizamos
mos?” - se desenvolveu a partir do convite um trabalho específico de educação musical
para uma conferência1, direcionada a regen- com crianças, adolescentes e jovens. Sim, nós
tes em atividade e alunos de Licenciatura em sabemos quem somos, o que temos e como
Música (quem sabe, futuros regentes). Mas ao fazemos, reconhecendo as nossas limitações
contrário da tese e dos artigos científicos que e encarando muitos desafios, problemas e
já publiquei, optei por trazer neste texto uma dificuldades. Na prática, precisamos sempre
linguagem mais direta e menos rebuscada, mostrar “quem somos”, em uma sociedade
com muitos relatos baseados nas minhas ex- que não compreende muito bem esse nosso
periências como regente. Procurei, desta for- ofício. Precisamos, a todo momento, justificar
ma, conferir mais autenticidade aos assuntos que os resultados da prática coral são positi-
abordados e tornar o texto mais próximo do vos e destacar os benefícios dessa atividade
leitor (pensando que muitos se identificarão para o desenvolvimento cognitivo, psicomo-
com as situações aqui apresentadas...). Con- tor e socioafetivo do público com o qual tra-
forme fui transcrevendo a fala apresentada na balhamos. A pesquisadora Claudia Bellochio
conferência, fui lembrando de outras experi- bem ressalta esses benefícios em sua disser-
ências, que achei interessante também con- tação de mestrado:
tar aqui nesta oportunidade. Assim, deixei o
texto mais livre, como se eu estivesse “conver- as crianças-coristas apresentam-se mais au-
sando” com o leitor, e espero desta forma con- tônomas frente a determinadas situações,
tribuir para encorajar, incentivar, emocionar, ou seja, através de uma posição grupal mais
provocar, alertar, dar asas à imaginação dos socializada e do uso mais contínuo da ex-
pressão oral, ocorre um posicionamento
1 A conferência “Regentes corais infantojuvenis: quem somos?” foi intrapessoal mais efetivo do corista em si-
apresentada na abertura dos eventos: I Encontro de Regentes de tuações sociais extra-coral, o qual conside-
Coros Infantojuvenis da UEPG, XXVII Encontro de Coros Infanto- ramos como posicionamento autônomo
juvenis da UEPG e I Semana Acadêmica do Curso de Licenciatura (BELLOCHIO, 1994, p.186).
em Música da UEPG, realizado na cidade de Ponta Grossa (PR) em
agosto de 2017, a convite do Prof. Dr. Ronaldo da Silva.
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DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
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ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA
REGENTES CORAIS INFANTOJUVENIS: QUEM SOMOS
com esse perfil é um trabalho bastante rico e música nas escolas, e essa prática foi se per-
também muito fundamentado. Quem assiste dendo durante esse período. Perdemos a tra-
a um coro infantojuvenil que já tem uma certa dição do canto coral e também as referências
experiência não imagina o quanto o/a regen- nessa área, de modo que a prática se tornou
te trabalhou, como o ensaio foi preparado e muito distante das pessoas. Com relação ao
realizado, quanto os coralistas se dedicaram, campo de trabalho, não há padronização, mas
como se chegou a esse resultado. Claro que muitas variáveis. Para que se possa visualizar
– convenhamos – há muitos coros infanto- melhor essa diversidade, apresento aqui al-
juvenis com um trabalho incoerente e isso guns dados levantados em minha tese, onde
também deprecia a nossa arte. Mas isso tudo estão representados 84 coros infantojuvenis
ocorre porque há mais de 40 anos não temos das 5 regiões do Brasil.
Conseguimos perceber no gráfico 1 que essa questão: como devo chamar meu grupo
existem vários tipos de coros, ligados a dis- de crianças – coro infantil, infantojuvenil, ju-
tintas naturezas (e pode haver ainda outros venil ou jovem? Há 20 anos atrás, Gisele Cruz
tipos, que não foram contemplados pela pes- também organizou alguns direcionamentos
quisa realizada). A maior parte dos coros in- nesse sentido, no livro “Canto, canção canto-
fantojuvenis está nas escolas (públicas e parti- ria: como montar um coro infantil”3, para a
culares). Quando procuramos traçar um perfil denominação dos coros que atendem a esse
para esses coros, nos surpreendemos, porque público. Na verdade, desde que a antiga “pré-
não existe padronização. A própria palavra escola” passou a ser denominada “Educação
“coro infantojuvenil” também não segue a um Infantil”, para crianças de até 5 anos, a expres-
consenso. Recentemente, Patrícia Costa2 pu- são “infantil” passou a ser própria do contexto
blicou um artigo em que discute exatamente das crianças menores. Então, nos coros que
abrangem uma faixa etária extensa (por exem-
2 COSTA, Patrícia. Afinal, coro infanto-juvenil, coro juvenil ou
plo, dos 06 aos 12 anos, que é o foco da minha
coro jovem? Rio de Janeiro: Observatório Coral Carioca, 2017.
Disponível em: https://observatoriocoral.art.br/sites/default/
files/documentos/artigos/2017-03-afinal-coro-infanto-juvenil- 3 SESC São Paulo. Canto, canção, cantoria: como montar um coro in-
corojuvenil-ou-coro.pdf (acesso em 10/06/2017) fantil. São Paulo: SESC, 1997.
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
tese), não podemos chamar os pré-adoles- perceber que, dentre os coros participantes da
centes de “infantis”, porque eles já não acei- pesquisa, a diferença entre os números é bem
tam mais essa denominação. Afinal de contas, grande: podemos chamar de “coro” um grupo
eles “já” estão no Ensino Fundamental... com 10 ou com 110 participantes. Em nossa
Não podemos também identificar um pesquisa, constatamos que a maioria dos co-
número padrão de participantes para um coro ros infantojuvenis são grupos de 40 a 50 ou 60
infantojuvenil. No gráfico 2 (abaixo), podemos a 70 crianças – um número bastante variável.
Gráfico 2 – número médio de crianças participantes por coro (GABORIM-MOREIRA, 2015, p.116)
Se pensarmos no tempo de ensaio, tam- ao qual o coro está ligado. A maioria dos co-
bém existe grande divergência. Na pesquisa, ros representados na pesquisa ensaia entre 2
constatamos que há coros que realizam en- horas e 2 horas e meia (120-150 minutos) – o
saios de 45 minutos semanais (equivalentes à que é uma grande variável, também, se pen-
hora-aula nas escolas) e coros com ensaios de sarmos na maneira como vamos estruturar
6 horas semanais, divididos em dois dias com nosso ensaio. No caso dos ensaios de menor
3 horas. Mas também sei de ensaios corais que duração (45-50 minutos), os regentes recla-
ocorrem em apenas 30 minutos – eu mesma mam que o tempo é realmente muito curto,
já tive que fazer ensaios em 30 minutos. Esse insuficiente para um ensaio pleno.
tempo depende dos objetivos da instituição
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REGENTES CORAIS INFANTOJUVENIS: QUEM SOMOS
vocal – aspectos essenciais e fundamentais sejam encaradas como uma futura profissão
para o nosso ofício - mas quando vamos para e sim, como um “hobby” sem muita consequ-
outros campos fora da universidade, as pes- ência e tenha seu inicio e fim” (regente para-
ense; GABORIM-MOREIRA, 2015, p. 556).
soas não entendem isso. Essa consciência de
nosso papel na sociedade vai além de fazer
música: significa proporcionar o entendimen- Essas são as falas de regentes que estão
to das pessoas que estão à nossa volta, para nas escolas, em condições totalmente inapro-
que tenhamos nossa função mais reconheci- priadas para o canto coral. Então, qual seria
da, mais valorizada. Trago aqui as palavras de um ambiente de trabalho “ideal” para o tra-
regentes participantes da minha pesquisa, balho coral infantojuvenil? Quando eu iniciei
que atuam em escolas de quatro estados, de meu trabalho com coros infantojuvenis, eu
quatro regiões diferentes do Brasil. Percebe- não conhecia referenciais teóricos que me in-
mos, nestes depoimentos, que não há com- dicassem o que era um local adequado. Eu não
preensão da função do coro dentro das esco- sabia o que pedir, então comecei a trabalhar
las, onde estão alocados a maior parte dos co- em condições muito ruins. Naquela expecta-
ros da pesquisa (e por este motivo, estão aqui tiva de começo da carreira eu “topava tudo”,
destacados): pois estava muito animada para iniciar. Eu
trabalhei em salas extremamente sujas, e isso
“os responsáveis sempre querem um resultado trazia danos à minha saúde – e o que dirá, às
rápido, quando esta é uma atividade que leva crianças... Hoje, eu percebo que os resultados
tempo, para conscientizar as crianças, e criar poderiam ter sido muito melhores, se eu esti-
nelas um senso de responsabilidade” (regente vesse em condições de trabalho melhores. O
paulista; GABORIM-MOREIRA, 2015, p. 527). que deveríamos pensar, portanto, em termos
de condições ideais? Quando se recebe uma
“o principal problema da música é não ser en-
carada como uma forma de linguagem, que proposta para trabalhar, já é preciso “brigar”
tem uma estética a ser estudada e aperfeiçoa- por essas condições adequadas logo no iní-
da. Este problema nos leva ao paradigma ain- cio. Depois que o trabalho começa, fica muito
da vigente, principalmente dos próprios dire- mais difícil pedir qualquer coisa que “não esta-
tores e pedagogos, que pensam que a música va no projeto”, pois “não há verba para isso”, ou
é apenas para acalmar, fazer apresentação
“será preciso fazer uma licitação”... O processo
para ficar “bonitinho” para os pais, discipli-
nar crianças que não se comportam em sala
é sempre complicado, em qualquer contex-
de aula, fazer passeios ou incluir socialmente to: escolas, igrejas, ONGs, fundações, órgãos
crianças de periferia (regente sul-mato-gros- públicos... Pensemos que um local ideal seria,
sense; GABORIM-MOREIRA, 2015, p. 532). então, uma sala com tamanho suficiente para
o número de crianças, com boa limpeza, boa
“por se tratar de escola pública, não dispomos ventilação e temperatura, acústica adequada
nem de uma sala adequada. Eu espero a aula
(considerando a reverberação e a influência
terminar os horários aí a servente varre a sala,
eu organizo as cadeiras, levo meu teclado, um de sons externos que podem interferir no
caixa de som, eu mesma faço tudo” (regente ambiente), mobiliário e decoração em ordem,
potiguar; GABORIM-MOREIRA, 2015, p. 549). boa organização dos materiais. Isso não se
aplica somente ao canto coral, mas são condi-
“(...) falta de compreensão, por parte de pais ções apropriadas para qualquer ambiente de
e ou responsáveis, mediante a seriedade do ensino-aprendizagem - porque precisamos
exercício e ensaios na prática do coro, talvez
propiciar uma sensação de bem-estar. Eu já
por achar que as atividades musicais não
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REGENTES CORAIS INFANTOJUVENIS: QUEM SOMOS
Swanwick (2003)5. A profa. Maria de Lourdes uma apresentação marcada para um evento
Sekeff (2002, p.134-136) classificou algumas em setembro, antes mesmo do coro começar.
das ferramentas necessárias para o fazer mu- Eu tinha que escolher músicas que falavam de
sical, enquanto processos cognitivos: fazer “paz”. Tive muitas sugestões de canções, mas
combinações, discernir, selecionar, escutar, nem sempre as tessituras eram adequadas, às
perceber, analisar, deduzir, diferenciar, sinte- vezes tinham textos extensos, às vezes uma
tizar, superpor, codificar, decodificar, abstrair, temática que não era adequada ao universo
memorizar, lembrar e alimentar a imaginação. infantil. Cheguei até compor uma música de
Isso é possível em um coro? Sim! Quando pen- Paz pra dar conta dessa “missão impossível”
samos em reger um coro, isso não deveria se que eu recebi, porque precisava completar o
limitar a ensaiar uma canção, mas desenvolver repertório da apresentação e não encontrava
essas ferramentas em diversos tipos de ativi- mais canções que falavam de “paz” (e na épo-
dades. Mas muitas vezes vejo que os regentes, ca, não existia essa facilidade de procurar na
naquela preocupação em agradar as crianças Internet). Tudo isso porque a existência do
ou o público (ou ainda, os gestores do proje- coro estava condicionada a essa apresenta-
to), escolhem uma música que as crianças es- ção; eu senti que não havia uma preocupa-
cutam no rádio e simplesmente trazem para ção primordial com o aprendizado musical.
dentro do coro, sem fazer um arranjo ou uma Mas por outro lado, havia uma preocupação
adaptação... bem, essa é uma atitude bem com o bem-estar das crianças, com seu de-
comodista, pois não dá muito trabalho fazer senvolvimento psicossocial, com sua relação
com que as crianças cantem uma canção que familiar. As mães das crianças, por exemplo,
elas já sabem, com a qual já estão familiariza- tinham um atendimento psicológico gratuito
das. Mas aí não se trata de construir conhe- enquanto as crianças estavam participando
cimento musical, isto é, de ter comprometi- do coro, nesse projeto.
mento com a iniciação musical do indivíduo. Então, precisamos ter essa consciência
Violeta de Gainza (2002, p.53-54), educadora de que também estamos contribuindo para a
musical argentina, argumenta que qualquer formação integral de um ser humano. A crian-
processo de iniciação musical teve ter o mais ça que vem participar do coro, muitas vezes,
alto nível de qualidade, profundidade e atu- não está buscando só o aprendizado musical.
alidade. Não sabemos qual será o futuro das Eu já trabalhei com coros na periferia de São
crianças que estão sob os nossos cuidados, Paulo; muitas vezes, as crianças vinham para o
por isso, é necessário que lhe demos uma boa projeto buscar o que não tinham em casa (e a
base. Talvez elas se tornem músicos, e se esse realidade é muito dura): às vezes, vinham bus-
não for o caso, se tornarão futuras consumi- car um ambiente confortável, às vezes vinham
doras de música. De qualquer forma, “infância buscar o carinho e a atenção que não têm em
musical é sinônimo de jogo, liberdade, des- casa, às vezes vinham buscar comida... já pas-
cobrimento, participação, e outras atitudes sei por situações em que fiquei muito sensi-
determinantes do desenvolvimento posterior bilizada. Por exemplo, eu tinha uma aluna
do futuro músico ou amador” (GAINZA, 2002, que todo ensaio lavava o cabelo no banheiro,
p.57). porque na comunidade onde ela vivia, tinha
Certa vez, fui chamada para começar um tempo muito limitado para tomar banho.
um coro infantil no mês de maio e já havia Então, nos ensaios, ela pedia para ir ao ba-
nheiro, e então tinha a oportunidade de en-
5 Menção ao livro “Educando música músicalmente”, de Keith Swa- fiar a cabeça embaixo da pia e lavar o cabelo;
nwick (São Paulo: Moderna, 2003).
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DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
depois, voltava pro ensaio toda satisfeita. Tive passou a ter confiança, e em determinado
um outro menino que dormia nos ensaios, e momento, ela decidiu participar desse tipo
eu ficava me questionando: será que meu en- de atividades. Tudo isso foi muito natural. Tive
saio é tão “chato” assim? Porque eu não estou outras crianças no grupo que eram extrema-
conseguindo atrair o interesse dessa criança? mente tímidas, mas foram se acostumando a
Então conversei com a assistente social, e ela cantar em público nas apresentações do coro.
foi investigar porque o menino dormia aos Isso porque elas têm o apoio dos colegas e
sábados pela manhã. Ela descobriu que na não ficam tão expostas, além disso, ficam se-
sexta-feira à noite, geralmente o pai bebia, e guras diante do regente. Eu me surpreendi
passava a noite espancando a mãe em casa. quando uma mãe me mandou o vídeo da filha
Então, quando chegava no sábado de manhã, cantando na igreja, solando, ao microfone –
ele não queria cantar; só queria dormir, queria uma menina que era extremamente introver-
um ambiente seguro e confortável onde não tida quando chegou no projeto. Depois veio
aconteciam brigas. Sem contar que há muitas o vídeo de uma outra, que teve essa mesma
crianças carentes de carinho, mesmo: muitas experiência... e assim vamos tendo a certeza
vezes chego para o ensaio e elas vêm logo me de que estamos no caminho certo.
abraçar, me contam as novidades da semana, Acredito que essas situações ocorrem
querem que eu lhes dê atenção. Ou então têm porque no coro – pelo menos, na minha forma
dificuldade para fazer amigos, porque na es- de trabalhar – eu considero todas as crianças
cola são consideradas “indisciplinadas”, e na- como iguais. Não tem “nota” para distinguir
turalmente já são colocadas à parte. Eu fiquei os “melhores” e os “piores”, todos são “coralis-
muito surpresa ao entrevistar as crianças do tas”. Aqueles que têm um pouco mais de fa-
projeto, perguntando individualmente: “o que cilidade pra aprender naturalmente ensinam,
você acha que aprendeu no PCIU, ao longo impulsionam aqueles que têm dificuldades,
deste ano?”. Um dos meninos mais agitados numa espécie de sinergia. Se alguma criança
respondeu: “aprendi a ser amigável no coro. tem algum “problema” sério de afinação ou
Eu não tinha muitos amigos antigamente”. vejo que “grita” muito, separo um tempo para
Outros aspectos psicossociais também são trabalhar com ela individualmente, antes ou
trabalhados, como a timidez e a exposição depois do ensaio. Também já trabalhei com
pública. Proporciono algumas atividades na pequenos grupos em horários alternativos, e
rotina do coro em que cada criança se colo- isso foi muito positivo, resolveu o “problema”
ca individualmente, seja cantando seu nome – que às vezes é patológico, às vezes psicoló-
ou uma frase de determinada música, seja im- gico, às vezes técnico, e às vezes é uma ques-
provisando uma célula rítmica com percussão tão de percepção associada à ansiedade: a
corporal ou criando gestos e expressões para criança não consegue te ouvir enquanto você
um pequeno tema. Geralmente faço isso num está ensinando. É preciso, então, mostrar a
círculo, onde todos podem se ver. Havia uma importância do “ouvir” e conduzir o processo
criança no coro que era tão tímida, que chora- de imitação – essa imitação tem que ser pre-
va quando chegava a sua vez de se apresentar cisa, e não intuitiva. Até mesmo meus alunos
diante dos colegas. Eu sempre respeitei isso e do curso de Graduação em Música, já adultos,
conversei com os pais, que confirmaram que que eram extremamente desafinados, conse-
ela era extremamente inibida, não sabiam o guiram cantar de modo afinado trabalhando
que fazer para que ela perdesse esse medo, em pequenos grupos, com muitos exercícios
essa timidez. Aos poucos ela foi se abrindo, práticos de percepção associados a vocalizes.
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ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA
REGENTES CORAIS INFANTOJUVENIS: QUEM SOMOS
Então, ensinar as crianças a cantar e Nós, que trabalhamos com coros, sabe-
conduzi-las em grupo é proporcionar uma mos de tudo isso. Nós vivenciamos tudo isso.
experiência significativa, mas que transcen- Mas muitas vezes, as pessoas que estão na
de o aprendizado musical. Nós, regentes, as- gestão ou nas plateias não têm ideia dos re-
sumimos também esse papel de contribuir sultados ou benefícios que o coro pode pro-
para a formação integral da criança. Muitas porcionar. Então, quando fazemos um projeto
vezes elas aprendem certos conceitos no coro – e novamente venho falar de projeto – pre-
– como direita e esquerda, sentido horário e cisamos deixar claros esses benefícios. Por-
anti-horário... e às vezes os pais vem me agra- que às vezes muito dinheiro, muito tempo e
decer, porque “finalmente” o filho aprendeu muitos esforços são investidos. Trazemos, por
o que eles não conseguiram ensinar em casa. exemplo, benefícios intelectuais, conforme
Às vezes eles aprendem conceitos básicos, de assegura Elza Lakschevitz:
língua portuguesa e matemática: separar síla-
bas ou perceber sílabas tônicas, por exemplo. o coro infantil é uma das atividades mais
Um pai me contou que a filha tinha dificulda- importantes de que uma criança pode to-
de na escola nesses pontos e passou a enten- mar parte, não somente na área de músi-
der, por causa dos exercícios do coro... Outros ca, mas de maneira geral, na sua formação
dizem que os filhos estão contando melhor, e educação. Em um coro, as crianças tem
muito mais oportunidades de aprendizado
que aprenderam números pares e ímpares,
que em qualquer outra atividade que cos-
divisão e subdivisão... Também já soube que
tumam realizar. (...) Esse trabalho não trata
a fluência do canto trouxe a algumas crianças de fazer uma criança pensar ou agir como
uma melhora na leitura oral e melhor articula- adulto, de desenvolvimento precoce, mas
ção de palavras, o que foi verificado por profis- sim de proporcionar experiências sociais,
sionais da fonoaudiologia. Tudo isso, graças à musicais e artísticas, que façam com que
participação no coro. Por estarmos proporcio- ela se torne parte de algo importante, va-
nando essa vivência significativa e de maneira lorizado. A criança sente-se à vontade para
se expressar, ao mesmo tempo em que res-
lúdica, muitas vezes as crianças aprendem no
peita o espaço do colega. Há um crescimen-
coro conceitos que não aprendem na escola. to social, cultural, cognitivo, criativo, espa-
Educar musicalmente também implica cial, lógico, etc... E se aprende brincando
proporcionar uma experiência estética, que (LAKSCHEVITZ, 2006, p. 29).
integra sentidos, razão, sentimento e imagi-
nação. Um dos componentes é a afetividade. Sobre os benefícios psicológicos do can-
O aspecto afetivo da música é um componen- to coral, podemos nos apoiar nos trabalhos
te fundamental na educação musical: “o as- do Professor Graham Welch, que há quase 40
pecto afetivo da música está intrinsecamente anos realiza pesquisas sobre a voz infantil:
entrelaçado com nossas experiências e atitu-
des conscientes em relação à música. A emo-
dando às crianças e adolescentes mais aces-
ção é um poderoso motivador no aprendiza- so ao ensino do canto, isso ajudará não so-
do musical” (WELCH; ADAMS, 2003, p.4). Além mente a ter uma maior habilidade de cantar,
de tudo isso, a música é a arte dos afetos. Tra- mas também ter uma autoidentidade mais
balhamos afetando as pessoas, trabalhamos positiva e inclusão social, eventualmente
com a emoção delas, em pontos em que a ra- sendo benéfica à sociedade como um todo
(WELCH, 2011, s/p).
zão não é capaz de chegar.
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
Beatriz Ilari, pesquisadora brasileira plo, o Coro Infantil do Rio de Janeiro, que era
que desenvolveu pesquisas em educação mu- regido pela Elza Lakschevitz - ouço sempre
sical no Canadá, descreve benefícios motores os CDs desse coro. Penso também no coro de
e cognitivos do canto: Toronto, no Canadá, que foi regido por Jean
Bartle, e esse é o tipo de som que eu gostaria
de ter com minhas crianças. Como vamos ter
o ato de cantar (...) pode ativar os sistemas uma perspectiva sonora de resultados de tra-
da linguagem, da memória, e de ordenação balho, se só ouvimos as músicas que estão
sequencial, entre outros. Já o movimento na mídia? Como criaremos os nossos referen-
corporal parece ajudar a desenvolver os ciais dessa maneira? É preciso buscar essas
sistemas de orientação espacial e motor.
referências.
(...) as crianças ainda têm a possibilidade
Certa vez, assisti a um masterclass de re-
de desenvolver o sistema de pensamento
social. Através do canto acompanhado por gência na Royal School of Music, e o profes-
gestos e movimentos corporais, a criança sor6 comentou: “a orquestra funciona muito
pode vir a ter pelo menos seis sistemas de bem sem o regente. O que ele pode, então,
seu cérebro estimulados (ILARI, 2003, p.15). acrescentar?” O regente serve para quê, en-
tão? Para levar todos na mesma direção, por-
Portanto, dentro de um ambiente coral, que cada músico pensa de maneira diferente.
desenvolvemos uma série de conceitos, valo- Às vezes faço jogos com as crianças em que
res e princípios que muitas vezes as crianças cada um tem que contar mentalmente, e eles
não aprendem na escola ou em casa. Desta- percebem que cada um tem um tempo di-
co aqui: o respeito aos colegas e ao regente; ferente na cabeça. Ou então, faço experiên-
cuidados com a voz e com o próprio corpo; cias em que paro de reger, e eles veem que
respeito às normas, pontualidade, assidui- o coro não funciona, porque é preciso ter
dade; fraternidade, solidariedade, tolerância, alguém à frente que vai orientá-los. A nossa
cooperação; determinação, dedicação, paci- atitude também conta muito, nossa postura
ência; organização, disciplina, objetividade; influencia muito – e quando me refiro à pos-
concentração e atenção. Tudo isso que de- tura, estou pensando em atitude e ao mesmo
senvolvemos no coro, sem dúvida, contribui tempo, em posição corporal. Nesse sentido,
para reafirmar a função do regente enquanto afirma Bartle (2003, p. 45): “a linha de comu-
educador. nicação entre o regente e o grupo de crianças
deve sempre transmitir energia, convicção, fé
e confiança”... O regente precisa estar calmo,
Somos líderes? olhar nos olhos das crianças e transmitir segu-
Sim, por definição. E o que a liderança rança – claro que é difícil, principalmente no
requer? Conforme afirmam Price e Byo (2002, começo da carreira! Ficamos nervosos, sobe a
p.335), “regentes são líderes, por definição. A adrenalina, a pulsação acelera, mas apesar de
liderança requer competência, credibilidade tudo é preciso demonstrar tranquilidade (isso
e carisma, e essas qualidades podem influen- é um exercício!) e estar convicto ao dizer que
ciar a performance e a atitude dos músicos”. elas farão ali a mesma coisa que fazem nos en-
Por sermos líderes, nós somos exemplos. Mas saios. Recentemente, a mãe de uma coralista
quem são os nossos exemplos? Se vamos re- veio me informar que a filha não ia cantar nas
ger um coro, temos que ter um referencial em
mente. Eu tenho como referência, por exem- 6 O maestro Benjamin Zander foi quem proferiu essa frase, durante
seu master class de regência.
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ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA
REGENTES CORAIS INFANTOJUVENIS: QUEM SOMOS
primeiras apresentações, porque “não estava Saber ser líder também é fundamental
preparada” (na opinião dela, é claro). Respeitei quando se tem uma equipe de trabalho. Po-
a decisão da mãe. Quando ela considerou, en- rém, a maior parte dos regentes trabalha sozi-
tão, que a menina “estava preparada”, foi-lhe nha, atendendo às crianças e fazendo música.
embutida uma responsabilidade tão grande, Sem dúvida, quando temos uma equipe –
que ela ficou extremamente nervosa: “minhas como eu tenho o privilégio de ter no PCIU – o
pernas estavam tremendo”, ela me disse. Du- trabalho flui muito melhor. Tenho monitores
rante a apresentação, notei que ela nem esta- – que são voluntários, ex-alunos, estagiários
va cantando, porque a boca também estava e bolsistas – e me ajudam no cuidado com
tremendo de medo. Por isso, eu sempre pre- as crianças, tendo também a função de con-
paro as crianças para a apresentação pública tribuir para a organização do ensaio. E tenho
de modo natural, como uma consequência também o privilégio de ter acompanhadores
do aprendizado, como parte do processo. Elas para meus grupos – ao piano ou ao violão.
precisam irradiar alegria, energia positiva, sa- Atrás de um instrumento, o regente se distan-
tisfação, e não pavor! cia do grupo e seu gestual fica muito limita-
Como líderes, temos saberes que es- do; além disso, o grupo pode perder o foco
tão intrincados em várias redes de conheci- de atenção; parte da comunicação é perdida
mento – e não é só o conhecimento musical. e aspectos da técnica vocal e da interpretação
Precisamos desenvolver um know-how admi- ficam prejudicados. Mas sabemos que muitos
nistrativo ao gerir tempo e recursos, divulgar regentes tocam acompanhando seus coros e
o nosso trabalho na mídia e lidar com vários carregam seus próprios instrumentos. Nova-
mente trago a fala dos participantes da minha
tipos de relações humanas: relações com
tese: uma regente de Campo Grande (MS), ao
patrocinadores, com diretores, com padres/
ser questionada sobre as dificuldades enfren-
pastores, com pais, com colegas professores,
tadas na regência, afirma categoricamente: “a
com músicos que acompanham o coro... não
maior dificuldade no meu caso é tocar e re-
há como se afastar dessa trama de relaciona-
ger simultaneamente” (GABORIM-MOREIRA,
mentos. E é preciso desenvolver credibilida-
2015, p.531).
de no projeto. Estabelecer parcerias é muito
Ainda pensando sobre relações huma-
positivo, principalmente para dar visibilidade
nas, é preciso criar empatia com o público.
ao trabalho. Em 2017, o PCIU foi convidado
Tivemos algumas experiências em que le-
para cantar em concertos da Orquestra Sin-
vamos o público a cantar junto com o coro:
fônica Municipal, da Banda da Base Aérea de
músicas folclóricas (como “Samba-Lelê”), re-
Campo Grande, eventos da Polícia Federal/ frões ou frases daquelas músicas que “todo
Detran, da Secretaria de Educação, congres- mundo conhece”, por exemplo: “temos nosso
sos realizados na Universidade. Também de- próprio tempo...” (Legião Urbana). Envolver o
senvolvemos parcerias com compositores da público, convidá-lo para bater palmas ou re-
cidade ou do Estado (Mato Grosso do Sul), alizar algum tipo de percussão corporal junto
convidando-os para participar de ensaios com o coro, é uma experiência significativa –
com as crianças. Essas interações são muito isso porque, como eu já disse, muitas pessoas
importantes, pois são uma divulgação “boca- nunca tiveram a experiência de cantar em um
-a-boca” positiva do projeto. Além disso, os coro. Levar o público a participar da apresen-
coralistas têm experiências diferentes, e as- tação, com um trecho simples que ensinamos
sim, se sentem valorizados. ali, na hora, é uma experiência impactante.
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
Tivemos resultados muito mais positivos. Ge- rece não fazer diferença para outras pessoas.
ralmente deixamos essas experiências para o Às vezes, pede-se para que o coro cante uma
final da apresentação, e isso é muito perceptí- música com uma letra extensa, confusa, com
vel pelos aplausos: o público fica muito mais uma melodia repetitiva, que é difícil para a
entusiasmado, “vai ao delírio”, digamos assim, memorização das crianças e traz insegurança
porque está envolvido. Ultrapassando essa no momento de cantar em uma apresentação.
barreira entre “palco” e “plateia”, integramos as Ou então, cobra-se do regente que as crianças
pessoas, e isso é muito mais expressivo. cantem a música que está “na moda” naquele
Vou reforçar que “o regente lida com pes- momento, e para “ajudar” o regente, outros
soas, que são seus instrumentos” (ROBINSON; adultos - que não são músicos - ensaiam tam-
WINOLD, 1976, p.45). Fazemos diferença na bém essa música em outro momento, usando
vida das pessoas. Tenho também um coro a gravação original (com a voz de um intérpre-
feminino, formado por servidoras da Univer- te adulto), em uma tessitura demasiadamente
sidade e aberto à comunidade. Quando elas grave para as crianças. E ainda, em um volume
iniciaram no coro, não imaginavam de que tão alto, que leva as crianças a “berrarem” so-
maneira podiam cantar. Não tinham ideia de bre a gravação – o que eu considero um “cri-
que a respiração tinha relação com o canto, me” contra as vozes infantis.
não tinham ideia de que podiam pisar num É claro que o regente precisa ponderar
palco para cantar. Uma professora de outro o que cada experiência de apresentação
curso me disse que jamais imaginava que po- trará de positivo para as crianças – o local, o
deria ser artista, que um dia se apresentaria evento, a oportunidade de cantarem com
com um piano – que é algo tão distante para grandes grupos instrumentais (orquestra,
muitas pessoas. Nós percebemos que muitas banda) ou grandes intérpretes, a visualização
vezes conseguimos mudar modos de pensar das crianças enquanto artistas. Tudo isso é
e de sentir dessas pessoas. E cantar num coro muito importante. Mas não é mais importante
é, para muitos, sua primeira experiência mu- do que as crianças cantarem com uma voz
sical orientada. Então, o regente acaba sen- saudável. Eu tenho o cuidado de fazer triagem
do também seu primeiro professor de canto, fonoaudiológica com as crianças do coro, com
por isso é fundamental que o regente busque uma profissional que voluntariamente é nossa
essa formação em canto, em técnica vocal, parceira. Mas nem todo regente consegue
que conheça a fisiologia vocal. Eu tenho au- escutar as crianças. Temos crianças nas esco-
las de canto, semanalmente, até hoje. É im- las que já estão roucas, com disfonias, então
portante que tenhamos a voz sempre pronta trazer para cantar no coro só vai agravar o
para atuar e ao mesmo tempo, que tenhamos problema!
essa supervisão de um cantor mais experien- Digo sempre às crianças que elas são
te, que vai deixar sua voz sempre ativa, saudá- artistas, por isso têm que pensar em ter uma
vel, orientando para a busca do melhor para vida diferente das outras crianças: precisam
a sua voz. cuidar do próprio corpo – porque o corpo é
o seu instrumento – e cuidar da sua própria
voz: não devem gritar, não devem descuidar
Somos intérpretes? da saúde. Sempre converso com as crianças,
Agora, trago uma outra questão. Muitas explicando que quando alguma criança não
vezes, como eu já falei, o resultado musical do está cantando como deveria – porque está
coro não é que o regente espera, mas isso pa- doente, ou porque faltou nos ensaios, ou
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ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA
REGENTES CORAIS INFANTOJUVENIS: QUEM SOMOS
porque ainda não conseguiu assimilar a música Em relação ao repertório, é preciso fazer
– há uma diferença no resultado sonoro. As uma pesquisa criteriosa, escolher “a dedo” o
crianças conseguem perceber também a que as crianças vão cantar. É preciso verificar
importância do trabalho em equipe, onde um se a tessitura é adequada para a voz da crian-
faz a diferença e como todos contribuem para ça, se a temática é pertinente ao universo
alcançar o resultado comum. infantil, se a qualidade do texto é adequada.
Voltando a essa questão “Somos intér- Nos preocupamos muito com “o quê” elas vão
pretes”, tudo depende do que o regente de- cantar, porque é isso que mais vai aparecer, é
terminar para o seu grupo, depende de como o que mais vai chamar a atenção do público.
ele vai olhar para as crianças. Eu gosto da se- Eu gosto de construir programas temáticos
guinte citação dos regentes franceses Clos e – canções do mundo, canções regionais, can-
Rose: ções que falam sobre a natureza, por exem-
plo. Dentro desse repertório escolhido, é
é artista aquele que dirige a Paixão segundo preciso dar atenção aos fatores psicopedagó-
São João de Bach com um coro de alto nível, gicos: essa música está motivando suficiente-
solistas e uma orquestra profissional, e é mente os cantores? Eu já trouxe músicas para
também artista aquele que faz as crianças o coro que foram logo descartadas, porque
iniciantes cantarem o texto de uma canção as crianças não gostaram, e eu nem sei expli-
popular. (CLOS, ROSE, 2000, p.104-105)
car o porquê – mesmo tentando motivá-las,
trazendo informações interessantes sobre a
Reger a Paixão segundo São Mateus é canção, enfatizando o que seria trabalhado,
difícil, e quando executada com excelência, argumentando que seria uma música muito
indiscutivelmente é Arte. É preciso um gru- “legal”... As crianças precisam compreender o
po profissional para realizá-la. Porém, fazer que estão cantando, a temática precisa ser in-
com que crianças cantem decor uma simples teressante para elas. Existe também a questão
canção com afinação e precisão, conduzindo do “desafio”: cantar em outro idioma, vencen-
a interpretação, também dá muito trabalho, do as dificuldades do texto (sabendo o que
não se pode dizer que isso é “menos arte”... ele significa) e o nível de dificuldade. Realizar
Eu sempre digo às minhas crianças que elas uma melodia ou ritmo difícil é bastante moti-
são artistas, e que devem se comportar como vador, mas por outro lado, se elas ainda não
artistas, que vão se colocar diante do público. estão amadurecidas, não conseguirão fazer
Ramona Wis, regente americana, defende a bem, por mais linda que seja a canção. A tare-
ideia de que as crianças são artistas, sim: fa, então, precisa ser adequada – o que é difícil
demais também pode ser desmotivador.
quando o regente dá as crianças as ferra- Eu tenho uma proposta de ensaio que
mentas e as oportunidades necessárias envolve vários aspectos da construção musi-
para que elas possam alcançar a excelência cal, apresentados na minha tese. Posso dizer
e as encoraja durante esse caminho, elas o que utilizo uma “pedagogia aberta”, que se-
surpreendem com comportamentos e ati- gundo Gainza (2002, p.28-29), é um espaço
tudes processadas em alto nível (...) Confie
para diferentes atividades, o que constitui
nas suas crianças. Eles podem fazer aquilo
uma atitude positiva, condizente com a época
que você ensinar bem. Confie em si mesmo
– você encontrará meios efetivos e criativos atual e com a necessidade das crianças. Esse
para desenvolver esses jovens artistas (WIS, tipo de pedagogia, de acordo com a autora,
2007, p.68). promove vínculos flexíveis e interativos entre
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
professor e aluno, liberando o pensamento e com música. Depois, trabalhamos com solfe-
a expressão e valorizando o cotidiano. jo – usamos a metodologia Kodály, lendo e
Cada atividade no ensaio tem uma fun- cantando com manossolfa. Preparo cada lição
ção específica. Porque os exercícios rítmicos de solfejo em um programa de computador,
são importantes em um ensaio? Por causa com muitas figuras, pra chamar a atenção das
da precisão rítmica na interpretação, até por- crianças; na hora do ensaio, projeto essas li-
que isso também é um fator de afinação: se ções de solfejo com o recurso datashow. Há
as crianças mudam de notas na melodia em dois aspectos que precisam fazer parte de
tempos diferentes, o coro vai soar desafina- nossos ensaios, sempre: ludicidade e novi-
do. Se a articulação do texto não é precisa, dade. Crianças são movidas por novidades.
talvez o texto não seja bem compreendido Uma simples fita de papel crepom ou uma
pelo público. E mais do que cantar “ao mes- varinha feita com hashis (aqueles “palitinhos
mo tempo”, é preciso que as crianças cantem japoneses”) e fitas de papel celofane furta-cor
“juntas”. Nos exercícios rítmicos, em forma de deixam o ensaio muito mais colorido, mais
“brincadeiras”, trabalhamos simultaneamente divertido. Uma visita que se traz para o coro,
a socialização, para aprendermos os nomes ou uma mudança de ambiente – cantar fora
dos coralistas. O nome representa a identida- da sala, por exemplo, ouvindo como a voz soa
de da criança, então, se o regente sabe o seu ao ar livre – é uma experiência significativa
nome – e eu sei o nome de todas as crianças para a criança. Logo que saem do ensaio, os
do meu coro - vai ter um relacionamento mais coralistas já contam aos pais sobre essas ex-
próximo com ela, vai entrar na atmosfera de periências... E é assim que eles precisam sair
vida dela. do ensaio: com entusiasmo, com satisfação,
Temos um momento de preparação vo- com vontade de querer voltar na próxima
cal, onde trabalhamos com o corpo, com a semana...
respiração. Usamos os glissandos, porque às
vezes as crianças não conseguem fazer a pas-
sagem vocal do registro médio para o agudo,
Somos resilientes!
mas fazem sons em glissando, porque elas Diante de tudo o que eu expus aqui,
têm essa voz: imitam uma sirene, representam percebemos que os regentes realmente tra-
sons ascendentes e descendentes usando balham por paixão, diante de tantas situações
gestos (de onda, de espiral) dentro da tessi- adversas que se encontra, diante das tantas
tura infantil. Só que elas “travam” na região de lutas que temos travado. Somos resilientes.
passagem. Elas começam a cantar uma escala Resiliência, palavra advinda do inglês resi-
e em determinada nota, não conseguem mais lience e do latim resilio, significa a capacidade
subir para as notas agudas, cantando cada vez de se recobrar facilmente ou se adaptar às
mais forte. Isso porque não são estimuladas mudanças; em outras palavras, possuir elasti-
a usarem a voz de cabeça. Dependendo de cidade, ser flexível. Nesse panorama de crise,
como se trabalha com vocalises, é possível dar quando é preciso cortar gastos nos projetos
os meios para que elas ultrapassem a região corais, como podemos conseguir garantir
média e descubram essa voz aguda que elas condições adequadas para continuar traba-
naturalmente têm. lhando? Quais seriam as possíveis soluções
A apreciação musical também integra o para melhorarmos a situação do canto coral?
ensaio: vemos e ouvimos gravações de coros, Vamos pensar em uma situação hipotética:
assistimos a desenhos animados ou filmes você é contratado para trabalhar com um
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ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA
REGENTES CORAIS INFANTOJUVENIS: QUEM SOMOS
coro infantil e pensa que vai trabalhar com do querem. E definitivamente, não é isso! A
20 crianças. Então você chega nesse novo tra- educação musical é um processo. Se a criança
balho e se depara com 100 crianças, num es- falta em um ensaio, já perde o ensaio de uma
paço onde cabem confortavelmente só 80, a música. Todo ensaio/aula temos um novo
sala está suja, não tem nenhum instrumento conteúdo, uma experiência diferente. Se ela
musical, ninguém pra te ajudar e o tempo que falta justamente no dia em que eu trabalhei
te resta para trabalhar é de apenas 30 minu- com os balões, explicando sobre a vibração,
tos. Se você reclamar, provavelmente vão te ela já não vai compreender a vibração das
responder: “mas isso não estava no projeto...” pregas vocais da mesma maneira. Eu expli-
“você não avisou...” Daí a importância de ela- co para os pais que a cada ensaio, temos um
borar um bom projeto: para estabelecer des- novo conteúdo, uma nova experiência, que as
de o início, quais são as condições adequadas crianças vão perder se faltarem; e se faltarem
de trabalho, determinando o que você quer demais, vão ficar “perdidas” quando aparece-
fazer. E quando não temos muita experiência, rem no ensaio, o que vai deixá-las desmotiva-
não sabemos o que pedir no projeto inicial – das. Também é importante estabelecer crité-
por isso trago essa discussão na minha tese, rios com as crianças: como você vai trabalhar,
com algumas ideias, sugestões e orientações o que pode e o que não pode, qual vai ser a
para o regente. rotina do ensaio. Embora a novidade seja im-
E para a rotina de trabalho, é importan- portante, como eu já afirmei, é importante se-
te fazer um plano de ensaio. Quando se tra- guir a uma estrutura. No PCIU, temos a hora
balha com crianças, se você tem um ensaio do lanche. Sei de algumas crianças que não
de 50 minutos, é melhor planejar atividades tomam café da manhã antes de vir para o en-
para 2 horas... porque elas são imprevisíveis! saio. Nesse momento, colocamos filmes mu-
Às vezes você acha que vai demorar 10 minu- sicais (até mesmo aqueles antigos), que elas
tos em uma atividade e depois de 2 minutos gostam muito – então, esse momento não
ela já se esgotou; as crianças começam a ficar pode faltar, pois já se cria uma expectativa. E
dispersas, começam a querer sair da sala (e aí estamos trabalhando a apreciação musical. Às
surgem as perguntas: “posso ir beber água?” vezes, elas perguntam: “por que nos desenhos
“posso ir ao banheiro?” “que horas são?”)... Es- que você traz não tem ninguém falando?” E
ses são indicativos de que você já precisa mu- eu respondo que é porque o filme é musical...
dar de atividade. E se você pára por alguns se- tem música, não precisa de fala - e todos en-
gundos para pensar no que fazer, as crianças tendem a história do desenho.
já se dispersam... então, você precisa ter o seu Outro ponto importante, de nossa resi-
roteiro na cabeça, mas precisa ter um plano liência, é buscar sensibilizar o público à nossa
de ensaio “B” também. volta, mesmo que tenhamos que “remar con-
É fundamental conversar com os pais tra a maré”. Com estilos como o funk e o serta-
sobre os seus planos. Eles precisam ser nejo universitário entrando tão facilmente na
parceiros. Tenho sempre uma reunião de pais cabeça das pessoas, fica difícil conquistar es-
antes de começar a trabalhar com as crianças. paço para o trabalho artesanal que fazemos.
Eu explico como funciona o projeto, o que eu Mas podemos contornar isso, levando nossos
preciso para o coro funcionar, qual é o com- coros em espaços onde não se tem coro in-
promisso deles... Muitas vezes, os pais vêm fantojuvenil, onde as pessoas não sabem o
com a ideia de que o coro é uma atividade que é coro infantojuvenil - porque o funk e o
de lazer, e que as crianças podem vir quan- sertanejo universitário estão nesses espaços.
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
Vamos envolver esse público com apresen- as pessoas vejam o que fazemos. Se ficamos
tações, mostrando que as pessoas também fechados em uma sala de aula e fazemos sem-
podem fazer arte, que elas têm potencial den- pre as mesmas coisas, isso não motiva, isso
tro de si e que elas têm coisas maravilhosas não vai gerar mudanças. É preciso expandir
para expressar. Certa vez, levamos o PCIU para nossos horizontes.
cantar em uma instituição de caridade. Na O coro do curso de Música da Universi-
última música do programa, convidamos as dade, que eu rejo, foi convidado para parti-
crianças de lá para cantarem conosco. Foi cipar de um festival de música, em julho de
emocionante! Nenhuma das crianças atendi- 2017. Foi a primeira vez que esse coro viajou
das por essa instituição se sentiu intimidada, para cantar, com apoio (financeiro) da univer-
e todas – sem exceção – vieram participar. En- sidade e do próprio festival. Essa experiência
sinamos uma canção simples, com percussão de sair para fora dos muros da universidade,
corporal (“Si ma ma ká”). Ali todas se sentiram sem dúvida, foi altamente motivadora para o
artistas, todas fizeram parte do coro; naquele grupo, alguns despertaram para o canto coral.
momento, todas eram coralistas, sem exceção. Eles se empenharam em estudar a peça – que
Um regente de Curitiba (PR), partici- era bastante difícil – e ficaram muito anima-
pante da minha pesquisa de doutorado, es- dos com a viagem. Quando estávamos voltan-
creveu que “uma das possíveis soluções para do, eles já começaram perguntar: “para onde
os nossos atuais desafios é unir esforços, será a próxima viagem?” Então, brincando, eu
para promover uma mudança de mentalida- respondi que deveríamos pensar grande: por
de”. Eventos acadêmicos nessa área são uma que não Paris ou Nova Iorque? Claro, devemos
oportunidade ímpar para unirmos esforços. ir para as periferias e para o interior, onde é
E, aos poucos, vamos promovendo uma mu- grande a carência cultural, para cumprir nosso
dança cultural, por meio da conscientização papel social de levar música a lugares onde as
da comunidade, começando pelas famílias. As pessoas não têm acesso. Mas também preci-
crianças são pequenos promotores de cultura samos ultrapassar as fronteiras, pensar não só
dentro das famílias. E dentro das escolas, as “aqui”, mas “correr atrás” das oportunidades.
próprias crianças-coralistas começam a divul- O que queremos? Quando queremos?
gar o projeto para os amigos: dizem como é e Precisamos pensar nisso agora! Pensemos no
o que fazem no coro, convidam para apresen- que podemos fazer, o que podemos mudar,
tações, e assim vão mudando aquela mentali- como podemos agir. Vamos procurar ultra-
dade inicial que mencionei - “o coral é ‘chato’”. passar nossas próprias barreiras; eu mesma, já
Aos poucos, os amigos vêm assistir e depois trabalhei muito de graça, iniciando coros in-
vêm participar, porque já mudaram essa men- fantojuvenis, para ganhar experiência. E já tive
talidade. Também é importante conscientizar- muitos desafios. Acho que foi daí que partiu a
mos a sociedade sobre a qualidade das vivên-
motivação para escrever a tese. Quando me
cias proporcionadas pelo coro infantojuvenil,
perguntam se o doutorado foi muito difícil, eu
mostrando o que fazemos. Hoje temos uma
digo que, na verdade, foi muito prazeroso. Eu
ferramenta maravilhosa, que é a Internet, e
ensaiava as crianças, depois analisava aque-
nela, as redes sociais. Qualquer coisa diferen-
les ensaios e escrevia sobre eles. Com a ajuda
te que faço com o PCIU, eu procuro publicar
do referencial teórico, fui conseguindo expli-
nas redes sociais – seja a comemoração de
car as minhas decisões e escolhas, que antes
um aniversário, uma viagem ou um concerto
do doutorado eram feitas de modo intuitivo.
beneficiente - porque também é preciso que
Certas coisas que eu fazia com as crianças
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ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA
REGENTES CORAIS INFANTOJUVENIS: QUEM SOMOS
sempre davam certo, mas eu não sabia muito CLOS, Jacques; ROSE, Brigitte. Chante choral à l’école de
bem explicar porque davam certo. Aos pou- musique. Paris: Cite de la musique, 2000.
cos, fui entendendo melhor as razões pelas GABORIM-MOREIRA, Ana Lúcia. Regência coral
quais as coisas davam certo. infantojuvenil no contexto da extensão universitária:
a experiência do PCIU. 2015. Tese (Doutorado em
Para terminar: minha tese revelou que Processos de Criação Musical) - Escola de Comunicações
e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
existem muitas dificuldades e muitos desa-
fios, inerentes e evidentes no que diz respeito GAINZA, V. H. Pedagogía musical: dos décadas de
à função e à formação do regente, em muitos pensamiento y acción educativa. Buenos Aires: Grupo
espaços e contextos de nosso país. Embora Editorial Lumen, 2002.
as cinco diferentes regiões do Brasil – que se
GOETZE, Mary; BROEKER, Angela; BOSHKOFF, Ruth.
fizeram presentes na pesquisa - tenham ca- Educating young singers: a choral resource for teacher-
racterísticas bastante particulares, elas tam- conductors. 2nd ed. New Palestine (USA): Mj Publishing,
bém têm muitas coisas em comum, e apesar 2011.
de toda essa situação atual, a motivação para
ILARI, B.S. Música na infância e na adolescência: um livro
a prática coral se faz presente. Mesmo diante para pais, professores e aficionados. Curitiba: Ibpex,
das circunstâncias – que poderiam facilmente 2009.
levar à desistência de um projeto – os regen-
tes trabalham. Eles vão, eles fazem, eles acon- LAKSCHEVITZ, Elza. Entrevista a Agnes Schmelling. In:
Ensaios. Olhares sobre a música coral brasileira. Rio de
tecem, apesar das condições precárias, insa- Janeiro: Oficina Coral, 2006.
lubres ou inadequadas. Nós não desistimos
- pela paixão pela música, pela paixão pelas PRICE, Harry E.; BYO, James L. Rehearsing and
pessoas, pela paixão pelo canto coral. Conducting. In: PARNCUTT, Richard; McPHERSON,
Gary. The science and psychology of music performance:
Deixo aqui uma última frase, de Rubem
creative strategies for teaching and learning. Oxford:
Alves: “não haverá borboletas, se a vida não University Press, 2002.
passar por longas e silenciosas metamorfo-
ses.” Precisamos provocar mudanças. Quem ROBINSON, Ray; WINOLD, Allen. The choral experience:
Literature, materials, and methods. Harper’s College
acompanhou até o fim estas minhas palavras,
Press, 1976.
certamente está buscando algo mais. Então,
espero que eu tenha contribuído para susci- WIS, R.M.The conductor as leader: principles of
tar algumas inquietações, motivações e enco- leadership applied to life on the podium. Chicago
rajamento para essas mudanças. Espero ver (USA): Gia Publications, 2007.
vocês “por aí”, regendo muitos coros infanto-
WELCH, G. Psychological aspects of singing development
juvenis pelo Brasil. in children. In: BOUZAKI,P.; KANG, H. J. (orgs.) Music,
mind and brain, 2011. Disponível em: http://
musicmindandbrain.wordpress.com/2011/05/07/
Referências psychological-aspects-of-singingdevelopment-in-
BARTLE, J.A. Sound Advice: becoming a better children’s children/ Acesso em 30/04/2018.
choir conductor. New York: Oxford, 2003.
95
UM RELATO SOBRE O GRAN FINALE
FESTIVAL E SEUS DESDOBRAMENTOS
NA FORMAÇÃO DO REGENTE DE CORAL
INFANTIL E JOVEM BRASILEIRO
Lilia Valente
97
CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
Assim nasceu o Vozes de ARCI, formado por teaching children to sing, the singing style
230 crianças sob regência do Maestro Elias revolved in large part around these unique
Moreira da Silva e com a pianista Tânia Ber- styles. The children sang with great joy and
tassoli, que estreou no teatro da Universidade energy. The repertoire used, in large part was
Mackenzie, parceira deste evento. Este coro taught by rote and involved singing in the low-
existiu por 5 anos. er part of the singing voice. Published choral
music for children at that time was very scarce
Em 2001 o Coral VOZES DA ARCI, sob re- in Brazil. Teachers craved the acquisition of
gência do maestro Elias Moreira da Silva, foi printed choral music for children. The teach-
selecionado para o 11º Festival Anual de Co- ers were passionately interested in learning
rais Infantis no Teatro Carnegie Hall de Nova more about vocal technique, choral style and
York/EUA., sob regência do maestro Henry available teaching tools. I tried to reassure
Leck. Na época imaginei que a seleção ocor- them that singing Brazilian music in style in
reu por ter sido sua aluna, mas tive uma grata which they were doing it, was not wrong. I
surpresa ao entrar na sala de ensaio, em Nova was not interested in changing the treasure
York, e ouvir dele “o que você está fazendo that exists in Brazil. However, if the choirs
aqui “? Neste momento tive a certeza que tí- wanted to sing a broader range of music such
nhamos sido selecionados pela qualidade do as the European style or American style, the
grupo. technique could be expanded. To this end, I
Fiquei encantada com o formato do fes- believe the quality and the level of interest in
tival, a organização e a riqueza do repertório. children’s choral music in Brazil has grown. I
No dia do concerto, ainda no camarim, o ma- would hope in retrospect, I had some affect in
estro Henry Leck, titular do festival em Nova changing and encouraging that process.”
York, abriu sua agenda e saí de lá com a data Henry Leck
para realizá-lo no Brasil. Assim, em 2002, nas-
ceu no Brasil o Gran Finale - Festival Nacional Tradução
de Corais Infantis e Jovens - sob a regência de
“Quando cheguei pela primeira vez
Leck.
para ministrar workshops no Brasil, descobri
O Maestro Henry Leck, nosso convidado
um novo e rico som de coral. Há uma cultura
especial, participou como convidado em anos
profunda de amor por ritmo, música e dança.
alternados em 7 edições, e sua relevante ex-
Grande parte desta música envolvia os estilos
periência, carisma e generosidade tem sido
como o samba e a bossa nova (MPB). Embora
um pilar de sustentação do sucesso do festi-
houvesse um amor dos regentes por ensinar
val. Somos muito gratos pela sua parceria nes-
as crianças a cantar, o estilo de cantar girava,
ses anos todos.
em grande parte, em torno desses estilos úni-
cos. As crianças cantavam com grande alegria
Depoimento do maestro Henry Leck: e energia. O repertório utilizado, em grande
“When first arriving to teach in Brazil, I parte, foi ensinado de cor e envolveu o can-
discovered a new richness of choral sound. to na parte grave da voz cantada. A música
There is a cultural depth of love for rhythm, coral publicada para crianças na época era
song and dance. Much of the music has muito escassa no Brasil. Os professores ansia-
evolved into idiomatic styles such as samba vam pela aquisição de publicações de música
and bossa nova. While there was a love for coral para crianças. Os professores estavam
98
LILIA VALENTE
UM RELATO SOBRE O GRAN FINALE FESTIVAL E SEUS DESDOBRAMENTOS NA FORMAÇÃO DO REGENTE DE CORAL INFANTIL E JOVEM BRASILEIRO
99
CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
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LILIA VALENTE
UM RELATO SOBRE O GRAN FINALE FESTIVAL E SEUS DESDOBRAMENTOS NA FORMAÇÃO DO REGENTE DE CORAL INFANTIL E JOVEM BRASILEIRO
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
102
LILIA VALENTE
UM RELATO SOBRE O GRAN FINALE FESTIVAL E SEUS DESDOBRAMENTOS NA FORMAÇÃO DO REGENTE DE CORAL INFANTIL E JOVEM BRASILEIRO
• Uma honra
• Mudança no modo de pensar a música
• Incentiva a cantar cada vez melhor
• Caminho para meu destino
• Desafio com novos idiomas e novas
músicas
• Expressão de todos meus sentidos,
descobrir coisas novas e ser feliz
• Seria excelente se tivesse mais de uma
vez por ano
• O maestro é muito divertido e
engraçado
• O maestro anima as crianças
• Nunca fui numa coisa tão especial
• Deveria ser um em cada estação do ano
103
CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
2ª edição Maestrina Carmen Mettig Rocha Memorial 3ª edição Maestro Henry Leck Sala São Paulo
América Latina
3ª edição Maestro Henry Leck pianista Tania Bertassoli 4ª Edição Maestro Teruo Yoshida na Sala São Paulo
Sala São Paulo pianista Tania Bertassoli
104
LILIA VALENTE
UM RELATO SOBRE O GRAN FINALE FESTIVAL E SEUS DESDOBRAMENTOS NA FORMAÇÃO DO REGENTE DE CORAL INFANTIL E JOVEM BRASILEIRO
6ª edição Nordeste - Salvador -Teatro Castro Alves 7ª edição com Orquestra Jovem Tom Jobim Maestro
Maestro convidado Elias Moreira da Silva participação Roberto Sion e Maestro Henry Leck
Carmen Mettig Rocha
105
CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
8ª edição Maestro Henry Leck Abertura Jordan Jazz 8ª edição Maestro Henry Leck e Bateria da Escola
Grupo Vocal Butler University E.U. A de Samba Pérola Negra - Mestre Bola
10ª edição Maestro Henry Leck Regentes participantes 10ª edição Maestro Henry Leck Workshop Universidade
Memorial da América Latina Cruzeiro do Sul
106
LILIA VALENTE
UM RELATO SOBRE O GRAN FINALE FESTIVAL E SEUS DESDOBRAMENTOS NA FORMAÇÃO DO REGENTE DE CORAL INFANTIL E JOVEM BRASILEIRO
11ª edição Maestro Dr. Tim Brimmer 11ª edição Maestro Dr. Tim Brimmer piansita Cezar
Memorial da América Latina Elbert Memorial América Latina
12ª edição Maestro Henry Leck Coral 12ª edição Maestro Henry Leck Teatro
Jovem Teatro Bradesco Bradesco pianista Maíra Ferreira
13ª edição Maestrina Ruth Dwyer com 13ª Maestrina Ruth Dwyer pianista
Lilia Valente Diretora Artística Maíra Ferreira Teatro Bradesco
107
CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
Lilia já te disse pessoalmente o quanto a admiro Ciça Amoroso – Regente Cantinho da Boca de
e o quanto sou fã do seu trabalho, contudo, pre- Pouso Alegre / MG
ciso externar minha total satisfação quanto ao
Gran Finale 2012. Mais uma vez, PARABÉNS por Você é uma guerreira! Te admiro muito! Os can-
tanta competência, tanto sua como líder, quanto tores cariocas estão em êxtase, os pais emocio-
da sua equipe. Como já participei de duas edi- nados e eu, muito feliz! Obrigada por nos propor-
ções anteriores do Gran Finale, posso dizer com cionar esta alegria. Beijo.
convicção, que A CADA ANO O GRAN FINALE TEM Patricia Costa/Rio de Janeiro - Regente Coral
ME SURPREENDIDO. Infantil e Meninas Cantoras do Colégio Cruzeiro
Sirlene Costa - Regente São Paulo / SP / RJ
Enorme é a necessidade de crescimento do canto Gran Finale leva música a sério, mas sem deixar o
coral infantil no Brasil e vocês estão definitiva- mais importante de lado: a paixão. Foi gratifican-
mente fazendo a sua parte. Parabéns, receba mi- te e emocionante ter feito parte de algo tão belo,
nha admiração pelo trabalho tanto qualitativo musical e grande como o Gran Finale!!!Obrigada
quanto quantitativo!!!! Abraço grande. Lilia,grande beijo.
Marco Antônio da Silva Ramos - Maestro - Thabata Lima Arruda - Coralista / Salto / SP
Chefe Departamento Música USP Universidade
de São Paulo Gran Finale é um sonho realizado! Já participei
de 10 edições com vários corais diferentes e todos
Como Coordenadora da Pós Graduação em Ad- os alunos sempre dizem: cantar é maravilhoso. À
ministração e Organização de Eventos/SENAC, cada momento, a cada sonho que o Gran Finale
quero registrar o belíssimo evento produzido pela trouxe para os coralistas é uma realização para
colega Lilia Valente. Fiquei orgulhosa e emocio- nós regentes. Cada workshop crescemos como
nada nesta manhã! Os aplausos merecidamente ser humano, como profissionais e começamos a
recebidos demonstram o seu esforço e trabalho perceber que o nosso país tem muita, muita mú-
com essas crianças e jovens. Meus mais sinceros sica boa. O Gran Finale é tudo isso.
parabéns. Estou orgulhosa de ter tido você como Mirian Solange Vieira - São Bernardo do Campo
aluna e companheira de profissão. / SP
Marta Agudo - Coordenadora de Pós Gradua-
ção Eventos / SENAC / SP Participar do Gran Finale é uma honra e um
presente! A cada edição nos reunimos com ou-
Valente é pouco para retratar a força e a raça que tros profissionais da área para nos reciclarmos,
você tem para fazer esse Festival maravilhoso. aprendermos mais e crescermos profissional-
Quando a gente acha que não tem mais nada mente. Em cada ano que participo saio presente-
para se fazer, como a orquestra em 2008, vem a ada com mais conhecimento que tem me ajuda-
Lilia e traz a Bateria da Escola de Samba Pérola do muito no meu trabalho.
Negra para fazer um samba com americanos e Débora Márcia Paulino - São João del Rei / MG
450 crianças!!! Saiba que essas crianças nunca
esquecerão, levarão para o resto da vida deles
108
LILIA VALENTE
UM RELATO SOBRE O GRAN FINALE FESTIVAL E SEUS DESDOBRAMENTOS NA FORMAÇÃO DO REGENTE DE CORAL INFANTIL E JOVEM BRASILEIRO
O Gran Finale marcou demais a minha vida como GRAN FINALE é um Festival onde coralistas de
regente e também a vida dos meus coralistas. todo o Brasil, unidos pela música compartilham
Participo há 4 edições com corais de comunidade de momentos inesquecíveis, que com certeza
de baixa renda que têm recebido bolsa incentivo serão guardados pra vida toda. Há anos venho
e colocá-los em contato com corais de todo país e desfrutando da força que este festival proporcio-
maestros e maestrinas que vêm de fora todo esse na ao movimento coral do nosso país. Vejo meus
intercâmbio com outros coralistas, tudo isso ele- alunos entusiasmados e envolvidos evoluindo a
vou muito o nível deles. cada ano em técnica vocal e no conhecimento de
Ana Paula Guimarães - Diadema / SP repertório.
Tenho certeza que o Gran Finale mudou e dire-
O Gran Finale me dá um respaldo anual, talvez cionou a vida de muitos dos meus alunos que se
porque na minha cidade no Nordeste, infeliz- apaixonaram pela música coral e pelo prazer de
mente, não há muito material que possa aplicar cantar em muitas vozes unidas pela emoção.
em meus coros. São 10 edições ininterruptas que Tania Bertassolli - São Caetano do Sul / SP
participo e me sinto muito feliz e mais prepara-
do com essa escola, porque o Gran Finale é uma
Participar do Gran Finale tem sido de grande
escola. Parabenizo a toda equipe e que venham
importância no meu crescimento profissional e
muitos Gran Finales pela frente.
pessoal. Meu primeiro contato com o festival foi
Gustavo Campos - Maceió / AL como coralista, na primeira edição, e cantar com
um grupo de crianças e adolescentes de diferen-
A Lilia Valente é realmente valente por estar à tes regiões do país e com o maestro Henry Leck
frente do Gran Finale e proporcionar a todos nós me tocou de tal maneira que durante aqueles
regentes uma formação e transformação na nos- dias ficou muito claro para mim que não have-
sa vida, com todos os maestros maravilhosos que ria outro caminho a seguir, se não o da música!
ela traz como convidado. Participo desde a 1ª Cursei a faculdade, pós graduação e atuo como
edição e tive o privilégio de conhecer o Maestro Professora. Segui no festival como voluntária,
Henry Leck e estar lá em Indianápolis conhecen- participando da organização e do trabalho com
do de perto seu trabalho. as crianças, e sou coordenadora dos ensaios das
Parabéns você contribui muito com a nossa for- últimas edições.
mação, desejo que esteja muitos e muitos anos à Nessas 13 edições por meio do Gran Finale, pude
frente desse processo que você nos proporciona. aprender e me emocionar diversas vezes, conhe-
Silmara Drezza - Jundiaí / SP cer grandes maestros e músicos, viajar para outro
país quando participamos do festival no Teatro
Carnegie Hall em Nova York , entender o funcio-
O Espaço Cultural de Artes é um Centro de Edu-
namento de um festival que envolve tantas pes-
cação Musical localizado em São Caetano do Sul
soas e frentes (ensaios, workshop, concertos...)
há mais de 20 anos e tem como objetivo oferecer
e, principalmente, contribuir para que crianças
aprendizado musical a partir de bebês, crianças,
e jovens pudessem viver as mesmas experiên-
jovens e adultos através dos cursos de musicali-
cias, emoções e aprendizados que eu vivi como
zação infantil, canto coral e instrumentos.
coralista e que foram fundamentais na minha
Há 13 anos temos o privilégio de participar e de
formação.
apoiar o Gran Finale atuando como a central de
atendimento do Festival. Camila Ruiz - São Caetano do Sul / SP
109
CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
110
LILIA VALENTE
UM RELATO SOBRE O GRAN FINALE FESTIVAL E SEUS DESDOBRAMENTOS NA FORMAÇÃO DO REGENTE DE CORAL INFANTIL E JOVEM BRASILEIRO
Lilia Valente - Itu/ São Paulo - Intercâmbio de 1ª som e postura como um profissional. Após par-
fevereiro a 1 ª março de 2014 ticipar como baterista da 13ª edição, em 2017,
sob a regência da Maestrina convidada Ruth
“Após a décima primeira edição em 2013 com o
Dwyer, recebi o convite e passei um mês no Esta-
maestro convidado Dr. Tim Brimmer da Butler
do de Indiana e tive a honra de participar de uma
University, recebi o convite para um intercâmbio
série de concertos em Indianápolis EUA. pelo ICC
de um mês com bolsa de estudo integral para
- Indianápolis Children’s Choir, que é uma das
2014. Por intermédio do maestro, através da
maiores e mais importante instituição de can-
Partners Of América, organização vinculada ao
to coral infantil do mundo e lecionei um Master
governo do Estados Unidos, fui agraciada com a
Class na Butler University para os estudantes de
bolsa e recebi um visto de convidada do governo
percussão, falando de música brasileira.
americano. Uma honra imensa e principalmen-
O primeiro concerto como baterista foi em um
te um reconhecimento por todo trabalho desde
concerto anual no museu do estado de Indiana
que criei o Gran Finale. Foi um mês intenso, em
no dia 27 de novembro, para um público de mais
que visitei Universidades e escolas de músicas em
de 450 pessoas, onde apresentamos músicas de
quatro estados, assisti concertos, acompanhei
natal e outras composições regionais com cora-
ensaios do ICC - Indianápolis Children’s Choir e
listas de nove aos treze anos de idade. O segundo
participei da ACDC- Convenção de regentes com foi no dia 8 de dezembro, na cidade de Columbus,
mais de 500 participantes. Reencontrei amigos conhecida mundialmente pelas suas arquitetu-
que conheci em 1998 na primeira vez que estive ras, uma cidade com uma cultura muito forte e
no ICC e meu grande amigo e querido mestre um incentivo bastante significante para os pro-
maestro Henry Leck, que me recebeu com muito jetos artísticos da cidade. Esse evento é similar a
carinho e gentilmente me deu aulas individuais logística do Gran Finale, pois reúnem-se corais
de regência. Voltei com a energia renovada, com de vários núcleos pela cidade, ensaiam e fazem
a certeza da importância do festival na vida dos um concerto maravilhoso. E por fim participei do
brasileiros e motivada para continuar na direção ANGELS SING, que é o evento mais importante
do Festival e organizar futuras edições. “ do ano para o ICC, televisionado para o mundo
e contando com milhares e milhares de pessoas
Kesley dos Reis - Caieiras/São Paulo Intercâm- assistindo, os ingressos esgotados, e esse evento
bio de 23 de novembro a 27 de dezembro 2017 aconteceu em uma igreja evangélica Metodista
tradicional na cidade de Indianápolis, para mais
“O Gran Finale foi determinante para que me
de quatro mil pessoas , com mais de 400 vozes no
tornasse músico profissional. Em minhas primei-
palco, desde coral infantil a coral jovem. Esse dia
ras participações como coralista tive o prazer de tive a felicidade de poder contemplar algo jamais
respirar a atmosfera do palco, cantando diversas visto antes, mais de quatrocentas vozes cantan-
músicas em outras línguas e folclore de diversos do ao mesmo tempo e uma afinação inacredi-
países em um nível técnico muito elevado fazen- tável! E tive a honra de ser regido pelo maestro
do com que fosse altamente desafiado em cada Henry Leck neste concerto momento que jamais
nota escrita na partitura. Após as minhas partici- vou esquecer!
pações como coralista a minha regente, a gran- Após essa minha participação em Indiana e de
diosa Lilia Valente - que sou eternamente grato- ter vivenciado todas essas experiências inesque-
me deu a oportunidade de participar do festival cíveis e muito marcantes para minha vida profis-
tocando bateria e percussão, com os Maestros sional, me mudei para Los Angeles e tenho feito
Henry Leck e Dr. Tim Brimmer, elevando mais muitos trabalhos com os mais diversos e impor-
ainda os desafios e permitindo aprimorar meu tantes músicos do cenário mundial graças ao
111
CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
meu Deus e ao Gran Finale que me deu toda essa o Passarim nesta sala de concerto, junto com alu-
bagagem e experiência para lidar com o mundo nos meus e outras 120 crianças dos EUA e Canadá
profissional da música. Muito Obrigado Lilia Va- integrando o coro do festival.
lente, Muito OBRIGADO GRAN FINALE!!” As experiências que o Gran Finale Festival nos
proporciona vão além daqueles referentes à
Daisy Fragoso - São Paulo/SP prática coral. Elas contemplam o fazer musical e
artístico em sua integralidade, o que, por sua vez
“Em 2008, participei pela primeira vez de uma
permite-nos crescer profissional e pessoalmen-
edição do Gran Finale Festival. Essa sétima edi-
te. E imagino que este seja o objetivo maior da
ção contava com a participação do maestro
música coral: o de nos afetar, de nos impressio-
Henry Leck e o olhar admirado não era exclusi-
nar e de nos fazer crescer.”
vidade das crianças, mas vinha também dos re-
gentes e educadores musicais que assistiam aos
ensaios. O momento em que ouvi, pela primei- Desafios e dificuldades
ra vez, o grupo coral infantil, com cerca de 300
Cada edição é um novo desafio, as difi-
crianças, entoar o primeiro Dó agudo (o Dó4 que
culdades vão surgindo e novas soluções vão
inicia os aquecimentos vocais), com olhos fixos
sendo encontradas. As avaliações dos parti-
no maestro estrangeiro, impressionou-me de tal
cipantes a cada ano nos ajudam a melhorar
forma que me fez querer que meus alunos, um
cada vez mais toda a estrutura, o conteúdo
dia, também participassem desse festival. Assim,
e o Concerto final. De todas as dificuldades,
em 2010, estava lá com meus alunos. E em todos
destaco:
as edições seguintes.
• Instabilidade político-financeira do
É inegável o crescimento musical ao qual regen-
país, que impossibilita o planejamento
tes, educadores musicais e crianças são expos-
com o mínimo de antecedência
tos. Os maestros convidados têm a capacidade
necessária para um festival deste porte;
de nos inspirar ao fazer artístico de qualidade e
também a sermos melhores educadores, o que,
• Parcerias que são interrompidas
de acordo com o que vivenciei nestes anos de fes-
por motivos alheios ao festival,
tival, significa sermos melhores pessoas.
muitas vezes relacionados a fatores
Este contato com o Maestro Henry Leck no Gran
econômicos e políticos;
Finale Festival me abriu novos horizontes e tive
o privilégio de, a partir de uma nota divulgada
• Parceria para os locais de realização:
por ele em 2013, ter um de meus arranjos publi-
apesar de São Paulo possuir inúmeros
cados na série coral que ele dirige, a Henry Leck
teatros, os particulares têm custos al-
Creating Artistry Series, da editora america-
tíssimos, os que pertencem a órgãos
na Hal Leonard. Desde então, foram publicados
públicos são de difícil acesso e tem
composições e arranjos meus para coro infantil
uma agenda disputadíssima. Além dis-
nesta série: Olaré, Quem te ensinou a nadar, Ci-
so, o festival precisa de palco enorme e
randa da Lua e De Prosa com o Passarim, sendo
de grande capacidade público, porque
estas duas últimas composições minhas. Esses
reunimos muitos coralistas, que trazem
arranjos e canções alcançam o mundo todo e Ci-
muita plateia;
randa da Lua e De Prosa com o Passarim foram,
inclusive, performadas no Carnegie Hall pelo Na-
• Falta de visibilidade na grande mídia,
tional Children’s Festival Chorus. Sob regência do
porque eventos de cunho estritamente
maestro Leck, tive a honra de tocar De Prosa com
112
LILIA VALENTE
UM RELATO SOBRE O GRAN FINALE FESTIVAL E SEUS DESDOBRAMENTOS NA FORMAÇÃO DO REGENTE DE CORAL INFANTIL E JOVEM BRASILEIRO
culturais e educativos geralmente não Fico muito grata e realizada quando revi-
despertam interesse, mesmo com boa sito esta trajetória com tantos maestros ilus-
assessoria de imprensa. tres convidados, teatros maravilhosos, com a
ponte que se criou entre o Brasil, a Butler Uni-
versity e o ICC-EUA, e a felicidade, realização e
Considerações finais motivação de cada coralista e cada regente. É
imensamente gratificante constatar que par-
Aqui está um resumo do festival, cuja
tituras e arranjos distribuídos no Gran Finale
frutífera trajetória eu e o maestro Henry Leck
se espalham como sementes ao vento pelo
jamais conseguiríamos imaginar, quando fiz o país, de norte a sul, e como esse material tem
seu curso no Rio de Janeiro em 1996. Enquan- contribuído para um significante crescimento
to regentes, professores e educadores, não técnico e musical dos corais brasileiros.
temos a dimensão exata do quanto podemos Os obstáculos se esvaecem quando
marcar e transformar vidas, portanto nossa toma lugar a certeza de trilhar o caminho cer-
responsabilidade é grande a cada ensaio, a to. Porque acredito que a arte é transformado-
cada aula que ministramos, a cada turma que ra, é um componente valioso para estimular
temos na nossa frente. ou fazer descobrir o potencial criador de cada
As 13 edições não teriam acontecido ser. Seus efeitos ultrapassam muito essa di-
sem o envolvimento e a colaboração de inú- mensão porque forma cidadãos conscientes,
meros parceiros ao longo deste caminho. Re- sensíveis, mais preparados, reflexivos, autôno-
gistro meu agradecimento especial a cada um mos e solidários. Que felicidade!!! Gratidão!!!
de vocês.
113
PRA CANTAR!
115
CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
Cor
Sobre a canção
Esta canção foi composta em maio de 2015, especialmente para o “PCIU! - Projeto Coral
Infantojuvenil da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul”, sobre o poema de Delasnieve
Daspet - Embaixadora da Paz e membro da Associação Internacional de Poetas. As primeiras
notas (sol-mi-la) surgiram das lições do método Kodály de solfejo. Possui duas vozes que se
combinam, a maior parte das vezes, por pergunta e resposta, na qual uma voz se movimenta
sobre a nota suspensa da outra, ou em trechos contrapontísticos. A parte do piano é relativamente
simples, pensada para ser facilmente tocada por um pianista de nível de estudo intermediário
(considerando a dificuldade de muitos regentes em encontrar instrumentistas profissionais para
seus coros). Também foi pensada com o intuito de facilitar as entradas das vozes e ao mesmo
tempo, enriquecer a melodia da canção, tendo a contribuição da pianista Ana Carolina de
Carvalho.
Letra
116
ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA ET AL
PRA CANTAR!
117
CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
118
ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA ET AL
PRA CANTAR!
119
CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
Cedinho
Sobre a canção
“Cedinho” é uma canção a duas vozes, que alterna duas diferentes estruturas musicais, sen-
do elas a pergunta-resposta e a harmônica. Ela foi composta para a unidade curricular “Tópicos
Especiais em Canto Coral Infantojuvenil”, oferecida pelo curso de Licenciatura em Música da Uni-
versidade Federal de São João del-Rei.
Letra
120
ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA ET AL
PRA CANTAR!
121
CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
122
ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA ET AL
PRA CANTAR!
Bolinha de Sabão
Sobre a canção
“Bolinha de sabão” é predominantemente uma valsa, com uma rica harmonia. Apresenta
uma segunda parte, com subdivisão binária e fermatas com durações não previsíveis, exigindo
atenção do grupo em relação à regência.
Ela foi composta para a unidade curricular “Oficina Pedagógica V” (Regência Coral Infantil),
oferecida pelo curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal de São João del-Rei e
pode ser ouvida no Youtube, digitando “Bolinha de Sabão Programa Benke”.
Letra
123
CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
Bolinha de Sabão
Bruna Oliveira
q. = 57
C9 Cm7+(5b) F6 F6/9 F9 F7+/9
6
C C/E
&8 œ j œ œ œ œ™ j j
œ œ J J œ œ œ œ
As bo - li - nhas de sa - bão vo - am den - tro
j U
4 F6/9 F7/9 C9 C Cm7+(5b) C/E F6 F6/9 F9 F7+/9 G6/9 G7/9
j œ œ j
& œ œ œ™ œ œ œ J œ J œ™ œ œ œ œj j
œ œ œ™
da can - ção. Co - mo_as no - tas pe - lo ar, di - fe - ren - tes vão du - rar.
& ˙™ œœœœ œ ™ œ œ œ œj œj
œ œ ˙™ œ œ œ œ œ œ™ J œ
Uh Uh Uh Uh
j ™
15 C9 C C9 C C9 C Cm7+(5b) C/E F6 F6/9 F9 F7+/9 F6/9 F7/9
∑ j œ œ j
& ™
˙ œ œ œ J œ J œ™ œ œ œ œj œ œ œ
As bo - li - nhas de sa - bão vo - am den - tro da can - ção.
U U
21 C9 C Cm7+(5b) C/E F6 F6/9 F9 F7+/9 G6/9 G7+/9 C C/E
j
& œ œ œ œJ œ œJ œ ™ j j j
œ œ œ œ œ œ œ™ œ c
œ œ œ œ œ™
E - las dan - çam pe - lo ar, a - té quan - do es - tou - rar Po -de ser o ven -to
F6 F6/9 F9 F7+/9 F6/9 G6/9 C
26
U U Instrumental
6 ˙™
&c œ œ œ œ ˙ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ ˙ 8
ou al - gum bo - bão não vem es - tou - rar mi - nha bo - li - nha de sa- bão
& œœœœ œ œ œ ™ œ œ œ œj œj ∑
œ ˙™ œ œ œ œ œ™ J œ ˙™
124
ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA ET AL
PRA CANTAR!
125
CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
Sobre a canção
Esta é uma canção a duas vozes que apresenta uma rica harmonia, trechos homofônicos e
contracanto. Ela foi composta para a unidade curricular “Oficina Pedagógica V” (Regência Coral
Infantil), oferecida pelo curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal de São João
del-Rei e pode ser ouvida no Youtube, digitando “Vai ficar tudo bem Programa Benke”.
Letra
126
ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA ET AL
PRA CANTAR!
B¨ q = 98 Cm Ab7+ Bb7
b4
B¨
&b 4 œ œ™ j j œ™ œ œ œ œ Œ ™™ œ™ œ œbœ œ™ œj
œ™ œ œ œ œ™ œ œ œ œ ™ œ œ
œ œ ˙™
™
Po -de ser um céu a - zul ou u - ma fo - lha_a ca - ir É as - sim que
Só de - pen - de do o - lhar de quem vai ver e sor - rir.
Cm Cm
b
6 E¨ B¨ B¨ E¨
&b œ™ œ œ œ œ™ j œ™ œ œ œ œ Œ
œ œ œ œ œ œ œ ≈œ œ
œ œ œ œ ™ ˙™
de - ve ser num di - a bom en - xer - gar que na vi-da_o sim - ples é a me
Ab7+ Eb(5b)7+
b
11 B¨ B¨
Gm Ab7+
b
15 G¨ B¨ B¨/A
& b bœ œ œ œ œ œ œ œ ˙ Ó
œ œ œ œ œœœ œ ˙
Ó
Ab sor- ver e cres- cer é_o que de - ve- mos lem - brar
Eb(5b)7+
b
19 D¨ C B¨
bœ œ œ œ bœ œ œ n˙
sem-pre quan-do_a gen-te_a -cor - dar Ob - ser - var e_a - pren - der
b
&b ∑ Œ Œ Œ
œ ˙ ˙ ˙ œ œ™ œ
As co - res mos - tram vai fi
Gm Ab7+
b
23 G¨ B¨ B¨/A
& b bœ œ œ œ œ œ œ œ ˙ Ó
œ œ œœœœ œ œ ˙
Ó
Ab sor- ver e cres- cer é_o que de - ve - mos lem - brar
b
& b b˙ ™ Œ
œ œ œœœœ œ œ
Ó
œ™ œ n˙ ™ ˙
car tu - do bem é_o que de - ve - mos lem - brar
127
CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
b
27 D¨ C B¨
&b Ó ∑ j
3
bœ œ œ œ bœ œ œ n˙ œ™ œ œ œ œ™ œ
sem-pre quan-do_a gen-te_a -cor - dar Po - de ser um
bb Œ ‰ ‰ ∑ œœ
& œ œ œ œ œ œ bœ n˙
3
œ™ œ œ œ œ
sem-pre quan-do_a gen-te_a -cor - dar Po - de ser
Cm Ab7+
b
31 B¨ B¨
&b j Œ
œ™ œ œ œ œ™ œ
j
œ ™ œ œ œ œ ™ œ œ ™ œ œ œ œ œ œ œ ™ ˙™
céu a- zul ou u - ma fo - lha_a ca - ir
b
Só de - pen - de
& b bœ ™ œ œ œ œ™ j ˙™ Œ Œ œ œ œ
œ œ ™ œ œ œ œ œ œ œ™
céu a - zul ou u - ma fo - lha_a ca - ir De - pen - de
Cm Ab7+ Bb7
b
35 B¨
j
&b j Œ œ™ œ œ bœ œ™ œ
œ ™ œ œ œ œ ™ œ œ ™ œ œ œ œ œ œ œ ™ ˙™
É as - sim que
do o - lhar de quem vai ver e sor - rir.
b
&b ™ ‰ Œ œœ˙ bw
œ œ œ œ œ™ w
Ah sor rir Ah
do o - lhar
Cm Cm
b
39 E¨ B¨ B¨ E¨
&b œ™ œ œ œ œ™ j œ™ œ œ œ œ œ ˙™
Œ
œ œ œ œ œ œ œ ≈œ œ
œ œœ ™
de ve ser num di - a bom en - xer - gar que na vi-da_o sim - ples é a me
b
&b w w w œ œ œ œ œ œ œ ≈œ œ
que na vi-da_o sim - ples é a me
Ab7+ Eb(5b)7+
b
44 B¨ B¨
b
&b œ œ œ Œ
œ œ œœ ˙ œ ˙ ˙ ˙ œ œ™ œ
lhor ra - zão pra se_a- le - grar As co - res mos - tram vai fi
128
ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA ET AL
PRA CANTAR!
3
Gm Ab7+
b
48 G¨ B¨ B¨/A
& b bœ œ œ œ œ œ œ œ ˙ Ó
œ œ œœœœ œ œ
Ó
˙
Ab sor- ver Ì e cres- cer é_o que de - ve - mos lem - brar
b
& b b˙ ™ Œ
œ œ œœœœ œ œ
Ó
œ™ œ n˙ ™ ˙
car tu - do bem é_o que de - ve - mos lem - brar
Eb(5b)7+
b
52 D¨ C B¨
bœ œ œ œ bœ œ œ n˙
sem-pre quan-do_a gen-te_a -cor - dar Ob - ser - var e_a - pren - der
b
& œ œ œ œ œ œ bœ n˙ Œ œ
b
3
˙ ˙ ˙ œ œ™ œ
sem-pre quan-do_a gen-te_a -cor - dar As co - res mos - tram vai fi
Gm
b
56 G¨ B¨ B¨/A
& b bœ œ œ œ œ œ œ œ ˙ Ó
œ œ œ œ œ œ œ œ
Ab sor - ver e cres- cer é_o que de - ve - mos lem - brar
b
& b b˙ ™ Œ
œ œ œ œ œ œ œ œ
œ™ œ n˙ ™
car tu - do bem é_o que de - ve - mos lem - brar
U
Ab7+
b
59 D¨ C
&b Ó Ó
3
˙ bœ œ œ œ bœ œ œ n˙
sem -pre quan-do_a gen - te_a - cor - dar
b U
&b Ó Œ ‰ ‰
3
˙ œ œ œ œ œ œ bœ n˙
sem -pre quan-do_a gen - te_a - cor - dar
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
Pentabom
Sobre a canção
“Pentabom” é uma canção pentatônica e uma ótima oportunidade para trabalhar vozes
que se encontram no início de seu desenvolvimento musical, por incluir glissandi e diferentes
expressões vocais, como risada de bruxa e risada de fantasma. Além disso, apresenta uma letra
poética, cheia de relações musicais, que são expressas corporalmente. Portanto, indicamos a can-
ção para turmas de 7 ou 8 anos, o que não impede que ela seja ensinada às crianças de idades
mais avançadas.
Aqui, ela foi registrada com o centro “Dó”, a fim de que o regente perceba a relação texto-
música. Mas recomendamos sua execução em “Ré” ou em “Mi bemol”, adequando-se ao registro
infantil. Ela pode ser encontrada no youtube pela busca “Pentabom Ciro Canton” ou “Pentabom
Programa Benke”.
Letra
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ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA ET AL
PRA CANTAR!
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
Soninho
Sobre a canção
Esta canção a três vozes possui uma melodia principal, um contracanto e um vocalize, pre-
dominantemente descendente. Sugerimos que as vozes sejam introduzidas na performance
cumulativamente, na ordem supracitada, à medida em que a melodia principal é repetida. Pode
facilmente ser introduzida no repertório de coros infantojuvenis sem experiência com divisão
vocal, uma vez que suas melodias possuem uma construção musical muito diferente, impedindo
que sejam confundidas.
Ela foi composta para a unidade curricular “Oficina Pedagógica V” (Regência Coral Infantil),
oferecida pelo curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal de São João del-Rei e
pode ser ouvida no Youtube, digitando “Soninho Programa Benke”.
Letra
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ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA ET AL
PRA CANTAR!
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
Baião do Afeto
Sobre a canção
Essa é uma canção a três vozes que se inserem a cada vez que a melodia se repete. Na parte
A, apresenta-se o tema principal. Durante sua primeira reexposição, na parte B, insere-se o osti-
nato e, em seguinda, o descante. Na parte C, as três vozes se apresentam juntas.
Embora esse formato seja apresentado aqui, durante a performance, as vozes podem ser
apresentadas na ordem que o grupo preferir.
Sugerimos duas diferentes maneiras de concluir essa canção. Primeiramente, pode-se re-
petir a parte C, quantas vezes forem necessárias, finalizando a canção com uma fermata, assim
como traz a partitura. Diferentemente, o coro pode excluir uma voz, a cada repetição do tema
principal.
Ela pode ser cantada à cappella ou com acompanhamento harmônico. Recomenda-se,
também, a utilização de percussão corporal e/ou instrumental.
Letra
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ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA ET AL
PRA CANTAR!
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
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ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA ET AL
PRA CANTAR!
Pinguinhos resfrescantes
Sobre a canção
Essa canção se inicia em uníssono, apresenta um cânone ostinato a duas vozes, em sua
segunda parte, simula o movimento das gotas de chuva e conclui com uma abertura hamônica
em seus dois últimos compassos.
Sugerimos estalar os dedos durante o cânone, de acordo com o ritmo da melodia de cada
voz.
Ela foi composta para a unidade curricular “Oficina Pedagógica V” (Regência Coral Infantil),
oferecida pelo curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal de São João del-Rei e
pode ser ouvida no Youtube, digitando “Pinguinhos Refrescantes Programa Benke”.
Letra
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
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ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA ET AL
PRA CANTAR!
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
A Polaca e a Vaca
Sobre as canções
A “Suíte Ian Guest” é uma reunião de quatro canções que o compositor criou, tendo como
base poemas escritos por sua mãe. Contam histórias cheias de rimas e jogos de palavras. Este
repertório sugere a inclusão de cenas ou coreografias durante sua performance.
Letra
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PRA CANTAR!
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
O Lobo Bobo
Letra
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ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA ET AL
PRA CANTAR!
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
Pequenininha, Pequenininha
Letra
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ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA ET AL
PRA CANTAR!
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
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ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA ET AL
PRA CANTAR!
Letra
147
CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
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ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA ET AL
PRA CANTAR!
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CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
Casamento Espanhol
Sobre a canção
“Casamento Espanhol” é uma canção sem divisão vocal. Possui um refrão, duas estrofes e
um caráter expressivo contemplativo. Sugerimos apresentá-la a corais infantis iniciantes.
Letra
150
ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA ET AL
PRA CANTAR!
151
CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
Vamos cantar!
Sobre a canção
Letra
152
ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA ET AL
PRA CANTAR!
153
SOBRE OS AUTORES
Bruna Oliveira – É licenciada em Música com habilitação em Canto Popular pela Universidade
Federal de São João del-Rei. Atualmente trabalha com seu repertório autoral, que inclui canções
voltadas para o público infantil.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/6460037473134581
Contato: brunawap@hotmail.com
Ciro Canton – É mestre em História, licenciado em Música, com habilitação em Canto Popular,
e licenciado em História pela Universidade Federal de São João del-Rei. Possui formação
complementar em Canto pela Bituca Universidade de Música Popular e é ator credenciado pelo
Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões de Minas Gerais (SATED-MG). É
também professor efetivo de História na Rede Municipal de Ensino de São João del-Rei.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2893799080326389
Contato: cirocanton@hotmail.com
155
CANTO CORAL INFANTOJUVENIL: REFLEXÕES E AÇÕES
DÉBORA ANDRADE, ANA LÚCIA GABORIM-MOREIRA (ORG.)
Daisyane Isabel Costa Detomi – É licenciada em Música, com habilitação em Educação Musical
pela Universidade Federal de São João del-Rei e é graduanda em Pedagogia na Universidade
Paulista (UNIP). Possui formação em violino pelo Conservatório Estadual Padre José Maria Xavier
e atuação em orquestras locais. Atualmente, é professora de música na educação básica nas
turmas do maternal 1 aos anos iniciais do Ensino Fundamental e participa do grupo de pesquisa
CRIA - Centro de Respeito às Infâncias e suas Aprendizagens da UFSJ.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/4475958544064966
Contato: daisy_costasv@yahoo.com.br
Elda Cecília – É licenciada em Música, com habilitação em Educação Musical pela Universidade
Federal de São João del-Rei.
Contato: elda.cecilia@yahoo.com.br
Gisele Cruz – É mestra em Ensino das Práticas Musicais pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UNIRIO) e bacharela em música pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Especializou-
se em Regência Coral e Pedagogia Musical com diversos profissionais no Brasil e exterior. Editou
pelo SESC São Paulo o livro “Canto, Canção, Cantoria - Como Montar um Coral Infantil” e, pela
mesma instituição, participou com o coro infantil do CD e DVD “Na casa da Ruth”. É regente do
VocalDante, grupos infantil e juvenil do Colégio Dante Alighieri e do Coral Jovem do Instituto
Baccarelli. Desenvolve intensa atividade pedagógica em Festivais de Música, workshops, cursos
e painéis de regência para professores de música e regentes em todo o país, e junto a renomadas
instituições como o Centro de Música da FUNARTE (Fundação Nacional das Artes) e a Associação
de Amigos do Projeto Guri para quem escreveu o “Livro Didático para Coral Infanto-juvenil -
Básico I, versão do educador e versão do aluno. É organizadora do site “Canto e Cantoria”.
Site: www.cantoecantoria.com.br
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3912237762389945
Contato: giselecruz.gc@gmail.com
Ian Guest – Húngaro radicado no Brasil, desde 1957, é bacharel em Composição pela UFRJ e pela
Berklee College of Music e introdutor do Método Kodály de musicalização, no Brasil. É autor de
livros e CDs publicados pela Lumiar Editora e Irmãos Vitale, tal como os três volumes de “Arranjo,
método prático”, os três volumes de “Harmonia, método prático” e “16 estudos, escritos e gravados
para piano”. Atualmente, é professor de musicalização pelo Método Kodály e harmonia na Bituca
- Universidade de Música Popular.
Página: https://www.ianguest.com.br/
Contato: ianguest.kodaly@gmail.com
156
LILIAN DIAS
SOBRE OS AUTORES
João Paulo Luiz Aparecido Silva – É licenciado em Música, com habilitação em Educação
Musical pela Universidade Federal de São João del-Rei.
Contato: jotapaulomusic@hotmail.com
Laura Cândida – É licenciada em Música, com habilitação em Canto Popular pela Universidade
Federal de São João del-Rei.
Contato: lauraujo10@hotmail.com
Lilian Dias – É licenciada em Música, com habilitação em Educação Musical Universidade Federal
de São João del-Rei, atuando como professora de Artes em escola de Educação Básica.
Contato: lilian.violino@gmail.com
Lilia Valente – É produtora e regente de coral há mais de vinte anos. Aperfeiçoou-se em Regência
de Coral Infantil na Butler University, em Indianápolis, com o maestro Henry Leck. Coordenou
o curso de Iniciação Musical no Conservatório Municipal de Salto, foi regente e fundadora do
Coral Tom Jobim e da disciplina Prática Coral na antiga Universidade Livre de Música Tom Jobim.
Idealizou e dirige o Gran Finale – Festival Nacional de Corais Infantis e Jovens.
Página: http://www.granfinalefestival.com.br
Contato: contato@liliavalentecoral.com.br
Vivian Assis – Vivian Assis é Mestre em Música e Bacharel em Regência pela Universidade Federal
de Minas Gerais. Em sua trajetória, além ter regido diversos corais de Belo Horizonte, como Corais
do Colégio Santo Antônio e Coral do CEFAR - Centro de Formação Artística, gravou três CD’s (dois
com o Coral Cariúnas e um com o Coral do Colégio Padre Eustáquio) e foi regente assistente do
Coral Lírico de Minas Gerais entre 2012 e 2013. Atualmente, é professora efetiva de canto coral da
Escola de Música da UEMG – Universidade do Estado de Minas Gerais, onde também coordena o
projeto de extensão do Coro Feminino.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0443854766200515
Contato: vivian.assis@gmail.com
157
ISBN 978-65-88887-00-4