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HELENÍSTICA
Assim, por necessidade, novos pensamentos despontam do novo meio para repor o
homem em um novo trajeto traçado por ele mesmo. As novas filosofias vão refletir as
novas condições de existência pondo o estado e a política entre as coisas indiferentes e
até evitáveis.
Em 146 a.C.; a grécia torna-se uma província romana. O pensamento grego volta-se
para o ideal de cosmopolitismo abandonando definitivamente sua relação com a pólis.
Sem a pólis onde se praticava a democracia, o novo homem se descobre como
indivíduo. A nova identidade tráz ao indivíduo sua pŕopria forma de moldar seu perfil
moral, com a implicação que isso pode trazer num regime individualista. Os excessos
pelo egoísmo são o fruto da separação entre a ética e a política.
EPICURISMO
O epicurismo foi uma das respostas dadas pelas escolas filosóficas, ao momento
histórico em que vivia a grécia da época helenística. A primeira em ordem cronológica,
surgiu em Atenas por volta do fim do século IV a.C. Seu fundador, Epicuro, nasceu em
Samos em 341 a.C. Tendo ensinado em Cólofon, Mitilene e Lâmpsaco transferiu sua
escola para Atenas. Os sucessores de Platão na Academia e de Aristóteles no Liceu,
estavam deturpando os ensinamentos de seus mestres, oque não passou despercebido
por Epicuro, que sabia ter algo novo pra dizer. Embora o passado de importância das
escolas de Platão e Aristóteles estavam próximas no tempo, estavam distantes do
espírito dos novos eventos. Uma possibilidade de revolução espiritual para Epicuro.
Como escreve Giovanni Reale: “no contexto desta mensagem, todos os homens são
iguais, porque todos aspiram à paz de espírito, todos têm direito a ela e todos podem
atingi-la, se quiserem”. Em consequência disso,para nobres ou não, livres ou não,
homens ou mulheres e até prostitutas em busca de redenção, os jardins estão de portas
abertas.
Prazer e dor são o terceiro critério de verdade pelas mesmas razões que são as
sensações. Por ser critério de distinção entre ser e não-ser, verdadeiro e falso, é também
critério de escolha entre bem e mal e, portanto, critério de ação ética.
Para distinguir as opiniões verdadeiras das falsas, Epicuro determina que são
verdadeiras as opiniões que::
A física epicúreia
Diz Epicuro: “Se não nos perturbasse o pavor dos fenômenos celeste e da morte, algo
que nos toca de perto, e se não perturbasse o desconhecimento dos limites dos prazeres
e das dores, não teríamos necessidade da ciência da natureza”. Essa visão do objetivo
das ciências naturais estabelece a necessidade da fundamentação da ética. Essa é a
finalidade da física. Epicuro procura uma visão geral da realidade e seus princípios. Não
cria uma nova ontologia. Busca nos pré-socráticos as figuras teoréticas necessárias à sua
proposta materislista.
a) “Nada nasce no não-ser”; pois tudo poderia gerar-se à partir do nada. “Nada se
dissolve no nada”; pois tudo poderia se reduzir ao nada, As duas proposições negadas
seriam um absurdo.
d) Alguns corpos são compostos, outros são simples e indivisíveis. A solução atômica é
necessária, pois do contrário, levaria à admissão da divisibilidade dos corpos ao infinito
e à dissolução ao não-ser que para Epicuro é uma absurdo.
Difrerenças entre as concepções de átomos dos antigos atomistas e Epicuro:
Epicuro precisa ajustar toda sua proposta de forma que não fira o conceito de liberdade.
No mundo materialista anterior, tudo era definitivamente estabelecido pela necessidade
unversal. Mas num mundo onde se pretende que a vontade humana deva ser dirigida
pela ética e a moral, a teoria do destino não pode se firmar. Não há lugar para tamanha
contradição por serem excludentes. Se há uma, não pode existir a outra. Mas no mundo
moral de Epicuro o sábio se faz na liberdade da vontade própria. Mas a contradição em
Epicuro não está ausente de todo. A queda dos átomos nesta teoria, sugere que eles são
gerados no não-ser, oque contradiz a base da filosofia epicúreia, que predica que, “do
nada,nada procede”. Logo o mundo físico de Epicuro é um mundo de casualidade, pois
não está vinculado a leis; e a liberdade só pode ser encontrada no mundo superior do
espiritual e não no mundo físico.
Existe infinitos mundos pois, infinitos são os princípios atômicos. Nessa infinidade de
mundos há mundos iguais e diferentes deste nosso. Essa infinidade de mundos acontece
na infinidade dos tempos infinitos. Todos nascem e dissolvem-se lenta ou rapidamente.
Como são infinitas as possibilidades neste munfo infinito, todas elas são presentes e o
mundo em si, permanece sempre o mesmo com todos os seus componentes. Mas
nenhuma inteligência ou finalidade está presente neste configuração do universo, pois o
mesmo é o resultado do fenômeno do clinámen, fortuito e casual.
A alma é um agregado de átomos. Esses são em parte ígneos, aeriformes e ventosos que
constituem a parte irracional e lógica da alma, a outra parte é de átomos diversos, sem
nome específico e constituem a parte racional. A alma não é eterna, mas mortal.
Consequência do materialismo do sistema.
Para Epicuro os deuses são reais, mas não se ocupam dos homens. Vivem nos
“intermundos”, falam uma língua parecida ao grego, que é língua de sábios. São
numerosos e transcorrem a vida em alegria, nutridos por suas sabedorias e companhias.
Para o filósofo, os conhecimento que temos dos deuses é evidente e incontestável,
possuído por todos, em todos os tempos e lugares e, produzidos por eflúvios e
simulacros que provêm deles como conhecimento objetivo.
Na filosofia epicúreia há problemas sem solução lógica. As dificuldades estão nas bases
dessa proposição filosófica. Para Epicuro existem os corpos e o vazio mas, os deuses,
que são imortais, não podem estar sujeitos à corrupção dos corpos e, no entanto, não
podem também pertencer ao não-ser, que em Epicuro é o vazio propriamente. A solução
está em pôr os deuses numa situação média entre as duas possibilidades. Os deuses
passam a ser “quase corpos” e “quase almas”. É uma solução precária, para justificar o
materialismo da teoria. O estatuto diferenciado dos deuses leva em consideração a
condição especial da quase matéria dos compostos dos deuses. Epicuro justifica a
condição imortal divina como o movimento eterno dos eflúvios nos deuses. Assim os
“átomos”especiais que “preenchem” o “campo” ou simulacro de um deus são
eternamente substituídos por outros. Isso de forma alguma contorna o problema e,
muito menos o resolve.
A ética epicuréia
Para Epicuro, se não há intermediários entre os corpos e o vazio, o bem deve ser,
necessariamente, material. O pazer está entre as duas extremidades de uma escala de
excessos: entre a dor e a euforia; na quietude. As dores psíquicas são superiores às
físicas pois, mais duráveis nas ressonâncias interiores. Entre a (aponia) dor no corpo e a
(ataraxia) perturbação da alma, está o verdadeiro bem, que deve ser buscado pelo
homem. A natureza é o bem imediato a ele e, é nela que ele deve encontrar o seu bem,
que é o seu prazer. Esta é uma opção refletida pela razão humana que se apóia numa
ética racional e exige a liberdade da açaõ verdadeiramente moral. As antecedências do
prazer epicúreio, no caminho de busca do bem, são uma vida exercida sob os princípios
do comedimento. O prazer não está nas festas orgiásticas e nos excessos de todo tipo
mas, na sobriedade que perscruta as consequências de cada ação e decide pela melhor
escolha. A melhor escolha é a que expulsa as falsas opiniões que levam ao sofrimento
da alma; não elege o gozo em detrimento da sabedoria que evita a dor. Portanto mais
que na liberdade, está na responsabilidade de guiar a vontade para atingir o bem.
Os prazeres do primeiro grupo são os únicos que podem ser satisfeitos, pois têm por
natureza um preciso limite e consiste na eliminação da dor. Os do segundo grupo
consistem no grau de prazer que podem oferecer e justamente por isso, podem causar
danos e dor. Os do terceiro grupo são totalmente dispensáveis para a vida e outra coisa
não oferecem que não seja a dependência e a dor psicológica. Toda a necessidade
humana está em satisfazer a dor imediata que causa a fome, a sede e a falta de abrigo. A
felicidade pois, está em refrearmos nossos apetites e desejos do supérfluos dispensáveis
porque bastamos-nos a nós mesmos e nisso se encontra a maior riqueza e felicidade.
Os males:
Físicos – se são leves, são suportáveis e não interferam de todo em nossa possibilidade
de felicidade. Se é agudo, passa logo. Se é agudíssimo, conduz logo à morte, o que
elimina toda a dor.
Morte – a morte só é um mal quando nutrimos falsas opiniões sobre ela.A morte não é
mais que a dissolução dos compostos alma e corpo. Os compostos físicos se degradam
no ambiente e toda consciência cessa, não restando nada do homem. Não restando nada
do homem, nada pode estar no seu além, assim nenhuma expectativa é legítima. Nada a
vida leva do homem, pois nada ele teve de eterno e nem ele é eterno.
Política
A política nada trás ao homem que não seja dor para alma, através das ilusões de
riqueza e poder. É no cárcere dos desejos e das ambições que o homem aprisiona sua
vida quando se submete à política e compromete a aponia e a ataraxia. O bem não está
na coroa real mas, na ausência das perturbações e dores que o homem pode e deve
evitar, se retirando para dentro de si mesmo.
A justiça deve ser um valor útil para Epicuro. O estado,agora tutor dos valores vitais,
não deve existir senão em função da sua utilidade para a vida comum. Portanto não tem
um valor absoluto e não é mais o que fora no passado em que o homem não se separava
da sua condição de cidadão. Sua interpretação para a lei, justiça e direito, está em
antítese com a filosofia clássica grega e as teses de Platão e Aristóteles em que o estado
era guardião dos valores morais.
A Amizade encontra em Epicuro seu justificador. O único laço admitido entre os
homens é a amizade. Laço livre que unem pessoas com interesses e objetivos comuns.
Na amizade o indivíduo encontra seu outro eu, igual a si mesmo, e se encontra. “ De
todas as coisas que a sabedoria busca, em vista de uma vida feliz, o maior bem é a
amizade”; “A amizade anda pela terra anunciando a todos que devemos acordar para dar
alegria uns aos outros”.
Epicuro mostrou aos homens do seu tempo, necessitados pelas condições gerais
históricas, que é possível encontrar a felicidade. Que ela deve ser buscada onde pode ser
encontrada: no interior da própria pessoa. Para aquele tempo ou para esse, Epicuro
mostrou uma resposta que não deve ser ignorada. A razão pode e deve ser uma
ferramenta de construção da felicidade.
ESTOICISMO
Zenaõ, nascido em Cítio, na ilha de Chipre por volta de 333 a.C. É o fundador da mais
famosa escola da época helenística no fim do século IV a.C. em Atenas. Conhecida
como Estoá ou “Jardim”, por ocupar um pórtico pois, Zenão não era cidadão ateniense e
não podia portanto, ter propriedades em atenas. Seus seguidores foram chamados de “os
da Estoá”, “os do Pórtico” ou de “Estóicos”.
1.“Antiga Estoá” - fins do século IV a todo o século III a.C. No qual a filosofia da
escola foi desenvolvida e sistematizada pela tríade: Zenaõ, Cleato de Assos e Crísipo de
Solis, o qual, fixou a doutrina deste primeiro estágio da escola.
3.“Nova Estoá” - conhecida também por Estoá romana, já na era cristã, na qual a
doutrina faz-se essencialmente meditação moral com tons religiosos, acompanhando o
espírito dos novos tempos.
A lógica estóica
Tanto o fundador, como sua escola, aceitam a tripartição da filosofia estabelecida pela
Academia. Comparam-na a um pomar, no qual a lógica é o muro que o circunda,
representando sua delimitação e defesa. As árvores, sendo a razão de sua existência, e
como que sua estrutura, representam a física. Os frutos são a finalidade do conjunto e
representam a ética. A lógica e a física existem para a ética.
Se tudo é produzido pelo princípio imanente do Logos que é divino. Tudo é racional e é
como deve ser e não pode ser de outra forma. O conjunto é perfeito e não pode deixar
de sê-lo. As coisas, em si mesmas imperfeitas, estão no conjunto perfeito. A (Pronoia)
providência estóica, devido ao finalismo universal, faz com que cada coisa seja como
deve ser. Essa providência coincide com o artífice imanente, a alma do mundo. Essa
idéia leva a previdência estóica à Necessidade, Fado, Destino do mundo. Mas os
estóicos entendiam esse destino como ordem irreversível, natural e necessária de todas
as coisas. Necessidade segundo a razão. Como o logos é imanente, tudo é necessário e
também perfeito. Ao contrário de Epicuro, os estóicos concebem tudo como necessário.
Diante de toda causa definida e definitiva do mundo a liberdade se torna possível
ajustando-se ao que é necessário. Se tudo é racional, perfeito e necessário, o melhor
para a liberdade humana é adequar-se ao logos imanente ao mundo.
A ética do estoicismo
A mais significativa produção filosofica dos estóicos está no campo da ética. Por mais
de quinhentos anos o mundo soube ouvir a mensagem eficaz do estoicismo. Para a
escola, como para o epicurismo, a felicidade está em viver segundo os princípios da
natureza. A observação dos seres vivos nos mostra que todos tendem a auto-
conservação; evitando o que é contrário à sua sobrevivência e assimilando o favorável à
sua conservação. Ação inconsciente nos vegetais e plantas, impulsivo e instintivo nos
animais, e consciente no homem, no qual interfere a racionalidade. Desse princípio,
deve ser deduzida a ética. O viver uma vida ética para o homem é um viver conciliado
com a natureza, a qual porta o logos divino, imanente à toda matéria. Portanto o viver
humano é um viver conciliado com a razão plena.
Posto que toda vida persegue o melhor para si mesma, considerando sua auto-
conservação,e isto é originalmente primário no ser vivo, “bem é aquilo que conserva e
incrementa nosso ser e,ao contrário, “mal”aquilo que o danifica e o diminui”. Como o
homem se diferencia dos outros animais por manifestar-se nele o logos, há nele duas
conservações a serem realizadas: uma promove e incrementa a vida animal e outra
conserva e promove a vida racional. Para o homem só a virtude é o bem moral por que
incrementa o logos e o mal aquilo que lhe causa danos. As coisas relativas ao corpo saõ
consideradas indiferentes.
Colocaram, os estóicos, com base nos conceitos de physis e logos, em crise os antigos
mitos da nobreza de sangue e da superioridade da raça, e a instituição da escravidão. Os
novos conceitos de liberdade e escravidão ligam-se à sabedoria e a ignorância. Livre é o
sábio, e escravo o tolo.
Cuidando de viver uma vida na retidão ética, o sábio evitará toda paixão. A felicidade é
apatia e impassibilidade. A apatia é extrema nos estóicos e piedade,compaixão e
misericórdia são coisas a evitar pois, são paixões. O estóico não tem diante da vida uma
posição propriamente entusiasta como os epicuristas.
BIBLIOGRAFIA