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Áreas ambientalmente frágeis ocupadas pela expansão urbana, em regiões

metropolitanas: diversidade tipológica e serviços ambientais prestados

1. Objetivos:
O objetivo deste artigo é fazer uma análise dos diferentes tipos de espaços da
natureza, considerados ambientalmente frágeis e protegidos por lei, que estão sendo
ocupados pela expansão urbana em algumas regiões metropolitanas brasileiras,
enfatizando as suas principais características e os serviços ambientais prestados por
cada uma delas.
O período analisado parte dos anos 1980 até os dias atuais (2010), período que se
entende ser necessário e suficiente para a produção de transformações significativas no
espaço urbano, considerando a velocidade que elas ocorrem, nos diversos contextos
metropolitanos estudados. Este recorte foi conduzido primeiro, pela disponibilidade de
dados para o período e depois, coincidentemente, pela importância econômica, política,
cultural e ambiental dos anos 1980 no cenário das grandes regiões metropolitanas.
Utilizou-se, para a delimitação das áreas ambientalmente protegidas, o critério da
proteção legal das áreas em questão – seja federal, estadual ou municipal –, o que
indicaria uma “garantia” de preservação ou conservação deste recurso natural e que,
apesar disso, estão sendo atingidas pela urbanização.
Algumas regiões metropolitanas foram pré-selecionadas para o desenvolvimento
da pesquisa. Entre outros critérios, foi considerado o tamanho da população aglomerada
e a, conseqüente, importância da região metropolitana no cenário nacional, que já de
início coincidem com aquelas que faziam parte da Lei Federal Complementar nº 14 de
1973, que institucionalizou as Regiões Metropolitanas de São Paulo, Belo Horizonte,
Porto Alegre, Recife, Salvador, Curitiba, Belém e Fortaleza. Acrescentou-se, pela
importância dos seus exemplares de áreas protegidas e a localização no território
brasileiro, as regiões metropolitanas de Campinas, Natal, Rio de Janeiro e Região
Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE-Brasília).
Embora, historicamente, cada região metropolitana tenha passado por processos
distintos – locais ou regionais – de ocupação, elas também fizeram parte, em alguns
momentos, de um mesmo contexto nacional e até mesmo global. Ainda que de origens
distintas, ao que parece, o processo de urbanização das regiões metropolitanas
brasileiras segue uma mesma lógica. O que muda é a escala, a intensidade dos impactos,
o tipo de área ocupada.
A forma como tem ocorrido o processo de urbanização nas cidades brasileiras,
mais especificamente nas principais regiões metropolitanas deste país, tem deixado um
legado de graves problemas urbanos e ambientais. Muitos desses problemas estão
relacionados à apropriação de áreas remanescentes da natureza por aqueles que tentam
atender a uma demanda por moradia. Por outro lado, não se pode esquecer a
apropriação de áreas consideradas de “fragilidade ambiental” tais como as dunas de Natal
e de Fortaleza – protegidos por lei – que estão muitas vezes cedendo espaço para clubes,
hotéis ou parques temáticos. Nem as áreas de mananciais de São Paulo e Curitiba,
vítimas não só das moradias instaladas inadequada e irregularmente pela população mais
pobre, mas também, da pressão exercida pelo mercado imobiliário pela oferta de espaços
de viver maiores e mais “saudáveis”.
Partiu-se do princípio de que a ocupação de áreas ambientalmente frágeis pela
urbanização independe do tipo de natureza impactado, e que não se pode generalizar
relacionando os impactos negativos gerados apenas a agentes, processos ou “forças”
ligadas à precariedade. A ocupação de áreas ambientalmente frágeis nas regiões
metropolitanas brasileiras é também fruto de movimentos relacionados ao mercado
imobiliário – e até aos anseios de classes “mais esclarecidas” – aos loteamentos
irregulares, ao turismo e lazer, à indústria e ao comércio.
2. Metodologia
A metodologia utilizada envolveu a identificação das áreas protegidas por lei em
algumas regiões metropolitanas brasileiras, através do mapeamento de dados disponíveis
em órgãos públicos (MMA, IBAMA, IBGE e Secretarias) e algumas ONGs que tratam da
questão ambiental. A identificação da expansão urbana ocorrida nas regiões
metropolitanas ao longo dos últimos 30 anos, decorrentes do processo de urbanização foi
estudada através da elaboração das manchas urbanas, nos diferentes períodos, a partir
de imagens de satélite Landsat-5, utilizando recursos do sensoriamento remoto e
geoprocessamento.
A composição das informações das áreas protegidas por lei e das manchas
urbanas, juntamente com o mapeamento dos biomas, permitiram identificar o tipo de
natureza que está atingida pela urbanização. Esses dados foram complementados
recorrendo-se à bibliografia sobre biomas, recursos naturais e biodiversidade.

3. Resultados parciais
Os resultados parciais deste trabalho mostram que nos últimos anos, apesar do
crescimento geral das manchas urbanas através da ocupação das suas bordas, tem
havido também – como já exposto em outros trabalhos – o surgimento de pontos isolados
de urbanização que extrapolam os limites das manchas. Em algumas das principais
regiões metropolitanas estudas esses novos e pequenos núcleos seguem a extensão de
ligação entre municípios-sedes de regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas
próximas. Essas novas ocupações estão ocorrendo mesmo quando, em alguns casos, as
áreas ocupadas são áreas protegidas por lei. Ao que parece, essa localização
“descolada” da mancha urbana tem grande impacto à natureza ocupada, visto que
pequenas porções de áreas naturais devastadas trazem conseqüências para a
manutenção da biodiversidade em um raio que extrapola os seus limites físicos.
Independentemente do tipo de natureza ocupada, sabe-se que os serviços
ambientais prestados pelas áreas protegidas por lei são incomensuráveis, e os danos a
elas causados trazem conseqüências muitas vezes irreversíveis. Seja a manutenção da
biodiversidade ou a preservação de um ambiente natural mais “saudável” para os
habitantes de uma determinada região
Grosso modo, a partir dos resultados obtidos até o momento para este trabalho,
pode-se dizer que as áreas impactadas pela expansão urbana são de diversas naturezas
e tipologias, havendo em alguns casos uma repetição na forma e no tipo de ocupação, e
essa ocupação tem ocorrido, ao longo desses anos, sem respeitar a existência dos
instrumentos legais que as protegem.

4. Principais Referências Bibliográficas


AB’SABER, Aziz Nacib. Ecossistemas do Brasil. Sã0 Paulo, 2008.
ACSELRAD, Henri (org.). Conflitos Ambientais no Brasil. Rio de Janeiro, 2004.
MARCONDES, Maria Jose de Azevedo. Urbanização e Meio Ambiente: os mananciais da
metrópole paulista. São Paulo, 1995. (Tese de doutorado apresentada à Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAUUSP).
OJIMA, Ricardo. Análise comparativa da dispersão urbana nas aglomerações urbanas
brasileiras: elementos teóricos e metodológicos para o planejamento urbano e ambiental.
Campinas, 2007. (Tese de doutorado apresentada ao Programa de Doutorado em
Demografia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de
Campinas – UNICAMP.
TORRES, Haroldo; COSTA, Heloisa (org.). População e meio ambiente: Debates e
desafios. São Paulo: SENAC, 2000.

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