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Introdução à Oceanografia

Módulo: Oceanografia Geológica


Profa. Silvia Helena Arcanjo
II Sem/2013
A Deriva Continental: Breve histórico
•A idéia de que os continentes nem sempre estiveram em
suas atuais posições foi proposta em 1596 por Abraham
Ortelius, um holandês que confeccionava mapas.
•Na terceira edição do seu trabalho "Thesaurus
Geographicus“, Ortelius sugeriu que as Américas, Eurásia
e África estiveram um dia juntas e teriam sido separadas
devido a "terremotos e inundações", criando o moderno
Oceano Atlântico.
•Como evidências ele escreveu: "Os vestígios da ruptura
se revelam por si mesmos se pegarmos um mapa mundi e
compararmos cuidadosamente o litoral dos três
Continentes".
Em 1858, o geógrafo Antonio Snider-Pellegrini
fez estes 2 mapas com a sua versão sobre
como os cotinentes Americano e Africano
puderam um dia estar juntos.
O nascimento de uma hipótese...

Alfred Lothar Wegener


Berlim, 1 de Novembro de 1880 – Groenlândia, 2 de novembro de 1930
O Princípio da Deriva: Wegener
Sugeria que todos os continentes
estiveram uma vez unidos em um
único supercontinente chamado
Pangea

Pangea (do latim pan= toda e geos= Terra ).


Há 200 milhões de anos, no início da era
Mesozóica, o Planeta Terra começou a se
fragmentar e conseqüentemente passou a
formar os continentes com as disposições
atuais.
A Genialidade de
Em janeiro de 1912 Wegener
apresenta pela 1ª vez sua teoria do
deslocamento continental,
encontro da Sociedade Geológica de
no
Wegener
Frankfurt, através do trabalho: "Novas
Idéias Sobre a Formação das
Grandes Estruturas da Superfície
Terrestre (Continentes e Oceanos)
Sobre Bases Geofísicas". Em 1915
publica seu mais célebre trabalho, o
livro "The origin of continents and
oceans“; um documento
impressionante, contendo muitos dos
pontos essenciais da Tectônica de
Placas, expondo os princípios básicos
da teoria inicial sobre a história do
Planeta TERRA, com mais três
reedições (1920, 1922 e 1929)
revistas.
"Este é o ponto de partida da Teoria da Deriva
ou Movimento:
A suposição "básica óbvia" comum às teorias
das pontes continentais e da permanência -
que a posição relativa dos continentes, sem
considerar suas coberturas variáveis e águas
rasas, nunca se alterou - deve estar errada. Os
continentes devem ter se deslocado...
Existiram "conexões de terra", mas formadas
pelo contato entre blocos atualmente
separados, mas não por meio de continentes
que posteriormente afundaram“.
Europa - “Pontes-de-terra” (land bridges)
Estados Unidos - os cientistas acreditavam que
os continentes e oceanos mantêm suas
configurações ao longo do tempo.
Evidências de Alfred Wegener:

1) GEOGRÁFICAS: as formas de alguns continentes se encaixam;

Wegener acreditava que teria


evidências destes movimentos
a partir de medidas feitas em
expedições na Groenlândia,
que teriam revelado um
deslocamento ativo da ilha
para oeste. O próprio Wegener
calculou os seguintes desloca-
mentos na Groenlândia: de
1823 a 1870 - 420m (9m/ano);
de 1870 a 1907 - 1190m
(32m/ano)
2) Evidências Paleontologicas nos lados opostos do Atlantico

o réptil fóssil Mesosaurus, com idade de 300 milhões de


anos, foi encontrado apenas na America do Sul e África.
Paleontólogos estabeleceram similaridades faunais em continentes atualmente separados por oceanos:
Austrália e Índia, África e Brasil. Estas similaridades foram usadas por Suess como argumento para a idéia dos
continentes afundados, e o levaram a postular a existência de um supercontinente anterior: o Gondwanaland.
3) GEOLÓGICAS: As seqüências estratigráficas da América do
Sul e África eram muito similares durante o Mesozóico. Do
mesmo modo, complexos ígneos e estruturas apresentavam
continuidade quando os continentes se encaixavam.
Continuidades comparáveis eram observadas quando se
unia a América do Norte à Europa, e a África com a Índia. A
teoria também previa que as similaridades estratigráficas e
fossilíferas estariam restritas às épocas geológicas nas quais
os continentes estavam reunidos, e finalizariam, de modo
relativamente brusco, quando eles se separassem. Estes
fatos podiam ser usados para determinar a cronologia dos
episódios de "junção" e "quebra" continentais, permitindo
reconstruir a história da Terra.
4) CLIMÁTICAS: Evidências de glaciações há 300Ma

A extensão de tilitos
mostra a presença de
glaciações extensas
em uma região onde
hoje o clima é quente.
Houve uma glaciação
simultânea no
Permocarbonífero
Evidências vêm do assoalho oceânico

•batimetria
•idade da crosta oceânica
•dados magnéticos
O fundo oceânico como um gravador magnético
No início do século 20 os cientistas Bernard Brunhes, na França (1906) e
Motonari Matuyama, no Japan (1920), reconheceram que as rochas
geralmente pertencem a 2 grupos de acordo com suas propriedades
magnéticas: 1) aquelas de polaridade normal, com a mesma polaridade do
campo magnético atual da Terra (bússola p/ o N magnético) ; 2) aquelas de
polaridade inversa, com a direção da polaridade oposta ao campo magnético
atual da Terra (bússola p/ o S).

• Durante e após a 2ª Guerra Mundial (início dos anos 50) cientistas usaram
instrumentos magnéticos (magnetômetros) para detectar submarinos e
casualmente notaram que os fundos oceânicos apresentavam grandes
variações nas suas propriedades magnéticas. A relação foi imediatamente feita
com a presença dos basaltos, rocha vulcânica rica em ferro e com um mineral
extremamente magnético: a magnetita.
A Terra é um gigantesco ímã – William Gilbert, 1600 –

Comportamento do Campo Magnético


• Pode ser descrito como Dipolar, ou seja, possui dois polos magnéticos opostos
• A posição dos polos migra com o tempo, ou seja, possuem uma Variação Secular
• Os polos podem inverter a polaridade, fenômeno denominado Inversão Magnética
Os gãos de magnetita nas
rochas vulcânicas podem se
orientar de acordo com a
orientação do campo magnético
da Terra. Quando o magma
resfria o alinhamento dos grãos
de magnetita é congelado
"locked in," gravando a
polaridade normal ou inversa da
Terra no momento do
resfriamento.

Fig. 2.11
Magnetic Reversals at Mid-ocean Ridges
Idade “magnética” da crosta oceânica
Tectonics Predicts Location of
Earthquakes and Volcanoes
A Mosaic of Plates
Modern Plate Motions

• geology
• GPS measurements
• magnetic data

mm/year
Seis conclusões de Wegener foram sintetizadas por Brown &
Gibson (1983) e não sofreram alterações essenciais desde a
sua publicação:
1. As rochas continentais são menos densas do que aquelas do fundo do mar.
Os blocos mais leves dos continentes flutuam em uma camada viscosa do
manto;
2. Os continentes estiveram unidos em um único supercontinente: Pangea;
3. A quebra de Pangea começou no Mesozóico, em um vale que foi
gradualmente alargando-se em um oceano.
4. Os blocos continentais mantêm ainda seus limites iniciais, de tal maneira,
que se fossem unidos, ao longo de suas bordas, haveria similaridades em
relação a estratigrafia, fósseis, paleoclimas, etc..
5. Estimativas da velocidade de movimentação de certos continentes estão em
torno de 0,3 a 36 m/ano.
6. O aquecimento radioativo do manto pode ser a causa primária para a
movimentação gradual dos blocos.
Problemas
Contendo muitos dos pontos essenciais da Tectônica de
Placas, na Inglaterra esta teoria teve alguns adeptos, mas
nos Estados Unidos foi inteiramente rejeitada e
ridicularizada.
A teoria da Deriva Continental foi relegada a segundo
plano até a década de 50 por falta de evidências e de uma
proposta de um “motor” ou mecanismo plausível para
explicar o deslocamento continental e também não
explicava como era formada a crosta Oceânica.
Tectônica de Placas e convecção do manto

Arthur Holmes propôs um


modelo de estrutura interna da
Terra. O coroamento de todo
trabalho de Holmes se deu
com a sua publicação
“Principles of Physical
Geology” , em 1965.

- Holmes (1931 e 1944) sugeriu que o interior da Terra estaria em estado


pastoso e sujeito a lentos movimentos de convecção, com células do
tamanho do raio da Terra.
- Foi o 1º. a sugerir especificamente que a camada basáltica serve como
correia condutora para a movimentação da crosta em direção a locais de
mergulho da célula de convecção.
Harry Hess (1962) e Dietz (1961) – crosta Hipótese sobre a
juvenil é gerada na cordilheira meso- Expansão do Assoalho
oceânica onde o manto sobe próximo à Oceânico
superfície e eleva o assoallho submarino.
A elevação do piso causa rompimento por
tensão lateral e permite a extrusão de
material vulcânico. O piso oceânico move-
se lateralmente. Onde as células de
conveção convergem, a crosta é arrastada
para baixo, formando as fossas. Estes
locais são caracteristicamente compres-
sivos, e formam montanhas e arcos
vulcânicos na margem continental. Os
continentes, por serem constituídos por
rochas silicosas mais leves, permanecem
à superfície.
Mecanismo motor da Tectônica de Placas

• Correntes de convecção no manto

Duas hipóteses para o sistema de convecção


no manto:
(a) Convecção total do manto
(b) Convecção estratificada, com um limite em torno
de 700 km
Modelos de convecção no manto

convecção no manto inferior


mais lenta que no superior, e
cujo limite é 700 km
Correntes de convecção - Hess

Litosfera
Astenosfera
1967 e 1970 - A Teoria da Tectônica de Placas
é apresentada num encontro da American
Geophysical Union por Jason Morgan com
auxílio de Vine e é aceita na comunidade
científica.
Tectônica de Placas: um modelo unificador
Fm. de
montanhas
(orogênese)

Estrutura e
Tectônica Deformação
evolução das
da crosta
placas litosf. de Placas (mov. Comp.)
(tafrogênese)

História
geológica e
paleogeográfica
TECTÔNICA DE PLACAS

A Teoria da Tectônica de Placas, sustenta que as


maiores feições da superfície da Terra são criadas por
movimentos horizontais da litosfera. Tal teoria se
destaca pela sua simplicidade, elegância e habilidade
para explicar dúvidas remanescentes, sendo
rapidamente aceita.
TECTÔNICA DE PLACAS

Quando as placas se movimentam, a interação entre elas se dá ao


longo de suas bordas, que são chamadas margens dinâmicas.
Existem três tipos de bordas de placas:

-Bordas divergentes (ou construtivas): onde as placas se afastam;

-Bordas convergentes (ou destrutivas): onde as placas se chocam;

- Bordas transformantes (ou conservativas): onde as placas deslizam


lateralmente.
AMBIENTES
GEOTECTÔNICOS

ROCHAS
ROCHAS BÁSICAS, ÁCIDAS E
ROCHAS ROCHAS BÁSICAS,
INTERMEDIÁRIAS BÁSICAS
BÁSICAS INTERMEDIÁRIAS
E ÁCIDAS
E ÁCIDAS
PRINCIPAIS PLACAS TECTÔNICAS
As montanhas têm origem como conseqüência do
movimento convergente - orogênese.
Escamas de falhas de
empurrão
"As forças que deslocam os continentes são as mesmas que produzem as grandes cadeias de
montanhas dobradas. Wegener 1966.
Junção tríplice no Oriente Médio - formação da Península do Sinai
ÁREAS INSTÁVEIS COM TERREMOTOS NOS
CONTATOS ENTRE PLACAS TECTÔNICAS.
Terremotos

Terremoto: movimento de corpos rochosos, um em relação


ao outro
falha: estrutura plana na rocha ao longo da qual se dá o
movimento que gera o terremoto
Falhas podem acontecer em todas as escalas, mm até
aquelas separando placas litosféricas
Falhas
Representação de falhas em mapa
(atitude do plano de falha)
Esforço, dobras e falhas
Força compressiva Força distensiva Força direcional

Dobramento Cisalhamento
Estiramento e afinamento

Falha inversa Falha normal Falha transcorrente


A história antes do Pangea
Os geólogos sabem que pelo menos dois supercontinentes existiram no
passado, Pangea e Rodínia. Evidências concretas da existência de
outros supercontinentes são controversas, já que o nascimento de um
praticamente elimina os sinais de seus antecessores. Sabe-se ainda
que as massas continentais vêm mudando de posição e de forma,
sofrendo processos de orogenias e rifteamentos desde o Arqueano.
Geometricamente, as massas continentais à deriva, tendem a se
aglutinar de tempos em tempos em ciclos de 500 a 600 milhões de
anos, formando Supercontinentes, que, com a continuidade dos
processos tectônicos, se quebram em vários pedaços, recomeçando o
ciclo A dinâmica interna da Terra desfavorece o estabelecimento de
continentes gigantes, e os mesmos têm vida muito curta (em torno de
100 milhões de anos), uma vez que enquanto algumas áreas ainda
estão sendo coladas, outras já estão começando a se romper (Brito
Neves, et al, 1995).
Alguns Supercontinentes propostos pelos cientistas:

UR ~ 3,0 Ga
KENORANO 2,5 Ga
COLUMBIA 1,9 Ga
RONDÍNIA 1,6 a 1,0 Ga
GONDWANA 600 Ma
PANGEA 300 Ma
HOJE
PRÓXIMO SUPERCONTINENTE – AMÁSIA
250 milhões de anos no futuro
Ur, em alemão = original.

Pilbara

Kaapvaal

Rogers, 1996
Configuração proposta por Rogers,
1996 para os continentes Ur, Atlântica
e Ártica . A disposição corresponde à
posição que esses continentes
ocuparam no Supercontinente Pangea

Columbia 1,9 Ga.


A história antes do Pangea
Segundo Rogers (1996) entre
900 e 700 milhões de anos o
Supercontinente Rodínia
aparentemente iniciou sua fase
de que-bras, e se fragmentou
ao longo de dois grandes riftes,
gerando três blocos principais:
Gondwana Leste, Laurásia e
Gondwana Oeste.
Rodínia 1,6 a 1,0 Ga.
Do russo: Rodinia = terra mãe

A separação entre
Laurásia e
Gondwana Leste a
720 Ma (Powell et al.,
1993) deu orígem ao
Oceano Pacífico
atual.

McMenamin & McMenamin, 1990

Bloco Laurásia =partes da América do Norte e Europa, Groenlândia e Sibéria


Bloco Gondwana Leste = parte da África e Antártica (Craton Kalahari- Grunehogna),
Madagascar, Índia e Austrália
Bloco Gondwana Oeste =diversas áreas cratônicas: Amazônia, África Leste, Rio de la Plata,
e vários blocos menores: Pampia, Central de Goiás, Juiz de Fora, Luis Alves, entre outros
(Unrug, 1996).
Terra dos Gonds, antigo povo da Índia
(do grego pan = toda + gea = terra).

Panthalassa (do grego pan = todo + thalassa =


oceano) A história depois do Pangea...
O mesmo processo fusão/fissão, que possibilitou a união do
Pangea, trata agora de rompe-lo e separá-lo em blocos
novamente. A separação desses blocos durou
aproximadamente 100 milhões de anos, se estendendo
pelos períodos Jurássico e Cretáceo.
América
do Norte
No Hemisfério Norte
Laurásia Ásia

Pangea fragmentou-se no início da Europa


era Mesozóica. A primeira grande
"quebra" separou Pangea em 2
blocos: Laurásia (Am. do Pangea África
Norte+Europa +Ásia) e Gondwana
(Am. do Sul, África, Antártica, América
Austrália e Índia). do Sul

Gondwana Antártica

Austrália
No Hemisfério Sul
Índia
http://www.youtube.com/watch?
v=8DhoQYy_2To

http://www.youtube.com/watch
?v=YsHfxb7tKe4
Primeira fragmentação de Pangéia
Individualização de 2 Supercontinentes: Gondwana e Laurásia, após a fragmentação de Pangea.
A partir de ¨Gondwana¨ e ¨Laurásia¨ surgiram os continentes atuais.
Surgimento do Atlântico no final do Mesozóico
No início do Terciário começa a formação das atuais cadeias montanhosas .
Em meados da Era Terciária surge a América Central e o Mar Mediterrâneo começa a se estreitar.
ASSIM É A CONFIGURAÇÃO ATUAL DOS CONTINENTES,
PORÉM INSTÁVEL E EM DERIVA.
POSIÇÃO DOS CONTINENTES DAQUI A 50 MILHÕES DE ANOS.
POSIÇÃO DOS CONTINENTES DAQUI A 150 MILHÕES DE ANOS.
O Supercontinente Amásia

POSIÇÃO DOS CONTINENTES DAQUI A 250 MILHÕES DE ANOS.


O TEMPO E
O PLANETA
Escala do
Tempo
Geológico
Tectônica Global - Sistemas da Terra

Grupo de componentes que interagem.

Atmosfera – É um envelope fino de gases que circunda a


Terra.

Hidrosfera – É composta pelos vários reservatórios de água e


gelo.

Biosfera – Região da Terra onde existe vida.

Terra sólida – Composta por rochas e minerais e dividida em


Crosta, Manto e Núcleo.
Interações de Sistemas
Terrestres

Sistemas da Terra (Kump, Kasting e Crane 2004 – The Earth System)

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