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Mário de Carvalho

«Famílias desavindas»
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História pessoal e história social: as duas famílias

«Famílias desavindas»

História pessoal de duas famílias


que se entrelaça com a história
social de Portugal
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História pessoal e história social: as duas famílias

Frase de abertura
do conto:

«Por uma dessas alongadas ruas


do Porto, que sobe que sobe
e não se acaba, há de encontrar-se
um cruzamento alto, de esquinas
de azulejo, janelas de guilhotina,
telhados de ardósia em escama.»

Cruzamento de ruas

Cruzamento de famílias
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História pessoal e história social: as duas famílias

Duas famílias que


contrastam socialmente

Família pobre:
os semaforeiros Família rica:
galegos os médicos

Gerações que se sucedem,


mantendo as mesmas características

Ramon Dr. João Pedro Bekett


Ximenez Dr. João
Asdrúbal Dr. Paulo
Paco
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História pessoal e história social: as duas famílias

Duas famílias que


contrastam socialmente

Família pobre:
os semaforeiros Família rica:
galegos os médicos

Gerações que se sucedem,


mantendo as mesmas características

Forma de demonstrar:
• o conservadorismo da sociedade portuguesa
• a animosidade entre as classes sociais mais favorecidas e as mais desfavorecidas
• o preconceito em relação ao estrangeiro
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História pessoal e história social: as duas famílias

Origem do ódio mútuo


entre as duas famílias

O semaforeiro Dr. João Pedro


Ramon Bekett

O médico não pede


a Ramon que mude o sinal
do semáforo

Ramon sente-se ofendido pelo facto


de o médico se recusar a obedecer à sua
autoridade como regulador do trânsito
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Valor simbólico dos marcos históricos referidos

Passagem das várias gerações


1) Ramon Dr. João Pedro Bekett
ligada a acontecimentos da
História de Portugal e mundial
«No dobrar do século XIX» (época de
grandes alterações decorrentes do intenso
progresso científico) / 1.ª Guerra Mundial

Contexto em que é
introduzido um semáforo
a pedais numa rua do Porto
e criada a profissão
de «semaforeiro»

Postal ilustrado de 1906 —


Igreja e Torre dos Clérigos (Porto).
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Valor simbólico dos marcos históricos referidos

Passagem das várias gerações


1) Ramon Dr. João Pedro Bekett
ligada a acontecimentos da
História de Portugal e mundial
«No dobrar do século XIX» (época de
grandes alterações decorrentes do intenso
progresso científico) / 1.ª Guerra Mundial

2) Ximenez Dr. João Contexto em que é


introduzido um semáforo
2.ª Guerra Mundial a pedais numa rua do Porto
e criada a profissão
de «semaforeiro»

3) Asdrúbal Dr. Paulo


Paco

Do 25 de Abril à atualidade
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Valor simbólico dos marcos históricos referidos

Passagem das várias gerações


ligada a acontecimentos da
História de Portugal e mundial

Os marcos históricos demonstram


a passagem do tempo, a qual, por sua
vez, evidencia a imutabilidade
da realidade social
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A importância dos episódios e da peripécia final


«Enganar-se-ia quem
dissesse que
O semaforeiro Paco o semáforo ficou
é atropelado abandonado.
Uma figura de bata
O Dr. Paulo, em
branca está todos
vez de insultar Paco, os dias naquela rua,
decide esquecer «ódios do nascer ao pôr
velhos» do Sol, a acionar
o dispositivo,
pedalando, pedalando,
até à exaustão.
Para se redimir, assume as funções de Paco
É o Dr. Paulo cheio
enquanto este não regressa do hospital
de remorsos, que quer
penitenciar-se, ser útil,
enquanto o Paco não
Fim da ideia de desavença entre famílias regressa.»
presente no título e ao longo da narrativa
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A importância dos episódios e da peripécia final


«Enganar-se-ia quem
dissesse que
o semáforo ficou
abandonado.
Uma figura de bata
Final que pode apontar para a possibilidade
branca está todos
de existir uma relação harmoniosa entre
os dias naquela rua,
famílias / classes sociais diferentes
do nascer ao pôr
do Sol, a acionar
o dispositivo,
pedalando, pedalando,
até à exaustão.
É o Dr. Paulo cheio
(Ou, dada a sua inverosimilhança, final que de remorsos, que quer
sugere que é impossível pôr fim à tensão penitenciar-se, ser útil,
entre famílias / classes diferentes) enquanto o Paco não
regressa.»
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A dimensão irónica do conto

A ironia está presente ao longo da narrativa.

Por exemplo:

• na apresentação da necessidade de um sistema de semáforos no fim


do século XIX («capaz de bem ordenar o trânsito de carroças de vinho, carros
de bois e landós da sociedade»);

• no suborno de um autarca do Porto com «garrafas de Bordéus» para que


no Porto fosse instalado um sistema de semáforos que já tinha sido recusado
em Paris e em Lisboa;

• na explicação da escolha do primeiro semaforeiro («familiar de um proprietário


de um bom restaurante»);

•…
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Como o próprio escritor refere, «o humorismo


é a forma mais, não sei se diga mais eficaz,
mas é com certeza a mais próxima de exprimir
o desencanto». Assim, a única saída possível
perante a sensação geral de desencanto
é a ironia, a única forma possível de seriedade.
António M. G. Mendes,
in Ensaios sobre Mário de Carvalho
(coord. M.ª Fátima Silva e Tereza Ribeiro), 2012, p. 173.

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