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Na querela entre Rousseau e Voltaire acerca da atuação política do Czar Pedro o Grande

pode-se notar como Rousseau criticava o Czar, pressupondo uma quebra no desenvolvimento
"natural" do povo russo. Por outro lado, Rousseau, ao considerar o desenvolvimento nas
ciências, nas letras em geral, temia que, na presente época, se repetisse o destino trágico dos
grandes impérios - em especial o romano. - Aparentemente, Rousseau considerava o
desenvolvimento humano histórico segundo duas concepções temporais. Explique como isso
foi possível.

Então como primeiro ponto! Como iremos trazer a introdução?

Para respondermos a essa questão sobre a concepção histórica de Rousseau, devemos


remontar ao período histórico no qual ele se encontrava e, principalmente, às correntes com as
quais ele dialogava, neste caso a corrente de Voltaire. Durante o Renascimento (séculos XIV
ao XVI) surge no centro do pensamento histórico a concepção histórica cíclica; contudo, já nos
séculos XVII para XVIII, retorna ao debate a teoria histórica linear (característica das visões de
mundo judaico-cristãs), criando uma tensão entre estas duas correntes.

Voltaire é um autor estratégico para se apreenderem estas mudanças, na medida em que nele
encontramos entrecruzadas a nova e a antiga problemática, sempre tendo como base a
natureza humana que é imutável e constantemente, sofrendo influência do clima, do governo e
da religião, que formarão o espírito das nações e seus costumes; assim sendo, não há uma
universalidade histórica, ou seja, ela varia conforme o território. Vale destacar que para Voltaire
a relação ciclíco-linear se dá através da elaboração do novo (linear) e da manutenção de
elementos das concepções anteriores (cíclica), em um crescente melhoramento, pensamento
este que Rousseau recuperará ainda que com um viés pessimista.

Rousseau, assim como Voltaire, misturará os dois modelos teóricos sobre a história, mas com
alguns outros pontos a acrescentar, tais como o progresso da desigualdade e o avanço das
ciências e das artes, ambas vistas como pontos negativos. A desigualdade se dá através do
acúmulo dos vícios trazidos à tona, procriados e amplificados pelo desenvolvimento das
condições materiais e técnicas de existência característico da sociedade civil; ele leva à
deterioração das possibilidades do indivíduo, pois, se antes a natureza selecionava os mais
aptos e os tornava brutos e capazes de tirar de si próprios a solução de qualquer problema que
lhe surgisse, hoje em dia não há mais seleção natural e todos somos débeis, pois a sociedade
dá a todos igual chance de sobrevida, sob a condição de se tornarem seus escravos e
necessitarem tirar dela a solução para todo e qualquer problema. À medida que avançamos
encontramos novos problemas mais a frente, e problemas anteriores que a vida selvagem se
encarregava de suprimir erguem-se para nos capturar; e é assim que temos cada vez mais
necessidades (como a linguagem, a roupagem, a maquiagem, veículos, casas, indústrias) e
cada vez mais doenças, paixões (que evoluem com a evolução da razão e da capacidade
mental) e vícios (como o crime, a imoralidade, a promiscuidade, etc; tais coisas não existem na
natureza).
E para resolver cada problema criamos novas leis, padrões e produtos, que freqüentemente só
servem, na prática, para ou amplificar e procriar ainda mais os problemas que almejavam
solucionar, ou, no processo de efetivamente “resolvê-los”, acabam criando muitos novos ainda.
E perseguindo sempre este ideal de progresso criamos novas ciências a fim de nos libertar das
amarras de nossa ignorância, para criar em seu lugar correntes pesadas que nos prendem à
degeneração da vida civilizada. E novas letras, artes e bons costumes que cuidam louvar esta
nossa liberdade, mas que em verdade apenas disfarçam as cadeias que nos prendem de
forma a nos parecerem mais belas e confortáveis.

Rousseau, ao trazer estes dois novos pontos para a reflexão histórica, a carregará de um
pessimismo, tanto em sua linearidade quanto em sua circularidade, pois a acumulação que
esta linearidade proporciona não é utilizada a favor da racionalidade humana (no sentido da
autonomia), e sim contrária a ela, por isso quando essa linearidade se "fecha" ciclicamente está
evoluida, não para melhor, mas para pior, porque melhorou aquilo que degrada o homem. A
partir disto exemplica este "ciclo" através de Grécia, Roma, Rússia, etc. Seremos nós os
próximos?

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