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O Opressor

“Olhe pra você, criança! Tão pequeno e já dá pra ver todos os traços. Vai ser motivo
de orgulho pra nossa raça.”
Passei a infância ouvindo isso da minha mãe. E de fato ela tinha razão quanto aos
traços. Meus chifres e minha cauda são maiores que os dela própria, e além disso possuo
as garras, os olhos sem pupila, caninos pontudos, a língua bifurcada e minha pele
vermelha. Quanto ao orgulho para a raça, temo tê-la desapontado.
Minha mãe, Rieta Barakas, é uma poderosa feiticeira e traficante de escravos na
região de Saerloon. Ninguém que trafica pessoas costuma ser de bem, mas minha mãe é
especialmente ruim. Ela sempre consegue o que quer das pessoas, seja com sua magia ou
com seu chicote. E comigo não era diferente…
Desde criança ela me fazia aplicar punições nos escravos. Como eu ainda era
pequeno demais para empunhar o chicote, os espetava com uma adaga.
Conforme eu crescia, minha aparência ia se tornando mais intimidadora e, aos
quinze anos, eu me tornei conhecido entre os camaradas de minha mãe e os escravos
como “o Opressor”. Um simples olhar bastava para fazer um escravo se contorcer de
medo... mas, ainda assim, às vezes ela me fazia puní-los com violência física. Eu não sei
que tipo de feitiço ela usava, mas eu não conseguia negá-lo. Ainda nessa época passei a
liderar caravanas para captura de escravos. Eu não era forte ou poderoso, mas minha
aparência fazia parecer o contrário e por isso eu seguia como líder, mas no fundo não
passava de um marionete.
Eu não tinha noção da influência mágica de minha mãe, apesar dela ser uma
feiticeira poderosa, seu dom arcano parece ter me ignorado na linhagem e eu não tinha
noção alguma de magia. Era apenas como se eu não tivesse sentimentos, não conseguia
sentir compaixão pelas outras pessoas e como sempre foi assim nunca estranhei.
Mas isso mudou em minha última excursão em busca de escravos.

***

Era um povoado élfico próximo de Comanthor. Minha mãe havia feito um trato com
os drows e eles foram aliados nesta campanha.
Como de costume, aqueles que não teriam serventia, geralmente por estarem muito
velhos ou doentes, seriam assassinados.
Eu estava pronto para cravar minha lâmina no coração de um velho elfo, quando
seus olhos emitiram um brilho prateado e ele disse algo em um idioma que a princípio não
entendi. Mas em seguida foi como se ele estivesse na minha mente, me mostrando que
estava aprisionado. Mais que isso, me guiando para fora de minha cela.
Pela primeira vez meus olhos se encheram de lágrimas.
Lágrimas de ódio. Ódio por ter sido manipulado esse tempo todo.
Lágrimas de culpa. Era como se todo o choro e apelo daqueles que eu fiz mal
ecoasse em minha mente de uma só vez.
Mas apesar de tudo, o velho elfo sorria. Estava feliz por ter me libertado. E por mais
que ele não me culpasse, eu não conseguia me sentir melhor.
Ainda em minha mente ele disse “Agora você está livre, mas não vai continuar assim
por muito tempo se ficar aqui”. Então sussurrou mais algumas palavras que eu não
compreendia e em seguida nós fomos transformados em pássaros. E voamos para longe
dali.

O poço e a torre iluminada

O velho elfo se chamava Hadarai e era um bruxo poderoso, como seu assistente eu
adquiri o conhecimento que tenho hoje. Sempre que eu o perguntava quando ele me
iniciaria na bruxaria, ele sempre dizia “Quando estiver preparado”.
Vivíamos nos espreitando pelas florestas da região de Comanthor, sempre mudando
de lugar para fugir dos eventuais lacaios que minha mãe mandava em minha busca.
Parecia que me encontrar tinha se tornado sua obsessão.
Hadarai sempre me protegia, mas certa vez fomos cercados por um grupo de quatro
drows. Ele conseguiu derrubar um deles com um raio, mas foi flanqueado por dois dos
outros drows, que o atravessaram com suas espadas.
Em seu último ato desesperado, Hadarai lançou um encantamento e gritou
“CORRA!”. E eu corri. Tão rápido que consegui despistar os drows.
Correndo sem rumo, abalado com a morte de meu mentor, acabei me perdendo na
floresta. Quando o efeito da magia de Hadarai acabou, me vi perdido no que parecia ser as
ruínas de um vilarejo.
Foi quando ouvi uma voz vinda de um poço. Era uma voz de mulher.
“Veja o brilho da prata! Venha e pegue o que é seu!”.
E no fundo do posso eu podia ver o brilho prateado me chamando. Um brilho igual
ao dos olhos do velho elfo no dia em que ele me libertou. Só que muito mais forte.
Então eu pulei.

***

Senti alguns ossos se quebrando quando atingi o fundo do poço.


O brilho não estava mais lá e a água era tão rasa que não me cobria mesmo
estando deitado.
Caiu a noite e eu podia ver a lua brilhando no alto do poço. Aquele mesmo brilho
prateado.
A mesma voz voltou a me chamar, mas dessa vez do alto do poço.
“Seu tolo! Você jogou sua vida em troca de algo que nem sequer conhece. O que o
motiva? Medo? Desejo? Diga!”.
Fiquei em silêncio. Não sabia o que responder.
“Eu sei o que o move, criança. Acompanho seu passos há mais tempo do que
imagina.” Disse a voz em retorno ao meu silêncio.
Foi então que a imagem do velho elfo surgiu ao meu lado, mas dessa vez seu corpo
todo irradiava luz prateada. Ele me estendeu a mão e disse “Acho que você está
preparado”. Senti meus ossos se regenerando, toda a dor indo embora. E meu corpo
flutuava em direção ao alto do poço.

***
Ao sair do poço, vi que tudo no vilarejo irradiava a luz prateada. E havia uma torre.
Uma enorme torre de luz.
Fui andando instintivamente em direção a torre.
A voz de mulher voltou a falar.
“Alguns me chamam de caos, outros de liberdade. Eu vivo através de tudo que é
livre no mundo. Eu costumava habitar também o coração dos Homens, mas cada vez mais
os Homens parecem não querer a liberdade. Se tornaram escravos de suas regras, de sua
ambição, de sua fé. Poucas são ações tomadas pelo simples desejo de tomá-las.”
Houve um silêncio e o fantasma do elfo tornou a aparecer do meu lado e começou a
falar.
“Você é um espírito livre Ozriel, o que te motiva é a liberdade. Sua mãe utilizou
magia para te prender esse tempo todo, porque ela temia sua liberdade. Temia que você
não fosse igual a ela. Mas você finalmente conseguiu me encontrar.”
E então se transformou em um pássaro e voou em direção a torre.
E eu o segui.

Agente da liberdade

Passei o ano que seguiu isolado no vilarejo, que ganhou vida iluminado pela torre.
O poço se encheu de água e vegetais diversos cresceram nos arredores, então eu
sempre tinha de onde tirar alimento e ervas para infusões.
Nesse tempo também estudei sobre magia em alguns livros que haviam dentro da
torre e treinei as habilidades que adquiri através do pacto que fiz com a entidade que me
libertou.
Decidi sair de minha reclusão quando dominei minhas novas habilidades.
Era passada a hora de viver como um homem livre e mostrar os ideias da liberdade
a quem estivesse disposto a vê-los.
Eu sei que minha mãe fará de tudo para me controlar novamente, mas estou
disposto a fazer de tudo para manter-me fora de seu alcance… pelo menos até que eu
tenha poder suficiente para enfrentá-la.
O vilarejo se apagou assim que parti.

***

Na primeira noite fora do vilarejo, tive uma visão.


Nela os drows atacavam uma vila élfica e levavam seus habitantes como escravos.
Eu precisava alertá-los e decidi procurar a tal vila. Quando estava me aproximando de algo
que poderia ser a vila, fui atacado e capturado por um grupo de elfos.
Fui levado até a vila. Duas elfas ficaram responsáveis por minha escolta.
Os elfos haviam me capturado porque me confundiram com um demônio… não
posso culpá-los por isso, mas algo precisava ser feito. Eles precisavam entender o risco que
corriam.
Decidi ser franco com as elfas que me guardavam. A princípio elas duvidaram de
mim, mas pude perceber que ainda assim a história as incomodara. Elas não iriam pagar
pra ver e comunicaram os demais elfos, que iniciaram uma busca na região… que acabou
por encontrar a emboscada dos drows.
***

Conquistei certa confiança. Ainda não era visto como amigo, mas pelo menos como
um aliado no momento. Resolvi ajudar as duas elfas na missão de encontrar pistas sobre
alguns elfos desaparecidos.
No caminho de nossa missão, fomos atacados por um meio-orc. Ou melhor eu fui
atacado. Percebi que era mais um marionete de minha mãe.
Alertei as elfas para que não o matassem e tentei estabelecer contato com a mente
repreendida do meio-orc. Ele estava frenético e foi difícil alcançá-lo, mas por fim consegui.
Quando ele voltou a si, pude ver a gratidão em seus olhos. Nos tornamos amigos de
certa forma e ele resolveu nos acompanhar.
E assim partimos em nossa missão.

Antecedente
Vida de Isolamento: Eu me afastei da sociedade após um evento que mudou minha vida.
Traço de Personalidade: Eu estou alheio a etiqueta e expectativas sociais.
Ideal: Todo homem que acolhe a liberdade em seu espírito merece o direito de escolher seu
destino, ao contrário daquele que a renega e se condena a viver como um escravo.
Vínculo: Eu entrei em reclusão para me esconder daqueles que ainda devem estar me
caçando. Algum dia irei confrontá-los.
Defeito: Eu sou dogmático em meus pensamentos e filosofias (ideais de liberdade adotados
no pacto).

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