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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA

Disciplina: História da Filosofia Medieval I

Professor: Anderson D'Arc Ferreira

Grupo: Áurea Augusta Rodrigues da Mata (11500071)

Beatriz Martins Negreiros (20180014538)

Cecília Soares de Azerêdo (20180005379)

Severino dos Santos Figueiredo (20180005154)

Wanderson Carlos Firmino da Silva (20180013316)

ESTUDO DIRIGIDO I

1. É importante ressaltar que o cristianismo primitivo é complexo pelo fato de ser marcadamente
dividido entre a história do povo Hebreu, no Antigo Testamento, e a universalidade da pregação
de Jesus Cristo, no Novo Testamento. A partir daí, surge a necessidade de contar as histórias de
maneira espiritual e não literal, sendo o método alegórico, ou seja, as alegorias, em si, seriam
uma maneira de resolver este conflito. Ademais, os escritos cristãos eram considerados apócrifos
antes da existência do cristianismo, sendo estes perseguidos, logo, as colocações de Paulo
serviram para moldar as obras para tentar ser aceito no meio dos judeus. Seu posicionamento
tinha um caráter normativo das doutrinas, logo depois, ele veio a se tornar apóstolo dos gentios.
Portanto, seus escritos serviram de base para acompanhar as demais composições dos apóstolos
que estiveram com Jesus e analisar se estavam comprometidas com a verdade ou não.

2. Não. Entretanto, é óbvia a importância de Paulo para a filosofia, sendo seu pensamento ponto
de referência para inúmeras instituições filosóficas, que utilizam a razão como instrumento de
explicação da fé. Ademais, se formos analisar o autor em si e suas contribuições gerais,
poderíamos considerar como sendo constituída uma vertente filosófica, já que, segundo Spinoza,
Paulo falaria da fé com um caráter lógico, utilizando do silogismo para apresentá-la. Contudo,
outros pensadores interpretam o conhecimento que Paulo oferece como sendo somente dentro da

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esfera da crença, sem maiores atribuições. Nesta perspectiva, não seria uma nova filosofia.
Porém, vale ressaltar que, Paulo introduziu conceitos fundamentais acerca da liberdade humana,
de Deus, da natureza divina etc. Portanto, embora Paulo tenha colocado alguns pressupostos que
irão ser adotados, posteriormente, pelos futuros filósofos cristãos, o texto de Gilson enfatiza que
São Paulo não é um filósofo e que não seria coerente definir uma filosofia dele.

3. Para Justino, o papel da filosofia é aproximar o homem de Deus, nos unir a ele. E, ao longo de
sua trajetória, experimentou de alguns sistemas, ao começar pelo Estoicismo, passando pelo
Pitagórico, Platônico, até sua conversão. permanecendo, no entanto, suas influências platônicas.

4. ​A respeito da questão pagã, São Justino argumenta o seguinte, utilizando-se do Evangelho de


São João. Jesus é o Verbo, e o Verbo é Deus. Segundo a escritura, o Verbo ilumina todo homem
que vem ao mundo. Assim, e convergindo à noção de Deus, pode-se considerar uma formulação
universal de Verbo e que seja anterior a Cristo. Logo, se todo homem tem a luz do Verbo, e este
é Cristo, então todo homem tem a luz de Cristo, mesmo os que vieram antes dele. Portanto, se
estes viveram segundo aquilo que reza a luz do Verbo, então foram cristãos por definição. Segue
daí a importância dessa noção em São João: no argumento de Justino, ela é capaz de considerar a
possibilidade de existência da sabedoria pagã, estabelecendo uma condição para tal: que essa
sabedoria tenha sido consumada conforme o Verbo.

5. ​Porque a sabedoria cristã chegava a um estágio não alcançado pela sabedoria pagã, o de
conduzir as verdades teóricas para a vida prática, superando ideias que, mesmo verdadeiras, não
tinham muita serventia para a vida cotidiana. Aqui, como exemplo, podemos utilizar a citação de
Étienne a Plotino, de como este, apesar de aconselhar o domínio das paixões e a adesão a Deus,
não apontou um método para tal. Pelo contrário, o cristianismo oferecia meios para a passagem
da teoria à prática, com vista na salvação do homem.

6. ​O cristianismo não esboça um mero interesse em adquirir conhecimento abstrato. Pretende


tornar-se, e se posiciona como um método de salvação para o homem. E este método de salvação
é uma ponte entre o conhecimento do verdadeiro bem e sua prática. É, por assim dizer, um
tratado de ética transcendente/sobrenatural.

7. O seguinte argumento é defendido por Justino e por alguns outros pensadores que o
sucederam, como Arnóbio e Lactâncio. O argumento alega que, apesar dos filósofos gregos
terem entrado em desacordo e em incoerências internas, ainda havia diversos aspectos verídicos
no que se refere às suas produções intelectuais. Todavia, segundo esses pensadores, cada filósofo
possuía no máximo verdades parciais e, embora fosse possível propor a reunião de todas essas
verdades parciais a fim de se alcançar uma verdade maior e completa, uma outra problemática se

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imporia. Primeiramente, como seríamos capazes de separar o verdadeiro do falso? Ora, para que
este procedimento fosse exequível, tornar-se-ia necessário a posse da compreensão do que seja a
verdade, caso contrário não seríamos capazes de reconhecê-la e de separá-la daquilo que ela não
é. Assim, é apenas através do domínio da verdade, enquanto um critério de discernimento
daquilo que é ou não passível de admissão entre os gregos, que somos capazes de reunir uma
verdade total dentro da tradição filosófica precedente. Diante deste cenário, para os filósofos
cristãos, esta verdade, que servirá de base e de critério de avaliação para as demais correntes de
pensamento, corresponderá aos dados da revelação que estão contidos nas sagradas escrituras.
Dentro desta perspectiva, torna-se notório que a filosofia verdadeira seria aquela que não se
apoia apenas na razão e que é, portanto, capaz de evitar um constante retorno a certos impasses e
contradições, que, para os filósofos cristãos, era comum entre os gregos. Logo, a fé nas
escrituras, na medida em que é admitida enquanto pressuposto, ganha este caráter orientador da
própria razão, livrando-a de certos embaraços.

8. O racionalismo em geral corresponde a uma postura filosófica que confia nos procedimentos
da razão, na medida em que os compreende como determinantes para o saber humano.
Entretanto, na esfera do pensamento cristão, isto ganha uma configuração que lhe é particular. O
racionalismo cristão, encetado por Agostinho, tem como aspecto central a defesa da fé enquanto
condição de possibilidade para o pleno exercício racional. Em meio a isso, para a razão ser o
único critério válido, confiável e seguro para o desenvolvimento do conhecimento humano,
torna-se necessária a investigação e o domínio daquilo que lhe é alicerce imprescindível, isto é, a
fé. Dessa forma, de antemão, torna-se imperativo o olhar a uma certa racionalidade da fé, posto
que ela seria a responsável por proporcionar uma real clareza à razão. Neste sentido, não é a
razão que nos possibilita alcançar determinadas evidências e, por conseguinte, certas crenças. O
procedimento é inverso. Logo, é devido a nossa capacidade de ter fé que torna-se possível o
engendramento de evidências racionais, compreensões e, enfim, conhecimento. Assim, pode-se
observar uma primazia, embora não uma superioridade, da fé em relação à razão dentro desta
perspectiva filosófica.

9. O autor chama de filosofia cristã toda filosofia que, embora distinga formalmente as duas
ordens, que sejam: a revelação e a razão, considere a primeira uma auxiliar indispensável à
segunda. Essa noção corresponde a uma realidade histórica concreta, que não passa de uma das
espécies da filosofia e contém em sua extensão os sistemas filosóficos que só foram o que foram
porque existiu uma religião cristã que os influenciou.

10​. Esta questão é complexa e fundamental ao mesmo tempo. A filosofia parte de premissas com
base em raciocínios lógicos e evidentes, enquanto a fé, não. Neste aspecto, não é possível dizer
que o conteúdo da fé seja verdadeiro. Por este motivo, alguns filósofos subestimaram a fé como
conhecimento, pois acreditavam que ela tivesse valor inferior à ciência. Nessa perspectiva, a
crença estaria oposta à razão, pois aquela pressuporia uma revelação divina. Entretanto, outros
pensadores tentaram provar a existência de Deus utilizando provas racionais, mas não eram bem

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aceitas, já que faziam uma diferenciação entre a razão e o sobrenatural, sendo este último a
revelação. Ademais, a partir da linguagem, e por meio das categorias da filosofia grega, os
cristãos transformaram a fé em um sistema teórico. Logo, a filosofia grega serviu de base para
que os crentes pudessem explicar, por meio da razão, a questão da revelação divina. Apesar
disso, a filosofia acabou perdendo um pouco seu espaço e autonomia para atender às exigências
cristãs.

11. É um método no qual há uma oposição entre o sentido literal ou histórico, e o sentido
espiritual, em relação à hermenêutica textual. Além disso, a verdade possui um papel
importantíssimo nas escrituras, de modo que ela deveria ser estabelecida a partir da plena
negação das palavras escritas, ou seja, colocam-se as palavras em um nível além do mundo
evidente. Como exemplo, utilizam-se concepções opostas, como: corpo e alma, visível e
invisível, dentre outras. Em outro viés, os pontos positivos são as possibilidades interpretativas,
entretanto, isto culmina em uma divisão taxativa: aqueles que acreditavam que as escrituras eram
apenas símbolos e sem caráter histórico e aqueles que as interpretavam em sentido literal.
Levando, assim, alguns gnósticos a extremarem o método alegórico, dizendo que as narrações do
evangelho eram apenas alegorias. Por fim, outros afirmam que Deus seria considerado uma
entidade inferior, pois de acordo com os textos, ele seria imperfeito e irascível.

12. O método tipológico-histórico tem seu início datado em torno do século IV, na escola de
Antioquia. É tido em seu tempo como uma resposta aos excessos alegóricos dos métodos
anteriores. Apresenta-se até os dias de hoje como uma interpretação pautada na letra, no texto,
em seus aspectos socioculturais, deveras históricos, partindo de análises hermenêuticas a partir
de fontes históricas concretas (filologicamente). Ora, para tanto, mobiliza-se o recurso analítico
chamado de “tipo e antitipo”, que consiste em contrapor figuras históricas reais e figuras
contidas nos textos tidos como sagrados. Fazendo isso aproximamos o texto de realidades, ou
representatividades, relativas a conflitos que se deram no mundo concreto. Histórias de reis,
guerras, imperadores e assim por diante, tipos chave. Tal ferramenta nos é útil até hoje, como
uma maneira de ser exigente com a letra, com o texto, buscando na medida do possível uma
objetividade, que não se dava no âmbito alegórico que lhe era anterior. Interpretações subjetivas,
místicas, com base na fé. E, claro, que partem daí grandes dificuldades em eleger corretamente
os tipos ou antitipos que poderão ser postulados em contraposição e/ou correspondência. Quais
critérios podem ser estabelecidos? Ora, tal método deságua posteriormente em polêmicas e
heresias.

13. Os pressupostos da tradição cristã cumprem com o papel fundamental de assegurar o espírito
da leitura sagrada, diante de tantas e tão contrárias visões metodológicas. E, embora sejam estes
também numerosos e pouco complementares, eles conferem aos métodos, sejam quais forem,
uma condição subordinada. Quer seja a fé, ou a tradição da igreja, ou, como quer Clemente de

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Alexandria, a tradição não escrita daquilo que foi escrito. Em outras palavras, os pressupostos
cristãos asseguram ao método a Fé e a Tradição.

14. A síntese agostiniana segue-se logo depois da tentativa dos Primeiros Padres da Igreja em
contornar os problemas suscitados pelos métodos alegórico e topológico-histórico. Esses autores,
porém, ao estabelecerem a fé e a tradição como critérios para a verdade, acabaram por
comprometer as práticas interpretativas das escrituras, pela condição de esses elementos serem
de tal modo amplos e difíceis de definir. Agostinho, então, dará ênfase à necessidade de
diferenciar, segundo critérios pré-estabelecidos, os textos (ou excertos) das escrituras a serem
tomados em sentido literal daqueles que teriam de ser interpretados em sentido alegórico.

15. A primazia para Agostinho está em explicar como podemos conhecer quando uma
palavra/expressão é própria ou figurada. Assim, ele estabelece que tudo o que à palavra não
possa ser dito em sentido literal, nem conforme os costumes ou às verdades da fé, tem de ser dito
em sentido figurado. Daí, seguem dois princípios reguladores para a interpretação das escrituras:
por um lado, verificar se o que a letra do texto expressa não infringe a moral e os bons costumes;
por outro, analisar se o que é dito pelo texto não entra em confronto com as verdades da fé,
vindas do próprio texto ou da doutrina cristã. Caso o que o texto expresse não fira esses
princípios, deve-se lê-lo de forma literal; do contrário, utiliza-se a leitura figurada.

16​. De acordo com o autor do texto, para a visão agostiniana, serão ainda enquadrados entre
aquilo que deve ser interpretado em sentido figurado, os fragmentos que apresentam as seguintes
características: improbabilidade doutrinal: por exemplo, aquelas locuções que parecem mandar
fazer o mal ou praticar uma iniqüidade; Improbabilidade material: por exemplo, a passagem do
livro do Gênesis que assegura que as ervas verdes e as árvores frutíferas constituem o alimento
de todos os animais, pois, sabe-se obviamente que os animais carnívoros não se alimentam de
tais iguarias; Superfluidade: são aqueles textos que mostram mais a ausência do positivo que a
presença do negativo.

17. O trabalho de Joaquim de Fiore consistiu em fazer uma síntese que pretendia harmonizar a
dimensão da interpretação histórica da tradição cristã e o seu caráter espiritual, alegórico,
transcendente. Neste sentido, podemos observar que ele colocava suas ideias ainda sobre as
bases já desenvolvidas por Santo Agostinho. Em meio a isso, ele desenvolveu uma classificação
das cinco variantes para o método alegórico e sete da tipologia-histórica. Ademais, assim como
Orígenes, Fiore admitia três níveis possíveis da apreensão de sentido das escrituras: literais,
psíquicas e espirituais. Associado a esta tríplice acepção da escritura, Fiore inovou ao produzir
uma mística que pretendia explicar determinadas eras históricas baseadas em princípios de uma
evolução espiritual coletiva. Esta é precisamente a sua contribuição mais particular. Dessa forma,
ele alegava que humanidade havia passado pela era do Pai (ligado ao âmbito da letra), que ela

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estava na era do Filho (ligado ao âmbito psíquico) e que a era do Espírito Santo (ligado ao
âmbito espiritual) ainda viria a trazer consigo o divino, não através de palavras, mas sim
exibindo-o face a face. Não obstante, enquanto a nova era não chegava, Fiore avaliava que ainda
era preciso se ocupar de tentar interpretar as sagradas escrituras. Logo, podemos observar que ele
se centrou na ideia da trindade enquanto um fator ordenador da história, que se expressava
simbolicamente nela, aspecto este que o fará aprofundar o debate referente à trindade. Assim,
problemas como o mesmo no diversos e o diverso no mesmo também eram discutidos
frequentemente em sua escola.

18. Por uma necessidade advinda de uma interpretação mais racional, a Escola de Chartres
tomou como base de interpretação critérios físicos-naturais (ratio physica). Um exemplo que
ilustra tal parâmetro de investigação e interpretação dos textos bíblicos se deu na compreensão
de uma passagem do Livro do Gênesis que diz “Faça-se um firmamento entre as águas, e separe
ele umas das outras” e da passagem do Livro do Salmos que afirma “Louvai-o, céu dos céus, e
vós águas, que estais acima do firmamento”. Ora, como pode a água ser o elemento que o ocupa
o lugar mais elevado, acima do firmamento, se existem elementos mais leves que ele capazes de
se sobrepor à água? Esse tipo de indagação não é problema para um dialético do século XII,
Pedro Abelardo, que recorreu a uma justificação muito antiga de que Deus, sendo aquele que
tudo pode, quis o firmamento assim e que isso seria suficiente para responder supostas
incoerências apontadas pela interpretação físico-natural. Não obstante, a Escola de Chartres
recusou se curvar à autoridade do texto bíblico no que se refere a uma interpretação literal e que,
sobretudo, contradiz a ordem racional humana (ao menos no que tange às leis físico-naturais).
Assim, para essa escola, respostas como a de Abelardo demonstram uma aceitação cega a uma
alegação que de antemão parece arbitrária, isto é, a de que a água poderia se situar no lugar mais
elevado do firmamento. Assim, apesar de se encontrar nas escrituras, esta escola negará tal
declaração, indicando a maior probabilidade do ar, e não da água, ocupar tal lugar acima do
firmamento.

19. A exegese escolástica, por basear-se em um procedimento per causas lógico-formais e tratar
de maneira silogística as questões teológicas, assume, assim, o papel de retomar os critérios
metodológicos lógico-dedutivo de interpretação. Para tanto, entende-se que a escolástica em
geral instará um tipo de procedimento metodológico que, tendo em sua base uma ratio per causas
lógicas ou ratio consequentiarum, se orienta predominantemente pelos postulados fornecidos por
uma estrita lógica formal-dedutiva. Um dos pontos básicos assumidos pelo método dialético
escolástico está posto na disputatio, técnica que surgirá na medida em que se efetiva um processo
de transformação no ensino tradicional das escolas, ou seja, no momento em que ocorre uma
efetiva mudança na tradicional lectio historiae. Para a escolástica em geral, o sentido espiritual
da tradição estará todo recluído no sentido literal.

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