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CULTURAIS NO
AMÁLGAMA SOCIAL
Reunião de artigos do I
CIPCS
AMANDA BASILIO SANTOS
JULIANA PORTO MACHADO
(ORG)
Fenômenos culturais
no amálgama social
reunião de artigos do I CIPCS
(Página Intencionalmente deixada em branco)
Amanda Basilio Santos
Juliana Porto Machado
(Org.)
Fenômenos culturais no
amálgama social
Reunião de artigos do I CIPCS
1ª Edição
Jaguarão
CLAEC
2018
© 2018, CLAEC
.
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parte deste livro, sem autorização previa por escrito da editora, poderá ser
reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos,
mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.
ISBN 978-85-93548-16-1
A484
Fenômenos culturais no amálgama social[livro
eletrônico]: reunião de artigos do I CIPCS / Amanda
Basilio Santos; Juliana Porto Machado (Organizadores).
1. ed.– Jaguarão: CLAEC, 2018. 1804p.
PDF – EBOOK
ISBN: 978-85-93548-16-1
CDU 303
CDD 300
Site e Facebook:
https://cipcs2018.wixsite.com/icipcs https://www.facebook.com/ICIPCS/
Realização:
Centro Latino Americano de Estudos em Cultura (CLAEC); Instituto Conexão
SócioCultural (CONEX) e Universidade Federal de Pelotas (UFPEL)
Apoio:
Laboratório de Política e Imagem (LAPI-UFPEL); Centro de Artes (CA-UFPEL);
Instituto de Ciências Humanas (ICH-UFPEL); Biblioteca Pública Pelotense.
Financiamento:
FAPERGS
RESUMO
Como personagem atemporal da hist ória da cidade de Belé m do Pará, o Ver-
o Peso, além de ser a maior feira ao ar livre da Am érica Latina (AGENCIA
BELEM, 2017), abriga uma complexa estrutura de trocas simb ólicas que
incluem cheiros, cores, sabores, sons e comportamentos. Este trabalho tem
como objetivo identificar elementos simb ólicos da Feira que sejam
partilhados também pelos demais habitantes da cidade, em especial o
Tecnobrega, além de analisar como estes s ímbolos estão sendo
comercializados no mercado de moda belenense, a fim de incentivar uma
reflexão acerca do papel do d esign na valorização ou apropriação cultural
desse fenômeno. Para a compreens ão eficaz deste estudo, faz -se necessária
a análise dos elementos culturais diversos presentes no complexo do Ver -
o-Peso, o que abrange seus patrim ônios materiais e imater iais, como por
exemplo o Tecnobrega. Baseando -se no título deste trabalho, tamb ém é
interessante abordar as defini ções de icnografia e apropria ção cultural, bem
como relacioná-las ao local em quest ão e ao mundo da moda. N ão há
dúvidas de que o tecnobrega é patrimônio imaterial do Ver -o-Peso, nem se
questiona a sua função primordial em ser a voz da periferia, por ém o que
muitas vezes presenciamos em Bel ém é a sua apropriação cultural, uma
exploração que só busca o capital e vende uma cultura maquiada,
“adaptada” para um público mais “culto” ou turistas que desconhecem a
origem do movimento ou pouco valorizam o seu real papel na vida do seu
público original.
Palavras-chave: Cultura. Moda. Tecnobrega. Apropria ção Cultural.
Cultura Paraense.
ABSTRACT
As a timeless character in the history of the city of Belém do Pará, Ver -o
Peso, being the largest outdoor market in Latin America (AGENCIA
BELEM, 2017), houses a complex structure of symbolic exchanges that
include smells, colors, tastes, sounds and behav iors. This work aims to
identify symbolic elements of the market that are also shared by the other
inhabitants of the city, in particular Tecnobrega, and analyze ho w these
symbols are being marketed in the city fashion market, in order to generate
a reflection about the role of the design in the valorization or cultural
appropriation of this phenomenon. For the effective understanding of this
study, it is necessary to analyze the diverse cultural elements present in the
Ver-o-Peso complex, which includes it s material and immaterial
patrimonies, such as Tecnobrega. Based on the title of this work it is also
interesting to address the definitions of iconography and cultural
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Fenômenos culturai s no amálgama social: reunião de artigos do I CIP CS
Diálogos Interdisciplinares: analisando a cultura por variados vieses
Introdução
Adentrar e compreender a feira exige mais do que uma simples visita, ou o olhar
superficial de quem busca apenas o exotismo. Ela não existe só para satisfazer turistas ou ser
cenário de posts “cults” no Instagram, ao contrário, se alimenta de sua própria cultura, sua
iconografia rica e particular que grita a nossa raiz regional, quem somos como paraenses e do
que deveríamos nos orgulhar.
Para a compreensão eficaz deste estudo, se faz necessária a análise dos elementos
culturais diversos presentes no complexo do Ver-o-Peso, o que abrange seus patrimônios
materiais e imateriais, como por exemplo, o Tecnobrega. Baseando-se no título deste trabalho
também é interessante abordar as definições de icnografia e apropriação cultural, bem como
relacioná-las ao local em questão e ao mundo da moda.
O mercado e a feira
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de Ferro de carne, Solar da Beira etc. – fizeram parte da consagração da cidade como
“civilizada” nos moldes europeus, algo abertamente desejado pelos planejadores urbanos do
período.
Hoje o complexo arquitetônico é parte indissolúvel da feira (ver figura 1), e além de
ponto turístico é completamente funcional e fiel às suas funções de origem, com exceção do
Solar da Beira, que se encontra em reforma. A parte ocupada por barracas é dividida em setores
dos mais diversos, como o da farinha, do camarão, do suco, das frutas, animais vivos, plantas
ornamentais, tucupi, artesanato, vestuário e gastronomia (ver figura 2). Essa mistura de
mercadorias promove uma rica oferta de sensações específicas, como o cheiro do couro das
sandálias vindas do Marajó, a paleta de cores vibrantes das ervas de cheiro ou o aroma das
castanhas do Pará sendo assadas e o barulho dos feirantes jogando dominó depois do almoço.
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Segundo Lima (apud Fleury e Ferreira, 2011) “pesquisas mostram que no mercado do
Ver-o-Peso, assim como nos espalhados pelo Brasil em geral, é recorrente a troca não apenas
de bens materiais, imateriais, como de ideias e valores.” Um desses bens não possui lugar de
destaque em relação à sua compra e venda – nem sequer possui um setor na feira, por exemplo
–, mas está presente em tempo integral nas atividades da feira: o tecnobrega, cujos clássicos e
lançamentos mais diversos são a trilha sonora diária de feirantes e consumidores. Mas afinal, o
que é o tecnobrega?
Tecnobrega
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Ilhas50, o tecnobrega ocupa um lugar importante no dia a dia e na memória afetiva da população.
Pode-se ouvi-lo nas lojas do centro comercial da cidade, nas feiras, ônibus, barcos, festas e nas
principais rádios, ganhando até programas e horários especiais. O dicionário Cravo Albin da
MPB (2017) afirma que o ritmo “surgiu em Belém de Pará, nos anos 2000, a partir de
influências de estilos nacionais e internacionais. [...] eles passaram a mesclar riffs acelerados
de guitarra da música brega tradicional com batidas eletrônicas e arranjos criados por programas
de computadores.”
Uma das características mais interessantes desse gênero é a independência das suas
produções. Os CDs são comercializados em um modelo similar ao da pirataria e, em sua
maioria, os álbuns não são produzidos nem lançados por gravadoras, mas sim em festas
específicas conhecidas como Aparelhagens (ver figura 3), sendo a liberdade e a efemeridade
das músicas uma realidade do ritmo. Os hits característicos de cada ano são apresentados ao
público em “temporadas” similares às semanas de moda : os que vão fazer sucesso nas férias
de janeiro e Carnaval começam a tocar em outubro/novembro e os das férias de julho, iniciam
sua vida útil por volta da Semana Santa. Porém, esse calendário não impede que lançamentos
sejam realizados a qualquer momento, já que uma “marca” de aparelhagem lança em média dez
álbuns por ano. Há ainda as músicas chamadas de Marcantes, que são consideradas os clássicos
do ritmo e são muito apreciadas pelo público.
Isso nos expõe a realidade por trás do sucesso, por vezes nacional, do tecnobrega. Trata-
se, desse modo, de um ritmo oriundo e feito para a periferia, portanto severamente
marginalizado, principalmente pelos próprios belenenses de classes sociais abastardas, que
quando afirmam gostar do ritmo, em sua grande maioria, é pelo simples fetichismo, o que
fomenta o debate sobre a apropriação cultural, pois até que ponto é válido enaltecer uma
manifestação cultural sem valorizar os seus agentes originais?
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Ilhas que cercam Belém, como Combú, Mosqueiro, Cotijuba e Marajó.
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O tecnobrega na moda
Definir moda é algo complexo, pois a mesma se encontra nos mais diversos setores da
sociedade, desde grandes parques industriais à construção da imagem de celebridades. Ela
expressa a mais ampla gama de personalidades, inclusive possui sua própria linguagem e
acompanha a evolução do homem desde que o mesmo se percebeu um ser social e é uma das
principais responsáveis pela maneira como os indivíduos percebem o outro e expressam a si
mesmos. Segundo Mackenzie (2010, p.6), “a moda constitui um espelho das sociedades nas
quais ela existe. Seja como fenômeno cultural, seja como negócio altamente complexo, reflete
as atitudes sociais, econômicas e políticas de seu tempo. ”
O termo moda possui várias interpretações, porém duas destacam-se como melhores
definições do seu conceito. A primeira definição apresenta a moda com um significado mais
amplo, enquanto costume, modo de vida, definido por Braga (2015, p.106) como “um gosto,
um padrão, ou algo que esteja em vigência como referencial de uma cultura, de um grupo e que
é capaz de datar o tempo”. Calanca (2011, p.14) acrescenta que a moda “não concerne
exclusivamente às roupas, mas sim à todas as formas de expressão e transformação do homem”.
Dessa maneira, o termo é interpretado como algo que está em voga, adotado como regra e
engloba todos os setores sociais, algo que está “na moda”.
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Para este estudo foram selecionadas peças de duas marcas belenenses: A EuBelém e a
FOLK. A primeira coleção analisada foi a criada, em 2012, pela EuBelém (ver figura 4), cujas
estampas foram inspiradas nas aparelhagens como Rubi e SuperPop, além de referências às
músicas consagradas no ritmo, como o sucesso Xirley, da cantora Gaby Amarantos. A segunda
coleção foi desenvolvida pela marca FOLK (ver figura 5), em 2016, e traz elementos
conhecidos pelos apreciadores do tecnobrega, como os símbolos das aparelhagens que são
realizados com as mãos durante as festas e a popularidade das Marcantes, que foi traduzida em
uma estampa de fitas cassetes com os nomes dos hits mais aclamados. Somando as duas
coleções os preços variavam entre 40 e 77 reais.
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Diálogos Interdisciplinares: analisando a cultura por variados vieses
Para compreender o que é apropriação cultural, Duarte (2017) contribui dizendo que é
“a adoção indevida de elementos específicos de uma determinada cultura por membros
pertencentes a outra” e completa “quando indivíduos acostumados a ter tudo [...] se apossam
de elementos de uma cultura que desconhecem ou até mesmo ignoram.” Ou seja, quando se
trabalha moda universal inspirada em elementos regionais o cuidado é redobrado para realizar
a tradução necessária sem desvalorizar a raiz dessa inspiração.
A valorização do tecnobrega na moda é uma necessidade e muito pode ser feito através
desse novo olhar, cujos frutos já começam a ser observados. No entanto, a comercialização
consciente dessa cultura e a busca pela democratização dessas peças de design devem ser uma
prioridade.
Conclusão
Debater apropriação cultural é algo delicado e é difícil estabelecer os seus limites, porém
fica mais claro quando se compreende que respeitar uma cultura é valorizar todos os seus
aspectos e, principalmente, os seus agentes e suas origens. Este trabalho não tem a pretensão
de “identificar culpados” ou julgar de maneira rasa o processo de produção de peças de moda
autoral, haja vista os conhecidos obstáculos enfrentados pelos novos designers em busca de
uma estabilidade no mercado. Pelo contrário, a proposta é lançar um novo olhar, incentivar uma
reflexão acerca da maneira como se consome a cultura e como isso pode ser resignificado ou
tratado com mais zelo. Os profissionais da moda de Belém têm muito a oferecer para o
tecnobrega e vice-versa, porém antes de criar uma roupa, um produto ou uma simples festa
usando seus elementos, a reflexão sobre o real objetivo dessa criação é fundamental. Vai
agregar, informar e divulgar? Ou só vai proporcionar mais exploração?
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