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Percebemos que existe alguma coisa que soa mal com isso, que se
relaciona com a ideia de regressividade, e de alguma maneira, por isso que
eu disse em parte, é possível realizar a capacidade contributiva, mas qual é a
regra estrutural do imposto de renda prevista na constituição e uma proposta
como essa viola de forma explícita?
Então, uma proposta como essa, de uma alíquota única para o imposto
de renda é uma proposta inviável, absolutamente inconstitucional.
O direito tributário não tem como assegurar, não tem mecanismos para
assegurar qual será o direcionamento do gasto público. O que a tributação
pode oferecer são mecanismos de arrecadação de recursos que são
necessários, mas uma vez arrecadado o recurso, o que temos são decisões
políticas, democraticamente eleitas e vão alocar recursos para uma ou outras
prioridades, ou seja, as prioridades alocativas, salvo aquelas preestabelecidas
na constituição, as outras são decidias politicamente, não são questões
essencialmente tributárias.
Essa divisão das duas disciplinas talvez seja uma das razões para esse
caos do sistema financeiro que vivemos, porque de um lado só se pensa em
arrecadar sem uma demonstração clara da destinação dos recursos ou como
será gasto, e parte dessa crise da tributação que vemos hoje, acho que nunca
tivemos um momento de tanta baixa estima do contribuinte como temos hoje, o
contribuinte, como já falamos, sempre que possível, ele não vai pagar.
Então os impostos, por natureza1, são tributos que são cobrados em função
de alguma manifestação de capacidade econômica do contribuinte e, em
função de o contribuinte ter manifestado a capacidade de pagar o tributo, é
arrecadado esse valor que não é vinculado a nenhum gasto específico. Ou
seja, em princípio, pode ser gasto de acordo com a decisão da
Administração e do Poder Executivo – decisões alocativas do Poder
Executivo. As decisões alocativas de recursos, salvo os casos em que há
algum carimbo constitucional ou até infraconstitucional com o dinheiro, são
de livre decisão do chefe do Executivo ou da máquina do Poder Executivo
que tenha sido democraticamente eleito em determinado período histórico.
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Importante quando discutirmos as críticas e contribuições sociais.
A lógica das taxas é diferente e sinalagmática. A taxa, como decorre de
uma ação do Poder Público, que vai ser ou uma prestação de serviços ou o
exercício do poder de polícia... Ou o Poder Pública fez algo para mim, o que
significa que existe um benefício meu... A taxa não deixa de ser uma
espécie de ressarcimento que eu pago ao Estado pela atividade que ele fez
para mim unilateralmente (?). Ou então, no caso do poder de polícia, eu
estou custeando uma atividade pública de controle da atividade que eu
faço. Por exemplo, se sou uma empresa potencialmente poluidora, pago
uma taxa para o IBAMA fiscalizar a minha atividade. Eu estou custeando
uma atividade pública que é realizada em função de uma situação particular
minha.
Por isso que há autores que acham que só existem duas espécies tributárias
– ou impostos ou taxas. São autores que têm uma visão reducionista e
dizem que todo tributo ou é um fato do contribuinte para custear despesas
indivisíveis, ou é cobrado por algo que o Estado fez e pago para cobrir
despesas divisíveis em que é possível identificar quem é o gerador daquele
gasto.
Por fim, a última base de cálculo possível das contribuições sociais é o lucro.
O lucro, o conceito societário do lucro é o resultado da pessoa jurídica
decorrente da contraposição de receitas e despesas.
Então, se você tem uma base de cálculo de até 240 mil reais, você
paga 15%. Se você tem uma renda superior a 240 mil reais, você paga
15% + 10%. Normalmente, quando a gente se refere à alíquota de imposto
de renda a gente fala em 25%. É o 15% mais 10%. 240 mil reais da
perspectiva de uma empresa é pouco dinheiro. Normalmente, as empresas
de médio e grande porte ultrapassam a barreira dos 240 mil reais, então,
normalmente, a alíquota do imposto de renda é 25%.
A gente vai perceber, conforme a gente for vendo esses tributos, que
uma característica do sistema tributário hoje, é uma proliferação das
contribuições. As contribuições elas crescem demais enquanto espécie
tributária. E elas não crescem só porque elas são legais ou melhores de
cobrar; as contribuições, elas viraram um planejamento financeiro do
estado, ou melhor, da União Federal.
Porque as contribuições elas têm uma das grandes características é
que elas estão fora do esquema geral de repartição de rendas tributárias.
Vocês devem ter visto isso lá em Financeiro I. A Constituição ela prevê
diversas situações, a repartição da arrecadação de determinados tributos
com outros entes federativos.
Olha só, espera aí, como é que eu posso ter uma contribuição cujo
fato gerador é o fato de que eu demiti um empregado? Demitir um
empregado não é um fato indicativo de capacidade contributiva, pelo
contrário, em tese, demitir um empregado é um indicativo de falta de
capacidade contributiva quando muito, é estar mal das pernas, então essa é
uma discussão que está aí pendente até hoje, e que mostra que as
contribuições sociais acabam tendo um tipo de utilização que transformam
elas quase que em impostos com receitas vinculadas.