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A lógica da proposta de tributo de alíquota fixa é a realização do

princípio que vimos na aula passada que é praticidade, em um sistema mais


simples, então tem uma alíquota única, que se aplica a todo mundo, então
temos uma simplificação sistémica.

Percebemos que existe alguma coisa que soa mal com isso, que se
relaciona com a ideia de regressividade, e de alguma maneira, por isso que
eu disse em parte, é possível realizar a capacidade contributiva, mas qual é a
regra estrutural do imposto de renda prevista na constituição e uma proposta
como essa viola de forma explícita?

Tem a ver com a redistribuição de renda. É a progressividade.

Temos que lembrar que a Constituição quando traz as características


estruturantes do imposto de renda, ela estabelece que o imposto de renda será
universal, progressivo - ele tem que ser progressivo, então, o imposto de renda
de alíquota única, ele perde a capacidade de progressividade.

A ideia da progressividade é exatamente a percepção de que quanto


maior for a renda maior será a alíquota, então o imposto de renda será maior
para aqueles que tem maior capacidade econômica.

Então, quando se cria um imposto de alíquota única, você


necessariamente, vai fazer com que ele seja de alguma seja regressivo,
enquanto que a regra do imposto de renda é o contrário, é a progressividade.

Vocês talvez lembrem na aula passada, quando falamos em conflito que


é comum entre a prática tributária e a capacidade contributiva, então, às vezes,
a perspectiva de simplificar o sistema cria-se distorções estruturais como essa,
em que há uma alíquota única para o imposto, de modo a inviabilizar a
progressividade.

O nosso imposto de renda não é proporcional, ele é progressivo. Ser ou


não progressivo não é uma opção do legislador, eu não posso optar se é ou
não progressivo, o legislador é obrigado a estruturar o imposto de renda
de forma progressiva. Isso não é uma opção legislativa.

Então, temos duas questões aqui, de alguma maneira a discussão de


capacidade contributiva, mas certamente a perspectiva de que o imposto de
renda deve ser necessariamente progressivo.

Então, uma proposta como essa, de uma alíquota única para o imposto
de renda é uma proposta inviável, absolutamente inconstitucional.

Alguns de vocês falam em redistribuição de renda.

A redistribuição de renda é a regra do sistema tributário – O sistema


tributário não é estruturado com finalidades redistributivas. A redistribuição de
renda é um problema financeiro, é um problema das escolhas constitucionais,
mas o direito tributário não tem como assegurar a redistribuição de renda. Até
porque é uma coisa para colocar dinheiro em caixa, que é a parte da
tributação, colocar dinheiro em caixa, outra coisa é como esse dinheiro será
gasto.

O direito tributário não tem como assegurar, não tem mecanismos para
assegurar qual será o direcionamento do gasto público. O que a tributação
pode oferecer são mecanismos de arrecadação de recursos que são
necessários, mas uma vez arrecadado o recurso, o que temos são decisões
políticas, democraticamente eleitas e vão alocar recursos para uma ou outras
prioridades, ou seja, as prioridades alocativas, salvo aquelas preestabelecidas
na constituição, as outras são decidias politicamente, não são questões
essencialmente tributárias.

Então, por mais que o direito tributário acabe tendo um papel na


redistribuição de renda, porque são o mecanismo para extrair recursos
daqueles que mais tem, o direito tributário, infelizmente, não tem mecanismos
para assegurar a destinação dos recursos arrecadados, por isso temos esse
dilema, de alguma maneira, de que temos duas cadeiras: o direito tributário de
um lado e o direito financeiro de outro, mas que na verdade são dois lados da
mesma moeda, que arrecadam em função do gasto público, só que quem
cuida da gestão e do gasto do dinheiro arrecadado é o direito financeiro e
não mais o direito tributário, a tributação não tem mecanismos para dirimir o
dinheiro que foi arrecadado.

Essa divisão das duas disciplinas talvez seja uma das razões para esse
caos do sistema financeiro que vivemos, porque de um lado só se pensa em
arrecadar sem uma demonstração clara da destinação dos recursos ou como
será gasto, e parte dessa crise da tributação que vemos hoje, acho que nunca
tivemos um momento de tanta baixa estima do contribuinte como temos hoje, o
contribuinte, como já falamos, sempre que possível, ele não vai pagar.

Existe um campo em que a gente discute muito, que seria a ética


tributária, a moral do contribuinte, o quanto seria um dever ético de contribuir
com os cofres públicos, é uma questão filosófica demais, que na realidade
acaba protelando.

Esse tipo de questão é o que vamos encontrar nas avaliações de vocês,


vamos fazer mais algumas e formalmente é assim, vamos tentar trabalhar
esses conceitos que estamos vendo em situações concretas.

Bom, falamos de imposto de renda de pessoas jurídicas, e agora temos


que falar sobre a contribuição social sobre o lucro líquido, que é uma
alíquota praticamente gêmea do imposto de renda.

Ao falar da contribuição social farei um mini flashback com vocês das


espécies tributárias, para estar todo mundo na mesma página e contextualizar
a CSLL (Contribuição social sobre lucro líquido).

As classificações das espécies tributárias é uma matéria extremamente


controvertidas, possuem diversas teorias, existem autores que entendem que
existem apenas dois tipos de tributos (impostos e taxas) e existem outros
autores que defendem que existem três tributos (impostos, taxas e
contribuições de melhoria) e há quem entenda que existem 4 tipos de tributos
(impostos, taxas, contribuições de melhoria e contribuições) e temos aqueles
que vão seguir ao que está formalmente estabelecido na constituição, que
defendem 5 espécies tributárias (impostos, taxas, contribuições de melhoria,
empréstimo compulsório e contribuições).
Como veremos adiante, falando sobretudo das contribuições, quando
analisamos cada uma das espécies tributárias, normalmente, as separamos
em dois grandes grupos:

O primeiro em função da hipótese de incidência do tributo e o segundo


em função da destinação dos recursos arrecadados.

Em função da hipótese de incidência, normalmente, classificamos os


tributos em dois grupos, que são: os tributos cuja a hipótese de incidência é um
comportamento do sujeito passivo (o contribuinte) e aquele cuja hipótese de
incidência é uma atuação do estado.

Normalmente, o primeiro grupo de tributos relacionados a algo feito pelo


contribuinte se chama de tributos não vinculados em relação a hipótese de
incidência. E o segundo grupo é o dos tributos vinculados em relação a
hipótese de incidência.

Temos outra classificação que se dá não mais em relação a hipótese de


incidência e sim da destinação dos recursos arrecadados. Aqui temos
tributos de destinação vinculada, quando o recurso tem uma destinação
previamente estabelecida na Constituição e nas leis, e tributos de
destinação não vinculada.

Agora pegamos o conjunto de espécies tributárias e recordemos que os


impostos são tributos de hipótese de incidência não vinculada e de
destinação não vinculada.

As taxas são tributos de hipótese de incidência vinculada, pois é sempre um


fazer do Estado, e de destinação vinculada, já que o recurso arrecadado
com a taxa visa cobrir o custo das atividades públicas.

Quanto aos empréstimos compulsórios, nunca sabemos exatamente qual é


a hipótese de incidência. Não temos nenhum empréstimo compulsório em
vigor. Em tese, a hipótese de incidência vai depender da lei que o instituir e
é um tributo de destinação vinculada, pois serve para cobrir aquele custo
público extraordinário.
As contribuições de melhoria são vinculadas, em relação à hipótese de
incidência e também à destinação.

Então chegamos no grande grupo das contribuições. O Brasil é um Estado


que pode ser caracterizado como Estado fiscal. Estados fiscais são Estados
que se financiam primordialmente pela arrecadação de impostos. Esses
impostos são coletados levando em consideração a capacidade contributiva
do sujeito passivo.

Essa característica de os Estados fiscais serem financiados pela arrecadação


de impostos faz com que os Estados fiscais tenham uma característica
marcante, que é serem pautados pelo princípio da solidariedade, ou seja, se
um Estado fiscal se financia por impostos, eu não entrego recursos ao
Estado em função de algum benefício pessoal que eu tive, de algo que o
Estado fez especificamente para mim. Eu pago imposto como dever
constitucional decorrente da minha inserção naquela coletividade. É isso o
que destina o pagamento de impostos.

Então os impostos, por natureza1, são tributos que são cobrados em função
de alguma manifestação de capacidade econômica do contribuinte e, em
função de o contribuinte ter manifestado a capacidade de pagar o tributo, é
arrecadado esse valor que não é vinculado a nenhum gasto específico. Ou
seja, em princípio, pode ser gasto de acordo com a decisão da
Administração e do Poder Executivo – decisões alocativas do Poder
Executivo. As decisões alocativas de recursos, salvo os casos em que há
algum carimbo constitucional ou até infraconstitucional com o dinheiro, são
de livre decisão do chefe do Executivo ou da máquina do Poder Executivo
que tenha sido democraticamente eleito em determinado período histórico.

Logo, a característica essencial dos impostos é essa. Há um comportamento


do contribuinte – eu prestei serviço, auferi renda, tenho propriedade de
imóvel urbano. Cada um desses eventos indica que tenho a capacidade de
pagar tributos ao Estado e, por causa disso, eu pago imposto. Essa é a
lógica dos impostos.

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Importante quando discutirmos as críticas e contribuições sociais.
A lógica das taxas é diferente e sinalagmática. A taxa, como decorre de
uma ação do Poder Público, que vai ser ou uma prestação de serviços ou o
exercício do poder de polícia... Ou o Poder Pública fez algo para mim, o que
significa que existe um benefício meu... A taxa não deixa de ser uma
espécie de ressarcimento que eu pago ao Estado pela atividade que ele fez
para mim unilateralmente (?). Ou então, no caso do poder de polícia, eu
estou custeando uma atividade pública de controle da atividade que eu
faço. Por exemplo, se sou uma empresa potencialmente poluidora, pago
uma taxa para o IBAMA fiscalizar a minha atividade. Eu estou custeando
uma atividade pública que é realizada em função de uma situação particular
minha.

A lógica da taxa é completamente diferente do imposto porque está sempre


visando cobrir um custo público que eu consigo identificar quem gerou. O
imposto, por outro lado, visa cobrir gastos indivisíveis. Eu não sei quem
está gerando aquela necessidade e não sei identificar quem está se
beneficiando dela.

Por isso que há autores que acham que só existem duas espécies tributárias
– ou impostos ou taxas. São autores que têm uma visão reducionista e
dizem que todo tributo ou é um fato do contribuinte para custear despesas
indivisíveis, ou é cobrado por algo que o Estado fez e pago para cobrir
despesas divisíveis em que é possível identificar quem é o gerador daquele
gasto.

O empréstimo compulsório não é bem um tributo e vários autores não o


considera tributo. Uma das características do tributo é que você paga para
não receber de volta. O empréstimo, como o nome já diz, é um empréstimo
que você paga para o Estado te devolver depois. Há uma dificuldade de
caracterizar o empréstimo compulsório como um tributo. Ele não é
relevante para a nossa discussão.

A contribuição de melhoria é, de certa maneira, parecida com a taxa. O que


gera a obrigação de pagar a contribuição de melhoria é uma obra pública
que gera a valorização de uma propriedade imobiliária individual. Eu tenho
a obra pública feita pelo Estado me gerando um ganho em função da
valorização do meu patrimônio e eu pago ao Estado um pedaço daquele
custo, já que me beneficiei com a valorização do imóvel em decorrência da
obra. É um tributo de instituição muito rara e difícil. Uma das características
da contribuição de melhorias é que o custo da obra pública tem que ser
transparente. Seria para ressarcir o custo da obra e, naturalmente, os
custos não podem ser esses que estamos acostumados. Como o sujeito ia
pagar uma contribuição com um custo de obra que eventualmente não se
consegue provar? A instituição da contribuição de melhoria podia dar
evidência de que havia algo estranho no próprio cálculo do custo da obra.
Por isso não era muito utilizada.

Aqui entramos no núcleo que nos interessa, que é o conjunto de


contribuições. Impostos, taxas e contribuições de melhorias estão previstos
no art. 145 da CF. Os empréstimos compulsórios estão no art. 148. O art.
145 tem uma razão muito clara. Esses são tributos que todo mundo pode
criar – União Federal, Distrito Federal, Estados, Municípios. Há impostos,
taxas e contribuições de melhoria nos três níveis da federação.

Os empréstimos compulsórios estão sozinhos no art. 148 porque são de


criação exclusiva da União Federal.

Da mesma forma, as contribuições estão no art. 149 porque como regra


geral são de criação exclusiva da União Federal, embora hoje, no próprio
art. 149, haja outros tipos de contribuições – contribuições previdenciárias
estaduais e municipais e, a mais esdrúxula, a contribuição de iluminação
pública. Em algum momento, os Municípios começaram a instituir taxas de
iluminação pública. Porém, a iluminação pública não é uma atividade
pública financiada por taxas, pela razão de que a iluminação pública é uma
atividade absolutamente indivisível. Como vou saber quem está se
beneficiando da rua iluminada? É muito difícil identificar quem é o
beneficiário da iluminação pública. Em princípio, o beneficiário da
iluminação pública é a população como um todo. Essa matéria foi decidida
no Supremo, que disse que era inconstitucional cobrar taxas sobre a
iluminação pública.

Existe um fenômeno muito comum na área tributária que é o que se chama


de correção legislativa. O professor não gosta muito desse nome porque dá
a impressão de que existe algo errado. A correção legislativa acontece
nesses casos em que o Judiciário pacifica uma intepretação que é contrária
ao interesse da Administração Pública. A reação do Poder Público acaba
sendo alterar a legislação de modo a se contrapor à interpretação do
Supremo. Então, quando o Supremo decidiu que não poderia ter a taxa de
iluminação pública, os Municípios conseguiram se organizar politicamente
para incluir no art. 149 um tributo específico que é a contribuição de
iluminação pública, que nada mais é do que a taxa de iluminação pública
travestida de contribuição, mas incluída diretamente na Constituição. Aí fica
mais difícil questionar a constitucionalidade da contribuição, uma vez que
ela passa a ter status constitucional.

Portanto, a contribuição de iluminação pública não está nessa lista porque é


uma figura patológica que decorreu dessa correção legislativa da decisão do
Supremo de que a taxa de iluminação pública seria inconstitucional.

Quando olhamos o conjunto das contribuições, percebemos que dentro


desse conjunto do art. 149 existem várias coisas ali. Existem tributos
completamente independentes.

Temos um tributo, que são as contribuições em benefício das categorias


econômicas ou profissionais. Aqui, por exemplo, teremos todas as
contribuições para Conselhos de regulação profissional – OAB, CRM, CREA.
Todas essas contribuições são tributos e estão inseridas no conjunto do que
chamamos de parafiscalidade. São tributos arrecadados diretamente por
essas entidades que recebem essa delegação de competência, embora não
percam a sua natureza tributária. Continuam sendo tributos.

As contribuições de intervenção do domínio econômico, elas


são conhecidas como CIDE, contribuição de intervenção do domínio
econômico, a CIDE mais popular que vocês podem ou não ter ouvido falar é
a CIDE sobre combustíveis, impactando de alguma maneira o preço da
gasolina, então sempre que existem essas pressões de preço em cima do
preço dos combustíveis acaba se discutindo reduzir a CIDE, acaba sendo aí
um evento de controle de preços, existem diversas outras CIDEs, essa CIDE
sobre combustíveis é só uma delas, a CIDE é um tipo de contribuição
peculiar porque ela tem uma estrutura circular, então sempre que eu vou
constituir uma CIDE em princípio, o próprio nome já diz, contribuição de
intervenção do domínio econômico, então a CIDE ela é um tributo de
destinação vinculada e ela visa auferir recursos, obter recursos para que o
estado possa investir numa determinada área, então uma vez que você
identifica uma área qualquer em que você quer fazer um investimento
público você vai identificar quem é o grupo que se beneficiaria desse
investimento público, ou seja, quem são as pessoas que se beneficiariam
desse investimento público e aí você passa a cobrar a contribuição, a CIDE
exatamente desse grupo para financiar esse investimento que de alguma
maneira vai beneficiar quem está pagando, em tese a lógica constitucional
da CIDE é essa, uma lógica circular em que eu pago a contribuição para que
de alguma maneira isso volte para mim via investimento público em alguma
área que é de interesse, por fim a gente tem o grupo que nos interessa
mais, que vai nos interessar mais aí nas próximas aulas que depois da
contribuição social a gente vai ter Pis e Cofins que são as contribuições de
financiamento da seguridade social, esse conjunto acaba sendo o conjunto
mais relevante e remete a gente de cara aqui para o artigo 194 da
Constituição a seguridade social compreende um conjunto integrado de
ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a
assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.
Então dentro desse bolo aqui de seguridade social a gente tem saúde,
previdência e assistência social e esse conjunto de inciativas aqui ele vai ser
financiado com recursos públicos, mas também com recursos tributários
decorrentes da arrecadação de contribuições sociais, de contribuições de
financiamento da seguridade social, então as regras sobre financiamento da
seguridade social, eu vou aqui no artigo 195 da Constituição que diz lá A
seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes
contribuições sociais. Aqui a gente já percebe uma coisa, o artigo 195 ele
começa dizendo que a seguridade social será financiada por toda a
sociedade de forma direta ou indireta nos termos da lei mediante recursos
´provenientes do orçamento mediante da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, ou seja, uma das fontes de financiamento da
seguridade social vem da organização imposta, então você tira recursos
para financiamento da seguridade social da arrecadação tributária geral, a
seguridade social não tem que ser financiada exclusivamente pelas
contribuições previstas no artigo 195, mas além do financiamento via os
orçamentos dos entes federativos você também vai ter financiamento pela
cobrança das contribuições sociais, o inciso primeiro do artigo 195 ele vai
trazer a regra sobre as contribuições sociais do empregador, então você
tem contribuições sociais do empregador e essas contribuições sociais do
empregador elas podem ter basicamente três bases de cálculo, a [...]
receita ou faturamento ou lucros, é uma contribuição para o empregador
pode ter essas três bases de cálculo, além da contribuição do empregador
você tem a contribuição do trabalhador, contribuição sobre receita de
concurso de prognóstico e importador serviço de exterior, as contribuições
de financiamento de seguro social mais comuns são do empregador e do
empregado, do trabalhador, então da perspectiva da contribuição do
empregador eu posso ter uma contribuição sobre a folha, ou seja, a
contribuição sobre a folha é normalmente aquela apontada como mais
economicamente indesejável porque em princípio quando eu aumento a
tributação da folha eu aumento o custo da contratação formal de
empregados, então a contribuição sobre a folha junto com FGTS, férias
formam um conjunto de encargos que o empregador considera quando vai
contratar alguém de carteira assinada, então a contribuição sobre a folha
como ela incide direto sobre o salário do sujeito acaba sendo um valor
adicional que o empregado custa para o empregador tanto que a gente teve
acho que no primeiro governo Dilma aquele movimento que ela iniciou e
que agora já foi desfeito que era o momento de desoneração da folha, a
desoneração da folha era de alguma maneira reduzir essa contribuição
sobre o salário dos meus empregados, o problema da desoneração da folha,
ou seja, quando eu passo a tributar menos a contratação formal eu reduzo
as contribuições que são financiamento direto da seguridade social e eu
aumento o déficit da seguridade social, então a desoneração da folha que é
sempre uma mexida muito relevante do mercado, eu pago muito para
contratar alguém eu vou diminuir o custo da contratação formal, o
problema aqui se isso não é acompanhado de um aumento das contratações
na verdade a única coisa que você está fazendo efetivamente é aumentar
déficit da seguridade social que você deixa de arrecadar valores relevantes,
hoje pouquíssimos setores continuam dentro desse sistema que foi criado
quando a folha foi nesse movimento de desoneração da folha de salários, de
alguma maneira isso foi revertido, desonerar foi não pagar tributo nenhum,
o que eles fizeram foi mudar o tipo de contribuição ao invés de você pagar
sobre a folha de salários eles criaram uma contribuição previdenciária sobre
a receita, mas tem um valor razoavelmente mais baixo do que o valor que
costumava ser pago pela folha, então a primeira base de cálculo possível
quando eu tenho de financiamento de seguridade social é a folha de
salários, o salário que eu pago para meu empregado, depois eu tenho uma
segunda base de cálculo possível que é a receita ou faturamento, até 1998
essa alínea b falava só em faturamento, quando foi 1998 teve a emenda
constitucional número 20 que incluiu a palavra receita aqui também, isso se
deu por uma das grandes discussões tributárias que a gente teve nos
últimos anos que foi a seguinte, quando foi dezembro de 98 foi editada uma
lei que é a 9718 que é uma lei de Pis e Cofins, que é nosso próximo tema e
essa lei dizia que a base de cálculo de Pis e Cofins era o faturamento, mais
como ia definir faturamento dizer que faturamento ia ser igual a receita da
empresa, lógico que muito rápido os advogados perceberam que a lei dizia
que faturamento era igual a receita e falasse assim, mas a constituição não
fala em tributação de receita, faça em tributação só de faturamento, então
se você está no exemplo que eu vou tributar receita ela sei constitucional
prevê uma base de cálculo não estabelecida na Constituição, o pessoal agiu
rápido e ainda em dezembro de 98 editou essa emenda constitucional 20 e
mexeu na Constituição e incluiu a palavra receita, então tudo aconteceu
dentro de dezembro de 98 e aí se iniciou um baita contencioso em que o
contribuinte federal se... tinha algumas perguntas, a fazenda argumentava
que a emenda constitucional de 20 constitucionalizava a lei 9718, vocês
devem recordar no financeiro II as contribuições sociais a CSLL inclusive
estão sujeitas àquela regra de antebilidade nonagesimal, ou seja, sempre
que eu altero eu aumento uma contribuição social o aumento da
contribuição social só começa a valer 90 dias depois, então vamos ver a lei
9718 aumentou boa base de cálculo do PIS e COFINS essa nova regra ia
começar a valer em primeiro de março de 99, então argumentava a fazenda
o seguinte, espera aí, dentro do período dos 90 dias veio uma emenda
constitucional que incluiu a receita entre as bases de cálculo possíveis das
contribuições, então se a lei era inconstitucional constitucionalizou a lei
porque dentro do prazo ela nunca foi aplicada a emenda constitucional
constitucionalizou a lei, [...] se vai ser constitucional, se vai ser sempre
inconstitucional, e, portanto, naquela época a discussão de modulação não
era tão frequente como é hoje então essa matéria acabou sendo julgada em
dois mil e cinco pelo supremo com o supremo decidindo que efetivamente
essa equiparação entre faturamento e receita era inconstitucional e que,
portanto, você tinha que excluir do conceito de faturamento tudo que não
fosse resultado da prestação de serviço de mercado, então por isso que
hoje a gente tem esses dois fatos econômicos na receita ou faturamento,
receita é mais do que faturamento, o faturamento é um conceito que
engloba basicamente resultados positivos da venda de mercadorias e da
prestação de serviços, receita é qualquer coisa, qualquer coisa que eu
ganho é receita, é um conceito mais amplo que conceito de faturamento, aí
por fim na última base de cálculo possível de contribuições sociais é o lucro,
o lucro, no conceito societário o lucro é o resultado da pessoa jurídica
decorrente da contraposição entre receitas e despesas.

Por fim, a última base de cálculo possível das contribuições sociais é o lucro.
O lucro, o conceito societário do lucro é o resultado da pessoa jurídica
decorrente da contraposição de receitas e despesas.

A última base de cálculo possível das contribuições sociais é o lucro. E


esse é exatamente o fato gerador e a base de cálculo da contribuição social
sobre o lucro líquido.

Então, a contribuição social sobre o lucro líquido, como o próprio


nome diz, ela incide sobre o lucro das empresas. A base de cálculo da
contribuição social sobre o lucro líquido e, por isso que eu disse antes que
ela é uma irmã do imposto de renda, é basicamente a mesma base de
cálculo de imposto de renda de pessoa jurídica.

Então, a contribuição social sobre o lucro líquido ela é praticamente


um adicional do imposto de renda. É um tributo 98% idêntico ao imposto de
renda, mas ao invés de um imposto ele é uma contribuição. E aí fica aquela
pergunta de: mas por que eu crio uma contribuição então? Quando a gente
pensa nas alíquotas, quando a gente pega as alíquotas do imposto de renda
e da contribuição social, o imposto de renda tem uma alíquota geral de 15%
e ele tem uma alíquota de 10% sobre tudo que excede 240 mil reais no
ano.

Então, se você tem uma base de cálculo de até 240 mil reais, você
paga 15%. Se você tem uma renda superior a 240 mil reais, você paga
15% + 10%. Normalmente, quando a gente se refere à alíquota de imposto
de renda a gente fala em 25%. É o 15% mais 10%. 240 mil reais da
perspectiva de uma empresa é pouco dinheiro. Normalmente, as empresas
de médio e grande porte ultrapassam a barreira dos 240 mil reais, então,
normalmente, a alíquota do imposto de renda é 25%.

A alíquota da contribuição social sobre o lucro regra geral é 9%. Por


isso que quando se fala em alíquota do imposto de renda do Brasil é comum
fazer a referência a 34%, que são os 25% de imposto de renda + 9% da
contribuição social.

A contribuição social também tem uma alíquota de 15% que se aplica


aos bancos. Então, no caso de instituições financeiras, seguradoras a
alíquota de CSLL é 15% e para esses casos acabamos tendo uma carga
tributária total de 40%, mas a regra geral é essa aqui: 15+ 10 com 9% da
contribuição. Essa é a regra geral.

Aí você começa a pensar: se eu tenho, se a contribuição social sobre


o lucro líquido ela é basicamente idêntica ao imposto de renda, por que ao
invés de criar um outro tributo, que vai gerar um contencioso próprio, que
vai gerar obrigações acessórias, ou seja, que vai ter todo um custo de
arrecadação, por que eu simplesmente não aumentei o imposto de renda
em 9%? Por que eu não posso dizer que o imposto de renda é 15% + 19%?
Porque eu tenho um outro tributo.

A gente vai perceber, conforme a gente for vendo esses tributos, que
uma característica do sistema tributário hoje, é uma proliferação das
contribuições. As contribuições elas crescem demais enquanto espécie
tributária. E elas não crescem só porque elas são legais ou melhores de
cobrar; as contribuições, elas viraram um planejamento financeiro do
estado, ou melhor, da União Federal.
Porque as contribuições elas têm uma das grandes características é
que elas estão fora do esquema geral de repartição de rendas tributárias.
Vocês devem ter visto isso lá em Financeiro I. A Constituição ela prevê
diversas situações, a repartição da arrecadação de determinados tributos
com outros entes federativos.

O negócio começa como um planejamento financeiro, aumentando a


complexidade do sistema, porque acaba criando novos tributos, então cria
novos tributos, aumenta a complexidade do sistema, tributos basicamente
iguais, como acontece com o imposto de renda e a contribuição social sobre
o lucro, com essa finalidade de não repartição das receitas, de ficar com o
dinheiro no meu bolso, porém sabendo que o Pois veja, a contribuição de
financiamento da seguridade social, ela em princípio, quando a gente vê no
artigo 195, no artigo 194, tem uma finalidade específica, aquela
arrecadação tem uma finalidade específica com o custeio dessas atividades
de saúde, de previdência e de assistência social. Elas não são feitas para
substituir os impostos.

Quando a gente analisa, por exemplo, a contribuição social sobre o


lucro líquido, como ela é essencialmente idêntica ao imposto de renda,
estruturalmente ela vai estar sujeita aos mesmos princípios do imposto de
renda, por mais que ela seja uma contribuição.

A gente teve, por exemplo, em 2000 ou 2001, o STF proferiu uma


decisão muito pesada orçamentariamente para a União Federal, sem pensar
nas consequências orçamentárias da decisão. A União, na época, não tinha
dinheiro para pagar, eles editaram a Lei Complementar nº 110 e por conta
disso criaram novas contribuições sociais só para financiar aquele custo
extraordinário decorrente da decisão do Supremo. Uma dessas
contribuições, que gerou muita polêmica e está ainda em discussão no STF,
foi uma contribuição social adicional de 10% sobre a demissão sem justa
causa.

Na área trabalhista vocês vêem que quando o sujeito faz a demissão


sem justa causa ele tem uma multa de 40% dos depósitos do FGTS e o que
essa lei fez foi dizer que além dessa multa de 40% dos depósitos do FGTS
você tinha uma contribuição de 10% sobre os depósitos do FGTS, que é
uma contribuição social, esse dinheiro não ia para o empregado, esse
dinheiro ia para a União Federal.

Uma discussão que surgiu e está ainda pendente de julgamento no


Supremo é: uma contribuição social, que aqui não tinha nenhuma finalidade
de custeio da segurança social a finalidade era cobrir o rombo da decisão do
Supremo, ou seja, era uma finalidade essencialmente fiscal, arrecadatória.

Então, eu tive uma decisão do Supremo, em função dessa decisão eu


vou ter um rombo orçamentário, e para cobrir esse rombo orçamentário eu
inventei uma contribuição social. Só que o fato gerador da contribuição
social é o demitir alguém sem justa causa.

Olha só, espera aí, como é que eu posso ter uma contribuição cujo
fato gerador é o fato de que eu demiti um empregado? Demitir um
empregado não é um fato indicativo de capacidade contributiva, pelo
contrário, em tese, demitir um empregado é um indicativo de falta de
capacidade contributiva quando muito, é estar mal das pernas, então essa é
uma discussão que está aí pendente até hoje, e que mostra que as
contribuições sociais acabam tendo um tipo de utilização que transformam
elas quase que em impostos com receitas vinculadas.

Vamos fechar em relação à discussão de imposto de


renda/contribuição social. Como a gente viu na aula passada, o imposto de
renda tem 03 regimes de cálculo: o regime real, o regime presumido e o
regime arbitrário. A contribuição social vai seguir a mesma lógica, ela vai
ter 03 regimes de cálculo: o regime real, o regime presumido e o regime
arbitrário; e o regime de tributação da contribuição social ele sempre segue
o regime de tributação do imposto de renda

As alíquotas, a gente já colocou aqui, existe uma discussão relevante


em relação às alíquotas relacionadas à aplicação do princípio da isonomia no
contexto das contribuições.

Normalmente, sempre que a gente tem, e isso aí já apareceu nessa


campanha presidencial e é muito comum, o setor econômico que
normalmente é alvo dos aumentos de tributação, regra geral é o setor
financeiro, seja porque chova ou faça sol eles estão sempre ganhando
muito dinheiro, então se é um ano de crise, por exemplo, o Itaú bate o
recorde de lucro dele, se é um ano que não tem crise, ele bate o recorde de
duas vezes o lucro dele, o setor financeiro está sempre ganhando dinheiro,
isso faz com que naturalmente seja um setor que sempre que você precisa
aumentar a arrecadação, foca-se no setor financeiro.

Além disso, não é exatamente um setor que goze de grande


popularidade junto à população em geral, notadamente, em relação aos
menos favorecidos, “vai aumentar a tributação dos bancos etc.”, isso é visto
com uma certa tranquilidade, até uma certa alegria quando acontece.

O setor econômico, que normalmente é alvo dos aumentos de


tributação, como regra geral, é o setor financeiro, pois ele está sempre
ganhando muito dinheiro. Isso faz com que sempre que for preciso
aumentar a arrecadação, o foco seja no setor financeiro.

Além disso, não é exatamente um setor que goze de grande


popularidade junto a população em geral, notadamente os menos
favorecidos. Logo, o aumento de tributação desse setor normalmente é
visto com certa tranquilidade.

Em função disso, há uma alíquota diferenciada da contribuição social


sobre o lucro aplicável ao setor financeiro. Porém, isso sempre gerou muito
questionamento em razão do princípio da isonomia. O princípio da isonomia,
por mais que a gente normalmente pense em igualdade, na verdade a
isonomia é mais relevante pela desigualdade. A grande relevância da
isonomia é entender em que situações uma determinada característica é um
critério legítimo de discriminação entre dois ou mais sujeitos.

A isonomia, na tributação, está relacionada a entender quais são as


discriminações constitucionalmente permitidas no campo tributário. Por
exemplo, um dos critérios de discriminação mais evidente é o princípio da
capacidade contributiva. Discriminar em função da diferença de capacidade
econômica é utilizar um critério constitucionalmente legítimo de
discriminação, é um critério que a Constituição autorizou. Então, não se vai
tributar todo mundo igual, vai tributar mais quem tem mais, e menos quem
tem menos.
Não se pode estabelecer que homens devam pagar menos tributos do
que mulheres, ou vice-versa. Gênero não é um critério legítimo de
discriminação tributária. Então, existem critérios que são legítimos de
discriminação entre sujeitos passivos e outros que não são legítimos.

Agora, nas discussões de campanha, uma das pautas que aparecem


nos candidatos é a de aumentar a tributação do setor financeiro, e não acho
que vai ser uma proposta que vai causar grandes reações no grande
público.

Se você está desonerando em função de um evento esportivo, tem


que estar muito claro qual é o fundamento constitucional de se excluir da
tributação alguém porque essa pessoa organizou a Copa do Mundo, e não é
uma coisa simples. Nos marcos do pós-positivismo, da argumentação, pode
se argumentar o direito ao desporto, por exemplo, para justificar a
desoneração, mas é difícil.

Então, a neutralidade absoluta nunca vai ser alcançada, o que existe


é uma busca de neutralidade. Vai ter sempre algum efeito indutor quando
se mexe na tributação.

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