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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS

COMPETÊNCIA

CONCEITO

Competência é o poder que tem um órgão jurisdicional de fazer atuar a jurisdição diante de
um caso concreto.
Não é correto definir a competência como sendo o limite ou medida da jurisdição.
A jurisdição, a rigor, não é limitada, tanto é que a decisão judicial produz efeitos sobre todo o
território nacional. O que é limitado, na verdade é a competência, isto é, o âmbito de atuação de
cada magistrado. Assim, cada juiz só pode atuar dentro dos limites da sua competência. Por isso, o
art. 42 do CPC salienta que as causas cíveis serão processadas e decididas pelo juiz nos limites de
sua competência, ressalvado às partes o direito de instituir juízo arbitral, na forma da lei.

FUNDAMENTO

A razão da existência da competência é dupla:


a) Impossibilidade de um único magistrado decidir todas as lides;
b) Aprimoramento das decisões judiciais à medida que são proferidas por órgãos
jurisdicionais especializados no julgamento de determinadas lides.

FONTES NORMATIVAS DA COMPETÊNCIA

De acordo com o art. 44 do CPC, a competência é disciplinada pelos seguintes instrumentos


normativos: Constituição Federal, Código de Processo Civil, Leis Processuais Especiais, Normas de
Organização Judiciária e Constituições Estaduais.
O art. 44 não estabelece uma ordem de preferência, mas apenas elenca as fontes normativas
sobre competência (Enunciado 236 do Fórum Permanente de Processualistas Civis).
O §1º do art. 125 da CF, prevê duas regras importantes:
a) a competência dos Tribunais Estaduais será definida na Constituição do Estado. A
Constituição do Estado de São Paulo, por exemplo, prevê que o Tribunal de Justiça tem
competência originária para os mandados de segurança impetrados contra ato de Governador ou
Secretário de Estado.
b) A lei de organização judiciária será de iniciativa do Tribunal de Justiça. Trata-se, pois, de lei
estadual, aprovada pela Assembleia Legislativa e sancionada pelo Governador.
As normas de organização judiciária compreendem três instrumentos normativos:
a) Leis estaduais que versam sobre a organização judiciária, cujo projeto é de iniciativa
exclusiva do Tribunal de Justiça. Estas leis podem criar, extinguir ou desmembrar comarcas,
distritos, juízos (varas) e foros regionais.
b) Provimentos que definem a competência dos diversos juízos (varas). Trata-se de um ato
administrativo de caráter normativo emanado do Tribunal de Justiça (art. 96, I, a, da CF).
c) Regimento Interno do Tribunal: é um ato administrativo normativo, isto é, de caráter geral,
emanado do Tribunal de Justiça, que define a competência dos seus órgãos jurisdicionais
fracionários (Câmaras ou Turmas), conforme art. 96, I, a, da CF.

ORDEM DE ANÁLISE DA COMPETÊNCIA

Na identificação do órgão jurisdicional competente, deve ser observada a seguinte ordem:

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a) verificar se a justiça brasileira [e competente para julgar a causa;


b) se for, apurar se é o caso de competência originária do Tribunal;
c) se não for, analisar qual é a justiça competente, que pode ser a justiça especial (eleitoral,
trabalhista e militar) ou justiça comum (federal e estadual);
d) verificar o foro competente (comarca ou seção judiciária);
e) verificar o juízo (vara) competente.

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA BRASILEIRA: LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL.

A justiça brasileira tem competência apenas para as causas dos arts. 21 a 23 do CPC. Fora
dessas hipóteses, o processo deve ser extinto sem resolução do mérito; o processo não será
enviado ao país supostamente competente, sob pena de ofensa à soberania estrangeira.
As causas dos arts. 21 e 22 do CPC são de jurisdição concorrente ou cumulativa, isto é, podem
ser julgadas tanto no Brasil quanto pela justiça de outro país. Nesses casos, se a mesma ação
tramitar na justiça brasileira e na justiça de outro país, não haverá litispendência. Com efeito, a
existência de processo no exterior não obsta a tramitação de processo idêntico no Brasil. Aliás,
ainda que haja o trânsito em julgado de uma sentença estrangeira não homologada no Brasil, nada
obsta que a mesma ação seja aqui proposta.
Com efeito, a sentença estrangeira só pode surtir efeitos no Brasil após a sua homologação
pelo Superior Tribunal de Justiça. Antes dessa homologação, será um ato ineficaz, salvo na hipótese
de divórcio consensual e em outras previstas em Tratados que dispensam a referida homologação,
nos termos do art. 961, §5º, do CPC.
Sobre o assunto, dispõe o art. 24 do CPC:
A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a
autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhes são conexas, ressalvadas as
disposições em contrário de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil .
Assim, enquanto não homologada a sentença estrangeira, pelo Superior Tribunal de Justiça,
nada obsta que a mesma ação seja proposta perante a justiça brasileira.
E, da mesma forma, a pendência de causa perante a jurisdição brasileira não impede a
homologação de sentença judicial estrangeira, conforme parágrafo único do art. 24 do CPC. Em tal
situação a sentença brasileira só prevalecerá se transitar em julgado antes da homologação da
sentença estrangeira. Se, ao revés, a homologação da sentença estrangeira ocorrer primeiro que o
trânsito em julgado da sentença brasileira, a primazia será dada à sentença estrangeira.
Força convir, portanto, que só a coisa julgada da sentença brasileira impede a homologação
da sentença estrangeira, cujo processo de homologação, nesse caso, deverá ser extinto sem
resolução do mérito.
Igualmente, uma vez homologada pelo STJ a sentença estrangeira, extingue-se sem resolução
do mérito o processo que tramita no Brasil, por força da coisa julgada da sentença estrangeira.
Ainda sobre esses casos de competência internacional concorrente, previstos nos arts. 21 e 22
do CPC, exclui-se a competência da justiça brasileira quando houver cláusula de eleição de foro
exclusivo no estrangeiro em contrato internacional, arguida pelo réu na contestação (art. 25 do
CPC). Se o réu não arguiu na contestação opera-se a preclusão e, em razão disso, o processo poderá
tramitar perante a justiça brasileira.
Por outro lado, o art. 23 do CPC prevê os casos de competência internacional exclusiva da
justiça brasileira, vedando-se assim a homologação de sentença estrangeira e a cláusula de eleição
de foro estrangeiro. Nessas causas do art. 23 do CPC, a eventual sentença estrangeira será um ato

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totalmente inócuo no Brasil.


Passo agora à análise dos casos de competência internacional concorrente.
Os arts. 21 e 22 do CPC legitima a justiça brasileira a processar e julgar as ações em que:
I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil. O parágrafo
único do art. 21 do CPC esclarece que, para esse fim, considera-se domiciliada no Brasil a pessoa
jurídica estrangeira que tiver agência, filial ou sucursal no Brasil.
II – no Brasil tiver que ser cumprida a obrigação. Ainda que ambas as partes sejam
estrangeiras, o Brasil tem jurisdição para julgar a causa.
III – o fundamento da ação seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil. Exemplo: ação de
indenização entre estrangeiros em razão de algum acidente ocorrido em território brasileiro.
Fora dessas hipóteses, em regra, a ação não pode ser proposta no Brasil, salvo se houver
cláusula em que as partes, expressa ou tacitamente, acordaram em se submeterem à jurisdição
brasileira (art. 22, III, do CPC).
Vê-se assim que um dos critérios que legitimam a jurisdição brasileira é o domicílio do réu ser
no Brasil. Não se exige que o autor seja domiciliado no Brasil.
Em contrapartida, o autor, que tenha domicílio ou residência no Brasil, não poderá, em regra,
acionar a justiça brasileira quando o réu for domiciliado no exterior, salvo em duas situações:
a) Ação de alimentos;
b) Ação decorrente de relação de consumo.
Nessas duas hipóteses, para se propor a ação no Brasil, basta que o autor tenha domicílio ou
residência no Brasil, ainda que réu esteja domiciliado no exterior ou que a obrigação tenha que ser
cumprida fora do Brasil ou se origine de fato ou ato ocorrido no exterior.
Na ação de alimentos, a justiça brasileira é também competente quando nem o autor nem o
réu forem domiciliados ou residentes no Brasil, mas, nesse caso, exige-se, para que a ação tramite
no Brasil, que o réu mantenha vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens,
recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos (art. 22, I, b, do CPC).
Frise-se, no entanto, que em todas essas hipóteses, a competência da justiça brasileira é
concorrente, pois a sentença estrangeira, desde que homologada pelo STJ, produzirá efeitos no
Brasil.
O art. 23 do CPC, por sua vez, prevê as hipóteses de jurisdição exclusiva da autoridade
judiciária brasileira, que são as seguintes:
a) Ações relativas a imóveis situados no Brasil. O objetivo é a proteção do território nacional.
Abrange tanto as ações reais quanto as ações pessoais, como é o caso, por exemplo, da ação de
despejo.
b) Ações de sucessão hereditária, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade
estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional. Exemplos: inventário e partilha de bens
situados no Brasil; alvará de levantamento de dinheiro deixado pelo morto; confirmação de
testamento particular etc. Nesses casos, embora a ação deva tramitar no Brasil, a lei civil que
regerá a sucessão será a do domicílio do morto, e não a lei brasileira, conforme art. 10 da LINDB.
c) Ações de divórcio, separação judicial e dissolução de união estável, que envolvam partilha
de bens situados no Brasil. Essas três ações podem ser propostas fora do Brasil, desde que não
versem sobre partilha de bens situados no Brasil, pois, nesse caso, não se homologará a sentença
estrangeira, a competência será exclusiva do Brasil, ainda que o titular dos bens seja de
nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.
Por derradeiro, é ainda preciso analisar o princípio da proibição da denegação de justiça,
segundo o qual o país inicialmente incompetente para o julgamento torna-se o competente quando
se comprovar que nenhum outro juízo estrangeiro tem competência para o julgamento.

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COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DOS TRIBUNAIS

Normalmente, as ações são propostas em primeira instância, relegando-se aos Tribunais


apenas a competência recursal.
Todavia, em certas hipóteses a competência é originária, isto é, as ações são ajuizadas
diretamente nos tribunais.
Os casos de competência originária do STF, no âmbito civil, previstos no art. 102 da CF, são:
a) Ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual
impugnados em face da Constituição Federal.
b) Ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal.
c) Mandado de segurança e habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas
das Câmaras dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador
Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal.
d) Litígio em que, de um lado figura, Estado estrangeiro ou organismo internacional e, de
outro lado, a União ou Estado Membro ou Distrito Federal ou Território.
e) As causas, e os conflitos entre a União e os Estados Membros ou entre a União e o Distrito
Federal. Exemplo: conflito de atribuição entre o Ministério Público Federal e o Ministério Público
Estadual.
f) As causas e os conflitos entre os Estados Membros ou entre Estado Membro e Distrito
Federal, inclusive as respectivas entidades da administração indireta. Ex: conflito de atribuições
entre Ministério Público de Estados diferentes.
g) Ação rescisória dos julgados do próprio STF.
h) Reclamação que visa preservar competência do STF e garantir a autoridade de suas
decisões. Não cabe reclamação quando já houver transitado em julgado o ato que se alega tenha
desrespeitado a decisão do STF (Súmula 734 do STF).
i) Ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente
interessados. Exemplo: questão de saber se, em face da LOMAN, os juízes tem direito à licença
prêmio (Súmula 731 do STF).
j) Ação em que mais da metade dos membros do Tribunal de origem estejam impedidos ou
sejam direta ou indiretamente interessados. O mandado de segurança impetrado contra
deliberação administrativa do tribunal de origem, da qual haja participado a maioria ou a totalidade
de seus membros, não gera por si só, a competência originária do STF (súmula 623 do STF). De fato,
a competência originária exige o impedimento ou interesse dos magistrados na decisão.
k) Conflito de competência entre o STJ e quaisquer Tribunais. Exemplo: conflito entre o STJ e
o TRT. Não há, porém, conflito entre o STJ e o Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal, pois
esses dois tribunais lhes são hierarquicamente inferiores e, sendo assim, prevalecerá o que for
decidido pelo STJ.
l) Conflito de competência entre Tribunais Superiores e quaisquer tribunais.
m) Conflito de competência entre Tribunais Superiores.
n) Mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do
Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das
Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais
Superiores ou do próprio Supremo Tribunal Federal.
o) Ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público.

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Em relação à competência originária do STJ, prevista no art. 105 da CF, em matéria cível, é a
seguinte:
a) Mandados de segurança e habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes
da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio STJ.
b) Conflito de competência entre quaisquer tribunais que não sejam Tribunais Superiores.
Exemplo: conflito entre os Tribunais de Justiça de São Paulo e Minas Gerais.
c) Conflito entre Tribunais e juízes a ele não vinculados. Exemplo: conflito entre juiz estadual
do Rio Grande do Sul e Tribunal de Justiça da Bahia.
d) Conflito entre juízes vinculados a tribunais diversos. Exemplo: conflito entre juiz estadual e
juiz federal. Todavia, o conflito entre juiz estadual e juiz do trabalho é julgado pelo Tribunal
Regional do Trabalho (súmula 180 do STJ).
e) Reclamação para preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas
decisões.
f) Ações rescisórias de seus julgados.
g) Conflito de atribuições entre autoridades administrativas e judiciárias da União, ou entre
autoridades judiciárias de um Estado e administrativa de outro ou do Distrito Federal, ou entre as
deste e da União.
h) Mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for de atribuição
de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração direta ou indireta, excetuados os casos
da competência do STF e dos órgãos da justiça especial (militar, eleitoral e trabalhista) e dos órgãos
da justiça federal.
i) Homologação de sentença estrangeira.
j) Exequatur às cartas rogatórias.

Quanto à competência originária dos Tribunais Regionais Federais, concentra-se no art. 108
da CF, que, em matéria cível, abrange:
a) Os mandados de segurança e habeas data contra ato do próprio TRF ou de juiz federal.
b) Ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da região.
c) Conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao TRF. A súmula 3 do STJ dispõe
que: Compete ao Tribunal Regional Federal dirimir conflito de competência verificado, na
respectiva região, entre Juiz Federal e Juiz Estadual investido de jurisdição federal . Esta súmula
abrange as causas de competência delegada, isto é, que podem ser julgadas pela justiça estadual
quando não houver vara federal. A súmula 428 do STJ reza que: Compete ao Tribunal Regional
Federal decidir os conflitos de competência entre juizado especial federal e juízo federal da mesma
seção judiciária .
Por fim, em relação à competência originária dos Tribunais de Justiça Estaduais, as hipóteses
devem ser previstas nas respectivas Constituições Estaduais, conforme §1º do art. 125 da CF.
Exemplo: mandado de segurança contra ato de Governador ou Secretário de Estado; conflito entre
juízes estaduais do mesmo Estado. O Código de Processo Civil ainda prevê a competência originária
dos Tribunais de Justiça para as ações rescisórias de julgados seus ou das sentenças de juízes aos
respectivos tribunais de justiça.

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PERGUNTAS:

1) É correto definir a competência como sendo o limite da jurisdição?


2) Quais as fontes normativas da competência?
3) Quais as duas regras do para 1 do art. 125 da CF?
4) No âmbito estadual, quais são as normas de organização judiciária?
5) A competência dos tribunais estaduais é definida por quem? E a competência da Câmaras e
turmas dos tribunais estaduais?
6) Explique a ordem de análise da competência.
7) O que acontece com o processo quando a justiça brasileira for incompetente?
8) A ação que tramita no exterior pode também tramitar no Brasil? Há litispendência?
9) A sentença estrangeira pode produzir efeitos no Brasil?
10) A sentença estrangeira pode ser homologada quando tramita ação idêntica no Brasil?
11) Homologada a sentença estrangeira o que acontece com a ação idêntica que tramita no
Brasil?
12) É possível eleição de foro estrangeiro?
13) Quais a diferença entre competência internacional concorrente e exclusiva?
14) Quais os casos de competência internacional concorrente?
15) É possível propor a ação no Brasil quando o réu for domiciliado no exterior?
16) Se o autor e o réu forem domiciliados no exterior, a ação de alimentos pode ser proposta no
Brasil?
17) Quais são as hipóteses de jurisdição brasileira exclusiva?
18) O que é o princípio da proibição da denegação da justiça?
19) O STF tem competência originária em mandados de segurança e habeas data?
20) Quem julga as ações em que estado estrangeiro ou organismo internacional figura como
autor ou réu?
21) Quem julga o conflito de atribuição entre o MP estadual e o MP federal?
22) Quem julga as causas entre dois Estados-Membros?
23) O que diz a súmula 731 do STF?
24) Quais os conflitos de competência que são julgados pelo STF?
25) O STF julga mandado de injunção?
26) As ações envolvendo magistrados são julgadas pelo STF?
27) O STJ julga mandado de segurança e habeas data? E mandado de injunção?
28) Quais os conflitos de competência que são julgados pelo STJ?
29) Quem homologa sentença estrangeira? Quem concede exequatur às cartas rogatórias?
30) O TRF julga mandado de segurança e habeas data?
31) Qual o conflito de competência que é julgado pelo TRF?
32) Quem define a competência originária dos Tribunais de Justiça Estaduais?
33) Quem julga mandado de segurança contra atos de governador?
34) Qual conflito de competência que é julgado pelo Tribunal de Justiça?

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COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESPECIAL E DA JUSTIÇA COMUM

A justiça pode ser comum e especial.


A justiça especial compreende: a militar, eleitoral e trabalhista.
A justiça comum, por sua vez, abrange: a federal e a estadual.
A Constituição Federal fixa a competência da justiça especial e da justiça comum federal.
Todavia, a Constituição não arrola a competência da justiça estadual, que é residual, compreende
todas as demais causas não abrangidas pelas demais justiças.
A justiça militar tem competência penal para o julgamento dos crimes militares, bem como
para as ações judiciais contra atos disciplinares militares (§§4º e 5º do art. 125 da CF).
A justiça eleitoral tem apenas competência para as questões relativas ao processo eleitoral e
alistamento de eleitores até a diplomação. As questões posteriores à diplomação, como posse e
mandato, são da competência da justiça comum.
A justiça do trabalho, por sua vez, julga as controvérsias oriundas da relação de trabalho,
ainda que o empregador seja pessoa jurídica de direito público (União, Estados, Distrito Federal,
Municípios e Autarquias) ou entes de direito público externo (art. 114 da CF).
Quanto aos casos de competência dos juízes federais, concentram-se no art. 109 da CF, que
estabelece um rol taxativo, vedando-se a sua ampliação por normas infraconstitucionais.
De acordo com o citado art. 109, a justiça federal de primeira instância tem competência para
processar e julgar:

I – as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem


interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou opoentes, exceto as de falência, as de
acidentes do trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho.

Quanto à sociedade de economia mista, a competência é da justiça estadual (súmulas 42 do


STJ, 508 e 556 do STF). Assim, as ações em que o Banco do Brasil e a Rede Ferroviária Federal
figuram como partes é da competência da justiça estadual, pois se tratam de sociedades de
economia mista (súmulas 505 do STJ, 251 e 508 do STF). Assim, as ações envolvendo sociedade de
economia mista são de competência da justiça estadual, ainda que haja participação de capital
federal em sua constituição (Súmula 556 do STJ).
Igualmente, a competência é da justiça estadual, quando figurar como parte concessionária
de serviço público, por exemplo, empresas telefônicas (súmula vinculante 27). Mas se a ANATEL for
litisconsorte passivo, a competência será da justiça federal, pois sua natureza jurídica é de
autarquia federal.
Quando o processo envolver Conselhos de Fiscalização Profissional, a competência é da
justiça federal, conforme súmula 66 do STJ e art. 45 do CPC.
A súmula 324 do STJ também dispõe que:
Compete à Justiça Federal processar e julgar ações de que participa a Fundação Habitacional
do Exército, equiparada à entidade autárquica federal, supervisionada pelo Ministério do Exército .
De fato, as fundações públicas e agências reguladoras federais equiparam-se às autarquias e,
por isso, a competência é da justiça federal.
Basta, para que a competência seja da justiça federal, que um dos entes referidos no inciso I
do art. 109 da CF seja parte ou terceiro interveniente (assistente, opoente, denunciação da lide e
chamamento ao processo), conforme art. 45 do CPC.
Todavia, quando a União ou algum ente federal intervém como amicus curiae , a
competência não se desloca para a Justiça Federal (§1º do art. 138 do CPC).
Mesmo nos processos de jurisdição voluntária, a intervenção de um desses entes federais

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torna a competência da Justiça Federal.


A propósito, dispõe a Súmula 32 do STJ:
Compete à Justiça Federal processar justificações judiciais destinadas a instruir pedidos
perante entidades que têm exclusividade de foro, ressalva a aplicação do art. 15, II, da Lei
5.010/66 .
Tramitando o processo perante outro juízo, os autos serão remetidos ao juízo federal se nele
intervir esses entes federais do inciso I do art. 109 da CF. É, pois, da competência exclusiva do juiz
federal analisar a existência de interesse jurídico de um desses entes (art. 45 do CPC e súmula 150
do STJ). O juiz estadual deve simplesmente determinar a remessa dos autos à Justiça Federal, sem
analisar o mérito do pedido da intervenção da União.
A decisão do juiz federal que exclui da relação processual o ente federal não pode ser
reexaminada no juízo estadual (súmula 254 do STJ). Por consequência, o juízo federal restituirá os
autos ao juízo estadual sem suscitar conflito se o ente federal cuja presença ensejou a remessa for
excluído do processo (§3º do art. 45 do CPC).
No tocante às ações que versam sobre mais de um pedido, caso a União ou um dos entes
federais de inciso I do art. 109 da CF pretender ingressar no processo em relação a apenas um dos
pedidos, os autos não serão remetidos à Justiça Federal, conforme §1º do art. 45 do CPC. O juízo,
perante o qual a ação foi proposta, apreciará o pedido de sua competência e extinguirá a ação sem
resolução do mérito em relação ao pedido que é da competência federal, consoante se conclui da
análise do §2º do art. 45 do CPC.
Quanto ao Ministério Público Federal, como se sabe, não é ele o representante da União, e,
por isso, a sua presença no processo, por si só, não deveria deslocar a competência para a Justiça
Federal. O MPF pode inclusive propor ações em quaisquer juízes e tribunais (art. 37, II, da Lei
Complementar 75/1993). Por consequência, nas ações civis públicas em que há litisconsórcio ativo
entre o Ministério Público Federal e Estadual a competência, por si só, não deveria deslocar-se para
a justiça federal. Igualmente, quando se tratar de ações movidas pela Defensoria Pública da União
que, como se sabe, também não é representante legal da União.
Não obstante, o STJ sustenta que nas ações em que há litisconsórcio ativo entre o Ministério
Público Estadual e Federal, a competência é da Justiça Federal, o argumento é que o MPF é um
órgão da União, o que é suficiente para atrair a incidência do art. 109, I, da CF.
Finalmente, sobre as exceções, isto é, ações em que não tramitam na justiça federal, ainda
que a União ou entidades federais do inciso I do art. 109 figurem como parte ou intervenientes, são
os seguintes:
a) Falência. O inciso I do art. 45 do CPC inclui também, dentre as exceções, os processos de
recuperação judicial e insolvência civil, pois assemelham-se à falência. Sobre a insolvência civil, a
súmula 270 do STJ já previa que o ingresso da União, para exercer o seu direito de preferência, não
desloca a competência para a Justiça Federal.
b) Acidentes de Trabalho. A ação de acidente de trabalho movida em face do INSS é da
competência da Justiça Estadual, ainda que se trate de pedido de revisão de benefício, mas as
demais ações contra o INSS, que não se relacione a acidentes de trabalho, é da competência da
Justiça Federal. Quanto às ações de indenização por acidente de trabalho, movidas em face do
empregador, ainda que este seja a União, é da competência da Justiça do Trabalho.
c) Causas eleitorais. A competência é da Justiça Eleitoral.
d) Causas Trabalhistas. A competência é da Justiça do Trabalho, ainda que envolva servidores
públicos federais. A competência só será da Justiça do Trabalho quando de tratar de servidor
público celetista, isto é, cujo contrato de trabalho seja regido pela CLT. Quanto aos servidores
públicos estatutários, de acordo com o STF, a competência é da Justiça Comum Federal ou Estadual,
conforme se trate de servidor público federal ou estadual. Por outro lado, de acordo com a súmula

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82 do STJ, compete à Justiça Federal, excluídas as reclamações trabalhistas, processar e julgar os


fatos relativos à movimentação do FGTS. É, no entanto, da competência da Justiça Estadual
autorizar o levantamento dos valores relativos ao PIS/PASEP e FGTS, em decorrência do
falecimento do titular da conta (súmula 161 do STJ).

II – as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa


domiciliada ou residente no Brasil.

Trata-se das ações em que, de um lado, seja como autor ou réu, figura Estado estrangeiro ou
organismo internacional como ONU, FMI, OIT, BIRD, etc , e, do outro lado, o Município ou pessoa
residente ou domiciliada no Brasil. A competência é da justiça federal, independentemente da
matéria em discussão, pois o critério adotado é o da qualidade da parte. A expressão organismo
internacional não se refere às empresas multinacionais.
Quando às ações trabalhistas que envolvem esses entes é da Justiça do Trabalho.
Na ação entre Estados estrangeiros ou organismo internacional e União, Estados-Membros ou
Distrito Federal, a competência será originária do STF, conforme art. 102, I, e, da CF.

III – causas fundadas em tratados ou contrato da União com Estado estrangeiro ou


organismo internacional.

Aqui, para que a competência seja da Justiça Federal, não é necessário que a União figure
como parte ou terceiro interveniente no processo. Exemplos: ação de alimentos movida pelo
Procurador Geral da República, como substituto processual do alimentado residente no exterior,
com base no Tratado de Nova Iorque; ação de busca e apreensão de menor trazida irregularmente
para o Brasil, com base na Convenção de Haia.
Acrescente-se que só é da competência da justiça federal as ações que tenham por objeto
essencial as obrigações contidas em Tratados. A competência para as ações de indenização por
danos em mercadorias no transporte aéreo é da Justiça Estadual, ainda que se discuta a Convenção
de Varsóvia relativamente ao limite da responsabilidade do transportador, pois as obrigações
essenciais são previstas no direito interno brasileiro.

IV – causas relativas a graves violações de direitos humanos decorrentes de Tratados


internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte.

Esta hipótese abarca tanto a competência penal quanto a competência civil.


É preciso, para que a competência seja da justiça federal, que haja uma grave violação dos
direitos humanos. De acordo com o STJ, para deslocar-se a competência para a Justiça Federal, é
preciso demonstrar a ineficiência das autoridades estaduais para conduzir o assunto.
Nesses casos, o Procurador Geral da República, em qualquer fase do inquérito ou processo,
pode suscitar o conflito de competência perante o STJ para deslocar a competência para a Justiça
Federal, nos termos do §5º do art. 109 da CF. Contra essa decisão do STJ caberá recurso
extraordinário ao STF.

V – mandado de segurança e habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os


casos de competência dos tribunais federais.

Considera-se federal a autoridade coatora se as consequências de ordem patrimonial do ato


houverem de ser suportadas pela União ou entidade por ela controlada (art. 2º da Lei

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12.016/2009).
Equipara-se à autoridade, para efeito de mandado de segurança ou habeas data, os
delegatários de serviços públicos, sejam eles pessoas naturais ou pessoas jurídicas. Exemplo:
instituição privada de ensino superior.
No caso do exercício da função delegada, não caberá mandado de segurança contra atos de
mera gestão comercial, mas apenas contra atos relacionados ao exercício da função delegada. A
súmula 34 do STJ dispõe que compete à Justiça Estadual processar e julgar causa relativa à
mensalidade escolar, cobrada por estabelecimento particular de ensino, pois se trata de ato de
mera gestão, que não se relaciona ao exercício da função pública.

VI – execução de carta rogatória, após o exequatur.

O exequatur da carta rogatória é da competência do STJ. O exequatur é a decisão judicial que


autoriza o cumprimento da carta rogatória. Quanto ao cumprimento da carta rogatória, a
competência é do juízo federal de primeiro grau.

VII – execução de sentença estrangeira, após a homologação pelo STJ.

Quem homologa a sentença estrangeira é o STJ, mas a sua execução é no juízo federal de
primeiro grau.

VIII – causas referentes à nacionalidade e naturalização.

O art. 32, §4º, da Lei 6.015/73, prevê que os filhos de brasileiro ou brasileira, nascidos no
estrangeiro, podem optar pela nacionalidade brasileira perante o juízo federal. Portanto, qualquer
causa referente à nacionalidade, inclusive o exercício do direito de opção, é da competência da
Justiça Federal.
Quanto à ação de inclusão de patronímico por brasileira naturalizada, bem como a ação de
retificação do registro civil em razão da perda ou aquisição da nacionalidade são da competência da
Justiça Estadual.

IX – disputa sobre Direitos Indígenas.

A competência da Justiça Federal, de acordo com o STF e STJ, refere-se apenas aos direitos
coletivos dos índios. Quanto aos direitos individuais de cada índio, por exemplo, pedido de alvará
judicial para levantamento de valor depositado em caderneta de poupança, a competência é da
Justiça Estadual. A propósito, na área penal, também compete à Justiça Estadual processar e julgar
crime praticado por índio ou contra índio, pois essa causa não se refere à esfera coletiva dos índios
(súmula 140 do STJ).
Os direitos indígenas coletivos, que justificam a competência da Justiça Federal são os
seguintes:
a) Organização social dos índios, inclusive, seus costumes, línguas, crenças e tradições (art.
231 da CF);
b) Terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, que, inclusive, devem ser demarcadas e
protegidas pela União (art. 231 da CF);
c) Utilização dos recursos naturais dessas terras (§3º do art. 231 da CF).
Qualquer ação judicial na qual se discuta esses direitos será da competência da Justiça
Federal.

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PERGUNTAS:

1) Qual a diferença entre justiça comum e justiça especial?


2) A Constituição Federal fixa a competência de quais justiças?
3) Qual a competência da justiça militar, eleitoral e trabalhista?
4) A justiça federal julga as causas que envolvem quais entes?
5) Quem julga sociedade de economia mista?
6) Quem julga o Banco do Brasil e a rede ferroviária federal?
7) Quem julga concessionária de serviço público?
8) Quem julga autarquia federal e agências reguladoras federais? E os Conselhos
de Fiscalização Profissional?
9) Quando a União ingressa no processo como terceiro, a competência desloca-se para
a justiça federal?
10) E quando a União ingressa como amicus curiae ?
11) As justificações judiciais e demais procedimentos de jurisdição voluntária que envolvem
a União são da competência da justiça federal?
12) Quem analisa se a competência é ou não da justiça federal? É o juiz estadual?
13) Se o juiz federal exclui a União do processo, o juiz estadual pode suscitar o conflito
de competência?
14) Quando houver cumulação de pedidos na justiça estadual e apenas um dos pedidos for
da justiça federal, como o juiz estadual deve decidir?
15) No litisconsórcio ativo entre o Ministério Público Federal e o Estadual, a competência é
de qual justiça, segundo o STJ?
16) Quais as causas em que a União ou outro ente federal figura como partes e, no entanto, não
tramita na justiça federal?
17) As ações movidas por servidor público contra a União para discutir relação de trabalho
tramitam em qual justiça?
18) Qual a justiça competente para levantamento do FGTS?
19) As ações em que estado estrangeiro ou organismo internacional figurarem como autor
ou réu são julgadas pela justiça federal de primeiro grau ou pelo STF?
20) Ação de alimentos baseada no Tratado de Nova Iorque é julgada em qual justiça?
21) Ação que envolve violação de direitos humanos é da competência de qual justiça?
22) A justiça federal julga mandado de segurança e habeas data?
23) O que diz a súmula 34 do STJ?
24) O exequatur e o cumprimento da carta rogatória competem a quem?
25) A homologação e cumprimento de sentença estrangeira competem a quem?
26) Quem julga as causas referentes à nacionalidade e naturalização?
27) E a ação de retificação de nome civil do estrangeiro naturalizado brasileiro?
28) As ações movidas por índio e contra índio são julgadas pela justiça federal?
29) A justiça federal julga quais direitos referentes a índios?

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FORO COMPETENTE OU COMPETÊNCIA TERRITORIAL

A Justiça Estadual divide-se territorialmente em inúmeras comarcas e a Justiça Federal, por


sua vez, também se divide territorialmente em diversas seções judiciárias, sendo que cada Estado-
Membro corresponde a uma seção.
A expressão foro é o gênero que abrange duas espécies:
a) as comarcas estaduais;
b) as seções judiciárias federais.
As comarcas também podem se dividir em distritos. Distrito é, pois, o espaço territorial que se
localiza dentro de determinada comarca com competência para o processo e julgamento de
determinadas ações.
Cada seção judiciária, por sua vez, divide-se em subseções. A subseção é uma área territorial
que abrange diversos Municípios. Assim numa seção judiciária, que corresponde a um Estado-
Membro, há várias subseções.
Em regra, a ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será
proposta no foro do domicílio do réu (art. 46 do CPC). Assim, no âmbito estadual, essas ações são
propostas na comarca do domicílio do réu, ou no distrito, se houver, ao passo que na Justiça
Federal serão ajuizadas na subseção da seção judiciária do domicílio do réu.
Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles (§1º do art.
46).
As ações em que o espólio for réu são propostas no foro do último domicílio do autor da
herança, isto é, do falecido, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro (art. 48). Exemplos:
inventário, partilha, anulação de partilha etc. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, o
foro competente é local da situação dos bens imóveis; havendo bens imóveis em foros diferentes,
qualquer destes; não havendo bens imóveis, o foro competente é o local de qualquer dos bens
móveis do espólio (parágrafo único do art. 48).
Trata-se de competência relativa, o juiz não pode decretar de ofício a incompetência, ainda
que haja menores. Acrescente-se ainda que ações que tem foro especial, como é o caso de
reinvindicação de imóveis, cuja competência é no local da situação do bem, não tramita no foro do
último domicílio do morto.
Igualmente, as ações em que o ausente for réu também são propostas no foro do seu último
domicílio (art. 49).
Quanto ao domicílio do incapaz, é o do seu representante legal. Assim, a ação em que o
incapaz for réu será proposta no foro do domicílio de seu representante ou assistente, conforme se
trate de absolutamente ou relativamente incapaz (art. 50). Todavia, se o representante não detiver
a guarda , aplica-se a súmula 383 do STJ : "A competência para as ações conexas de interesse do
menor é em princípio no foro do detentor da guarda ".
Por outro lado, em certas hipóteses o foro do domicílio do réu é alternativo:
a) Litisconsórcio passivo: havendo dois ou mais réus com diferentes domicílios, serão
demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor (§4º do art. 46). Se, no entanto, forem
duas ações que, em razão da conexão, o autor resolveu propô-las conjuntamente, utilizando-se do
litisconsórcio facultativo, o réu prejudicado, segundo Vicente Greco Filho, poderia alegar na
contestação a violação do benefício do foro.
b) Execução fiscal: será proposta, a critério do exequente, no foro do domicílio do réu, no de
sua residência ou no lugar onde for encontrado (§5º do art. 46).
Abre-se exceção ao foro do domicílio do réu nas seguintes hipóteses:
a) Domicílio do réu é incerto ou desconhecido: ele poderá ser demandado onde for
encontrado ou no foro do domicílio do autor (§2º do art. 46). O domicílio do autor, nesse caso, é

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um foro supletivo ou subsidiário.


b) O réu não tem domicílio nem residência no Brasil: a ação será proposta no domicílio autor
e, se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro (§3º do art. 46).
Este último é um foro subsidiário ou supletivo.
c) Ações de divórcio, separação judicial, anulação de casamente e reconhecimento ou
dissolução de união estável: é competente, o foro do domicílio do guardião do filho incapaz; caso
não haja filho incapaz, a competência será no foro do último domicílio do casal; se nenhuma das
partes residir no antigo domicílio do casal, a competência será do domicílio do réu (art.53,I,do CPC).
d) Violência doméstica e familiar contra mulher: é competente, por opção da ofendida, o foro
do seu domicílio ou residência ou o foro do lugar do fato em que se baseou a demanda ou ainda o
foro do domicílio do agressor (art. 15 da Lei 11.340/2006). Ela pode requerer ao juiz, sem a
necessidade de advogado, as medidas protetivas de urgência, e, caso ela tenha feito esse pedido à
autoridade policial, esta deverá remeter ao juízo competente para a análise, indagando-a sobre o
foro que pretende que se processe a demanda (art. 12, III, da Lei 11.340/2006).
e) Ação de consignação em pagamento: o foro competente é o do local do pagamento
(art.540 do CPC ).
f) Ação de alimentos: a competência será do domicílio ou residência do autor da ação, isto é,
do alimentado, também chamado de alimentando (art. 53, II, do CPC). Nas ações de revisão de
alimentos para se reduzir o valor, bem como na ação de exoneração da obrigação alimentar, a
competência é do domicílio do réu, isto é, do alimentado. O art. 53, II, do CPC só prevê foro
especial para as ações em que se pedem alimentos. Trata-se de competência territorial, portanto,
relativa, sendo vedado ao juiz declinar de ofício. Quanto à ação de investigação de paternidade, é
no domicílio do réu, que é o suposto pai, mas quando cumulada com alimentos, a competência será
no foro do domicílio ou residência do alimentando, que é o autor da ação (Súmula 1 do STJ). A fase
de cumprimento da sentença de alimentos pode ser instaurada no domicílio atual do exequente,
conforme §9º do art. 528 do CPC, além das opções de movê-la perante o próprio juízo que decidiu
a causa ou então no local da situação dos bens.
g) Ações que visam obter o cumprimento de obrigações: a competência é do local em que se
pode exigir o cumprimento da obrigação (art. 53, III , d, do CPC). É o caso das ações que visam a
entrega de coisa ou o cumprimento de obrigações de fazer e não fazer.
h) Causa que versa sobre direito previsto no Estatuto do Idoso: a competência é do local da
residência do idoso, e não do seu domicílio, quer ele figure como autor ou réu (art. 53, III, e , do
CPC). Se, no entanto, a ação não versar sobre direitos do idoso, a competência segue a regra geral
do domicílio do réu.
i) Reparação de dano causado por cartórios extrajudiciais, em razão do ofício: a competência
é da sede da serventia notarial ou da serventia de registro (art. 53, III, f, do CPC). Quem figura como
réu é a pessoa física do tabelião ou registrador, pois essas serventias não tem personalidade
jurídica. A hipótese abrange os seguintes cartórios: Registro de Imóveis, Registro Civil de Pessoas
Naturais, Registro Civil de Pessoas Jurídicas, Protesto e Notas.
j) Reparação de dano: a competência é do lugar do ato ou fato (art. 53, IV, a, do CPC).
k) Reparação de dano sofrido em razão de acidente de veículo, inclusive aeronaves: o foro é
alternativo, domicílio do autor ou local do fato (art. 53, V, do CPC). Exemplos: atropelamento;
colisão de veículos, etc. O veículo não precisa ser motorizado, logo abrange também bicicletas,
charretes, etc. O veículo pode ser terrestre, aéreo e marítimo, pois a lei não faz distinção.
l) Reparação de dano sofrido em razão de crime: o foro é também alternativo, domicílio do
autor ou local do fato (art. 53, IV, a , do CPC). Exemplos: briga no interior do veículo, homicídio,
lesões corporais, etc.
m) Ação em que o réu for administrador ou gestor de negócios alheios: a competência é do

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lugar do ato ou fato danoso (art. 53, IV, b, do CPC).


n) Causas em que a União figurar como réu: a ação poderá ser proposta, no foro do domicílio
do autor ou no foro do local do ato ou fato que originou a demanda ou ainda no foro da situação da
coisa ou, por fim, no Distrito Federal, que é o domicílio da União (parágrafo único do art. 51 do CPC
e §2º do art. 109 da CF). O autor tem a opção de mover a ação em qualquer dessas seções
judiciárias da Justiça Federal, distribuindo a ação na subseção correspondente. Trata-se de
competência territorial e, portanto, relativa. O fato de estar prevista na Constituição não torna esta
competência absoluta. Em relação aos demais entes federais da administração indireta, como é o
caso das autarquias e empresas públicas, há polêmica sobre a competência, pois tanto o art. 51 do
CPC quanto o §2º do art. 109 da CF referem-se apenas à União. No STJ aplica-se o foro das pessoas
jurídicas, isto é, as autarquias poderão ser demandadas no foro da sua sede ou naquele da agência
ou sucursal onde contraiu as obrigações, conforme art. 53, III, alíneas a e b , do CPC. O STF, no
entanto, já decidiu pela aplicação análoga do §2º do art. 109 da CF. Em relação ao INSS, que é uma
autarquia federal, a súmula 689 do STF dispõe que: o segurado pode ajuizar ação contra a
instituição previdenciária perante o juízo federal do seu domicílio ou nas varas federais da Capital
do Estado Membro".
Frise-se, no entanto, que é competente o foro do domicílio do réu para as causas em que seja
autora a União (art. 51 do CPC e §1º do art. 109 da CF).
o) Causas em que o Estado-Membro ou Distrito Federal figurar como réu: a ação poderá ser
proposta no foro do domicílio do autor ou no da ocorrência do ato ou fato que originou a demanda
ou no da situação da coisa ou ainda na capital do respectivo ente federado (parágrafo único do art.
52 do CPC). Há, pois, simetria com a competência que a Constituição Federal prevê nas causas que
a União figurar como réu. Como se vê, não há a obrigatoriedade de se exigir que a ação seja
proposta na capital do Estado ou Distrito Federal, onde normalmente há as varas privativas da
Fazenda Pública ( súmula 206 do STJ). É, por fim, competente o foro do domicílio do réu para as
causas em que seja autor Estado ou o Distrito federal (art. 52, caput, do CPC).
p) Ações em que for ré a pessoa jurídica: a competência é onde se localiza a sede, ainda que
esse local não seja o domicílio da pessoa jurídica. Mas a competência será onde se acha a agência
ou sucursal, quanto às obrigações que a filial da pessoa jurídica contraiu (art. 53, III, c e d , do
CPC).
q) Ações em que for ré sociedade ou associação sem personalidade jurídica: a competência é
no local onde exerce suas atividades (art. 53, III, c, do CPC).
r) Ação para discussão das relações de consumo: são propostas no domicílio do autor-
consumidor (art. 101, I, do CPC). Trata-se, porém, de competência relativa.
Por outro lado, para as ações fundadas em direito real sobre imóveis, é competente o foro
onde se situa o imóvel (art. 47). Se o imóvel se localizar em mais de uma comarca, a ação real
imobiliária poderá ser proposta em qualquer delas. A competência da situação do imóvel é absoluta
para as ações reais que versarem sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e
demarcação de terras e nunciação de obra nova. Nesses casos, não se admire foro de eleição, mas,
nas demais ações reais imobiliárias, o autor, além do foro da situação do imóvel, ainda pode optar
pelo foro do domicílio do réu, sendo ainda possível o foro de eleição , conforme §1º do art. 47.
Essas ações reais imobiliárias, cuja competência é relativa, são as que versam sobre os demais
direitos reais (hipoteca, anticrese, enfiteuse , superfície, usufruto, uso, habitação e outros).
Em relação às ações possessórias sobre imóveis, a competência também é no foro de situação
da coisa. Trata-se de competência absoluta (§2º do art. 47 do CPC).
Quanto à ação de adjudicação compulsória baseada no compromisso de compra e venda, que
é também um direito real de aquisição, o STJ tem decidido que a competência é absoluta do lugar
da situação do imóvel, pois visa-se, através dessa ação, adquirir o direito de propriedade.

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Em havendo cumulação de ações reais sobre imóveis com ações pessoais, prevalece o foro
absoluto do local da situação do bem, quando o litígio versar sobre direito de propriedade ou
outros direitos mencionados no §1º do art. 47 do CPC.
Convém esclarecer que as ações pessoais sobre imóveis seguem a regra geral da competência
no domicílio do réu. Exemplo: ação pauliana; ações edilícias, etc.

JUÍZO COMPETENTE

Definido o foro competente (comarca ou distrito, seção ou subseção judiciária), o último


passo é a apuração do juízo, isto é, da vara competente.
Nos foros que não têm varas especializadas, as varas cíveis passam a ter competência para
julgamento de todas as demandas cíveis (exemplos: causas de família, registros públicos, falência,
etc) . Em diversas comarcas do interior, há ainda as varas que cumulam competência para os
processos cíveis e criminais.
Nos foros que têm varas especializadas, a competência para a ação será evidentemente numa
dessas varas.
O critério objetivo, adotado pelas normas de organização judiciária para a definição do juízo
(vara) competente, é o que leva em consideração os elementos da demanda ( partes, pedido e
causa de pedir). Este critério objetivo é o que gera as seguintes competências:
a) Competência em razão da pessoa ( ratione personae ): é a definida pela qualidade da
parte. É o caso das varas privativas da Fazenda Pública, isto é, criadas para as demandas contra os
entes públicos. Se, no entanto, na comarca, não houver vara privativa, a ação será movida na vara
cível competente. É o que preceitua a súmula 206 do STJ: A existência de vara privativa, instituída
por lei estadual, não altera a competência territorial das leis do processo . Assim, o fato de existir
na capital do Estado varas privativas da Fazenda Pública não obriga o demandante domiciliado no
interior a propor a ação na referida capital. Ele tem a opção de mover do seu domicílio, nas varas
cíveis, caso não haja no seu foro vara privativa da Fazenda Pública. A súmula 206 do STJ derrubou a
tese de que a existência de vara privativa na capital do Estado seria um juízo universal que atrairia
todas as ações contra a Fazenda Pública.
b) Competência em razão da matéria ( ratione materiae ) ou competência material: é a
definitiva pela natureza da lide, isto é, pela causa de pedir. Exemplos: varas de família, registros
públicos, acidentes de trabalho, cíveis, penais, etc.
c) Competência em razão do valor da causa: é a definida pelo valor do pedido. Exemplos:
Juizados Especiais e Foros Regionais da Capital do Estado de São Paulo.
A competência de juízo é absoluta, decretável de ofício pelo juiz. Por consequência, não se
sujeita a prorrogação nem admite foro de eleição. Não se pode, por exemplo, através de foro de
eleição, estabelecer que determinada ação de alimentos deverá tramitar em vara cível e, dessa
forma, excluir as varas de família existentes na comarca.
O art. 63 do CPC, no entanto, abre uma exceção ao admitir o foro de eleição das partes nos
casos de competência em razão do valor da causa. Trata-se, pois, à primeira vista, de competência
relativa.
A verdade, porém, é que a competência em razão do valor da causa, conforme a espécie,
pode ser absoluta ou relativa.
Eis as hipóteses:
a) Competência do Juizado Especial Estadual (Lei 9.099/95): é para as causas de até 40
(quarenta salários mínimos). Nessas causas, o autor pode ou não optar pelo Juizado Especial.
Portanto, a competência é relativa. Há, pois, uma mera faculdade de se dar preferencia ao

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ajuizamento da ação no Juizado Especial. Mas, no que ultrapassar o valor de 40 (quarenta) salários
mínimos, haverá uma incompetência absoluta do Juizado Especial, tanto é que o art. 39 da Lei
9.099/95 reputa ineficaz a sentença condenatória na parte que exceder a alçada estabelecida nesta
lei.
Resumindo: a competência é relativa até 40 (quarenta) salários mínimos e absoluta no que
exceder.
b) Competência do Juizado Especial Federal: é para as causas de até 60 (sessenta) salários
mínimos. Onde houver esse Juizado, a competência será absoluta, isto é, não se poderá mover a
ação noutro juízo (art. 3º, da Lei 10.259/2001).
c) Competência do Juizado Especial da Fazenda Pública Federal: é para as causas de até 60
(sessenta) salários mínimos, cuja competência também é absoluta (art. 2º, §4º, da Lei
12.153/2009).
d) Competência dos Foros Regionais da Capital do Estado de São Paulo: é para as causas de
até 500 (quinhentos) salários mínimos , ao passo que no foro central a competência é somente para
as causas que ultrapassam esse valor. Quanto às ações reais imobiliárias, qualquer que seja valor de
imóvel, poderão ser propostas no Foro Regional ou no Foro Central onde se localizar a coisa. De
acordo com a jurisprudência a competência dos Foros Regionais e do Foro Central é absoluta.
Cumpre ainda acrescentar que a criação de juízos (varas) depende de lei estadual, cujo
projeto é de iniciativa do Tribunal de Justiça (§1º do art. 125 da CF). Igualmente, a criação de
comarcas e distritos. Já a criação de seção ou subseção judiciária da Justiça Federal depende de lei
federal, bem como a criação de juízos federais.
A definição da comarca competente é atribuição das leis processuais de âmbito nacional
(exemplo: Código de Processo Civil), ao passo que a indicação da vara competente é tarefa das
normas estaduais de Organização Judiciária (leis estaduais e provimentos administrativos),
conforme dispõe o art. 125 da CF, e, no âmbito federal , das normas de organização judiciária da
justiça federal.

PRINCÍPIO DA PERPETUAÇÃO DA JURISDIÇÃO ( PERPETUATIO JURISDITIONIS )

De acordo com o princípio da perpetuação da jurisdição, a competência é determinada no


momento do registro ou distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do
estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente (art. 43 do CPC).
A petição inicial será registrada quando houver vara única e distribuída quando houver mais
de uma vara (art. 284 do CPC).
Assim, o que determina a fixação da competência e a consequente regra da garantia da
tramitação do processo perante a mesma vara do começo ao fim é o registro da petição inicial,
quando houver vara única, ou a sua distribuição, quando houver mais de uma vara, e não
propriamente a propositura da ação, que se verifica em momento anterior com o protocolo da
petição inicial.
Com efeito, considera-se proposta a ação quando a petição inicial for protocolada conforme
art. 312 do CPC, mas a perpetuação da competência só se dará em momento posterior, isto é, com
o registro ou distribuição da petição inicial, nos termos do art. 43 do CPC. Esta distribuição, que é
feita quando houver mais de um juízo, deve ser imediata, consoante art. 93, XV, da CF.
As exceções ao princípio da perpetuação da jurisdição, que constam no art. 43 do CPC,
permitindo que o processo iniciado numa vara se desloque para outra, são apenas duas:
a) Supressão de órgão judiciário. É a extinção do juízo (vara), foro (comarca, distrito, seção ou
subseção judiciária) ou do Tribunal. No Estado de São Paulo, por exemplo, quando se extinguiu o
Tribunal de Alçada Cível os processos foram remetidos para o Tribunal de Justiça.

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b) Alteração superveniente de competência absoluta. Há várias hipóteses de competência


absoluta, dentre as quais a em razão da matéria, da pessoa e da hierarquia. Exemplos: a criação de
vara de família em determinada comarca atrai para esse novo juízo as causas correlatas que
tramitavam nas varas cíveis. Igualmente,
a criação de vara da Fazenda Pública, atrairá todos os processos em que o Poder Público
figurar como réu. Mais um exemplo: a alteração da competência hierárquica, como no caso de
Emenda à Constituição Federal ou Estadual determinando que as demandas contra determinadas
autoridades deverão tramitar perante no Tribunal.
A alteração de competência, contudo, não alcança os processos já sentenciados (súmula 367
do STJ). Estes não poderão ser anulados pela superveniente alteração da regra de competência,
mas o eventual recurso terá que ser dirigido ao Tribunal que, segundo as novas regras, seria o
competente.
Quanto ao desmembramento de comarca, pode-se dizer que, de uma certa forma, também
altera as regras de competência, mas, para o novo foro, só devem ser remetidos os processos que
sofreram alteração de competência absoluta, como é o caso das ações reais imobiliárias e ações
civis públicas envolvendo dano ocorrido na nova comarca.
Por outro lado, além dessas exceções previstas no citado art. 43, há ainda outras que
excepcionam o princípio da perpetuação da competência. São as seguintes:
a) O exequente no cumprimento de sentença, poderá optar pelo juízo do atual domicílio do
executado, pelo juízo do local onde se encontrem os bens sujeitos à execução ou pelo juízo do local
onde deva ser executada a obrigação de fazer ou não fazer (parágrafo único do art. 516 do CPC).
Estas regras relativizam a perpetuação da competência ocorrida perante o juízo onde se decidiu a
causa.
b) Ingresso da União, ou de algum ente federal mencionando no art. 109, I, da CF, em
processo que tramita na Justiça Estadual, gera o deslocamento da competência para a Justiça
Federal.
c) Conexão e Continência.

PERGUNTAS:

1) O que significa foro ?


2) O que é distrito ?
3) Qual a diferença entre seção e subseção judiciária ?
4) Qual o foro competente para as ações pessoais ? E para as ações reais sobre bens móveis ?
5) E se o réu tiver mais de um domicílio?
6) Onde são propostas as ações contra o espólio?
7) E contra o ausente?
8) E as ações contra o incapaz?
9) E quando houver mais de um réu ?
10) E a execução fiscal?
11) E se o domicílio do réu for incerto ou desconhecido?
12) E se o réu for residente e domiciliado no exterior?
13) E as ações de divórcio , anulação de casamento , reconhecimento ou dissolução de união estável?
14) E se houver violência doméstica contra mulher ?
15) E consignação em pagamento ?

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16) E ação de alimentos ? E a exoneração de alimentos ?


17) E a investigação de paternidade?
18) E a fase de cumprimento da sentença de alimentos ?
19) E as ações que versam sobre cumprimento de obrigações?
20) E as ações em que o idosos for autor ou réu ?
21) E as reparações de danos causados por cartórios extrajudiciais?
22) E a reparação de danos ? E se for em razão de acidente de veículo ou de crime ?
23) E os danos causados pelo administrador ou gestor de negócios?
24) E as propostas contra a União? E se a União for a autora ?
25) E as propostas contra autarquias e empresas públicas federais?
26) E as propostas contra os Estados ou Distrito Federal ? E se houver na capital varas privativas da
Fazenda Pública?
27) E as propostas contra pessoas jurídica ?
28) E as propostas contra pessoas jurídicas sem personalidade jurídica?
29) E as movidas pelo consumidor?
30) E as ações reais sobre imóveis ? Esta competência é absoluta ou relativa ?
31) E as ações possessórias sobre imóveis? Esta competência é absoluta ou relativa ?
32) E a ação de adjudicação compulsória no compromisso de compra e venda ?
33) E as ações pessoais sobre imóveis ?
34) O que é juízo ?
35) O que é o critério objetivo de competência?
36) O que é competência em razão da pessoa ? Explique a súmula 206 do STJ ?
37) O que é a competência em razão da matéria ?
38) O que é a competência em razão do valor da causa ?
39) A competência do juízo é absoluta ou relativa? Há exceção ? A competência em razão do causa é
absoluta ou relativa ?
40) Explique a competência dos juizados especiais estadual, federal, da fazenda pública federal e
dos foros regionais de São Paulo.
41) Quem pode criar juízo estadual, comarca e distrito ? E juízo federal , seção e subseção judiciária?
42) Quem define a competência dos foros e dos juízos ?
43) O que é o princípio da perpetuação da jurisdição?
44) Quais as exceções a esse princípio ?

MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA

A competência relativa poderá modificar-se nas seguintes hipóteses:


a) Conexão e continência;
b) Foro de eleição;
c) Não alegação da incompetência relativa
Nesses casos, ocorre a chamada dinâmica ou prorrogação da competência, que é o fato de
um juízo originariamente incompetente vir a se tornar competente. Isso só é possível nos casos de
competência relativa, pois o juízo absolutamente incompetente jamais poderá tornar-se
competente, sendo cabível ação rescisória contra a eventual sentença que tenha transitado em

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julgado.

CONEXÃO E CONTINÊNCIA

Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de
pedir (art. 55 do CPC). Há, pois, entre as ações uma identidade de pedidos ou da causa de pedir.
Basta que uma das causas de pedir, a próxima ou a remota, seja comum.
Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão conjunta, salvo se um deles já
houver sido sentenciado (§1º do art. 55 do CPC e Súmula 235 do STJ).
O efeito da conexão, que é a reunião dos processos para julgamento comum, aplica-se ainda
que a conexão de pedidos ou causa de pedir se verifique entre:
a) A execução de título extrajudicial e a ação de conhecimento relativa ao mesmo ato jurídico.
Há entre essas ações de conhecimento e execução uma relação de prejudicialidade. Exemplos: ação
de nulidade e ação de execução do mesmo contrato.
b) Execuções fundadas no mesmo título executivo. Exemplos: credores solidários que
executam o devedor em processos distintos valendo-se do mesmo título executivo. Assim, essas
execuções devem tramitar no mesmo processo.
O §3º do art. 55 ainda equipara à conexão, ordenando a reunião para julgamento conjunto,
os processos que, mesmo sem conexão, possam gerar risco de decisões conflitantes ou
contraditórias caso decididos separadamente. Exemplos: ação de execução fiscal e ação anulatória
de auto de infração; ação de alimentos movida pelo filho menor em face do pai e ação de guarda
desse filho movida pelo pai; ações de despejo por falta de pagamento e consignação em
pagamento sobre o mesmo contrato.
Adotou-se, como se vê, um sistema de conexão mais aberto ou flexível, pois a conexão
mínima, isto é, restrita à identidade do pedido ou causa de pedir, não resolvia todos os problemas
práticos de necessidade de reunião dos processos para julgamento conjunto.
Por outro lado, verifica-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver
identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange
o das demais (art. 56 do CPC). Exige-se, pois, que, em ambas as ações, as partes e a causa de pedir
sejam as mesmas e ainda que o pedido de uma das ações, por ser mais abrangente, compreenda
também o pedido da outra ação, ou seja, os pedidos são diferentes, mas um engloba o outro.
Exemplo: numa ação pedido é de anulação de uma das cláusulas do contrato e na outra ação
pleiteia-se a nulidade de todo o contrato. Na continência sempre há conexão na fundamentação
das ações, pois as causas de pedir devem ser as mesmas, todavia, na continência ainda se exige a
identidade das partes, fato que não é necessário na conexão. A conexão, por sua vez, ainda pode
ocorrer pela identidade dos pedidos, ao passo que na continência os pedidos são distintos, embora
um esteja contido no outro. Por fim, a conexão pode ocorrer sem que haja coincidência das causas
de pedir, sendo que na continência as causas de pedir necessariamente são as mesmas.

Quanto à distinção entre continência e litispendência, cumpre esclarecer que na


litispendência as duas ações são idênticas, elas tem as mesmas partes, o mesmo pedido e a mesma
causa de pedir, ao passo que na continência apenas dois elementos são idênticos, isto é, as partes e
a causa de pedir, enquanto que os pedidos são diferentes.
É ainda possível a litispendência parcial quando uma ação contém, por exemplo, três pedidos
(Exemplo: rescisão de contrato, reintegração de posso e perdas e danos) e outra, que envolve as
mesmas partes e a mesma causa de pedir, contém apenas dois pedidos (exemplo: rescisão de
contrato e reintegração de posse ). Note-se que os dois primeiros pedidos, rescisão de contrato e
reintegração de posse, são idênticos, por isso, a hipótese é de litispendência, e não de continência,

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pois nesta os pedidos são distintos.


Com relação ao efeito da continência, se a ação continente (que é o pedido mais abrangente)
tiver sido proposta primeiro, no processo da ação contida (que é o pedido menos abrangente) será
prolatada sentença sem resolução do mérito. Se, no entanto, ocorrer o inverso, isto é, a ação
continente for proposta depois da ação contida, elas serão reunidas para julgamento conjunto (art.
57 do CPC).
Vê-se assim que a continência nem sempre gerará a reunião dos processos como ocorria no
CPC anterior.
Frise-se ainda que a reunião dos processos, em razão da conexão ou continência, só é possível
se nenhum dos juízos for absolutamente incompetente. Se, por exemplo, uma ação é da
competência da vara de família e outra da vara cível, elas não poderão ser reunidas para
julgamento simultâneo e, nesse caso, restará ao magistrado a opção de suspender o processo para
aguardar o julgamento da outra ação que funciona como questão prejudicial, conforme preceitua o
art. 313, V, a, do CPC.
Se as ações conexas ou continentes tramitarem em justiças diferentes, uma na Justiça
Estadual e outra na Justiça Federal, uma primeira corrente nega a possibilidade de reunião dos
processos, o argumento é que trata-se de incompetência absoluta, mas uma segunda corrente
propugna pela reunião dos processos perante a Justiça Federal conferindo-lhe força atrativa.
Presentes os requisitos legais da conexão ou continência, impõe-se a reunião obrigatória dos
processos (arts. 55, §1º e 57 do CPC). Trata-se de matéria de ordem pública, que visa evitar
decisões conflitantes, devendo o juiz agir de ofício para determinar a reunião dos processos, que
também poderá ser requerida pelas partes e Ministério Público na qualidade de fiscal do
ordenamento jurídico.
Não há prazo para se arguir, a conexão ou continência, mas após a sentença de um dos
processos será vedada a reunião deles (§1º do art. 55 do CPC).
Determinada a reunião dos processos, não se anula os atos judiciais até então praticados,
salvo decisão judicial em sentido contrário (§4º do art. 64 do CPC).
No caso de conexão ou continência, a reunião das ações propostas em separado far-se-á no
juízo prevento, onde serão decididas simultaneamente (art. 58 do CPC). O registro ou distribuição
da petição inicial torna prevento o juízo (art. 59 do CPC). Prevento é o juízo perante o qual as ações
tramitarão. Se houver mais de uma vara na comarca, a prevenção será do juízo em que ocorreu
primeiro a distribuição da petição inicial. Nas comarcas de vara única , a petição inicial não é
distribuída e, sim, registrada. Portanto, a prevenção não verifica com a citação nem com o
despacho que ordena o ato citatório.
Ainda sobre a prevenção, que é o fato de dois ou mais juízos serem originalmente
competentes para a mesma ação, se o imóvel se situar em mais de um Estado, comarca, seção ou
subseção judiciária, todos esses foros são competentes para as ações reais imobiliárias e, por isso, a
competência territorial será também determinada pelos critérios de prevenção (distribuição ou
registro da petição inicial), sendo que a competência do juízo prevento estender-se-á sobre todo o
imóvel (art. 60 do CPC).
Finalmente, a ação acessória também deverá ser proposta no juízo competente para a ação
principal (art. 62 do CPC). É a chamada conexão por acessoriedade).

FORO DE ELEIÇÃO OU CONTRATUAL

Foro de eleição é a cláusula em que as partes, de comum acordo, elegem o foro competente
para a propositura das ações judiciais envolvendo determinado negócio jurídico.
Através do foro de eleição é possível atribuir competência a uma comarca ou distrito, no

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âmbito estadual, ou seção ou subseção judiciária, no âmbito federal, inicialmente incompetente


para o julgamento da causa.
O que se elege é o foro e não o juízo. É, pois, nula a cláusula que estabelece a competência de
determinada vara. É que a competência de juízo é absoluta e, dessa forma, não pode ser afastada
pela vontade das partes. Não é assim possível cláusula contratual para eleger os Foros Regionais
situados na cidade de São Paulo, pois estes foros, na verdade, são varas regionais e não
propriamente foros.
Os requisitos de validade do foro de eleição são as seguintes:
a) Que se trate de competência em razão de valor da causa e do território, conforme art. 63
do CPC. Este dispositivo legal disse mais do que quis e, sendo assim, merece a interpretação
restritiva, posto que só é cabível foro de eleição nos casos de competência relativa em razão do
valor e do território. Com efeito, a competência absoluta e razão do valor da causa e do território
não admitem foro de eleição. Exemplos: Juizado Especial Federal; Juizado da Fazenda Pública
Federal; Foros Regionais de São Paulo. Nesses casos, a competência pelo valor da causa é absoluta,
sendo proibido o foro de eleição. No Juizado Estadual é possível foro de eleição para elegê-lo nas
causas de até 40 (quarenta) salários mínimos, mas nas que excederem esse valor a sua
incompetência também será absoluta.
No tocante à competência territorial, em regra, é relativa, mas também se revela absoluta
nas ações civis públicas, cuja competência é o foro local do dano, bem como nas ações reais
imobiliárias que versam sobre propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras,
nunciação de obras nova e posse (§§1º e 2º do art. 47 do CPC), sendo vedado, nessas hipóteses, a
eleição de foro. Saliente ainda que a competência funcional e a competência em razão da matéria e
da pessoa são também absolutas e, sendo assim, não admitem o foro de eleição.
b) Que o acordo conste em negócio escrito, sob pena de nulidade absoluta (§1º do art. 63 do
CPC).
c) A eleição de foro deve ainda aludir expressamente a determinado negócio jurídico.
Restringe-se assim às questões resultantes do contrato onde consta essa cláusula.
O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes (§2º do art. 63 do CPC).
O foro de eleição revela-se abusivo, por flagrante violação da ampla defesa, quando eleger
uma comarca longíngua, que dificulta a defesa. Igualmente quando é fixado em contrato de adesão
de forma prejudicial à parte aderente, mas essa cláusula será válida se não houver hipossuficiência
de uma das partes nem embaraço ao acesso à justiça.
A cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser decretada ineficaz de ofício pelo juiz, desde
que o juiz reconheça essa abusividade antes da citação (§3º do art. 63 do CPC). É, no entanto,
necessária, a prévia oitiva do autor, conforme §9º do CPC. Note-se que é o único caso de
incompetência relativa decretável de ofício pelo juiz.
Após a citação, incumbe ao réu, na contestação, sob pena de preclusão, alegar a abusividade
da cláusula de eleição de foro (§4º do art. 63 do CPC).
Vê-se assim que, após a citação, o juiz não pode decretar de ofício a abusividade do foro de
eleição, mas, nos casos de nulidade absoluta, como, por exemplo, fixação de foro de eleição em
competência absoluta, o juiz, a qualquer tempo, poderá decretar de ofício a nulidade dessa
cláusula.
Se, por outro lado, além do foro de eleição ainda houver convenção de arbitragem,
interpreta-se que o foro de eleição refere-se à futura execução da sentença arbitral.
Por fim, é ainda possível o foro de eleição internacional para se escolher o país que deverá
julgar a causa. Trata-se de um foro de eleição de jurisdição, cuja fixação é admissível nos contratos
internacionais, desde que não se trate das hipóteses de jurisdição exclusiva das autoridades
judiciárias brasileiras (art. 25 do CPC).

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PERGUNTAS:

1) Quais os fatos que podem ensejar a modificação da competência ?


2) Estes fatos aplicam-se à competência absoluta e relativa ?
3) O que é prorrogação ou dinâmica da competência?
4) O que é conexão?
5) Cite as cinco hipóteses de conexão ?
6) Qual é a diferença entre a conexão mínima e a conexão aberta ?
7) O que é continência?
8) Qual é a diferença entre continência e conexão?
9) Qual é a diferença entre continência e litispendência?
10) A continência gera a reunião dos processos ou a extinção de um deles ?
11) Qual é o efeito da conexão ?
12) É possível a reunião entre um processo da vara cível e outro da vara de família ?
13) É possível a reunião entre um processo da justiça estadual e outro da federal ?
14) A reunião dos processos em razão da conexão ou continência é obrigatória ou facultativa?
15) Até que momento pode ser alegada a conexão ou continência?
16) Os atos processuais anteriores serão anulados?
17) Perante qual juízo os processos serão reunidos ? É o juízo onde primeiro se propôs a ação? É
o que primeiro ordenou a citação ?
18) Na ação real sobre imóvel que se localiza em mais de uma comarca qual será o juízo
competente ?
19) O que é conexão por acessoriedade ?
20) O que é foro de eleição ?
21) Quais são os seus requisitos?
22) É cabível em qualquer competência territorial?
23) É cabível em qualquer competência em razão do valor da causa ?
24) Quando o foro de eleição é abusivo ?
25) O juiz pode decretar de ofício essa abusividade ? Até que momento ?
26) O foro de eleição abusivo pode ser seguido pelo réu ?
27) Se houver foro de eleição e cláusula de arbitragem , como se interpreta ?
28) É possível a cláusula de eleição de jurisdição?

COMPETÊNCIA FUNCIONAL

A competência funcional, conforme o próprio nome revela, caracteriza-se pelas funções


atribuídas, num mesmo processo, a mais de um magistrado.
Desdobra-se em três aspectos:
a) Competência hierárquica: pode ser originária e recursal. A competência originária é do
órgão jurisdicional onde se propõe a ação. Em regra, é afeta ao juízo de primeiro grau. A
competência recursal é a atribuída para o julgamento dos recursos. Em regra, pertence aos
Tribunais. Há, no entanto, vários casos de competência originária dos Tribunais. Há ainda uma
hipótese de recurso que é julgado pelo órgão jurisdicional de primeiro grau, refiro-me aos
embargos infringentes, que é o recurso cabível contra sentenças de execução fiscal cujo valor não

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exceda a 50 OTN`s, conforme art. 34 da Lei 6.830/80.


b) Competência por fases do processo: o juízo da fase de execução da sentença, em regra, é o
próprio juízo da fase de conhecimento, que prolatou a sentença condenatória. Acrescente-se ainda
que a competência funcional para a execução de sentença é concorrente: juízo que prolatou a
sentença ou juízo do atual domicílio do devedor ou juízo do local onde encontram os bens e, nas
execuções das obrigações de fazer e não fazer, há ainda a competência do juízo do local onde deva
ser cumprida a obrigação (art. 516, parágrafo único, do CPC). O fato de existir mais de um juízo
competente não torna essa competência relativa, mas apenas se confere ao credor um poder de
escolha dentre as opções previstas em lei.
c) Competência por objeto do juízo: ocorre quando o julgamento é afeto a dois órgãos
jurisdicionais que se pronunciam sobre questões distintas. No incidente de inconstitucionalidade,
por exemplo, suscitado perante os tribunais num determinado caso concreto, há a chamada
reserva de plenário, isto é, somente o Tribunal Pleno ou seu Órgão Especial poderá declarar a
inconstitucionalidade da lei. Após esse acórdão, o processo retorna para que órgão fracionário do
Tribunal (Câmara ou Turma) decida o mérito da questão. No processo penal há o exemplo do
Tribunal do Júri, em que os jurados decidem sobre a procedência ou não da acusação, ao passo que
a fixação da pena é atribuída ao juiz togado.
A competência funcional, nos seus três aspectos, é sempre absoluta. Por consequência, não
pode ser derrogada pela vontade das partes.

COMPETÊNCIA POR DELEGAÇÃO

A competência por delegação é o fato da Constituição Federal ou a lei permitir que certas
causas da Justiça Federal sejam processadas e julgadas pela Justiça Estadual.
O fundamento é o §3º do art. 109 da CF que autoriza expressamente esse fenômeno.
Por ora, as hipóteses são as seguintes:
a) As causas em que forem partes instituição de previdência social e o segurado sempre que
na comarca não houver Justiça Federal (§3º do art. 109 da CF). Assim, nas ações envolvendo o INSS,
se não houver Justiça Federal no foro do domicílio do segurado ou beneficiado, a competência de
primeiro grau será da Justiça Estadual.
b) Produção antecipada de provas, como, por exemplo, vistorias, justificações etc. destinadas
a produzir efeitos na Justiça Federal (art. 15, II, da Lei 5.010/66 e §4º do art. 381 do CPC). A
competência será da Justiça Estadual caso não haja Justiça Federal no local.
c) Usucapião especial de imóveis rurais: ainda que haja a intervenção da União, a
competência será da Justiça Estadual, no foro da situação do imóvel, caso não haja Justiça Federal
(Súmula 11 do STJ). Nas demais modalidade de usucapião, se houver a intervenção da União, a
competência será da Justiça Federal, na seção judiciária da situação do imóvel, pois a competência
por delegação, prevista no art. 4º, §1º da Lei 6969/81 refere-se, tão somente, à usucapião especial
de imóveis rurais.
Em todas as hipóteses acima, o eventual recurso será endereçado ao Tribunal Regional
Federal.
Foras dessas hipóteses, as ações da competência da Justiça Federal não poderão ser
propostas na Justiça Estadual. Se, no Município competente, não houver Justiça Federal, a
competência será da subseção da seção judiciária da Justiça Federal que abranger o referido
Município. A propósito, as ações civis públicas de competência da Justiça Federal não poderão ser
propostas na Justiça Estadual. A Súmula 183 do STJ, que determinava a competência da Justiça
Estadual, nos casos em que no local do dano não houvesse Justiça Federal, foi cancelada, pois a
competência por delegação não pode ser dar sem expressa previsão legal.

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COMPETÊNCIA ABSOLUTA E COMPETÊNCIA RELATIVA

Competência absoluta é a que não pode ser alterada pela vontade das partes, pois é regida
por normas cogentes. Ingressam nessa categoria:
a) a competência originária dos tribunais;
b) a competência da justiça comum ou especial;
c) a competência funcional;
d) a competência do juízo (vara).
Competência relativa é a que pode ser alterada pela vontade das partes, pois é regida por
normas dispositivas. Ingressam nessa categoria:
a) a competência territorial (foro, distrito, seção e subseção judiciária);
b) a competência em razão do valor da causa.
A competência do valor da causa, na verdade, é relativa para menor e absoluta para o maior,
isto é, se o valor superar o previsto para a competência, haverá incompetência absoluta, salvo se o
autor renunciar o excedente.
A competência em razão do valor da causa, no entanto, é sempre absoluta nas seguintes
hipóteses:
a) Juizado Federal;
b) Juizado da Fazenda Pública Federal;
c) Foros Regionais da Capital do Estado de São Paulo.
Anote-se ainda que a competência territorial, em algumas hipóteses, como nas ações reais
imobiliárias sobre o direito de propriedade, é também absoluta.
A incompetência absoluta gera os seguintes efeitos:
a) O juiz ou tribunal, a qualquer tempo, deve decretá-la de ofício, podendo a eventual
sentença ou acórdão ser desconstituído através da ação rescisória (art. 996, II, do CPC);
b) Pode ser alegada pelas partes, Ministério Público ou qualquer pessoa, ainda que não tenha
interesse no processo;
c) Não pode ser alterada pela vontade das partes, isto é, não admite foro de eleição;
d) Não pode ser alterada pela conexão ou continência;
e) As modificações posteriores das regras de competência desloca os processos em
andamento para o novo local quando a sua competência for absoluta (art. 43). Trata-se de exceção
ao princípio da perpetuação da competência.
A incompetência relativa, por sua vez, gera os seguintes efeitos:
a) O juiz não pode conhecê-la de ofício, salvo foro de eleição abusivo;
b) Só pode ser alegada pelo réu ou pelo Ministério Público nas causa em que atuar (parágrafo
único do art. 65 do CPC). Se o réu não argui-la na contestação, haverá preclusão (art. 65 do CPC). O
autor, por força da preclusão lógica, não pode argui-la, à medida que manifestou a vontade de
propor a ação no foro incompetente. Na denunciação da lide e chamamento ao processo, o terceiro
que ingressa como réu, pode argui-la, mas não poderá suscitá-la quando ingressar como autor. Na
oposição, o opoente é autor da ação de oposição e, por isso, não poderá alegar a incompetência
relativa.
c) Pode ser alterada pela vontade das partes, isto é, admite o foro de eleição.
d) Pode ser alterada pela conexão ou continência, enviando-se o processo para o juízo
prevento.
e) As modificações posteriores das regras de competência não desloca os processos em

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andamento para o novo local, quando a sua competência for relativa. Mantém-se os processos no
foro onde já se encontram, por força do princípio da perpetuação da competência.
A decretação da incompetência absoluta e relativa tem os seguintes pontos comuns:
a) Não geram a extinção do processo e, sim, a sua remessa ao juízo competente (§3º do art.
64 do CPC). Abrem-se exceções nos Juizados Especiais e nas causas em que a Justiça Brasileira for
incompetente, nesses casos, os processos são extintos sem resolução do mérito (art. 51, III, da Lei
9.099/95 e arts. 21 e 23 do CPC). Igualmente haverá extinção do processo na cumulação de pedidos
perante justiça incompetente, por exemplo, ação trabalhista cumulada com ação de competência
da Justiça Federal (§2º do art. 45 do CPC).
b) Salvo decisão judicial em sentido contrário, serão válidos os atos anteriores praticados pelo
juízo incompetente (§4º do art. 64 do CPC).
c) A citação válida ordenada pelo juízo incompetente induz litispendência, torna litigiosa a
coisa, constitui em mora o devedor e ainda interrompe a prescrição (art. 240, caput e §1º, do CPC).
Portanto, a citação válida, ainda que ordenada por juízo absolutamente incompetente, produz os
seus efeitos materiais e processuais. Vê-se assim a consagração do instituto da translatio iudicii ,
que é a preservação dos atos praticados por juízo incompetente.
d) O juiz decidirá imediatamente a alegação de incompetência absoluta ou relativa, mas antes
deverá abrir vista à parte contrária (§2º do art. 64 do CPC).
e) Devem ser arguidas pelo réu em preliminar da contestação (art. 337, II, do CPC). Não existe
mais a exceção de incompetência, que, no CPC anterior, era uma petição separada da contestação.
A incompetência absoluta não se sujeita à preclusão, podendo ser alegada a qualquer tempo e em
qualquer grau de jurisdição, mas a incompetência relativa deve ser arguida na contestação, sob
pena de preclusão.
f) No caso incompetência absoluta ou relativa, a contestação poderá ser protocolada no foro
do domicílio do réu, fato que será imediatamente comunicado ao juízo da causa, preferencialmente
por meio eletrônico (arts. 340 do CPC).
g) Alegada a incompetência, absoluta ou relativa, será suspensa a realização da audiência de
conciliação ou de mediação, se tiver sido designada, competindo ao juízo competente designar
nova data (§§ 3° e 4° do art. 340 do CPC).

CONFLITO DE COMPETÊNCIA

O conflito de competência pode ser:


a) positivo: quando dois ou mais juízes reputam-se competentes para a mesma ação (art.66,I).
b) negativo: quando dois ou mais juízes se declaram incompetentes para a mesma ação,
atribuindo uma o outro a competência (art.66, II).
c) também quando dois ou mais juízes divergem acerca da reunião ou separação de processos
(art.66, III). Ocorre, por exemplo, quando um dos juízes quer reunir os processos por força da
conexão ou continência, mas o outro discorda.
Não há conflito de competência em duas hipóteses:
a) se já existe sentença com trânsito em julgado proferida por um dos juízes conflitantes
(súmula 59 do STJ).
b) entre o órgão jurisdicional superior e o órgão jurisdicional inferior que lhe é vinculado,
pois, nesse caso, em razão da hierarquia, prevalece o que foi decidido pelo órgão superior. Assim,
não há conflito entre o STF e qualquer outro juízo ou Tribunal. Também não há conflito entre o STJ
e o Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal. Igualmente, não há conflito entre o Tribunal de
Justiça e juízo estadual a ele vinculado nem entre o Tribunal Regional Federal e o juízo federal a ele
vinculado, e assim por diante.

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É, no entanto, possível o conflito entre Tribunal e juiz a ele não vinculado.


O conflito de competência pode ser suscitado por qualquer das partes, pelo Ministério
Público ou pelo juiz de ofício (art.951 do CPC).
O juiz o suscita através de ofício; as partes e o Ministério Público, por petição (art.953 do
CPC). O ofício e a petição devem ser instruídos com os documentos necessários à prova do conflito.
Suscitar o conflito é pedir para o Tribunal julgar o referido conflito. Não se confunde,
portanto, com a alegação de incompetência absoluta ou relativa.
Com efeito, reconhecida a incompetência do juízo, o processo será remetido ao juízo
supostamente competente. Se este também não aceitar a competência, ele deverá suscitar o
conflito, salvo se atribuir a competência a outro juízo, conforme parágrafo único do art.66 do CPC.
Se, ao revés, o juiz aceitar a competência, ainda assim o conflito poderá ser suscitado pela outra
parte ou Ministério Público nos processos em que intervir.
Não poderá, entretanto, suscitar o conflito, a parte que, no processo, arguiu a incompetência
relativa que motivou a remessa do processo para o outro juízo que a aceitou (art.952 do CPC). De
fato, se o processo fora enviado ao juízo supostamente competente graças ao requerimento dessa
parte, ao ser aceita a competência por este outro juiz, ela não poderá rebelar-se e suscitar o
conflito, pois é proibido o venire contra factum proprium .
Quanto à parte que não arguiu a incompetência, poderá suscitar o conflito de competência
desse novo juízo que aceitou a competência (parágrafo único do art. 952 do CPC).
A competência para julgar o conflito será sempre de um Tribunal.
Com efeito, a competência será do:
a) Supremo Tribunal Federal: conflito entre Tribunais Superiores (STJ, TST, TSE e STM) ou
entre Tribunais Superiores e quaisquer tribunais (art. 102, I, o, da CF). Todavia, não há conflito entre
Tribunal Superior e o Tribunal a ele vinculado. Assim, entre TRF e STJ ou TJ e STJ não há conflito,
pois prevalecerá aquilo que o STJ decidir.
b) Superior Tribunal de Justiça (art.105, I, d, da CF): conflito entre tribunais que não sejam
superiores; entre Tribunal e juiz de primeiro grau a ele não vinculado; entre juízes vinculados a
tribunais diferentes. Exemplos: conflito entre TJ de São Paulo e TJ da Bahia; conflito entre TRF e
TRT; conflito entre juiz de primeiro grau de São Paulo e juiz de primeiro grau de Minas Gerais.
c) Tribunal Regional do Trabalho: conflitos entre juiz estadual e juiz do trabalho (súmula 180
do STJ e art. 114, V, da CF).
d) Tribunal de Justiça: os conflitos entre os juízes de primeiro grau a ele vinculados.
e) Tribunal Regional Federal: os conflitos entre juízes federais a ele vinculados. Se os juízes
federais estivere vi culados a TRF’s de regiões disti tas, a co petê cia será do “TJ. Os co flitos
de competência entre Juizado Especial Federal e Juízo Federal da mesma seção judiciária será da
competência do Tribunal Regional Federal (súmula 428 do STJ).
O conflito de competência é um incidente processual. Não é ação nem recurso.
Após a distribuição da petição ou ofício, o relator determinará a oitiva dos juízes em conflito
ou de apenas um deles se o conflito tiver sido suscitado pelo outro, fixando prazo para essas
informações (art. 954 e parágrafo único do CPC).
No conflito positivo, o relator poderá, de ofício, determinar a suspensão do processo e, nesse
caso, bem como no conflito negativo, nomeará um dos juízes para resolver em caráter provisório as
medidas urgentes (art.955 do CPC).
O próprio relator poderá julgar de plano e monocraticamente o conflito de competência
quando a questão se encontrar pacificada através de súmula do STF ou STJ ou do próprio Tribunal
ou em tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de
competência (parágrafo único do art. 955 do CPC). Desse julgamento monocrático caberá o recurso
de agravo interno.

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Se não for o caso de julgamento monocrático, após o prazo para os magistrados em conflitos
prestarem as informações, o Ministério Público deve manifestar-se em cinco dias.
Ao decidir o conflito, o Tribunal deverá declarar qual juízo é o competente e ainda
pronunciar-se sobre a validade dos atos praticados pelo juízo incompetente.
Após o julgamento, os autos do processo em que se manifestou o conflito são remetidos ao
juiz competente.

PERGUNTAS:

1) O que é competência funcional e quais os seus três aspectos?


2) Explique a competência hierárquica.
3) Explique a competência por fases do processo.
4) Explique a competência por objeto do juízo.
5) A competência funcional pode ser alterada pela vontade das partes?
6) O que é competência por delegação e qual o seu fundamento?
7) Quais as três hipóteses de competência por delegação?
8) O que dizia a súmula 183 do STJ?
9) O que é competência absoluta e quais as suas hipóteses?
10) O que é competência relativa e quais as suas hipóteses?
11) A competência em razão do valor da causa é absoluta em quais hipóteses?
12) A competência territorial é sempre relativa?
13) O juiz ou Tribunal pode decretar de ofício a incompetência absoluta e relativa?
14) Até que momento pode ser alegada a incompetência absoluta ou relativa?
15) Quem pode alegar a incompetência absoluta ou relativa?
16) É cabível foro de eleição na competência absoluta ou relativa?
17) Se houver conexão ou continência, desloca-se a competência para uma das ações?
18) A modificação posterior das regras de competência absoluta ou relativa atrairão os
processos em andamento?
19) Na intervenção de terceiros, o terceiro pode alegar a incompetência relativa?
20) A incompetência do juízo gera a extinção do processo ou a sua remessa para o juízo
competente? Quais são as exceções?
21) São nulos os atos praticados pelo juízo incompetente?
22) O que é translatio iudicii ? Dê exemplos.
23) A incompetência absoluta ou relativa pode ser arguida fora do juízo do processo?
24) Qual a diferença entre conflito positivo e conflito negativo de competência? Há outro tipo
de conflito de competência?
25) Quais as duas hipóteses em que não há conflito de competências?
26) É possível conflito de competência entre juiz e tribunal?
27) Quem pode suscitar o conflito?
28) O juiz que reconhece a sua incompetência, suscita o conflito ou remete os autos para o
juízo supostamente incompetente?
29) A parte que alegou a incompetência relativa pode suscitar o conflito?

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30) Quais conflitos são julgados pelo STF?


31) E pelo STJ?
32) E pelo TJ?
33) E pelo TRF?
34) Quem julga o conflito entre juízes federais vi culados a TRF’s disti tos?
35) Quais as hipóteses em que o relator julgará monocraticamente o conflito?
36) O que deve conter a decisão do tribunal que julga o conflito?

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