Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
COMPETÊNCIA
CONCEITO
Competência é o poder que tem um órgão jurisdicional de fazer atuar a jurisdição diante de
um caso concreto.
Não é correto definir a competência como sendo o limite ou medida da jurisdição.
A jurisdição, a rigor, não é limitada, tanto é que a decisão judicial produz efeitos sobre todo o
território nacional. O que é limitado, na verdade é a competência, isto é, o âmbito de atuação de
cada magistrado. Assim, cada juiz só pode atuar dentro dos limites da sua competência. Por isso, o
art. 42 do CPC salienta que as causas cíveis serão processadas e decididas pelo juiz nos limites de
sua competência, ressalvado às partes o direito de instituir juízo arbitral, na forma da lei.
FUNDAMENTO
1
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A justiça brasileira tem competência apenas para as causas dos arts. 21 a 23 do CPC. Fora
dessas hipóteses, o processo deve ser extinto sem resolução do mérito; o processo não será
enviado ao país supostamente competente, sob pena de ofensa à soberania estrangeira.
As causas dos arts. 21 e 22 do CPC são de jurisdição concorrente ou cumulativa, isto é, podem
ser julgadas tanto no Brasil quanto pela justiça de outro país. Nesses casos, se a mesma ação
tramitar na justiça brasileira e na justiça de outro país, não haverá litispendência. Com efeito, a
existência de processo no exterior não obsta a tramitação de processo idêntico no Brasil. Aliás,
ainda que haja o trânsito em julgado de uma sentença estrangeira não homologada no Brasil, nada
obsta que a mesma ação seja aqui proposta.
Com efeito, a sentença estrangeira só pode surtir efeitos no Brasil após a sua homologação
pelo Superior Tribunal de Justiça. Antes dessa homologação, será um ato ineficaz, salvo na hipótese
de divórcio consensual e em outras previstas em Tratados que dispensam a referida homologação,
nos termos do art. 961, §5º, do CPC.
Sobre o assunto, dispõe o art. 24 do CPC:
A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a
autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhes são conexas, ressalvadas as
disposições em contrário de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil .
Assim, enquanto não homologada a sentença estrangeira, pelo Superior Tribunal de Justiça,
nada obsta que a mesma ação seja proposta perante a justiça brasileira.
E, da mesma forma, a pendência de causa perante a jurisdição brasileira não impede a
homologação de sentença judicial estrangeira, conforme parágrafo único do art. 24 do CPC. Em tal
situação a sentença brasileira só prevalecerá se transitar em julgado antes da homologação da
sentença estrangeira. Se, ao revés, a homologação da sentença estrangeira ocorrer primeiro que o
trânsito em julgado da sentença brasileira, a primazia será dada à sentença estrangeira.
Força convir, portanto, que só a coisa julgada da sentença brasileira impede a homologação
da sentença estrangeira, cujo processo de homologação, nesse caso, deverá ser extinto sem
resolução do mérito.
Igualmente, uma vez homologada pelo STJ a sentença estrangeira, extingue-se sem resolução
do mérito o processo que tramita no Brasil, por força da coisa julgada da sentença estrangeira.
Ainda sobre esses casos de competência internacional concorrente, previstos nos arts. 21 e 22
do CPC, exclui-se a competência da justiça brasileira quando houver cláusula de eleição de foro
exclusivo no estrangeiro em contrato internacional, arguida pelo réu na contestação (art. 25 do
CPC). Se o réu não arguiu na contestação opera-se a preclusão e, em razão disso, o processo poderá
tramitar perante a justiça brasileira.
Por outro lado, o art. 23 do CPC prevê os casos de competência internacional exclusiva da
justiça brasileira, vedando-se assim a homologação de sentença estrangeira e a cláusula de eleição
de foro estrangeiro. Nessas causas do art. 23 do CPC, a eventual sentença estrangeira será um ato
2
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
3
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
4
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Em relação à competência originária do STJ, prevista no art. 105 da CF, em matéria cível, é a
seguinte:
a) Mandados de segurança e habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes
da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio STJ.
b) Conflito de competência entre quaisquer tribunais que não sejam Tribunais Superiores.
Exemplo: conflito entre os Tribunais de Justiça de São Paulo e Minas Gerais.
c) Conflito entre Tribunais e juízes a ele não vinculados. Exemplo: conflito entre juiz estadual
do Rio Grande do Sul e Tribunal de Justiça da Bahia.
d) Conflito entre juízes vinculados a tribunais diversos. Exemplo: conflito entre juiz estadual e
juiz federal. Todavia, o conflito entre juiz estadual e juiz do trabalho é julgado pelo Tribunal
Regional do Trabalho (súmula 180 do STJ).
e) Reclamação para preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas
decisões.
f) Ações rescisórias de seus julgados.
g) Conflito de atribuições entre autoridades administrativas e judiciárias da União, ou entre
autoridades judiciárias de um Estado e administrativa de outro ou do Distrito Federal, ou entre as
deste e da União.
h) Mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for de atribuição
de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração direta ou indireta, excetuados os casos
da competência do STF e dos órgãos da justiça especial (militar, eleitoral e trabalhista) e dos órgãos
da justiça federal.
i) Homologação de sentença estrangeira.
j) Exequatur às cartas rogatórias.
Quanto à competência originária dos Tribunais Regionais Federais, concentra-se no art. 108
da CF, que, em matéria cível, abrange:
a) Os mandados de segurança e habeas data contra ato do próprio TRF ou de juiz federal.
b) Ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da região.
c) Conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao TRF. A súmula 3 do STJ dispõe
que: Compete ao Tribunal Regional Federal dirimir conflito de competência verificado, na
respectiva região, entre Juiz Federal e Juiz Estadual investido de jurisdição federal . Esta súmula
abrange as causas de competência delegada, isto é, que podem ser julgadas pela justiça estadual
quando não houver vara federal. A súmula 428 do STJ reza que: Compete ao Tribunal Regional
Federal decidir os conflitos de competência entre juizado especial federal e juízo federal da mesma
seção judiciária .
Por fim, em relação à competência originária dos Tribunais de Justiça Estaduais, as hipóteses
devem ser previstas nas respectivas Constituições Estaduais, conforme §1º do art. 125 da CF.
Exemplo: mandado de segurança contra ato de Governador ou Secretário de Estado; conflito entre
juízes estaduais do mesmo Estado. O Código de Processo Civil ainda prevê a competência originária
dos Tribunais de Justiça para as ações rescisórias de julgados seus ou das sentenças de juízes aos
respectivos tribunais de justiça.
5
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
PERGUNTAS:
6
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
7
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
8
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Trata-se das ações em que, de um lado, seja como autor ou réu, figura Estado estrangeiro ou
organismo internacional como ONU, FMI, OIT, BIRD, etc , e, do outro lado, o Município ou pessoa
residente ou domiciliada no Brasil. A competência é da justiça federal, independentemente da
matéria em discussão, pois o critério adotado é o da qualidade da parte. A expressão organismo
internacional não se refere às empresas multinacionais.
Quando às ações trabalhistas que envolvem esses entes é da Justiça do Trabalho.
Na ação entre Estados estrangeiros ou organismo internacional e União, Estados-Membros ou
Distrito Federal, a competência será originária do STF, conforme art. 102, I, e, da CF.
Aqui, para que a competência seja da Justiça Federal, não é necessário que a União figure
como parte ou terceiro interveniente no processo. Exemplos: ação de alimentos movida pelo
Procurador Geral da República, como substituto processual do alimentado residente no exterior,
com base no Tratado de Nova Iorque; ação de busca e apreensão de menor trazida irregularmente
para o Brasil, com base na Convenção de Haia.
Acrescente-se que só é da competência da justiça federal as ações que tenham por objeto
essencial as obrigações contidas em Tratados. A competência para as ações de indenização por
danos em mercadorias no transporte aéreo é da Justiça Estadual, ainda que se discuta a Convenção
de Varsóvia relativamente ao limite da responsabilidade do transportador, pois as obrigações
essenciais são previstas no direito interno brasileiro.
9
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
12.016/2009).
Equipara-se à autoridade, para efeito de mandado de segurança ou habeas data, os
delegatários de serviços públicos, sejam eles pessoas naturais ou pessoas jurídicas. Exemplo:
instituição privada de ensino superior.
No caso do exercício da função delegada, não caberá mandado de segurança contra atos de
mera gestão comercial, mas apenas contra atos relacionados ao exercício da função delegada. A
súmula 34 do STJ dispõe que compete à Justiça Estadual processar e julgar causa relativa à
mensalidade escolar, cobrada por estabelecimento particular de ensino, pois se trata de ato de
mera gestão, que não se relaciona ao exercício da função pública.
Quem homologa a sentença estrangeira é o STJ, mas a sua execução é no juízo federal de
primeiro grau.
O art. 32, §4º, da Lei 6.015/73, prevê que os filhos de brasileiro ou brasileira, nascidos no
estrangeiro, podem optar pela nacionalidade brasileira perante o juízo federal. Portanto, qualquer
causa referente à nacionalidade, inclusive o exercício do direito de opção, é da competência da
Justiça Federal.
Quanto à ação de inclusão de patronímico por brasileira naturalizada, bem como a ação de
retificação do registro civil em razão da perda ou aquisição da nacionalidade são da competência da
Justiça Estadual.
A competência da Justiça Federal, de acordo com o STF e STJ, refere-se apenas aos direitos
coletivos dos índios. Quanto aos direitos individuais de cada índio, por exemplo, pedido de alvará
judicial para levantamento de valor depositado em caderneta de poupança, a competência é da
Justiça Estadual. A propósito, na área penal, também compete à Justiça Estadual processar e julgar
crime praticado por índio ou contra índio, pois essa causa não se refere à esfera coletiva dos índios
(súmula 140 do STJ).
Os direitos indígenas coletivos, que justificam a competência da Justiça Federal são os
seguintes:
a) Organização social dos índios, inclusive, seus costumes, línguas, crenças e tradições (art.
231 da CF);
b) Terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, que, inclusive, devem ser demarcadas e
protegidas pela União (art. 231 da CF);
c) Utilização dos recursos naturais dessas terras (§3º do art. 231 da CF).
Qualquer ação judicial na qual se discuta esses direitos será da competência da Justiça
Federal.
10
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
PERGUNTAS:
11
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
12
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
13
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
14
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Em havendo cumulação de ações reais sobre imóveis com ações pessoais, prevalece o foro
absoluto do local da situação do bem, quando o litígio versar sobre direito de propriedade ou
outros direitos mencionados no §1º do art. 47 do CPC.
Convém esclarecer que as ações pessoais sobre imóveis seguem a regra geral da competência
no domicílio do réu. Exemplo: ação pauliana; ações edilícias, etc.
JUÍZO COMPETENTE
15
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
ajuizamento da ação no Juizado Especial. Mas, no que ultrapassar o valor de 40 (quarenta) salários
mínimos, haverá uma incompetência absoluta do Juizado Especial, tanto é que o art. 39 da Lei
9.099/95 reputa ineficaz a sentença condenatória na parte que exceder a alçada estabelecida nesta
lei.
Resumindo: a competência é relativa até 40 (quarenta) salários mínimos e absoluta no que
exceder.
b) Competência do Juizado Especial Federal: é para as causas de até 60 (sessenta) salários
mínimos. Onde houver esse Juizado, a competência será absoluta, isto é, não se poderá mover a
ação noutro juízo (art. 3º, da Lei 10.259/2001).
c) Competência do Juizado Especial da Fazenda Pública Federal: é para as causas de até 60
(sessenta) salários mínimos, cuja competência também é absoluta (art. 2º, §4º, da Lei
12.153/2009).
d) Competência dos Foros Regionais da Capital do Estado de São Paulo: é para as causas de
até 500 (quinhentos) salários mínimos , ao passo que no foro central a competência é somente para
as causas que ultrapassam esse valor. Quanto às ações reais imobiliárias, qualquer que seja valor de
imóvel, poderão ser propostas no Foro Regional ou no Foro Central onde se localizar a coisa. De
acordo com a jurisprudência a competência dos Foros Regionais e do Foro Central é absoluta.
Cumpre ainda acrescentar que a criação de juízos (varas) depende de lei estadual, cujo
projeto é de iniciativa do Tribunal de Justiça (§1º do art. 125 da CF). Igualmente, a criação de
comarcas e distritos. Já a criação de seção ou subseção judiciária da Justiça Federal depende de lei
federal, bem como a criação de juízos federais.
A definição da comarca competente é atribuição das leis processuais de âmbito nacional
(exemplo: Código de Processo Civil), ao passo que a indicação da vara competente é tarefa das
normas estaduais de Organização Judiciária (leis estaduais e provimentos administrativos),
conforme dispõe o art. 125 da CF, e, no âmbito federal , das normas de organização judiciária da
justiça federal.
16
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
PERGUNTAS:
17
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA
18
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
julgado.
CONEXÃO E CONTINÊNCIA
Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de
pedir (art. 55 do CPC). Há, pois, entre as ações uma identidade de pedidos ou da causa de pedir.
Basta que uma das causas de pedir, a próxima ou a remota, seja comum.
Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão conjunta, salvo se um deles já
houver sido sentenciado (§1º do art. 55 do CPC e Súmula 235 do STJ).
O efeito da conexão, que é a reunião dos processos para julgamento comum, aplica-se ainda
que a conexão de pedidos ou causa de pedir se verifique entre:
a) A execução de título extrajudicial e a ação de conhecimento relativa ao mesmo ato jurídico.
Há entre essas ações de conhecimento e execução uma relação de prejudicialidade. Exemplos: ação
de nulidade e ação de execução do mesmo contrato.
b) Execuções fundadas no mesmo título executivo. Exemplos: credores solidários que
executam o devedor em processos distintos valendo-se do mesmo título executivo. Assim, essas
execuções devem tramitar no mesmo processo.
O §3º do art. 55 ainda equipara à conexão, ordenando a reunião para julgamento conjunto,
os processos que, mesmo sem conexão, possam gerar risco de decisões conflitantes ou
contraditórias caso decididos separadamente. Exemplos: ação de execução fiscal e ação anulatória
de auto de infração; ação de alimentos movida pelo filho menor em face do pai e ação de guarda
desse filho movida pelo pai; ações de despejo por falta de pagamento e consignação em
pagamento sobre o mesmo contrato.
Adotou-se, como se vê, um sistema de conexão mais aberto ou flexível, pois a conexão
mínima, isto é, restrita à identidade do pedido ou causa de pedir, não resolvia todos os problemas
práticos de necessidade de reunião dos processos para julgamento conjunto.
Por outro lado, verifica-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver
identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange
o das demais (art. 56 do CPC). Exige-se, pois, que, em ambas as ações, as partes e a causa de pedir
sejam as mesmas e ainda que o pedido de uma das ações, por ser mais abrangente, compreenda
também o pedido da outra ação, ou seja, os pedidos são diferentes, mas um engloba o outro.
Exemplo: numa ação pedido é de anulação de uma das cláusulas do contrato e na outra ação
pleiteia-se a nulidade de todo o contrato. Na continência sempre há conexão na fundamentação
das ações, pois as causas de pedir devem ser as mesmas, todavia, na continência ainda se exige a
identidade das partes, fato que não é necessário na conexão. A conexão, por sua vez, ainda pode
ocorrer pela identidade dos pedidos, ao passo que na continência os pedidos são distintos, embora
um esteja contido no outro. Por fim, a conexão pode ocorrer sem que haja coincidência das causas
de pedir, sendo que na continência as causas de pedir necessariamente são as mesmas.
19
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Foro de eleição é a cláusula em que as partes, de comum acordo, elegem o foro competente
para a propositura das ações judiciais envolvendo determinado negócio jurídico.
Através do foro de eleição é possível atribuir competência a uma comarca ou distrito, no
20
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
21
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
PERGUNTAS:
COMPETÊNCIA FUNCIONAL
22
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A competência por delegação é o fato da Constituição Federal ou a lei permitir que certas
causas da Justiça Federal sejam processadas e julgadas pela Justiça Estadual.
O fundamento é o §3º do art. 109 da CF que autoriza expressamente esse fenômeno.
Por ora, as hipóteses são as seguintes:
a) As causas em que forem partes instituição de previdência social e o segurado sempre que
na comarca não houver Justiça Federal (§3º do art. 109 da CF). Assim, nas ações envolvendo o INSS,
se não houver Justiça Federal no foro do domicílio do segurado ou beneficiado, a competência de
primeiro grau será da Justiça Estadual.
b) Produção antecipada de provas, como, por exemplo, vistorias, justificações etc. destinadas
a produzir efeitos na Justiça Federal (art. 15, II, da Lei 5.010/66 e §4º do art. 381 do CPC). A
competência será da Justiça Estadual caso não haja Justiça Federal no local.
c) Usucapião especial de imóveis rurais: ainda que haja a intervenção da União, a
competência será da Justiça Estadual, no foro da situação do imóvel, caso não haja Justiça Federal
(Súmula 11 do STJ). Nas demais modalidade de usucapião, se houver a intervenção da União, a
competência será da Justiça Federal, na seção judiciária da situação do imóvel, pois a competência
por delegação, prevista no art. 4º, §1º da Lei 6969/81 refere-se, tão somente, à usucapião especial
de imóveis rurais.
Em todas as hipóteses acima, o eventual recurso será endereçado ao Tribunal Regional
Federal.
Foras dessas hipóteses, as ações da competência da Justiça Federal não poderão ser
propostas na Justiça Estadual. Se, no Município competente, não houver Justiça Federal, a
competência será da subseção da seção judiciária da Justiça Federal que abranger o referido
Município. A propósito, as ações civis públicas de competência da Justiça Federal não poderão ser
propostas na Justiça Estadual. A Súmula 183 do STJ, que determinava a competência da Justiça
Estadual, nos casos em que no local do dano não houvesse Justiça Federal, foi cancelada, pois a
competência por delegação não pode ser dar sem expressa previsão legal.
23
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Competência absoluta é a que não pode ser alterada pela vontade das partes, pois é regida
por normas cogentes. Ingressam nessa categoria:
a) a competência originária dos tribunais;
b) a competência da justiça comum ou especial;
c) a competência funcional;
d) a competência do juízo (vara).
Competência relativa é a que pode ser alterada pela vontade das partes, pois é regida por
normas dispositivas. Ingressam nessa categoria:
a) a competência territorial (foro, distrito, seção e subseção judiciária);
b) a competência em razão do valor da causa.
A competência do valor da causa, na verdade, é relativa para menor e absoluta para o maior,
isto é, se o valor superar o previsto para a competência, haverá incompetência absoluta, salvo se o
autor renunciar o excedente.
A competência em razão do valor da causa, no entanto, é sempre absoluta nas seguintes
hipóteses:
a) Juizado Federal;
b) Juizado da Fazenda Pública Federal;
c) Foros Regionais da Capital do Estado de São Paulo.
Anote-se ainda que a competência territorial, em algumas hipóteses, como nas ações reais
imobiliárias sobre o direito de propriedade, é também absoluta.
A incompetência absoluta gera os seguintes efeitos:
a) O juiz ou tribunal, a qualquer tempo, deve decretá-la de ofício, podendo a eventual
sentença ou acórdão ser desconstituído através da ação rescisória (art. 996, II, do CPC);
b) Pode ser alegada pelas partes, Ministério Público ou qualquer pessoa, ainda que não tenha
interesse no processo;
c) Não pode ser alterada pela vontade das partes, isto é, não admite foro de eleição;
d) Não pode ser alterada pela conexão ou continência;
e) As modificações posteriores das regras de competência desloca os processos em
andamento para o novo local quando a sua competência for absoluta (art. 43). Trata-se de exceção
ao princípio da perpetuação da competência.
A incompetência relativa, por sua vez, gera os seguintes efeitos:
a) O juiz não pode conhecê-la de ofício, salvo foro de eleição abusivo;
b) Só pode ser alegada pelo réu ou pelo Ministério Público nas causa em que atuar (parágrafo
único do art. 65 do CPC). Se o réu não argui-la na contestação, haverá preclusão (art. 65 do CPC). O
autor, por força da preclusão lógica, não pode argui-la, à medida que manifestou a vontade de
propor a ação no foro incompetente. Na denunciação da lide e chamamento ao processo, o terceiro
que ingressa como réu, pode argui-la, mas não poderá suscitá-la quando ingressar como autor. Na
oposição, o opoente é autor da ação de oposição e, por isso, não poderá alegar a incompetência
relativa.
c) Pode ser alterada pela vontade das partes, isto é, admite o foro de eleição.
d) Pode ser alterada pela conexão ou continência, enviando-se o processo para o juízo
prevento.
e) As modificações posteriores das regras de competência não desloca os processos em
24
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
andamento para o novo local, quando a sua competência for relativa. Mantém-se os processos no
foro onde já se encontram, por força do princípio da perpetuação da competência.
A decretação da incompetência absoluta e relativa tem os seguintes pontos comuns:
a) Não geram a extinção do processo e, sim, a sua remessa ao juízo competente (§3º do art.
64 do CPC). Abrem-se exceções nos Juizados Especiais e nas causas em que a Justiça Brasileira for
incompetente, nesses casos, os processos são extintos sem resolução do mérito (art. 51, III, da Lei
9.099/95 e arts. 21 e 23 do CPC). Igualmente haverá extinção do processo na cumulação de pedidos
perante justiça incompetente, por exemplo, ação trabalhista cumulada com ação de competência
da Justiça Federal (§2º do art. 45 do CPC).
b) Salvo decisão judicial em sentido contrário, serão válidos os atos anteriores praticados pelo
juízo incompetente (§4º do art. 64 do CPC).
c) A citação válida ordenada pelo juízo incompetente induz litispendência, torna litigiosa a
coisa, constitui em mora o devedor e ainda interrompe a prescrição (art. 240, caput e §1º, do CPC).
Portanto, a citação válida, ainda que ordenada por juízo absolutamente incompetente, produz os
seus efeitos materiais e processuais. Vê-se assim a consagração do instituto da translatio iudicii ,
que é a preservação dos atos praticados por juízo incompetente.
d) O juiz decidirá imediatamente a alegação de incompetência absoluta ou relativa, mas antes
deverá abrir vista à parte contrária (§2º do art. 64 do CPC).
e) Devem ser arguidas pelo réu em preliminar da contestação (art. 337, II, do CPC). Não existe
mais a exceção de incompetência, que, no CPC anterior, era uma petição separada da contestação.
A incompetência absoluta não se sujeita à preclusão, podendo ser alegada a qualquer tempo e em
qualquer grau de jurisdição, mas a incompetência relativa deve ser arguida na contestação, sob
pena de preclusão.
f) No caso incompetência absoluta ou relativa, a contestação poderá ser protocolada no foro
do domicílio do réu, fato que será imediatamente comunicado ao juízo da causa, preferencialmente
por meio eletrônico (arts. 340 do CPC).
g) Alegada a incompetência, absoluta ou relativa, será suspensa a realização da audiência de
conciliação ou de mediação, se tiver sido designada, competindo ao juízo competente designar
nova data (§§ 3° e 4° do art. 340 do CPC).
CONFLITO DE COMPETÊNCIA
25
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
26
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Se não for o caso de julgamento monocrático, após o prazo para os magistrados em conflitos
prestarem as informações, o Ministério Público deve manifestar-se em cinco dias.
Ao decidir o conflito, o Tribunal deverá declarar qual juízo é o competente e ainda
pronunciar-se sobre a validade dos atos praticados pelo juízo incompetente.
Após o julgamento, os autos do processo em que se manifestou o conflito são remetidos ao
juiz competente.
PERGUNTAS:
27
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
28