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69ª Reunião Anual da SBPC - 16 a 22 de julho de 2017 - UFMG - Belo Horizonte/MG

SÍNDROME DE DOWN: AS DIFICULDADES E AS EXPECTATIVAS: UM


ESTUDO REALIZADO NA CIDADE DE CARUARU-PE.

Maria Vitória Pereira da Silva1, Cirana Raquel Vasconcelos Dantas² Maria Joselma do
Nascimento Franco³
1.Estudante de IC do Colégio Diocesano de Caruaru.2. Orientadora da Iniciação Científica
do Colégio Diocesano de Caruaru 3. Consultora da Iniciação Científica

Resumo: dificuldades enfrentadas pelos


O estudo tem como objeto a Síndrome portadores de SD? Quais as
de Down (SD). Realizado em 2016, expectativas que as mães possuem em
resulta da experiência do projeto de relação aos filhos com SD? Visando
iniciação científica do Colégio mostrar a síndrome do ponto de vista
Diocesano (Caruaru-PE). A pesquisa social, nos questionamos acerca de
tem como objetivo geral conhecer as como as pessoas ressignificam seus
dificuldades e as expectativas de mães modelos e suas relações interpessoais
que têm filhos com SD. E os para incluí-lo no âmbito social. A partir
específicos 1) conceituar a Síndrome de estudos, faz-se necessário
de Down; 2) identificar, através de responder às dúvidas sobre de que
relatos das mães, as principais maneira a ambivalência notada nas
dificuldades, e as expectativas relações com pessoas que têm SD
enfrentadas pelos SD. O procedimento influencia no seu desenvolvimento.
metodológico consistiu em um Temos como hipóteses que, além
questionário misto e conversa informal. da dificuldade de locomoção e o
Participaram da pesquisa cinco mães desenvolvimento lento da
cujos filhos são pessoas com SD. O aprendizagem, as pessoas com SD
aporte teórico tomou por base Sigaud- lidam com muitos outros desafios. São
Reis (1999), Pueschel (1999), Varela vistas pela sociedade como seres
(2014) e Shwartzman (2003). Os dependentes, que necessitam sempre
resultados mostram que, mesmo com de outros para a realização de
todo o avanço existente acerca da atividades básicas. Diante do exposto,
Síndrome de Down, a mentalidade temos como objetivo geral conhecer as
materna não apresentou avanços dificuldades e as expectativas de de
significativos. De fato, estas mães pessoa com Síndrome de Down. Como
lidam com a dualidade de seus próprios objetivos específicos, procuramos:
sentimentos, ao mesmo tempo em que conceituar a Síndrome de Down;
tentam incessantemente mostrar à identificar através de relatos das mães
sociedade que não há problema algum as principais dificuldades e as
com seus filhos tentam superprotege- expectativas enfrentadas pelos SD.
los. Este estudo justifica-se pela
relevância social em abordar um tema
Palavras-chave: Síndrome de Down; que ainda é pouco debatido, e por
família; inclusão. apresentar elementos explicativos
sobre a síndrome, ajudando as
Trabalho selecionado para a JNIC pessoas a terem acesso ao
pela instituição: CDC conhecimento de como lidar
socialmente com as pessoas com SD.
Neste caso, esta pesquisa pode ajudar
Introdução: a minimizar, quando não for possível
eliminar, os estigmas com os quais as
Na perspectiva em que abordamos pessoas com SD lidam, ampliando
a Síndrome de Down, optamos por
questionar: quais as principais
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assim o campo de conhecimento por cromossômico. Entretanto, segundo


parte da sociedade acerca da SD. Pueschel (1999, p.54), os exames
laboratoriais daquela época não eram
Metodologia: suficientemente avançados para
comprovar o problema cromossômico.
Impulsionada pelo intuito de
abordar a síndrome do ponto de vista A síndrome de Down é causada
social e conhecer os obstáculos que a pela presença de três cromossomos 21
deficiência provoca nas relações em todas ou na maior parte das células
interpessoais entre as pessoas com SD de um indivíduo. Isso ocorre na hora da
e as que dele se aproximam, optamos concepção de uma criança. As pessoas
por uma pesquisa de natureza com síndrome de Down, ou trissomia
qualitativa. A coleta de dados realizou- do cromossomo 21, têm 47
se com 5 mães que têm filhos com SD cromossomos em suas células em vez
da cidade de Caruaru-PE. Como de 46, como a maior parte da
instrumento de coleta, utilizamos um população. Como afirma Pueschel
questionário misto, composto por (1999): “Nos últimos anos, aprendemos
questões abertas e fechadas, que não é o cromossomo 21 extra
envolvendo o histórico de cada família inteiro e sim apenas um pequeno
em relação às pessoas com SD. Para segmento do braço longo desse
responder ao primeiro objetivo cromossomo, que é responsável pelos
específico (conceituar a síndrome problemas observados em crianças
Down), recorremos a um estudo com síndrome de Down.” (PUESCHEL
bibliográfico, e para responder ao 1999 p.62).
segundo (identificar através de relatos
das mães as principais dificuldades, e Segundo Varela (2014), a
as expectativas enfrentadas pelos SD) Síndrome de Down, ou trissomia do
fomos ao questionário, tendo como cromossomo 21, é uma alteração
eixo I as dificuldades que o portador genética causada por um erro na
enfrenta cotidianamente, e como eixo II divisão celular durante a divisão
as principais expectativas que marcam embrionária. Os portadores da
a vida desses sujeitos. síndrome, em vez de dois
cromossomos no par 21, possuem três.
Resultados e Discussão: Infelizmente até hoje ainda não se sabe
por que isso acontece.
A questão da ambivalência Uma pessoa com Síndrome de
emocional, termo abordado com Down possui algumas características
veemência quando se trata de SD do bem acentuadas, dentre elas: olhos
ponto de vista sócioafetivo, por parecidos com os dos orientais, rosto
exemplo, é a oscilação entre o mais arredondado, mãos e orelhas
sentimento de decepção por não ter pequenas. Além disso, a pessoa possui
dado à luz um filho “perfeito” e o amor dificuldade na fala, dificuldades
à criança gerada, natural da motoras, comprometimento intelectual
maternidade. Segundo Sigaud-Reis e, consequentemente, aprendizagem
(1999), não se trata de negar a mais lenta e, ainda segundo Varela
deficiência, e sim de aceitá-la, (2014), em 50% dos casos,
compreendê-la enquanto tal, sem, cardiopatias.
contudo, conferir-lhe um juízo social de
valor; a criança com SD ou outra Shwartzman (2003) também
deficiência não é inferior ou anormal, é afirma que a SD é uma
apenas possuidora de diferenças cromossomopatia, ou seja, uma
genéticas. síndrome "cujo quadro clínico global
Em 1930, os médicos já deve ser explicado por um desequilíbrio
suspeitavam que a síndrome de Down na constituição cromossômica", no
ocorria devido a um problema
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caso, a presença de um cromossomo poderiam vir a agregar na vida de uma


extra no par 21, caracterizando a pessoa com SD, podendo variar de
trissomia do 21. O desenvolvimento família para família.
motor ocorre de forma mais lenta do Conclusão:
que o das outras crianças, levando Os resultados nos mostraram,
mais tempo para engatinhar, sentar-se respondendo ao nosso primeiro
e andar. Ainda segundo Shwartzman objetivo especifico, que a síndrome de
(2003), isso pode estar relacionado à Down é de fato causada por uma
hipotonia muscular típica da SD. alteração genética produzida pela
presença de um cromossomo a mais, o
Em relação ao primeiro eixo do par 21, por isso que também é
questionário, que tratou das principais conhecida como trissomia 21.
dificuldades, quando interrogamos Em relação ao nosso segundo
sobre o que tem sido mais difícil de objetivo especifico, conhecer as
enfrentar, 20% das mães responderam dificuldades e as expectativas para
que o obstáculo tem sido a com as pessoas com Síndrome de
personalidade do portador, 20% Down; consideramos que as
disseram que as dificuldades como a dificuldades estão centradas
locomoção e o aprendizado têm sido o principalmente no que tange à
problema, enquanto 60% afirmaram aprendizagem e autonomia. Neste
que a maior barreira é o preconceito caso, a superproteção radical e a
das pessoas. ambivalência emocional foram notadas
sem dificuldade, já que existe o afeto
Em relação ao segundo eixo, ou pelo filho, e não se contesta isso, mas
seja, às expectativas, para com existe uma “consciência” de que aquele
pessoas com DS, foi possível observar filho não crescerá de forma equiparada
que 80% das mães responderam de às outras crianças. No que tange às
maneira hesitante e isto, de acordo expectativas, podemos perceber
com Sigaud-Reis (1999), é porque o através dos dados que se espera que a
filho é apreendido como eterna criança, pessoa com SD possa desenvolver
mantendo-se na condição infantil potencialidades comuns às outras
indefinidamente por impossibilidade de pessoas, mas as mães reconhecem
desenvolver papéis sociais do adulto. É que isso se trata de um processo lento
possível que a criança com Síndrome e substancial.
de Down tenha potencialidades para ir
além desta posição, mas que não o Retomando nossa hipótese inicial,
faça devido às restrições que lhe são apresentamos que, além da dificuldade
impostas.“Ele se esforça o máximo que de locomoção e do desenvolvimento
pode. Não descarto nenhuma lento da aprendizagem, as pessoas
possibilidade, mas também não posso com SD lidam com muitos outros
me iludir.” (Mãe 2, entrevista, 2016). desafios e são vistos pela sociedade
O extrato acima nos faz conceber que como seres dependentes, que
as terapias realizadas com pessoas necessitam sempre de outros para a
que têm SD são extremamente realização de atividades básicas.
necessárias para o desenvolvimento de Podemos dizer que ela foi confirmada,
seus potenciais e estas atuam uma vez que nossos resultados
simultaneamente em campos distintos. também apresentaram estes
De acordo com Silva-Dessen (2002), o elementos, mas através da análise de
empreendimento de propiciar a nossos dados vimos que esses
melhoria da criança pode ser uma elementos são apenas alguns e que as
tentativa de aliviar o sentimento de dificuldades vão além das
culpa vivenciado pela família, bem mencionadas.
como de vencer as limitações A partir do tratamento dos dados,
provocadas pela síndrome. São podemos detectar que não há o
diversificadas as atividades que vislumbramento por parte da família de
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uma equiparação de uma criança “dita Síndrome de Down e crianças com


normal” e de uma com a Síndrome. desenvolvimento normal aos 2 e 5
Entende-se que a criança que nasce anos de idade.ArqNeuropsiquiatr 61(2-
diagnosticada com SD pode atingir e B):409-415, Belo Horizonte, 2003.
superar qualquer tipo de expectativa
que o próprio possa gerar ou a sua POLASTRI, P. F.; BARELA, J. A.;
família, sendo, contudo, dependente do Percepção-ação no desenvolvimento
conjunto de oportunidades que lhe são motor de crianças portadoras de
dadas para que realize tal ato. Além do Síndrome de Down. Revista da
acréscimo evidente que o Sobama, vol.7, n.1, pp.1-8, São Paulo,
conhecimento desta pesquisa nos Dezembro 2002.
proporciona, considero como principal
legado deste estudo a consciência da PUESCHEL, S.; Síndrome de Down:
importância, na prática e no dia a dia, guia para pais e educadores. 308 p.,
de um profissional da saúde e da Campinas: Papirus, 1999.
formação humanizada deste. Destaca-
se no desenvolvimento do presente
estudo a possibilidade de nos RODRIGUES, E. C.; ALCHIERI, J. C.
constituirmos enquanto humanos, no Avaliação das características de
exercício da tolerância e do respeito ao afetividade em crianças e jovens
diferente, ou seja, de pela via do com síndrome de Down.Psico-USF, v.
conhecimento ser possível conceber 14, n. 1, p. 107-116, Natal, 2009.
que o tratamento humanizado deve ser
para todas as pessoas, sem prescindir SIGAUD, C.H. de S.; REIS, A.O.A. A
do respeito e das necessidades representação social da mãe acerca
peculiares de cada ser. da criança com Síndrome de Down.
Rev.Esc.Enf.USP. , v.33, n.2, p. 148-
Referências Bibliográficas: 56, São Paulo, 1999.

BOFF, J.; CAREGNATO, R. C. A.; SILVA, N. L. P.; DESSEN, M. A.;


História oral de mulheres com filhos Crianças com Síndrome de Down e
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Texto Contexto Enferm, Jul-Set; 17(3): Psicologia: Reflexão e Crítica, 16(3),
578-586, Florianópolis, 2008. pp. 503-514, Brasília, 2002.

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Síndrome de down: desafios e Down. São Paulo: Memnon/
perspectivas na inclusão escolar. Mackenzie, 2003.
Educação inclusiva, deficiência e
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contemporâneas [online], pp. 303-312, VARELLA, D. Alteração genética –
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[s.d.]. Disponível em:
CUNHA, A. M. F. V.; BLASCOVI- http://drauziovarella.com.br/crianca-
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vida.Ciência & Saúde Coletiva, 15(2),
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