Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
NEVES Estudos Sociais em Ciencia e Tecnologia e Suas Diversas Abordagens PDF
NEVES Estudos Sociais em Ciencia e Tecnologia e Suas Diversas Abordagens PDF
DOSSIÊ
Sociologias, Porto Alegre, ano 13, no 26, jan./abr. 2011, p. 22-42
Resumo
Esta breve introdução aos Estudos Sociais em Ciência e Tecnologia (ESCT)
propõe expor os temas mais correntes e as distintas abordagens teóricas que fa-
zem parte deste campo ainda novo de pesquisa. Busca-se fornecer um painel das
disputas no exterior do campo, entre sociólogos e epistemólogos, e, no interior do
campo, entre as distintas perspectivas sobre ciência e tecnologia que hoje ocupam
sociólogos, antropólogos e cientistas políticos na composição deste rico cenário
de pesquisa social.
Palavras-chave: Conhecimento. Ciência. Tecnologia. Simetria.
Introdução
O
s estudos sociais em ciência e tecnologia (ESCT), carac-
terizados pela união de diversas abordagens e metodo-
logias das ciências sociais são ainda incipientes no Brasil,
a despeito de décadas de pesquisa nos Estados Unidos e
Europa. Somente nos últimos anos surgem programas de
pós-graduação, periódicos e congressos especializados nestas abordagens e
temas. Além disso, pela trajetória histórica e lugar periférico ocupado pela
ciência e tecnologia na sociedade brasileira, tais estudos ainda são muito
focados em políticas públicas de ciência e tecnologia e com abordagens
teóricas limitadas, do ponto de vista dos resultados dos estudos empíricos.
Este artigo tem como proposta aduzir, sinteticamente, a alguns ele-
mentos teóricos e metodológicos desta grande área de estudo, no sentido
de dar suporte aos textos que formam este dossiê. Os ESCT ou Estudos em
Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), em sua multiplicidade de abor-
dagens, têm sua unidade no esforço de compreender objetos de estudo
cada vez mais destacáveis na sociedade contemporânea, a saber, a ci-
ência e a tecnologia. Tais objetos se ramificam em muitos outros como:
investigações acerca dos condicionantes sociais da estruturação e auto-
nomia do campo científico; formação do conteúdo científico e tecnoló-
gico e sua compleição institucional, de acordo com diferenças culturais e
regionais; relações com o complexo industrial e a caracterização do con-
sumo contemporâneo das inovações tecnológicas; formas de decisão e
escolhas sobre os grandes sistemas técnicos especializados que gerenciam
a vida cotidiana; relação entre peritos e leigos no contexto de produção
e difusão destes conhecimentos; mecanismos e condições institucionais
e sociais de estruturação da ciência e tecnologia, por região e suas di-
ferenças socioculturais; mecanismos de engajamento público nos temas
24 SOCIOLOGIAS
1 Algumas coletâneas são muito importantes para uma introdução destes estudos, tais como:
Jasanoff (2004); Johnson e Wetmore (2009); Hackett; Amsterdamska; Lynch; Wajcman (2007);
Knorr-Cetina; Mulkay (1992); Law e Hassard (1999); Mackenzie e Wajcman (1999) e Cutcliffe
e Mitcham (2001).
26 SOCIOLOGIAS
2 Bruno Latour e sua antropologia simétrica, provavelmente é o autor de maior penetração nas
pesquisas acadêmicas brasileiras, no entanto, é ainda pouco usado para o estudo da ciência e
mais para a discussão da antropologia contemporânea.
28 SOCIOLOGIAS
3 No caso, uma complexa interação entre elementos sociais e cognitivos que torna sua des-
crição analítica inviável.
SOCIOLOGIAS 31
4 Para uma revisão destes estudos com enfoque em tecnologia, especialmente a Construção
Social da Tecnologia (Social Construction of Technology ou na sigla SCOT), conferir Bijker
(2010).
32 SOCIOLOGIAS
5 Disto resulta a relação dos ESCT com a teoria social contemporânea, que valoriza a ação
prática nas análises. Para esta discussão, ver Schatzki; Knorr-Cetina; Savigny (2001), ou para o
que eles chamam de pratical turn na teoria social contemporânea.
36 SOCIOLOGIAS
6 Este empenho em deslindar diferenças de conhecimentos não é a mesma coisa que explicar
a suposta autonomia do conhecimento científico em relação ao social, ao político ou a outras
instâncias da sociedade.
SOCIOLOGIAS 37
7 Para efeitos de comparação, Latour e Woolgar (1997) e Pickering (1999) sustentam uma
postura mais radical de construcionismo do que a aqui almejada, embora cada caso tenha suas
particularidades quanto à relação da sociedade em geral e a estabilização de fatos científicos.
38 SOCIOLOGIAS
Abstract
This short introduction to Social Studies in Science and Technology (SSST)
intends to present the usual issues and the different theoretical approaches that
comprise this still new research field. It is sought to provide an outlook on the
disputes, both external to this field – between sociologists and epistemologists –
and internal to it, between distinct views on science and technology that concern,
today, sociologists, anthropologists and political scientists within this rich scene of
social research.
Key words: Knowledge. Science. Technology. Symmetry.
Referências
BARNES, Barry. T. S. Kuhn and the Social Science. Nova York: Columbia Univer-
sity Press, 1982.
BIJKER, Wiebe E. How is Technology Made?—That is the Question! Cambridge
Journal of Economics, vol. 34, n. 1, p. 63–76, 2010.
BLOOR, David. Knowledge and Social Imagery. Chicago: the University of Chi-
cago Press, 1991.
BROWN, Mark B. Science in Democracy: Expertise, Institutions and Represen-
tation. Cambridge, Massachusetts: MIT Press, 2009.
CALLON, Michel; LASCOUMES, Pierre; BARTHE, Yannick. Agir dans un monde
incertain: essai sur la démocratie technique. Paris: Seuil, 2001.
CALLON, Michel. Luchas y negociaciones para definir qué es y qué no es pro-
blemático. La socio-lógica de la traducción. Redes: Revista de Estudios Sociales
de la Ciencia, vol. 12, n. 23, p. 103-128, 2006.
COLLINS, Harry M. Changing Order: Replication and Induction in Scientific
Practice. Chicago: University of Chicago Press, 1992.
COLLINS, Harry; PINCH, Trevor. O golen: o que você deveria saber sobre ciên-
cia. São Paulo: UNESP, 2003.
SOCIOLOGIAS 41
COLLINS, Harry; PINCH, Trevor. The Golem at Large: What you Should Know
about Technology. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.
COLLINS, Harry. Introduction: Stages in the Empirical Programme of Relativism.
Social Studies of Science, vol. 11, n. 1, p. 3-10, 1981.
CUTCLIFFE, Stephen H. e MITCHAM, Carl (Eds.). Visions of STS: Counterpoints
in Science, Technology and Society Studies. Albany, NY: State University of New
York Press, 2001.
GARRETY, Karin. Social Worlds, Actor-Networks and Controversy: The Case of
Cholesterol, Dietary Fat and Heart Disease. Social Studies of Science, vol. 27, n.
5, p. 727-773, 1997.
HACKETT, Edward J.; AMSTERDAMSKA, Olga; LYNCH, Michael e WAJCMAN,
Judy (Eds.). The Handbook of Science and Technology Studies. Cambridge, MA
and London: MIT Press, 2007.
HESS, David. Science Studies: an Advanced Introduction. New York/London:
New York University Press, 1997.
JASANOFF, Sheila (Ed.). State of knowledge: The co-production of science and
social order. Cambridge: Harvard University Press, 2004.
JOHNSON, Deborah G. e WETMORE, Jameson M. Technology and society: Buil-
ding our Sociotechnical Future. Cambridge, MA: The MIT Press, 2009.
KNORR-CETINA, Karin. Epistemic Cultures: How the Sciences Makes Knowled-
ge. Cambridge: Harvard University Press, 1999.
KNORR-CETINA, Karin; MULKAY, Michael. (Eds.). Science Observed: Perspecti-
ves on the Social Study of Science. London: Sage, 1992.
LATOUR, Bruno e WOOLGAR, Steve. A vida em laboratório: a produção dos
fatos científicos. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1997.
LATOUR, Bruno. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros socieda-
de afora. São Paulo: Editora UNESP, 2000.
______. Reassembling the Social: An Introduction to Actor-Network Theory. New
York: Oxford University Press, 2005.
LAW, John. Le laboratorie et ses réseaux. In: CALLON, Michel. La science et ses
réseaux: gênese et circulation des faits scientifiques. Paris: Éditions La Découverte/
Unesco; Strasbourg: Conseil de l’Europe, p. 117-148, 1989.
LAW, John; HASSARD, John (Eds.). Actor Network Theory and After. Oxford:
Blackwell Publishing, 1999.
LYNCH, Michael. Act and Artifact in Laboratory of Science. London: Routledge,
1985.
42 SOCIOLOGIAS