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A tipicidade

A imputação objectiva do facto


O desvalor objectivo da acção e a imputação objectiva do resultado

I
Criação de um risco proibido

1) A, convencido da eficácia mortal das aspirinas, deita, com intenção de matar, um


aspegic no café de B, que vem a morrer por padecer de uma rara alergia ao acetilsalicilato
de lisina que A desconhecia.
A morte de B é objectivamente imputável a A?

2) C empurra D de forma a que uma pedra que foi violentamente arremessada contra a
cabeça deste apenas lhe acerte num braço.
A ofensa à integridade física de D é objectivamente imputável a C?

3) E, observando todas as regras de trânsito aplicáveis, conduz numa zona propícia a


acidentes, quando F, que corre para apanhar o autocarro, se atravessa na sua frente e é
atropelado, acabando por não resistir aos ferimentos.
A morte de F é objectivamente imputável a E?

II
Concretização do risco proibido

a) Causalidade

4) G mata H a tiro no aeroporto, antes de este poder entrar num avião que veio a
explodir 30 minutos mais tarde devido a um ataque de um bombista-suicida.
Quid juris?

5) I atropela mortalmente J, que vem a morrer num incêndio que deflagra nas urgências
para onde teve de ser imediatamente transportado.
Quid juris?

6) L e M, sem conhecimento um do outro, deitam, cada um, uma dose de veneno mortal
e de eficácia rápida no chá de N, que, ao bebê-lo, tem morte instantânea. Quid juris?

Imagine agora que L e M, escondidos atrás de arbustos e sem conhecimento um do


outro, disparam simultaneamente sobre N. No decurso da autópsia, apenas uma das
balas é encontrada no coração de N, e a perícia balística às armas de L e M é
inconclusiva. Quid juris?
Noutra hipótese, L e M, sem conhecimento um do outro e convencidos da eficácia
letal dos seus actos, deitam, cada um, uma dose não mortal de veneno no chá de N, que,
ao bebê-lo, vem a morrer apenas pela conjugação das duas doses. Quid juris?

b) Esfera de protecção da norma

7) O conduz o automóvel pelo lado esquerdo de uma estrada ladeada de árvores, quando
P, que andava aos ninhos, cai de cima de uma das árvores, é atropelado por O e morre.
Quid juris?

8) Q circulava à noite, embriagado, conduzindo o seu automóvel, quando atropelou R


que se encontrava no passeio à beira de uma curva que Q não conseguiu fazer. R foi
transportado ao hospital, onde veio a morrer por não ter sido assistido por S, médico de
serviço.
A quem é objectivamente imputável a morte de R?

c) Comportamento lícito alternativo

9) T, vítima de um acidente rodoviário, foi transportado para o hospital mais próximo,


onde os médicos rapidamente constataram a necessidade de o submeter a uma cirurgia
de carácter urgente. U, médico anestesista, com a pressa e sem se aperceber, trocou o
frasco da anestesia por um outro similar que continha uma substância venenosa e
ministrou-a a T, que veio, por isso, a morrer, ainda antes de dar entrada na sala de
operações.
Todavia, T padecia de uma rara alergia ao excipiente anestésico ministrado naquele
estabelecimento de saúde que nunca poderia ter sido detectada em tempo útil, pelo que
este teria morrido de qualquer forma, ainda que U não se tivesse enganado.
Quid juris?

10) V monta uma emboscada a X para o matar. Perante a aproximação da vítima, V


dispara, abatendo-a.
Em seguida, V foge do local e alguns quilómetros adiante ultrapassa um ciclista a
uma distância muito curta. O ciclista, que conduzia embriagado e de forma oscilante,
tombou quando o automóvel passava por ele, vindo a ser esmagado por uma roda
traseira e sofrendo morte imediata.
Determine a imputação objectiva da morte de X e do ciclista aos comportamentos
de V, tendo em conta que:
a) A poucos metros do local onde X foi abatido, Z aguardava, emboscado, a sua
passagem para o matar.
b) Medições feitas no local do acidente indicam que mesmo que V tivesse mantido
uma distância prudente na ultrapassagem, o ciclista dificilmente evitaria ter sido
apanhado pela roda do automóvel na queda.

Bibliografia:
- DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito Penal – Parte Geral, tomo I (Questões fundamentais – A
doutrina geral do crime), 2.ª ed., Coimbra, 2007, pp. 322 e ss.
- FRISCH, Wolfgang, La imputación objetiva del resultado. Desarrollo, fundamentos y cuestiones
abiertas, Barcelona, 2015.
- PALMA, Maria Fernanda, Direito Penal – Parte Geral (A Teoria Geral da Infracção como Teoria
da Decisão Penal), Lisboa, 2013, pp. 81 e ss.
- ROXIN, Claus, Derecho Penal – Parte General, tomo I (Fundamentos – La Estructura de la
Teoria del Delito), Madrid, 1997 (tradução da 2.ª ed. alemã), pp. 342 e ss.;
- «A teoria da imputação objetiva», Estudos de Direito Penal, Rio de Janeiro, 2012.
- GRECO, Luís, Um Panorama da Teoria da Imputação Objectiva, Lisboa, 2005;
- MENDES, Paulo de Sousa, Sobre a Capacidade de Rendimento da Ideia de Diminuição do Risco –
Contributo para uma crítica à moderna teoria da imputação objectiva em Direito Penal, Lisboa, 2007;
- “O problema da relevância negativa da causa virtual em sede de imputação objectiva”,
in Estudos em Honra do Professor Doutor José de Oliveira Ascensão em Comemoração do 70.º
Aniversário – Estudos de Direito e Filosofia, vol. II, Coimbra, 2008, pp. 1395-1424.
- NEVES, João Curado, Comportamento Lícito Alternativo e Concurso de Riscos. Contributo para
uma teoria da imputação objectiva em Direito Penal, Lisboa, 1989.

HELENA MORÃO
Março 2017

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