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AO JUIZO DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE

_____

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO ______, por meio do Promotor de Justiça que


esta subscreve, com fundamento no artigo 5º, I da Lei 7347/85, vem por meio da
presença de Vossa Excelência, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO LIMINAR

contra a EMPRESA ______, pessoa jurídica de direito público, CNPJ nº _____ com
sede na cidade de ______, representada por ______, estado civil, profissão, inscrito no
CPF sob o nº ______ e RG nº ______, residente e domiciliado na Rua ________, nº __,
Bairro _____, conforme os fatos e fundamentos que passam a expor:

DOS FATOS

Constatou-se o anúncio de uma concessionária de veículos importados que informava


a venda do automóvel BMW M6, versão "sport" pelo valor de R$ 250.000,00 (duzentos
e cinquenta mil reais). Cabe ressaltar que o veículo estava sendo comercializado, dias
antes, pelo valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais).

Ao chegar à concessionária, deparou-se com uma extensa fila de pessoas que


aguardavam a abertura da referida loja. Ao conversar com os integrantes da fila, todos
estavam atraídos pelo grande desconto oferecido pela concessionária. Alguns
consumidores, inclusive, já estavam "acampados" desde a madrugada aguardando a
abertura do estabelecimento. Após aguardar horas na fila, o autor foi recebido pelo
vendedor o qual passou o contrato de "compra e venda" para assinatura.

O autor percebeu que a oferta anunciada somente seria honrada pela concessionária
caso o consumidor também contratasse o seguro de carro oferecido pelo
estabelecimento. O referido seguro, denominado de "car system", custaria ao
consumidor um total de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), sendo que nesse valor já
estariam incluídas todas taxas e impostos.

Para ter direito ao desconto, o consumidor também precisava assinar um contrato com
um outro estabelecimento comercial, que prestava serviços especializados em
higienização veicular. Nesse contrato, o consumidor precisaria pagar a quantia de R$
25.000,00 (vinte e cinco mil reais) para ter direito a 1 (um) ano de lavagens automotivas.

O Ministério Público, por meio da promotoria especializada, instaurou o Inquérito Civil


Público nº 0-1.2.54.69.8542.14589.877.445.315/2017 para apurar os fatos. Foram
ouvidos os proprietários do estabelecimento comercial que confirmaram o que fora
narrado pelo autor. Afirmaram que os 10.000 (dez mil) veículos que tinham em estoque
foram vendidos e que outros 10.000 (dez mil) já foram encomendados e seriam vendidos
já na próxima semana, nas mesmas condições apresentadas anteriormente.

DO DIREITO

DA COMPETÊNCIA

Conforme Artigo 2º da Lei 7357/1985, é competente para julgar a Ação Civil Pública o
foro do local onde ocorreu o dano:

Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local


onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para
processar e julgar a causa.

Parágrafo único A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo


para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma
causa de pedir ou o mesmo objeto. (Brasil, 1985)

Assim, o Juízo da vara da Fazenda Pública da Comarca de ____, local onde ocorreu o
dano, é o competente para decidir sobre a presente ação.

DO CABIMENTO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA

A Lei 7347/85 que trata da Ação Civil Pública, em seu artigo 1º estabelece que:

Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação


popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais
causados:

II – ao consumidor

[...]

IV – a qualquer outro interesse difuso e coletivo. (Brasil, 1985) (grifo


nosso)

Como já exposto nos fatos, a oferta apresentada pela Empresa ____ não significava, de
fato, um desconto aos consumidores, os quais eram obrigados a comprar outros
produtos que totalizavam o valor anterior da oferta, ou seja, os consumidores foram
prejudicados por uma suposta promoção que, por fim, não levava desconto algum e
apenas à venda casada de outros produtos.
DA LEGITIMIDADE ATIVA
Os legitimados concorrentes a proporem a Ação Civil Pública, nos termos do art. 5º da
Lei 7.347/85 e Lei 8.078/90, são o Ministério Público, a União, os Estados e Municípios,
além das autarquias, empresa pública, fundações, sociedade de economia mista ou
associações constituídas a pelo menos 01 ano (art. 5º, XXI da Constituição Federal) e
que provem representatividade e institucionalidade adequada e definida para a defesa
daqueles direitos específicos.

Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:

I – O Ministério Público; (BRASIL, 1985)

O Ministério Público tem legitimidade ad causam para defender interesses coletivos em


sentido amplo, este é o gênero do qual fazem parte as subespécies interesse difuso,
interesse coletivo em sentido estrito e interesse individual homogêneo com relevância
social. Assim, determina a Constituição Federal no seu artigo 127 caput e 129, inciso III,
respectivamente, in verbis:

“Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à


função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis.”

“Art. 129. São Funções institucionais do Ministério Público:

III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do


patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses
difusos e coletivos;”

DA RELAÇÃO DE CONSUMO

A relação jurídica firmada entre o réu e os consumidores é uma relação de consumo,


logo, aplica-se o Código de Defesa do Consumidor, regido pela lei 8.078, de 11 de
setembro de 1990 para disciplinar esta relação jurídica. Para configurar uma relação
jurídica de consumo é necessário se fazer presente duas partes, quais sejam, o
fornecedor e o consumidor.

Ressalta-se que é inquestionável a existência de relação de consumo entre o réu e os


consumidores determináveis (aqueles que firmam contrato de compra e venda) e os
consumidores indetermináveis (aqueles que não firmaram contrato mas foram exposto
à prática abusiva).
DA PRÁTICA ABUSIVA

A causa remota narrada na inicial e os documentos acostados a ela comprova que o réu
tem conduta na relação contratual com os consumidores que vão de encontro ao Código
de Defesa do Consumidor. A conduta do réu configura uma prática abusiva e lesiva aos
princípios básicos do direito do consumidor, a saber, princípio da transparência, da boa-
fé objetiva, da lealdade, da informação, da confiança e outros, assim, não cumprem o
réu seus deveres anexos impostos por normas de ordem pública a todos aqueles que
figuram como fornecedores na relação contratual.

Pelo princípio da vinculação da oferta, o Fornecedor fica vinculado à oferta feita ao


consumidor em toda a sua extensão, especificamente ao preço. Nada mais justo, pois
sua atitude foi refletida, ponderada e avaliada antes de ser ofertada. Neste sentido é o
artigo 30 do Código de Defesa do Consumidor. In verbis:

“Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa,


veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação, com relação a
produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que
a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser
celebrado” (BRASIL, 1990)

A conduta do réu narrada na causa remota e comprovada com a documentação


acostada à inicial, demonstra que eles não estão cumprindo o seu dever de informar o
consumidor de forma precisa, clara, correta e ostensiva.

Dessa forma, a conduta do réu é uma prática abusiva e vedada pelo Código de Defesa
do Consumidor, pois lesa princípios norteadores do Estatuto Consumerista, coloca o
consumidor em desvantagem e gera enriquecimento ilícito pelo réu

DA LIMINAR

O artigo 12 da Lei 7347/85, admite a possibilidade de pedido liminar:

Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem


justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.

Consoante a existência da possibilidade para expedir medida liminar, considera-se,


necessário que se conceda para que, a empresa Ré tome as devidas providências para
que as oferta publicada em questão seja de fato cumprida.
O fumus boni iuris está presente, pois a conduta do réu é lesiva aos princípios da
transparência, da lealdade, da confiança, da boa-fé objetiva e da informação que são
princípios norteadores do Código de Defesa do Consumidor e lesivas as normas
jurídicas prescritas nos artigos 4 º, 6 º, inciso III, 30, 31, 39, inciso V e 51, inciso IV, XV,
§1º e inciso I, II e III todos do Código de Defesa do Consumidor. O consumidor tem o
direito inafastável de ser informado corretamente e precisamente sobre o produto,
especificamente, seu preço.

O periculum in mora está presente, pois a conduta do réu é uma prática abusiva
perpetrada ao longo do tempo como prova os documentos acostados aos autos e até
os dias de hoje não foi tomada nenhuma providência por parte do réu.

Os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora estão presentes e justificam a


concessão da liminar por parte do Poder Judiciário para coibir esta prática abusiva
perpetradas pelo réu.

DOS PEDIDOS

Ante o exposto, o Ministério Público requer em sede de liminar:

a) Seja concedida liminar e impelido o réu à obrigação de fazer, qual seja, fixar o
preço do carro BMW M6, versão "sport" pelo valor de R$ 250.000,00 (duzentos
e cinquenta mil reais), sob pena de multa de R$100,00 (cem reais) por unidade
de produto;
b) Seja concedida liminar e impelido o réu à obrigação de não fazer, qual seja, não
ofertar produtos obrigando os clientes a comprarem outros (venda casada),
voltando ao preço anterior, sob pena de multa de R$1.000,00 (mil reais) por
unidade de produto;

Além disso, o Ministério Público requer em sede de mérito:

a) O recebimento da presente petição;


b) A isenção de custas e emolumentos e outros encargos, nos termos do artigo 87
do Código de Defesa do consumidor e artigo 18 da Lei de ação civil pública;
c) A citação do réu o EMPRESA ______, pessoa jurídica de direito público, CNPJ
nº _____ com sede na cidade de ______, representada por ______, estado civil,
profissão, inscrito no CPF sob o nº ______ e RG nº ______, residente e
domiciliado na Rua ________, nº __, Bairro _____;
d) A confirmação dos pedidos feitos em sede de liminar;
e) Na defesa dos direitos e interesses difusos, seja condenado o réu a pagar
indenização por dano moral coletivo pela prática abusiva no valor de R$
1.000.000,00 (Um milhão de reais);
f) A inversão do ônus da prova a favor do consumidor nos termos do artigo 6º,
inciso VIII do Código de Defesa do Consumidor;
g) A intimação pessoal do autor;
h) Protesta por provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito,
especialmente, depoimento pessoal dos dirigentes da requerida, oitiva de
testemunhas, juntada de documentos, perícias, sem prejuízo dos meios que
eventualmente se fizer necessário à completa elucidação dos fatos articulados
nessa petição;

Dá-se a causa, para todos os fins, o valor de _________________

LOCAL e DATA

Promotor de Justiça

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