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[…] para a lei judaica a mulher era uma coisa. Pertencia a seu pai ou a
seu marido, segundo o caso. Portanto, do ponto de vista técnico,
carecia de todo direito legal. A maioria dos casamentos judeus eram
arranjados pelos pais ou casamenteiros profissionais. Uma menina
podia estar comprometida a casar-se desde a infância e em geral
estava comprometida com um homem a quem jamais tinha visto.
Tinha uma oportunidade: quando chegava aos doze anos podia
repudiar o marido escolhido por seu pai. Mas quando se tratava de
divórcios, toda a iniciativa devia ficar em mãos do marido. A lei
estabelecia: “O homem pode divorciar-se de sua mulher com ou sem
seu consentimento, mas a mulher só pode divorciar-se de seu marido
com o consentimento dele”. A mulher nunca podia iniciar o processo
de divórcio, não podia divorciar-se, tinha que seu marido divorciar-se
dela. Havia algumas novidades. Se um homem se divorciava de sua
mulher com qualquer pretexto, exceto o de imoralidade flagrante,
devia lhe devolver o dote, e isto deve ter sido uma barreira para o
divórcio irresponsável… na maioria dos casos, a lei estabelecia que a
mulher não tinha nenhum direito legal e que o direito ao divórcio
cabia totalmente a seu marido (BARCLAY, Mateus, p. 625).
É inegável que essas leis judaicas em muitos aspectos eram, notadamente,
machistas. É inegável também que o discurso de Jesus vai contra, ainda que
indutivamente, as práticas egoístas e desumanas dos homens judeus contra
suas mulheres. Num certo sentido, Mateus 19.1-9 não é apenas um texto contra
o repúdio, é também um texto a favor da dignidade da mulher.
Assim, o homem judeu despedia sua mulher por qualquer razão, baseado numa
prescrição mosaica, ou melhor, na compreensão indevida que tinha a respeito
dela. Como dito anteriormente, a pergunta pelo que viria a ser essa “coisa feia”
era importantíssima por ser justamente o que justificava essa atitude em relação
à mulher. É justamente no meio de uma complexa discussão e discordância
rabínica que os fariseus queriam incluir Jesus ao lhe fazerem as perguntas de
Mateus 19.3,7. Shammai entendia que “coisa feia”, indubitavelmente, era
fornicação e essa seria a única razão para a permissão de um divórcio. Hilel, na
outra extremidade, entendia que “coisa indecente” permitia ao homem:
Jesus, respondendo então aos fariseus, afirma que a única exceção para o
homem repudiar sua mulher era em caso de “imoralidade sexual” (NVI), que a
ARC traduz por “prostituição”, em Mateus 19.9. Mas aqui urge fazer uma
interrogação que geralmente é ignorada ou mesmo desconhecida por muitos
que abordam a questão do divórcio em Mateus 19.1-9: repúdio é a mesma
coisa que divórcio? É interessante considerar a rigidez de Jesus com a
flexibilidade de Paulo em 1 Coríntios 7.15 onde ele abre um precedente para a
separação do casal. Esse precedente para o divórcio é pontual: quando se trata
de uma relação mista entre um cônjuge crente e o outro não e que o não crente
opta por se separar. Mas não há nada neste capítulo que verse sobre o segundo
casamento. Isso é fato e não podemos negar.
Um autor que tem trabalhado a questão da distinção entre repúdio e divórcio é
Walter L. Callison. Basicamente, esse autor entende que as palavras nos
originais para divórcio e repúdio são distintas, indicando também práticas com
especifidades e propósitos distintos[4]. Abaixo, com base no que defende
Callison, e em outros autores, segue de forma sintética o que seria o repúdio e o
que seria o divórcio, à luz da Bíblia e da cultura judaica:
O repúdio
Falando francamente!
Diante de tudo o que foi exposto acima, sobre o divórcio e o repúdio à luz das
Escrituras, concluo que:
REFERÊNCIAS
BRITO, Eurípedes P. Interação dos ritos e símbolos cristãos com a terapia
narrativa no acompanhamento pastoral da família recasada. 2005. 252 f. Tese
(Doutorado em Teologia) – Escola Superior de Teologia: Rio Grande do Sul:
2005.
de VAUX, Roland. Instituições de Israel no Antigo Testamento. Trad.: Daniel
de Oliveira. São Paulo: Editora Teológica, 2003.
THOMPSON, J. A. Deuteronômio: introdução e comentário. Série Cultura
Bíblica. São Paulo: Vida Nova, 1982.