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1) O Sr x deixou em testamento uma fração de um imóvel situado em Lisboa ao partido político

y. Entretanto esse imóvel foi classificado pelo estado como de relevante interesse cultural por
ser como exemplar de arquitectura do princípio do séc 20. Desta forma a realização de qualquer
iniciativa pública no referido imóvel ficaria sujeita a prévia autorização de utilização da câmara
municipal de Lisboa. O partido político pretende realizar tertúlias públicas sobre as temáticas do
estado democrático e social na fração pela que requer da autorização à câmara de Lisboa.
Contudo a autarquia inferiu tal pedido com o seguinte fundamento: o imóvel é um importante
exemplo de arquitetura e design da 1° metade do séc 20 o que seria manifestamente
incompatível com as atividades promovidas pelo partido político pois conduziriam a degradação
de um patrimônio inestimável.

A) Um partido político é titular de dtos fundamentais? Se sim quais?

Resposta: Sim, devido ao art 18 n1 CRP - de acordo com a lei dos paridos politico um partido
político é uma associação de direito privado ao qual se reconhece direitos fundamentais
compatíveis com a sua natureza de pessoa colectiva. Neste caso concreto, o partido político Y
tem direito a ter propriedade privada, a liberdades fundamentais, nomeadamente, liberdade de
criação de partido politico, liberdade de actuação e associação partidária. Não pode existir
qualquer controlo ideológico ou programático sobre os partidos, salvo proibição de
organizações de ideologia fascista, não sendo possível qualquer controlo sobre a organização
interna dos mesmos. Os partidos políticos gozam também do direito de igualdade de
oportunidade, ou seja, estes devem ser reconhecidos politicamente e a todos se deve dar iguais
possibilidades de desenvolvimento e participação na formação da vontade popular.

Os DF dos partidos resultam da ideia de democracia participativa associada à expressão de


opinião que pode influenciar as decisões da opinião publica bem como as próprias decisões
politicas. Neste sentido, os partidos políticos gozam:

de liberdade de expressão e de informacao, ou seja, da expressão dos seus pontos de


vista políticos sem coação, sem sensura ou descriminação e o direito de informarem as
pessoas sobre esse ponto de vista;

de liberdade de imprensa, ou seja, de forma a exprimir as suas opiniões de forma livre


através dos meios de comunicação social;

de liberdade de reunião, ou seja, a faculdade das pessoas que compõe o partido político
de livremente se juntarem para trocarem opiniões ou levar a cabo projetos políticos.

de liberdade de manifestação, ou seja, liberdade das pessoas que fazem parte desse
partido político de se juntarem no sentido de exteriorizarem os seus pontos de vista.
de liberdade de associação, ou seja, liberdade de criar o partido político, a faculdade das
pessoas livremente criarem pessoas jurídicas coletivas associativas, não carecendo de
qualquer autorização pública , baseando-se apenas na sua autonomia privada.

e do direito de petição perante órgãos públicos, a faculdade das pessoas fazerem chegar
às autoridades públicas pedidos, reclamações e queixas a respeito dos seus direitos.

Em conclusão os DF dos partidos políticos, enquanto pessoa colectiva, estão previstos nos art
37, 38, 40, 46 n2 e n4 e 51 CRP.

B) Será que a câmara municipal teria razão ou estaria a violar os dtos do agora proprietário do
imóvel?

Resposta: A entidade administrativa não tem competência para restringir direitos, liberdades e
garantias a não ser de acordo com lei que, por sua vez, estará de acordo com a CRP.

A lei pode restringir o direito da propriedade privada para defesa do património cultural. Esta
admissibilidade da restrição tem por fundamento a função social do direito da propriedade
privada. Neste sentido, a Câmara Municipal, de acordo com a lei de protecção do património
cultural, poderia emitir um regulamento de forma a proteger esse património cultural (por
exemplo, proibindo a circulação de automóveis na rua onde se situa o imovel).

A decisão da Câmara ao se justifica com a função social da propriedade privada. Aliás, o impedir
as tertúlias afecta ainda a liberdade de expressão e de informação do partido politico. O fim de
uma tertúlia não é danificar o imóvel mas sim debater questoes de forma a informar os
cidadãos ou construir um projecto politico.

Neste sentido, a medida tomada pela câmara não é adequada nem necessária nem razoável
para atingir o fim imposto pela lei restritiva de DF e pela própria CRP.

Não existe aqui uma colisão de direitos, no sentido em que, apesar do município invocar a
defesa do património cultural, o fundamento de proibição da tertúlia não é legítimo, a não ser
que o município provasse que a mesma (pelo grande numero de pessoas ou pelas actividades
acessórias à tertúlia) colocasse em causa o património cultural.

C) Na tertúlia do partido politico o tema foi o Estado Social. Qual o principio associado ao
Estado Social que caracteriza essa forma de encarar o Estado?

Podemos caracterizar o Estado Social através do principio social que representa o núcleo de
preocupações de que o Estado fica sendo portador na realização dos objectivos de democracia
económica, social e cultural e que impõe ao Estado o cumprimento de medidas de justiça social
através da transformação com formação de estruturas económicas e sociais de forma a
promover a igualdade real dos cidadaos, ou seja, prestações que garantam não só a existência
humanamente digna mas também o desenvolvimento da personalidade humana.

Inerente ao principio social está a proibição do retrocesso social. Este principio significa que o
núcleo essência dos direitos sociais já garantidos através de medidas legislativas não pode ser
aniquilado (o que seria também uma violação do principio da protecção da confiança e da
segurança dos cidadãos no âmbito económico, social e cultural). O reconhecimento desta
protecção dos direitos adquiridos constitui um limite jurídico do legislador e ao mesmo tempo
uma obrigação de prossecução de uma política congruente com os direitos concretos e
expectativas subjectivamente alicerçadas.

Todavia, esta proibição do retrocesso social não pode ser encarada de uma forma
fundamentalista, visto que nos dias de hoje, e em grande parte devido a questões demográficas,
a manutenção e a viabilidade do Estado Social passam obrigatoriamente pela existência de
reformas que se traduzem na redução de algumas despesas sociais.

O Dr Jorge Bacelar Gouveia escreve: "Tal como não se pode dizer que o principio do não
retrocesso social vigore absolutamente porque está sempre dependente de uma avaliação
concreta que pertence ao domínio da conjunturalidade, nos quais não são permitidos controlos
de juridicidade cumprindo ainda levar em linha de consideração as condições económicas e
sociais de realização desses mesmos direitos, nunca se podendo finalmente excluir a hipótese
de a sua regressão ser ditada por essas mesmas condições".

2) O partido politico Y pretende contratar uma pessoa formada em direito ou em ciência politica
para redigir os discursos políticos dos seus dirigentes. Na sequência deste concurso foi escolhido
o Senhor B. A Senhora M, candidata a este emprego, intenta uma ação contra o partido politico,
fundamentando-se no facto de ter sido excluída por estar filiada num partido politico diferente
e por ser mulher, uma vez que os candidatos admitidos a entrevista eram apenas homens e
todos filiados no partido politico Y.

A) Quem terá razão?

Resposta: Decorre do principio do social a igualdade social entre cidadãos, entre homens e
mulheres. Também associado a este principio está a igualdade de oportunidades que impede a
não discriminação nos termos do art 13 n2 CRP.
Contudo, no caso concreto, temos que invocar a autonomia privada ou a liberdade contratual
do partido politico Y. A aplicação do principio da igualdade no domínio da celebração de
contractos individuais privados reconduz-se, no essencial, à compatibilização entre a igualdade
e a liberdade negocial. Só existira violação do princípio da igualdade quando a ação do partido
politico tiver como objectivo descriminar um indivíduo.

Contudo, o partido politico Y, enquanto uma espécie de empresa ideológica (e também as


congregações religiosas ou os sindicatos), não está a discriminar e a atentar contra o principio
da igualdade quando excluí um individuo que esta filiado noutro partido pois, neste caso, a
autonomia privada deve prevalecer uma vez que a relação laboral exige uma especial
comunhão ideológica entre a entidade empregadora e os trabalhadores.

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