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A CLT não cuida de todos os institutos do processo, sendo necessária uma incessante
complementação com normas de outros ramos da ciência processual.
A questão está ligada à autonomia do processo do trabalho.
CLT, Art. 769 - Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária
do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as
normas deste Título.
Obs. Redação do art. 769 exige compatibilidade com "as normas" deste título da CLT.
Além dos artigos 769 e 889, há previsão de aplicação do processo comum para temas
específicos.
Ex. O art. 836 da CLT prevê a utilização das normas do CPC sobre a ação rescisória.
Obs. O art. 889 prevê a aplicação da lei de execuções fiscais como fonte subsidiária
nas execuções.
Obs. Essa ordem não será aplicada quando a própria CLT impuser outra sequência.
Ex. Em caso de penhora o art. 882 determina que seja seguida a sequência do CPC
(hoje o art. 835 do NCPC).
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Casos de incompatibilidade com o processo do trabalho:
? prazo em dobro para recurso de réus com diferentes advogados;
? nomeação de curador ao réu revel citado por edital ou citado com hora certa;
? devolução em dobro da dívida já paga cobrada em juízo;
? multa do art. 475-J, conforme decisões do TST (mas há controvérsia);
? etc.
?
Obs. O NCPC inova e menciona o processo do trabalho no art. 15, que pode promover
significativa alteração da forma como são analisadas as lacunas.
Manoel Antonio Teixeira Filho: há uma ousadia perigosa que atenta contra a
autonomia do processo do trabalho e viola a LINDB (lei geral não revoga lei especial).
A prescindência do requisito da compatibilidade é insensatez e irresponsabilidade.
Mas, em função do 769, o processo do trabalho não é abalado.
Cléber Lúcio: o art. 769 prevê a aplicação do processo comum, mais amplo do que a
aplicação do NCPC prevista em seu art. 15.
Doutrina:
? Edilton Meireles: não pode haver aplicação supletiva se o silêncio for eloquente. Ex.
O NCPC permite a concessão de prazo de 5 dias para complementar o depósito
recursal, tema tratado na CLT, mas não se aplica ao processo trabalhista em função
de silencio eloquente. Ex. A CLT permite a aplicação das nulidades absolutas apenas
em uma situação, a fundada em "incompetência de foro", não se aplicando a norma
mais abrangente do NCPC que permite o juiz conhecer de ofício qualquer nulidade
que seja absoluta (art. 278, parágrafo único);
? Homero: permite a aplicação do NCPC de forma supletiva nos casos em que,
mesmo não havendo omissão, puder contribuir para a maior concretização do
processo trabalhista.
Manoel Antonio Teixeira Filho: a julgar pela opinião dos juristas em geral o NCPC
exercerá influência mais intensa e perturbadora que o CPC de 73, com riscos à
autonomia do processo do trabalho, relegado a um "segundo violino da orquestra".
Schiavi: aproximação é saudável, pois nos anos 40 não havia a complexidade de hoje,
com terceirização, flexibilização e assédio processual. Ademais, na real falta de
efetividade do processo trabalhista.
A CLT possui inúmeras vantagens, mas deve influência de normas mais avançadas.
Há uma constante e saudável aproximação, sendo que muitas vezes o processo civil
se inspira no trabalhista (restrição do agravo de instrumento, impulso oficial na
execução, penhora on line, etc).
Tereza Wambier: "o legislador disse menos do que queria. (...) A aplicação é benéfica,
mesmo sem omissão, pois causa um enriquecimento do instituto.
O legislador, deixando de lado a preocupação com a linguagem, utiliza as duas
expressões: subsidiária e supletiva.
Elisson Miessa: a compatibilidade deve ser exigida, sob pena de quebra da identidade
e ideologia do sistema trabalhista.
Sobre eventual conflito entre o art. 15 do NCPC e os art. 769 e 889 da CLT temos três
correntes:
? há conflito que deve ser solucionado pelo critério da especialidade, com aplicação da
CLT;
? há conflito que deve ser solucionado pelo critério da temporariedade, com aplicação
do art. 15. Ademais, trata-se de norma de sobredireito. Assim, os artigos 769 e 889 da
CLT foram revogados;
? não há conflito, devendo haver harmonização e aplicação simultânea de ambos,
conforme prevê a teoria do diálogo das fontes. Assim, a única efetiva mudança seria a
possibilidade de aplicação do processo comum em de modo supletivo.
Schiavi: não pode o juiz do trabalho fechar os olhos para as normas de direito
processual civil mais efetivas que a CLT por ausência de omissão celetista, pois estão
em jogo interesses muito maiores que a aplicação da CLT, como a própria efetividade
do direito processual do trabalho como instrumento célere, efetivo e confiável que
garanta a efetividade da legislação trabalhista e a dignidade da pessoa humana.
Manoel Antônio Teixeira Filho. Debruçados sobre o quadro que a realidade nos coloca
diante dos olhos, podemos concluir, pela voz da consciência jurídica e sem perdermos
o senso do comedimento, que a adoção reiterada de normas processuais civis e com
a generalidade com que vem sendo feita, poderá desaguar em uma fatal
transubstanciação do processo do trabalho, com profundas alterações em sua
estrutura orgânica e em seu conteúdo axiológico, com a consequente perda da própria
identidade enciclopédica; o que será, sem dúvida, lamentável.
Hoje adotamos a teoria ampliativa: celeridade é constitucional, e, portanto, tem
hierarquia superior ao art. 769.
Antes: art. 769 era chamado de cláusula de contenção. Hoje é chamado de norma de
abertura.
A regra do artigo 769 da CLT é de proteção. Não se pode, por óbvio, usar a regra de
proteção do sistema como óbice ao seu avanço. Do contrário, pode-se ter um
processo civil mais efetivo que o processo do trabalho, o que é inconcebível, já que o
crédito trabalhista merece tratamento privilegiado no ordenamento jurídico como um
todo.
O Estado Constitucional demanda do intérprete uma nova postura, sorvendo-se,
inicialmente, do arcabouço constitucional para, somente em seguida, buscar as
demais instrumentalizações normativas infraconstitucionais.