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Filosofia no Período
Helenista
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1. OBJETIVOS
• Compreender a situação histórica na qual se originaram
as profundas mudanças no período helenístico.
• Analisar a razão pela qual a ética se torna o principal ob-
jeto da reflexão filosófica.
• Observar a configuração de novas Escolas e tendências filo-
sóficas, tais como epicurismo, estoicismo, ceticismo etc.
2. Conteúdos
• Filosofia de Epicuro.
• Filosofia dos estoicos.
• Crítica ao dogmatismo do ceticismo.
168 © História da Filosofia Antiga
4. iNTRODUÇÃO à unidade
A época do helenismo (século 3º a.C.) é um período bastante
significativo para a cultura grega. Durante essa época, ocorre uma
mudança radical na estrutura socioeconômica da sociedade anti-
ga. Em virtude da política imperialista e conquistadora de Alexan-
dre Magno e, posteriormente, do Império Romano, a cultura da
pólis grega é, praticamente, extinta. Alexandre Magno dissolve as
fronteiras da pólis, e o povo grego é obrigado a conviver com ou-
tros povos no mesmo âmbito social. Essa convivência, por um lado,
enriquece as culturas por meio do intercâmbio cultural; por outro
lado, porém, causa uma profunda crise moral. Afinal, a mistura
de povos diferentes, com culturas, crenças e costumes diferentes,
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Academia
Liceu
A Escola do Liceu dá continuidade à concepção teórica de
Aristóteles. A figura mais importante da Escola é Teofrasto (372
a.C. a 287 a.C.). A sua obra principal é Caracteres, em que o su-
cessor de Aristóteles expõe suas ideias sobre as partes mais ínti-
mas da psique humana, embora fortaleça a tendência empirista
no peripatetismo, ressaltando a importância da experiência cientí-
fica para a aquisição do conhecimento. Partindo dessa concepção
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5. Epicurismo
O epicurismo, uma das "Escolas" filosófi-
cas mais importantes do período helênico, surge
num momento não apenas de profundas trans-
formações socioeconômicas, mas também forte-
mente marcado pelo pessimismo, pelo ceticismo
e pelo fatalismo, os quais foram provocados pela
Figura 2 Epicuro. crise profunda à qual a época estava sujeita. A
Filosofia de Epicuro aparece como uma resposta a essa tendência
fatalista, dando esperança ao homem de que a felicidade, afinal de
contas, é possivel.
A Filosofia de Epicuro foi vista por alguns pensadores anti-
gos, modernos e contemporâneos com certa desconfiança e des-
prezo. Segundo M. G. Kury (1977), Cícero entendia que Epicuro
teria distorcido a herança atomista de Demócrito, e Plutarco, por
sua vez, afirma que o epicurismo é uma reprodução literal do ato-
mismo de Leucipo e Demócrito. Hegel (1956), referindo-se ao fato
de que muitos escritos de Epicuro se foram perdendo, afirma que,
com tal perda, a Filosofia só ganhou.
Apesar dessas opiniões negativas e radicais referentes à Filo-
sofia de Epicuro, não podemos deixar de notar a grande influência
que o epicurismo exerceu sobre o campo da ética. Não podemos,
também, omitir o fato de que, com Epicuro, surgiu o conceito de
liberdade.
Epicuro nasceu na Ilha de Samos, em 341 a.C. Estudou com
o platonista Pânfilo por quatro anos e destacou-se como o melhor
dos seus discípulos. Posteriormente, familiarizou-se com o atomis-
mo por meio de Nausífanes de Téos, que era discípulo de Demó-
crito. Em 306 a.C., fundou sua própria Escola filosófica, chamada
"O Jardim", na qual convivia com alguns amigos em comunidade.
Nela, lecionou até a sua morte, ocorrida em 271 a.C. A sua saúde
frágil e a sua vida, marcada pelo sofrimento, certamente, teriam
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Física epicurista
A Física epicurista é profundamente marcada pelo atomis-
mo de Leucipo e Demócrito. Em certo sentido, podemos dizer que
Epicuro retoma quase em pormenores a Física atomista, porém, o
filósofo configura-a como a parte teórica da sua Filosofia Prática.
Em outras palavras: na Física, Epicuro encontra os pilares teóri-
cos da sua ética. Assim como Demócrito, estabelece três aspectos
principais: os átomos, o espaço vazio e o movimento, partindo da
ideia atomista de materialidade do mundo, da qual se induz a con-
cepção dos átomos como os elementos primordiais para a consti-
tuição da matéria. A existência da substância material funda-se na
certeza dos dados sensíveis, conforme o argumento de que nada
surge do inexistente e, portanto, deve-se reconhecer a existência
de partículas materiais constitutivas da realidade. Retomando a
ideia de Demócrito, para Epicuro, o mundo surge em decorrência
do movimento dos átomos. O universo é infinito e, por isso, não
há localizações como "para cima", "para baixo" etc. Existem os áto-
mos e o espaço vazio, os dois aspectos da realidade. Por meio do
movimento dos átomos, ocorre a junção e a separação das coisas,
ou seja, o nascimento e o perecimento. Os átomos são eternos;
estes não surgem, uma vez que não há partículas menores que os
podem constituir. Os átomos são indivisíveis; dessa forma, não se
encontra espaço vazio em que ocorre a sua divisão e a sua trans-
formação. As partículas materiais possuem a forma que descre-
vem os limites dos átomos. Diferentemente de Demócrito, Epicuro
nega a possibilidade de os átomos possuírem formas inumeráveis.
Lógica epicurista
Na parte da lógica, o epicurismo enfatiza os problemas liga-
dos à teoria do conheciemnto. De acordo com a tradição gnosio-
lógica, Epicuro enfatiza a adequação entre o sujeito cognoscente e
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Ética epicurista
A ética – a parte mais importante da Filosofia Epicurista –
mantém, como ressaltamos anteriormente, um vínculo estreito
com a sua concepção teórica de Física. Num período bastante con-
turbado em que o homem perde seus nortes morais, essa ética
engendra o otimismo de que a felicidade pode ser acessível. Aqui,
a teoria física do movimento, por meio do desvio espontâneo dos
Nirvana –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Nirvana é a cessação do sofrimento; a palavra pali nibbana significa "extinguir".
Uma concepção errônea que as pessoas têm a respeito é a de que serão aniquila-
das. O que é aniquilado é o apego, a aversão e a delusão. Não há extinção do eu,
porque não há eu algum a ser extinto de acordo com o conceito budista de anatta.
[...] Perceba a diferença, por exemplo, entre quando você está envolvido pela rai-
va, tomado por ela, e quando está aberto a ela. Perceba o momento em que você
não está mais identificado com a raiva, perceba a liberdade de sua mente neste
momento. Você está sendo liberado da prisão do apego e da identificação com a
experiência, a prisão do eu. Este é o sabor do nirvana (Disponível em: <http://www.
casadedharma.org/uploads/media/Bhavan_Guide__L13.pdf>. Acesso em: 27 abr.
2010).
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6. Estoicismo
Estoicismo ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O estoicismo aparece, segundo Hegel, como a primeira forma de liberdade inte-
rior. Tendo desaparecido a liberdade como autonomia (Momento do Espírito Ime-
diato), pela qual o cidadão participava das decisões sobre o destino da cidade,
o homem precisou buscar em si a razão de seu agir moral que se destacava da
ação política, agora a cargo do imperador (Disponível em: <http://conpedi.org/
manaus/arquivos/anais/brasilia/12_662.pdf>. Acesso em: 23 de abr. 2010).
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Cosmologia estoica
Na área cosmológica da sua Física, os estoicos defendem a con-
cepção da limitação do cosmos no tempo e no espaço. Eles incorpo-
ram à sua doutrina as ideias de Heráclito a respeito da palingenesis.
Os estoicos acreditam que, no incêndio mundial, se realizou uma
gênese do fogo (palingenesis), por meio da qual se deu a purificação
do universo. Dentro de um ciclo cósmico, segundo os estoicos, as
transformações levam à degradação e à corrupção das coisas e, por
meio da entropia ou da catarse cósmica, o mundo purifica-se.
Uma ideia bastante presente na doutrina dos estoicos é a
ideia dos princípios, de acordo com a qual há dois princípios fun-
damentais: o ativo e o passivo. O princípio ativo, segundo os estoi-
cos, é o logos, ao passo que o princípio passivo é a matéria. Esses
dois princípios se relacionam por meio de uma ligação íntima. O
logos é concebido como a lei universal do cosmos e da natureza.
Ele lembra o fogo de Heráclito e a sua natureza dinâmica. Como
matéria, o princípio passivo é uma natureza amorfa. Na natureza,
afirmam os estoicos, há uma simpatia universal entre os fenôme-
nos determinados pelo logos, uma vez que ele está presente em
todas as coisas. Daí o panteísmo da Física estoica: a identidade de
Deus com a natureza. Essa concepção panteísta determina, tam-
bém, o ideal cosmopolita dos estoicos.
O objeto principal da Física estoica é a natureza, definida
como uma realidade cheia de vida e de movimento. A manifes-
tação mais essencial do movimento é o tônus, que é uma tensão
natural nas coisas que surge a partir de movimentos contrários. O
dinamismo da Física estoica está intimamente ligado às represen-
tações hilozoístas, segundo as quais o logos penetra em todas as
coisas. Isso faz do mundo um ser vivo, racional e animado. Vale
observar que o hilozoísmo da Escola Estoica se contrapõe às re-
presentações ingênuas do sobrenatural. Nesse sentido, os estoi-
cos negam o papel das forças sobrenaturais, embora o hilozoísmo
seja compreendido como uma tentativa de se explicar a relação
existente entre o espiritual e o material, tentando-se evitar as po-
sições radicais tanto dos idealistas como dos materialistas.
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Lógica no estoicismo
Referente à lógica, as contribuições dos estoicos são bastan-
te significativas. A lógica, de acordo com a doutrina estoica, inclui
a retórica e a dialética. A retórica é o estudo da linguagem e, espe-
cialmente, da gramática. A dialética, por sua vez, ocupa-se, em es-
pecial, dos problemas gnosiológicos. Tais problemas são tratados
de acordo com o nominalismo, que afirma que o objeto real do co-
nhecimento é o concreto, sobre o qual se emitem os juízos verda-
deiros. Conforme a ênfase nominalista, rejeita-se a lógica formal,
com a dedução e o silogismo. Além disso, valoriza-se, sobretudo,
a lógica indutiva, que se desenvolve em três graus: observação,
comparação e analogia.
A doutrina ética dos estoicos e os problemas ligados à sua
Filosofia Prática, como veremos mais adiante, ganham força e des-
taque apenas no próximo período, ou seja, no período romano,
com a Nova Stoa e os seus representas principais: Sêneca, Epic-
teto e Marco Aurélio. Portanto, sobre a ética estoica, falaremos
na próxima unidade, na qual daremos continuidade ao estudo da
Filosofia Estoica.
7. Ceticismo
O ceticismo é uma das principais vertentes da época do he-
lenismo. Seu traço peculiar é a união entre a ética e a gnosiologia.
Todavia, o que predomina no ceticismo são os problemas vincula-
Pirronismo
O pirronismo é a primeira versão histórica do ceticismo an-
tigo, cujo fundador é Pirro. Ele nasceu em Peloponeso e viveu no
período entre 360 a.C. e 270 a.C. Pirro submeteu à crítica pratica-
mente todas as doutrinas filosóficas, enfatizando o espírito destru-
tivo do ceticismo. Os princípios norteadores do pirronismo e, em
geral, do ceticismo são dois:
• dúvida e suspensão do juízo;
• ataraxia, isto é, imperturbabilidade do espírito diante das
tensões externas.
Uma importância fundamental para o ceticismo possui a
noção de "fenômeno". As diferentes características dessa noção
podem ser reduzidas a duas principais, a saber: antes de tudo, o
fenômeno associa-se não apenas a todos os eventos externamen-
te perceptíveis, mas também aos dados sensíveis, no sentido vasto
da palavra. A concepção subjetivista do pirronismo, normalmente,
rejeita a primeira noção de fenômeno. Ela compreende-o, unica-
mente, como fato sensível. É justamente essa concepção de fenô-
meno que fundamenta a sua posição gnosiológica: a aceitação da
atividade sensível como a principal fonte de informações. A con-
cepção de equivalência entre os dados sensíveis leva à conclusão
de que toda posição teórica possui um valor totalmente igual ao
da posição oposta. Essa equivalência de posições contrárias cons-
titui o conceito de "isostenia", conforme o qual tanto a tese como
a antítese possuem igual valor. A isostenia implica a negação de
qualquer tipo de dogmatismo. A equivalência de posições opos-
tas significa, para o pirronismo, que o indivíduo é totalmente livre
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8. Ceticismo acadêmico
O ceticismo acadêmico é a segunda forma teórica do ceticis-
mo. Em sua essência, ele é idêntico ao pirronismo, enquanto eleva
como fio condutor de sua concepção o princípio da dúvida. O ce-
ticismo acadêmico, podemos dizer, é a aplicação do pirronismo na
Academia. Todavia, a segunda versão cética apresenta a tentativa
de se evitar algumas teses radicais do pirronismo e de teorizar os
seus princípios.
Um dos representantes principais desse movimento cético é
Carnéades (217-132 a.C.). Contra quaisquer tipos de dogmatismo,
Carnéades forja uma série de argumentos lógico-teóricos. Nesse
sentido, vale notar que a sua crítica ao dogmatismo explicita um
lado extremamente valioso para o ceticismo acadêmico. Segundo
o filósofo cético, o dogmatismo fundamenta-se, exclusivamente,
na dedução de que todo o poder das operações lógicas consiste
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar as
questões a seguir que tratam da temática desenvolvida nesta unida-
de, ou seja, das principais teses da Filosofia do período helenista.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades em
responder a essas questões, procure revisar os conteúdos estuda-
dos para sanar as suas dúvidas. Esse é o momento ideal para que
você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Edu-
cação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma
cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas desco-
bertas com os seus colegas.
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Em linhas gerais, podemos definir a ética de Epicuro como um sistema te-
órico de normas e condutas que deve conduzir à felicidade. Essas normas
práticas podem ser resumidas em quatro pontos. Quais são eles?
a) Obediência aos deuses; indiferença diante da morte; a possibilidade do
alcance da felicidade; coragem e resistência interna do espírito para en-
frentar os golpes do destino.
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Gabarito
Depois de responder às questões autoavaliativas, é impor-
tante que você confira o seu desempenho, a fim de que possa sa-
ber se é preciso retomar o estudo desta unidade. Assim, confira, a
seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas pro-
postas anteriormente:
1) b.
2) a.
3) d.
4) c.
10. Considerações
Nesta unidade, você pôde ver que a principal preocupação
dos filósofos do período helenístico foram as elaborações de dou-
trinas éticas. Por meio destas, esses pensadores tentaram erguer,
novamente, o homem do abalo causado pelas grandes mudanças
socioculturais ocorridas por meio da política imperialista e con-
quistadora de Alexandre Magno, o que resultou na dissolução da
cultura da pólis grega. Na próxima unidade, veremos quais foram
as doutrinas filosóficas que tiveram mais relevância no chamado
período romano da Filosofia. Como você já pôde ver nesta unida-
de, o estoicismo é uma Escola muito importante deste período.
Portanto, não deixe de fazer a revisão de sua aprendizagem, afi-
nal, isso poderá facilitar a sua compreensão dos assuntos que logo
abordaremos.
Vamos seguir em frente com nosso CRC História da Filosofia
Antiga, que trata de um período fascinante do pensamento Oci-
dental!
11. e-referências
Lista de figuras
Figura 1 Platão e seus discípulos na Academia. Disponível em: <http://greciantiga.org/
img/index.asp?num=0357>. Acesso em: 26 abr. 2010.
Figura 2 Epicuro. Disponível em: <http://www.consciencia.org/imagens/epicuro.jpg>.
Acesso em: 23 abr. 2010.
Figura 3 Zenão de Citião. Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/thumb/4/41/Zeno_of_Citium_pushkin.jpg/180px-Zeno_of_Citium_pushkin.
jpg>. Acesso em: 23 abr. 2010.
Figura 4 Crisipo. Disponível em: <http://www.consciencia.org/bancodeimagens/
displayimage.php?album=56&pid=17>. Acesso em: 23 abr. 2010.
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