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***Mulheres são seres humanos e

conseqüentemente têm todos os direitos naturais


que quaisquer seres humanos têm. Elas têm tanto
direito quanto os homens de fazer leis, e nenhum
mais; E ISSO NÃO É DIREITO NENHUM.
Nenhum ser humano, nem qualquer número de
seres humanos, tem qualquer direito de fazer leis
e compelir os outros seres humanos a segui-las.
Dizer que eles têm esse direito é dizer que eles
são os mestres e donos daqueles de quem
requerem obediência.A única lei que qualquer ser
humano pode ser legitimamente compelido a
obedecer é simplesmente a lei da justiça. E a
justiça não é uma coisa que é feita, ou que pode
ser desfeita, ou alterada, por alguma autoridade
humana. Ela é um princípio natural, inerente à
natureza do homem e das coisas. É o princípio
natural que determina o que é meu e o que é seu,
qual é o direito ou a propriedade de um homem e
qual é o direito ou a propriedade de outro
homem. É, por assim dizer, a linha que a
Natureza desenhou entre os direitos de um
homem à pessoa e à propriedade e os direitos de
outro homem à pessoa e
à propriedade.Esse princípio natural, o qual
chamamos de justiça e que atribuímos a cada um
e a todos seres humanos, é, eu repito, não uma
coisa que foi feita, mas uma questão de ciência a
ser aprendida, como a matemática, a química ou
a geologia. E todas as leis, assim chamadas, que o
homem já fez para criar, definir ou controlar os
direitos dos indivíduos foram intrinsecamente
tão absurdas e ridículas como seriam leis para
criar, definir ou controlar a matemática, a
química ou a geologia.
Substancialmente, toda a tirania, saques e
crimes que os governos já cometeram — e eles
cometeram por si mesmos ou licenciaram os
outros para cometer quase todos que já foram
cometidos no mundo por qualquer um — foram
cometidos por eles sob a pretensão de fazer leis.
Alguns homens, ou alguns grupos de homens,
reclamaram o direito ou usurparam o poder de
fazer leis e compelir os outros homens a obedecê-
las; assim estabelecendo suas próprias vontades, e
aplicando-as, no lugar da lei natural, ou princípio
natural, que diz que nenhum homem ou grupo
de homens pode legitimamente exercer qualquer
poder sobre as pessoas e as propriedades dos
outros.
Há uma grande classe de homens tão
gananciosos que desejam se apropriar para seus
próprios usos das pessoas e das propriedades dos
outros homens. Eles se combinaram para esse
propósito, se chamaram de governos, fizeram o
que chamaram de leis e então empregaram
cortes, governantes, oficiais e, como último
recurso, baionetas para assegurar a obediência
dos outros.
Há uma outra classe de homens, que são
devorados pela ambição, pelo amor ao poder e
pelo amor à fama.
Eles pensam que é algo muito glorioso
dominar os homens, fazer leis para governá-los.
Mas como eles mesmos não têm poder para exigir
obediência, eles se unem com a classe gananciosa
mencionada anteriormente e se tornam suas
ferramentas. Eles prometem fazer as leis que a
classe dos gananciosos desejar, se esta última
classe autorizá-los a agir em seu nome e a
fornecer dinheiro e soldados para colocar suas
leis, assim chamadas, em vigor.
Outra classe de homens, sublimemente
vaidosos de sua própria sabedoria, virtude ou
religião, pensa que tem o direito, e um tipo de
autoridade divina, de fazer leis que governam
aqueles que eles pensam ser menos sábios,
virtuosos ou religiosos que eles mesmos. Eles
assumem saber o que é melhor para todos os
outros homens fazerem ou não, serem ou não,
terem ou não. E eles conspiram para fazer leis
que obriguem todos os outros homens a seguir
suas vontades ou, como eles diriam, seus juízos
superiores. Eles parecem não ter percepção da
verdade de que a cada ser humano foi dado uma
mente e um corpo próprios, separados e distintos
das mentes e corpos dos outros homens; e que a
mente e o corpo de cada homem têm, por
natureza, direitos que são totalmente separados e
distintos dos direitos de todos os outros homens;
que esses direitos individuais são realmente os
únicos direitos humanos que há no mundo; que
os direitos de cada homem são simplesmente o
direito de controlar sua própria alma, corpo e
propriedade, de acordo com sua própria vontade,
prazer e juízo, posto que ele não interfira com os
iguais direitos dos outros homens de exercício
livre e controle de suas almas, corpos e
propriedades. Eles parecem não conceber a
verdade de que, deixando as almas, corpos e
propriedades dos outros sozinhas, o homem não
tem obrigação nenhuma de acreditar nessa
sabedoria, virtude ou religião como eles fazem ou
pensam que é melhor para ele.
Esse grupo de pessoas sábias, virtuosas e
religiosas, não sendo suficientemente poderosos
para fazerem leis e aplicá-las sobre o resto da
humanidade, se combinaram com as classes
gananciosas e ambiciosas mencionadas para levar
adiante os propósitos com que todos
concordaram. E a farsa, o jargão e a Babel que
eles todos fazem do que chamam de governo
seriam supremamente patéticos e ridículos, se
não fossem a causa de quase toda a pobreza,
ignorância, vícios, crimes e miséria que existem
no mundo.
Desta última classe — isto é, dos vaidosos,
sábios, virtuosos e religiosos — são aqueles que
defendem o sufrágio feminino e estão tão
ansiosos para que as mulheres participem da
falsidade, do absurdo, da usurpação e do crime de
fazer leis e de obrigar os outros a segui-las. É
impressionante quanta sabedoria, virtude e
conhecimento as mulheres se propõem a aplicar e
forçar sobre o resto da humanidade se puderem
participar junto com os homens na confecção de
leis. De acordo com suas próprias promessas e
predições, não haverá um único humano natural
a ser deixado à própria sorte no mundo se as
mulheres puderem ser eleitas e adicionarem seus
poderes ao dos homens na feitura de leis que
ninguém tem o direito de fazer, e que ninguém
terá a menor obrigação de obedecer. De acordo
com o programa dessas pessoas, nós estamos
prestes a ser colocados no moinho legislativo e a
ser invadidos, amarrados, trabalhados e
moldados de uma forma que mal parecerá a de
seres humanos. Assumindo ser deuses, eles se
propõem a nos refazer à suas imagens. Mas há
tantas imagens diferentes entre eles que nós
podemos, no máximo, ter uma característica de
um modelo apenas e outra de outro. O que o
conglomerado do animal humano será no fim é
impossível conjeturar.
Não é melhor que soframos os quase
insuportáveis males infligidos a nós pelas leis já
feitas — de qualquer forma é melhor sermos (se
nos for permitido) seres humanos simples como a
Natureza nos fez — do que sermos moldados de
forma horrível e grotesca pelo novo conjunto de
legisladores, se acontecer de eles tentarem
exercer seus poderes sobre nós?
O pretexto que as mulheres oferecem para
todas as leis que propõem infligir a nós é que elas
mesmas são oprimidas pelas leis que ora existem.
É claro que elas são oprimidas; e também são
todos os homens — exceto os opressores. Como
regra geral, a opressão foi o único motivo pelo
qual as leis já foram feitas. Se os homens
quisessem justiça, e apenas justiça, nenhuma lei
jamais precisaria ser feita, uma vez que a justiça
em si não é algo que possa ser feito. Se os homens
ou mulheres, ou os homens e mulheres, querem
justiça, e apenas justiça, o caminho apropriado é
o de não fazer nenhuma outra lei, mas abolir as
leis — todas as leis — que já foram feitas.
Quando eles abolirem as leis que já foram feitas,
deixe-os estudar e observar e, se preciso, aplicar,
a única lei universal — a lei da Natureza — a qual
é “a mesma em Roma e em Atenas” — na China e
na Inglaterra — e a qual o homem não fez.
Mulheres e homens, então, igualmente terão seus
direitos; todos os seus direitos; todos os direitos
que a Natureza lhes deu. Mas até lá, nem os
homens nem as mulheres não terão nada que
possam chamar de direitos. Eles terão no máximo
as liberdades e privilégios que as leis que forem
feitas lhes permitirem.
Se as mulheres, em vez de pleitearem a
admissão na participação do poder de fazer mais
leis, disserem aos presentes legisladores que elas
estão indo para a Câmara do Estado e que vão
jogar ao fogo todos os livros de estatutos
existentes, elas farão uma coisa muito sensata —
uma das coisas mais sensatas que elas têm o
poder de fazer. E elas terão uma platéia de
homens — pelo menos todos os homens sensatos
e honestos no país — para apoiá-las.
Mas este assunto requer um tratado e não
deve ser julgado pelas poucas palavras aqui
escritas. E nem nenhuma repulsa especial deve
ser alimentada em relação às sufragistas
femininas; muitas das quais estão
indubitavelmente entre as melhores e mais
honestas daquelas tolas pessoas que acreditam
que as leis devem ser feitas.

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