Por Marc Bloch (Lyon, 6 de julho de 1886 — Saint-Didier-de-Formans, 16 de junho de 1944)
A motivação Papai, então me explica para que serve a história”. Assim, um garoto, de quem gosto muito, interrogava há poucos anos um pai historiador. Sobre o livro que se ai ler, gostaria de poder dizer que é a minha resposta. Pois não imagino, para um escritor, elogio mais belo do que saber falar, no mesmo tom, aos doutos e aos escolares. O Ocidente e a História Eis portanto o historiador chamado a prestar contas. Só se arriscará a isso com certo estremecimento interior: que artesão envelhecido no ofício não se perguntou algum dia, com um aperto no coração, se fez de sua vida um uso sensato? Mas o debate supera, em muito, os pequenos escrúpulos de uma moral corporativa. Nossa civilização ocidental inteira está interessada nele. Pois, diferentemente de outros tipos de cultura, ela sempre esperou muito de sua memória. Tudo leva a isso: tanto a herança cristã como a herança antiga. Os gregos e os latinos, nossos primeiros mestres, eram povos historiógrafos. O cristianismo é uma religião de historiador. Outros sistemas religiosos fundaram suas crenças e seus ritos sobre uma mitologia praticamente exterior ao tempo humano; como Livros sagrados, os cristãos têm livros de história, e suas liturgias comemoram, com os episódios da vida terrestre de um Deus, os faustos da Igreja e dos santos. Histórico, o cristianismo o é ainda de outra maneira, talvez mais profunda: colocado entre a Queda e o Juízo, o destino da humanidade afigura-se, a seus olhos, uma longa aventura, da qual cada vida individual, cada “peregrinação” particular, apresenta, por sua vez, o reflexo; é nessa duração, portanto dentro da história, que se desenrola, eixo central de toda meditação cristã, o grande drama do Pecado e da Redenção. Nossa arte, nossos monumentos literários estão carregados dos ecos do passado, nossos homens de ação trazem incessantemente na boca suas lições, reais ou supostas. Agora responda 1. Você concorda com a afirmação de Marc Bloch de que a civilização ocidental sempre esperou muito de sua memória?
2. Consegue dar outros exemplos da estima
que o Ocidente nutre pela história? A ciência dos homens no tempo Diz-se algumas vezes: “a história é a ciência do passado”. É no meu modo de ver falar errado. (…) Há muito tempo, com efeito, nossos grandes precursores, Michelet, Fustel de Coulanges, nos ensinaram a reconhecer: o objeto da história é, por natureza, o homem. Digamos melhor: os homens. (…) Por trás dos grandes vestígios sensíveis da paisagem, os artefatos ou as máquinas, por trás dos escritos aparentemente mais insípidos e as instituições aparentemente mais desligadas daqueles que as criaram, são os homens que a história quer capturar. Quem não conseguir isso será apenas, no máximo, um serviçal da erudição. Já o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça. (…) “Ciência dos homens”, dissemos. É ainda vago demais. É preciso acrescentar: “dos homens, no tempo”. O historiador não apenas pensa “humano”. A atmosfera em que seu pensamento respira naturalmente é a categoria da duração. Mas que tempo? Nenhum historiador se contentará em constatar que César levou oito anos para conquistar a Gália e que foram necessários quinze anos a Lutero para que, do ortodoxo noviço de Erfurt, saíssem o reformador de Wittenberg. Importa-lhe muito mais atribuir à conquista da Gália seu exato lugar cronológico nas vicissitudes das sociedades europeias; e, sem absolutamente negar o que uma crise espiritual como a de irmão Martinho continha de eterno, só julgará ter prestado contas disso depois de ter fixado, com precisão, seu momento na curva dos destinos tanto do homem que foi seu herói como da civilização que teve como atmosfera. Marc Bloch quando serviu como sargento na Primeira Guerra Mundial. O que vocês precisam saber ● O objeto da História é sempre o humano no tempo ● O tempo histórico não é puramente cronológico, é processual! ● Observe isso na linha do tempo Agora responda 1. A partir do que vimos até agora, você considera importante decorar datas para compreender a História? 2. A linha do tempo é um recurso referencial. Embora não resuma a História, nos ajuda a localizar os processos no tempo a partir de suas principais características. Partindo do que você estudou no Ensino Fundamental, identifique as principais características de cada “Idade” na linha do tempo. História em vídeo Nós que aqui estamos por vós esperamos