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Raphael Sergio Rios Chaia Jacob |Gabriela Luciano Borri |Heitor Romero Marques
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A tutela inibitória coletiva será abordada especialmente no que diz respeito às tutelas
do meio ambiente e defesa do consumidor.
INTRODUÇÃO
De tempos em tempos, o Direito se depara com novos desafios que parecem conferir-
lhe ainda mais importância em seu trabalho de pacificação social. Se outrora a defesa
das liberdades individuais – que hoje nos são tão caras – era o bastião dos grandes
constitucionalistas, hoje a realidade nos mostra que interesses outros estão em pauta,
quiçá mais ameaçados, pois carecem de instrumentos adequados à sua tutela. Os
direitos difusos, ante as suas peculiaridades, não são particulares, tampouco públicos.
Habitam, pois, a região pantanosa de direitos que concernem tanto ao particular
individualmente considerado, quanto à coletividade propriamente dita.
Como fácil é ver, o tema deste trabalho e justamente alinhar estes dois grandes
institutos de efetivação da tutela jurisdicional: as ações coletivas e a tutela inibitória.
Para alcançar aludido objetivo adotou-se como linha teórica o método dedutivo,
baseado nos procedimentos da pesquisa bibliográfica e da compilação.
1.A DEFESA DOS INTERESSES COLETIVOS EM JUÍZO
1.1.INTERESSES METAINDIVIDUAIS
Mesmo dentro dessa categoria intermediária, contudo, foi possível estabelecer uma
distinção entre os interesses que atingem uma categoria determinada de pessoas (ou,
pelo menos, determinável) e os que atingem um grupo indeterminado de indivíduos
(ou de difícil determinação). [03]
Alguns interesses difusos, pela sua abrangência, podem ser classificados como
verdadeiro interesse púbico. A pretensão a um meio ambiente equilibrado e hígido,
embora seja de interesse indeterminável e indivisível de pessoas (interesses difusos),
é de interesse de toda a coletividade. Todavia, faz-se mister a necessária cautela, pois
as duas classificações doutrinárias nem sempre se confundem, já que é possível
haver interesses difusos de menos abrangência que o interesse público, com
eventuais conflitos entre os interesses difusos de um determinado grupo e da
coletividade como um todo.
Como exemplo, o aumento ilegal de prestações de um consórcio pode ser citado. Ora,
o interesse de se ter reconhecido a ilegalidade de um aumento abusivo das
prestações de um consórcio é partilhado indivisivelmente por todos os consorciados
de forma não quantificável. A ilegalidade do aumento não será maior para o
consorciado que possui inúmeras cotas, tampouco será menor para aquele que
apenas uma possui. A ilegalidade será a mesma para todos, de forma indivisível.
Evidentemente, se os eventuais prejuízos sofridos pelo grupo forem individualizáveis,
e seu ressarcimento seja justamente o escopo da tutela jurisdicional pretendida, estar-
se-ia diante de interesses individuais homogêneos, e não propriamente de interesses
coletivos de um determinado grupo.
Com a evolução legislativa, especialmente com o advento da Lei nº. 7.347/85 (Lei da
Ação Civil Pública), passou-se a admitir a defesa dos interesses difusos, coletivos e
individuais homogêneos por meio da legitimação extraordinária. Nessa seara, a
doutrina divide-se. Há a tendência de realçar a legitimação ordinária quando alguém,
ainda que legitimado extraordinariamente, a par de defender em juízo interesses de
terceiros, também defende direito próprio. Mazzilli cita Trocker e Humberto Theodoro
Júnior, que defendem que "o grupo juridicamente organizado, mesmo quando deduz
em juízo um direito cuja titularidade pertence a outrem, está fazendo atuar, na
realidade, um interesse próprio que é o de reintegração da situação garantida". [06]
Segundo esse argumento, a defesa em juízo dos interesses coletivos de uma entidade
de classe, por exemplo, coincide com a defesa de interesse próprio da entidade,
conforme seus fins sociais. Desta forma, ao defender, em extensão, os seus próprios
interesses quando defende os interesses dos seus membros, a associação de classe
teria legitimação ordinária, e não extraordinária.
A lei que disciplina a ação civil pública não a restringiu somente à iniciativa do
Ministério Público, tendência correta esta confirmada pelo legislador constituinte, que
impediu que esta instituição detivesse qualquer monopólio na propositura de ações
cíveis, ao contrário do que ocorre com a ação penal pública.
O artigo 9º da Lei da Ação Civil Pública prescreve que "se o órgão do Ministério
Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da inexistência de fundamento
para a propositura da ação civil, promoverá o arquivamento dos autos do inquérito civil
ou das peças informativas, fazendo-o fundamentadamente". [08] Há, portanto, todo um
mecanismo de controle da não-propositura da ação civil pública pelo Ministério
Público, sem quebra alguma do princípio da obrigatoriedade.
No que se refere à indisponibilidade da ação civil pública o §3º do Art. 5º da Lei nº.
7.347/85 aduz, também, que cabe ao Ministério Público "assumir" a titularidade ativa,
em caso de desistência ou abandono da ação por associação legitimada.
Criado pela Lei nº. 7.347/85 [09] e depois consagrado pela Constituição Federal [10], o
inquérito civil é um procedimento investigativo promovido pelo Ministério Público para
colher elementos de convicção do órgão ministerial para a propositura de eventual
ação civil pública ou, fundamentadamente, promover seu arquivamento.
O inquérito civil não é pressuposto processual obrigatório para que o Ministério Público
compareça a juízo. É instrumento extremamente útil, porém, nem sempre necessário,
pois pode ser dispensado quando o órgão ministerial já disponha de elementos de
convicção suficientes para a propositura da ação principal.
O inquérito civil deve sempre terminar com a propositura da ação civil pública, ou,
noutra hipótese, com o seu arquivamento pelo Promotor de Justiça; neste último caso,
com a revisão do ato de arquivamento pelo Conselho Superior do Ministério Público.
Mas pode ocorrer que o inquérito civil investigue mais de um evento danoso
(pluralidade de objeto) ou mais de um envolvido (pluralidade de sujeitos)e o órgão
ministerial promova a ação civil pública em relação a apenas um dos objetos ou tão-
somente a um ou alguns dos envolvidos. Neste caso, a restrição quanto aos limites
objetivos e subjetivos da lide, sem fundamentação em relação aos outros possíveis
ilícitos ou seus autores nos leva à conclusão de que houve um "arquivamento
implícito".
Como se infere claramente na Lei nº. 7.347/85, nem todos os legitimados ativos à
ação civil pública ou coletiva podem tomar compromissos de ajustamento de conduta,
mas tão-somente os órgãos públicos legitimados. Ou seja, para os fins do Art. 5º, § 6º,
da Lei da Ação Civil Pública, estão autorizadas a tomar compromissos de ajustamento
as pessoas jurídicas de direito público interno e seus órgãos, excluídas as demais
entidades da Administração indireta ou que tenham regime jurídico próprio das
empresas privadas.
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Autores
Possui graduação em Direito pela Universidade Católica Dom Bosco (2002). Tem
experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Penal e Processual Penal,
Direito Ambiental, Direito Eletrônico e Linguagem Forense. Pós-Graduado em Direito
Ambiental pela Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do
Pantanal - UNIDERP (2008). Pós-Graduando em Direito Eletrônico. Mestre em
Desenvolvimento Local pela Universidade Católica Dom Bosco (2010).
Site(s):
www.raphaelchaia.com.br
lattes.cnpq.br/8867797849762208
JACOB, Raphael Sergio Rios Chaia; BORRI, Gabriela Luciano et al. A tutela inibitória
nas ações coletivas. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 16, n.
2984, 2 set. 2011. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/19921>. Acesso em: 1
abr. 2019.