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Estudos no NT: as cartas gerais e a apocalíptica [B] - Armindo Edegar Hein - UNIGRAN

Aula 02

EPÍSTOLA AOS HEBREUS:


ESTRUTURA E CONTEÚDO

A carta aos Hebreus, no que diz respeito ao seu conteúdo, é um texto singular no
Novo Testamento; “Ela começa como um tratado, continua como um sermão e conclui como
uma carta.” 1 e seu conteúdo é oportuno e pertinente para o povo de Deus, hoje, que a
semelhança dos leitores a quem foi destinada, se encontra debilitada no conhecimento do
caráter supremo de Jesus.
Dito isso, afirmamos que é necessário estudar o conteúdo desta epístola com muita
atenção, pois os ensinos do autor, suas verdades e seus desafios aos Hebreus, não divergem
muito daquilo que vivenciamos, apesar de vinte séculos nos separarem. Além disso, ele fala
de Jesus nosso Supremo Senhor, Salvador, Rei e Sacerdote.

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HALE, Broadus David. Introdução ao Estudo do Novo Testamento. Rio de Janeiro: JUERP, 1983, p.337.
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ESTRUTURA

Podemos estudar a carta elaborando um esquema a partir das exortações. Nesse


caso a estrutura de Hebreus fica da seguinte forma:

• um prólogo (1.1 a 4.13) onde os leitores são exortados a ouvir a palavra de Deus
no Filho, Jesus Cristo, que é superior aos anjos e a Moisés;
• duas exposições sobre Jesus como Sumo Sacerdote (4.14 a 6.20 e 7.1 a 10.31).
Nesta parte os leitores são exortados a se aproximar do Sumo Sacerdote e do santuário
celeste, devem manter, com firmeza, a sua confissão;
• um epílogo (10.32 a 13.25) onde são exortados a perseverar na fidelidade a Jesus
Cristo, que foi quem iniciou e aperfeiçoou a fé.2

A epístola também pode ser estudada a partir de uma divisão em duas partes 3. Na
primeira parte se apresenta a pessoa e o caráter de Cristo em relação a Deus, à história da
redenção e à humanidade. Cristo é apresentado com tanta majestade que não existe sombra
de dúvida acerca da sua pessoa, mas também aparece uma severa advertência contra aquele
que menospreza esta majestade. Veja como fica o desenvolvimento do conteúdo da carta
nesta estrutura:

O TEMA DOUTRINÁRIO: A SUPERIORIDADE DE CRISTO (1.1 A 10.18)

A Pessoa de Cristo (1.1 a 4.13):


• Cristo é superior aos profetas (1.1-4). Neste caso os profetas aparecem como
representantes da revelação do Antigo Testamento;
• Cristo é superior aos anjos (1.5 a 2.18). Essa superioridade de Cristo é defendida
com base nas escrituras (sete citações do Antigo Testamento). Nesta seção, a aparente
fragilidade de Cristo, por causa de seus sofrimentos, é explicada e justificada;
� Parêntesis (2.1-4). Solenes advertências são feitas àqueles que
negligenciaram a revelação de Deus;
• Cristo é superior a Moisés (3.1-19). Visto que Moisés não passava de um servo,
a filiação de Cristo estabelece sua superioridade sobre o grande legislador do Antigo
Testamento. Sua superioridade também é vista no fato de que Moisés, diferentemente de
Cristo, não podia conduzir seu povo ao descanso;
• Cristo é superior a Josué (4.1-13). Embora Josué tivesse liderado os israelitas
até sua herança, um descanso melhor, ainda futuro, está reservado para o povo de Deus.

2
Entre os que defendem esta estrutura é: KUMMEL, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 1982,
p.511-512.
3
Esta estrutura é elaborada por: DUGLAS, J.D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2003, p.701.
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A Obra de Cristo (4.14 a 10.18): A obra de Cristo é detalhadamente


exemplificada em seu ofício de sacerdote:
• Seu sacerdócio é divinamente apontado (4.14 a 5.10). Nessa parte há qualificação
de Cristo para o ofício de Sumo Sacerdote;
• Seu sacerdócio é conforme a ordem de Melquisedeque (5.11 a 7.28). Esta parte
do texto é composta pelo seguinte conteúdo: uma repreensão, uma solene advertência e uma
exortação (5.11 a 6.8);
• A afirmação de que o sacerdócio de Cristo é perpétuo. Essa verdade é
exemplificada com a ordem de Melquisedeque. O autor mostra com isso que supera o
sacerdócio levítico por ser antes dele (7.1-19). Além disso, diferentemente do sacerdócio
levítico que tem imperfeições, o sacerdócio de Cristo não foi afetado pela morte, nem maculado
pelo pecado (7.20-28);
• A obra de Cristo no novo pacto (8.1 a 9.10). Nessa parte da epístola o autor
argumenta mostrando que cada aspecto da antiga aliança tem seu paralelo no novo pacto.
Há, no entanto, um novo santuário e um só mediador da nova aliança que ministra neste
santuário;
• A obra de Cristo se centraliza na expiação perfeita (9.11 a 10.18). O sumo
sacerdote Jesus ofereceu um sacrifício sem igual – a si mesmo. Seu sacrifício perfeito exibe
as falhas do sistema levítico. Seu ministério, diferente do arônico, é completo e eficaz.

Aplicação Prática do Tema Doutrinário (10.19 a 13.25):


• Exortações para a firmeza (10.19-25). Nesta parte os leitores são incentivados
a viver em intimidade com Deus. Mas essa intimidade precisava ser desenvolvida com coração
sincero, livres de pecado. Isso os ajudaria a permanecer firmes, o que implicava em não
deixar de congregar com os demais da comunidade.
• Uma firme advertência contra a apostasia e encorajamento baseado em
experiências anteriores (10.26-37). Aqui os leitores são advertidos da seriedade do
compromisso com Cristo; e são lembrados de tudo que já haviam sofrido por causa de Cristo
sem desfalecer. Portanto, não era hora de desanimar, mas prosseguir com firmeza e
determinação.
• Exemplos do passado – heróis da fé (11.1-40). O escritor lembra a fé e as ações
de heróis da história judaica para inspirar seus leitores à ação heróica.
• Conselho em relação aos sofrimentos presentes (12.1-29). O autor mostra que
as tribulações presentes devem ser consideradas como disciplina do Senhor e para construir
seus argumentos faz advertências baseadas na historia de Esaú. Finaliza com um contraste
entre o antigo pacto e a maior glória do novo pacto.
• Responsabilidades Cristãs (13.1-25) Nesta parte do texto, o autor faz várias
exortações no âmbito da vida social e pessoal dos seus leitores, mostrando a responsabilidade
que tinham como cristãos.
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CONTEÚDO

Interessante é o fato de que quando analisamos a estrutura da epístola percebemos


em seu conteúdo que o tema principal é a superioridade de Cristo desenvolvida em toda a
carta. Não é, portanto, o núcleo de uma parte da carta, mas é o próprio conteúdo sobre
Cristo desenvolvido na epístola. Olhando sob esse prisma, percebemos a semelhança da
estrutura da carta com as afirmações da superioridade de Cristo apresentadas no prólogo.
As palavras “melhor”, “superior”, “perfeito”, “celestial” aparecem freqüentemente,
demonstrando que Cristo é superior tanto em sua pessoa quanto em seu sacerdócio. Jesus é
superior aos profetas, é superior aos anjos, é superior a Moisés e Josué.
A palavra grega “kreittwn” (Kreitton), que significa mais forte, mais poderoso, mais
excelente, maior, melhor, no sentido comparativo, é usada 13 vezes na epístola. Você pode
conferir em: Hebreus 1.4; 6.9; 7.7; 7.19; 7.22; 8.6; 8.6; 9.23; 10.34; 11.16; 11.35; 11.40;
e 12.24.
O tema da epístola, gira inteiramente em torno da palavra “melhor”, empregada numa
série de comparações entre Jesus Cristo e todo o sistema contido no Antigo Testamento.
O autor argumenta durante toda a carta que Jesus é melhor. É o melhor mensageiro,
porque é superior aos profetas e aos anjos, fato que se deve à posição que herdou de
Deus; Jesus é o melhor servo, pois nem Moisés e Josué podem ser comparados a Ele;
Jesus é o melhor sacerdote, visto que o sumo sacerdote deveria oferecer sacrifício por Ele
e repetir essa ação todo ano. Além disso, era da ordem levítica, mas Cristo é superior
segundo a ordem de Melquisedeque; Jesus ofereceu o melhor sacrifício, um sacrifício único
e satisfatório; Jesus trouxe o melhor pacto firmado sobre melhores promessas, comparado
com o antigo. Além disso, foi confirmado pelo seu próprio sangue. Em Cristo temos a
melhor vida. O autor nos apresenta exemplos de vidas de fé e nos desafia a uma fé viva
que se manifesta na prática diária.
Na base destas comparações, o autor faz advertências sobre os perigos que os
cristãos hebreus estavam correndo no seu desejo de deixar Jesus Cristo e voltar para o
antigo sistema.

ATIVIDADE
As atividades referentes a esta aula estão disponibilizadas na ferramenta
“Sala Virtual - Atividades”. Após respondê-las, enviem-nas por meio do Portfólio-

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ferramenta do ambiente de aprendizagem UNIGRAN Virtual. Em caso de dúvidas,


utilize as ferramentas apropriadas para se comunicar com o professor.

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