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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Num. Processo : 0008130-30.2014.8.05.0080


Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : VIABAHIA CONCESSIONARIA DE RODOVIAS S A
Recorrido(s) : JORGE CARNEIRO DOS SANTOS

Origem : 3ª VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS - FEIRA DE


SANTANA
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

EMENTA

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR.


CONCESSIONÁRIA VIA BAHIA. DANOS CAUSADOS AO
VEÍCULO DO USUÁRIO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA.
(ART.37, § 6º DA CF/88. ART.14 c/c ART.22 CDC). FALHA NA
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS. QUANTUM CONDENATÓRIO
ARBITRADO COM BASE NOS CRITÉRIOS DA
PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. SENTENÇA
MANTIDA.

ACÓRDÃO
Acordam as Senhoras Juízas da 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, MARIA AUXILIADORA
SOBRAL LEITE – Relatora, CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ, presidente
e CÁSSIO JOSÉ BARBOSA MIRANDA, em proferir a seguinte decisão: RECURSO
CONHECIDO E IMPROVIDO.. UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento. Custas
processuais e honorários advocatícios pela recorrente, que fixo em 20% sobre o valor da
condenação.
Salvador, Sala das Sessões, 08 de Outubro de 2015.

Bela. CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ


Juíza Presidente
MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
Juíza Relatora
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Num. Processo : 0008130-30.2014.8.05.0080


Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : VIABAHIA CONCESSIONARIA DE RODOVIAS S A
Recorrido(s) : JORGE CARNEIRO DOS SANTOS

Origem : 3ª VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS - FEIRA DE


SANTANA
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

EMENTA

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR.


CONCESSIONÁRIA VIA BAHIA. DANOS CAUSADOS AO
VEÍCULO DO USUÁRIO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA.
(ART.37, § 6º DA CF/88. ART.14 c/c ART.22 CDC). FALHA NA
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS. QUANTUM CONDENATÓRIO
ARBITRADO COM BASE NOS CRITÉRIOS DA
PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. SENTENÇA
MANTIDA.

RELATÓRIO

Cuida-se de recurso inominado interposto pela empresa ré da ação de


origem, VIABAHIA CONCESSIONÁRIA DE RODOVIAS S/A, pugnando pela reforma da
sentença que julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados na exordial, para:
“I. CONDENAR a acionada a pagar ao autor a importância de R$ 660,00 (seiscentos e sessenta reais),
acrescida de juros (desde a citação) e correção monetária (a partir do dia 11/01/2014); II. PAGAR ao
autor, a título de dano moral, a importância de R$ 6.000,00 (seis mil reais), acrescido de juros e correção
monetária (a partir do arbitramento).”
Na origem, trata-se de ação indenizatória na qual o autor busca indenização
pelos danos materiais e morais , aduzindo que no dia 07/01/2014 trafegava na BR 324
sentido Salvador-Feira de Santana quando fora surpreendido com a quebra do seu para-
brisa em virtude da remessa de uma pedra solta na pista que foi lançada por uma
motocicleta que seguia a sua frente. Narra que registrou um boletim do ocorrido, porém a
ré afirmou que não havia responsabilidade pelo ocorrido.
A recorrente pugna pela reforma da sentença, argüindo a sua ilegitimidade
passiva para figurar na presente demanda, bem como, no mérito, aduzindo que não há
nos autos comprovação de qualquer conduta ilícita que possa ser imputada à
demandada. De igual modo, sustenta inexistir danos morais passíveis de indenização.
Em contrarrazões, a recorrida sustenta a manutenção do decisium.
Recurso tempestivo e com preparo.
Vieram os autos conclusos.
Presentes as condições de admissibilidade do recurso, recurso tempestivo e
devidamente preparado, conheço-o, apresentando voto com a fundamentação aqui
expressa, que submeto aos demais membros desta Egrégia Turma.

VOTO

Tendo em vista que o autor da demanda discute questão atinente a serviço


público, fornecido pela concessionária recorrente, e passível de individualização do
consumo, há de se registrar o cabimento de serem aplicadas a esta relação jurídica as
normas protetivas do consumidor.
A esse respeito, inclusive, a jurisprudência pátria já assentara a aplicabilidade do CDC às
empresas concessionárias de serviço público, consoante apregoa o seu art.22, in verbis:

Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias,


permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são
obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos
essenciais, contínuos.

No âmbito constitucional, a carta magna assevera a responsabilidade objetiva


das pessoas jurídicas de direito público e das pessoas jurídicas de direito privado
prestadoras de serviço público, calcada na teoria do risco , conforme assevera o art.37, §
6º, in verbis:

As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras


de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa.

Cumpre ainda destacar o art.14 do CDC, que institui a responsabilidade


objetiva dos fornecedores de serviços pelos danos causados , calcada na teoria do risco
do empreendimento.
O exame dos autos evidencia que o ilustre a quo examinou com acuidade a
demanda posta à sua apreciação, sendo que o decisum não merece reforma, a meu
sentir, em relação ao dano moral fixado, que entendo ter sido fixado com moderação,
considerando a realidade do caso em concreto.
No mérito assiste razão ao recorrido devendo a sentença ser mantida no que
tange ao reconhecimento de ocorrência de falha na prestação de serviço, na medida em
que restara comprovado nos autos os danos ocasionados ao veículo do autor, consoante
os documentos acostados á inicial no evento 01, bem como através das fotos
apresentadas.
No âmbito da jurisprudência, a matéria restara pacificada, sendo mister o
reconhecimento da responsabilidade da concessionária que administra a rodovia pelos
eventos ocasionados por conduta sua, seja por ação, seja por omissão, quando
plenamente verificável falha na prestação dos serviços cuja incumbência esteja a cargo
da empresa. Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE


TRÂNSITO. AÇÃO INDENIZATÓRIA C/C DANOS MATERIAIS E
MORAIS. COLISÃO DE VEÍCULO COM UMA LIXEIRA METÁLICA
SOBRE A PISTA DE ROLAMENTO E EM RODOVIA PEDAGIADA.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA CONCESSIONÁRIA DA
RODOVIA. AUSENTE CAUSA EXCLUDENTE DA
RESPONSABILIDADE. DEVER DE INDENIZAR. AGRAVO RETIDO.
Na medida em que a concessionária de rodovias se obriga a prestar
serviços aos usuários das estradas, responsabilizando-se por garantir as
condições de trafegabilidade e de segurança da via, mediante
contraprestação (pedágio), é indubitável a existência de relação de consumo
entre as partes, incidindo as disposições do Código de Defesa do
Consumidor, notadamente a possibilidade de inversão do ônus da prova
(artigo 6º, inciso VIII, do CDC). Agravo retido desprovido. MÉRITO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA CONCESSIONÁRIA DA
RODOVIA. A responsabilidade da concessionária de serviço público é
objetiva, não só pelas normas de direito administrativo (art. 37, §6º, da
Constituição Federal), mas também pela norma consumerista (art. 14 da Lei
nº 8.078/90), respondendo pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos seus serviços
independentemente da existência de culpa. FALHA NA PRESTAÇÃO DOS
SERVIÇOS. No caso concreto, o serviço prestado pela concessionária foi
defeituoso, uma vez que, por falha na fiscalização e na manutenção da
rodovia, a requerida não tomou as providências necessárias para a... retirada
da lixeira da pista de rolamento a tempo de evitar o sinistro, devendo
responder pelos danos decorrentes de sua omissão. CAUSA
EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE NÃO COMPROVADA (TJ-
RS - AC: 70054957709 RS , Relator: Ana Lúcia Carvalho Pinto Vieira
Rebout, Data de Julgamento: 19/03/2015, Décima Segunda Câmara Cível,
Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 23/03/2015)

RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO EM VEÍCULO. RODOVIA


PEDAGIADA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA
CONCESSIONÁRIA DO PODER PÚBLICO. 1. A concessionária
responde pelos danos materiais causados ao veículo do autor em
decorrência de objeto lançado de trator utilizado por preposto da ré, quando
da poda da grama no leito da BR 392, porquanto descumpriu seu dever de
manutenção, segurança e conservação das condições de trafegabilidade.
Nexo de causalidade consistente na inobservância, pela ré, do dever de zelar
pelo tráfego da rodovia concedida, evitando que obstáculos impeçam ou
prejudiquem seus usuários. 2. Danos materiais comprovados por
orçamentos, sendo fixada a indenização nos moldes do menor orçamento.
RECURSO PROVIDO. (TJ-RS - Recurso Cível: 71004375341 RS , Relator:
Marta Borges Ortiz, Data de Julgamento: 26/11/2013, Primeira Turma
Recursal Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 28/11/2013)

Provado o dano e o nexo de casualidade, mister que seja reconhecida a


responsabilidade da empresa demandada pelos danos ocasionados ao veículo do autor
em virtude do evento narrado nos autos.
O conjunto probatório demonstrou cabalmente a ocorrência do dano moral que
muito mais que aborrecimento e contratempo, resultou em situação que por certo lhe
trouxe intranqüilidade e sofrimento, configurando o dano moral, em razão exclusivamente
da conduta do recorrente.
Para a caracterização do dano moral, valor imaterial indenizável por disposição
constitucional, mister a ofensa que repercuta na esfera subjetiva da vítima, causando dor
íntima, sentimento negativo, merecendo uma reparação que se faz através de uma
compensação e não propriamente em um ressarcimento como ocorre no dano
patrimonial.
Perseguindo a lição da Prof°. Maria Helena Diniz, ao tratar do assunto ora em
julgamento, interessante se faz anotar que quando se reclama a reparação pecuniária em
virtude do dano moral, que recai, sobre a imagem, a honra, e o nome profissional dentre
outros, o ofendido não esta pedindo um preço da dor sentida, mas apenas que se lhe
outorgue um meio de atenuar, em parte, as consequências do prejuízo, melhorando seu
futuro, superando o deficit acarretado pelo dano, abrandando a dor ao propiciar alguma
sensação de bem estar, pois, injusto e imoral seria deixar impune o ofensor ante as
graves conseqüências provocadas pela sua falta. (vide Indenização Por Dano Moral,
Revista Consultemo nº 03).
Nesse diapasão, transcrevo a decisão do STJ, que por sua 4ª Turma assim
decidiu:
“A indenização pelos danos morais guarda proporcionalidade com a
gravidade da ofensa, o grau de culpa e o porte econômico do
causador do dano.” (Resp. Nº 999.989-PR-Rel. Marcia Roberta de
Souza Dutra Moraes- j.26/08/2008)
Resta patente, ante o conteúdo probatório enxertado nos autos, a
caracterização de todos os elementos formadores do ato ilícito, desaguando na
configuração da responsabilidade civil e consequente dever de indenizar.

Na lição de Roberto de Rugiero, citado no voto proferido no RE 109233 do


Maranhão, relatado pelo Ministro Octávio Galotti:
Para ser o dano indenizável, basta a perturbação feita pelo ato
ilícito nas relações psíquicas, na tranquilidade, nos sentidos, nos
afetos de uma pessoa para produzir diminuição no gozo do
respectivo direito (“Jurisprudência Brasileira”, vol.157/86, Ed.
Juruá).

Reconhecida a existência dos danos morais por parte da ré contra o autor,


esses devem ser fixados com equilibrada reflexão, examinando a questão relativa à
fixação do valor da respectiva indenização.
No particular, o prudente arbítrio do magistrado exige não deva ser
considerada, apenas, a situação econômica do causador do dano, porque, se tal for o
critério, resvalar-se-á para o extremo oposto, com amplas possibilidades de propiciar ao
ofendido o enriquecimento sem causa. Há que se atender, porém, e também com
moderação, ao efeito inibidor da atitude repugnada.

Sobre a mensuração do dano moral, o STJ já se pronunciou em vários arresto,


vale transcrever alguns deles:

[...] I - A indenização por dano moral objetiva compensar a dor moral


sofrida pela vítima, punir o ofensor e desestimular este e a sociedade a
cometerem atos dessa natureza. A fixação do seu valor envolve o exame da
matéria fática, que não pode ser reapreciada por esta Corte (Súmula nº 7)
[...] (REsp 337.739/SP, Rel. Min. ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO) (grifo
nosso)

[...] 4. É cediço que esta Corte pode rever os valores fixados à título de
danos morais, mas apenas quando se tratar de importância exorbitante ou
ínfima, que não é o caso dos autos, haja vista que a condenação no valor de
dez salários mínimos decorreu da inscrição de nome da pessoa jurídica em
cadastro de inadimplentes indevidamente, o que implica manifesta ofensa à
honra objetiva e ao conceito da empresa vítima de erro, obrigando à
reparação moral. Razoabilidade do valor indenizatório arbitrado, diante
do caráter pedagógico da condenação. 5. Agravo regimental não-provido.
(AgRg no Ag 869.300/SP, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 03/06/2008, DJe 25/06/2008) (grifo nosso)

[...] O valor fixado pra o dano moral está dentro dos parâmetros legais,
pois há eqüidade e razoabilidade no quantum fixado. A boa doutrina vem
conferindo a esse valor um caráter dúplice, tanto punitivo do agente
quanto compensatório em relação à vítima. 7. Recurso especial conhecido
em parte e não-provido. (REsp 965.500/ES, Rel. Ministro JOSÉ
DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 18/12/2007, DJ 25/02/2008 p.
1) (grifo nosso)
[...] 6. A indenização por dano moral deve ter conteúdo didático, de modo
a coibir a reincidência do causador do dano, sem, contudo, proporcionar
enriquecimento sem causa à vítima. 7. Recurso especial parcialmente
provido. (REsp 521.434/TO, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 04/04/2006, DJ 08/06/2006 p. 120) (grifo nosso)
[...] A extensão do dano moral sofrido, é que merece ser fixado guardando
proporcionalidade não apenas com o gravame propriamente dito, mas
levando-se em consideração também suas conseqüências, em patamares
comedidos, ou seja, não exibindo uma forma de enriquecimento para o
ofendido, nem, tampouco, constitui um valor ínfimo que nada indenize e que
deixe de retratar uma reprovação à atitude imprópria do ofensor,
considerada a sua capacidade econômico-financeira. Ressalte-se que a
reparação desse tipo de dano tem tríplice caráter: punitivo, indenizatório e
educativo, como forma de desestimular a reiteração do ato danoso. (STJ,
Ministro MASSAMI UYEDA, 26/05/2008 – AGRAVO DE INSTRUMENTO
Nº 1.018.477 - RJ (2008/0039427-3) (grifo nosso)

O valor da indenização fixado pelo juiz sentenciante, a título de danos


morais, guarda compatibilidade com os critérios acima delineados e com o
comportamento do recorrente, bem como leva em conta a repercussão do fato na esfera
pessoal da vítima e, ainda, e está em harmonia com os princípios da razoabilidade e
proporcionalidade, devendo ser mantido. .

Ante o relatado, CONHEÇO DO RECURSO e NEGO-LHE PROVIMENTO,


mantendo a sentença objurgada pelos próprios fundamentos . Custas processuais
e honorários advocatícios pela recorrente, que fixo em 20% sobre o valor da
condenação.
.
Salvador, 08 de outubro de 2015.

Bel. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE


JUÍZA DE DIREITO – Relatora

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