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POLIFONIA E INTERTEXTUALIDADE

 Todo texto é produto de uma criação coletiva, tem a propriedade intrínseca de se constituir a partir de
outros textos. Desse modo, um discurso é sempre a materialização de uma maneira social de se considerar uma
questão.

 Todo discurso tem uma fonte, uma matriz, uma formação ideológica a que se subordina.

 Assim, o sujeito tem a ilusão de produzir um discurso, ou seja, considera-se autor do discurso, mas, na
verdade, ele retoma um sentido preexistente.

 Frequentemente incorporamos ao nosso discurso fragmentos do discurso alheio. Por isso dizemos que o
discurso é POLIFÔNICO, já que, além da voz do autor, nele ressoam outras vozes, provenientes dos discursos
alheios.

 Especificamente na NARRATIVA JURÍDICA, a polifonia pode se manifestar quando, além da voz do


narrador, outras pessoas falam no texto, como os depoentes, as testemunhas, as autoridades, as partes
envolvidas.

 A forma como essas vozes se fazem presentes pode ser:

 A) CITAÇÃO LITERAL: que consiste na transcrição exata , sem alterações, do que foi dito. Deve vir entre
aspas e na sequência do texto, desde que não ultrapasse três linhas. Citações literais com mais de três linhas vêm
em destaque, em outro parágrafo, iniciando-se a 4cm da margem e com tamanho de letra menor, conforme
normas da ABNT.

 Outra forma é através da PARÁFRASE. Nela, o autor do texto reproduz o sentido do que foi expresso por
outra pessoa, mas usando um vocabulário e estrutura próprios. A paráfrase, porém, favorece a manipulação do
discurso, pois nela poderão ser utilizados os recursos da modalização, traduzindo, assim, uma apreciação
subjetiva.

 Nas narrativas jurídicas a preferência é pelo uso da paráfrase, pois ela permite uma igualdade do nível de
linguagem, que deve sempre ser o nível culto.

 A polifonia pode ser facilmente detectada pela presença de determinados vocábulos que a introduzem, tais
como:

 a) Conjunções conformativas : SEGUNDO, CONFORME, COMO etc.


 b) Verbos introdutores de vozes: DIZER, FALAR ( mais neutros), ENFATIZAR, AFIRMAR, ADVERTIR,
PONDERAR, CONFIDENCIAR, ALEGAR.

 Assim, ocorre a INTERTEXTUALIDADE toda vez que se utiliza ou reaproveita ideias de outra pessoa, sem,
todavia, haver elementos linguísticos que indiquem essa utilização. O reconhecimento da Intertextualidade
depende do repertório do receptor, de sua bagagem cultural. A intertextualidade ocorre por meio de citações,
paráfrases, (que podem ser ideológicas ou estruturais), ou pela paródia.

1-Baseando-se no texto a seguir, identifique as polifonias presentes e o efeito que elas produzem.
TEXTO 1
Antônio Carlos Barbosa sofre de doença denominada “adenocarcinoma colorretal” e o tratamento que lhe foi
recomendado pelo Doutor José Andrade Miranda foi quimioterapia com o esquema FOLFOX4 (De Grammont).
Ele é beneficiário de contrato de saúde firmado pela empresa X – onde trabalha – e a Golden Saúde, ou seja,
trata-se de contrato empresarial, precedido de negociação, na qual são estipuladas as cláusulas de cobertura e
valores de reembolso, ao contrário dos contratos de adesão individuais.
A indicação é sustentada pelo alto risco de o paciente apresentar recidiva, em função do quadro agudo
apresentado quando do diagnóstico e, sobretudo, da peritonite associada. A sustentação científica, entretanto, não
é de todo sólida, com resultados discordantes em alguns estudos (IMPACT B2 e NSABP C01 A C04).
Seu advogado afirma: ‘Nos Estados Unidos e em países da Comunidade Europeia, se considera que esse
tratamento é o padrão para pacientes como Antônio’. Ademais, o médico afirmou que é consenso entre os
especialistas o benefício potencial, em termos de ganho de sobrevida global, àqueles pacientes que se apresentam
com quadros obstrutivos, perfurações, peritonites associadas, tumores, entre outros casos.

Acontece que a Golden Saúde negou-se a cobrir o tratamento, asseverando que o tratamento pleiteado –
quimioterapia pelo esquema FOLFOX 4 – é experimental, ainda não regulamentado. Alega, ainda, que a negativa
está fundamentada em cláusula contratual de exclusão de cobertura desse tipo de tratamento e que esses
recursos não fazem parte da análise atuarial dos contratos, porque não aprovados e regulamentados pelos órgãos
médicos competentes, não têm reconhecimento no Brasil; não cabe, portanto, às operadoras custeá-los.
O advogado de Antônio reiterou que as cláusulas estabelecidas entre a empregadora de Antônio e a Golden Saúde
são abusivas, ao que a seguradora de saúde rebateu com a alegação de que a empregadora de Antônio não fez a
migração do contrato e, portanto, este não estava regulado pela Lei nº 9.656/98. Além disso, o segurado não tem
sequer legitimidade para discutir a legitimidade de cláusula contratual estabelecida pela empresa e seguradora.
Tendo em vista tal conflito, Antônio pleiteia em juízo a antecipação de tutela.

2- Faça a paráfrase dos seguintes textos:

A- . Segundo entendimento de Cândido Rangel Dinamarco, "a exigência de prova inequívoca significa que a mera
aparência não basta e que a verossimilhança exigida é mais do que o fumus boni juris (Boa fumaça da justiça)
exigido para a tutela cautelar. Isso significa que o juiz deve buscar um equilíbrio entre os interesses do litigante.
Não se legitima conceder a antecipação da tutela ao autor quando dela possam resultar danos ao réu, sem relação
de proporcionalidade com a situação lamentada. A irreversibilidade da situação criada, como fator impeditivo da
antecipação, é um dado a ser influente mas não exaure o quadro dos elementos a considerar." (In: A reforma do
Código de Processo Civil. 4. ed. rev. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 1997)."
B- . Art. 273 Código Civil - O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da
tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da
alegação e:
I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação

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