Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
77
DIREITOS HUMANOS E VULNERABILIDADE E A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
78
PERSPECTIVAS DE PROTEÇÃO A PARTIR DE DIREITOS CONSAGRADOS
79
DIREITOS HUMANOS E VULNERABILIDADE E A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
80
PERSPECTIVAS DE PROTEÇÃO A PARTIR DE DIREITOS CONSAGRADOS
Coloniais (SANTOS, 2011), entre outros. Nesta esteira, também foram rea-
lizadas as primeiras Conferências dos países não-alinhados e foram procla-
madas a Declaração Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Racial, a Convenção Internacional para a Eliminação de Todas
as Formas de Discriminação Racial (CERD) e os dois Pactos Internacionais so-
bre Direitos Civis e Políticos (PIDCP) e Direitos Econômicos Sociais e Culturais
(PIDESC).
A CERD, aprovada em 1965 e vigente desde 1969, foi fruto, primordial-
mente, da militância da Assembleia Geral da ONU contra o regime segrega-
cionista sul-africano, sobretudo após a adesão dos novos membros africanos.
A luta contra o regime de Pretoria foi introduzida na agenda da Assembleia
Geral da ONU em 1952, mas ganhou centralidade e dimensão internacional
após o massacre de Sharpeville em março de 19609. Nesse sentido, a AGNU
foi “determinante para existência e evolução da rede de ativismo transnacio-
nal antiapartheid”10 A CERD obrigou os Estados-Parte a condenarem a discri-
minação racial e favorecerem “as organizações e movimentos multirraciais e
outros meios próprios a eliminarem as barreiras entre as raças e a desenco-
rajarem o que tende a fortalecer a divisão racial” (art. 2 (1,e)), dentre outras
medidas.
A CERD é a mais importante conquista internacional para o combate à
discriminação racial. Ela é a mais antiga das Convenções da ONU relacionadas
aos direitos humanos e a segunda mais ratificada11.
No decorrer dos anos 1970, foram aprovadas inúmeras Resoluções da
Assembleia Geral da ONU contra a África do Sul e foi oficializado o decênio
1973-1982 como a I Década de Combate ao Racismo. Por outro lado, o Con-
selho de Segurança da ONU, mostrou grande conivência com as políticas se-
gregacionistas durante as primeiras décadas. O apoio que os EUA, a França e
o Reino Unido ofereceram à África do Sul, impediu que a ONU estabelecesse
sanções compatíveis com a gravidade da situação. O órgão só passou a atuar
de forma contundente contra o apartheid após o Massacre de Soweto de
197612.
O fim da década de 1970 coincidiu com a realização da primeira Confe-
rência Mundial de Combate ao Racismo e à Discriminação Racial que trouxe
mais robustez aos marcos promocionais do regime internacional.
9
BRAGA, Paulo de Rezende S. África do Sul: a rede de ativismo transnacional contra o apar-
theid na África do Sul. Brasília: FUNAG, 2011.
10
Ibid., p. 119.
11
O Brasil ratificou a CERD em 1968 e a promulgou em 1969, por meio do Decreto 65.810. No
ano de 2003, o país reconheceu a competência do Comitê Internacional para a Eliminação da
Discriminação Racial para receber e analisar denúncias de pessoas sob a jurisdição em casos
de violações dos direitos humanos cobertos na Convenção.
12
Até 1982, a Assembleia Geral da ONU já havia adotado 158 resoluções destinadas a com-
bater o apartheid, contra apenas 12 do CSNU. (BRAGA, Paulo de Rezende S. Op. cit., p. 126)
81
DIREITOS HUMANOS E VULNERABILIDADE E A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
82
PERSPECTIVAS DE PROTEÇÃO A PARTIR DE DIREITOS CONSAGRADOS
83
DIREITOS HUMANOS E VULNERABILIDADE E A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
84
PERSPECTIVAS DE PROTEÇÃO A PARTIR DE DIREITOS CONSAGRADOS
85
DIREITOS HUMANOS E VULNERABILIDADE E A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
22
ONU. Op. cit.
23
Cf. QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LADNER,
Edgardo (Org.) A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas lati-
no-americanas. Buenos Aires: Colección Sur Sur, CLACSO, p. 117-138, set. 2005; e GROSFO-
GUEL, Ramón. Para descolonizar os estudos de economia política e os estudos pós-coloniais:
Transmodernidade, pensamento de fronteira e colonialidade global. Revista Crítica de Ciências
Sociais, n. 80, p. 115-147, 2008.
24
GILROY, Paul. Entre Campos. Nações, culturas e fascínio da raça. São Paulo: Annablume, 2009.
25
“O racismo, articulado com o sistema de controle do trabalho, é o elemento fundante mais
duradouro das profundas assimetrias societárias entre povos e classes. Tem, modernamente,
como suporte, a invenção da raça, ideologia que explica as diferenças sociais como diferenças
naturais, e não provindas das relações de poder. Associar raça e cor foi um constructo tardio
que se estabeleceu e generalizou a partir da conquista da América. Os subalternos são trans-
formados em raça, raça inferior, desumanizada, coisa a ser explorada, ignorada, eliminada”
(LISBOA, Armando de Melo. De Améric a Aya Yala – Semiótica da descolonização. Ver. Educ.
Púb., v. 23, n. 53/2, p. 501531, 2014. p. 506)
86
PERSPECTIVAS DE PROTEÇÃO A PARTIR DE DIREITOS CONSAGRADOS
87
DIREITOS HUMANOS E VULNERABILIDADE E A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
88
PERSPECTIVAS DE PROTEÇÃO A PARTIR DE DIREITOS CONSAGRADOS
89
DIREITOS HUMANOS E VULNERABILIDADE E A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
e 89% da Bahia37.
Embora tenha havido uma melhora significativa dos indicadores sociais
durante os governos progressistas, as estatísticas acima comprovam as
dificuldades de efetivação dos direitos preceituados na DUDH e demonstram
a persistência dos efeitos da colonização europeia e da escravidão no Brasil.
Conclusão
A DUDH é, sem dúvidas, um marco extremamente relevante para ex-
pansão e universalização dos direitos humanos e para a formação do regime
internacional de combate ao racismo. Neste sentido, o saldo é positivo. Trata-
-se de um instrumento de elevado valor moral que é orientado pelo princípio
da dignidade da pessoa humana.
A ONU tem sido um centro catalisador de normas e ações que deixam
transparecer a agência dos povos negros para a construção da agenda antir-
racista, seja por meio da atuação de Estados, ou das sociedades civis.
Contudo, se algumas batalhas foram vencidas, outras ainda não. O 70o
aniversário da DUDH, infelizmente, não pode ser celebrado efusivamente
pelas populações afrodescendentes neste momento histórico no qual a efe-
tivação de direitos em todos os países tem sido seletiva em termos de raça e
ainda se está deveras distante das expectativas formuladas na época de sua
aprovação.
Nesta esteira dos desenganos, é conveniente problematizar a retórica
de algumas das principais potências hegemônicas que protagonizaram a ela-
boração da DUDH, que sempre se autoproclamaram como os paladinos dos
direitos humanos no âmbito multilateral, mas implementaram e (implemen-
tam) políticas racistas nos seus territórios, formaram uma corrente ostensiva
para impedir as independências dos países africanos e, inclusive, financiaram
regimes racistas, como o da África do Sul. A lógica racial de hierarquização do
ser e de destituição da humanidade das pessoas que foi utilizada pela colo-
nização se repete no quesito das migrações quando associadas a africanos e
a afrodescendentes.
No Brasil, a persistência do apartheid à la brasileira se revela na conti-
nuada segregação espacial, social, educacional e econômica. A robustez dos
mecanismos que perpetuam as hierarquias de poder político, econômico e
social para as populações brancas obstaculizam a eliminação do racismo. As
ações afirmativas, neste sentido, têm sido fundamentais para os direitos das
populações mais vulneráveis.
Estes são motivos que revelam a pertinência e a urgência da implemen-
37
BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Levantamento Nacional de Informa-
ções Penitenciárias (Infopen), 2017. Disponível em: http://www.justica.gov.br/news/ha-
-726-712-pessoas-presas-no-brasil. Acesso em: 13 jun. 2018.
90
PERSPECTIVAS DE PROTEÇÃO A PARTIR DE DIREITOS CONSAGRADOS
Referências
ALVES, J. A Lindgren. A Conferência de Durban contra o racismo e a res-
ponsabilidade de todos. Revista Brasileira de Política Internacional, v.
45, n. 2, p. 198-223, 2002.
ANDIFES. IV Pesquisa Do Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudan-
tes de Graduação das Instituições Federais de Ensino Superior Brasilei-
ras 2014. Uberlândia. jul. 2016.
BOFF, Ricardo B.; SILVA, Karine de Souza. ‘Nós, os povos das Nações
Unidas’: do eurocentrismo excludente à pluriversalidade da ONU. In:
SCHMITZ, Guilherme de Oliveira; ROCHA, Rafael Assumpção. (Org.). O
Brasil e o Sistema das Nações Unidas: desafios e oportunidades na go-
vernança global. Brasília: IPEA, 2017. p. 230-260.
BOURDON, William. L’ONU, la décolonisation et le développement. In:
DUCHATEL, J.; ROCHAT, Florian (Orgs.). ONU: droits pour tous ou loi du
plus fort? Regards militants sur les Nations Unies. Genève: CETIM, 2005.
BRAGA, Paulo de Rezende S. África do Sul: a rede de ativismo transna-
cional contra o apartheid na África do Sul. Brasília: FUNAG, 2011.
BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Levantamento Nacio-
nal de Informações Penitenciárias – Infopen, 2017.
CNPQ. Parte II – As negras e os negros nas bolsas de formação e de pes-
quisa do CNPq, 2015.
FARRIOR, Stephanie. “Color” in the Non-Discrimination Provisions of
the Universal Declaration of Human Rights and the Two Covenants. Wa-
shington University Global Studies Law Review, v. 14, p. 751-777, 2015.
GILROY, Paul. Entre Campos. Nações, culturas e fascínio da raça. São
Paulo: Annablume, 2009.
GOES, Fernanda Lira; SILVA, Tatiana Dias. O regime internacional de
combate ao racismo e à discriminação racial. Brasília/Rio de Janeiro:
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2013.
GROSFOGUEL, Ramón. Para descolonizar os estudos de economia políti-
ca e os estudos pós-coloniais: Transmodernidade, pensamento de fron-
teira e colonialidade global. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 80, p.
115-147, 2008.
IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua: algumas
características da força de trabalho por cor ou raça, 2016.
91
DIREITOS HUMANOS E VULNERABILIDADE E A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
92