Em um tempo antes da história, quando o mundo muitos anos, suas histórias ainda são abundantes.
Ela
era plano e vazio, uma mulher vagava pela terra com
seu povo. Lutando para sobreviver nas planícies, sem
árvores para abrigá-los, eles comiam o pouco que
podiam pegar. Sua mãe viu seu sofrimento e, com o
coração dolorido por seus filhos, jurou construir para
eles um lugar que poderiam chamar de seu. Sua voz
convocou as árvores dos céus, enraizando-as no chão,
espalhando seus galhos sobre a terra. Das profundezas
da terra, ela persuadiu as pedras, fazendo-as brotar
através da carne desta nova terra. Sua dor deu lugar a
lágrimas, que esculpiram lagos e rios que correram para
o mar.
Do ventre da terra cresceram todos os tipos de
criaturas, desde o delicado morcego vespertino até a
gigante titanoboa, cada uma dotada de seu próprio
domínio e poderes. Os poderosos jaguares, guerreiros
mortais da noite. Guanacos dóceis, vivendo
pacificamente nos Andes. Um arco-íris de pássaros que
se empoleirou nos braços da nova selva, muitos para
nomear. As muitas criaturas da água e da lama,
vivendo seus dias logo abaixo da superfície. Mas foi
para seus primeiros filhos que ela deu o maior presente
de todos: o poder de sonhar. E destes sonhos surgiram
os Gallain.
É dito que o mais antigo feé da terra, Cuyania,
não é apenas um dos lendários Siochain, mas um dos
primeiros Gallain. A Montanha Mãe mora nas
profundezas da cordilheira dos Andes e, embora muitos
possam dizer que ninguém mais vê a Montanha Mãe há
veio para Bellatierra com os primeiros habitantes,
através de uma ponte de terra que se elevou ao seu
chamado. Quando as montanhas começaram a nascer
pela terra, rasgando feridas à medida que se elevavam,
foi o toque dela que acalmou sua dor. Tomando a dor
para si, suas lágrimas caíram pesadamente sobre a terra,
deixando a vida em seu rastro. Plantas brotaram,
proporcionando a seus filhos comida e abrigo. Zelando
pelas colheitas, ela foi uma mãe gentil, garantindo que
nada lhes faltasse. Todas as criaturas vivas viviam sob
seu olhar atento, desde o menor inseto até as grandes
serpentes do rio.
Os mortais a conheciam como La Madremonte ou
“A Montanha Mãe”, chamando-a para abençoar as
colheitas e tornar o clima ameno. E assim também
fizeram os Gallain, reverenciando-a acima de tudo.
Com o passar dos anos, eles se espalharam pela terra e
ela se deitou para descansar entre as montanhas
imponentes. Muitos séculos se passariam antes que ela
acordasse novamente e quando ela finalmente o fez, foi
em um mundo muito diferente. O conflito havia
chegado à suas terras e demoraria muito para que a paz
reinasse novamente. Mas também outros sonhos
surgiram enquanto dormia, vindos do coração das
pessoas e lutando para sobreviver em um mundo que
rapidamente se tornava implacável demais. Juntando-
os a seu lado, ela criou um lar nas colinas. Desse
humilde começo, o reino mais antigo de Bellatierra
criou suas raízes.
 Cuyania os governou por muitos anos, finalmente passando
o trono para a rainha Kiela, uma jovem boraro, antes de retornar
para sua caverna. Dedicados ferozmente a recuperar suas terras,
eles lutaram ao lado da humanidade sem serem vistos,
emprestando seu Glamour para conter a maré da destruição.
Alguns estavam mais envolvidos do que outros, mas os soldados
das montanhas eram muitos e as vitórias conseguidas se devem
em grande parte às suas ações. No século XV, os colonizadores
trouxeram mais do que armas e doenças; eles trouxeram seus
próprios sonhos para esta nova terra. Os redcaps e os gremlins dos
conquistadores entraram em confronto com os boraros e as
lloronas nativas, e a terra ficou manchada de sangue. A guerra
durou por muitos anos, mesmo após o conflito humano ter
acabado, conforme os Gallain lutavam pelo domínio sobre
Bellatierra. Muitos morreram em definitivo, dilacerados por
magias estrangeiras e armas estranhas. Outros sucumbiram a
Banalidade, escolhendo uma vida mortal em vez de continuar o
conflito.
O tratado de Sierra Madre, e os intrincados encantamentos
e defesas que o seguiram, trouxeram o tão esperado fim à guerra
dos Gallain. Aqueles sonhos que nasceram no solo de Bellatierra,
nascidos de seu povo, permaneceriam em suas terras e não iriam a
outros lugares. Os invasores voltariam para suas casas e não os
incomodariam mais, nunca voltariam enquanto as defesas se
mantivessem. Por quinhentos anos a paz foi mantida, sustentada
por um grupo de dez Gallain conhecidos simplesmente como Os
Guardiões. Vindos de cada reino de Bellatierra, eles mantinham a
magia de proteção e “gentilmente” desencorajavam qualquer
Gallain que tentasse cruzar suas fronteiras. Com o passar dos
anos, os dez mantos foram sendo passados de pai para filho e a
barreira permaneceu. Uma vez por século, representantes dos
reinos se encontravam e uma votação era feita sobre a
manutenção destas fronteiras. Por cinco séculos, a votação foi
unânime. Exceto por permissões muito raras, estrangeiros não
foram permitidos no Reino da Montanha.
Mas no alvorecer do século XXI, com a coroação do Rei
Alvarez do Reino da Montanha, uma voz falou em favor de
baixar a barreira e permitir que outros Gallain entrassem em suas
terras mais uma vez. O rei recém-coroado, um alicanto rezingão
do sul da Argentina, acreditava que os Gallain deveriam
caminhar livremente por todas as terras. Muitos relutaram,
alegando um rompimento gritante com as tradições dos Seelie de
Bellatierra. Após semanas de debate e pelo menos algumas
ameaças de morte, o conclave surgiu com um veredicto. Um
compromisso.
Durante um mês por ano, as defesas seriam reduzidas e os
Gallain poderiam viajar livremente pelas terras. Uma vez que as
proteções fossem reerguidas, se passaria um ano inteiro antes de
poder serem baixadas novamente, e qualquer Gallain preso no
lado errado teria que aguardar ou então encontrar uma maneira
de contornar a antiga barreira. Mesmo com este novo rumo dos
acontecimentos, alguns reinos ainda hesitam em permitir a
presença de estranhos em seu meio, mas o Reino da Montanha é
exemplo em todas as coisas. Na preparação para o primeiro mês
de barreira abaixada, eles estenderam convites a muitos dos reinos
de Concórdia, oferecendo sua hospitalidade.