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Resumo
O presente artigo apresenta-se como primeiras anotações de uma pesquisa em curso na qual se
busca compreender as práticas e discursos religiosos ligados ao tema da diversidade sexual a
partir de (auto)biografias de sujeitos LGBT. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva e
teórica que pretende, por meio da revisão bibliográfica, elucidar termos que possibilitem
entender as (im)possibilidades dialogais entre essas categorias. Percebe-se inicialmente que a
religião é definidora de formar de vida, de discursos e práticas que podem conduzir a
libertação ou opressão, a tolerância ou a intolerância, ao entendimento ou preconceito no que
se refere a diversidade sexual. Por fim, compreende-se que seja necessário empenho e
abertura para o diálogo no qual se busque compreender as dimensões da vida, seja sexual, seja
religiosa, como partes que compõem o todo do ser humano.
Introdução
Nestas duas primeiras décadas do século XXI, tem despontado no Brasil, intensos e
relevantes debates sobre a temática da diversidade sexual. Localizamos tais discussões como
reverberação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada após a segunda
guerra mundial, em 1948, que entre suas finalidades promoveu o reconhecimento da
diversidade em toda a sua amplitude. Ainda que o texto da Declaração não fale explicitamente
da diversidade sexual, coloca todos os seres humanos em situação de igualdade, devendo-lhes
ser repeitados independentemente de suas condições e/ou situações contingenciadas pelas
mais diversas situações socioculturais.
Apesar da ampla discussão em diversos seguimentos sociais, sobre as temáticas
relacionadas a diversidade sexual, verifica-se enorme resistência em considerar a realidade,
principalmente por seguimentos mais reacionários que por força de suas crenças rechaçam
qualquer possibilidade de promover políticas públicas que atendam grupos minoritários, como
os LGBTs. A Constituição Federal de 1988, não declara tacitamente o princípio da laicidade
do Estado, no entanto ao defender o direito a igualdade e a liberdade religiosa, a Carta Magna,
garante a neutralidade do Estado em matéria religiosa e a não profissão de uma religião oficial
como se observava na Constituição do Império, que explicitava o Catolicismo romano como
religião oficial, deixa evidente esse princípio.
O modelo de laicidade do estado brasileiro garante que toda e qualquer pessoa, possa
professar sua crença tendo tal prerrogativa garantida e protegida pelo Estado. Mas apesar do
princípio da laicidade, entendido pela maioria dos juristas brasileiros, tem-se observado a
constante aproximação entre religião e Estado (VITAL; LOPES, 2012). Ao que nos parece
trata-se de uma relação construída historicamente, posto que apesar da separação entre Igreja
Católica e Estado Brasileiro ocorrida, oficialmente com a proclamação da república, percebe-
se que as relações entre essas esferas permaneceram oficiosas em todo o período republicano.
Atualmente, existe um grande movimento de igrejas cristãs que elegem seus representantes
para o parlamento a fim de que os mesmos defendam suas ideologias e pensamentos
religiosos, não se preocupando com os demais grupos religiosos e sociais.
O presente artigo, esboço teórico da pesquisa em andamento, intitulada “Diversidade,
Educação e Religião: narrativas e (auto)biografias”, em curso no Programa de Pós-graduação
Interdisciplina em Educação Linguagem e Tecnologias (PPG-IELT), da Universidade
Estadual de Goiás, tem por finalidade refletir sobre as (im)possibilidades em travar um
diálogo entre a religião (principalmente cristã) e a diversidade sexual, haja vista a resistência
em acolher tal debate de forma aberta e sem preconceitos. Trata-se de uma pesquisa
qualitativa, descritiva, teórica e de revisão de literatura apoiada em autores que contribuem
para compreender conceitos importantes na constituição do corpus teórico, que se encontra
aberto e em fase de aprofundamento.
É importante notar que a religião possui um caráter formativo no individuo posto que
ao ser um sistema, torna-se um dispositivo que promove uma forma coletiva de viver. Assim,
a religião, torna-se “dispositivo ideológico, prático e simbólico pelo qual é constituído,
mantido, desenvolvido e controlado o sentido individual e colectivo da pertença a uma
linhagem crente particular” (HERVIEU-LÉGER, 2005, p. 31). Tal pensamento vem ao
encontro do pensamento de Durkheim (1989), que nos possibilita entender que as religiões
enquanto instituições sociais definem papéis que condicionam o comportamento individual.
Ao que nos parece, esse entendimento nos é esclarecedor para perceber como grupos
religiosos e os indivíduos ligados a esses grupos, elaboram suas ideologias e discursos em
torno da temática da diversidade sexual. Por ideologias entendemos os sistemas de ideias,
doutrinas e visões de mundo, tornando-se instrumento de domínio e mudança (COUTINHO,
2012).
O segundo conceito a ser pensado por nós, neste trabalho, é o de diversidade sexual.
No entanto para compreender tal conceito se faz necessário o entendimento de três outros
correlacionados, a saber: sexo biológico, identidade de gênero e orientação sexual.
Inicialmente, compreendermos por sexo biológico os aspectos constituídos por características
fenotípicas como é o caso dos órgãos genitais externos, órgãos reprodutores internos, etc. e
genotípicas (genes masculinos ou femininos) presentes nos corpos. Deste modo, a
combinação de cromossomos X e Y são capazes de produzir naturalmente dois sexos: macho
(pela combinação dos cromossomos XY) e fêmea (pela combinação do cromossomo XX),
mas não desconhecemos que alterações nessa combinação pode produzir outra via como é o
caso de pessoas que nascem com os dois órgãos genitais (intersexuais ou hermafroditas).
Logo, todos nós, estaremos condicionados a essas combinações cromossômicas.
Para Barreto; Araújo; Pereira (2009, p. 43), identidade de gênero “diz respeito à
percepção subjetiva de ser masculino ou feminino, conforme os atributos, os comportamentos
e os papéis convencionalmente estabelecidos para homens e mulheres”. Ainda segundo essas
autoras,
Considerações finais
Percebemos que a religião encontra-se presente nas mais diversas sociedades, como
instituição definidora de discursos e práticas. No entanto, a atualização desses discursos e
praticas, aos poucos tem sido pensadas e atualizadas. Um exemplo, que podemos citar é a
situação dos exercícios exéquiais para suicidas. Há alguns anos passados, compreendia-se o
suicídio como maldição; o suicida não tinha direito, sequer, a ser enterrado em cemitério
comum. Tal prática fora modificada graças aos avanços dos estudos de outras ciências que
contribuíram sobremaneira com as interpretações teológicas permitindo novas possibilidades.
Esperamos também que iniciativas que debatam a questão da diversidade sexual
possam ser incorporadas nas agendas das religiões, principalmente aquelas de matriz cristã,
que congregam grande parte da população brasileira, deste modo, poderíamos ver debates
amadurecidos construído de forma inteligente e tolerante.
Referências
BARRETO, Andreia; ARAÚJO, Leila; PEREIRA, Maria Elisabete. Gênero e diversidade na
escola: formação de professoras/es em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais.
Livro de conteúdo. Versão 2009. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília:SPM, 2009.
MARTINI, Antonio et al. O humano, lugar do sagrado. 2 ed. São Paulo, SP: Editora Olho
d’Água, 1995.