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39º Encontro Anual da Anpocs;

Grupo de Trabalho 20
Marxismo e Ciências Sociais

As classes sociais em Nicos Poulantzas e Erik Olin Wright e sua importância na


análise dos processos políticos contemporâneos.

Gonzalo A. Rojas (UFCG) e Javier Amadeo (Unifesp)


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Introdução

O objetivo deste trabalho é retomar uma discussão sobre uma parte do debate
teórico sobre as classes sociais no interior da teoria marxista no campo das ciências
sociais, na ciência política e a sociologia em particular, mas que tem consequências
teóricas, na análise dos processos políticos contemporâneos e na prática, na luta de
classes.
Focaremos, frente a um leque de possibilidades, o que denominamos o Nicos
Poulantzas de matriz estruturalista, fundamentalmente nas suas obras Poder Político e
classes sociais (1968) e As classes sociais no capitalismo hoje (1974) e o Erik Ollin
Wright na sua fase anterior ao marxismo analítico, centralmente no seu livro Classe,
Crise e Estado (1979).
Estes dois autores, tem visões diferentes no interior da teoria marxista, o que não
significa que não tenham elementos comuns na sua tentativa de contribuir ao
entendimento das formações econômico-sociais capitalistas. Os dois teóricos apresentam
problemáticas relevantes, teóricas e/ou empíricas, para quem pretende analisar os
processos políticos contemporâneos.
Esta escolha não desconhece que existe um debate mais amplo no interior do
marxismo no plano teórico e político sobre o tema, seja no marxismo anglo-saxão com as
contribuições de Ralph Miliband e de Edward Thompson e no Europeu continental, onde
além de outros teóricos estruturalistas como Louis Althusser encontramos teorizações das
matrizes do marxismo de caráter abertamente mais partidários, como as elaborações dos
Partidos Comunistas oficiais (pro-URSS) como o Frances (PCF) e o Italiano (PCI) e a
corrente trotskista, com as contribuições de membros do Secretariado Unificado da
Quarta Internacional, em particular a do teórico e dirigente belga Ernest Mandel.
Tampouco desconhecemos o impacto posterior a derrota de revolução em Europa, os
triunfos da segunda Revolução Chinesa em 1949 sob a direção de Mao Tse Tung, que
tem influência em Poulantzas; assim como a Revolução Cubana de 1959 e sua definição
como socialista em 1961 e as lutas anticoloniais na África, em particular na Argélia,
colônia francesa e Ásia, com repercussão internacional.
Existem vários trabalhos em língua portuguesa a disposição no Brasil, da qual
mencionaremos inicialmente três textos.
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Um artigo de Juan Mozzicafreddo sobre a teoria das classes sociais e as


contribuições de Poulantzas e Olin Wright, publicado em 1981 na Revista Critica de
Ciências Sociais da Universidade de Coimbra em Portugal, onde si bem realiza uma
comparação fica muito colado a ordem de exposição de E. O. Wright até para quando se
refere a Poulantzas; um conhecido artigo de Luis Felipe Miguel intitulado: de que falam
os marxistas quando falam de classes sociais?, publicado na Revista Mediações da
Universidade Estadual de Londrina (UEL) e o de Ronald Chilcote, Teoria de classe,
publicado na Revista BIB de Rio de Janeiro, no primeiro semestre de 1995, estes últimos
dois textos fazem uma discussão bem mais abrangente que pretendida neste. Em geral,
estes textos expressam discussões realizadas faz no mínimo uns vinte anos, por isso
consideramos importante revisitar sobre outra perspectiva, aquela nos permita focar nas
possibilidades de continuar realizando análises concretas das situações concretas, para
analisar os processos políticos do ponto de vista da teoria marxista das classes sociais.
Em língua espanhola não podemos deixar de mencionar a importante compilação
realizada por Heinz Rudolf Sontag e Héctor Valecillos em Caracas, Venezuela no ano
1976 intitulado El Estado en el capitalismo contemporâneo e publicado por Siglo XXI.
Este livro além da introdução dos autores apresenta textos de David A. Gold, Clarence Y.
H. Lo e Erik Olin Wright sobre os desenvolvimentos sobre a teoria marxista do Estado
Capitalista; de Claus Offe sobre a abolição do controle do mercado e o problema da
legitimidade; de Elmar Alvater sobre alguns dos problemas do intervencionismo estatal e
sua interpretação do Estado no capitalismo como complementador das unidades de
capital; de Ian Gough sobre os gastos estatais nos países capitalistas centrais e a tentativa
do próprio Heinz R. Sontang de elaborar uma teoria política do capitalismo periférico.
Dividiremos o artigo em uma introdução, três partes e uma conclusão.
Depois desta introdução, na primeira parte exporemos a teoria sobre as classes
sociais de Poulantzas; na segunda parte faremos o próprio com as de Olin Wright e na
medida que realizaremos a exposição apresentaremos algumas questões teóricas e
epistemológicas de importância para os dois teóricos, para na terceira parte realizar uma
comparação destacando tanto os elementos de ruptura como os de continuidade nos
autores em função do interesse deste trabalho e as consequências políticas no plano da
prática para a luta de classes destas teorizações. Finalizaremos o trabalho com uma breve
conclusão onde apresentaremos que pode nos ser utilidade nestas elaborações para a
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compreensão dos processos políticos contemporâneos nas formações sociais capitalistas


latino-americanas.
Neste trabalho utilizaremos os autores por eles mesmos, no contexto específico de
sua elaboração teórica, já que posteriormente Poulantzas avançará para uma teoria
relacional do Estado sem limite estrutural, eurocomunista de esquerda com conclusões
políticas diferentes que cristaliza na sua obra, Estado, Poder e Socialismo (1978) e Olin
Wright para o marxismo analítico com posicionamentos teóricos e políticos também
diferentes.

As classes sociais para Nicos Poulantzas

No livro Poder Político e classes sociais, Nicos Poulantzas nos apresenta uma
visão na qual existe uma determinação estrutural1 das classes sociais, na qual podemos
identificar no mínimo três dimensões.
Numa primeira dimensão as classes não podem ser definidas fora da luta de
classes as classes não são coisas; numa segunda dimensão as classes sociais designam
posicionamentos objetivos na divisão social do trabalho, são independentes da vontade
dos agentes e em uma terceira dimensão são estruturalmente determinadas não só no
nível económico senão também nos níveis político e ideológico.
Poulantzas rejeita a divisão hegeliana retomada por Lukacz de relegar a transformação de
uma classe em sim para uma classe para sim, senão que estão na própria determinação
dos posicionamentos de classe.
A determinação estrutural da burguesia se focaliza no nível económico, definida
não em termos jurídicos, superestruturais, senão em termos das dimensões substantivas
que caracterizam as relações sociais de produção, a propriedade económica e a posse. A

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Os autores estruturalistas como Poulantzas, discípulo de Louis Althusser, utilizam constantemente o
conceito de estrutura, mas poucas vezes definem explicitamente esse conceito. A estrutura não se refere as
instituições sociais concretas que conformam una sociedade senão as inter-relações sistemáticas funcionais
entre estas instituições. Maurice Godelier formulou isto da seguinte forma:

“Las estructuras no deben confundirse con las ‘relaciones sociales’ visibles, puesto que
constituyen un nivel invisible de la realidad que está, sin embargo, presente detrás de las
relaciones sociales visibles” (Godelier: System, structure and contradiction in Marx´s
Capital 1972:336)

A análise da estrutura da sociedade capitalista é a análise das relações funcionais que diversas instituições
mantem com o processo de produção e apropriação do mais-valor.
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propriedade económica deve ser entendida como a real propriedade económica, é dizer,
como o controle dos médios de produção, em tanto que a posse deve ser compreendida
como a capacidade de acionar os médios de produção. De jeito nenhum, para Poulantzas,
a separação entre propriedade económica e posse2 podem ser tomadas como separadas do
local do capital, o capital continua dentro de uma posição estrutural unitária dentro das
relações de classe, se bem as funções do capital se diferenciam.
No livro As classes sociais no capitalismo hoje Poulantzas articula as análises teóricas
com as análises concretas e apresenta sua interpretação sobre o significado das classes
sociais para a teoria marxista.
Primeiro define a classe social como um conjunto de agentes sociais
determinados, principalmente, mas não de forma exclusiva, pelo seu lugar no processo de
produção, na esfera econômica. Uma característica do marxismo é que o local do
econômico é determinante, mas a superestrutura, política e ideológica tem um papel
muito importante, para a reprodução das relações de produção. Diferencia estruturalismo
de economicismo e entende “o econômico” na teoria marxiana do ponto de vista da
totalidade, já que o marxismo não é uma suma e justaposição de fatores. O espaço do
“econômico”, em termos marxianos compreende não só a esfera da produção senão o
conjunto do ciclo ‘produção-consumo-distribuição do produto social’ como momentos
diferenciados de uma mesma unidade no processo de produção.
Para realizar sua elaboração sobre as classes sociais toma elementos de sua
própria elaboração teórica anterior Poder político e classes sociais no capitalismo e
Fascismo e Ditadura (1971), critica o texto de Etienne Balibar no livro Lire O capital e o
e um analise crítico da autocrítica realizada por Balibar e toma centralmente diferentes
obras de Karl Marx e Fredrich Engels, como o Manifesto do Partido Comunista e O
XVIII Brumário de Luis Bonaparte, alguns textos de Lenin, e Analise das classes na
sociedade chinesa de Mao Tse Tung, destacando que para estes últimos as classes sociais
não se referem só a um critério econômico senão também de forma explícita a critérios
ideológicos e políticos, definindo ideologia não como um sistema de ideias ou um
discurso coerente senão como um conceito que concebido como um conjunto de práticas
materiais.

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Para o cientista político greco-francés e uma separação importante a partir do advento do capitalismo
monopolista.
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A teoria marxista diferencia classes, frações de classe, camadas sociais e


categorias sociais, que tem suas especificidades, mas pertencem às classes, não são
grupos sociais exteriores a estas.
As classes sociais para o marxismo não existem como um a priori, para depois
entrar na luta de classes senão que significam em um mesmo movimento as contradições
da luta de classes, porque isso poderia supor a existência de classes sem luta de classes,
um pouco a concepção thompsoniana. Desta forma Poulantzas se diferencia das ideias
hegelianas, retomadas por Georg Lukacs e as correntes lukaczianas no marxismo de
“classe em” si e de “classe para sim”. Mas também não deve se confundir com a ideia de
E. P. Thompson que existem as classes porque existe a luta de classes. Para o historiador
marxista inglês a classe e a luta de classes não são estruturas as categorias, senão que é
algo que ocorre nos fatos e para explicar sua posição apresenta a categoria de
experiência. As relações de produção são importantes, mas as vezes parece que a
experiência de classe é anterior na sua definição as classes nas relações de produção. Para
Poulantzas as classes sociais não existem a priori nem a posteiori senão no mesmo
movimento que abrange as relações de produção e luta de classes.
Por isto as classes abrangem as práticas de classe (as lutas de classe) e sua
determinação designa lugares objetivos das classes nas relações de produção, ocupados
pelos agentes na divisão social do trabalho, independentes de sua vontade. Classe social é
um conceito, para Poulantzas, que designa o efeito de estrutura nos campi das relações
sociais na divisão social do trabalho que inclui as relações de produção (econômicas),
mas também as de dominação (políticas) e as de subordinação (ideológicas). É pela
determinação das estruturas que as classes existem só na luta de classes sendo central a
diferenciação analítica entre determinação estrutural de classe e posição de classe na
conjuntura.
Agora destacaremos como Poulantzas faz para determinar estruturalmente a ‘nova
pequena burguesia’, é dizer, os empregados de oficina, os técnicos, os funcionários, entre
outros, examinando os critérios económicos, políticos e ideológicos que diferenciam a
esta da classe operária, já que depois nos permitirá realizar um contraponto com Olin
Wright.
Para Poulantzas o critério económico é a distinção entre trabalho produtivo e
trabalho improdutivo. O trabalho produtivo, no modo de produção capitalista é aquele
que produze mais-valor reproduzindo imediatamente os elementos materiais que servem
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como substrato da relação de exploração, estando imediatamente implicado na produção


material produzindo pela sua vez valores de uso que aumentam a riqueza material.
O critério político está baseado na diferenciação entre posições de supervisão ou
ausência de posições de supervisão. A atividade de supervisão representa a dominação
política do capital sobre a classe operária. Para tentar resolver uma situação na qual no
nível económico o trabalho de supervisão na produção de mercadorias é explorado da
mesma forma que o trabalho manual, mas que no nível político participa da dominação
política da classe operária, distinguindo analiticamente entre divisão social do trabalho e
divisão técnica do trabalho.
Enfim, o critério ideológico, pela sua vez, é a divisão entre trabalho mental e
trabalho manual. O argumento para afirmar que a nova pequeno burguesia pertence a
mesma classe que a pequeno burguesia tradicional é que ambas tem a mesma relação
ideológica com a luta de classes entre o proletariado e a burguesia. Os elementos centrais
dessa ideologia comuns são o reformismo, o individualismo e o fetichismo do poder.
A unidade da análise para pensar as classes sociais em Poulantzas, não é o
indivíduo, não são grupos sociais empíricos que se constituem a partir de relações
interindividuais. Acrescentamos a importância dos conceitos de estratégia, bloco no
poder, aliança, frente e povo, que serão definidos e articulados no trabalho.
Esta discussão de Poulantzas é centralmente no interior do marxismo, o que não
significa que não polemize com autores das ciências sociais que se encontram fora do
campo do marxismo.

As classes sociais para Eric Olin Wright

Olin Wright tem outra preocupação, dar uma terceira resposta que contribua a
reação dos marxistas na academia a hegemonia positivista e empirista no interior das
ciências sociais. Pretende realizar pesquisas empíricas enraizadas não só nas categorias
marxistas senão na lógica da teoria marxista. Para isso propõe realizar um novo estilo de
pesquisa empírica que faça avançar a teoria marxista, sendo seu esforço como fazer que o
marxismo elabore proposições sobre o mundo real (o mundo das aparências) que possam
ser estudadas empiricamente sem abandonar o estudo da realidade estrutural subjacente,
isto para o marxismo é diferente da imagem hegeliana onde a aparência é uma expressão
externa de essências.
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O teórico norte-americano tem a proposta de empreender investigações refinadas


e eficientes no campo do marxismo para o qual é fundamental uma sólida formação
teórica para que as proposições não fiquem na superficialidade das aparências senão que
estejam relacionadas com a lógica ao interior da teoria marxista para depois relacionar a
teoria com programas concretos de pesquisas.
Olin Wright entende que é um avanço de Althusser e do marxismo estruturalista
conceitos como sobre determinação e causalidade estrutural, já que significa um passo no
entendimento das estruturas e seus efeitos manifestos, assim como seu esforço teórico de
conceituar os modos de determinação e apresentar seis diferentes: limitação estrutural;
seleção; reprodução/não reprodução; limites de compatibilidade funcional, transformação
e mediação, assim como modelos de determinação.
Como as classes sociais são compreendidas não apenas como posições numa
estrutura social senão como forças sociais que transformam as estruturas sociais,
distingue interesses de classe de capacidade de classe e elabora uma tentativa de resolver
uma questão fundamental, a inter-relação entre estrutura de classe, formação de classe e
luta de classes.
Na abordagem que Olin Wright realiza de Poulantzas destaca três características
na teoria das classes: as classes não podem ser definidas por fora da luta de classes; as
classes designam posicionamentos objetivos na divisão social do trabalho e que as
classes são estruturalmente determinadas não só no nível econômico (trabalho produtivo
ou trabalho improdutivo), mas no político (posições de supervisão ou ausência de
posições de supervisão) e ideológico (trabalho mental ou trabalho manual). O terceiro
ponto é o mais criticado, a forma em que Poulantzas delimita as classes e elabora um
conceito alternativo, situações contraditórias dentro das situações contraditórias básicas.
Erik Olin Wright analisa a teoria poulantzana sobre as classes e elabora uma
conceituação alternativa dos limites de classe.
Na análise da delimitação poulantziana entre classe operária e nova pequena
burguesia, Olin Wright observa que:
Tem pouca base para definir a diferenciação entre o trabalho produtivo e o
trabalho improdutivo como forma de determinar os limites da classe trabalhadora no
nível económico.
O uso de fatores políticos e ideológicos compromete a supremacia das relações
económicas na compreensão do posicionamento de classe. Poulantzas mostra que os
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mecanismos formais de exploração do trabalho produtivo são diferentes daqueles de


trabalho improdutivo, mas que essa diferença formal não gera uma diferença entre
interesses básicos e são esses interesses os que devemos considerar como um
determinante das fronteiras de classe. Também é importante distinguir o capital
produtivo do capital improdutivo, mas de forma alguma isso representa uma demarcação
de classe sobre classe capitalista.
Se os critérios econômicos dentro da divisão social do trabalho devem ser
tomados como os determinantes da classe, então eles devem ter prioridade em relação
aos critérios políticos (posições dentro da hierarquia administrativa) e ideológica (divisão
entre trabalho intelectual e manual) Olin Wright expressa dúvidas sobre se os aspectos
políticos são absolutamente política e outros aspectos ideológicos, por isso deve ser
considerada como uma definição de classe e não como meros diferenciações dentro da
classe trabalhadora. Se seguimos rigorosamente os critérios de delimitação classe de
Poulantzas e aplicá-lo para o caso dos Estados Unidos, observaríamos que a classe
trabalhadora americana seria reduzida a uma parte muito pequena da população total.
A ideia de unidade de classe da pequena burguesia tradicional e a nova pequena
burguesia é criticado também por Olin Wright argumentando que:
a) as divisões ideológicas entre as duas categorias são tão profundas como as
semelhanças
b) embora as determinações ideológicas podem determinar a posição de classe,
não dá para neutralizar determinadas posições divergentes sobre o nível de classe
econômica.
Em terceiro lugar, a partir de uma revisão do método com o qual Poulantzas
define a burguesia, Wright rejeita as afirmações de que todos os administradores devem
ser considerados como parte integrante da burguesia. Embora eles participam de alguma
forma, representam relações, ele explica que existem posições na divisão social do
trabalho, que são objetivamente contraditórios. A inclusão deste conceito evita o
absolutismo de categorias de propriedade económica e pose, como é o caso, por exemplo,
os gerentes excluídos de qualquer participação econômica, mas que tem uma pose parcial
dos meios de produção.
É precisamente a conceituação de situações de conflito dentro das situações
contraditórias básicas, definidas como contradições objetivas entre os processos reais de
relações de classe, uma das contribuições mais originais feitas por Wright.
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O autor menciona três eixos de situações contraditórias dentro das situações


contraditórias básicas:
a) os gerentes e chefes que ocupam uma posição contraditória entre a burguesia e
o proletariado (gerentes sêniors, gerentes e tecnocratas intermediários - que estão mais
próximas a burguesia e os gerentes mais baixos, capatazes e patrões - que estão mais
perto do proletariado);
b) a determinadas categorias de empregados semiautônomos, aqueles com níveis
relativamente altos de controle sobre o processo de trabalho e imediatamente ocupam
uma posição contraditória entre a classe operária e da pequena burguesia
c) os pequenos empregadores ocupam uma situação contraditória entre a
burguesia e a pequena burguesia.
O estudo do desenvolvimento histórico dentro de relações de produção
capitalistas pode isolar três processos fundamentais subjacentes nas relações básicas
entre capital e trabalho:
a) controle sobre os meios físicos de produção;
b) o controle sobre a força de trabalho
c) controle sobre investimento e obtenção de recursos.
Enfim, os capitalistas controlam o processo de acumulação, eles decidem como
eles devem ser usados os meios físicos de produção e controle da estrutura de autoridade
dentro do processo de trabalho, enquanto os trabalhadores estão excluídos do controle e
dos lugares de decisão. Essas duas combinações dos três processos de relações de classe
constituem as duas situações básicas do antagonismo de classes no modo de produção
capitalista.
Olin Wright diferencia interesses de classe e posições de classe
Em referência ao interesse de classe Erik Olin Wright entende que devem ser
pensados potenciais objetivos dos atores de classe. Os interesses de classe na sociedade
capitalista são aqueles potencialmente do que reais objetivos de luta se tornam frente as
distorções e enganos com que são apresentados no interior das relações sociais
capitalistas. Eles são hipóteses sobre os objetivos das lutas que poderiam ocorrer se os
atores na luta que eles tinham uma compreensão cientificamente corretas de suas
situações. A própria definição de classe, nesses termos, ela é automaticamente ligada ao
conceito de luta de classes, assim como definir uma posição localizada dentro da classe
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trabalhadora que é que esta posição pode, potencialmente, formar objetivos de apoio a
luta de classes socialista.
Neste contexto, é possível distinguir entre os interesses imediatos de classes, que
são aqueles que são interesses dentro das relações sociais dadas (não é um falso interesse,
são, em qualquer caso interesses incompletos) e os interesses fundamentais que são os
interesses que se concentram em questionar a estrutura das relações sociais de produção
capitalistas.
Ambos os tipos de interesse são ligados dialeticamente não são separados uns dos
outros. Em uma situação revolucionária os interesses imediatos e fundamentais começam
a coincidir totalmente, portanto, a situação revolucionária pode assim ser resumida como
uma situação em que a luta por objetivos no modo de produção reforça a luta sobre e
contra o modo de produção.
Há também um conjunto de situações definidos por fora das relações de
produção, mas são determinadas pelos interesses fundamentais das classes definidas no
âmbito das relações sociais de produção, como por exemplo é o caso das donas de casa;
os estudantes; os pensionistas; os desempregados, os beneficiários dos funcionários
providência.
As donas de casa, por exemplo, têm diferentes interesses de classe, como às de
sua família, ou seja, a divisão sexual do trabalho não cria uma divisão de interesses de
classes diferentes entre donas de casa e os maridos. A posição de classe de estudantes,
situação pré-escolar, a ser definido pelo posicionamento de classe que terá de terminar
seus estudos. A posição dos pensionistas deve ser enxergada como um estado pós-classe
entendido em termos da história das posições de classe a que estão ligados.
Finalmente, os funcionários dos aparatos políticos e ideológicos, que são na
superestrutura pode ser colocado em três categorias funcionais:
a) As posições burguesas, onde colocamos aqueles que controlam a criação de
políticas de Estado em consideração a política e construção de equipamentos ideologia
nos aparelhos ideológicos (altos cargos no Estado, nas igrejas, nas universidades e outras
instituições);
b) situações contraditórias, onde colocamos as pessoas que executam as políticas
dos Estados e ideologias spread (comandantes da polícia, acadêmicos) e
c) posições proletárias em que colocamos os excluídos da criação de ideologias e
implementação das políticas estatais (caixeiros, empregados em uma delegacia de polícia
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em um datilógrafo escola). Para isto deve ser adicionado a noção de posições de classe
pequeno-burgueses, que inclui os intelectuais independentes, autônomas e semi posições.
Face ao exposto, o autor agora é capaz de executar uma definição ampliada de
classes dentro de sociedades capitalistas avançadas, definindo a classe trabalhadora como
aquelas posições que:
a) ocupam a posição da classe trabalhadora dentro das relações sociais de
produção, incluindo aqui a todos os funcionários que estão excluídos do controlo
monetário sobre o capital físico ou de trabalho;
b) estão ligados à classe trabalhadora através de caminhos de família imediata ou
classe e
c) posições da classe operária em aparatos políticos e ideológicos, ou seja, que
são excluídos, como eu mencionei acima criando ideologias e implementação das
políticas estatais.
Em troca, a classe média pode ser definida como aquelas posições que:
a) ocupam uma posição dentro das relações sociais burguesas de produção, isto é,
as posições de controle sobre, capital ou trabalho físico monetária;
b) estão diretamente ligados à burguesia pelos caminhos da família imediata ou
classe ou]
c) ocupam posições dentro dos aparatos políticos e ideológicos da burguesia, isto
é, exercer o controle da criação de ideologias e implementação das políticas estatais.
A última distinção é feita pelo autor entre interesses de classe e capacidades de
classe. O ponto de partida é a tese de Karl Marx que a classe trabalhadora não só
interessados no socialismo, mas também tem a capacidade de lutar e construir uma
sociedade socialista. Estas capacidades de classe, seja estrutural (o trabalhador coletivo)
ou organizacional, são definidos por relações sociais dentro de uma classe, que se ligam
aos agentes desse em formação. Em seguida, os interesses de classe são a estrutura de
classes da ligação, as relações sociais entre classes e luta de classes.
As capacidades estruturais das classes podem ser consideradas possibilidades de
estruturação para a auto-organização e as capacidades organizativas das classes, são
verdadeiras ligações de membros de uma classe criada pelas organizações de classe
conscientemente dirigidas por eles.
Com base na análise de Poulantzas sobre o duplo papel do Estado capitalista, isto
é desorganizar organizar a classe operária e a burguesia, Olin Wright argumenta que, na
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medida em que a classe trabalhadora é impedida da capacidade estrutural para


transformar as capacidades organizacionais, a classe capitalista 'fecha' as contradições do
capitalismo; pelo contrário, na medida em que a classe trabalhadora é capaz de forjar
com duração de capacidades organizacionais em torno de interesses fundamentais, a
existência do capitalismo é potencialmente ameaçado.
A luta de classes será concebida como processos sociais complexos
dialeticamente ligada aos interesses de classe e as capacidades de classe. Analisar a
relação entre a estrutura de classes, formação de classes e luta de classes é central para
qualquer análise das classes sociais. Wright pesquisa:
a) a relação da estrutura de classes com a luta de classes onde a estrutura de classe
definida potenciais agentes da luta de classes e da gama de alvos potenciais para isso;
b) a relação entre a formação de classes com a luta de classes, em que as
capacidades de classe são uma das determinações seletivas mais importantes da luta de
classes;
c) a relação da luta de classes com a estrutura de classes e formação de classes,
em que tanto a estrutura de classe e capacidades organizacionais da luta de classes são o
tema da luta de classes e por sua vez são transformados por eles;
d) a relação da estrutura de classes e formação de classes, bem como a estrutura
de classes fornece limites objetivos de variação sobre as formas de luta de classes,
também estabelece limites de formas de variação das capacidades da classe e
e) luta de classes como um mediador da relação entre a estrutura de classes e
formação de classes, onde os modos como a luta de classes moldam a relação entre
estrutura e capacidade classe são importantes.
Se, como Adam Przeworski ressalta, todas as classes estão em um constante
processo de organização, desorganização e reorganização, as condições da luta de classes
são o que determinam em que medida a estrutura particular das relações de classe irá
produzir um alto nível de organização ou desorganização das classes.

Conclusão

Apresentadas as teorias das classes destes autores e sua comparação nos interessa
destacar as consequências políticas de cada uma destas teorias e finalizaremos com uma
conclusão destacando que é o que pode nos ser utilidade em esta revisitada teórica no
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campo do marxismo e as ciências sociais a compreensão das conjunturas políticas nos


processos políticos contemporâneos nas formações econômicos sociais capitalistas
latino-americanas.
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