Você está na página 1de 4

O Dízimo Bíblico

A palavra dízimo quer dizer “décima parte”. Portanto devolver a Deus a décima
parte do que se ganha é dizimar. É importante entender que o dízimo deve ser uma
atitude de entrega pessoal e gratidão. Não basta a devolução do dízimo. Temos que
entregar a nossa vida, o nosso coração no altar de Deus. Não devemos devolver este
como pagamos uma mensalidade, contas de luz e água, prestações de eletrodomésticos
com medo de ter o nosso nome no “SPC divino”. A motivação que nos leva a dizimar
não é o medo, mas o amor a Deus.

1. DÍZIMO NO VELHO TESTAMENTO


a) A prática do dízimo é anterior a lei mosaica (Gn 14.18-20; 28.18-22). O
Dízimo está antes da Lei (2.000 anos antes de Cristo e 700 anos antes da Lei). Em
Gênesis (14.20) está escrito que Abraão devolveu a Melquisedeque o dízimo de tudo,
sendo que, neste caso, não foi do produto da terra nem dos rebanhos, e sim do despojo
da guerra, costume também observado nos tempos antigos. Abraão, o patriarca, deu o
Dízimo de tudo ao sacerdote Melquisedec, rei de Salém.
Posteriormente na progressão da história bíblica, você encontrará o patriarca
Jacó seguindo o exemplo de Abraão, só que em outra circunstância; a de ser grato a
Deus, por este lhe guardar durante a sua jornada (Gn 28.18-22). É certo que a gratidão
diante das bênçãos moveu o coração de Jacó, que, de forma espontânea, reconheceu a
soberania de Deus após a experiência em Betel.
Diante destas passagens entendemos que a contribuição proporcional antecede a
lei civil e judicial de Israel. Pois, pelos registros bíblicos, o costume era uma prática do
povo de Deus e das pessoas tementes a Deus na época dos patriarcas.

b) Foi incorporada na lei mosaica (Lv 27.30). Nos dias de Moisés, o dízimo
passou a exercer importante papel na vida religiosa do povo israelita (Dt 26.1,2,12-15).
Desta forma, não só a Casa de Deus era suprida, como também mantida a tribo levítica,
responsável pelo sacerdócio. Quando o povo se encontrava fraco e afastado de Deus, o
dízimo era negligenciado. Devolver o dízimo é, portanto, um sinal de avivamento, entre
outros, quando provém da fé e de um coração que reconhece o senhorio de Deus sobre
todas as coisas.
Assim, a prática foi incorporada na legislação de Israel. Junto com seu caráter
mandatório, foram estipuladas outras contribuições e taxas. O entrelaçamento, da época,
entre o governo civil e as autoridades religiosas (normal, pois era uma teocracia) faz
com que essas taxas fossem também os impostos para a manutenção do governo, mas
não excluiu os aspectos sacramentais, simbólicos e religiosos - de reconhecimento de
Deus como o dono de tudo e de todos e nós como mordomos seus.

c) Foi ensinada pelos profetas (Ml 3.8-12). O profeta do Senhor confirma e


atualiza a lei, não só em relação ao Dízimo, mas também sobre ofertas alçadas, dizendo
mesmo ser roubo não pagá-los e declarando, em nome do Senhor, haver maldição ao
infrator. Mas deve-se entender que Quem fizer defesa de dízimo baseado na legislação
mosaica, o faz equivocadamente e, por coerência, deveria advocar o apedrejamento de
quebradores do dia de descanso, bem como as leis dietéticas. Até a utilização da
expressão "trazei todos os dízimos à casa do tesouro" aplicada anacronicamente aos
nossos dias, é questionável e não reflete uma boa hermenêutica - a não ser para explorar
o princípio que estava por trás disto.
2. DÍZIMO NO NOVO TESTAMENTO
a) Jesus falou do dever de dizimar (Mt. 23.23; Lc 11.42). Jesus Cristo, nosso
único mestre, e afirma que ninguém pode deixar de devolver os dízimos. A prática do
dízimo entre os contemporâneos de Jesus tornou-se legalista e ostentatória de falsa
espiritualidade. Os escribas e fariseus cumpriam esta determinação para serem vistos
honrados pelos homens, e não como fruto sincero de corações agradecidos. Era apenas
aparência. Nada mais. Todo o texto de Mateus 23 enfatiza este lado da arrogância, da
falsa religiosidade, onde a hipocrisia se reveste de justiça para tornar-se a glória de
corações iníquos e apodrecidos. Alguns podem pensar, à primeira vista, que Jesus
estivesse condenando o dízimo. Porém, uma leitura mais acurada do texto (verso 23)
revela que Ele estava reprovando a motivação errada. Foi isto que deixou claro ao
afirmar “...pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais
importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé”. Ou seja, uma coisa não podia existir
sem a outra. É tanto que acrescentou: “Devereis porém, fazer estas coisas (viver o juízo,
a misericórdia e a fé), e não omitir aquelas” (dizimar a hortelã, o endro e o cominho). O
que Jesus fez foi reforçar o conceito de que o dízimo, antes de ser mera obrigatoriedade,
para aparentar justiça, é um ato de fé que produz obediência voluntária aos
mandamentos da Palavra de Deus. Portanto, deixar de devolver o Dízimo é ir de
encontro à Palavra de Cristo, é desobedecer a Cristo, é discordar de Cristo, é renegar o
ensino de Cristo.
Assim, em todo o Novo Testamento, não vemos revogação do princípio da
contribuição proporcional, nem pregação contra ela, nem indicação de que ela se
constituiria em uma forma legalista de adoração.

b) O dízimo nas epístolas (1 Co 16.2,3; 2 Co 9.7). Ainda que a palavra dízimo


não apareça nos ensinos do apóstolo Paulo, está implícita toda vez que ele admoesta
sobre a contribuição. Duas coisas aparecem no texto de Primeira Coríntios: as
contribuições eram feitas no primeiro dia da semana (Domingo), proporcionalmente à
prosperidade de cada um. O dízimo é exatamente isto. Quando se devolve 10%, ele
sempre será proporcional. Em outras palavras, quanto mais o crente prospera, mais
contribui. Deus espera que a nossa contribuição seja proporcional aos nossos ganhos, ou
seja, devemos contribuir proporcionalmente. Assim fica óbvio que Paulo espera uma
contribuição sistemática, diante do fato de que ele diz que ela deveria ser realizada aos
domingos (no primeiro dia da semana), que é quando os crentes se reuniam. O versículo
é realmente muito rico em instrução. Pessoas poderão dizer que diante deste texto a
contribuição sistemática poderia ter um percentual qualquer. Pode-se admitir até que
isso pudesse acontecer se nunca tivesse tido acesso ao restante da Bíblia, mas todos nós
sabemos qual foi o percentual que o próprio Deus estabeleceu ao seu povo: dez por
cento dos nossos ganhos! Isso, parece satisfatório e óbvio. Não precisamos sair
procurando por outro meio e forma, principalmente porque se assim fizemos poemos até
dizer, eu contribuo sistematicamente com o percentual que eu escolhi, mas nunca vou
poder dizer que o faço em paridade e justiça com os outros irmãos, pois quem garante
que o percentual dele é igual ao meu? Eu destruiria com isso, o próprio ensinamento da
proporcionalidade que Deus nos ensina através de Paulo. Porque não seguir a forma, o
planejamento e a proporção que já havia sido determinada por Deus?
O apóstolo também reitera o conceito de que a contribuição sistemática, além de
proporcional, deve ser oriunda da motivação correta. Ele afirma: “Não com tristeza, ou
por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria” (2 Co 9.7). Mas não somente
isto, o texto também diz que “cada um contribua segundo propôs no seu coração”.
Propor no coração não significa abdicação de nossas responsabilidades, mas Deus está
nos ensinando o planejamento em nosso coração. Ensina que nossa contribuição deve
ser alvo de prévia meditação e entendimento, que deve ser uma contribuição planejada,
não aleatória, não dependente da emoção do momento. O dar com emoção é válido. O
dar seguindo o impulso momentâneo do coração, possivelmente como oferta, mas não
se constitui no cerne do “dar” neotestamentário, não referente a oferta sistemática do
dízimo.

c) Melquisedeque como tipo de Cristo (Hb 7.1-10). Pelas palavras do escritor da


carta aos Hebreus, 60 anos depois da palavra de Cristo, vemos o Dízimo pertencendo ao
sacerdócio de Melquisedeque, ao sacerdócio de Levi e ao de Jesus segundo a ordem de
Melquisedeque. E Jesus é o sacerdote eterno Hebreus 7:21,24. O Dízimo segundo
Hebreus capítulo 7, foi antes do sacerdócio levítico, durante o mesmo e continua depois
do mesmo; é mandamento moral, portanto, da lei e da graça: da velha e da nova
dispensação de Cristo, o Sumo Sacerdote. Logo o Dízimo é mandamento de Deus, para
todos seus filhos, em vigor, até à volta de Cristo.

3. FINALIDADE DO DÍZIMO
a) Manutenção da Igreja e Sustento dos obreiros (Ml 3.10; II Cr 31.4-6)

b) Benção para a Igreja. Se todos os crentes devolvessem o dízimo, não haveria


necessidade de a igreja local de por vezes lançar mão de campanhas financeiras para a
execução de sua tarefa. O que ocorre é exatamente o oposto. É pequeno o percentual
que se dispõe a cumprir este mandamento, talvez por falta de ensino e de ter a visão
correta do que significa o dízimo. Malaquias afirmou que o dízimo é para que haja
“mantimento na casa do Senhor”. Aplicando-se ao contexto de hoje, é o meio que a
Igreja tem aqui na terra para realizar a evangelização, enviar missionários, manter os
seus obreiros, cuidar da assistência social, manter os templos para abrigar o povo
suprindo assim o dia a dia da administração. Por exemplo: como a igreja poderá ser
abençoada com o crescimento, se lhe faltam recursos para enviar obreiros, dar suporte
aos programas de evangelismo e ajudar no cuidado aos crentes da igreja e da
comunidade? O dízimo é para isso.

c) Bênçãos para quem devolve o dízimo. A promessa dada por Deus através de
Malaquias impõe uma condição: primeiro trazer os dízimos, depois fazer prova do
Senhor, que garante derramar bênção. Porém, é preciso que fique claro: isto não anula
as aflições da vida, onde podem aparecer os momentos de sequidão. Mas mesmo em
meio dessas aflições o crente desfruta da benção de Deus. Fazer prova não é chantagear
o Senhor.
Veja algumas coisas que acontecem quando, motivado pela visão correta, o
crente devolve o dízimo:

1º Sente-se recompensado por sentir-se parte ativa da obra de Deus;


2º Deus o socorre em tempos trabalhosos;
3º Torna-se exemplo para os demais crentes;
4º Deus o abençoa confirmando as obras de suas mãos;
5º Os recursos são mais abundantes para os projetos da igreja; e
6º A obra de Deus é realizada com maior rapidez.
CONCLUSÃO
Deus é dono de todos os nossos bens. “Minha é a prata, meu é o ouro, diz o
Senhor dos Exércitos.” Ele nos pede para devolver o dízimo dando este como
referencial mínimo. Ele nos ensinou “melhor dar do que receber.” Aquele que não tem o
dinheiro como ídolo e, pelo contrário, serve com este, tem como conseqüência (não é
troca) bênçãos dadas por Deus. “...Fazei prova de mim, diz o Senhor dos Exércitos, se
eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma benção tal, que dela
vos advenha a maior abastança.”
Quem não entrega o Dizimo esta demonstrando não amar a Cristo, segundo Ele
diz em João 14:21,23,24; 15:14, pois é o melhor modo que Nosso Senhor achou para
seus discípulos contribuírem.
Desta forma podemos finalizar este estudo entendendo que o desejo de Deus
quanto a uma contribuição proporcional:

a. É Bíblica.
b. Auxilia o homem, indisciplinado por natureza, a se organizar a sistematizar a
sua contribuição.
c. Faz com que as igrejas locais reflitam o poder aquisitivo dos congregados e
tenham condições de planejar e projetar suas ações e ministérios.
d. A contribuição sistemática alegra a Deus e não impede que contribuamos com
alegria (será que todo o povo de Deus no AT, onde não há dúvida que o dízimo era
requerido, contribuía por constrangimento, sem alegria? De onde tiramos essa noção, de
que sistematização significa escravidão?);
e. Assim, mesmo sem se constituir ponto de julgamento de um sobre o outro, ou
da igreja sobre o um, deveria ser pregada e propagada dos púlpitos, como um estudo
bíblico válido e aplicável.

Você também pode gostar