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CIVIL
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo discutir acerca das modificações ocorridas no Código de
Processo Civil no que tange à coisa julgada. No Código de Processo Civil de 1973 temos a
coisa julgada atingindo apenas o dispositivo do julgado, porém com o advento da Lei nº
13.105/2015 é criada a previsão legal na qual há possibilidade da coisa julgada recair sobre
questões prejudiciais, desde que atenda alguns pressupostos estabelecidos. Para que se tenha
uma melhor compreensão do tema o texto faz primeiro uma abordagem acerca da
conceituação dada a coisa julgada e uma análise histórica da evolução do instituto no direito
brasileiro. A presente pesquisa analisa a coisa julgada, bem como seus limites objetivos diante
do CPC/2015, também aborda a coisa julgada como efeito jurídico e fato jurídico. A pesquisa
aborda a limitação objetiva da coisa julgada no que se refere a determinação de decisão
judicial definitiva transitada em julgado, mesmo nos casos de coisa julgada sobre a resolução
de questão prejudicial incidental.
1 INTRODUÇÃO
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Especializando do Curso de Especialização em Direito Civil e Processo Civil no Centro Universitário
de Ensino Superior do Amazonas. E-mail: lucassilvagoncalves@gmail. com
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Teorias Materiais: acredita que a coisa julgada é uma presunção da verdade; ficção
da verdade ou lex specialis;
Teorias Processuais: acredita que a coisa julgada é uma presunção de autoridade; é
a eficácia da declaração; extinção do dever jurisdicional ou a qualidade da
sentença e dos seus efeitos;
As teorias não são necessariamente como contraposição uma da outra, elas devem
ser compreendidas como um processo de sucessão da teoria material pela teoria processual. A
teoria matéria compreendeu a coisa julgada como algo diretamente ligado ao direito material,
enquanto a teoria processual a compreende como um fenômeno do direito processual, estando
ligada apenas indiretamente ao direito material.
CABRAL (2014) afirma que:
Diante de tantos posicionamentos, fica claro que os mesmos não são homogêneos,
tendo em vista que são fundamentados nos mais diferentes pontos de vista, cada um buscando
uma visão coerente, tanto no plano material como no plano processual. Observa-se que diante
da multiplicidade de vertentes não cabe se estabelecer a análise de qual esta de fato correta,
mas sim adotar a perspectiva pela qual será orientado.
Portanto, é necessário o estudo dos principais entendimentos adotados no Brasil,
que são a doutrina alemã, italiana e a de Barbosa Moreira.
No que tange a concepção alemã podemos pegar a citação de ASSIS (2001) em
que afirma:
[...] a coisa julgada restringe-se a uma eficácia, proveniente da
inimpugnabilidade que recobre a força ou o efeito declaratório da
sentença, porquanto somente a declaração se revela na prática
imutável e indiscutível.
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A meu juízo a coisa julgada se revela como uma situação jurídica. Isto
porque, com o trânsito em julgado da sentença, surge uma nova
situação, antes inexistente, que consiste na imutabilidade e
indiscutibilidade do conteúdo da sentença [...]
Pode-se dizer então que a coisa julgada decorre de um fato jurídico como todo
efeito jurídico concreto e vincula-se a um suporte abstrato que só pode ser feito por meio da
observação do direito positivo.
Logo na concepção de Barbosa Moreira a coisa julgada é um efeito jurídico, já a
concepção alemã o atendimento é voltado para a coisa julgada como efeito de sentença por
outro lado a na concepção italiana não há o entendimento da coisa julgada como efeito da
sentença.
Um aspecto debatido acerca da coisa julgada corresponde a imutabilidade
atribuída a tal instituto. Hellwig tem como imutável apenas o que se entende por conteúdo
declaratório da sentença, já Liebman afirma que qualquer conteúdo da sentença e seus efeitos
são atingidos pela imutabilidade, Barbosa Moreira por sua vez afirma que a imutabilidade se
restringe apenas ao conteúdo da sentença.
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Art. 287. A sentença que decidir total ou parcialmente a lide terá força
de lei nos limites das questões decididas.
Parágrafo único. Considerar-se-ão decididas todas as questões que
constituam premissa necessária da conclusão".
Art. 468. A sentença, que julgar total ou parcialmente a lide, tem força
de lei nos limites da lide e das questões decididas.
Art. 469. Não fazem coisa julgada:
I os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte
dispositiva da sentença;
II a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença;
III a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentemente no
processo.
Como exemplo de como o instituto era tomada pelo CPC de 1973 podemos citar
um caso em que João propõe uma ação contra a empresa Filmagens Ltda. Por utilizar de
maneira indevida a sua imagem. Após ter sido feita a parte de instrução, o juiz decide pela
improcedência da ação por ter constatado que a empresa não usou a imagem de João além do
que fora acertado entre as partes. Após esse fato, João impetra nova ação contra a mesma
empresa, alegando agora danos morais, sob os mesmos argumentos na causa de pedir do
processo por uso indevido de imagem que já havia sido julgado por outro juízo. Na ação por
dano moral é obtido decisão favorável, uma vez que o juiz entendeu ter ocorrido abuso por
parte da empresa, mesmo com decisão anterior com visão contrária. O que fica claro é que
com o CPC de 1973 no que se refere à coisa julgada, todas as duas decisões estão corretas,
pois as fundamentações que foram usadas nas duas lides, não transitaram em julgado
porquanto são questões incidenter tantum.
Deve-se ter claro que a lide esta diretamente ligada ao mérito e o pedido e que seu
limite é estabelecido pela causa de pedir, pois em uma observação superficial pode ocorrer o
pensamento de que a coisa julgada incidiria sobre a fundamentação do pedido, o que não
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ocorre conforme abordado pelo artigo 469, que exclui os motivos lato sensu dos limites
objetivos da coisa julgada.
Tem que se entender que o fato da coisa julgada não atingir as questões
prejudiciais não impede que as mesmas sejam julgadas em outras demandas como objeto do
juízo.
O Código de Processo Civil de 1973 trabalha a questão da ação declaratória
incidental em seus artigos 5º, 325 e 470, cujo alvo é justamente o de trazer às questões
incidentais a influência da coisa julgada, ampliando os efeitos desta no processo.
As questões incidentais levadas a julgamento pela ação declaratória incidental
teria força de coisa julgada material, trazendo, portanto segurança jurídica para esses aspectos
também., ressaltando que ocorre a ampliação dos limites objetivos da coisa julgada, uma vez
que atinge a questão prejudicial que passa a figurar como principal.
Tais aspectos foram modificados com o surgimento do novo Código de Processo
Civil de 2015, tais mudanças serão estudadas no próximo capítulo do presente trabalho.
O que deve ser observado é que o esforço a ser despendido sobre a questão
prejudicial vai depender do quanto a mesma é determinante para o julgamento do mérito, ou
seja, se a mesma não tiver grande relevância não será tão aprofundada. Por tal motivo a
abrangência da fundamentação pela não importa no aumento da complexidade e do tempo de
duração da tramitação da demanda.
Um outro aspecto negativo para alguns sobre os artigos 505 e 506 do CPC/2015 é
de que as regras contidas em tais artigos violam o princípio da inercia jurisdição.
Devemos compreender que se de um ponto o princípio da inercia vem resguardar
a neutralidade do órgão que julga, também deve ser observado outro ponto que é o de
instrumentalidade do direito, que hoje busca cada vez mais recomenda o máximo
aproveitamento da atividade jurisdicional, buscando uma maior efetividade do processo,
sempre resguardando a segurança jurídica.
Seguindo tal ordem de pensamento, fica claro que o jurisdicionado não terá
impedido o seu exercício de liberdade individual e plena, quando decidir os pedidos e as
causas de pedir que serão postulados, pelos efeitos da coisa julgada.
O juízo ainda estará ligado aos limites do pedido inicial, não podendo emitir
decisão que ultrapasse os limites que forem estabelecidos pelo autor da demanda.
No que se refere a coisa julgada diretamente ligada as questões prejudiciais, o que
se tem de mais inovador e relevante foi a imutabilidade e indiscutibilidade acerca da solução
dada a questão tratada como prejudicial incidental, desde que preenchidos os requisitos que
são cumulativos.
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Cabe ressaltar que não é necessário requerimento da parte e nem que haja
especificamente no pronunciamento decisório um dispositivo específico para a questão
prejudicial incidental. A questão prejudicial incidental se forma independente de requerimento
dirigido a esse aspecto e de sua solução encontrar-se ou não especificamente em dispositivo
da decisão.
Como aspecto corroborador de tal pensamento temos os enunciados nº 165 e 438
do Fórum Permanente de Processualistas Civis e o enunciado nº 66 do Centro de Estudos e
Debates do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro:
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A coisa julgada pode ser tida como uma concretização do princípio da segurança
jurídica, sendo a mesma voltada para a proteção do direito adquirido, entendida como uma
situação jurídica ativa, que foi recepcionada pelo patrimônio de determinada pessoa e
portanto, protegida diante do direito superveniente.
No que se refere a coisa julgada nas questões prejudiciais ficou claro a
importância que o artigo 503 §§ 1º e 2º, do CPC/15 trouxe, pois fixou a não necessidade de
haver requerimento da parte e nem dispõe sobre a necessidade de que a solução apresentada
para a questão prejudicial incidental venha a constar em dispositivo do pronunciamento
decisório.
A questão prejudicial incidental não se diferencia da questão principal no que se
refere a necessidade haver decisão expressa, sendo esse regime comum para ambas.
Podemos afirmar que a nova visão dada a coisa julgada pelo novo Código de
Processo Civil não trouxe uma maior complexidade nem aumentou o tempo processual, o que
se percebe é uma abrangência da coisa julgada e a devida importância que deve ser dada as
questões prejudiciais incidentais que são fundamentais para basear a razão da decisão
principal.
6 REFERÊNCIAS
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2001.
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Editora Lumen Juris, 2008, v. I.
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1.
DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de
Direito Processual Civil. 10ª ed. Bahia, JusPodivm: 2015, v. 2.
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. 6ª ed. São Paulo:
Malheiros, 2009, v. III.
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NAVES DA FONSECA, João Francisco. Coisa julgada sobre questões prejudiciais no Código
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Schimitz, Lúcio Delfino, Sérgio Luiz de Almeida Ribeiro e William Santos Ferreira, São
Paulo: Ed. RT, 2014, p. 773-785.
NEVES, Celso. Coisa julgada civil. São Paulo: RT, 1971.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Algumas observações sobre a ação civil pública e outras
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1843 | Ago / 2015 | DTR\2015\1153
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